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TJPA

PJe - Processo Judicial Eletrônico

21/02/2022

Número: 0800604-06.2022.8.14.0061
Classe: INTERDITO PROIBITÓRIO
Órgão julgador: 1ª Vara Cível e Empresarial de Tucuruí
Última distribuição : 20/02/2022
Valor da causa: R$ 6.000,00
Assuntos: Esbulho / Turbação / Ameaça
Segredo de justiça? NÃO
Justiça gratuita? SIM
Pedido de liminar ou antecipação de tutela? SIM
Partes Procurador/Terceiro vinculado
MUNICIPIO DE TUCURUI (REQUERENTE) VERONICA ALVES DA SILVA (ADVOGADO)
ARTUR DA SILVA RIBEIRO (ADVOGADO)
SINDICATO DOS TRABALHADORES E TRABALHADORAS
EM EDUCAÇÃO PÚBLICA DO PARÁ (REQUERIDO)
SINDICATO DOS SERVIDORES PUBLICOS MUNICIPAIS DE
TUCURUI-SINSMUT (REQUERIDO)
Documentos
Id. Data Documento Tipo
51306341 21/02/2022 Decisão Decisão
09:08
Processo nº 0800604-06.2022.8.14.0061

Autos de Interdito Proibitório c/ Pedido de Liminar

DECISÃO

Trata-se de Ação de Interdito Proibitório, com pedido de liminar,


proposta pelo MUNICÍPIO DE TUCURUÍ em face do SINDICATO DOS
SERVIDORES PÚBLICOS MUNICIPAIS DE TUCURUÍ – SINSMUT e do
SINDICATO DOS TRABALHADORES EM EDUCAÇÃO DO ESTADO DO PARÁ-
SINTEPP, todos qualificados.

A municipalidade aduz, em síntese, que tomou ciências que os


requeridos, através de seus representantes, têm divulgado por diversos meios que
os profissionais da educação entrarão em greve, a partir do próximo dia 21/02.2022
(segunda-feira).

Narra que durante todo o dia 18/02/2022, por meio de grupos do


aplicativo WhatsApp, os sindicatos têm propagado um vídeo do ano de 2019, o qual
mostra que durante a greve dos profissionais da educação, o movimento grevista
invadiu a Secretaria Municipal de Educação, ocasião em que ocupou o espaço
público e impediu o desenvolvimento das atividades pelos servidores lotados no
prédio da referida secretaria, asseverando que a divulgação do referido vídeo tem
um único intuito, o de incitar os servidores grevistas a invadirem os prédios
públicos, assim, impedir o desenvolvimento dos trabalhos prestados nas diversas
repartições.

Em razão dos fatos narrados, a municipalidade requer a expedição de


competente mandado proibitório em desfavor dos réus para que se proíba, de
imediato, a invasão de qualquer prédio público do município de Tucuruí,
notadamente o da Secretaria Municipal de Educação de Tucuruí, do Prédio da
Prefeitura Municipal e dos prédios das escolas municipais de Tucuruí, inclusive
proibindo a interdição das vias que dão acessos a esses lugares, sob pena de

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imposição de multa.

Juntou documentos.

Decido.

A proteção possessória é efeito específico da posse. Nela o possuidor


será mantido, em caso de turbação, reintegrado, no de esbulho e protegido, no
caso de ameaças contra ela.

Sobre o tema sub judice temos o Art. 567 do CPC/2015, in verbis;

“Art. 567. O possuidor direto ou indireto que tenha justo receio de ser molestado na posse
poderá requerer ao juiz que o segure da turbação ou esbulho iminente, mediante mandado

proibitório em que se comine ao réu determinada pena pecuniária caso transgrida o preceito.”

Portanto, são requisitos à tutela possessória de interdito proibitório: a


demonstração da posse do autor e o justo receio de moléstia à posse, bem
como da iminência de turbação ou esbulho.

É de se recordar que não há direito de posse de bem público a ser


exercido pelo particular em face do próprio ente público. Nesse sentido se firmou a
jurisprudência nacional:

Conforme a jurisprudência pacífica do e. STJ, o particular jamais exerce poderes de


propriedade (art. 1.196 do CC) sobre imóvel público, impassível de usucapião (art. 183, § 3º,
da CF). Não poderá, portanto ser considerado possuidor dessas áreas, senão mero detentor.
II. Essa impossibilidade, por si só, afasta a viabilidade de indenização por acessões ou
benfeitorias, pois não prescindem da posse de boa-fé (art. 1.219 e 1.255 do CC). Precedentes
do STJ" (fl. 282e).

(...)

configurada a ocupação indevida de bem público, não há falar em posse, mas em mera
detenção, de natureza precária, o que afasta o direito à indenização por benfeitorias" (STJ,
REsp 1.310.458/DF, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, DJe de
09/05/2013). (STJ - REsp: 1667615 MT 2017/0088913-0, Relator: Ministra ASSUSETE
MAGALHÃES, Data de Publicação: DJ 29/05/2017)

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Em detida análise dos autos, verifico que os autores são possuidores
dos terrenos descritos, conforme se infere de todo conjunto probatório, mormente
pelos Títulos Definitivos juntados aos autos, sendo certo que demonstram a
ameaça de serem molestados de suas posses.

O autor provou sua posse, pois é fato notório e matéria constitucional


que o município tem a posse dos bens públicos locais de uso comum do povo e de
uso especial, mormente as vias públicas locais e o prédio que sedia a
administração local.

Assim, o conjunto probatório dos autos atesta que os requerentes


comprovaram os requisitos para concessão da liminar, uma vez que demonstraram
a posse, bem como a turbação posse, na qual se chega a essa ilação, pelo fato de
haver nos autos fotos e vídeos datados, depreendendo-se destes que há iminência
de deflagração de greve e pelo vídeo veiculado também há a instigação para que o
movimento grevista ocupe os prédios públicos.

Sobre a questão, eis o entendimento jurisprudencial. In verbis:

“(...) Nos termos da legislação de regência, o interdito proibitório possui finalidade preventiva,
obstando a consumação do esbulho ou da turbação, bastando, para tanto, que o possuidor
direto ou indireto comprove sua posse efetiva e a atual, bem como o justo receio de iminente
ameaça, requisitos estes devidamente comprovados no caso em apreciação e que, somados
à ausência de ilegalidade, teratologia ou arbitrariedade na decisão objurgada, impede o
acolhimento da pretensão da agravante no tocante à expedição do mandado proibitório.
AGRAVO DE INSTRUMENTO CONHECIDO E IMPROVIDO. DECISÃO DECOTADA DE
OFÍCIO. (TJGO, Agravo de Instrumento (CPC) 5030855-55.2017.8.09.0000, Rel. Des. MARIA
DAS GRAÇAS CARNEIRO REQUI , 1ª Câmara Cível, julgado em 16/08/2017, DJe de
16/08/2017)

“(...) I - Nos termos do art. 560 e 561 do CPC, o possuidor tem direito de ser mantido em sua
posse, incumbindo-lhe a prova, assim como a existência de turbação ou esbulho. II -
Satisfeitos os requisitos do art. 561 do CPC, faz jus o autor/apelado à mantença na posse do
bem. (...).” (6ª CC, AC nº 574175-39.2015.8.09.0122, Rel. Dr. WILSON SAFATLE FAIAD,

D2341 de 01/09/2017).

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Com efeito, sem prejuízo do direito de greve constitucionalmente
garantido aos trabalhadores, não se pode admitir o cerceamento do direito de ir e
vir, também de cunho constitucional.

É de se lembrar que o Código Civil, em seu artigo 187, estabelece que:

Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede manifestamente os
limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes.

Há de se fazer valer a máxima segundo a qual o direito de um cidadão


acaba onde nasce o de outro.

Ora, se houver uma invasão a área de domínio claramente público,


haverá prejuízo geral a coletividade, perpetrando-se clara a ilicitude na conduta dos
requeridos.

Por fim, uma vez que a posse ainda não foi turbado ou esbulhada, não
cabe ao Juízo afastar os grevistas das imediações dos prédios públicos e tão
somente impedir que a Prefeitura perca a posse de tais prédios.

Diante do exposto, DEFIRO EM PARTE a liminar pleiteada determinar


aos requeridos que se abstenham de turbar ou esbulhar qualquer prédio público do
Município de Tucuruí, notadamente o da Secretaria Municipal de Educação de
Tucuruí, do Prédio da Prefeitura Municipal e dos prédios das escolas municipais de
Tucuruí. Em caso de descumprimento da presente ordem, desde já fixo multa diária
no valor de R$ 3.000,00 (três mil reais), até o limite de 30 (trinta) dias (artigo 297,
do CPC).

Destaco, por fim, que, nos termos do artigo 5º, inciso XVI da
Constituição Federal, “todos podem reunir-se pacificamente, sem armas, em
locais abertos ao público, independentemente de autorização, desde que não
frustrem outra reunião anteriormente convocada para o mesmo local, sendo
apenas exigido prévio aviso à autoridade competente”, e desde que também tal
ato não colida com outros princípios constitucionais, tais como o direito á

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locomoção, este previsto no inciso XV, que estabelece ser livre a locomoção no
território nacional em tempo de paz, podendo qualquer pessoa, nos termos da
lei, nele entrar, permanecer ou dele sair com seus bens.

Autorizo as prerrogativas do artigo 212, § 2º do Código de Processo


Civil ao senhor oficial de justiça.

Cite-se a parte requerida para oferecer contestação no prazo legal.

Intimem-se as partes desta decisão.

Após o cumprimento da decisão, proceda-se com a redistribuição do


feito para a Vara competente.

Esta decisão serve de mandado de intimação aos requeridos acerca do


deferimento da medida liminar, conforme os endereços cadastrados no
sistema PJe, que fazem parte integrante desta decisão, servindo também
como mandado proibitório.

Tucuruí (PA), 20 de fevereiro de 2022.

THIAGO CENDES ESCÓRCIO

Juiz de Direito

Plantonista

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