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AO JUÍZO DO JUIZADO ESPECIAL FEDERAL DA SEÇÃO JUDICIÁRIA DO

__________________

“MINERVA MCGONAGALL”, [nacionalidade], [estado civil], [profissão], inscrita


no CPF sob o nº _________________________, portadora do RG sob o nº
_________________________, residente e domiciliada à [endereço completo],
vem respeitosamente à presença de Vossa Excelência, por meio do seu
procurador signatário que junta neste ato instrumento de procuração, propor a
presente

AÇÃO PREVIDENCIÁRIA DE PAGAMENTO INDENIZADO DE BENEFÍCIO


POR INCAPACIDADE COM PEDIDO DE TUTELA DE URGÊNCIA C/C DANO
MORAL com fulcro no art. 7º, inciso XXIV da Constituição Federal, artigos
319 e 300, ambos do CPC, em face de

INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL (INSS), autarquia Federal, com


sede em [endereço completo], pelos fundamentos fáticos e jurídicos que passa
a expor:

1. DA JUSTIÇA GRATUITA

A parte Autora é pessoa pobre na acepção do termo e não possui


condições financeiras para arcar com as custas processuais e honorários
advocatícios sem prejuízo do próprio sustento, razão pela qual desde já requer
o benefício da Gratuidade de Justiça, assegurados pela Lei nº 1060/50 e
consoante o art. 98, caput, do novo CPC/2015, verbis:
Art. 98. A pessoa natural ou jurídica, brasileira ou estrangeira, com
insuficiência de recursos para pagar as custas, as despesas
processuais e os honorários advocatícios tem direito à gratuidade da
justiça, na forma da lei.

Mister frisar, ainda, que, em conformidade com o art. 99, § 1º, do


novo CPC/2015, o pedido de gratuidade da justiça pode ser formulado por
petição simples e durante o curso do processo, tendo em vista a possibilidade
de se requerer em qualquer tempo e grau de jurisdição os benefícios da justiça
gratuita, ante a alteração do status econômico.

Para tal benefício, a parte Requerente junta declaração de


hipossuficiência e comprovante de renda, os quais demonstram a inviabilidade
de pagamento das custas judicias sem comprometer sua subsistência,
conforme clara redação do Código de Processo Civil de 2015:

Art. 99. O pedido de gratuidade da justiça pode ser formulado na


petição inicial, na contestação, na petição para ingresso de terceiro
no processo ou em recurso.

§ 1o Se superveniente à primeira manifestação da parte na


instância, o pedido poderá ser formulado por petição simples, nos
autos do próprio processo, e não suspenderá seu curso.

§ 2o O juiz somente poderá indeferir o pedido se houver nos autos


elementos que evidenciem a falta dos pressupostos legais para a
concessão de gratuidade, devendo, antes de indeferir o pedido,
determinar à parte a comprovação do preenchimento dos referidos
pressupostos.

§ 3º Presume-se verdadeira a alegação de insuficiência deduzida


exclusivamente por pessoa natural.
Assim, por simples petição, sem outras provas exigíveis por lei, faz
jus, a Requerente, ao benefício da gratuidade de justiça:

AGRAVO DE INSTRUMENTO. JUSTIÇA GRATUITA.


INDEFERIMENTO DA GRATUIDADE PROCESSUAL. AUSÊNCIA
DE FUNDADAS RAZÕES PARA AFASTAR A BENESSE.
CONCESSÃO DO BENEFÍCIO. CABIMENTO. Presunção relativa
que milita em prol da autora que alega pobreza. Benefício que não
pode ser recusado de plano sem fundadas razões. Ausência de
indícios ou provas de que pode a parte arcar com as custas e
despesas sem prejuízo do próprio sustento e o de sua família.
Recurso provido. (TJ-SP 22234254820178260000 SP 2223425-
48.2017.8.26.0000, Relator: Gilberto Leme, Data de Julgamento:
17/01/2018, 35ª Câmara de Direito Privado, Data de Publicação:
17/01/2018)

AGRAVO DE INSTRUMENTO. GRATUIDADE DA JUSTIÇA.


CONCESSÃO. Presunção de veracidade da alegação de
insuficiência de recursos, deduzida por pessoa natural, ante a
inexistência de elementos que evidenciem a falta dos pressupostos
legais para a concessão da gratuidade da justiça. Recurso provido.
(TJ-SP 22259076620178260000 SP 2225907-66.2017.8.26.0000,
Relator: Roberto Mac Cracken, 22ª Câmara de Direito Privado, Data
de Publicação: 07/12/2017)

A assistência de advogado particular não pode ser parâmetro ao


indeferimento do pedido:

AGRAVO DE INSTRUMENTO. PEDIDO DE GRATUIDADE DE


JUSTIÇA. CONCESSÃO DO BENEFÍCIO. HIPOSSUFICIÊNCIA.
COMPROVAÇÃO DA INCAPACIDADE FINANCEIRA. REQUISITOS
PRESENTES. 1. Incumbe ao Magistrado aferir os elementos do
caso concreto para conceder o benefício da gratuidade de justiça
aos cidadãos que dele efetivamente necessitem para acessar o
Poder Judiciário, observada a presunção relativa da declaração de
hipossuficiência. 2. Segundo o § 4º do art. 99 do CPC, não há
impedimento para a concessão do benefício de gratuidade de
Justiça o fato de as partes estarem sob a assistência de advogado
particular. 3. O pagamento inicial de valor relevante, relativo ao
contrato de compra e venda objeto da demanda, não é, por si só,
suficiente para comprovar que a parte possua remuneração elevada
ou situação financeira abastada. 4. No caso dos autos, extrai-se que
há dados capazes de demonstrar que o Agravante, não dispõe, no
momento, de condições de arcar com as despesas do processo sem
desfalcar a sua própria subsistência. 4. Recurso conhecido e
provido. (TJ-DF 07139888520178070000 DF 0713988-
85.2017.8.07.0000, Relator: GISLENE PINHEIRO, 7ª Turma Cível,
Data de Publicação: Publicado no DJE : 29/01/2018)

Assim, considerando a demonstração inequívoca da necessidade da


parte Requerente, tem-se por comprovada sua necessidade, fazendo jus ao
benefício.

Cabe destacar que o a lei não exige atestada miserabilidade da


parte requerente, sendo suficiente a "insuficiência de recursos para pagar as
custas, despesas processuais e honorários advocatícios"(Art. 98, CPC/15),
conforme destaca a doutrina:

"Não se exige miserabilidade, nem estado de necessidade, nem


tampouco se fala em renda familiar ou faturamento máximos. É
possível que uma pessoa natural, mesmo com bom renda
mensal, seja merecedora do benefício, e que também o seja
aquela sujeito que é proprietário de bens imóveis, mas não
dispõe de liquidez. A gratuidade judiciária é um dos
mecanismos de viabilização do acesso à justiça; não se pode
exigir que, para ter acesso à justiça, o sujeito tenha que
comprometer significativamente sua renda, ou tenha que se
desfazer de seus bens, liquidando-os para angariar recursos e
custear o processo." (DIDIER JR. Fredie. OLIVEIRA, Rafael
Alexandria de. Benefício da Justiça Gratuita. 6ª ed. Editora
JusPodivm, 2016. p. 60)

Por tais razões, com fulcro no artigo 5º, LXXIV da Constituição


Federal e pelo artigo 98 do CPC, requer seja deferida a gratuidade de justiça
ao requerente.

2. DOS FATOS

A Autora requereu, junto à Autarquia Previdenciária, a concessão de


benefício auxílio-doença (DER em 23/07/2020), que foi indeferido pelo seguinte
motivo: “não apresentação ou não conformação dos dados contidos no
atestado médico ”.

Ocorre que o atestado médico apresentado preenche todos os


requisitos exigidos pela Portaria Conjunta SEPRT/INSS nº 47 de 21/08/2020.
Logo, infundado e ilegal o indeferimento do pedido ao benefício realizado pela
parte Autora.

Cabe salientar que a segurada à época do pedido administrativo


estava incapacitada em virtude de problemas em sua gestação. Além disso, é
cediço que o ano de 2020 o mundo se deparou com uma pandemia do covid-
19. E que até os dias atuais estamos buscando maneiras e formas de enfrentá-
lo.

Com isso, a parte Autora foi afastada de seu labor por 120 dias,
conforme descrito no relatório médico devido a problemas em sua gestação e
por estar inclusa no grupo de risco para agravamento do coronavírus.
Diante do exposto, a parte Autora tem maior guarida legal, inclusive
no que consta à carência (verificar na CTPS e CNIS se possui carência, pois
não consta as referidas documentações), conforme se demonstrará
posteriormente. Nesta senda, seria devido à Autora o benefício por
incapacidade, eis que satisfeitos os requisitos relativos ao mesmo.

Sendo assim, recorre à via Judicial para que lhe seja reparado o
dano que lhe fora causado em sede administrativa.

3. DOS FUNDAMENTOS DE MÉRITO

3.1 DO BENEFÍCIO PREVIDENCIÁRIO AUXÍLIO-DOENÇA/ DA


COBRANÇA DOS VALORES NÃO PAGOS

Afirma a parte Autora que preenche todos os requisitos que


autorizam a concessão do benefício de auxílio-doença, porquanto, não possuía
condições para executar atividades laborativas no período que antecedeu o
parto.

A Autarquia previdenciária alegou no processo administrativo o


seguinte motivo para o indeferimento do auxílio-doença:

[imagem ilustrativa]

A parte Autora anexou a Autarquia o seguinte relatório médico:

[imagem ilustrativa]

Verifica-se que o atestado apresentado contém TODOS os


requisitos exigidos pela Portaria. O atestado está legível e sem rasuras,
contém assinatura e carimbo do profissional, contém informações da
doença e a CID. Assim, não há motivo algum para que a Autarquia
Previdenciária tenha indeferido o benefício da parte Autora.
Ressalta-se que as MP’s 927/2020 e 936/2020 determinaram as
medidas trabalhistas e o Programa Emergencial de Manutenção do Emprego e
da Renda a ser adotado durante o estado de calamidade pública, decorrente
do Coronavírus.

Com efeito, dentre estas medidas, o isolamento social foi uma das
principais adotada pelo Governo, como forma de bloqueio da disseminação da
doença.

Todavia, como se sabe, o isolamento social gera o afastamento


quase que obrigatório dos empregados dos seus postos de trabalho.

Neste sentido, o Ministério da Saúde, através da Nota Técnica


COES MINAS COVID-19 Nº 19/2020 (de 01/04/2020), incluiu no grupo de
risco do Covid-19, a partir de abril/2020, as gestantes e puérperas, mães
de recém-nascidos com até 45 dias de vida.

De acordo com o Ministério da Saúde, as gestantes e as puérperas


são mais suscetíveis a infecções em geral. Por isso, a decisão de incluí-las
baseou-se em estudos e conhecimentos já consolidados sobre a atividade de
outros coronavírus e do vírus da gripe comum.

Contudo, as medidas provisórias acima mencionadas não


estabelecem nenhuma garantia de emprego diferenciada, às empregadas
gestantes, além da garantia já citada acima (art. 10, II, “a”, do ADCT).

Tampouco, estabeleceram qualquer tipo de afastamento


remunerado.

Dessa forma, não há nenhuma norma que estabeleça o afastamento


remunerado da empregada gestante durante o estado de calamidade pública
(Covid-19), salvo se:
- houver algum atestado médico comprovando a necessidade de
afastamento por auxílio-doença, situação em que o empregador
pagará apenas os 15 primeiros dias, sendo a empregada afastada
pelo INSS a partir do 16º dia;

- a empregada exercer atividade em local insalubre


(independentemente do grau), tendo em vista que no julgamento da
Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) 5938, o STF declarou
inconstitucional o trecho do art. 394-A, incisos I e II (incluído pela
Reforma Trabalhista), no texto que diz “quando apresentar atestado
de saúde, emitido por médico de confiança da mulher”.

Assim, como a parte Autora possui atestado informando o


afastamento de seu labor por mais de 120 dias em decorrência de
incapacidade, fará jus ao recebimento do auxílio-doença.

Foi necessário surgir o Projeto de Lei nº 3932/2020 que dispõe


sobre o afastamento da empregada gestante das atividades de trabalho
presencial durante o estado de calamidade pública reconhecido pelo Decreto
Legislativo nº 6, de 20 de março de 2020. Contudo, não foi votado pelo Senado
Federal até o presente momento.

Cumpre salientar que a parte Autora além dos requisitos exigidos


acima, também preenche todos os demais requisitos necessários para a
concessão do benefício, eis que, através do extrato do CNIS em anexo,
comprova-se que verteu contribuições nos meses anteriores à data de entrada
do requerimento, mantendo a qualidade de segurada. (verificar a referida
documentação para averiguar se possui as contribuições, devido à falta de
subsídios documentais)

Já com relação a carência é dispensada no caso em tela, eis que a


Autora passou por complicações em sua gestação (verificar se houve
complicação no parto ou outros laudos médicos que informem as
complicações). Desta maneira, conforme o artigo 26, II, do referido diploma
legal, a Requerente tem dispensado o cumprimento de carência. Note-se:

Art. 26. Independe de carência a concessão das seguintes


prestações:

I - pensão por morte, auxílio-reclusão, salário-família e auxílio-


acidente;

II - auxílio-doença e aposentadoria por invalidez nos casos de


acidente de qualquer natureza ou causa e de doença profissional ou
do trabalho, bem como nos casos de segurado que, após filiar-se
ao Regime Geral de Previdência Social, for acometido de
alguma das doenças e afecções especificadas em lista
elaborada pelos Ministérios da Saúde e do Trabalho e da
Previdência Social a cada três anos, de acordo com os critérios
de estigma, deformação, mutilação, deficiência, ou outro fator
que lhe confira especificidade e gravidade que mereçam
tratamento particularizado;

Neste mesmo sentido, já decidiu o Tribunal Regional Federal, bem


como a Turma Regional de Uniformização, ambos da 4ª Região:

PREVIDENCIÁRIO. AUXÍLIO-DOENÇA. GESTANTE. CARÊNCIA.


DESNECESSIDADE. CONCESSÃO DO BENEFÍCIO. 1. A gestante
tem proteção previdenciária especial garantida pela Constituição
Federal. Nessa linha o artigo 7º, inciso XVIII, da Constituição
Federal, assegura licença à gestante, sem prejuízo do emprego e do
salário, e o artigo 10, II, b, do mesmo Diploma, assegura
estabilidade à empregada gestante, desde a confirmação da
gravidez até cinco meses após o parto. 2. Assim, à vista da proteção
que a Constituição dá à gestante e também à criança (artigo 227 da
CF), a despeito de a situação não estar expressamente
contemplada no artigo 151 da Lei 8.213/91 e na Portaria
Interministerial MPAS/MS 2.998, de 23/08/2001, não pode ser
exigida a carência para a concessão de auxílio-doença à
gestante, mormente em se tratando de complicações
decorrentes de seu estado, pois induvidosa a presença de fator
que confere "especificidade e gravidade" e que esteja a
recomendar "tratamento particularizado", certo que o rol de
situações que dispensam a carência previsto no inciso II do
artigo 26 da Lei 8.213/91 não foi estabelecido numerus clausus.
3. Comprovada a existência de impedimento para o trabalho, é de
ser reconhecido o direito ao benefício por incapacidade. (TRF4, AC
0012512-56.2011.404.9999, Quinta Turma, Relator p/ Acórdão
Ricardo Teixeira do Valle Pereira, D.E. 12/04/2012)

PREVIDENCIÁRIO. AUXÍLIO-DOENÇA. GRAVIDEZ DE RISCO.


DOENÇA ESPECÍFICA E GRAVE. DESNECESSIDADE DE
CUMPRIMENTO DE CARÊNCIA. ART. 26, II, LEI 8.213/91. 1.
Embora o laudo pericial indique a aptidão da parte autora para o
trabalho, faz menção a sangramento gestacional de primeiro
trimestre, o que indica gravidez de risco, doença grave e específica
e que necessita de tratamento e acompanhamento particularizados.
2. O art. 26, II da Lei 8.213/91 dispensa de carência a concessão
de auxílio-doença ao segurado que, após filiação, seja
acometido de doença grave e que mereça tratamento
particularizado, como no caso dos autos. (IUJEF 5005365-
27.2012.404.7001, Segunda Turma Recursal do PR, Relatora p/
Acórdão Ana Carine Busato Daros, julgado em 11/12/2012)

PREVIDENCIÁRIO. RECURSO INOMINADO. AUXÍLIO-DOENÇA.


GRAVIDEZ DE RISCO. PROTEÇÃO À MATERNIDADE. DISPENSA
DO CUMPRIMENTO DE CARÊNCIA. APLICAÇÃO DO ART. 26, II,
DA LEI 8.213/91. 1. Embora a gravidez de risco e a
possibilidade de aborto não estejam listados expressamente
como causa de dispensa de carência, os casos em que se exija
tratamento particularizado à gestante têm garantida a cobertura
pela Previdência Social, independentemente do cumprimento
de carência, por aplicação do art. 26, inciso II, da Lei nº
8.213/91, parte final. 2. A Constituição Federal, em capítulo
próprio, assegura especial proteção à família, criança, adolescente e
idoso, o que empresa razoabilidade a interpretação do dispositivo
citado. (IUJEF 5003253-04.2011.404.7007, Terceira Turma
Recursal do PR, Relatora p/ Acórdão Flávia da Silva Xavier, julgado
em 12/11/2012)

Portanto, plenamente satisfeitos os requisitos necessários para a


concessão do benefício, quando da entrada do requerimento, sendo devido o
benefício desde então.

4. DA INDENIZAÇÃO DO DANO MORAL

Como já foi suficientemente referido, o requerimento administrativo


do benefício foi INJUSTIFICADAMENTE e ARBITRARIAMENTE indeferido, eis
que a Autora preenchia todos os requisitos indispensáveis à concessão de
auxílio-doença.

Perceba-se que a conduta adotada pelo INSS prejudicou


sobremaneira a Sra. _________, (informar as condições da incapacidade, se
houve dificuldade financeira durante o período da pandemia e dentre outros
problemas que surgiram neste período). Nesse sentido, o erro do INSS causou
graves prejuízos à Sra. ______________, eis que privada de prestação de
CARÁTER ALIMENTAR!!!

Portanto, a conduta do INSS foi ILÍCITA e a lesão imposta à


Demandante deve ser reparada, pois gerou enorme abalo substancial em sua
esfera moral e material, uma vez que não pode receber a benesse, ainda que
preencha todos os requisitos para tanto.

Sobre o dano moral em casos como o epigrafado, veja-se a decisão


do Superior Tribunal de Justiça, de que é lesão in re ipsa:

PREVIDENCIÁRIO. RESPONSABILIDADE CIVIL. CESSAÇÃO


INDEVIDA DE AUXÍLIOACIDENTE POR ERRO NA
IDENTIFICAÇÃO DO ÓBITO DE HOMÔNIMO DO BENEFICIÁRIO.
DANO MORAL IN RE IPSA. DIVERGÊNCIA JURISPRUDENCIAL.
NÃO OCORRÊNCIA. SÚMULA 83/STJ. 1. A irresignação do INSS
se restringe, basicamente, ao entendimento perfilhado pelo acórdão
de origem de que a cessação indevida do benefício
previdenciário implicaria dano moral in re ipsa, apontando
divergência jurisprudencial em relação a precedentes do Tribunal
Regional Federal da 4ª Região em que se exigira a prova do dano
moral para autorizar sua indenização. 2. Não obstante o
posicionamento dissonante entre os arestos colacionados pelo
recorrente, o Superior Tribunal de Justiça já teve oportunidade de
dispensar a prova do sofrimento psicológico em inúmeros situações,
a exemplo da inscrição indevida em cadastro de inadimplentes
(AgRg no AREsp 331.184/RS, Rel. Ministro João Otávio de
Noronha, Terceira Turma, DJe 5/5/2014), da suspensão indevida do
fornecimento de água por débitos pretéritos (AgRg no AREsp
484.166/RS, Rel. Ministro Napoleão Nunes Maia Filho, Primeira
Turma, DJe 8/5/2014), do protesto indevido de título (AgRg no
AREsp 444.194/SC, Rel. Ministro Sidnei Beneti, Terceira Turma,
DJe 16/5/2014), da recusa indevida ou injustificada, pela operadora
de plano de saúde, em autorizar a cobertura financeira de
tratamento médico a que esteja legal ou contratualmente obrigada
(AgRg no AREsp 144.028/SP, Rel. Ministro Marco Buzzi, Quarta
Turma, DJe 14/4/2014), entre outros. 3. No caso concreto, o
acórdão de origem traz situação em que o INSS suspendeu o
auxílio-doença em virtude da equivocada identificação do óbito de
homônimo do autor. Nessas circunstâncias, é presumível o
sofrimento e a angústia de quem, de inopino, é privado da sua
fonte de subsistência mensal, e, no caso, o benefício
previdenciário decorre de auxílio-acidente. 4. Agravo Regimental
não provido. [AgRg no AREsp 486.376/RJ, Rel. Ministro HERMAN
BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em 10/06/2014, DJe
14/08/2014]

Logo, o caso epigrafado apresenta a semelhança em relação ao


caso exposto de que, sem motivo justo e razoável, o INSS causou sofrimento e
angústia à Sra. _____________, bem como privou-a de sua fonte de
subsistência mensal, fazendo com que ela dependa da ajuda de familiares para
manter suas necessidades básicas.

Assim, não paira dúvida de que houve dano à esfera moral da


Autora, que arbitraria e ilicitamente foi vitimada pela conduta reprovável da
Autarquia Previdenciária que INCORREU EM ERRO ao indeferir o benefício
sem que tivesse elementos para tanto.

Por oportuno, cabe ressaltar que da SIMPLES LEITURA tanto do


relatório/atestado apresentado pelo médico idôneo quanto o extrato CNIS da
Sra. ________________ se infere o preenchimento dos requisitos genéricos a
concessão do benefício de auxílio-doença.

Desse modo, o equívoco do INSS deixou a Demandante sem


condições de manter a sua própria dignidade e autonomia, eis que eivada de
estar inserida no grupo de risco para o agravamento da covid-19 (caso à parte
Autora esteja com gravidez de risco informar) e incapaz para desempenhar
atividades laborativas, não podendo manter sua subsistência básica.
Nesse contexto, Rui Stoco estabelece uma dupla função do dano
moral:

“Segundo nosso entendimento a indenização da dor moral há de


buscar duplo objetivo: Condenar o agente causador do dano ao
pagamento de certa importância em dinheiro, de modo a puni-lo,
desestimulando-o da prática futura de atos semelhantes, e, com
relação à vítima, compensá-la pela perda que se mostrar irreparável
e pela dor e humilhação impostas, com uma importância mais ou
menos aleatória. ”

Ou seja, o dano moral possui uma dupla finalidade: punir o agente


causador do dano e compensar a vítima pelo prejuízo sofrido. Nesse
seguimento, Sérgio Cavalieri Filho ensina sobre a função punitivo do dano
moral que:

“...não se pode ignorar a necessidade de se impor uma pena ao


causador do dano moral, para não passar impune a infração e,
assim, estimular novas agressões. A indenização funcionará
também como uma espécie de pena privada em benefício da vítima.

Assim, no entendimento dos ilustres doutrinadores, o dano moral


possui esta dupla face: de um lado busca reparar o dano sofrido pela vítima e
por outro buscar punir o infrator e desestimular que este venha a repetir o
ilícito. No caso em tela, percebe-se claramente a lesão causada pelo INSS à
Sra. ___________________ ao deixar a mesma desprovida de sua verba
previdenciária, afetando diretamente o núcleo essencial dos seus direitos
fundamentais.

Nesse diapasão, pede-se vênia para transcrever o §s 1º e 2º do art.


100 da Constituição Federal:
 §1º Os débitos de natureza alimentícia compreendem aqueles
decorrentes de salários, vencimentos, proventos, pensões e suas
complementações, benefícios previdenciários e indenizações por
morte ou por invalidez, fundadas em responsabilidade civil, em
virtude de sentença judicial transitada em julgado, e serão pagos
com preferência sobre todos os demais débitos, exceto sobre
aqueles referidos no § 2º deste artigo. (Redação dada pela Emenda
Constitucional nº 62, de 2009).

§2º Os débitos de natureza alimentícia cujos titulares tenham 60


(sessenta) anos de idade ou mais na data de expedição do
precatório, ou sejam portadores de doença grave, definidos na
forma da lei, serão pagos com preferência sobre todos os demais
débitos, até o valor equivalente ao triplo do fixado em lei para os fins
do disposto no § 3º deste artigo, admitido o fracionamento para essa
finalidade, sendo que o restante será pago na ordem cronológica de
apresentação do precatório. (Redação dada pela Emenda
Constitucional nº 62, de 2009). (grifado)

Excelência, a Lei Maior não poderia ser mais oportuna ao erigir os


benefícios previdenciários ao status de verba de natureza alimentícia, ou seja,
que possui como fundamento a subsistência da pessoa humana e como
consequência a salvaguarda de sua dignidade.

Diante deste quadro, não se pode relativizar a indiscutível falha na


prestação estatal do direito social-fundamental da Demandante. O Estado
enquanto instituição destinada a prover direitos fundamentais, dentre os quais
o direito social à seguridade social, não pode buscar se esquivar de sua
obrigação constitucional de proteção dos grupos sociais que mais precisam de
sua prestação.

Portanto, é dever do Poder Judiciário condenar o Instituto de


Previdência do Estado do Rio Grande do Sul em indenizar a Demandante, na
proporção da lesão sofrida, de modo que o valor seja suficiente para reparar o
dano e prevenir a ocorrência de novos ilícitos por parte da instituição.

Ademais, tendo em vista que: 1) a INCAPACIDADE LABORATIVA


da Autora é INCONTROVERSA, eis que foi afastada de seu labor por estar
incluída no grupo de risco do agravamento da COVID-19 e de tratamento
particularizado; 2) a Autora necessitou afastar de seu labor e sem condições
alguma de prover suas necessidades básicas alimentares, tanto o próprio
quanto do feto que está gerando, sem condições de manter sua dignidade, eis
que privada da prestação de CARÁTER ALIMENTAR a que faz jus 3) o
indeferimento do benefício de auxílio-doença foi IMOTIVADO, INJUSTIFICADO
e ILEGAL, eis que a Autora logrou comprovar o preenchimento de todos os
requisitos 4) a Autora sofreu prejuízos em face de ERRO da Autarquia
Previdenciária, sendo imperiosa a indenização da Sra. _____________ pelos
danos morais sofridos.

5. DA AUDIÊNCIA DE CONCILIAÇÃO OU MEDIAÇÃO

Diante da ineficácia administrativa em solucionar o problema da


parte Autora, vem manifestar, em cumprimento ao art. 319, inciso VII do
CPC/2015, que não há interesse na realização de audiência de conciliação ou
de mediação.

6.DA TUTELA DE URGÊNCIA

O NCPC dispõe em seu artigo 300, § 2º a tutela de urgência:

Art. 300.  A tutela de urgência será concedida quando houver


elementos que evidenciem a probabilidade do direito e o perigo de
dano ou o risco ao resultado útil do processo.

[...]
§ 2 o A tutela de urgência pode ser concedida liminarmente ou após
justificação prévia

Os fatos declinados ensejam o deferimento da medida cautelar


pleiteada, eis que presentes os requisitos autorizadores de sua concessão, ou
seja:

O FUMUS BONI IURIS, que se resume na plausibilidade da


existência do direito invocado por um dos sujeitos da relação jurídico-material,
ou seja, na possibilidade que a tese por ele defendida venha a ser sufragada
pelo judiciário; no caso concreto, onde há provas materiais que demonstram
que a Autora está incapaz para o labor e estava grávida e inserida no grupo de
risco para o agravamento da covid-19. Contudo, a Autarquia Previdenciária de
forma ilegal, imotivada e injustificada alegou que os documentos anexados não
estavam de acordo com o descrito com a Portaria Conjunta SEPRT/INSS nº 47
de 21/08/2020, sendo que é totalmente infundado tal alegação. Acarretando
prejuízos a parte Autora que está enferma e sem condições de prover o seu
sustento.

O PERICULUM IN MORA, tem-se que, em se tratando de matéria


previdenciária, a natureza alimentar do benefício é suficiente para caracterizar
o risco de dano irreparável ou de difícil reparação.

Relativamente à irreversibilidade do provimento, o princípio da


proporcionalidade autoriza a antecipação do benefício, já que a vida da Autora
é um bem que possui maior grandeza e importância que os valores a serem
pagos pela Autoridade Ré.

Ademais, a Autora em virtude de ser do grupo de risco da covid-19


ficou afastada de seu labor, e não auferiu renda alguma para custear seus
gastos relacionados à sua saúde, alimentação e dentre outros. Devido a
motivos alheios a sua vontade e por ERRO do Requerido ficou sem auferir o
benefício.
Deste modo, a parte Requerente necessita que a Autarquia conceda
o auxílio-doença indenizado para custear a própria vida.

O caráter alimentar do benefício traduz um quadro de urgência que


exige pronta resposta do Judiciário, tendo em vista que nos benefícios
previdenciários resta intuitivo o risco de ineficácia do provimento jurisdicional
final.

Isso posto, requer seja concedida TUTELA DE URGÊNCIA, com


fulcro nos artigos 497 de 300, ambos do NCPC, para a concessão do auxílio-
doença indenizado, o que deve ser reconhecido por este juízo, tendo em vista,
principalmente, os documentos anexos que comprovam a verossimilhança dos
fatos declinados nesta peça processual, bem como os requisitos necessários
para a concessão desta.

8. DOS PEDIDOS

Diante o exposto, requer à Vossa Excelência:

a) Requer seja concedida TUTELA DE URGÊNCIA, com fulcro nos artigos


497 de 300, ambos do NCPC, para o fim de que seja deferida a
antecipação dos efeitos da tutela, para determinar a concessão do
auxílio-doença indenizado, tendo em vista, principalmente, os
documentos anexos que comprovam a verossimilhança dos fatos
declinados nesta peça processual, bem como os requisitos necessários
para a concessão desta, sob pena de multa diária à ser fixada;
b) A concessão do benefício da Justiça Gratuita, por ser a Autora pobre na
acepção legal do termo, nos termos do art. 98 do Código de Processo
Civil;
c) Requer que seja a ré citada para que, querendo, conteste a presente
ação no momento processual oportuno, sob pena de revelia e confissão;
d) A total procedência da presente ação, para:
i. Que seja julgado totalmente procedente o pedido para
condenar a ré a conceder o benefício de auxilio doença à
parte Autora, de forma indenizada, a partir da data da
efetiva constatação da incapacidade até a data de início
dos pagamentos do benefício de salário-maternidade;
(verificar se a parte Autora deu entrada no benefício de
salário maternidade)

ii. Pagar as parcelas vencidas e vincendas, monetariamente


corrigidas desde o respectivo vencimento e acrescidas de
juros legais e moratórios, incidentes até a data do efetivo
pagamento.

e) Pagar a título indenizatório o valor de R$ 10.000,00 (dez mil reais) à


Autora, em decorrência do sofrimento causado (dano moral) pelo
indeferimento ilícito e imotivado do benefício de auxílio-doença, nos
termos da fundamentação anterior;

f) Manifesta o desinteresse na audiência conciliatória, nos termos do Art.


319, inc. VII do CPC;

g) condenação da Ré ao pagamento dos honorários de sucumbência.

Protesta provar o alegado por todos os meios de prova em direito


admitidos e outras providências probatórias que se fizerem necessárias,
estando tudo desde já requerido.

Dá-se à causa o valor de R$ xxxxxxxxxxxxxxxxx (o cálculo do auxílio-doença


será a soma de todos os salários de contribuição do segurado, após encontrar
sua média, incidirá o coeficiente de 91%).
Nestes termos, pede e espera deferimento.

(CIDADE), 14 de January de 2023.

ADVOGADO

OAB

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