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ESTADO DE SANTA CATARINA

PODER JUDICIÁRIO
2ª Vara da Fazenda Pública da Comarca de Criciúma
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REINTEGRAÇÃO / MANUTENÇÃO DE POSSE Nº 5013356-


68.2023.8.24.0020/SC
AUTOR: MUNICÍPIO DE CRICIÚMA/SC
RÉU: SINDICATO DOS TRABALHADORES NO SERVICO PUBLICO
MUNICIPAL DE CRICIUMA E REGIAO- SISERP
RÉU: TERCEIROS DESCONHECIDOS

DESPACHO/DECISÃO

Vistos etc.

Recebo a inicial.

De acordo com o art. 300 do CPC, "a tutela de


urgência será concedida quando houver elementos que
evidenciem a probabilidade do direito e o perigo de dano ou o
risco ao resultado útil do processo", o que nos permite afirmar
que, para a concessão da medida liminar, é necessária a presença
de material comprobatório que consubstancie a possibilidade
concreta de que assiste razão à pretensão inicial, além do risco de
prejuízo à parte ou ao resultado da tutela jurisdicional.

E, aqui, a resposta é afirmativa.

Isso porque, a teor do art. 567 do


CPC, "o possuidor direto ou indireto que tenha justo receio de ser
molestado na posse poderá requerer ao juiz que o segure da
turbação ou esbulho iminente, mediante mandado proibitório, em
que se comine ao réu determinada pena pecuniária, caso
transgrida o preceito".

Incumbe à parte autora comprovar, para liminar


de interdito proibitório, o preenchimento dos seguintes requisitos:
:
I - a sua posse;
II - a turbação ou o esbulho praticado pelo réu;
III - a data da turbação ou do esbulho;
IV - a continuação da posse, embora turbada, na ação de
manutenção; a perda da posse, na ação de reintegração.

No caso concreto, ao menos nesta etapa de


cognição sumária, verifico a presença dos requisitos para
concessão da medida liminar, uma vez que o requerente
demonstrou que o movimento sindicalista vem promovendo
a paralisação forçada de serviços públicos municipais, bem assim
a intenção real do sindicato de continuar e intensificar a
obstrução de atividades essenciais e não essenciais.

Os documentos e arquivos de mídia juntados à


inicial demonstram que a paralisação em frente ao pátio de
máquinas vem afetando áreas sensíveis e que não comportam
interrupção, tais como educação, saúde, defesa civil e trânsito,
tudo sob o argumento de, assim, obrigar o requerente a conceder
os reajustes salariais e outras vantagens funcionais que estão
abrangidos pela pauta sindicalista.

No entanto, mesmo que se considere a boa intenção


do sindicato e dos servidores públicos com a paralisação das
atividades, o movimento sindicalista vem colocando em risco a
prestação dos serviços públicos, especialmente os essenciais, o
que consiste em ato potencialmente prejudicial os
cidadãos criciumenses.

Não pode o interesse sindicalista se sobrepor ao


interesse público, com condutas que impeçam o acesso de
trabalhadores aos seus postos de trabalho ou o trancamento das
vias que levam aos prédios públicos. O maior lesado é a
população local, que contribui para o custeio dos serviços
públicos essenciais que devem estar à sua disposição,
principalmente relacionados à área da saúde e educação.

No ponto, registro que o art. 11 da Lei n. 7.783/89,


aplicável à greve de servidores públicos (STF, MI ns. 670, 708 e
712), determina que deve ser assegurada a prestação dos serviços
indispensáveis às necessidades inadiáveis da sociedade, ao passo
que, consoante estabelece o art. 6º, § 3º, da Lei n. 7.783/89, "as
manifestações e atos de persuasão utilizados pelos grevistas não
poderão impedir o acesso ao trabalho nem causar ameaça ou
dano à propriedade ou pessoa".

A propósito, mutatis mutandis:


:
AÇÃO DECLARATÓRIA DE ILEGALIDADE E/OU
ABUSIVIDADE DE GREVE. SERVIDORES PÚBLICOS
MUNICIPAIS DE JARAGUÁ DO SUL. PARALISAÇÃO QUE
ATINGIU SERVIÇOS ESSENCIAIS E ATIVIDADES
INADIÁVEIS, AFETOS À SAÚDE, EDUCAÇÃO E
ASSISTÊNCIA SOCIAL. RISCO CONCRETO DE PREJUÍZOS
IRREPARÁVEIS OU DE DIFÍCIL REPARAÇÃO À SAÚDE E À
ORDEM PÚBLICA. PRECEDENTES DO STF E DESTA CORTE.
DESCUMPRIMENTO PARCIAL DA TUTELA ANTECIPADA
DEFERIDA INITIO LITIS. LIMITAÇÃO DO VALOR TOTAL DA
MULTA DIÁRIA ARBITRADA QUE SE IMPÕE, EM ATENÇÃO
AOS PRIMADOS DA RAZOABILIDADE E DA
PROPORCIONALIDADE. PROCEDÊNCIA QUE SE IMPÕE.
"Ao apreciar a questão referente ao exercício de greve dos
servidores públicos (art. 37, VII, da Constituição da República
Federativa do Brasil de 1988), o Supremo Tribunal decidiu, no
julgamento dos Mandados de Injunção ns. 670, 708 e 712,
reconheceu a mora legislativa e concretizou o direito, para
determinar que, até que não fosse editada a lei específica, fossem
aplicada as normas previstas na Lei Federal n. 7.783/89, que
regulamenta o tema no âmbito do setor privado. [...]" (Declaratória
n. 2014.015579-3, da Capital, rel. Des. Sérgio Roberto Baasch Luz,
j. 03-02-2015). (TJSC, Procedimento Comum n. 4004169-
26.2017.8.24.0000, da Capital, rel. Des. Cid Goulart, Segunda
Câmara de Direito Público, j. 31-10-2017). (grifou-se).

Presentes, portanto, a probabilidade do direito e o


perigo de dano ou o risco ao resultado útil do processo, impõe-se
a concessão da medida liminar.

DIANTE DO EXPOSTO, com fundamento no art.


300, caput, do CPC, defiro o pedido de tutela de urgência e
determino que o sindicato requerido, por si ou por seus
sindicalizados: a) se abstenha de bloquear ou obstruir as vias de
acesso a prédios públicos, incluindo pátio de máquinas, escolas
e postos de saúde, devendo manter uma distância mínima 100
metros destes locais; b) se abstenha de impedir e dificultar o
acesso dos servidores aos locais de trabalho; c) se abstenha da
prática de qualquer ato que impeça o exercício ou a execução do
serviços públicos, tais como o fechamento de portões
ou trancamento de bombas de abastecimento de combustível; e
d) se abstenha de adentrar em prédios públicos para realização de
movimentos ou atos sindicalistas que causem tumulto ou
subversão da ordem; tudo isso sob pena de intervenção policial
e multa de R$ 30.000,00 para cada ato de descumprimento.

Intimem-se, com urgência.

Oficie-se à Polícia Militar para fiscalização do


cumprimento da medida com as devidas cautelas, servindo cópia
da presente decisão como ofício.
:
Cumpra-se em regime de plantão, se necessário,
devendo o réu ser intimado por meio de sua representante
legal.

Deixo de designar audiência de conciliação, já que,


muito embora haja a possibilidade de composição do litígio, a
prática forense demonstra que a Fazenda Pública tem
invariavelmente manifestado desinteresse pela conciliação, de
modo que a designação de audiência para tal finalidade tem se
mostrado infrutífera e inexitosa, contrariando o próprio fim de
economia e celeridade processuais.

Cite-se, com as advertências legais.

Citem-se os terceiros desconhecidos por edital,


sinalizando o prazo de 20 (vinte) dias e observando os requisitos
legais (art. 257 do CPC).

Da contestação e documentos, intime-se a parte


requerente para réplica e, na sequência, dê-se vista dos autos ao
Ministério Público.

Após, tornem os autos conclusos.

Documento eletrônico assinado por EVANDRO VOLMAR RIZZO, Juiz de Direito,


na forma do artigo 1º, inciso III, da Lei 11.419, de 19 de dezembro de 2006. A
conferência da autenticidade do documento está disponível no endereço eletrônico
https://eproc1g.tjsc.jus.br/eproc/externo_controlador.php?
acao=consulta_autenticidade_documentos, mediante o preenchimento do código
verificador 310043764294v7 e do código CRC f7bcab31.

Informações adicionais da assinatura:


Signatário (a): EVANDRO VOLMAR RIZZO
Data e Hora: 29/5/2023, às 19:28:50

5013356-68.2023.8.24.0020 310043764294 .V7


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