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PROCESSO Nº: 0800542-25.2015.4.05.8102 - AÇÃO CIVIL DE IMPROBIDADE


ADMINISTRATIVA
AUTOR: MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL
REU: ESTADO DO CEARA (e outros)
16ª VARA FEDERAL - JUIZ FEDERAL TITULAR

SENTENÇA

1. Relatório

Cuida-se de ação civil pública proposta pelo MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL (MPF), em desfavor
de ANTÔNIO CARLILE HOLANDA LAVOR, CIRO FERREIRA GOMES, NEIVA MARIA
MARTINS COSTA, JOÃO VASCONCELOS SOUSA, COOPERATIVA DE TRABALHO DE
ATENDIMENTO PRÉ-HOSPITALAR (COAPH), JOSÉ NEWTON LACERDA CARNEIRO e
ESTADO DO CEARÁ, em que pleiteia, em linhas gerais, a anulação do Processo de Inexigibilidade nº
011/2014, do contrato dele decorrente e de eventuais aditivos (Contrato 0205/2014), bem como a
condenação dos ora demandados nas sanções do art. 12 da Lei nº 8.429/92.

Na petição inicial, narrou o Órgão Ministerial, em linhas gerais, que o Serviço de Atendimento Móvel
de Urgência (SAMU) teria sido implantado na região do Cariri cearense, em caráter definitivo, em 21
de março de 2014 (SAMU 192 Ceará Polo III/SESA), ou seja, após passados mais de 10 (dez) anos de
sua regulamentação pela Portaria GM nº 1.864, de 29 de setembro de 2003, e pelo Decreto nº 5.055, de
27 de abril de 2004.

Além disso, expôs o Ministério Público Federal que a Secretaria de Saúde do Estado do Ceará não teria
realizado processo seletivo para a contratação de profissionais para o SAMU Polo III (Juazeiro do
Norte), de modo que, a administração estadual, para fins de implantação daquele serviço, teria
formalizado, de forma supostamente indevida, processo de inexigibilidade de licitação e contratado
diretamente a também a ora demandada COAPH.

Ainda de acordo com o relato constante da peça exordial, os gestores públicos estaduais teriam
fundamentado referido processo de inexigibilidade no fato de os serviços médicos contratados terem
sido reputados como fornecidos com exclusividade, uma vez que a COAPH seria a única cooperativa
com a especialidade na área de atendimento pré-hospitalar de urgência e emergência inscrita na
Organização das Cooperativas Brasileiras no Estado do Ceará (OCB/CE), a qual teria emitido certidão
de exclusividade.

Dessa forma, também de acordo com o exposto na inicial, a Secretaria de Saúde do Estado, ao
supostamente dispensar a realização de processo seletivo para contratação de profissionais e efetivar
contratação direta com cooperativa (hipoteticamente mera fornecedora de mão-de-obra), teria lhe
adjudicado, com exclusividade, a prestação dos respectivos serviços em Juazeiro do Norte/CE. Diante
disso, tais serviços teriam sido executados tão somente por integrantes do quadro da contratada,
situação que configuraria terceirização total da atividade do SAMU no Cariri, situação que seria vedada
pelas regras do Direito Administrativo brasileiro.

Mais à frente, o Órgão Ministerial asseverou que, quando da contratação da cooperativa, esta não
possuiria, em seus quadros de pessoal, profissionais médicos capacitados no serviço de atendimento
pré-hospitalar móvel de urgência e emergência na região do Cariri. Por seu turno, em consonância com
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o enredo inicial, o Estado do Ceará teria realizado o respectivo processo seletivo de pessoal, o qual
teria findado com a filiação dos selecionados à cooperativa demandada.

Ao final, o Ministério Público Federal requereu, liminarmente, que fossem suspensos os efeitos do
contrato 0205/2014 (e seus eventuais aditivos), oriundo do Processo de Inexigibilidade nº 011/2014, até
decisão final confirmatória, passando a vigorar o regime de credenciamento, bem como que fosse
procedido ao bloqueio on-line do valor de R$ 1.973.582,16 (um milhão novecentos e setenta e três mil
quinhentos e oitenta e dois reais e dezesseis centavos) em conta da cooperativa requerida.

Em decisão de ID 4058102.979412, restou intimado, o Ministério Público Federal, para que emendasse
a petição inicial, esclarecendo a origem dos recursos públicos utilizados pelo Estado do Ceará na
execução do contrato, cujo objeto seria a contratação de profissionais de saúde, por meio da
Cooperativa de Trabalho de Atendimento Pré-Hospitalar Ltda. - COAPH, pelo valor global de R$
39.471.643,27, previsto no orçamento estadual de 2014 (cláusulas quarta e quinta do Contrato
0205/2014).

Em ato contínuo, o Órgão Ministerial peticionou no sentido de emendar a inicial.

Era o essencial a relatar. Passo a fundamentar para, ao final, decidir.

2. Fundamentação

- PRELIMINARMENTE

- DA INCOMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL

Com efeito, o cerne da lide gravita em torno da suposta malversação de recursos públicos utilizados
pelo Estado do Ceará no tocante à implantação do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência
(SAMU) na região do Cariri (SAMU 192 Ceará Polo III/SESA).

Acerca da temática, a partir da minuciosa análise dos autos, insta salientar que as diretrizes iniciais de
implantação do SAMU foram estabelecidas pela Portaria GM nº 1.864, de 29 de setembro de 2003, e
pelo Decreto nº 5.055, de 27 de abril de 2004, o qual instituiu em Municípios e regiões do território
nacional mencionado serviço, visando à implementação de ações com maior grau de eficácia e
efetividade na prestação de serviço de atendimento à saúde de caráter emergencial e urgente.

A este respeito, frise-se que a Portaria 1.864, de 29 de setembro de 2013, do Ministério da Saúde, em
seu art. 3º, estabeleceu que, para a organização da primeira etapa de implantação dos SAMU, seriam
destinados recursos para a aquisição de 650 unidades de suporte básico de vida e 150 unidades de
suporte avançado de vida, equipamentos, construção, reforma e/ou ampliação de até 152 Centrais
SAMU-192 e estruturação de 27 Laboratórios de Ensino em Procedimentos de Saúde para os Núcleos
de Educação em Urgência.

Ademais, no art. 4º do referido diploma normativo, ficou definido que as despesas de custeio deste
componente (organização da primeira etapa de implantação dos SAMU) seriam de responsabilidade
compartilhada, de forma tripartite, entre União, Estados e Municípios, correspondendo à União 50% do
valor estimado para estes custos.

Desse modo, percebe-se que, apenas para a implantação inicial do SAMU, o Ministério da Saúde,
por meio do Fundo Nacional de Saúde, repassou recursos para os demais entes estatais. Entretanto,
finda essa primeira etapa de implantação dos SAMU, não foram mais utilizados recursos
federais.

Quanto ao ponto, impende registrar que os fatos descritos na inicial se referem à implantação do
SAMU - na região do Cariri cearense - em 21 de março de 2014 (SAMU 192 Ceará Polo III/SESA), ou
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seja, após passados mais de 10 (dez) anos de sua regulamentação pela Portaria GM nº 1.864, de
29 de setembro de 2003, e pelo Decreto nº 5.055, de 27 de abril de 2004, e absolutamente finda essa
primeira etapa de sua implantação em âmbito nacional.

Como se não bastasse, cabe referir que, no caso ora sob exame, para a execução do contrato cujo objeto
era a contratação de profissionais de saúde, por meio da COAPH, pelo valor global de R$
39.471.643,27, foram previstos recursos no orçamento estadual de 2014 (cláusulas quarta e quinta
do Contrato 0205/2014).

Assim, não restou demonstrado pelo autor - embora tenha sido intimado para, em emenda à inicial,
esclarecer a origem dos recursos - que, para o custeio da execução do mencionado contrato cujo objeto
era a contratação de profissionais de saúde, por meio da COAPH, pelo valor global de R$
39.471.643,27, tivesse havido o repasse de verbas federais para o Estado do Ceará.

Dessa forma, não há que se falar em interesse federal que justifique a intervenção, neste feito, da
União, de entidade autárquica ou de empresa pública federal, de modo a atrair a competência da Justiça
Federal.

Nessa toada, haja vista a sua natureza absoluta, deve ser reconhecida, em qualquer tempo e até mesmo
de ofício, a incompetência deste juízo para processar e julgar o feito.

Todavia, mostra-se inviável a remessa dos autos ao juiz estadual competente, conforme previsão do
art. 113, § 2º, do Código de Processo Civil, devido à impossibilidade de comunicação entre os
sistemas eletrônicos de tramitação processual operados pela Justiça Federal e pela Justiça Estadual.

Diante disso, evidenciada a incompetência absoluta deste juízo para processar e julgar a lide, bem
como ante a impossibilidade de remessa dos autos ao juízo competênte, outro caminho não resta que
não a extinção do processo, sem resolução do mérito, facultando-se novo ajuizamento da causa perante
o órgão jurisdicional competente.

3. Dispositivo

Este o quadro, na linha da fundamentação supra, extingo o processo sem resolução do mérito.

Sem custas e sem honorários.

Com o trânsito em julgado, arquive-se, com baixa no sistema.

Publique-se. Registre-se. Intime-se.

Juazeiro do Norte (CE), 22 de janeiro de 2016.

Leonardo Augusto Nunes Coutinho

Juiz Federal da 16ª Vara/SJCE

Processo: 0800542-25.2015.4.05.8102
Assinado eletronicamente por: 15110415275697600000001027460

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LEONARDO AUGUSTO NUNES COUTINHO - Magistrado


Data e hora da assinatura: 23/01/2016 14:29:31
Identificador: 4058102.1026920

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