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Tribunal de Justiça do Estado de Mato Grosso

PJe - Processo Judicial Eletrônico

19/06/2020

Número: 1001815-66.2020.8.11.0055
Classe: PROCEDIMENTO COMUM CÍVEL
Órgão julgador: 4ª VARA CÍVEL DE TANGARÁ DA SERRA
Última distribuição : 09/06/2020
Valor da causa: R$ 1.000.000,00
Assuntos: Repasse de Verbas Públicas, COVID-19
Segredo de justiça? NÃO
Justiça gratuita? SIM
Pedido de liminar ou antecipação de tutela? SIM
Partes Procurador/Terceiro vinculado
MINISTERIO PUBLICO DO ESTADO DE MATO GROSSO
(AUTOR(A))
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MATO GROSSO
(AUTOR(A))
MUNICÍPIO DE TANGARÁ DA SERRA (REU)
Documentos
Id. Data da Documento Tipo
Assinatura
33658 19/06/2020 09:58 Decisão Decisão
585
ESTADO DE MATO GROSSO
PODER JUDICIÁRIO
4ª VARA CÍVEL DE TANGARÁ DA SERRA

DECISÃO

Processo: 1001815-66.2020.8.11.0055.

AUTOR(A): MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MATO GROSSO

REU: MUNICÍPIO DE TANGARÁ DA SERRA

Vistos.

Trata-se de Ação Civil Pública de Obrigação de Fazer c/c Pedido


Liminar intentada pelo Ministério Público Estadual em face do Município de Tangará da Serra
, devidamente qualificado nos autos.
Pretende a presente ação obrigar o Município requerido a colocar em pleno
funcionamento UTI´S médicas para o setor do COVID-19 no âmbito municipal, após denúncias de
que pacientes graves estariam sendo encaminhado a outros municípios do Estado, supostamente
porque as UTI´S deste município não estariam prontas, mesmo após aporte de recursos oriundos
da União para tanto.
Antes de analisar o pedido liminar pleiteado pelo Ministério Público foi
oportunizada a manifestação do Município de Tangará da Serra, o qual alegou preliminar de
incompetência deste Juízo, uma vez que seria necessária a Inclusão do Estado de Mato Grosso
no polo passivo da demanda; bem como trouxe documentos que comprovariam que os leitos de
UTI estavam em pleno funcionamento.
Diante da documentação juntada pelo Município, mormente o parecer
técnico colacionado ao feito sob Id. 33408906, elaborado pela Secretaria de Estado de Saúde em
12 de junho de 2020; este Juízo indeferiu a liminar vindicada, uma vez que referido relatório
concluía que os leitos de UTI´S estavam disponíveis e prontos para atender eventual demanda
dos munícipes.
Após o Ministério Público manifestou nos autos refutando as alegações de
incompetência do Juízo, bem como pleiteando a realização de vistoria no Hospital Municipal (Id.
33549611).
Posteriormente o ente ministerial novamente manifestou nos autos (Id.
33622918). Juntou cópia de ofício emitido pela Secretaria Estadual de Saúde, encaminhado ao
Ministério da Saúde solicitando a revogação da habilitação dos leitos de UTI II Covid-19 de alguns
hospitais municipais deste Estado, dentre eles o Hospital deste Município. Referido pedido deu-se
após vistoria realizada por representantes do Estado que teriam confirmado que os leitos estavam

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inoperantes.
Diante disso o Ministério da Saúde, na data de ontem, desabilitou leitos de
UTI´s para covid-19 de alguns hospitais, dentre eles o do hospital local, determinando a
devolução dos recursos financeiros à União; o que demonstra indene de dúvidas as alegações
lançadas na Inicial.

É o relato do essencial. Fundamento e decido.

Com relação à preliminar de incompetência deste Juízo aventada pelo


Município réu, desde já a indefiro.
Alega o Município que, tendo em vista a natureza e complexidade dos
serviços de saúde que se requer seja mantido (UTI´S de alta complexidade), seria necessária a
inclusão do Estado de Mato Grosso no polo passivo da demanda.
Não obstante os serviços serem de fato de alta complexidade, no presente
caso discute-se a instalação, manutenção e gerência de UTI´S pelo Município e não pelo Estado,
uma vez que as verbas oriundas do Governo Federal foram disponibilizadas diretamente ao
município, que ficou responsável individualmente pelo serviço.
O município afirma que deve ser incluído o Estado de Mato Grosso, por
tratar de serviço de alta complexidade, devendo este suportar os gastos. Todavia, aqui os
recursos foram disponibilizados diretamente pelo Governo Federal que atribuiu ao Município a
instalação dos leitos de UTI.
Ainda, segundo o Manual de Planejamento do SUS, juntado ao feito pelo
requerido sob o Id. 33408895, pág. 43, assim prevê:
“Finalmente, os Municípios estão encarregados da prestação direta de
ações e serviços de saúde, em especial dos cuidados primários e, quando possível, de média e
alta complexidade, sendo a esfera de contato mais direto com a população.
Entre suas principais atribuições estão as de executar serviços de vigilância
epidemiológica e sanitária; de alimentação e nutrição; de saneamento básico e de saúde do
trabalhador; implementar a política de insumos e equipamentos em saúde; controlar e fiscalizar
os procedimentos dos serviços privados de saúde; planejar, organizar, controlar e avaliar as
ações e os serviços de saúde; entre outros.”
Consoante o entendimento do STF, "o tratamento médico adequado aos
necessitados se insere no rol dos deveres do Estado, porquanto responsabilidade solidária dos
entes federados", razão pela qual o polo passivo da demanda pode ser integrado por qualquer
um deles, conjunta ou isoladamente

Superado essa questão temos que ambos os litigantes pleitearam que fosse
realizada uma vistoria junto ao Hospital Municipal, a fim de que seja realizado auto de
constatação com o fito de averiguar se os leitos de UTI se encontram, de fato, em funcionamento,
conforme artigo 464 do CPC.
1) Sendo assim, determino que seja realizada uma vistoria junto ao
Hospital Municipal, a fim de que seja constatado se os leitos de UTI estão de fato aptos a receber

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os casos graves de covid-19.
O auto de constatação deverá ser acompanhado pelo oficial de justiça, nas
dependências do Hospital do Município, com o fito de averiguar se os leitos de UTI encontram-se,
de fato, em funcionamento e aptos a receber os casos graves de COVID-19 e consignando,
inclusive, a equipe de saúde intensivista vinculada aos referidos leitos.

2) Por se tratar de matéria técnica, o mais correto é que seja feita por
quem detém o conhecimento na área de saúde, motivo pelo qual nomeio como perito o Dr. José
Marcos Mazzuca Salvatori, CRM 2056 a fim de que realize a sobredita vistoria no prazo de 24
horas.
Como as partes são beneficiarias da gratuidade da Justiça, arbitro
honorários devidos pelo Estado no importo equivalente a R$ 740,00 com fulcro no artigo 2.º,
incisos I e II de forma especial mas também incisos III e IV, diante, bem como parágrafos § 3.º e
4.º da Resolução n.º 232 de 13/07/2016 do Conselho Nacional de Justiça. Após o cumprimento
do mister, expeça-se certidão selada para o profissional em questão.
3) Diante da urgência do tema em análise, fica definido o horário
da diligencia para as 09:00 horas do dia 20/06/2020, devendo o laudo de vistoria ser
entregue no prazo de 24 horas.
4) O oficial deverá cumprir seu mister conforme artigo 154 do CPC e
artigo 655 e seguintes da CNGC, inclusive de forma a efetuar as devidas comunicações e
solicitações para garantir o trabalho do perito.
5) O Sr. Perito e o Sr (a) Oficial (a) de Justiça, ainda, deverão
certificar, na oportunidade que o diretor clinico do hospital e o representante da FAMVAG
S/A [1]apresente a relação nominal, bem como a escala dos profissionais que irão
trabalhar e a respectiva titulação, bem como a demonstração da existencia de todos os
insumos necessários (Ex: hemodiálise, equipamentos para avaliação cardiológica e
fármacos).

6) Intime-se as partes quanto a referida diligencia, podendo fazer


indicar um assistente técnico para acompanhar, até as 17:00 horas do dia 19 de junho de 2020.
Outrossim, o responsável técnico pela unidade hospitalar em questão
deverá se fazer presente, fornecendo todas as informações que o perito entenda necessárias bem
como garantido a estrutura adequada ao cumprimento de tal mister. A intimação sera feita pelo
sistema e das partes, por todos os meios disponíveis (email, telefone, aplicativo de mensagens).
Deverão ser observados todos os cuidados necessários devendo o
Município fornecer os equipamentos necessários inclusive para o acesso adequado ao
local, diante de eventual risco de contaminação.
Intime-se. Cumpra-se.

[1]https://enfoquebusiness.com.br/municipio-aguarda-nova-portaria-confirmando-habilitacao-de-
13-leitos-de-utis-e-49-clinicos-famvag-assume-oficialmente-na-segunda-feira/
https://tangaraemfoco.com.br/2020/06/16/r-800-mil-por-mes-empresa-de-varzea-grande-assume-

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leitos-de-uti-da-covid-19-de-tangara-a-partir-de-sexta.html

, 19 de junho de 2020.

Juiz(a) de Direito

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