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DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DE MINAS GERAIS

NÚCLEO DA DEFENSORIA PÚBLICA DA COMARCA DE ITUIUTABA


Avenida Onze, 1.281, Centro, Ituiutaba/MG, CEP 38300-142. Telefone: (34) 3261-0480

AO JUÍZO DE DIREITO DA 3ª VARA CÍVEL DA COMARCA DE ITUIUTABA -


MINAS GERAIS

Autos n. º 5000014-73.2018.8.13.0342
Curador Especial

A DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DE MINAS GERAIS,


assistindo os interesses de DIGITI BRASIL COMERCIO DE LIVROS EIRELI – ME,
empresário individual, inscrito no CNPJ, sob o n.º 11.242.301/0001-48, com
endereço na Avenida Nove de Julho n.º 2160, Jardim Novo Stábile, cidade Birigui –
SP, CEP: 16204-050, E EDIT BRASIL COMERCIO DE LIVROS LTDA – ME,
empresário, individual inscrito no CNPJ, sob o n° 06.147.674/0001-08, com
endereço na Rua Minoru Yosino, n°131, Jardim Novo Stábile, cidade Birigui – SP
CEP 16204-050, citado por edital, vêm, respeitosamente, à presença de Vossa
Excelência, apresentar CONTESTAÇÃO À AÇÃO DECLARATÓRIA DE
INEXISTÊNCIA DE DÉBITO C/C INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS C/C
ANTECIPAÇÃO DE TUTELA, promovida por MARGARIDA EUNICE DE
MEDEIROS, já devidamente qualificado, pelos seguintes fundamentos de fato e
direito a seguir expostos:

1 - BREVE RESUMO DOS FATOS

O requerente ajuizou uma ação de indenização por danos morais e


materiais em face do requerido, sendo assim, fora discorrido na inicial que o
requerente que em outubro de 2017, ao tentar realizar compras no comercio de

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ituiutaba, a autora foi surpreendida ao ter seu credito negado em decorrência da


existência de negativação em seu nome junto ao SCPC no valor de R$ 1.300,00.

A autora afirma que nunca manteve relação jurídica com as partes ré


ensejo à referida inadimplência apontada no cadastro do SCPC, trata-se, portanto,
de uma negativação indevida.
A requerente ficou prejudicada quanto a liberação de crédito no
comércio (negativação indevida) gerou um abalo na idoneidade financeira da autora,
pois a inscrição de informação negativa/restrição em cadastro restritivo de crédito,
fez com que sofresse constrangimentos e transtornos morais.
Além de ter seu credito negado, ficando impedida de realizar atos
comerciais, provocando assim dano moral.
Por fim, a autora informa que a composição amigável não foi possível,
não restando alternativa senão buscar as vias judiciais para obter a declaração de
inexigibilidade do débito que lhe fora injustamente imputado pela parte ré, para
restabelecer as informações constantes do cadastro do SCPC e ser ressarcida e
compensado pelos danos morais experimentados.

É a suma do necessário.

2- DAS PRELIMINARES

2.1 - DA NECESSIDADE DA GRATUIDADE DA JUSTIÇA

Em análise dos autos, se verifica que a ré é revel citado por edital e


assistido pela Defensoria Pública de Minas Gerais. Em vista disso, se compreende que
o acesso à justiça é garantia prevista constitucionalmente, onde via de regra para ser
deferida prescinde de comprovação, contudo, como no caso em questão se depreende
a ausência de conhecimento fático da real citação econômica do requerido, não tem

Contestação 2
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como os seus defensores fazerem prova de miserabilidade, cabendo nestes casos


excepcionalmente, o deferimento da justiça gratuita.

Na mesma senda, é o entendimento traçado pelos Eméritos julgadores do


Tribunal de Justiça de Minas Gerais:

APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO MONITÓRIA. NOTA DE CRÉDITO


INDUSTRIAL. CURADOR ESPECIAL. PRINCÍPIO DO ACESSO À
JUSTIÇA. PRESCRIÇÃO. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. REVISÃO DO
CONTRATO COM BASE NO CDC E JURISPRUDÊNCIA DA CORTE
SUPERIOR. Tendo em vista a parte estar representada por curador, defere-
se, no caso, a assistência judiciária gratuita, fins de possibilitar o acesso da
parte à justiça". (TJRS, AC n. 70040723082, 16ª Câmara Cível, Rel. Des.
Roberto Carvalho Fraga, J. 22-11-2012).

APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO DE INDENIZAÇÃO - ILEGITIMIDADE PASSIVA


CONFIGURADA - JUSTIÇA GRATUITA - PESSOA FÍSICA -
COMPROVAÇÃO DA INSUFICIÊNCIA DE RECURSOS - DEFERIMENTO -
CITAÇÃO POR EDITAL - VALIDADE - RÉU REPRESENTADO POR
CURADOR ESPECIAL - DEFERIMENTO DE JUSTIÇA GRATUITA -
POSSIBILIDADE.

- A legitimidade para a causa deve ser aferida diante do objeto litigioso, da


situação discutida no processo que concede ou não o atributo da
legitimidade às partes litigantes (autor e réu).

- Verificando-se que inexiste qualquer relação de direito material entre o


autor e um dos réus, seja de ordem contratual ou extracontratual, deve ser
reconhecida a ilegitimidade passiva, extinguindo-se o processo em relação
a ele.

- O benefício da justiça gratuita pode ser concedido à pessoa física ou


jurídica, desde que comprovada a necessidade da benesse. - Esgotados
todos os meios disponíveis de localização do réu, a citação por edital é
válida, na forma do art. 231, II, do CPC.

- Tratando-se de curador especial nomeado ao réu revel citado por edital,


cabe a concessão do benefício da assistência judiciária gratuita, sob pena
de violação ao Princípio do Acesso à Justiça. (Apelação Cível
1.0433.09.275557-1/001 2755571-88.2009.8.13.0433 (1) Relator(a)Des.
(a) Valdez Leite Machado, Órgão Julgador / Câmara Câmaras Cíveis / 14ª
CÂMARA CÍVEL, Súmula REJEITARAM PRELIMINAR, DERAM
PROVIMENTO AO PRIMEIRO RECURSO E DERAM PROVIMENTO
PARCIAL AO SEGUNDO RECURSO, Comarca de Origem Montes Claros,
Data de Julgamento18/10/2013, Data da publicação da súmula25/10/2013).

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No julgamento acima delineado, assim asseverou o Relator Des. Valdez


Leite Machado:

Por fim, tendo em vista que a Defensoria Pública representa o segundo


apelante, citado por edital, na condição de curadora especial, deve ser
deferido o pedido para a concessão de justiça gratuita.
Ora, não se mostra viável exigir que o curador especial nomeado comprove
a real situação financeira da parte apelada, para que haja a concessão do
benefício. Ademais, negar-lhe a assistência judiciária gratuita acaba por
violar o princípio do acesso à Justiça, tornando letra morta o art. 9º, II, do
CPC, que prevê a nomeação de curador especial ao réu revel citado por
edital.

Tendo em vista o exposto, sob pena de violação ao princípio do acesso à


justiça, requer a concessão dos benefícios da gratuidade da justiça a ré citada por edital.

2.2 - DA NULIDADE DA CITAÇÃO POR EDITAL

O art. 238 do Novo Código de Processo Civil trata das noções referentes à
citação, consistente no ato de chamamento do réu a juízo para devida formação
processual para que este possa se defender. Sendo assim, para que se tenha uma
regular instauração da relação processual, se revela imprescindível à citação daquele
que for réu, devendo esta citação acontecer, em regra, pessoalmente.

Contudo, o próprio Código de Processo Civil discorre quanto a demais


formas de citação que podem ser utilizadas, como à exemplo da citação por oficial de
justiça, por hora certa e até mesmo a citação editalícia, quando não for possível a
efetivação da citação pessoal.

Sendo assim, no que tange à citação editalícia, ante ao princípio da ampla


defesa e do contraditório, se observa que esse formato de citação é justificável depois
de esgotados todos os meios necessários para localizar o citando e desde que reste
demonstrado que o mesmo se encontra em local incerto e não sabido. Na mesma
senda:

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“Requisito básico. Deve ser tentada a localização pessoal do réu por todas
as formas. Somente depois de resultar infrutífera é que estará aberta a
oportunidade para a citação por edital”. (cf. Nelson Nery Júnior – CPC
comentado, 10ª edição revista, pág. 481).

Corroborando o mesmo entendimento, Costa Machado assim discorre:

"Tem-se entendido, com razão, que só após esgotados todos os meios para
a localização do endereço do réu (com a expedição de ofícios a algum
instituto de identificação, ao INSS, à Receita Federal e a outros órgãos
oficiais) legitima-se a ficta vocatio. Também a certidão do oficial que aponte
a posteriori para o cabimento da citação por edital não é, por si só, decisiva,
aplicando-se o mesmo entendimento acima referido (Código de processo
civil interpretado artigo por artigo, parágrafo por parágrafo, 6ª ed., Barueri,
São Paulo: Manole, 2007, p. 216).

Ademais, de notável importância destacar o entendimento que o Tribunal


de Justiça de Minas Gerais adota recentemente, vejamos:

EMENTA: AGRAVO DE INSTRUMENTO. CITAÇÃO POR EDITAL.


NECESSIDADE DE EXAURIMENTO DE TODOS OS MEIOS POSSÍVEIS À
LOCALIZAÇÃO DO DEVEDOR. NULIDADE. A citação é um ato
processual extremamente formal, devendo respeitar os requisitos
legais necessários à sua validade, razão pela qual deve o autor
diligenciar no sentido de localizar o endereço do réu antes de proceder
à citação por meio de edital. V.V. De conformidade com o artigo 256, do
CPC/15, quando desconhecido ou incerto o réu ou quando ignorado,
incerto ou inacessível o lugar em que ele se encontrar, a citação
ocorrerá por edital. (TJMG - Agravo de Instrumento-Cv 1.0000.21.177546-
5/001, Relator (a): Des.(a) Evangelina Castilho Duarte, 14ª CÂMARA
CÍVEL, julgamento em 25/11/2021, publicação da súmula em 25/11/2021).
(grifou-se).

EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL. EXECUÇÃO DE TÍTULO EXTRAJUDICIAL.


CITAÇÃO POR EDITAL. NULIDADE. REQUISITOS NÃO CUMPRIDOS.
ESGOTAMENTO DE DILIGÊNCIAS DESTINADAS À LOCALIZAÇÃO DO
RÉU. NECESSIDADE. APELAÇÃO PROVIDA. SENTENÇA CASSADA.
- A citação viabiliza a materialização de diversos imperativos
constitucionais, como o contraditório e a ampla defesa. - A citação por

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edital é medida extremamente gravosa, aplicável tão-somente após a


comprovação do esgotamento de todos os meios para a localização do
réu. (TJMG - Apelação Cível 1.0480.16.011384-5/001, Relator (a): Des.(a)
José Marcos Vieira, 16ª CÂMARA CÍVEL, julgamento em 24/11/2021,
publicação da súmula em 25/11/2021). (grifou-se)

Consoante análise dos autos se verifica em ID 35745340 que foi solicitada


citação do réu no endereço da Avenida Nove de Julho n° 2160, Birigui-SP, CEP 16204-
050, porém a tentativa foi infrutífera devido a não localização do réu. Outra tentativa de
citação do réu foi feita no endereço da Rua Minoru Yosino, n, 131, Jardim Novo Stábile,
Birigui-SP, CEP 16204-050, porém não obteve retorno quanto à localização do réu.

Em ID 1373119813 foi deferida a busca nos sistemas Bacenjud, Infojud e


Renajud, porém a pesquisa não retornou resultados quanto à localização do réu.
Em ID 1447764808 foi deferida a busca no sistema Sibajud, não retornou
resultados quanto localização do réu.
Em ID 1862459794 foi expedida uma carta precatória para socia da
empresa nos endereços Rua Siqueira Campos, 2267, Jardim Vale do Sol, Birigui/SP,
CEP 16204-070 e/ou Rua Tiradentes, 1169, Vila Moimaz, Birigui/SP, CEP 16202-004.

Em virtude desse contexto, o respeitável Juízo, mediante análise de ID


8807598070, deferiu o pedido de citação por edital requerido pela parte autora.

Acontece que nitidamente resta exposto no caso em comento, a nulidade


da citação, devido à razão de que a citação por edital é entendida tanto pela doutrina,
quanto pela jurisprudência, como um meio a ser utilizado somente após esgotadas as
possibilidades de citação do réu, contexto este que diverge do caso em concreto.

Em vista disso, poderiam ter sido realizadas diligências de pesquisa à

exemplo, nos sistemas NSS, SABESP, CPFL. Todavia, se observa que a parte autora
não logrou observar os diversos meios para localizar o endereço do requerido, para

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somente depois de evidentemente superadas e esgotadas as tentativas de citação


pessoal, requerer a citação por edital.

Portanto, diante do princípio constitucionalmente amparado da ampla


defesa e devido à razão de não preencher os requisitos exigidos pelos artigos 256 e
seguintes do Novo Código de Processo Civil, deve a citação por edital ser considerada
nula, conforme o artigo 280 do mesmo diploma legal, anulando-se parcialmente o
processo a partir da citação, assim como requer que sejam realizadas diligências para

pesquisas de possíveis endereços da ré nos sistemas da INSS.SABESP, CPFL


Companhia de distribuição de energia.

3 – DO MÉRITO

3.1 - DO DANO MORAL E MATERIAL

Em que pese à definição de dano moral que fora aduzido pela parte autora
na inicial, se revela de nítida importância destacar a compreensão da doutrina no que se
refere a essa noção, sendo assim, o Desembargador Sérgio Cavalieri Filho discorre no
seguinte sentido:

"Nessa linha de princípio, só deve ser reputado como dano moral a dor,
vexame, sofrimento ou humilhação que, fugindo à normalidade, interfira
intensamente no comportamento psicológico do indivíduo, causando-lhe
aflições, angústia e desequilíbrio em seu bem-estar. Mero dissabor,
aborrecimento, mágoa, irritação ou sensibilidade exacerbada estão fora da
órbita do dano moral, porquanto, além de fazerem parte da normalidade do
nosso dia-a-dia, no trabalho, no trânsito, entre os amigos e até no ambiente
familiar, tais situações não são intensas e duradouras, a ponto de romper o
equilíbrio psicológico do indivíduo. Se assim não se entender, acabaremos
por banalizar o dano moral, ensejando ações judiciais em busca de
indenizações pelos mais triviais aborrecimentos." (CAVALIERI FILHO,
Sérgio. Programa de Responsabilidade Civil, 7ª ed., São Paulo: Atlas, 2007,
p.78).

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Na mesma senda, o doutrinador Yussef Said Cahali discorre quanto à


conceituação do dano moral sob uma óptica que perpassa pelo efeito da lesão, sendo
assim:

“Dano moral, portanto, é a dor resultante da violação de um bem


juridicamente tutelado, sem repercussão patrimonial. Seja dor física – dor-
sensação, como a denominada Carpenter – nascida de uma lesão material;
seja a dor moral – dor-sentimento, de causa imaterial.” (CAHALI, Yussef
Said. Dano moral. São Paulo. Revista dos Tribunais, 2011, p. 28).

Consoante o exposto, se compreende que para uma necessária


configuração como dano moral, se revela imprescindível a demonstração das
consequências que o dano causou à integridade psíquica da vítima, visando ultrapassar
os meros aborrecimentos que estão cada vez mais presentes na convivência em
sociedade. O dano moral deve perpassar pelo contexto de dor, daquele sofrimento
nítido e que diverge das condições de normalidade e que afeta explicitamente o bem
estar do indivíduo.

Em vista disso, imprescindível destacar o entendimento que o Tribunal de


Justiça de Minas Gerais (TJMG) explana quanto ao tema em comento, vejamos a
jurisprudência abaixo destacada:

EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL. DIREITO PROCESSUAL CIVIL. INOVAÇÃO


RECURSAL. RECONHECIMENTO. PRELIMINAR ACOLHIDA. RECURSO
CONHECIDO EM PARTE. MÉRITO. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO. COPASA
MG. DIREITO CONSTITUCIONAL. DIREITO DO CONSUMIDOR.
COBRANÇA INDEVIDA DE MULTA. TEORIA OBJETIVA DA
RESPONSABILIDADE CIVIL. SERVIÇO DEFEITUOSO COMPROVADO.
DANOS MORAIS. NÃO CARACTERIZAÇÃO. MERO DISSABOR.
RESTITUIÇÃO DOBRADA. AUSÊNCIA DE DEMONSTRAÇÃO DE MÁ-FÉ.
DÉBITO NÃO QUITADO. - Dentre os pressupostos intrínsecos do juízo de
admissibilidade, localiza-se a proibição de inovação recursal, ou seja, não
poderá o recorrente, ao apresentar as suas razões de inconformismo,
alterar o pedido formulado, trazendo teses sobre as quais não se
manifestaram as partes no juízo "a quo", o que constitui evidente infração
aos princípios constitucionais do devido processo legal, do contraditório e da
ampla defesa.- Evidenciada a inovação recursal em parte da matéria de

Contestação 8
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irresignação, a apelação interposta não deverá ser conhecida quanto ao


referido ponto especifico. Cuidando-se de relação de consumo, objetiva é a
responsabilidade civil da concessionária de serviços públicos, aplicando-se
as normas do art. 14 da Lei nº 8.078/90 e do art. 37, § 6º, da Constituição da
República Federativa do Brasil de 1.988.- Surgem os danos morais, em
regra, da violação aos direitos da personalidade, tutelados
juridicamente (imagem, nome, honra, integridade física, privacidade e
outros), concretizando-se "in re ipsa". Também se verifica a sua
configuração quando a conduta antijurídica, dada a sua dimensão, é
capaz de romper a paz, a rotina e a tranquilidade da vida da vítima,
expondo-a a intenso sofrimento psíquico e emocional, situação esta
que deve ser comprovada. - Se a situação vivenciada pela parte autora
não ultrapassou o liame conceitual do mero dissabor ou
aborrecimento cotidiano, não há razão para que o pedido de
indenização por danos morais seja acolhido judicialmente. - Para a
repetição dobrada de indébito, disciplinada pelo art. 42, parágrafo único, do
Código de Defesa do Consumidor, necessário que seja demonstrado, além
do pressuposto objetivo (pagamento de quantia indevida), o elemento
anímico, alusivo à má-fé ou ao dolo do fornecedor de serviços e produtos.
Não estando evidenciados os ditos requisitos, não há que se falar em
devolução de valores, seja de forma simples ou dobrada. (TJMG - Apelação
Cível 1.0000.21.204702-1/001, Relator (a): Des.(a) Ana Paula Caixeta, 4ª
CÂMARA CÍVEL, julgamento em 25/11/2021, publicação da súmula em
26/11/2021) (grifo nosso).

Consoante o exposto, é de suma importância destacar os requisitos de


configuração dos danos morais, sendo estes referentes à devida comprovação da
existência de um dano, do nexo de causalidade e da demonstração da culpa para a
devida configuração do dano moral, tendo em vista que deve restar explicitada a
dimensão do referido em atenuar a paz, tranquilidade e expondo a vítima a um nítido
sofrimento em âmbito tanto psicológico quanto emocional, sendo que a situação deve
divergir de um contexto de meros aborrecimentos cotidianos, contexto esse que não
restou devidamente demonstrado no caso em apreço.

Já no que tange ao dano material, também alegado pela parte autora,


necessário algumas pontuações, sendo assim, esse tipo de dano diverge do dano moral
na medida em que os danos materiais são mais ligados ao atingimento do patrimônio
das pessoas, sejam elas físicas ou jurídicas. Por essa questão, os danos podem ser
configurados por uma despesa que foi originada por conta da ação de outrem, se
referindo também, aquilo que deixou de auferir em decorrência de tal conduta exercida,

Contestação 9
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gerando assim a possibilidade e necessidade de reparação material dos lucros


cessantes.

Ainda, no que tange à compreensão jurisprudencial dos danos materiais:

EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL - CONTRATO NÃO FORMAL - PRESTAÇÃO


DE SERVIÇOS - CULTIVO DE AMENDOIM - DANOS MATERIAIS -
LUCROS CESSANTES - AUSÊNCIA DE PROVA - DANO MORAL - NÃO
CONFIGURAÇÃO - PROVA ORAL INSUFICIENTE. Compete à autora
comprovar a prática de qualquer ato levado a efeito pela ré que desse
ensejo à reparação de eventuais danos sofridos, ônus que lhe é
imposto, a teor do que estabelece o art.373, inciso I, do CPC. O dano
material exige prova efetiva, e seu ressarcimento pressupõe a
ocorrência de dano patrimonial e deve ocorrer na quantidade exata do
dano comprovado. Para que haja a constituição do direito ao
recebimento de lucros cessantes não basta a mera alegação da parte
de que deixou de auferir lucro, devendo estar provado nos autos que
havia a percepção desses frutos. (TJMG - Apelação Cível
1.0611.13.001150-9/001, Relator (a): Des.(a) Marco Aurelio Ferezini, 14ª
CÂMARA CÍVEL, julgamento em 25/11/2021, publicação da súmula em
25/11/2021) (grifo nosso).

Visto isso, se compreende que os danos materiais perpassam por todo um


contexto de devida comprovação pela parte autora daqueles atos que ensejam a devida
reparação por parte da ré, sendo assim, necessária se faz a devida prova,
ultrapassando as meras alegações.

3.2 - DO ÔNUS DA IMPUGNAÇÃO ESPECÍFICADA

No que tange ao curador especial, importa ressaltar que a este não se


aplica o ônus da impugnação especificada, em decorrência da ausência de contato com
o réu, o que consiste na presunção de veracidade dos fatos não impugnados, consoante
preclara o parágrafo único do artigo 341 do Novo Código de Processo Civil.

Art. 341. Incumbe também ao réu manifestar-se precisamente sobre as


alegações de fato constantes da petição inicial, presumindo-se verdadeiras
as não impugnadas, salvo se:

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(...)
Paragrafo único. O ônus da impugnação especificada dos fatos não se
aplica ao defensor publico, ao advogado dativo e ao curador especial.
(grifei)

Isso posto, se compreende que em virtude de o curador especial ser


nomeado por intermédio de imperativos legais e não de modo direto pela parte, a
referida peculiaridade impede que o curador mantenha uma relação mais próxima e
direta com a pessoa representada, tornando-se dificultosa assim, a defesa do
representado. Em decorrência dessas questões é que se ressalta que não cabe ao
curador especial o ônus da impugnação específica quanto aos fatos, visando assim, que
não prejudique ou impeça o exercício da ampla defesa e do contraditório.

4 - DA CONCLUSÃO

Ante ao exposto, requer a Vossa Excelência:

a) Os benefícios da justiça gratuita para a requerido citado por edital;

b) Sejam observadas as prerrogativas dos membros da Defensoria


Pública, notadamente, intimação pessoal com vista dos autos, contando-se em dobro
todos os prazos, consoante redação do art. 74, I, da Lei Complementar Estadual
65/2003;

c) A aplicação do Aviso nº 17/2005 da Corregedoria Geral de


Justiça, publicado no Diário do Judiciário de 16 de abril de 2005, que determinou fossem
os Defensores Públicos cadastrados no SISCOM pelo número da MADEP (Matrícula na
Defensoria Pública);

Contestação 11
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d) A nulidade da citação por edital, conforme art. 280, NCPC,


anulando-se parcialmente o processo a partir da citação, assim como requer que
sejam realizadas diligências para pesquisas de possíveis endereços da ré nos sistemas
SAE, ALGAR TELECOM, INSS e Companhia de eletricidade de Rio Verde- Goiás
denominada ENEL, o que desde já se requer.

e) Seja rejeitado o pedido autoral, julgando-o improcedente,


extinguindo o feito com resolução do mérito, nos termos do art. 487, I, CPC,
condenando os autores nos ônus da sucumbência;

f) A condenação dos autores nas custas e honorários advocatícios,


nos termos do art. 146 da Lei Complementar Estadual nº 65/2003, e conforme
regulamentação prevista no seu parágrafo único, devendo ser depositados em favor da
Defensoria Pública de Minas Gerais na conta: “DEFENSORIA PÚBLICA DE MINAS
GERAIS”, nº 5724-X, da Agência 1615-2 (Agência Governo - BH), do Banco do Brasil
S/A.

Provará o que for necessário, diante do possível como curador especial,


usando todos os meios de prova permitidos em direito, em especial, pela juntada de
documentos, perícia técnica e oitiva de testemunhas e depoimento pessoal do autor, o
que requer.

Protesta pela intimação pessoal do Defensor Público, por meio de


carga dos autos com vista para todos os atos processuais, nos termos do art. 4º,
V, da Lei Complementar nº 80/1994, do art. 74, I, da Lei Complementar Estadual nº
65/03, e de acordo com o Aviso 29/CGJ/2008 da Corregedoria-Geral de Justiça do
TJMG, bem como a contagem em dobro dos prazos processuais (art. 128, I, da Lei
Complementar nº 80/1994);

Contestação 12
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Protesta ainda pela aplicação do Aviso nº 47/2011 da Corregedoria


Geral de Justiça, publicado no Diário Oficial do Estado de Minas Gerais em
20/10/2011, que contém orientações acerca dos procedimentos relativos à
inclusão do Defensor Público no Sistema Informatizado - SISCOM pelo número da
MADEP (Matrícula na Defensoria Pública), o único necessário para o
cadastramento do Defensor Público nos termos do art. 4º, §§ 6º 1 e 9º da Lei
Complementar 80/1994.

Nestes termos, pede deferimento.


Ituiutaba, 19 de outubro de 2022.

PRISCILA C. VOLTARELLI BOZOLA


Defensora Pública
MADEP 0905

Franciele Marques da Silva


Estagiária de Direito

Contestação 13

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