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MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL

PROCURADORIA DA REPÚBLICA NO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

EXMO. SR. DR. JUIZ FEDERAL DA ª VARA FEDERAL DO RIO DE


JANEIRO

O MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL, pelas Procuradoras


da República abaixo assinadas, no uso de suas atribuições legais, com fundamento
no art. 5º da Lei nº 7.347/85, vem ajuizar a presente

AÇÃO CIVIL PÚBLICA

em face da:

UNIÃO, representada pelo Procurador Regional da Procuradoria Regional da União


2ª Região, com endereço na Av. Rio Branco, nº 135, 13º andar, Centro, nesta cidade,
CEP 20.040-005, e da

UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO


(UNIRIO), fundação pública vinculada ao Ministério da Educação, na pessoa de
seu representante legal, com endereço na Av. Pasteur, 296, Urca, nesta cidade, CEP
22.290-240, pelos fatos e fundamentos a seguir aduzidos:

I – INTRODUÇÃO

A presente inicial trata de fatos apurados nos Inquéritos Civis nº


1.30.001.004556/2012-12 (DOC. 01) e nº 1.30.001.005954/2012-56 (DOC. 02),
instaurados na Procuradoria da República do Estado do Rio de Janeiro.

O Inquérito Civil nº 1.30.001.004556/2012-12 (DOC. 01) foi


instaurado em razão do Ofício nº 5ªPJCID/0342/12 (fl. 10 do DOC. 01), através do
qual o Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro encaminhou representação
anteriormente dirigida ao Ministério Público do Trabalho, com o intuito de apurar

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possíveis irregularidades no Hospital Universitário Gaffrée e Guinle (HUGG) da


Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO), quanto à existência de
médicos terceirizados na Unidade de Terapia Intensiva Neonatal do referido
hospital, não obstante a existência de médicos aprovados em concurso público
realizado pela citada universidade e ainda não convocados (fl. 06 do DOC. 01).
Posteriormente, com a juntada do OFÍCIO-CIRCULAR Nº 84/2012/PFDC/MPF, de
14/11/2012 (fl. 54 do DOC. 01), o objeto do referido inquérito civil foi ampliado
para apurar, também, possíveis irregularidades na exigência de contratação da
Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (EBSERH), por parte da UNIRIO,
tendo por objeto a transferência da gestão do HUGG para a referida empresa.

Já o Inquérito Civil nº 1.30.001.005954/2012-56 (DOC. 02) foi


instaurado a partir de representação que noticia a presença de grande quantidade de
funcionários no HUGG da UNIRIO com vínculos precários e sem garantia dos seus
direitos trabalhistas - denominados “bolsistas” (fl. 06 do DOC. 02) -, com o
objetivo de apurar as circunstâncias do sucateamento da força de trabalho do
HUGG, que resultou na redução da oferta dos serviços de saúde prestados pelo
referido hospital ao SUS e no prejuízo à atividade de ensino realizada na
universidade.

De fato, as investigações desenvolvidas pelo Ministério


Publico Federal, no âmbito dos referidos inquéritos civis, entre outros documentos,
revelaram:

A) irregularidades na contração de recursos humanos para o HUGG da


UNIRIO, mostrando-se insuficientes, inadequadas ou ilegais as medidas
administrativas apresentadas ao longo do período para a composição dos recursos
humanos do referido hospital, não obstante reiteradas decisões do Tribunal de
Contas da União (TCU), no sentido da necessidade de regularizar a questão com a
substituição dos trabalhadores terceirizados por servidores aprovados em concursos
públicos;

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B) a redução drástica da oferta dos serviços de saúde prestados no HUGG da


UNIRIO, com prejuízo ainda ao ensino, por falta e/ou inadequação de recursos
humanos, considerando as dificuldades financeiras enfrentadas pelo referido
hospital universitário para pagamento de pessoal;

C) a precariedade dos vínculos atualmente existentes entre a UNIRIO e


diversos profissionais de saúde em atividade no HUGG, em afronta às normas
que regem os concursos públicos e às normas trabalhistas, inclusive, de índole
constitucional;

D) a inviabilidade de execução da proposta apresentada pela UNIÃO para a


solução dos problemas de recursos humanos nos hospitais universitários,
mediante a criação da Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares – EBSERH; seja
porque a própria criação da empresa é objeto de questionamento em sede de
controle concentrado de inconstitucionalidade (ADI nº 4.895); seja porque, diante
de todas as controvérsias existentes, não é vista como solução definitiva a curto
prazo, como reconhece o próprio TCU; seja porque a contração da EBSERH ainda
não foi objeto de deliberação pelo Conselho Universitário da UNIRIO, no regular
exercício da autonomia universitária, prevista no caput do art. 207 da Constituição
Federal;

E) a existência de concursos públicos em vigência com candidatos aprovados e


ainda não convocados para provimento nos cargos de médico, enfermeiro, técnico
de enfermagem, auxiliar de enfermagem e técnico em radiologia do HUGG da
UNIRIO.

Revela-se necessária, portanto, a obtenção de decisão judicial


que obrigue a UNIRIO e a UNIÃO a adotar medidas administrativas
pertinentes, dentro das suas competências, para regularização dos recursos
humanos do Hospital Universitário Gaffrée e Guinle (HUGG), pautadas nas
normas constitucionais e legais que vinculam os entes administrativos, pelos fatos e
fundamentos jurídicos que se passa a expor:

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II – DOS FATOS

II.A – Das Irregularidades no Processo de Contratação de Profissionais das


Áreas da Saúde e Administrativa dos Hospitais e Unidades de Saúde das
Universidades Federais em geral:

As irregularidades existentes no processo de contratação de


profissionais de saúde e da área administrativa para o HUGG da UNIRIO não é
problema recente, tampouco restrito ao referido hospital. Neste ponto, destaca-se
que o TCU teve a oportunidade de constatar a existência de irregularidades na
contratação de trabalhadores no âmbito de toda a Administração Pública Federal,
incluindo, portanto, os hospitais universitários ligados às universidades federais,
como é o caso do HUGG, ligado à UNIRIO.

O Acórdão nº 1.520/2006-TCU/Plenário (DOC. 03), proferido


nos autos da TC nº 020.784/2005-7, decorreu de representação formulada pela
Secretaria-Geral de Controle Externo do TCU e teve por objeto a análise de
proposta apresentada pelo Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão para a
substituição gradual dos postos de trabalho ocupados irregularmente por
funcionários terceirizados, no âmbito da Administração Pública Federal.

Cumpre ressaltar que a iniciativa, ou seja, a citada proposta do


Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão veio em razão de determinação
exarada pelo TCU no Acórdão nº 276/2002-TCU/Plenário, de 31/07/2002, que, ao
analisar a prestação de contas da Universidade Federal de Santa Catarina relativa ao
exercício de 1994, estabeleceu prazo para que, em atenção à regra do concurso
público, prevista no art. 37, inciso II, Constituição Federal, a referida entidade
afastasse os funcionários de fundações de apoio dos cargos públicos de provimento
efetivo que estivessem ocupando, sendo que o subitem 8.7 deste último acórdão
estendeu tal determinação às instituições que se encontrassem em situação
semelhante (item 1.2 do Relatório do Acórdão nº 1.520/2006-TCU/Plenário – DOC.
03).

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Dessa forma, no que tange à terceirização de atividades no


serviço público, o TCU esclareceu que, embora a terceirização seja autorizada pelo
Decreto nº 2.271/97, tal regra encontra como limite a disposição trazida no art. 37,
inciso II, da Constituição Federal, que institui a obrigatoriedade de aprovação prévia
em concurso público para a investidura em cargo ou emprego público. O TCU então
manifestou-se no sentido de que a terceirização no serviço público não é admitida
para a prestação das atividades finalísticas dos órgãos e entidades públicos, sendo
aceita tão somente para as atividades materiais acessórias, instrumentais ou
complementares de tais órgãos e entidades (itens 2.6 a 2.12 do Relatório do Acórdão
nº 1.520/2006-TCU/Plenário – DOC. 03).

Ao analisar a questão das contratações irregulares no serviço


público federal, o TCU também destacou que os gestores das entidades e órgãos
públicos, de forma unânime, justificaram que a utilização de terceirizados foi a
única alternativa encontrada para dar continuidade à execução dos serviços
públicos, uma vez que o Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão não
autoriza a realização de concursos públicos para a contratação de servidores, ou
então autoriza em quantidade de vagas insuficiente ao atendimento da demanda
(itens 6.1 a 6.7 do Relatório do Acórdão nº 1.520/2006-TCU/Plenário – DOC. 03).
É o que se verifica no trecho abaixo transcrito:

“6. ANÁLISE
6.1 Preliminarmente, deve-se observar que a matéria sob exame apresenta
proposta de solução para o problema da terceirização ilegal de serviços
públicos restrita aos órgãos da administração pública federal direta,
autarquias e fundações, todas sob subordinação técnica ao Órgão Central do
Sistema de Pessoal Civil do Poder Executivo – SIPEC, função ora
desempenhada pelo Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão. Assim,
não são alcançadas empresas públicas e sociedades de economia mista e
tampouco os órgãos dos Poderes Judiciário, Legislativo e do Ministério
Público da União.
6.2 No que toca à utilização de trabalhadores terceirizados realizando
atividades em dissonância com as disposições legais, resta evidente tratar-se
de realidade factual na Administração Pública Federal. Evidências nesse
sentido são abundantes: diversas atuações deste Tribunal sobre a questão; o
aumento dos gastos do governo federal com terceirização; a redução do
quantitativo de servidores concursados; e, por fim, a admissão do fato pelo
próprio Ministério do Planejamento.

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6.3 Deparamo-nos, portanto, com uma situação inusitada. Contratações


irregulares são realizadas por órgãos públicos ao arrepio da lei, que adotam a
medida embora seja reconhecida a ilegitimidade na utilização do instrumento
da terceirização como forma de substituição de mão-de-obra.
6.4 As justificativas oferecidas pelos gestores responsabilizados perante o
TCU parece esclarecer a causa do problema. Os gestores são unânimes ao
alegarem que a utilização de terceirizados é a única alternativa possível para
não gerar problemas de continuidade na execução de serviços públicos, uma
vez que o MP não autoriza a realização de concursos públicos para a
contratação de servidores, ou então autoriza quantidade de vagas
insuficiente ao atendimento da demanda.
6.5 Os gestores se vêem então em situação na qual a solução do problema
reside em esfera alheia ao seu grau de decisão, o que pode levar ao impasse
entre o cumprimento de eventuais determinações desta Corte de Contas, ou
mesmo da Justiça, e a descontinuidade dos serviços prestados à sociedade.
(...)” (sem grifo no original) (itens 6.1 a 6.5 do Relatório do Acórdão nº
1.520/2006-TCU/Plenário – DOC. 03)

Além do TCU ter reconhecido a situação citada acima, apontou


também para a necessidade de substituição da mão de obra contratada
irregularmente, no âmbito da Administração Pública Federal, para atender as leis
trabalhistas, o princípio da legalidade - norteador de toda a Administração Pública -
e a regra constitucional do concurso público (itens 6.8 a 6.10 do Relatório do
Acórdão nº 1.520/2006-TCU/Plenário – DOC. 03). Na mesma decisão, o TCU
atentou ainda que, embora seja demonstrada pelo Ministério do Planejamento,
Orçamento e Gestão a existência de quantidade suficiente de cargos para
substituir os terceirizados existentes, é necessário que seja finalizado o
levantamento sobre o quantitativo de postos terceirizados de forma irregular na
Administração Pública, bem como que seja avaliada a possibilidade de remanejar
cargos excedentes de um órgão para outro onde não há quantitativo suficiente
para agilizar a substituição de todos os contratados irregularmente,
considerando que a criação de novos cargos depende de lei específica (item 6.28
do Relatório do Acórdão nº 1.520/2006-TCU/Plenário – DOC. 03), consoante
abaixo transcrito:

“(...) 6.8 No entanto, como todo ato administrativo, a terceirização de serviços


deve-se pautar nos aspectos legais. Assim, ao mesmo tempo em que se deve
buscar meios mais econômicos para aplicação dos recursos públicos, em face

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do princípio da economicidade, também deve-se atentar para o princípio da


legalidade, norteador da Administração Pública.
6.9 Resta inequívoco que a contratação de trabalhadores terceirizados para o
exercício de tarefas próprias de servidores públicos é afronta direta ao
princípio da seleção mediante concurso público, além de afronta à lei
trabalhista, que restringe as possibilidades de terceirização às atividades-meio
de qualquer organização, púbica ou privada, e, ainda assim, condicionada à
inexistência de relação de pessoalidade e subordinação direta.
(…)
6.28 Deve-se ainda atentar para a necessidade de criação de cargos,
conforme aventado na proposta. Embora a tabela de cargos preenchidos e
vagos encaminhada pelo Ministério (fls. 9/15) demonstre a existência de
quantidade suficiente de cargos para substituir os terceirizados, a
complementação do cronograma pode revelar casos em que o número de
cargos previsto não seja suficiente para substituir os terceirizados. Nesse
caso o MP poderia avaliar a possibilidade de remanejar cargos excedentes
em um órgão para outro onde não há quantitativo suficiente. Tal medida se
justificaria pela agilidade, uma vez que a criação de novos cargos depende de
lei específica, com tramitação no Congresso Nacional. (...)” (sem grifo no
original) (itens 6.1 a 6.5 do Relatório do Acórdão nº 1.520/2006-TCU/Plenário
- DOC. 04)

Por fim, o TCU, por meio do Acórdão nº 1.520/2006-


TCU/Plenário (DOC. 03), decidiu aceitar a proposta de cronograma oferecida
pelo Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão para a substituição dos
terceirizados por servidores públicos concursados (item 9.1.1 do Acórdão do
Acórdão nº 1.520/2006-TCU/Plenário – DOC. 03), tendo deliberado no sentido de
prorrogar, até 31/12/2010, os prazos fixados por todas as suas decisões
anteriores que tenham determinado a órgãos e entidades da Administração
direta, autárquica e fundacional a substituição de trabalhadores terceirizados
por servidores concursados (item 9.1.4 do Acórdão nº 1.520/2006-TCU/Plenário -
DOC. 03).

Durante o prazo de cinco anos estabelecido pelo TCU, foi


constituído processo para monitoramento do cumprimento do Acórdão nº
1.520/2006-TCU/Plenário (DOC. 03), que resultou no Acórdão nº 2.681/2011-
TCU/Plenário (DOC. 04), no qual o citado tribunal constatou a permanência de
grande número de terceirizados, de forma irregular, no âmbito da Administração
Pública Federal, sem que tenha se ultimado a sua substituição por servidores

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concursados, sendo que, segundo informações do próprio Ministério do


Planejamento, Orçamento e Gestão, a maior parte dos postos de trabalho
ocupados irregularmente por empregados terceirizados encontrava-se nas
fundações e autarquias vinculadas ao Ministério da Educação, em especial, nas
universidades federais e em seus respectivos hospitais universitários (tópico
VIII do item 2 do Relatório do Acórdão nº 2.681/2011-TCU/Plenário – DOC. 04).

Dessa forma, diante da expiração do prazo estabelecido no


Acórdão nº 1.520/2006-TCU/Plenário (DOC. 03), da pendência da questão relativa
à substituição dos funcionários terceirizados na Administração Pública Federal, bem
como de pedidos de prorrogação de prazo realizados por uma série de órgãos e
entidades públicas - entre eles: por parte do Ministério da Educação em conjunto
com o Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão, por mais 2 (dois) anos
para a substituição de terceirizados alocados nos hospitais universitários, sob o
argumento de que “a demissão imediata dos contratados que atuam nos HUs
redundaria em graves prejuízos à saúde e ao interesse público, dado que se
refletiria em uma enorme diminuição de oferta de serviços de saúde à população
carente e milhares de famílias ficariam sem o seu sustento; mais especificamente,
ensejaria a redução de 4.100 leitos hospitalares, sem considerar os serviços
mantidos exclusivamente por pessoal terceirizado” (tópico IX do item 2 do
Relatório do Acórdão nº 2.681/2011-TCU/Plenário – DOC. 04) -, o TCU decidiu,
por meio do Acórdão nº 2.681/2011-TCU/Plenário (DOC. 04), prorrogar até
31/12/2012 o prazo de substituição dos funcionários terceirizados irregulares
em todos os órgãos e entidades de toda a Administração Pública (item 9.1 do
Acórdão nº 2.681/2011-TCU/Plenário – DOC. 04).

Com relação aos terceirizados dos hospitais universitários, o


Ministério da Educação e o Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão -
quando da solicitação ao TCU de prorrogação de prazo por mais 2 (dois) anos para
cumprimento do Acórdão nº 1.520/2006-TCU/Plenário (DOC. 03), conforme citado
acima - mencionaram também como justificativa: “a edição, em 31 de dezembro de
2010, da Medida Provisória 520, que autoriza o Poder Executivo a criar a empresa
pública denominada Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares S.A. - EBSERH”

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e que “o prazo adicional requerido seria necessário para a elaboração do estatuto


da empresa, bem como para a celebração de contratos com as universidades que
possuem hospital” (tópico V do item 2 do Relatório do Acórdão nº 2.681/2011-
TCU/Plenário – DOC. 04).

Porém, a Medida Provisória nº 520, de 31 de dezembro de


2010, não foi convertida em lei, tendo seu prazo de vigência encerrado em 01 de
junho de 2011, conforme Ato do Presidente da Mesa do Congresso Nacional nº 23
de 2011 (DOC. 05).

Posteriormente, veio a edição da Lei nº 12.550/11, que criou a


empresa pública denominada Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares
(EBSERH), com personalidade jurídica de direito privado (art. 1º) e com capital
social integralmente da União (art. 2º), tendo por finalidade a "prestação de
serviços gratuitos de assistência médico-hospitalar, ambulatorial e de apoio
diagnóstico e terapêutico à comunidade, assim como a prestação de serviços de
apoio às instituições públicas federais de ensino ou instituições congêneres de
serviços de apoio ao ensino, à pesquisa e à extensão, ao ensino-aprendizagem e à
formação de pessoas no campo da saúde pública".

Contudo, saliente-se que a referida Lei nº 12.550/11 é objeto


de ação direita de inconstitucionalidade – ADI 4895, proposta pelo Procurador-
Geral da República e em tramitação no Supremo Tribunal Federal (DOC. 06), e
também não foi reconhecida pelo TCU como uma solução “definitiva a curto
prazo” para a precária situação dos recursos humanos dos hospitais universitários
das universidades federais, “por estar envolta em controvérsias”.

É o que ressaltou o TCU, no Acórdão nº 1.610/2013-


TCU/Plenário (DOC. 07), que consolida os resultados obtidos em auditorias
operacionais realizadas em vários hospitais universitários para avaliar os controles
internos da área de licitações e contratos:

“(...)

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9.1.8 Há que se ressaltar, entretanto, que a criação da referida empresa,


como solução governamental para o incremento da gestão hospitalar
universitária, não tem tido aceitação pacífica, com discussões focadas,
especialmente, nas dúvidas acerca da possibilidade ou não de se
compatibilizar o modelo de gestão proposto com a preservação da autonomia
universitária.
9.1.8.1 Reportagem no Brasil Econômico (SP) do dia 29 passado registrou que
muitos conselhos universitários têm resistido à adesão àquela empresa, por
acreditarem se tratar, na verdade, de privatização dos HU, com perda da
autonomia das universidades, uma vez que a equipe de gestores dos
nosocômios ficará adstrita à nova empresa. Por outro lado, ressalte-se da
audiência pública realizada pela Procuradoria da República no Rio de janeiro
(PR/RJ), no dia 3/5/2013, sobre o tema, o entendimento exposto por Marcelo
Land, coordenador do Complexo Hospitalar da UFRJ, que, na condição de
representante do reitor da UFRJ, disse apoiar a contratação da Ebserh por
entender não existir solução melhor para resolver os problemas dos hospitais
universitários, destacando, dentre eles, a não reposição salarial dos
funcionários e a evasão de médicos extraquadros, que saem dos hospitais em
busca de salários melhores.
9.1.8.2 Já o Ministério Público Federal no Distrito Federal (MPF/DF) entrou,
em 14/3/2013, com uma ação civil para anular o termo de adesão e o contrato
assinados pela reitoria da UnB com Ebserh para administração do Hospital
Universitário de Brasília (HUB), por entender que tal contrato ofenderia a
autonomia didático-científica, da administração, de gestão financeira e de
patrimônio que os hospitais universitários possuem pela CF/88, além de fazer
terceirização indevida da gestão do SUS.
9.1.8.3 Destaque-se, ainda, que a Lei nº12.550/2011, que criou a Ebserh, é
alvo de uma ação direta de inconstitucionalidade (ADI nº 4895), proposta
pelo Procurador-Geral da República ao Supremo Tribunal Federal (STF),
em 3/1/2013, na qual sustenta, que “a autorização para criação da EBSERH
seria inconstitucional, diante da ausência de lei complementar federal
definindo as áreas de atuação das empresas públicas, quando dirigidas à
prestação de serviços públicos, consoante dispõe o art.37, XIX, da Carta
Magna. Argui-se, ainda, que se tratando de empresa pública prestadora de
serviço público de assistência à saúde, inserida integral e exclusivamente no
âmbito do SUS, não seria possível “emprestar-lhes natureza diversa da
pública”, submetendo-se, portanto, “ao conjunto de normas integrantes do
art. 37 da CR, vocacionadas a organizar a prestação do serviço público”. Em
razão disso, seriam inconstitucionais as previsões de contratação de
servidores pela CLT e de celebração de contratos temporários de emprego”
(www.stf.gov.br).
9.1.8.4 Como se denota, a medida governamental adotada para a resolução
da precária conjuntura dos HU está envolta em controvérsias que não
permite vislumbrar, ainda, solução definitiva a curto prazo.
(...)”(sem grifo e sublinhado no original) (fl. 46 do DOC. 07)

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Portanto, conclui-se que o problema da terceirização irregular já


se arrasta há anos no âmbito da Administração Pública Federal, com grande
contingente de terceirizados irregulares, sobretudo, nos hospitais universitários, e
entre eles: o Hospital Universitário Gaffrée e Guinle (HUGG) da UNIRIO. Não
obstante as inúmeras decisões do TCU determinando a substituição da mão de obra
terceirizada contratada irregularmente, é possível constatar que a situação
permanece irregular, notadamente, no HUGG da UNIRIO, em total afronta aos
preceitos constitucionais, e que, diante do caos instalado, já prejudica tanto à
assistência à saúde da população, como o ensino, a pesquisa e a extensão nestes
locais, conforme se verá a seguir.

II.B – Do Sucateamento, da Redução na Oferta de Assistência à Saúde, do


Prejuízo ao Ensino e das Irregularidades no Processo de Contratação de
Profissionais das Áreas de Saúde e Administrativa para o HUGG da UNIRIO:

Os hospitais universitários constituem unidades de formação de


recursos humanos e de desenvolvimento de pesquisas e também representam, no
campo da assistência médica, centros de referência para o Sistema Único de Saúde –
SUS (art. 45 da Lei nº 8.080/90).

A crise pela qual passa o Hospital Universitário Gaffrée e


Guinle (HUGG) da UNIRIO, no que toca aos recursos humanos, é fato notório de
amplo conhecimento e divulgação.

Os documentos anexados à presente inicial, por certo,


demonstram a situação prolongada e precária em que se encontram os recursos
humanos que atuam no HUGG da UNIRIO, que acarreta um desequilíbrio
financeiro para o referido hospital, bem como prejudica o ensino lá ministrado e
também a assistência à saúde da população que utiliza seus serviços.

Não há dúvida de que a situação irregular de contratação de


profissionais no âmbito da Administração Pública Federal, constatada pelo TCU e
relatada no item acima, também se repetiu no HUGG da UNIRIO, situação esta que

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foi objeto de inquéritos civis e procedimentos administrativos no âmbito da


Procuradoria da República no Estado do Rio de Janeiro.

A Notícia de Fato nº 004579.2012.01.000/0-11 (DOC. 08),


protocolada inicialmente na Procuradoria Regional do Trabalho da 1ª Região e
constante do Anexo I do Inquérito Civil nº 1.30.001.005954/2012-56 (DOC. 02),
aponta que os profissionais da área de saúde que trabalham atualmente no HUGG da
UNIRIO “não recebem quaisquer direitos trabalhistas, tais como: assinatura da
CTPS, 13º salário e horas extras” (fl. 04 do DOC. 08).

De fato, as investigações promovidas pelo Ministério Público


do Trabalho no bojo da citada representação comprovam a ocorrência de
contratações irregulares no âmbito do HUGG da UNIRIO desde o ano de 2001,
conforme informações prestadas pela própria direção do referido hospital (fls. 19/21
do DOC. 08).

Segundo o atual Diretor do HUGG, inicialmente, a


terceirização das atividades-fim prestadas no âmbito do hospital ocorreu
mediante convênio firmado no ano de 2001 “entre a UNIRIO e a Fundação de
Apoio à Pesquisa, Ensino e Assistência à Escola de Medicina e Cirurgia do Rio de
Janeiro e ao HUGG – FUNRIO, em cujos objetivos se encontrava o de
revitalização do HUGG”. Nessa época, uma das principais necessidades detectadas
foi a de “recomposição do quadro de recursos humanos, que se mostrava
deficitário”, fato este que “levou à contratação de prestadores de serviço pela
aludida Fundação de Apoio” (fl. 19 do DOC. 08).

O Diretor do HUGG informou, ainda, que posteriormente no


ano de 2005 ocorreu a celebração de um novo contrato de prestação de serviços,
desta vez entre o HUGG e a Fundação de Apoio à Universidade Federal do Estado
do Rio de Janeiro – FURJ, o qual também incluiu como objeto a alocação de
recursos humanos no HUGG. No mês de novembro de 2008, após a posse da
nova diretoria do HUGG, constatou-se “que permanecia a situação crítica quanto
aos recursos humanos, de forma que os servidores federais lotados na unidade não

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atendiam, em número, às demandas da mesma”, fato que levou à prorrogação do


contrato com a FURJ até o ano de 2009 (fls. 19/20 do DOC. 08).

Em 15/04/2010, o Ministério Público do Trabalho, diante da


ilegalidade na prestação de serviços por funcionários terceirizados nas atividades-
fim do HUGG, firmou termo de conciliação judicial com a FURJ, nos autos da Ação
Civil Pública nº 00926.68.2008.5.01.0014, que tramitou perante a 14ª Vara do
Trabalho do Rio de Janeiro. Através de tal termo de conciliação judicial, a FURJ se
comprometeu a abster-se “de fornecer mão-de-obra a terceiros, assim
compreendida a prática de alocar trabalhadores nas atividades-fim de outrem, ou
sob o comando diretivo deste último”, a “cessar o fornecimento dos
trabalhadores, assim compreendida a prática de alocá-los nas atividades-fim de
outrem ou sob o comando diretivo deste último, que, nesta data, prestam serviços
à Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro – UNIRIO e ao Hospital
Universitário Gafrée e Guinle até a data de 31/12/2010”, bem como a não
aumentar o efetivo de trabalhadores que já prestavam serviços à UNIRIO e ao
HUGG (fls. 69/70 do DOC. 08).

Verifica-se, portanto, que a necessidade de substituição dos


funcionários terceirizados, já determinada pelo TCU através do Acórdão nº
1.520/2006-TCU/Plenário (DOC. 03), foi reafirmada, especificamente no caso da
UNIRIO e do HUGG, através do termo de conciliação judicial homologado nos
autos da Ação Civil Pública – Processo nº 00926.68.2008.5.01.0014, que tramitou
perante a 14ª Vara do Trabalho do Rio de Janeiro.

Com a homologação do referido acordo junto à Justiça do


Trabalho, a terceirização dos profissionais no HUGG, por meio da FURJ, restou
inviabilizada.

Não obstante a rescisão do contrato com a FURJ, foi necessária


a manutenção dos funcionários, até então terceirizados, no HUGG para que suas
atividades de assistência à saúde e de ensino não sofressem solução de continuidade,
de modo que tais funcionários permaneceram no hospital, porém, “com vínculo

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precário de prestação de serviço oriundo desde o início do projeto de revitalização


do hospital com a FUNRIO em 2001, recebendo apenas bolsa auxílio”, ou seja,
diante da “impossibilidade de continuidade da Fundação de Apoio, o vínculo se dá
diretamente com o HUGG/UNIRIO” (fl. 15 do DOC. 08).

Observe-se, portanto, que embora o acordo na Justiça do


Trabalho tenha sido cumprido através da rescisão do contrato com a FURJ, o
HUGG manteve os trabalhadores que eram terceirizados, porém, sem qualquer
respaldo contratual, ou seja, tais funcionários atualmente prestam serviços
dentro do HUGG em situação precária com remuneração através de “bolsa
auxílio”, o que lhes conferiu a denominação de funcionários “bolsistas”, em
total arrepio das normas que regem os direitos trabalhistas (fl. 20 do DOC. 08).

No ano de 2010, com a instituição do Programa Nacional de


Reestruturação dos Hospitais Universitários Federais – REHUF pelo Decreto nº
7.082/2010 (DOC. 09), foi elaborado Plano de Reestruturação do HUGG (fls.
178/194 do DOC. 01), posteriormente encaminhado, no mês de setembro de 2010,
ao Ministério da Educação, após aprovação pelo Conselho Universitário –
CONSUNI/UNIRIO, através da Resolução nº 3.520/2010 (fl. 177 do DOC. 01),
conforme exigência do art. 6º do Decreto nº 7.082/2010 (DOC. 09).

Consoante informações do Reitor da UNIRIO e do Diretor do


HUGG, “as necessidades do HUGG foram formalmente explicitadas ao MEC
quando do envio do Projeto REHUF, cuja proposta elaborada pela Direção foi
submetida ao CONSUNI/UNIRIO e por este aprovada” (fls. 174/175 do DOC. 01).

O Plano de Reestruturação do HUGG (fls. 178/194 do DOC.


01) retrata a situação de sucateamento do hospital, inclusive, no que diz respeito às
irregularidades existentes na área de recursos humanos, explicitando ao Ministério
da Educação a necessidade de contratação de novos servidores para substituir os
denominados “bolsistas”, conforme se verifica no trecho abaixo transcrito:

"4. INFRA-ESTRUTURA FÍSICA

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4.1 EDIFICAÇÕES: Diagnóstico situacional e especificação das


necessidades

4.1.1. Caracterização das Edificações


(…)
De modo geral, os revestimentos internos do HUGG estão fora dos padrões
atuais de acabamento, necessitando adequação às condições ideais de
assepsia.
Nas fachadas do prédio principal correm diversas instalações provisórias que
acabaram por se tornar definitivas (elétricas, hidráulicas e sanitárias).
Os pisos dos acessos e áreas de circulação ao ar livre estão bastante
deteriorados, tornando o caminho bastante irregular e até perigoso a todos
aqueles que por ele circulam, especialmente aos pacientes.
(…)
4.2 INSTALAÇÕES
As instalações prediais, industriais e hospitalares do HUGG encontram-se em
estado precário, principalmente pelo longo período em que os recursos para a
conservação e manutenção de seu patrimônio foram exíguos.
(…)
4.3 METAS INSTITUCIONAIS
A partir dos levantamentos realizados, relacionamos a seguir as Metas
Institucionais que serviram de diretriz para o desenvolvimento do Plano de
Obras.
4.3.1. Adequar Espaços Físicos (Áreas e Localizações)
A clara inadequação das instalações do HUGG ao que determinam as normas
técnicas atuais é notadamente um problema a ser sanado pelo plano proposto.
Apesar de inúmeros serviços estarem em pleno funcionamento, a adequação
dos espaços físicos, além de ser uma recomendação técnica, é uma medida de
revitalização institucional que tem objetivo colateral motivar e possibilitar o
maior desempenho de seus colaboradores.

4.3.2. Possibilitar o Aumento da Produtividade


Muitos serviços oferecidos pelo HUGG estão com demanda reprimida por
falta de recursos físicos adequados. De acordo com o Plano Operativo Anual
– firmado junto ao SUS – diversos serviços de média e alta complexidade que
hoje poderiam ser realizados no HUGG não encontram meios para sua
realização. Possibilitar o aumento produtivo é sem dúvida uma das Metas
através da qual o Plano de Obras irá ajudar o HUGG a aumentar sua
participação nos planos assistencial, de ensino e de pesquisa.

4.3.3. Restaurar e Modernizar as Instalações Prediais


O estado bastante degradado das instalações prediais do HUGG não condiz
com o que deveria ser exemplo e referência para a sociedade. Ainda assim a
reestruturação e a modernização, propostas neste documento como Meta,
objetivam exclusivamente permitir um funcionamento pleno do Hospital,
dentro das normas técnicas e com segurança.

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(…)
5. EQUIPAMENTOS HOSPITALARES
(…)
O sucateamento dos equipamentos, a dificuldade de reposição de peças
(devido à interrupção da fabricação ou a inexistência de similares), e as
tecnologias que não correspondem às necessidades ou que não possam ser
mantidas em operação, por diversas razões, são causadores de prejuízos, não
melhoram a atenção e o cuidado ao paciente e ainda resultam em má
aplicação de dinheiro público. Além disso, impossibilitam que se garanta a
utilização dentro de padrões mínimos de segurança, tanto para pacientes
quanto para os profissionais de saúde.
A modernização do parque de equipamentos do HUGG é de crucial
importância para o atendimento eficiente e de excelência aos usuários quer
sejam eles os pacientes, os profissionais de saúde em atuação ou aqueles em
formação.
(…)
6. RECURSOS HUMANOS
Tendo em vista a Missão e os Valores Institucionais do HUGG é necessário
para alcançar tais objetivos um corpo técnico-administrativo em número e
qualificação condizentes. Nos últimos anos não houve ingresso em número
suficiente para a recomposição do quadro de recursos humanos, fato este que
traz notórios prejuízos ao bom desempenho do Hospital nas suas diferentes
áreas de atuação, quer na assistência, no ensino e na pesquisa.
No quesito assistência, por exemplo, há número insuficiente de médicos em
diferentes especialidades, assim como existem apenas três Fisioterapeutas
para atendimento de todo Hospital, como também inexistem Fonoaudiólogos
no quadro efetivo, além do reduzido número de Enfermeiros e Técnicos de
Enfermagem. Contribui ainda para dificultar o bom funcionamento do
nosocômio a deficiência na área de apoio administrativo.
A Necessidade de Acréscimo foi estabelecida a partir de levantamentos
efetuados considerando por exemplo, na área de Enfermagem, o que
estabelece a Legislação COFEN Nº 293/2004, que trata do dimensionamento
do quadro de profissionais deste segmento.
Com base no exposto apresentam os a Necessidade conforme explicitado nas
tabelas de Nível Superior, Intermediário e Auxiliar.
(...)” (sem sublinhado no original) (fls. 181/191 do DOC. 01)

Ressalte-se, neste ponto, que resta ao HUGG utilizar recursos


financeiros, que deveriam ser aplicados no custeio para a manutenção e o necessário
incremento do hospital universitário, para o pagamento de pessoal - “bolsistas” -,
despesa esta, contudo, de atribuição da UNIRIO e da UNIÃO, por meio do
Ministério da Educação.

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O referido Plano de Reestruturação do HUGG (fls. 178/194 do


DOC. 01), ao tratar da questão dos recursos humanos do hospital, reproduziu tabela
que contém a quantidade de funcionários efetivos, a quantidade de funcionários
“bolsistas” (contratados sem concurso público e com vínculo precário) e a
necessidade de acréscimo de funcionários, além dos já existentes, essenciais para o
bom funcionamento do hospital e a observância das regulamentações vigentes (fls.
191/193 do DOC. 01).

A título de exemplo, verifica-se que, na época, o HUGG


contava com: 85 enfermeiros, sendo 65 efetivos e 20 “bolsistas”, com necessidade
de acréscimo de 164 servidores públicos; 195 auxiliares de enfermagem, sendo
166 efetivos e 29 “bolsistas”; 150 técnicos em enfermagem, sendo 56 efetivos e 94
“bolsistas”, com necessidade de acréscimo de 315 servidores públicos; cerca de 135
médicos, sendo 92 efetivos e 43 “bolsistas”, com necessidade de acréscimo de 163
servidores públicos; 23 fisioterapeutas, sendo 3 efetivos e 20 “bolsistas”, com
necessidade de acréscimo de 20 servidores públicos; e apenas 1 fonoaudiólogo na
condição de funcionário “bolsista”, com necessidade de acréscimo de 10 servidores
públicos (fls. 191/193 do DOC. 01).

Dessa forma, no ano de 2010, o quadro de recursos humanos


do HUGG era formado por 961 funcionários, sendo 673 servidores efetivos e 288
funcionários “bolsistas”, com necessidade de acréscimo de mais 816 servidores
públicos, o que demonstra que, na época, já havia a necessidade de
complementação do quadro efetivo com 1.104 servidores públicos, que
corresponde a soma da quantidade de funcionários “bolsistas” a serem substituídos e
a necessidade de acréscimo de servidores públicos.

Constata-se, assim, além da falta de recursos humanos, a


presença de grande número de funcionários com vínculos irregulares no HUGG
(“bolsistas”), que correspondem a mais de 1/3 da força de trabalho do hospital, e,
portanto, evidente a grave situação vivenciada pelo nosocômio.

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Em fevereiro de 2013, a Direção do HUGG alertou quanto à


diminuição no quantitativo de servidores efetivos no hospital entre os anos de 2010
e 2012 e que, tal fato, contribuiu para que não fossem extintos os vínculos precários
com os funcionários “bolsistas” do hospital, sob pena de grave redução na sua
capacidade operacional:

“(...)
O Projeto do Hospital Universitário Gaffrée e Guinle, em atendimento ao
referido decreto, foi aprovado pelos Conselhos Superiores, Resolução Nº
3.520/2010 e enviado ao Ministério da Educação, incluindo a necessidade de
recursos humanos para o Hospital.
No Projeto ficou demonstrado a necessidade de complementação do
quadro efetivo com 1104 servidores, incluindo entre estes a substituição dos
prestadores de serviço. Tal substituição foi determinada pelo TCU no
Acórdão nº 1520/2006 e Acórdão nº 2681/2011, sendo um compromisso
assumido pelo Governo Federal por intermédio do Ministério da Educação.
Cumpre salientar que estão sendo realizados investimentos de melhorias
dos espaços físicos, bem como a aquisição de equipamentos, como parte do
REHUF, proporcionando um acréscimo nas atividades desenvolvidas, mas
sem que até o presente momento o Hospital tenha sido contemplado com
novos cargos públicos efetivos. O quantitativo de servidores efetivos ao longo
dos últimos dois anos reduziu de 673, em 2010, para 642, em 2012.
Conforme o demonstrado, foi imprescindível a continuidade dos
terceirizados para o atendimento das demandas das atividades do HUGG.
Assim, permanecendo estes com vínculo precário, de prestação de serviço
oriundo desde o início do projeto de revitalização do hospital com a
FUNRIO em 2001, recebendo apenas bolsa auxílio. Com a já citada
impossibilidade de continuidade da Fundação de Apoio, o vínculo se dá
diretamente com o HUGG/UNIRIO.
Destaque-se mais uma vez que, no presente momento, não se pode
extinguir os vínculos atuais de imediato, devido a impossibilidade de
continuação das atividades, já que os prestadores de serviço representam na
sua totalidade 40% da força de trabalho do hospital, bem como por se tratar
de serviço de saúde, sendo inegável o perigo e as responsabilidades
envolvidas. Estima-se que sem os prestadores de serviço, o hospital reduziria
sua capacidade operacional em 75%, inviabilizando seu funcionamento.”
(fls. 20/21 do DOC. 08)

Em reunião realizada pelo Ministério Público Federal, em 06 de


maio de 2013, com o Reitor da UNIRIO e o Diretor do HUGG (fls. 200/215 do
DOC. 01), ambos reafirmaram a grave situação de recursos humanos vivida pelo
HUGG e informaram que, segundo dados de dezembro de 2012, o HUGG

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apresentava, no total, 1.105 servidores, sendo 647 servidores efetivos (58,5% do


total) e 458 funcionários “bolsistas” (41,5% do total) (fls. 200 e 212/213 do
DOC. 01). Afirmaram, ainda, que na hipótese de dispensa dos funcionários
“bolsistas”, dos 225 leitos ativos do hospital, apenas 68 deles permaneceriam em
funcionamento, com 100% de redução de leitos em alguns setores do hospital com o
fechamento do CTI, da Pediatria, da Ortopedia, da Terapia Renal Substitutiva e da
Fonoaudiologia e de seis salas do Centro Cirúrgico Geral, o qual permaneceria
somente com duas salas em funcionamento (fls. 200/201 e 214 do DOC. 01).

Quanto às possíveis soluções para o problema de recursos


humanos encontrados no HUGG, o Reitor da UNIRIO e o Diretor do HUGG
colocaram, na mesma reunião, que, provavelmente, “a EBSERH apenas surgiu por
conta do problema de recursos humanos” e que, embora a adesão à EBSERH não
tenha sido uma “imposição”, como “o MEC não apresenta qualquer outra
alternativa para a situação dos recursos humanos que não seja a contratação da
EBSERH e nem abre espaço para negociação em qualquer outra alternativa”, caso
a UNIRIO não venha a aderir à EBSERH, não se vislumbra “qualquer outra
possibilidade de solucionar a situação dos extraquadros, o que, em última
instância, ocasionará o fechamento de serviços do HUGG” (fls. 200/203 do DOC.
01).

O Reitor da UNIRIO e o Diretor do HUGG acrescentaram que


“na ocasião da apresentação do projeto do REHUF, foi indicado o quantitativo de
servidores necessários para a substituição dos funcionários extraquadros” e que
“a situação do HUGG relacionada a recursos humanos não conseguiu ser
resolvida pelo REHUF”. (fl. 200 do DOC. 01)

No mês de junho de 2013, “em decorrência de dificuldades


financeiras, a Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro e a Direção do
Hospital Universitário Gaffrée e Guinle se viram obrigados a contingenciar
atividades assistenciais nele praticadas”, tendo adotado, dentre outras, as seguintes
medidas: (1) realização de reunião, em 24/05/2013, com os chefes e responsáveis
técnicos dos diferentes serviços para apresentar a situação do hospital; (2) realização

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de reuniões individualizadas para adequação dos serviços e setores à nova situação;


(3) realização de reunião com o colegiado do Centro de Ciências Biológicas e da
Saúde, em 06/06/2013, para apresentar a situação do hospital; (4) fusão das 7ª e 9ª
Enfermarias, 8ª e 10ª Enfermarias, 3ª e 5ª Enfermarias e 4ª e 6ª Enfermarias, o que
acarretou redução no número total de leitos; (5) manutenção dos leitos/atendimentos
no CTI Adulto, CTI Neonatal, Maternidade, Ortopedia, Neurocirurgia, Terapia
Renal Substitutiva e Centros Cirúrgicos; (6) manutenção das consultas ambulatoriais
encaminhadas pelo SISREG e consultas subsequentes, porém, com suspensão de
matrículas novas oriundas de demanda própria; (7) manutenção dos exames
complementares de pacientes já agendados, porém, com realização dos exames
complementares somente até o limite previsto no Plano Operativo Anual firmado
com gestor municipal; (8) dispensa de prestadores de serviço sem vínculo, de forma,
porém, a não infringir normas técnicas e mediante indicação das chefias imediatas
(fls. 226/228 do DOC. 01).

O Reitor da UNIRIO e o Diretor do HUGG informaram, em


reunião com o Ministério Público Federal realizada em 09 de julho de2013 (fls.
263/266 do DOC. 01), que naquele mês “houve um contingenciamento, com a
dispensa de 82 funcionários extraquadros (três em razão de pedido de demissão),
ou seja, com a dispensa de cerca de 20% do quadro dos extraquadros do
HUGG”(fl. 264 do DOC. 01), diante do agravamento da situação financeira vivida
pelo HUGG, já que este hospital tem que utilizar recursos próprios para o
pagamento dos funcionários “bolsistas”.

A redução nos serviços de assistência à saúde com a dispensa


dos funcionários “bolsistas”, diante da situação financeira do hospital universitário
em questão, pode ser constatada, inclusive, nos indicadores de produtividade do
HUGG, que reduziu o número de leitos ativos de 222, no ano de 2011, para 157 no
ano de 2013, além de redução no número de consultas ambulatoriais e exames
complementares (fls. 86/87 do DOC. 02).

O contingenciamento feito no HUGG também foi citado em


reunião do Ministério Público Federal com servidores públicos e estudantes de

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Medicina da UNIRIO, realizada em 21 de junho de 2013 (fls. 229/259 do DOC.


01), quando estes ressaltaram que isto afetou de forma negativa a assistência à saúde
da população e o ensino médico e dos demais profissionais da área da saúde (fls.
229/234 e 250/253 do DOC. 01).

Além da redução numérica da quantidade de internações,


consultas ambulatoriais e exames complementares, o prejuízo à assistência à saúde
da população também pode ser exemplificado com o caso de uma paciente do
HUGG, portadora de carcinoma de mama direita, que teve atraso no início do seu
tratamento de saúde em razão do citado “contingenciamento (…) com a dispensa de
cerca de 20% do quadro dos extraquadros do HUGG” e que teve que recorrer ao
Poder Judiciário para fazer valer o seu direito individual, nos autos do Processo nº
0001764-47.2013.4.02.5117, que tramitou no 1º Juizado Especial Federal de São
Gonçalo, conforme consta do Procedimento Preparatório nº 1.30.020.000403/2013-
59 (DOC. 16).

O prejuízo ao ensino na área de saúde da UNIRIO é


exemplificado por aluno da faculdade de medicina, quando, em audiência pública
realizada pelo Ministério Público Federal em 25/10/2013, expõe que (fls. 560/579 e
637/660 do DOC. 01):

“(...) colocou que o internato é muito importante para fazer a ponte com a
realidade e se mostrou preocupado com o fato do internato não ter atendido as
diretrizes curriculares por conta da falta de pessoal; que já houve orientação
verbal dos professores que são chefes dos serviços de enfermaria, para que os
estudantes procurassem qualquer outro serviço para acompanhar, porque o
hospital não tem condições de atender aos internos; (…) que faz pouco tempo
uma enfermaria clínica médica que deveria ter 14 pacientes tinha apenas 3
pacientes para um universo de 20 internos; que isto é fato corriqueiro que é
importante ser colocado, ou seja, há dificuldade de aprendizado no hospital,
posto que hoje é um ambiente no qual existe um universo muito pequeno de
pacientes para um número muito grande de alunos; que não há atendimento
em muitos setores do hospital, que se encontram fechados; (...)” (fl. 579 e 658
do DOC. 01)

Em reunião conjunta extraordinária realizada pelo Colegiado da


Escola de Medicina e Cirurgia e pelo Colegiado da Coordenação do Curso de

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Medicina do Centro de Ciências Biológicas e da Saúde, ambos da UNIRIO, em 05


de dezembro de 2013, houve, mais uma vez, o reconhecimento do prejuízo ao
ensino e à assistência à saúde, diante da situação dos recursos humanos do HUGG
(fls. 714/722 do DOC. 01).

Posteriormente, em nova reunião realizada pelo Ministério


Público Federal, em 13 de março de 2014 (fls. 708/795 do DOC. 01), com o Reitor
da UNIRIO, o Diretor do HUGG, servidores da UNIRIO e estudantes de Medicina
da UNIRIO, no afã de obter mais elementos sobre o quadro de sucateamento da
instituição, restou novamente consignada a gravidade da situação vivida pelo
HUGG e caracterizada pela permanência de grande parcela de funcionários com
vínculo precário, pela crescente necessidade de contratação de novos servidores
efetivos e pelo prejuízo à assistência à saúde da população, ao ensino e à pesquisa
causado pela redução na oferta de serviços pelo HUGG (fls. 714/722, 723/739 e
760/769 do DOC. 01).

Conforme informado pelo Reitor da UNIRIO não existem,


atualmente, “recursos financeiros para a manutenção dos recursos humanos do
HUGG” e, ao mesmo tempo, “o Ministério da Educação coloca que a solução para
a questão é a adesão à EBSERH, de modo que não possui qualquer apoio do
governo para resolver a questão de outra maneira, posto que o governo coloca a
EBSERH como a única solução para essa questão” (fl. 709 do DOC. 01).

Contudo, é importante repisar que a Lei nº 12.550/11 é objeto


de ação direita de inconstitucionalidade – ADI 4895, proposta pelo Procurador-
Geral da República e em tramitação no Supremo Tribunal Federal (DOC. 06). Além
disso, some-se também o fato de que a adesão à EBSERH não foi reconhecida pelo
TCU como uma solução “definitiva a curto prazo” para a precária situação dos
recursos humanos dos hospitais universitários das universidades federais, “por estar
envolta em controvérsias” (fl. 46 do DOC. 07).

Além de não se caracterizar como solução definitiva a curto


prazo, a situação relativa à adesão da UNIRIO à EBSERH ainda não foi alvo de

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deliberação por parte do CONSUNI da referida universidade (fls. 708/713 e 754/760


do DOC. 01).

Sendo assim, o que resta certo é o descumprimento por parte da


UNIÃO da sua obrigação de prestar assistência e dotar os HUGG de corpo de
profissionais de saúde e de estrutura adequada para viabilizar o aperfeiçoamento dos
profissionais que estão se formando e também garantir uma assistência médico-
hospitalar efetiva, segura e com qualidade.

Entretanto, passa ano e entra ano, o processo de sucateamento


ganha força, permanecendo sem definição a situação crítica dos recursos humanos
no HUGG, em decorrência da política adotada nas últimas décadas pelo Estado, não
obstante as inúmeras decisões do TCU para que tal situação fosse regularizada com
a contratação de servidores por concurso público para a substituição dos
profissionais terceirizados que exercem funções da atividade-fim e não abarcadas
pelo Decreto nº 2.271/97, em afronta à disposição prevista no art. 37, inciso II da
Constituição Federal, bem como às normas do direito do trabalho.

Observe-se que, na reunião de 13 de março de 2014, antes


citada, foi colocado que os três segmentos da universidade (docentes, discentes e
servidores técnico-administrativos) apresentaram ao Reitor da UNIRIO documento
contendo vários encaminhamentos e propostas “para solucionar os problemas
vividos pelo HUGG sem que se tenha que aderir à EBSERH”, entre eles: a
elaboração de um plano emergencial para o HUGG com a participação dos três
segmentos e a solicitação para realização de reunião dos três segmentos com o
Ministério da Educação (fls. 708/713 do DOC. 01).

É importante ressaltar que a situação caótica dos recursos


humanos do HUGG já foi reiteradamente comunicada pelo Reitor da UNIRIO tanto
ao Ministério da Educação, quanto à própria EBSERH (fls. 771/776, 777, 782/783 e
784 do DOC. 01).

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Em 15 de maio de 2013, o Reitor da UNIRIO encaminhou


ofício ao Secretário de Educação Superior do Ministério da Educação, alertando
para a existência de elevado número de funcionários sem vínculo contratual e para
necessidade de aporte de recursos orçamentários, sob pena de redução da atividade
assistencial do HUGG (fl. 771/776 do DOC. 01). Entretanto, o Ministério da
Educação não tomou qualquer providência para a resolução do problema, tendo
simplesmente apresentado com resposta a sugestão para que a UNIRIO convidasse a
EBSERH para uma visita “para esclarecimentos que subsidiem a tomada de
decisão da instituição” (fl. 777 do DOC. 01).

Em 17 de junho de 2013, o Reitor da UNIRIO fez indagação


ao Presidente da EBSERH sobre como a referida empresa pública pretendia repor os
recursos humanos que atuam no HUGG “de modo a possibilitar a manutenção de
suas atividades, caso o Conselho Universitário da UNIRIO se manifeste contrário e
decida pela não adesão à EBSERH” (fls. 782/783 do DOC. 01). A resposta obtida
foi de que, no caso de não adesão da UNIRIO à EBSERH, “a empresa não teria
autorização legal para adotar quaisquer providências relacionadas às atividades
de administração do HUGG, tal como reposição de recursos humanos” (fl. 784 do
DOC. 01).

Verifica-se, portanto, que no caso de não adesão da UNIRIO à


EBSERH, a UNIÃO não oferece qualquer outra medida no sentido de solucionar a
situação irregular de recursos humanos do HUGG, que persiste em total afronta à
disposição prevista no art. 37, inciso II da Constituição Federal, bem como às
normas do direito do trabalho.

Observe-se que nem a nomeação e posse de 40 (quarenta)


novos servidores no HUGG nos últimos anos (fls. 814/815 do DOC. 01), nem a
deflagração de concursos públicos “destinado ao provimento de cargos do Quadro
de Pessoal Técnico-Administrativo em Educação” da UNIRIO, notadamente,
através do Edital nº 110, de setembro de 2010 (fls. 819/870 do DOC. 01), do
Edital nº 114, de 11 de outubro de 2010 (fls. 871/883 do DOC. 01), do Edital nº
42, de 31 de julho de 2012 (fls. 884/951 do DOC. 01) e do Edital nº 002 da

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UNIRIO, de 16 de janeiro de 2014 (fls. 952/966 do DOC. 01), são suficiente para
suprir a demanda atual de recursos humanos do HUGG, já que os citados concursos
públicos oferecem no total apenas 05 (cinco) vagas para Médico, 1 (uma) vaga
para Enfermeiro, 1 (uma) vaga para Técnico de Enfermagem, 25 (vinte e cinco)
vagas para Auxiliar de Enfermagem e 2 (duas) vagas para Técnico em
Radiologia para lotação no HUGG (fls. 814/815 do DOC. 01).

Segundo informações prestadas pelo Vice-Reitor da UNIRIO,


em 03 de dezembro de 2013, o número de funcionários “bolsistas”, contratados
sem concurso público e em atividade no HUGG era de 322 (trezentos e vinte e
dois) profissionais da área da saúde e 372 (trezentos e setenta e dois)
profissionais de outras áreas, o que resulta em um total de 694 (seiscentos e
noventa e quatro) funcionários contratados sem concurso público e com
vínculo precário (fls. 749/753 do DOC. 01 e fls. 78/82 do DOC. 02), isto sem
contar o quantitativo de recursos humanos necessários em acréscimo para que o
HUGG funcione na sua capacidade plena, segundo o Plano de Reestruturação do
HUGG encaminhado em 2010 ao Ministério da Educação, no âmbito do REHUF
(fls. 177/194 do DOC. 01). Neste ponto, destaca-se que, em 15 de julho de 2013, o
HUGG informou que “a necessidade de recursos humanos permanece a mesma que
foi apresentada no Plano de Reestruturação do HUGG” (fls. 269/271 do DOC. 01).

Verifica-se, assim, que, do total de funcionários contratados


sem concurso público, prestam serviços no HUGG como “bolsistas”: 53 (cinquenta
e três) médicos, 47 (quarenta e sete) enfermeiros, 162 (cento e sessenta e dois)
técnicos em enfermagem, 10 (dez) auxiliares de enfermagem e 2 (dois) técnicos em
radiologia, entre outros (fls. 749/753 do DOC. 01 e fls. 78/82 do DOC. 02), o que
demonstra que os referidos concursos públicos não serão suficientes para atender às
necessidades do HUGG.

Conclui-se, portanto, que, diante da quantidade e da natureza


das atividades desempenhadas pelos funcionários “bolsistas” do HUGG da
UNIRIO, os atuais concursos públicos (Edital nº 110/2010 - fls. 819/870 do DOC.
01), Edital nº 114/2010 - fls. 871/883 do DOC. 01, Edital nº 42/2012 - fls. 884/951

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do DOC. 01 e Edital nº 002/2014 - fls. 952/966 do DOC. 01), em vigência para


provimento de cargos efetivos por servidores públicos submetidos ao regime
jurídico único, não serão suficientes para a completa substituição dos profissionais
que se encontram em situação irregular no referido hospital, nem para o acréscimo
dos recursos humanos que ainda é necessário para o funcionamento do hospital na
sua capacidade total e com a observância das regulamentações vigentes, ainda mais
se for considerado o número de vagas ofertadas em cada certame (fls. 814/815 e
952/966 do DOC. 01).

Constata-se, dessa forma, que mesmo diante da comprovada


existência de grande número de funcionários com vínculo precário no HUGG e
da necessidade de contratação de novos servidores públicos efetivos mediante
concurso público, até o presente momento, não houve qualquer solução para a
questão de recursos humanos do hospital, o que coloca em risco não apenas a
população, que depende dos serviços de saúde ali prestados, mas também
importa grande prejuízo para o ensino e a pesquisa.

III – DO DIREITO

III.1 – Da Necessidade da Nomeação dos Candidatos Aprovados e ainda não


Convocados dos Concursos Públicos em Vigência para Cargos no HUGG da
UNIRIO (Edital nº 110/2010, Edital nº 114/2010, Edital nº 42/2012 e Edital nº
002/2014), da Necessidade de Contratação Temporária – Lei nº 8.745/93 e da
Necessidade de Outros Concursos Públicos para provimento de Cargos
Efetivos no HUGG da UNIRIO por Servidores Públicos submetidos ao Regime
Jurídico Único:

Diante do que foi exposto no item II da presente petição inicial,


está comprovada a situação precária em que se encontram os funcionários
“bolsistas” do HUGG, que lá prestam serviços sem qualquer respaldo contratual
com a UNIRIO ou com a UNIÃO (Ministério da Educação), e, portanto, sem
ter reconhecidos os seus direitos trabalhistas na sua plenitude, o que, ao final,
afronta não apenas o previsto pelo art. 37, inciso II, da Constituição Federal,

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mas também os princípios e normas do direito do trabalho, inclusive, de índole


constitucional.

Ademais, não se vislumbra qualquer ato por parte da


UNIRIO ou da UNIÃO, quer pelo Ministério da Educação, quer pelo Ministério do
Planejamento, Orçamento e Gestão, para sanar as ilegalidades acima expostas a
curto prazo.

Além da inércia da UNIÃO em solucionar a questão dos


terceirizados na Administração Pública Federal por quase duas décadas, os
concursos públicos em vigência na UNIRIO, deflagrados pelos Editais da UNIRIO
nºs 110/2010 (fls. 819/870 do DOC. 01), 114/2010 (fls. 871/883 do DOC. 01),
42/2012 (fls. 884/951 do DOC. 01) e 002/2014 (fls. 952/966 do DOC. 01), não
contemplam todos os cargos, cujas funções são hoje exercidas pelos funcionários
“bolsistas”, e ainda possui um número de vagas (34 vagas – fls. 814/815 do DOC.
01) infinitamente inferior para a substituição da totalidade dos 694 (seiscentos e
noventa e quatro) funcionários “bolsistas” (fls. 749/753 do DOC. 01 e fls. 78/82
do DOC. 02) e em atividade atualmente no HUGG, bem como para a alocação de
novos profissionais que ainda se fizerem necessários para o funcionamento do
hospital na sua capacidade total e com a observância das regulamentações
vigentes.

Acrescente-se que a adesão à EBSERH, única proposta


apresentada pela UNIÃO, ainda não foi deliberada pelo Conselho Universitário da
UNIRIO e talvez nem o seja, considerando a autonomia universitária, prevista no
art. 207, caput, da Constituição Federal, bem como a articulação dos três segmentos
da universidade (docentes, discentes e servidores técnico-administrativos) que
apresentaram ao Reitor da UNIRIO documento contendo vários encaminhamentos e
propostas “para solucionar os problemas vividos pelo HUGG sem que se tenha que
aderir à EBSERH”, como por exemplo: a elaboração de um plano emergencial para
o HUGG com a participação dos três segmentos e a solicitação para realização de
reunião dos três segmentos com o Ministério da Educação (fls. 708/713 do DOC.
01).

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Por certo, o Conselho Universitário da UNIRIO, caso assim


delibere, estará respaldado na sua autonomia universitária (art. 207, caput, da CF), a
qual deve ser entendida como autonomia administrativa, de gestão financeira e
patrimonial e didático-científica, para que tanto os profissionais de educação, como
os próprios estudantes, possam exercer as funções de ensino, pesquisa e extensão
sem qualquer embaraço, tendo garantidas, ao final, a livre manifestação do
pensamento e a livre expressão da atividade intelectual, artística, científica e de
comunicação, independente de censura ou licença (artigos 5ª, incisos IV e IX, e 206,
inciso II, CRFB/88).

Considerando, portanto, que a grave situação dos recursos


humanos no HUGG já se prolonga além do aceitável e que a própria UNIRIO, desde
2010, ou seja, desde a apresentação do Plano de Reestruturação do HUGG no
âmbito do REHUF (fls. 177/194 do DOC. 01), pleiteia na esfera administrativa
junto à UNIÃO (Ministério da Educação) uma solução para regularizar tal situação
que também permita a manutenção das atividades de assistência, ensino e pesquisa,
inclusive no caso de não contratação da EBSERH, conforme consta ainda dos
ofícios de 15/05/2013 e 17/06/2013 (fls. 771/776, 777, 782/783 e 784 do DOC. 01),
sem que tenha obtido qualquer resposta positiva neste sentido, somente resta
recorrer ao Poder Judiciário para determinar que a UNIÃO e a UNIRIO assim
procedam e regularizem a situação.

A Constituição Federal, no art. 37, caput, e no seu inciso II,


consagrou as regras básicas da ampla acessibilidade aos cargos e empregos
públicos, consoante abaixo:

“Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes


da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos
princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e
eficiência e, também, ao seguinte:
(...)
II - a investidura em cargo ou emprego público depende de aprovação prévia
em concurso público de provas ou de provas e títulos, de acordo com a
natureza e a complexidade do cargo ou emprego, na forma prevista em lei,

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ressalvadas as nomeações para cargo em comissão declarado em lei de livre


nomeação e exoneração;”

A obrigatoriedade da realização de concurso público para


investidura em cargos ou empregos públicos, muito mais do que estabelecer um
procedimento de como o agente deve atuar na contratação de seus servidores,
objetiva dar concretude aos princípios da moralidade e impessoalidade, a fim de que
se obtenha uma administração transparente de acordo com as normas da probidade
administrativa, somente se admitindo, como exceção, também previstas na própria
Constituição Federal, “as nomeações para cargo em comissão declarado em lei de
livre nomeação e exoneração” (inciso II, do art. 37) e a “contratação por tempo
determinado para atender à necessidade temporária de excepcional interesse
público” (art. 37, inciso IX).

Por outro lado, também segundo a Constituição Federal, as


pessoas físicas que prestam serviços à Administração Pública direta, às autarquias e
às fundações públicas, ou são servidores públicos sujeitos ao regime jurídico único e
ocupantes de cargos públicos (art. 39, caput) - o que engloba os cargos em
comissão, previstos na parte final do art. 37, inciso II) -, ou são temporários,
contratados “por tempo determinado para atender à necessidade temporária de
excepcional interesse público” (art. 37, inciso IX).

No presente caso da UNIRIO, todos os funcionários “bolsistas”


que prestam serviços no HUGG não têm por finalidade atender uma necessidade
temporária da Administração Pública, nem foram providos em cargos em comissão.

Ao revés, tais funcionários “bolsistas” exercem funções


relacionadas a cargos de carreira de provimento efetivo e, ainda, correspondentes à
atividade-fim da instituição de ensino em questão, razão pela qual não se aplica
nesta hipótese o Decreto nº 2.271/97 – que versa sobre a contratação de serviços da
atividade-meio desempenhados na Administração Pública Federal direta, autárquica
e fundacional -, conforme expressamente destaca o § 2º, do seu art. 1º1 (DOC. 10).
1
“Art. 1º – No âmbito da Administração Pública Federal direta, autárquica e fundacional poderão ser objeto de
execução indireta as atividades materiais acessórias, instrumentais ou complementares aos assuntos que constituem
área de competência legal do órgão ou entidade.

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Sendo assim, imperioso o provimento de cargos efetivos na


UNIRIO por servidores públicos, submetidos ao regime jurídico único (Lei nº
8.112/90), para o exercício das funções desempenhadas pelos funcionários
“bolsistas” do HUGG, após aprovação em “concurso público de provas ou de
provas e títulos”. Até porque a existência de tais profissionais “bolsistas”, por mais
de uma década, em situação irregular, no exercício de atividades típicas de
servidores, demonstra a inércia da UNIÃO e da UNIRIO em adotar medidas
corretivas efetivas para tanto, embora ambas tenham sido instadas pelo TCU.

Em primeiro, portanto, os candidatos aprovados nos


concursos públicos, referentes ao Edital nº 110/2010 (fls. 819/870 do DOC. 01), ao
Edital nº 114/2010 (fls. 871/883 do DOC. 01), ao Edital nº 42/2012 (fls. 884/951 do
DOC. 01) e ao Edital nº 002/2014 (fls. 952/966 do DOC. 01) da UNIRIO, mas que
ainda não foram convocados, devem ser imediatamente convocados e
empossados nos cargos destinados ao HUGG.

Isto porque não há qualquer argumento para que se mantenha a


precarização dos vínculos dos “bolsistas” que atualmente exercem funções no
HUGG, sem qualquer respaldo contratual e sem terem resguardados seus direitos
trabalhistas; ou, ainda, que se permita o fechamento de mais serviços de saúde no
referido hospital em prejuízo ao ensino e à assistência a saúde da população, quando
há concursos públicos válidos e em vigência, com candidatos ainda não convocados,
a permitir, dessa forma, a atenuação a grave situação existente e comprovada.

Além disso, como a nomeação e posse de todos os candidatos


aprovados nos concursos públicos, referentes ao Edital nº 110/2010 (fls. 819/870
do DOC. 01), ao Edital nº 114/2010 (fls. 871/883 do DOC. 01), ao Edital nº 42/2012
(fls. 884/951 do DOC. 01) e ao Edital nº 002/2014 (fls. 952/966 do DOC. 01) da
UNIRIO para provimento dos cargos no HUGG, não permitirá a substituição dos

(…)
§ 2º – Não poderão ser objeto d execução indireta as atividades inerentes às categorias funcionais abrangidas
pelo plano de cargos do órgão ou entidade, salvo expressa disposição legal em contrário ou quando se tratar de cargo
extinto, total ou parcialmente, no âmbito do quandro geral de pessoal.”

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profissionais “bolsistas” que se encontram em situação irregular, nem permitirá o


funcionamento do hospital na sua capacidade total e com a observância das
regulamentações vigentes, imprescindível, ainda, a deflagração de novos
concursos públicos.

Por certo, contudo, a realização de concurso público para a


substituição de todos os funcionários bolsistas do HUGG por servidores públicos,
submetidos ao regime jurídico único é procedimento que demanda tempo, ao
mesmo tempo em que a atual situação precária de tais funcionários “bolsistas”
não mais se sustenta.

Assim, vislumbra-se que a contratação temporária, prevista


no art. 37 inciso IX da Constituição Federal e regulamentada pela Lei nº
8.745/2003, é o meio mais adequado, nos termos da legislação vigente, para
regularizar de imediato a situação dos recursos humanos do HUGG, diante da
necessidade de aguardar a deflagração/conclusão dos concursos públicos
necessários para o provimento de cargos efetivos por servidores públicos,
submetidos ao regime jurídico único.

Se por um lado a situação irregular de todos os funcionários


“bolsistas” sem respaldo contratual no HUGG não mais se sustenta, por outro, a
dispensa de todos estes funcionários sem a reposição imediata dos recursos humanos
no mesmo quantitativo trará graves prejuízos à saúde, ao ensino e ao interesse
público, posto que reduzirá sensivelmente a oferta de serviços de saúde prestados
pelo HUGG, os quais estão inseridos no SUS.

Nesse contexto, a propósito, observe-se como exemplo que a


contratação temporária foi justamente a solução adotada, pelo Ministério da
Educação, para o Hospital Universitário da Universidade Federal de Santa Catarina,
em situação semelhante a presente, para cumprimento de decisão judicial proferida
nos autos de ação civil pública, proposta na Seção Judiciária de Santa Catarina da
Justiça Federal da 4ª Região, Processo nº 2008.72.00.012168-4/SC (DOC. 11 e
DOC. 12).

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A contratação temporária, nos moldes da Lei nº 8.745/93,


também foi a solução temporária para a regularização dos recursos humanos no
Hospital Universitário Antonio Pedro da Universidade Federal Fluminense – UFF,
localizada em Niterói, que passa pelos mesmos problemas do HUGG da UNIRIO,
consoante decisão proferida pelo Desembargador Federal Luiz Paulo da Silva
Araújo Filho, nos autos das apelações interpostas pelo Ministério Público Federal,
pela União e pela UFF, Processo nº 0002668-54.2009.4.02.5102, em tramitação na
07ª Turma Especializada do TRF da 2ª Região, enquanto não julgados os recursos
interpostos (DOC. 13).

Acrescente-se que as dificuldades financeiras por que passa o


HUGG foram agravadas em razão do descaso da UNIÃO em não efetuar a reposição
regular dos recursos humanos ao longo dos últimos anos na unidade de saúde em
questão, ocasionando o desvio de verbas destinadas ao custeio de manutenção,
funcionamento e incremento do hospital universitário para o pagamento de pessoal,
no caso: pagamento dos funcionários “bolsistas”.

Ora, as despesas com pessoal, temporário ou não, devem ser


repassadas pela UNIÃO à UNIRIO para pagamento da folha salarial dos servidores
públicos lotados na referida universidade, bem como em seu hospital de ensino,
consoante previsto na Lei nº 9.394/96, aplicável ao presente caso, uma vez que os
hospitais universitários estão vinculados ao Ministério da Educação e inseridos no
âmbito da educação superior.

Vale destacar, neste ponto, o disposto no § 2º do art. 46 e no


caput do art. 55, ambos da Lei nº 9.394/96, conforme abaixo transcrito, já que se
está diante de um hospital universitário, voltado para a educação superior:

“Art. 46. A autorização e o reconhecimento de cursos, bem como o


credenciamento de instituições de educação superior, terão prazos limitados,
sendo renovados, periodicamente, após processo regular de avaliação.
(...)

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§ 2º No caso de instituição pública, o Poder Executivo responsável por sua


manutenção acompanhará o processo de saneamento e fornecerá recursos
adicionais, se necessários, para a superação das deficiências.
(…)
Art. 55. Caberá à União assegurar, anualmente, em seu Orçamento Geral,
recursos suficientes para manutenção e desenvolvimento das instituições de
educação superior por ela mantidas.”

A UNIÃO, nos últimos vinte anos, omite-se quanto à sua


responsabilidade de viabilizar o funcionamento dos serviços públicos de ensino e
saúde prestados nas dependências do HUGG, repassando a terceiros, ou seja, ao
próprio hospital e à UNIRIO, obrigação que é exclusivamente sua, no caso:
pagamento de salários dos profissionais que exercem atividade-fim no HUGG.
A omissão da UNIÃO, ao revés, compromete o funcionamento do hospital
universitário em questão que tem que aplicar verbas de custeio repassadas ao
hospital no pagamento de pessoal.

Diante disso, não há dúvida que cabe à UNIÃO transferir à


UNIRIO e ao HUGG a verba orçamentária necessária para pagar toda despesa
relativa ao pagamento de salários, benefícios e outros encargos de pessoal
decorrente da contratação temporária, prevista no art. 37, inciso IX, da Constituição
Federal e regulamentada pela Lei nº 8.745/2003, ora pleiteada, para a substituição
dos funcionários “bolsistas” do HUGG, que atualmente prestam serviços em
situação precária e sem respaldo contratual, bem como para a alocação de novos
profissionais que ainda se fizerem necessários para o funcionamento do hospital na
sua capacidade total e com a observância das regulamentações vigentes.

III.2 – Da Necessidade de apresentar o Quantitativo de Cargos atualmente


destinados ou que deveriam ser destinados ao HUGG da UNIRIO, bem como
Projeto com o Dimensionamento dos Recursos Humanos Necessários para a
Substituição dos Funcionários Extraquadros e/ou Temporários e para o Pleno
Funcionamento do HUGG:

Conforme visto acima, não há dúvida de que os concursos


públicos em vigência, referentes ao Edital nº 110/2010 (fls. 819/870 do DOC. 01),

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ao Edital nº 114/2010 (fls. 871/883 do DOC. 01), ao Edital nº 42/2012 (fls. 884/951
do DOC. 01) e ao Edital nº 002/2014 (fls. 952/966 do DOC. 01) da UNIRIO, não
suprirão a força de trabalho existente atualmente de forma irregular na unidade de
saúde da UNIRIO, nem para o funcionamento do hospital na sua capacidade total e
com a observância das regulamentações vigentes.

Também é certa a existência de cargos vagos na medida em que


há concursos públicos em vigência.

O Plano de Carreira dos Cargos Técnico-Administrativos em


Educação no âmbito das Instituições de Ensino, encontra-se disciplinado na Lei nº
11.091/2005 (DOC. 14), e está estruturado em 5 (cinco) níveis de classificação 2: A,
B, C, D e E, de acordo como Anexo II da referida lei.

O art. 4º da Lei nº 11.091/2005 estabelece que “caberá à


Instituição Federal de Ensino avaliar anualmente a adequação do quadro de
pessoal às suas necessidades propondo ao Ministério da Educação, se for o caso,
o seu redimensionamento, consideradas, entre outras, as seguintes variáveis: I –
demandas institucionais; II – proporção entre os quantitativos de força de
trabalho do Plano de Carreiras e usuários; III – inovações tecnológicas; e IV –
modernização dos processos de trabalho no âmbito da Instituição”, enquanto que
seu parágrafo único prevê que “os cargos vagos e alocados provisoriamente no
Ministério da Educação deverão ser redistribuídos para as Instituições Federais
de Ensino para atender às suas necessidades, de acordo com as variáveis
indicadas nos incisos I a IV deste artigo e conforme o previsto no inciso I do § 1º
do art. 24 desta Lei”.

Com relação ao quantitativo dos cargos dos níveis de


classificação “C”, “D” e “E”, que integram o Plano de Carreira dos Cargos Técnico-
Administrativos em Educação, de que trata a Lei nº 11.091/2005, o Decreto nº
7.232/2010, no seu Anexo I (DOC. 15), prevê para a UNIRIO 1.762, 3.425 e 3.050
cargos para os Níveis de Classificação “C”, “D” e “E”, em um total de 8.237
2
Art. 2º, inciso II, da Lei nº 11.091/2005: “nível de classificação: conjunto de cargos de mesma hierarquia,
classificados a partir do requisito de escolaridade, nível de responsabilidade, conhecimentos, habilidades específica,
formação especializada, experiência, risco e esforço físico para o desempenho de suas atribuições”.

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cargos. Embora o art. 4º, do citado decreto, preveja que “o Ministério da Educação
publicará, em janeiro e julho de cada ano, versão atualizada do Anexo I,
contemplando as redistribuições de cargos que tiverem sido realizadas no período
imediatamente anterior, demonstrando, para cada universidade, o total de cargos
dos níveis de classificação “C”, “D” e “E””, o Ministério Público Federal não
logrou localizar ato normativo neste sentido, posterior ao citado Decreto nº
7.232/2010, para aferir o quantitativo de cargos atualmente destinados ou que
deveriam ser destinados à UNIRIO e demais instituições federais de ensino superior
e, ainda, aqueles que estão vagos e que deveriam ser redistribuídos pelo Ministério
da Educação às citadas instituições de ensino superior.

Acrescente-se ainda que a falta de publicação periódica da


atualização de tais quantitativos de cargos pelo Ministério da Educação, conforme
previsto no Decreto nº 7.232/2010, ainda impede que se exija das universidades
federais o cumprimento do § 1º, do art. 4º, do mesmo decreto, ou seja, a divulgação
de “listagem contendo relação discriminada de cargos ocupados e vagos em seus
sítios na rede mundial de computadores”.

Assim sendo, indispensável a apresentação pela UNIÃO da


relação atualizada - após o Decreto nº 7.232/2010 (DOC. 15) - do quantitativo
dos cargos dos níveis de classificação “C”, “D” e “E”, que integram o Plano de
Carreira dos Cargos Técnico-Administrativos em Educação, de que trata a Lei
nº 11.091/2005, que estejam no Ministério da Educação e nas universidades
federais, inclusive, na UNIRIO, com indicação daqueles destinados ao HUGG,
bem como apresentação dos cargos que estão vagos nos citados órgãos.

Da mesma forma, o redimensionamento atual e adequado


dos recursos humanos da UNIRIO, no que toca ao seu hospital universitário,
para que este funcione na sua capacidade total e com a observância das
regulamentações vigentes - com a organização e o planejamento das atividades a
serem desenvolvidas para evitar mais retrocessos no ensino e nos serviços de saúde
realizado por tal unidade da saúde - é de fundamental importância para, nos

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termos do art. 4º da Lei nº 11.091/2005, possibilitar inclusive a redistribuição de


cargos.

O próprio TCU, conforme visto acima, no item 6.28, do


Acórdão nº 1.520/2006 – Plenário (DOC. 03), aponta para “a existência de
quantidade suficiente de cargos para substituir os terceirizados”, mas que na
hipótese de não se mostrarem suficientes para substituir os terceirizados, o
Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão ainda poderá “avaliar a
possibilidade de remanejar cargos excedentes em um órgão para outro onde não há
quantitativo suficiente”, dispensando assim a necessidade de criação de novos
cargos por lei específica.

Dessa forma, patente a necessidade da UNIÃO apresentar a


relação atualizada - após o Decreto nº 7.232/2010 (DOC. 15) - do quantitativo dos
cargos dos níveis de classificação “C”, “D” e “E” - vagos ou não - que integram o
Plano de Carreira dos Cargos Técnico-Administrativos em Educação, de que trata a
Lei nº 11.091/2005, tanto no Ministério da Educação, como nas universidades
federais, com indicação daqueles destinados ao HUGG; bem como a necessidade da
UNIRIO apresentar, em um prazo razoável, um plano atual de redimensionamento
da força de trabalho da sua unidade de saúde necessária para o funcionamento na
sua capacidade total e com a observância das regulamentações vigentes.

Imprescindível ainda que a UNIÃO e a UNIRIO, dentro das


suas respectivas competências, promovam a nomeação e posse de aprovados nos
concursos públicos em curso, realizem a contratação temporária, bem como
promovam novos concursos públicos para o provimento de cargos efetivos na
UNIRIO por servidores públicos, submetidos ao regime jurídico único, tendo por
objetivo final restabelecer a legalidade no que diz respeito à política de recursos
humanos do hospital universitário da UNIRIO.

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III. 3 – Da Omissão e da Necessidade da Tutela Jurisdicional

Não surpreenderá, entretanto, se a UNIÃO e a UNIRIO, diante


dos pedidos contidos na presente inicial, suscitarem a surrada tese da ofensa à
separação dos poderes e que o Judiciário estaria a estabelecer prioridades
orçamentárias. Sobre esse aspecto, não se pretende administrar, mas apenas
corrigir vícios administrativos passíveis de correção pela via judicial. De fato,
não há ingerência, pois a tutela pretendida objetiva coibir e consertar uma distorção
sistemática que a Administração Pública não corrigiu em mais de uma década, tendo
tido inclusive decisões do TCU neste sentido, após solicitações de prorrogações de
prazo pela própria UNIÃO para solucionar a questão.

O que não se pode mais tolerar, desse modo, é a permanência


de pessoas contratadas em situação precária no HUGG, que lá prestam serviços sem
qualquer respaldo contratual, sem o reconhecimento dos seus direitos trabalhistas na
sua plenitude e ainda em afronta ao art. 37, inciso II, da Constituição Federal. O que
ainda torna mais grave a situação é que a medida que os funcionários “bolsistas” são
dispensados ou solicitam demissão, não há reposição de recursos humanos, o que
ocasiona a redução e o fechamento de serviços que prestam assistência à saúde da
população, em regra, menos favorecida economicamente, já que no âmbito do SUS,
bem como prejudica o ensino lá ministrado.

De fato, foi isto o que ocorreu em junho de 2013, quando houve a


fusão de enfermarias do HUGG, o que resultou na redução do número total de
leitos, além de redução na realização de exames complementares, em grave prejuízo
à assistência à saúde, ao ensino e à pesquisa (fls. 226/228, 229/234, 250/253 e
263/266 do DOC. 01 e fls. 86/87 do DOC. 02).

Risível também qualquer alegação com base na tese da reserva


do possível. No caso específico, é plenamente possível adotar as providências
administrativas visando à efetiva substituição. Recursos obviamente existem, tanto
que todo mês são canalizados recursos para o pagamento dos terceirizados.

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Ademais, nunca foi apresentada qualquer prova de que os gastos com servidores
sejam superiores aos despendidos com os funcionários terceirizados.

Se cabe ao Poder Executivo e às suas entidades vinculadas a


precípua tarefa de governar e administrar os recursos humanos para gerir seus
órgãos, inclusive, hospitais que atendem no âmbito do SUS, é certo também que há
limites para essa discricionariedade, diante ainda da patente irregularidade
perpetrada em afronta às regras constitucionais, administrativas e do direito do
trabalho.

Nas circunstâncias do caso concreto, o exercício do poder


discricionário da administração tem funcionado como um cheque em branco,
autorizando a UNIÃO a decidir livremente quando, como e se deve agir para
restaurar a legalidade, ou melhor, se adequar à própria Constituição Federal.

Não há direitos ou poderes absolutos. Toda atividade


administrativa, inclusive sua tarefa de gerenciar recursos humanos, deve manter-se
em harmonia com demais preceitos constitucionais, dentre eles o de respeitar os
direitos trabalhistas, o de observar e restaurar a regra de ingresso no serviço público
através de concurso e o dever de prestar serviços de saúde e de ensino com
qualidade e eficiência.

Não faltou oportunidade para a UNIÃO e a UNIRIO, dentro das


suas esferas de competência, ultimarem a substituição dos funcionários “bolsistas”
no HUGG, de vez que a situação é conhecida há mais de uma década.

A propósito, observe-se que as decisões do TCU, proferidas


notadamente nos Acórdãos nº 1.520/2006 e 2.681/2011 (DOCs. 03 e 04), ambos do
Plenário, que acolheram proposta da UNIÃO e concederam prazo, respectivamente
até 31/12/2010 e, após, até 31/12/2012, para que a substituição dos terceirizados de
forma irregular na Administração Federal direta, autárquica e fundacional,
ofereceram tempo e condições suficientes para que tal substituição pudesse ser
implementada paulatinamente. Possibilitou-se, assim, tempo e condições para que a

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UNIÃO e a UNIRIO, em conjunto e de acordo com suas competências, executassem


um planejamento estratégico, com previsão de impactos financeiros, ajustes
orçamentários, criação de cargos e organização de concursos, tudo de modo a
viabilizar uma gradual transição do modelo de contratação irregular então
vigente e sem riscos de ruptura ou descontinuidade para o serviço de saúde e
para o ensino.

Portanto, não se pode cogitar em surpresa ou falta de


previsão para as substituições, tendo em vista que as irregularidades há muito foram
detectadas e que foram estabelecidos extensos prazos e condições para assegurar
uma solução gradativa em tempo extremamente razoável.

No caso dos hospitais universitários e demais unidades de saúde


das universidades federais, vinculadas ao Ministério da Educação, a única solução
apresentada para a questão dos recursos humanos, ressalte-se, apenas no ano de
2012, foi a adesão/contratação da EBSERH. Ocorre que não só a
constitucionalidade da criação da EBSERH é objeto de questionamento (DOC. 06),
como também, o próprio TCU, no Acórdão nº 1610/2013 – Plenário (DOC. 07), não
considera a referida empresa pública como solução a curto prazo (DOC. 07), sendo
que a adesão da UNIRIO à EBSERH não foi deliberada pelo seu Conselho
Universitário e talvez nem o seja, considerando a autonomia universitária, prevista
no art. 207, caput, da Constituição Federal, bem como a articulação dos três
segmentos da universidade (docentes, discentes e servidores técnico-
administrativos) que apresentaram ao Reitor da UNIRIO documento contendo
vários encaminhamentos e propostas “para solucionar os problemas vividos pelo
HUGG sem que se tenha que aderir à EBSERH”, como por exemplo: a elaboração
de um plano emergencial para o HUGG com a participação dos três segmentos e a
solicitação para realização de reunião dos três segmentos com o Ministério da
Educação (fls. 708/713 e 754/760 do DOC. 01).

Acrescente-se ainda que a UNIÃO, através do Ministério da


Educação, embora afirme ser facultativa a contratação da EBSERH, aponta que “as
universidades que não aderirem à empresa não terão condições de cumprir o

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acórdão do TCU na substituição do pessoal terceirizado, considerado irregular”


(fls. 114 do DOC. 01), o que foi confirmado, no caso específico do HUGG da
UNIRIO, quando o Presidente da EBSERH, após questionamentos do Reitor da
UNIRIO, coloca não haver outra solução para os recursos humanos do referido
hospital universitário, caso não haja a contratação da EBSERH (fls. 782/783 e 784
do DOC. 01).

Em outras palavras, a UNIÃO, mesmo tendo passado todos


esses anos, ainda se nega a solucionar a situação precária dos recursos humanos
em exercício no HUGG e a reativação dos leitos e serviços desativados por falta
de pessoal, ao longo de mais de uma década, apesar da urgência e da gravidade
da situação. Nesse caso, é evidente que a solução para a substituição da força de
trabalho, em situação precária, continuará a ser indefinidamente prorrogada.

Por certo, a discricionariedade encontra limites na


razoabilidade. Com efeito, não é razoável não haver nem mesmo um processo
de substituição dos funcionários “bolsistas” com prazo de duração
determinado, ficando a população, última prejudicada, à mercê da leniência do ente
federativo. Com todas as oportunidades e condições para agir e restabelecer a ordem
constitucional, em prazo mais que razoável para o planejamento, sem que tivessem,
contudo, adotado providências efetivas e eficientes para solucionar a questão, a
UNIÃO e a UNIRIO solaparam a boa-fé e a segurança jurídica, ambas
derivadas do solene compromisso de cumprir os prazos que a própria UNIÃO
propôs ao TCU. Nessa situação, o descumprimento anos a fio da obrigação
caracteriza inequívoca mora administrativa.

Uma vez constatada a omissão, em situação na qual o Poder


Público está obrigado a agir, pode o Judiciário suprimi-la através de decisões que
imponham ao Estado uma obrigação de fazer.

Ora, onde há dever legal, não pode haver opção discricionária


pela omissão. O administrador que descumpre a lei não age no exercício da legítima
liberdade discricionária, mas sim no campo da ilegalidade e da arbitrariedade: não

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existe discricionariedade contra legem. Se há determinação legal, não existe opção


legítima pelo non facere.

Portanto, não se cogita, na hipótese, de violação ao princípio


constitucional da separação de poderes. A atuação do Judiciário apenas
preencherá uma lacuna não preenchida pela Administração Pública Federal,
restabelecendo a submissão do administrador à lei, o que é um imperativo em
um regime constitucional de “freios e contrapesos”. Se o administrador pretende
submeter o cumprimento da lei ao seu juízo discricionário de conveniência e
oportunidade, é o Poder Executivo e as entidades a ele vinculadas que estão a violar
a separação dos poderes, as normas do direito do trabalho e do concurso público e
ainda os direitos à saúde e à educação, consagrados na Constituição Federal.
Diante desta anomalia, o Judiciário pode ser acionado para suprir a omissão estatal,
não para impor novas diretrizes políticas, mas para restabelecer o regime de
legalidade afrontado pela ilegítima omissão estatal3.

Nesse sentido já decidiu o Supremo Tribunal Federal,


consoante trecho do r. voto condutor do acórdão proferido pela 2ª Turma do
mencionado tribunal, no Agravo Regimental no Recurso Extraordinário nº
393175/RS, tendo como Ministro Relator Celso de Mello, abaixo transcrito:

"(...) entre proteger a inviolabilidade do direito à vida e à saúde, que se


qualifica como direito subjetivo inalienável, assegurado a todos pela própria
Constituição da República (art. 5º, caput e art. 196), ou fazer prevalecer ,
contra essa prerrogativa fundamental, um interesse financeiro e secundário
do Estado, entendo - uma vez configurado esse dilema - que razões de ordem
ético-jurídica impõem ao julgador uma só e possível opção: aquela que
privilegia o respeito indeclinável à vida e á saúde humanas.
(...)
O sentido de fundamentalidade do direito à saúde - que representa, no
contexto da evolução histórica dos direitos básicos da pessoa humana, uma
das expressões mais relevantes das liberdades reais ou concretas - impõe ao
Poder Público um dever de prestação positiva que somente se terá por
cumprido, pelas instâncias governamentais, quando estas adotarem
providências destinadas a promover, em plenitude, a satisfação efetiva da
determinação ordenada pelo texto constitucional.

3
Neste sentido já decidiu o STJ (2ª Turma, REsp 429.570-GO, Min. Rel. Eliana Calmon, publicada no DJ 22/03/2004,
p. 277 e no RSTJ vol. 187, p. 219).

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Vê-se, desse modo, que, mais do que a simples positivação dos direitos sociais
-que traduz estágio necessário ao processo de sua afirmação constitucional e
que atua como pressuposto indispensável à sua eficácia jurídica (JOSÉ
AFONSO DA SILVA, "PODER CONSTITUINTE E PODER POPULAR, p.
199, itens ns. 20/21, 2000, Malheiros) -, recai, sobre o Estado, inafastável
vínculo institucional consistente em conferir real efetividade a tais
prerrogativas básicas (...).
Não basta, portanto, que o Estado meramente proclame o reconhecimento
formal e um direito. Torna-se essencial que, para além da simples
declaração constitucional desse direito, seja ele integralmente respeitado e
plenamente garantido, especialmente naqueles casos em que o direito - como
o direito à saúde - se qualifica como prerrogativa jurídica de que decorre o
poder do cidadão de exigir, do Estado, a implementação de prestações
positivas impostas pelo próprio ordenamento constitucional.
Cumpre assinalar, finalmente, que a essencialidade do direito à saúde fez com
que o legislador constituinte qualificasse, como prestações positivas de
relevância pública, as ações e serviços de saúde (CF, art. 197), em ordem a
legitimar a atuação do Ministério Público e do Poder Judiciário naquelas
hipóteses em que os órgãos estatais, anomalamente, deixassem de respeitar o
mandamento constitucional, frustrando-lhe, arbitrariamente, a eficácia
jurídico-social, seja por intolerável omissão, seja por qualquer outra
inaceitável modalidade de comportamento governamental desviante (...)"
(sem grifo no original) (STF, 2ª Turma, AgR nº 393175/RS, Min. Rel. Celso de
Mello, publicado no DJ em 02/02/2007, p. 140)

Assim também o Superior Tribunal de Justiça:

"ADMINISTRATIVO E PROCESSO CIVIL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. OBRAS


DE RECUPERAÇÃO EM PROL DO MEIO AMBIENTE. ATO
ADMINISTRATIVO DISCRICIONÁRIO.
Na atualidade, a Administração Pública está submetida ao império da lei,
inclusive quanto à conveniência e oportunidade do ato administrativo.
omissis.
O Poder Judiciário não mais se limita a examinar os aspectos extrínsecos da
Administração, pois pode analisar, ainda, as razões de conveniência e
oportunidade, uma vez que essas razões devem observar critérios de
moralidade e razoabilidade.
Outorga de tutela específica para que a Administração destine do orçamento
verba própria para cumpri-la.(...)" (sem grifo no original) (STJ, 2ª Turma,
REsp 429.570-GO, Min. Rel. Eliana Calmon, publicada no DJ 22/03/2004, p.
277 e no RSTJ vol. 187, p. 219)

No caso dos autos, pleiteia-se a tutela jurisdicional adequada


para suprir a inércia da UNIÃO e da UNIRIO e determinar: em primeiro, a
nomeação e posse de todos os candidatos aprovados nos concursos públicos,

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referentes ao Edital nº 110/2010 (fls. 819/870 do DOC. 01), ao Edital nº 114/2010


(fls. 871/883 do DOC. 01), ao Edital nº 42/2012 (fls. 884/951 do DOC. 01) e ao
Edital nº 002/2014 (fls. 952/966 do DOC. 01) da UNIRIO, para provimento dos
cargos no HUGG, que ainda não foram convocados; em segundo, a contratação
temporária, nos termos da Lei nº 8.745/2003, para a substituição dos funcionários
“bolsistas” do HUGG, que atualmente prestam serviços em situação precária e sem
respaldo contratual e para o funcionamento do hospital na sua capacidade total e
com a observância das regulamentações vigentes, devendo a UNIÃO, para tanto,
transferir à UNIRIO e ao HUGG a verba orçamentária necessária para pagar toda
despesa relativa ao pagamento de salários, benefícios e outros encargos de pessoal
decorrente de tal contratação temporária; em terceiro, a apresentação pela UNIÃO
da relação atualizada - após o Decreto nº 7.232/2010 (DOC. 15) - do quantitativo
dos cargos dos níveis de classificação “C”, “D” e “E”, que integram o Plano de
Carreira dos Cargos Técnico-Administrativos em Educação, de que trata a Lei
nº 11.091/2005, que estejam no Ministério da Educação e nas universidades
federais, inclusive, na UNIRIO, com indicação daqueles destinados ao HUGG,
bem como apresentação dos cargos que estão vagos nos citados órgãos; em
quarto, a apresentação do redimensionamento atual e adequado dos recursos
humanos da UNIRIO, no que toca ao seu hospital universitário - com a
organização e o planejamento das atividades a serem desenvolvidas para evitar mais
retrocessos no ensino e nos serviços de saúde realizado por tal unidade da saúde e
para que funcione na sua capacidade total; e, em quinto, a realização de
concursos públicos, tantos quanto forem necessários, para o provimento de
cargos efetivos na UNIRIO por servidores públicos, submetidos ao regime
jurídico único, com a substituição de todos funcionários “bolsistas” e/ou
temporários que exercem atividades-fim no HUGG e com o seu funcionamento
na sua capacidade total, que inclui a reativação de todos os leitos e reabertura de
todos os serviços paralisados por falta de pessoal ao longo da última década, tudo
isto para restabelecer a legalidade no que diz respeito à política de recursos
humanos do HUGG e da UNIRIO e evitar mais retrocessos, paralisações e
prejuízos na qualidade dos serviços de saúde prestados por tão essenciais
serviços de saúde do SUS e do ensino realizado. Para tanto, é indispensável que a
UNIÃO e a UNIRIO, no âmbito de suas respectivas competências, providenciem a

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PROCURADORIA DA REPÚBLICA NO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

reposição do contingente de servidores, a fim de garantir serviços eficientes e


assegurar o acesso universal e tratamento integral à população, já tão carente
de serviços públicos de saúde de qualidade no Rio de Janeiro, bem como
garantir a qualidade do ensino, pesquisa e extensão desenvolvidos no HUGG.

IV – DA ANTECIPAÇÃO DOS EFEITOS DA TUTELA JURISDICIONAL


PLEITEADA

O Código de Processo Civil, no seu art. 273 e inciso I, autoriza


o juiz a antecipar total ou parcialmente os efeitos da tutela jurisdicional pleiteada,
desde que presentes a verossimilhança das alegações e o fundado receio de dano.
Por se tratar de obrigação de fazer, as medidas protetivas específicas encontram
abrigo no art. 461 do CPC, abaixo transcrito:

“Art. 461. Na ação que tenha por objeto o cumprimento de obrigação de fazer
ou não fazer, o juiz concederá a tutela específica da obrigação ou, se
procedente o pedido, determinará providências que assegurem o resultado
prático equivalente ao do adimplemento.
(…)
§ 5o Para a efetivação da tutela específica ou a obtenção do resultado prático
equivalente, poderá o juiz, de ofício ou a requerimento, determinar as medidas
necessárias, tais como a imposição de multa por tempo de atraso, busca e
apreensão, remoção de pessoas e coisas, desfazimento de obras e impedimento
de atividade nociva, se necessário com requisição de força policial.”

Acrescente-se ainda que a concessão da tutela específica das


obrigações de fazer é a regra em nosso ordenamento jurídico, contudo, existem
casos em que há necessidade de o juiz ordenar o cumprimento de outras medidas
que assegurem o resultado equivalente ao buscado na demanda, abrindo-se exceção
ao princípio da congruência entre a sentença e o pedido, consoante § 5º acima
transcrito.

Conforme demonstrado à exaustão, em que pese a existência


concursos públicos em vigência com candidatos aprovados e ainda não nomeados e
a existência de cargos vagos na UNIRIO e também no Ministério da Educação, que
poderiam ser remanejados para a referida universidade, funções que deveriam ser

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desempenhadas por servidores concursados no HUGG são exercidas por


funcionários “bolsistas” de forma precária e sem qualquer respaldo contratual e,
portanto, sem suporte legal e com ofensa a normas constitucionais, administrativas e
trabalhistas, tudo a comprovar verossimilhança do direito narrado na exordial.

É certo também que a UNIÃO e a UNIRIO, não obstante a falta


de uma política adequada de recursos humanos para o HUGG por mais de uma
década, não apresentam solução legal para a precariedade da situação em que se
encontram tal estabelecimento de saúde e para a regularização dos funcionários
“bolsistas”, razão pela qual patente o perigo de se prolongar tal situação irregular
tendo por consequência fechamento de novos serviços e redução de leitos ativos no
HUGG, como ocorreu em junho do ano de 2013, com prejuízo, ao final, para os
estudantes da área da saúde da UNIRIO e para toda a população que apenas conta
com o SUS para garantir seu direito à saúde.

Exatamente nesse sentido, é preciso ponderar e relativizar a


discricionariedade administrativa de modo a afastá-la, tendo em vista que o
contexto probatório não permite considerar verossímil que iniciativas sejam
tomadas voluntariamente pela UNIÃO e pela UNIRIO para resolver a situação
em futuro próximo, diante do contexto atual. Por tais razões, somente resta recorrer
ao Poder Judiciário.

É indispensável (i) a nomeação e posse de todos os


candidatos aprovados – que ainda não tenham sido convocados - nos concursos
públicos, referentes ao Edital nº 110/2010 (fls. 819/870 do DOC. 01), ao Edital nº
114/2010 (fls. 871/883 do DOC. 01), ao Edital nº 42/2012 (fls. 884/951 do DOC.
01) e ao Edital nº 002/2014 (fls. 952/966 do DOC. 01) da UNIRIO, para
provimento dos cargos no HUGG, cujas funções estão sendo exercidas por
funcionários “bolsistas” do referido hospital; (ii) a contratação temporária, nos
termos da Lei nº 8.745/2003, para a substituição dos funcionários “bolsistas” do
HUGG, que atualmente prestam serviços em situação precária e sem respaldo
contratual e para o funcionamento do hospital na sua capacidade total e com a
observância das regulamentações vigentes, enquanto se aguarda a conclusão e

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realização de concursos públicos, devendo a UNIÃO transferir à UNIRIO e ao


HUGG a verba orçamentária necessária para pagar toda despesa relativa ao
pagamento de salários, benefícios e outros encargos de pessoal decorrente de
tal contratação temporária; (iii) a apresentação pela UNIÃO da relação
atualizada - após o Decreto nº 7.232/2010 (DOC. 15) - do quantitativo dos cargos
– discriminando os que estão vagos - dos níveis de classificação “C”, “D” e “E”, que
integram o Plano de Carreira dos Cargos Técnico-Administrativos em
Educação, de que trata a Lei nº 11.091/2005, que estejam no Ministério da
Educação e nas universidades federais, inclusive, na UNIRIO, com indicação
daqueles destinados ao HUGG; bem como (iv) a apresentação do
redimensionamento atual e adequado dos recursos humanos da UNIRIO, no
que toca ao seu hospital universitário - com a organização e o planejamento das
atividades a serem desenvolvidas para evitar mais retrocessos no ensino e nos
serviços de saúde realizado por tal unidade da saúde e para que funcione na sua
capacidade total, inclusive, com a reabertura de todos os serviços paralisados
por falta de pessoal ao longo da última década.

Assim sendo, requer o Ministério Público Federal a


antecipação dos efeitos da tutela jurisdicional pleiteada, com a cominação de pena
de multa diária para o caso de descumprimento, conforme art. 11 da Lei nº
7.347/85 e art. 461, § 4º, do CPC, para:

a) determinar à UNIRIO e à UNIÃO, dentro das suas respectivas competências, no


prazo máximo de 60 dias, que promovam a nomeação e posse imediata de todos os
candidatos aprovados nos concursos públicos, referentes ao Edital nº 110/2010 (fls.
819/870 do DOC. 01), ao Edital nº 114/2010 (fls. 871/883 do DOC. 01), ao Edital nº
42/2012 (fls. 884/951 do DOC. 01) e ao Edital nº 002/2014 (fls. 952/966 do DOC.
01) da UNIRIO, que ainda não foram convocados, para provimento dos cargos no
HUGG em substituição dos “bolsistas” que exercem as mesmas funções no referido
hospital sem qualquer respaldo contratual;

b) determinar à UNIRIO e à UNIÃO, dentro das suas respectivas competências, no


prazo máximo de 60 dias, que adotem todos os atos necessários para que, satisfeitos

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os requisitos da Lei nº 8.745/2003, seja realizada a urgente e imediata contratação


temporária de profissionais, para a substituição dos funcionários “bolsistas” do
HUGG, que atualmente exercem funções da atividade-fim, bem como para o
funcionamento do hospital na sua capacidade total e com a observância das
regulamentações vigentes, devendo a UNIÃO transferir à UNIRIO e ao HUGG a
verba orçamentária necessária para pagar toda despesa relativa ao pagamento de
salários, benefícios e outros encargos de pessoal decorrente de tal contratação
temporária;

c) determinar à UNIRIO e à UNIÃO que, no prazo de 30 dias, apresentem um


cronograma para o cumprimento das letras “a” e “b” acima;

d) determinar à UNIÃO e à UNIRIO, considerando o disposto no art. 4º e parágrafo


único da Lei nº 11.091/2005, que, no prazo de 30 dias, apresentem (d.1) planilha
com todos os cargos ocupados e também vagos na UNIRIO e no Ministério da
Educação, de forma discriminada por órgão ou entidade, níveis de classificação e
funções, bem como (d.2) planinha com todos os funcionários “bolsistas” do HUGG
com as respectivas funções;

e) determinar à UNIRIO que apresente, no prazo de 60 dias, o redimensionamento


atual e adequado dos recursos humanos da UNIRIO, no que toca ao seu hospital
universitário - com a organização e o planejamento das atividades a serem
desenvolvidas para evitar mais retrocessos no ensino e nos serviços de saúde
realizado por tal unidade da saúde e para que funcione na sua capacidade total,
inclusive, com a reabertura de todos os serviços das mesmas paralisados por falta de
pessoal ao longo das duas últimas décadas.

V – DO PEDIDO DEFINITIVO

Diante do exposto, o Ministério Público Federal requer:

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1) a intimação da UNIÃO e da UNIRIO para, no prazo de 72


horas, se manifestarem sobre a presente ação, nos termos do art. 2º da Lei nº
8.437/92;

2) a citação da UNIÃO e da UNIRIO para oferecerem


contestação;

3) a procedência dos pedidos indicados nas letras “a” a “e” do


item IV acima, confirmando a antecipação dos efeitos da tutela jurisdicional ora
pleiteada;

4) a condenação da UNIÃO e da UNIRIO para que - com a


apresentação do redimensionamento da força de trabalho do HUGG de que trata a
letra “e” do item IV acima - concluam, autorizem e promovam, dentro das suas
competências, concursos públicos para o provimento de cargos efetivos na UNIRIO
por servidores públicos, submetidos ao regime jurídico único (Lei nº 8.112/90), para
a substituição de todos funcionários “bolsistas” e/ou temporários que exercem
atividades finalísticas no HUGG e para a reativação dos leitos fechados e reabertura
de todos os serviços paralisados por falta de pessoal ao longo dos últimos anos.

5) a cominação de pena de multa diária de até R$ 50.000,00


(cinquenta mil reais), ou de outro valor que vier a ser arbitrado por esse Juízo (art.
11, da Lei n. 7.347/85 e 461, parágrafo 4º, do Código de Processo Civil) para o caso
de descumprimento de quaisquer das decisões e determinações, referentes à
antecipação da tutela jurisdicional e à sentença de procedência do pedido;

6) a destinação de todo o valor arrecadado, em virtude de


cominação das multas ora postuladas, ao Fundo Federal de Defesa dos Direitos
Difusos, referido no art. 13, da Lei nº 7.347/85, e a sujeição desses valores à
atualização monetária e juros.

7) a condenação no pagamento das verbas de sucumbência em


favor do Fundo Federal de Defesa dos Direitos Difusos (art. 13 da Lei nº 7.347/85).

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Protesta o Ministério Público Federal pela produção de todos os


meios de prova em direito admitidos.

Dá-se à causa o valor R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais).

Rio de Janeiro, 30 de junho de 2014.

ROBERTA TRAJANO S. PEIXOTO MARINA FILGUEIRA


Procuradora da República Procuradora da República

RELAÇÃO DE DOCUMENTOS:

DOC. 01 – principais peças do Inquérito Civil nº 1.30.001.004556/2012-12;


DOC. 02 – principais peças do Inquérito Civil nº 1.30.001.005954/2012-56;
DOC. 03 – Acórdão nº 1.520/2006-TCU/Plenário;
DOC. 04 – Acórdão nº 2.681/2011-TCU/Plenário;
DOC. 05 – Ato do Presidente da Mesa do Congresso Nacional nº 23 de 2011;
DOC. 06 – Petição Inicial e parecer da Ação Direta de Inconstitucionalidade – ADI
nº 4895, proposta pelo Procurador-Geral da República;
DOC. 07 – Acórdão nº 1.610/2013-TCU/Plenário;
DOC. 08 – Cópia da Notícia de Fato nº 004579.2012.01.000/0-011, protocolada
inicialmente na Procuradoria Regional do Trabalho da 1ª Região do Ministério
Público do Trabalho e, após, encaminhada ao Ministério Público Federal em
declínio de atribuição;
DOC. 09 – Decreto nº 7.082/2010;
DOC. 10 – Decreto nº 2.271/97;

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DOC. 11 – Cópia da sentença proferida nos autos da Ação Civil Pública nº


2008.72.00.012168-4/SC, em tramitação na Seção Judiciária de Santa Catarina da
Justiça Federal da 4ª Região;
DOC. 12 – Portaria Interministerial MP/MEC nº 282/2009, de 03/09/2009;
DOC. 13 – Cópia de decisão proferida nos autos das apelações interpostas pelo
Ministério Público Federal, pela União e pela UFF, Processo nº 0002668-
54.2009.4.02.5102, em tramitação na 07ª Turma Especializada do TRF da 2ª
Região;
DOC. 14 – Lei nº 11.091/2005;
DOC. 15 – Decreto nº 7.232/2010;
DOC. 16 – principais peças do Procedimento Preparatório nº 1.30.020.000403/
2013-59.

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