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29ª Promotoria de Justiça Cível da Comarca de Cuiabá

Defesa Ambiental e da Ordem Urbanística

EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ DE DIREITO DA VARA ESPECIALIZADA DO MEIO


AMBIENTE DA COMARCA DE CUIABÁ

O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MATO GROSSO, pelo


Promotor de Justiça infra-assinado, no uso de suas funções institucionais, com arrimo
nos artigos 127 e 129, III, da Constituição Federal, no art. 25, inciso IV, alínea “a”, da Lei
8625/93 (LONMP), no art. 60, VI, “b”, da Lei Complementar Estadual nº 416/2010 (Lei
Orgânica do MP/MT) e nos arts. 1º, inciso I e 5º da Lei nº 7347/85, propõe AÇÃO CIVIL
PÚBLICA contra o MUNICÍPIO DE CUIABÁ, pessoa jurídica de direito público interno,
inscrito no CNPJ sob nº 03.533.064/001-46, com sede na Praça Alencastro, pelos fatos
e fundamentos jurídicos que a seguir passa a expor:

I- DOS FATOS

O inquérito civil público em anexo (SIMP 000785-097/2017) foi


instaurado para apurar as informações remetidas ao MPMT pela Auditoria do SUS
acerca da disposição inadequada dos resíduos de serviços de saúde do Hospital e
Pronto Socorro Municipal de Cuiabá (HPSMC).

A aludida auditoria foi realizada no ano de 2016 e nela foi


constatada a inadequação do abrigo utilizado na época para o acondicionamento
temporário dos resíduos de saúde, conforme se verifica no Id. 38519504.

Instigada pelo MPMT a verificar a situação, a Coordenadoria de


Vigilância Sanitária Municipal (COVISA), por intermédio do Ofício n.
040/2017/ASSEJUR/COVISA, informou a realização de inspeção sanitária no local e
esclareceu que o HPSMC tinha promovido a reforma do abrigo. Contudo, ressaltou
no expediente que parte dos resíduos comuns do hospital encontravam-se dispostos
indevidamente, existindo vazamento de líquidos produzidos pelos resíduos que
escoavam pela calçada.
Telefone: (65)3611-0600
Sede das Promotorias de Justiça da Capital.
Av. Desembargador Milton Figueiredo Ferreira Mendes, s/nº, Setor D, Centro Político e Administrativo.
Cuiabá/MT.
CEP: 78049-921.
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Defesa Ambiental e da Ordem Urbanística

Na oportunidade, ainda foi mencionado pela COVISA que o


estabelecimento de saúde tinha sido notificado para a correção das irregularidades
nos prazos de 30 e 90 dias.

Em sede de relatório de inspeção, a qual foi realizada novamente


pela Vigilância Sanitária no aludido estabelecimento a pedido do MPMT, foi informado
que as irregularidades na disposição dos resíduos ainda permaneciam no local. Na
ocasião, foi indicada a necessidade da construção de abrigo para a disposição de
resíduos comuns, a aquisição de novos containers e a instalação de canaletas e
grelhas na parte interna do abrigo dos resíduos de saúde para evitar o escoamento
de material infectante pelo interior do hospital – Id. 42264387.

Na instrução do feito, o MPMT ainda providenciou a realização de


vistoria no estabelecimento (Relatório Técnico n. 924/2018 – CAOP), a qual ratificou
as irregularidades anteriormente constatadas pela Auditoria do SUS e pela Vigilância
Sanitária quanto à necessidade de construção de abrigo para resíduos comuns,
instalação de canaletas e grelhas no abrigo de resíduos de saúde e demais
providências.

Com exceção da aquisição de 10 novos containers para a


disposição de resíduos sólidos comuns, nada mais foi providenciado pela direção do
HPSMC para regularizar a questão.

A 29ª Promotoria de Justiça de Defesa Ambiental chegou a


solicitar cronograma para as intervenções necessárias no local, bem como colocou-
se à disposição da direção do HPSMC para a entabulação de acordo visando a
resolução do problema. No entanto, o MPMT recebeu tão somente ofício da direção
do estabelecimento com a fixação de prazos condicionados à uma reforma ampla do
hospital cujo projeto de execução encontra-se sob análise há pelos menos 04 anos.

Assim, diante da atitude recalcitrante do demandado quanto à


necessidade de promover as adequações na estrutura do HPSMC para viabilizar a
disposição dos resíduos de serviços de saúde, outra alternativa não resta ao MPMT
senão a de ajuizar a presente ação com o objetivo de compelir o Poder Público
municipal a adotar as providências necessárias para tanto.

II- DO DIREITO

A Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) foi instituída pela


Lei 12.305/2010 e foi regulamentada pelo Decreto n. 7.404/2010. Ela institui
princípios, objetivos, instrumentos, diretrizes, metas e ações, visando a gestão
integrada e o gerenciamento ambientalmente adequado dos resíduos sólidos.

Telefone: (65)3611-0600
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Defesa Ambiental e da Ordem Urbanística

Os resíduos de serviços de saúde encontram-se previstos no art.


13 da Lei 12.305/2010 e seu gerenciamento é definido em regulamento ou em
normas estabelecidas pelos órgãos do SISNAMA e do Sistema Nacional de Vigilância
Sanitária.

Nesse sentido, de acordo com a NBR n° 12.808, os resíduos


hospitalares (ou de serviços de saúde) são os resíduos produzidos pelas atividades
de unidades de serviços de saúde (hospitais, ambulatórios, postos de saúde etc.).

Incluem os resíduos infectantes (classe A) como culturas, vacinas


vencidas, sangue e hemoderivados, tecidos, órgãos, perfurocortantes, animais
contaminados, fluídos orgânicos; os resíduos especiais (classe B), rejeito radioativo,
resíduos farmacêuticos e resíduos químicos; e os resíduos comuns (classe C), das
áreas administrativas, das limpezas de jardins, etc.

Segundo a RDC ANVISA nº 306/2004 e a Resolução CONAMA nº


358/2005, são definidos como geradores de resíduos de serviços de saúde todos os
serviços relacionados com o atendimento à saúde humana ou animal, inclusive os
serviços de assistência domiciliar e de campo; laboratórios analíticos de produtos
para a saúde; necrotérios, funerária e serviços onde se realizem atividades de
embalsamamento, serviços de medicina legal, drogarias e farmácias inclusive as de
manipulação; estabelecimentos de ensino e pesquisa na área da saúde, centro de
controle de zoonoses; distribuidores de produtos farmacêuticos, importadores,
distribuidores, produtores de materiais e controles para diagnóstico in vitro, unidades
móveis de atendimento à saúde; serviços de acupuntura, serviços de tatuagem,
dentre outros similares.

A propósito, conforme estabelece o artigo 3º da Resolução


CONAMA nº 358/2005, cabe aos geradores e ao responsável legal o manejo dos
resíduos de saúde, desde a geração até a disposição final, de forma a atender aos
requisitos ambientais e de saúde pública e ocupacional. Ainda é importante frisar, que
a Instrução Normativa nº 001/2008, das Secretarias de Estado de Meio Ambiente e de
Saúde, propugna que os estabelecimentos da área da saúde são responsáveis pelo
gerenciamento dos resíduos gerados por suas atividades, desde sua origem até o
destino final (artigo 6º).

Assim, fica bem demonstrada a responsabilidade do Poder Público


municipal em promover o adequado gerenciamento dos resíduos sólidos produzidos
por unidade de saúde a ele vinculada e que, inclui, obviamente, a correta destinação
final dos resíduos comuns.

Telefone: (65)3611-0600
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Defesa Ambiental e da Ordem Urbanística

III- DOS PEDIDOS

Ante o exposto, requer o Ministério Público:

a) a citação do Município de Cuiabá para que, querendo, conteste


a pretensão inicial, sob pena de confissão e revelia;

b) a condenação do Município de Cuiabá na obrigação de


promover as obras e intervenções necessárias para destinar adequadamente os
resíduos de serviço de saúde do HPSMC, com a construção de abrigo para resíduos
comuns, adequação do abrigo já construído para resíduos infectantes (com a
instalação de canaletas, grelhas e demais dispositivos que impeçam o escoamento
destes resíduos para a área interna do hospital), além das demais medidas indicadas
pela Vigilância Sanitária e ainda não atendidas pelo Poder Público municipal, em
prazo ser fixado por esse Juízo.

Protesta provar os fatos alegados por todos os meios de provas em


direito admitidos, especialmente a juntada de novos documentos e a realização de
prova pericial, vistoria etc.

Dá-se à causa o valor de R$ 1.000,00 (mil reais), apenas para os


efeitos fiscais.

Cuiabá-MT, 24 de janeiro de 2022.

CARLOS EDUARDO SILVA


Promotor de Justiça

Telefone: (65)3611-0600
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