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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA 32ª VARA

CÍVEL DA COMARCA DE RECIFE PE

Processo: 0024658-90.2019.8.17.2001
Exequente: JOAO FELIPE DE LIMA FURTADO
Executado: BANCO DO BRASIL S.A

A PARTE EMBARGANTE, já devidamente qualificado nestes autos em


que figura como requerente, vem perante este D. Juízo, opor estes EMBARGOS DE
DECLARAÇÃO, nos termos dos artigos 1.022 e IV DO § 1º do artigo 489, todos do
NCPC, nos termos a seguir delineados:

I - OMISSÃO. MEDIDA CAUTELAR DE PROTESTO. PREVISÃO LEGAL.


LEGITIMIDADE DO MPDFT.

 MEDIDA CAUTELAR DE PROTESTO; INCISO II DO ARTIGO 202 E


ARTIGO 203, TODOS DO CÓDIGO CIVIL.

Excelência, pedindo-se todas as vênias, convém manejar o presente


recurso de embargos de declaração ante a omissão verificada na respeitável
decisão proferida.
Nesse sentido, cumpre indicar que não foi levado a cabo o total
enfrentamento acerca das disposições normativas contidas no inciso II do artigo
202 e artigo 203, ambos do CC, levando em conta que não se considera
fundamentada qualquer decisão judicial que deixe de enfrentar todos os
argumentos deduzidos, nos termos do inciso IV do § 1º do artigo 489, este do
NCPC.
Diz o artigo 202, em seu inciso II que: “Art. 202. A interrupção da
prescrição, que somente poderá ocorrer uma vez, dar-se-á: II - por protesto, nas
condições do inciso antecedente;”
Por sua vez, o artigo 203: “Art. 203. A prescrição pode ser
interrompida por qualquer interessado.”
As disposições acima transcritas não foram inteiramente analisadas, o
que pode levar a resultado diverso daquele preferido em decisão.
O argumento do executado de que, caso seja acatada a matéria da
interrupção do protesto, estar-se-ia ofendendo a segurança jurídica, ante a
perpetuação dos direitos, não deve prosperar haja vista o Código Civil reconhecer a
possibilidade da interrupção, como é o caso do protesto, por uma única vez, de
modo que resta impossibilitada a realização de um novo protesto, ou qualquer
outra causa de interrupção. (artigo 202, caput).
E, como visto, o seguinte artigo 203 menciona que qualquer interessando
poderá fazê-lo.
Como já indicado na peça pórtico destes autos, em 24/09/2014 a 1ª
Promotoria de Justiça de Defesa do Consumidor (Prodecon)  - MPDFT MINISTERIO
PUBLICO DO DISTRITO FEDERAL E TERRITORIOS propôs Medida Cautelar de
Protesto contra o BANCO DO BRASIL S/A requerendo a interrupção da

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prescrição para a propositura de Ação de Liquidação/Execução de Sentença,
referente à Ação Civil Pública n° 1998.01.1.016798-9, ajuizada pelo Idec em face
do Banco do Brasil.
O Despacho proferido em 03/10/2014 nos autos da Medida Cautelar de
Protesto (fls.79/104 dos autos do processo 2014.01.1148561-3) interrompeu assim
o prazo prescricional: “Expeça-se mandado de notificação ao réu quanto a
medida cautelar com o objetivo específico de interrupção da prescrição”.

 LEGITIMIDADE DO MPDFT. DISTINÇÃO DO CASO CONCRETO COM O


RESP N. 1.273.643/PR. DOUTRINA DO MINISTRO Teori Albibo Zavascki.

Outrossim, cumpre também mencionar, data vênia, que o caso concreto


se distingue do paradigma do RESP N. 1.273.643/PR, apontado no Acórdão
embargado, pois a pretensão executiva em debate está amparada pela interrupção
da prescrição em razão do ajuizamento da medida cautelar de protesto, fato que
não se verifica na “decisão-quadro” ora apontada.
É fato incontroverso que a regra para o exercício do direito de executar é
de 05 anos; todavia, registre-se, no caso concreto, tal prazo fora interrompido
diante do manejo da cautelar de protesto proposta pelo MPDFT, o que torna este
processo nitidamente distinto daquele outro.
A legitimidade do MPDFT para promover a Medida Cautelar de Protesto
em defesa do direito individual homogêneo tem previsão legal nos arts.82, inciso I,
83, com concretude também firmada na alínea c, do inciso VII, do artigo 6º da Lei
Complementar nº 75/1993.
Todavia, a controvérsia do caso em destaque, é saber se ultrapassado
a fase de conhecimento da Ação Civil Pública o Ministério Público teria
legitimidade para manejar demanda em favor dos consumidores atingidos
pela sentença coletiva ? O Julgamento desse feito cinge-se a essa resposta.
O ratio decidendi da decisão atacada apenas registra que o Ministério
Público não teria legitimidade para propor a Medida Cautelar de Protesto nº
2014.01.1148561-3 com a finalidade de obter a “interrupção do prazo prescricional
acerca das futuras e possíveis ações executivas e/ou cumprimentos de sentença
dos poupadores, os quais são, de fato, os legitimados para tanto”.
Mas, como visto, data vênia, o Acórdão embargado não disse o porquê
desse impedimento.
A legitimidade do Ministério Público para proposição de demandas
coletivas tem por escopo a defesa da tutela dos interesses sociais e individuais
homogêneos, como substituto processual.
Não há dúvida que o Ministro Teori Zavascki era um estudioso do direito
processual civil, em especial do direito coletivo, tanto é que, Fredie Diddier Jr faz
citação do brilhante voto proferido no RE 631.111/GO1, em obiter dictum em
decisão que garantiu a legitimação do Ministério Público para a defesa dos
segurados do DPVAT, confirmando-se a aplicação da teoria num caso concreto:
CONSTITUCIONAL E PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO CIVIL
COLETIVA. DIREITOS TRANSINDIVIDUAIS (DIFUSOS E
COLETIVOS) E DIREITOS INDIVIDUAIS HOMOGÊNEOS.
DISTINÇÕES. LEGITIMAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO. ARTS.
127 E 129, III, DA CF. LESÃO A DIREITOS INDIVIDUAIS DE
DIMENSÃO AMPLIADA. COMPROMETIMENTO DE INTERESSES
1

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SOCIAIS QUALIFICADOS. SEGURO DPVAT. AFIRMAÇÃO DA
LEGITIMIDADE ATIVA. 1. Os direitos difusos e coletivos são
transindividuais, indivisíveis e sem titular determinado, sendo, por
isso mesmo, tutelados em juízo invariavelmente em regime de
substituição processual, por iniciativa dos órgãos e entidades
indicados pelo sistema normativo, entre os quais o Ministério Público,
que tem, nessa legitimação ativa, uma de suas relevantes funções
institucionais (CF art. 129, III). 2. Já os direitos individuais
homogêneos pertencem à categoria dos direitos subjetivos, são
divisíveis, tem titular determinado ou determinável e em geral são de
natureza disponível. Sua tutela jurisdicional pode se dar (a) por
iniciativa do próprio titular, em regime processual comum, ou (b)
pelo procedimento especial da ação civil coletiva, em regime de
substituição processual, por iniciativa de qualquer dos órgãos ou
entidades para tanto legitimados pelo sistema normativo. 3.
Segundo o procedimento estabelecido nos artigos 91 a 100 da
Lei 8.078/90, aplicável subsidiariamente aos direitos
individuais homogêneos de um modo geral, a tutela coletiva
desses direitos se dá em duas distintas fases: uma, a da ação
coletiva propriamente dita, destinada a obter sentença
genérica a respeito dos elementos que compõem o núcleo de
homogeneidade dos direitos tutelados (an debeatur, quid
debeatur e quis debeat); e outra, caso procedente o pedido na
primeira fase, a da ação de cumprimento da sentença
genérica, destinada (a) a complementar a atividade cognitiva
mediante juízo específico sobre as situações individuais de
cada um dos lesados (= a margem de heterogeneidade dos
direitos homogêneos, que compreende o cui debeatur e o
quantum debeatur), bem como (b) a efetivar os
correspondentes atos executórios. [...] (RE 631.111/GO, Relator
o Ministro Teori Zavascki, Tribunal Pleno, DJe 29/10/14)
Sobre esse tema, a doutrina abalizada do Ministro do STF, Teori
Albino Zavascki, em sua obra Processo Coletivo, publicada no ano do seu
trágico falecimento (2017), 7ª Ed., Revistas dos Tribunais, pg. 229, elucida
os limites de atuação do Ministério Público na defesa dos interesses individuais
homogêneos, como supedâneo teórico do RE 631.111/GO, acima transcrito,
verbis:
Mas é importante acentuar que a legitimação do Ministério Público
deve ficar restrita às medidas judiciais para tutela dos interesses
sociais e somente a elas. É apenas nesses limites, como antes se fez
ver, que se pode justificar, constitucionalmente, a atuação do
Ministério Público em demandas cujo objeto (ainda que mediata e
indiretamente) estão aqueles interesses, mas cujo objeto imediato e
direto é constituído, na verdade, de direitos individuais disponíveis.
Tais limites estão demarcados pelas linhas antes referidas, já
traçadas pelo legislador para as hipóteses de direitos homogêneos
tutelados pelo Código de Defesa do Consumidor: as demandas devem
buscar sentença genérica, que faça juízo sobre o chamado núcleo de
homogeneidade dos direitos demandados, estabelecendo a
responsabilidade do causador do dano. Incluem-se, também,
certamente, as demandas de natureza preventiva, tendentes a
evitar a ocorrência de danos e buscando o desiderato,
medidas inibitórias, tais como as previstas no art.497 do CPC.
(destaque nosso)

3
Preclaros Desembargadores, o peso dessa doutrina supracitada é
incontestável, bem como o reconhecimento de que o Ministério Público tem sim
legitimidade, inclusive, na fase executiva, para propor demandas centradas no
“núcleo de homogeneidade”, como demonstra a medida cautelar de protesto, cuja
causa de pedir teve como alcance evitar a ocorrência da prescrição da
pretensão executiva dos milhares de consumidores atingidos pela sentença
coletiva da ACP nº 1998.01.1.016798-9, ajuizada pelo IDEC em face do Banco
do Brasil (processo de origem).
Muito diferente seria se o Ministério Público propusesse a liquidação de
sentença/cumprimento de sentença, com a finalidade de individualizar o crédito,
pretensão que caberá somente ao respectivo interessado/poupador.
Então, a pedra de toque desse julgamento é entender que a natureza
jurídica da medida cautelar de protesto, por mais que tenha sido proposta na fase
de liquidação, não teve o condão de individualizar o quantum debeatur, mas apenas
proteger da ocorrência da prescrição, uma gama de consumidores/poupadores
atingidos por aquela sentença coletiva, os quais, por falta de boa-fé processual do
executado, mesmo sendo clientes/poupadores, deixaram de ser comunicados da
eficácia executiva da sentença coletiva, demonstrando-se assim sua natureza
preventiva tendente a evitar danos aos direitos individuais com dimensão coletiva 2.
É exatamente com fulcro nessa teoria estruturante do direito coletivo que
diversos Tribunais de Justiça corroboram a tese do apelante:
 TJSP
CADERNETA DE POUPANCA - EXECUCAO INDIVIDUAL - CONCESSAO DOS
BENEFICIOS DA JUSTICA GRATUITA - SUFICIENCIA DA SIMPLES
AFIRMACAO DA POBREZA PELO REQUERENTE - INTELIGENCIA DO CAPUT,
DO ARTIGO 98 C.C. O PARAGRAFO 3º, DO ARTIGO 99, AMBOS DO NOVO
CODIGO DE PROCESSO CIVIL - JULGAMENTO LIMINAR DE IMPROCEDENCIA
DO PEDIDO - DESCABIMENTO - PRESCRICAO NAO CONFIGURADA -
APLICACAO DA SUMULA Nº 150 DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL E DO
INFORMATIVO Nº 0484 DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICA - ACAO
PROPOSTA APOS O PRAZO QUINQUENAL - EXISTENCIA, TODAVIA, DE
CAUTELAR DE PROTESTO INTERRUPTIVO DO LAPSO PRESCRICIONAL
- LEGITIMIDADE ATIVA DO PARQUET PARA O AJUIZAMENTO DA
MENCIONADA MEDIDA CAUTELAR - INTELIGENCIA DA ALINEA "C",
DO INCISO VII, DO ARTIGO 6º DA LEI COMPLEMENTAR Nº 75/1993
C.C. OS ARTIGOS 82 E 83 DO CODIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR -
RECURSO PROVIDO” (TJSP. Recurso de Apelação – Proc. 1131551-
24.2016.8.26.0100. Publicado em 06/06/2017. Apelante: Jose Mamedio
Ferreira - Apelado: Banco do Brasil S/A)
(***)
EXECUÇÃO INDIVIDUAL – EXTINÇÃO – Prescrição não configurada –
Aplicação da Súmula nº 150 do Supremo Tribunal Federal e do informativo
nº 0484 do Superior Tribunal de Justiça – Ação proposta após o prazo
quinquenal – Existência, todavia, de cautelar de protesto
interruptivo do lapso prescricional – Legitimidade ativa do parquet
para o ajuizamento da mencionada medida cautelar – Inteligência
da alínea "c", do inciso VII, do artigo 6º da Lei Complementar nº
75/1993 c.c. os artigos 82 e 83 do Código de Defesa do Consumidor
– Recurso provido. . INTERESSES TRANSINDIVIDUAIS – EXPURGOS
INFLACIONÁRIOS – Julgamento com fulcro no parágrafo 3º, do artigo 1.013
do Novo Estatuto Adjetivo Civil – Eficácia erga omnes da r. sentença
proferida na ação coletiva – Desnecessidade da comprovação da associação
2
GIDI, Antonio. Coisa Julgada e litispendência em ações coletivas. P.20
4
da poupadora ao IDEC – Prescindibilidade da prévia liquidação do julgado –
A apuração do quantum debeatur depende de meros cálculos aritméticos –
Cabimento dos honorários advocatícios, no percentual de 10% (dez por
cento) sobre o montante exequendo– Incidência da Súmula nº 517 do
Superior Tribunal de Justiça – Depósito não efetuado no prazo previsto no
artigo 525 do Novo Código de Processo Civil – Recurso provido, para os fins
de desconstituir a r. sentença e julgar improcedente a impugnação ao
cumprimento da sentença (TJ-SP - APL: 10044222920168260361 SP
1004422-29.2016.8.26.0361, Relator: Carlos Alberto Lopes, Data de
Julgamento: 11/10/2016, 18ª Câmara de Direito Privado, Data de
Publicação: 14/10/2016)
 TJDF
APELAÇÃO CÍVEL. CUMPRIMENTO DE SENTENÇA. EXPURGOS
INFLACIONÁRIOS. PRESCRIÇÃO. INOCORRÊNCIA. PROTESTO.
INTERRUPÇÃO DO PRAZO. SENTENÇA CASSADA. PROVIMENTO DO
RECURSO 1. Em ação de cumprimento de sentença de ação coletiva, o
prazo prescricional é quinquenal, conforme entendimento consolidado do
Superior Tribunal de Justiça. 2. Não está prescrita a pretensão, se o
cumprimento de sentença foi ajuizado dentro do prazo
prescricional, diante da interrupção do prazo prescricional pelo
protesto. 3. Deu-se provimento ao apelo para cassar a r. sentença. (TJ-
DF - APC: 20150111328447, Relator: JOSAPHÁ FRANCISCO DOS SANTOS,
Data de Julgamento: 18/05/2016, 5ª Turma Cível, Data de Publicação:
Publicado no DJE : 23/05/2016 . Pág.: 335)
 TJMG
APELAÇÃO CÍVEL. EXECUÇÃO INDIVIDUAL DE SENTENÇA. AÇÃO
COLETIVA. EXPURGOS INFLACIONÁRIOS. PRESCRIÇÃO QUINQUENAL.
CAUTELAR DE PROTESTO. INTERRUPÇÃO DA PRESCRIÇÃO. - O
prazo prescricional para o ajuizamento de cumprimento individual
de sentença proferida nos autos de ação civil pública foi
interrompido em razão da propositura de medida cautelar de
protesto com a finalidade de interrupção do prazo prescricional
para os consumidores. (TJ-MG - AC: 10151150040658001 MG, Relator:
Alexandre Santiago, Data de Julgamento: 27/09/0016, Câmaras Cíveis /
11ª CÂMARA CÍVEL, Data de Publicação: 06/10/2016)
TJES
EMENTA APELAÇÃO CÍVEL – CUMPRIMENTO DE SENTENÇA – SENTENÇA
PROFERIDA EM AÇÃO COLETIVA – AÇÃO CIVIL PÚBLICA N.º
1998.01.1.016798-9 – 12ª VARA CÍVEL DA CIRCUNSCRIÇÃO ESPECIAL
JUDICIÁRIA DE BRASÍLIA⁄DF – PRONÚNCIA DA PRESCRIÇÃO –
PROTESTO JUDICIAL INTERRUPTIVO DA PRESCRIÇÃO AJUIZADO
EM DEPENDÊNCIA À AÇÃO CIVIL PÚBLICA – SUSPENSÃO DO FEITO
DETERMINADO PELO COLENDO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA (STJ) –
SENTENÇA ANULADA – RECURSO CONHECIDO E PROVIDO. 1 – O
Ministério Público do Distrito Federal e dos Territórios, com o
objetivo de interromper a prescrição para os poupadores
brasileiros, ou seus sucessores, a fim de que promovam a
liquidação⁄execução da sentença da Ação Civil Pública nº
1998.01.1.016798-9, ajuizada pelo IDEC contra o Banco do Brasil
SA¿, ajuizou ação cautelar de protesto na 12ª Vara Cível da
Circunscrição Especial Judiciária de Brasília⁄DF. 2 – Com a
interrupção da prescrição, anula-se a Sentença na qual o Juiz
pronunciou a prescrição da pretensão deduzida na petição inicia l,
devendo, ademais, restar observada a determinação de suspensão do feito
procedida pelo c. STJ no REsp 1.438.263⁄SP. 3 – Sentença anulada. 4 –

5
Recurso conhecido e provido. ACÓRDÃO (TJ-ES - APL:
00020183620148080056, Relator: ARTHUR JOSÉ NEIVA DE ALMEIDA, Data
de Julgamento: 15/08/2016, QUARTA CÂMARA CÍVEL, Data de Publicação:
22/08/2016)
Sendo assim, REQUER sejam enfrentadas as omissões acima indicadas,
especialmente para que seja analisadas as aplicações inciso VII do artigo 6º da
LC 75 e inciso III do artigo 129 do CF.

II DO JULGAMENTO EXTRA PETITA

Diante da decisão objurgada, conclui-se que agiu com desacerto o


Tribunal “ad quem” uma vez que não houve manifestação acerca da prescrição
no Recurso de Apelação. Sendo assim, deveria ter sido dada a oportunidade da
parte Apelante se manifestar, nos termos do artigo 10, do Novo Código de
Processo Civil, que veda a expressamente a decisão surpresa.
Ademais, o entendimento doutrinário tem se colimado com as
ponderações supra, a saber:
"Todavia, ao fixar o objeto litigioso, o autor delimita a lide, ou
seja, aquilo sobre o que o juiz deve decidir, com força de coisa
julgada uma vez que este não pode julgar extra, infra ou ultra
petita (arts. 128 e 460)." (ALVIM, Arruda - Manual de Direito
Processual Civil, 5ª edição, Editora Revista dos Tribunais - 1996,
p. 381).
A causa de pedir próxima e remota contidas na peça inicial
apresentada pela Embargante diverge totalmente da fundamentação da
Respeitável Sentença ora recorrida, configurando julgamento "extra petita".
A Lei processual é expressa ao vedar, nos arts. 141 e 492 do
CPC/2015, que o Magistrado deve decidir a lide nos limites em que foi
proposta, sendo-lhe defeso conhecer de questões não suscitadas, a cujo
respeito à lei exigir a iniciativa da parte.
Pela mesma razão, a decisão também feriu dispositivos da
Constituição Federal. Com efeito, resultaram violadas disposições pertinentes
aos princípios do devido processo legal, do contraditório e da ampla defesa,
inscritos no artigo 5°, incisos LIV e LV, da Carta Magna.
Vejamos:
AGRAVO REGIMENTAL. RECURSO ORDINÁRIO EM MANDADO DE
SEGURANÇA. DIREITO PROCESSUAL CIVIL. JULGAMENTO EXTRA
PETITA. ANULAÇÃO. RECURSO PROVIDO. RETORNO DOS AUTOS
À ORIGEM.
1. Viola os artigos 128 e 460 do Código de Processo Civil o
acórdão do Tribunal de Justiça que, a despeito da oposição de
embargos de declaração, julga questão diversa da matéria posta
a deslinde na petição inicial.
2. Reconhecida a ocorrência de julgamento extra petita, impõe-
se anulação dos acórdãos proferidos pelo Tribunal de origem,
com a devolução dos autos para que a lide seja apreciada nos
limites em que foi proposta.
3. Agravo regimental improvido. SUPERIOR TRIBUNAL DE
JUSTIÇA. AgRg no RMS 28.467/MS. Sexta Turma. Rel. Ministra
Maria Thereza De Assis Moura. j. 13/12/2011, DJe 19/12/2011.

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Conforme ensinamento da doutrina, quando a sentença, afastando-
se do pedido formulado na inicial, concede providência diversa da que foi
requerida, é considerada extra petita, e deve, por consequência, ser anulada.
Assim sendo resta demonstrada que deve ser julgada como nula por
acarretar em cerceamento de defesa da parte Embargante, o que gera riscos
irreparáveis ao resultado útil do processo.

III – DO PEDIDO

Por tudo quanto acima exposto, REQUER sejam os presentes embargos


de declaração CONHECIDOS e integralmente PROVIDOS, para, sanando as
omissões aqui apontadas seja realizado o enfrentamento das normas acima
indicadas, especialmente acerca da aplicação do inciso II do artigo 202 e
artigo 203 do Código Civil, inciso VII do artigo 6º da LC 75 e inciso III do
artigo 129, inciso III da CF, reconhecendo que a Medida Cautelar de
Protesto (fls.79/104 - autos do processo 2014.01.1148561-3) tutelou
direitos individuais homogêneos ao evitar o prejuízo de diversos
consumidores/poupadores, fato que a distingue nitidamente de uma
pretensão de execução individual.

Nestes termos,
Pede deferimento.

Recife/PE, terça-feira, 28 de março de 2023.

Evandro José Lago


OAB/PE 1253-A

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