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PREFÁCIO

Foi com muita alegria que recebi o convite para prefaciar a


obra de Leonardo Oliveira Silveira Santos Martins, fruto de
sua tese de doutorado defendida perante o Programa de Pós-
Graduação em Direito da Universidade Estácio, intitulada
“Os Sistemas de Demandas Repetitivas para Tutela de
Direitos Transindividuais e Individuais Homogêneos: limites
para o consenso”.

Essa obra contempla duas questões contemporâneas que vem


desafiando legisladores e operadores do direito.

A primeira diz respeito à consolidação do sistema de tutela


de direitos coletivos, abrangendo ambas as espécies:
transindividuais (por meio do ajuizamento de ações
coletivas reguladas em leis extravagantes) e
plurindividuais (por meio da instauração de incidentes de
julgamentos repetitivos, previstos no CPC).

A compreensão de que há hoje no Brasil um sistema bivalente


para a proteção dos direitos meta-individuais é
absolutamente fundamental, dentro da lógica preconizada
pelo CPC/2015 e que vem sendo reforçadas pelas centenas de
temas fixados pelo STJ, na forma de recurso especial
repetitivo, e pelo STF, mediante o uso reiterado dos
recursos extraordinários com repercussão geral reconhecida.

A segunda vertente desta obra está relacionada a concepção


de que soluções consensuais podem ser alcançadas tanto na
tutela individual como na coletiva, em suas duas espécies.
Aliás, a partir dessas premissas, há algumas questões que,
na prática, tendem a surgir, a partir das tentativas de
pacificação do conflito.

No âmbito das ações coletivas, um instituto que desperta


grande interesse é o denominado “compromisso de
ajustamento de conduta”, que pode ser celebrado entre o
réu e a parte autora, sendo esta o Ministério Público ou
pessoa jurídica de direito público, antes ou durante a
ação civil pública.

O nascimento desse instituto, em particular, e da tutela


coletiva, em geral, advém da constatação da inadequação do
modelo processual clássico à obtenção da tutela dos
direitos de terceira dimensão, pensados sob o prisma da
solidariedade.

Nesse contexto, voltado à proteção dos interesses


coletivos lato sensu, cuja titularidade não pertence
exclusivamente aos legitimados à propositura da ação civil
pública, surge o TAC como ferramenta conciliatória
relevante, viabilizadora do acesso à justiça consensual,
além de apta a colaborar para a desobstrução da máquina
judiciária por se evitar a propositura da ação coletiva
competente.

Na vertente dos julgamentos repetitivos, podemos figurar


diversos cenários; contudo, nesse momento, vamos nos
limitar a dois.

O primeiro envolve a realização de audiências públicas no


processo piloto (ou processo representativo da
controvérsia). Em tais momentos, é possível que as partes,
sobretudo diante das manifestações dos amigos da Corte,
visualizem possível solução consensual, mesmo que parcial.
Tal postura não impede o prosseguimento do julgamento para
fixação da tese, ao mesmo tempo em que viabiliza a
resolução adequada do caso concreto, alcançando a tão
desejada pacificação do conflito

O segundo diz respeito ao cabimento de acordo no caso das


ações individuais sobrestadas por força da instauração do
incidente fixador de tese.
Uma vez instaurada a ferramenta de julgamento repetitivo,
todos os processos pendentes devem ser suspensos (arts.
313, IV, 982, I, 1.029, § 4º, 1.035 § 5º, 1.036, § 1º, e
1.037, II).

Contudo, temos que não se pode retirar do magistrado a


incumbência de dar ao conflito a solução mais adequada.
Por isso, mesmo durante a suspensão, pensamos ser
possível a realização de audiência, até mesmo porque a
suspensão pode ser relativizada ou modulada, de acordo
com as peculiaridades do caso concreto.

Essas são apenas duas rápidas questões, dentre tantas que


podem ser suscitadas e que ilustram de forma nítida a
relevância e a utilidade dessa obra.

Parabenizo o autor pela excelência do texto, ao mesmo


tempo em que desejo uma excelente leitura a todos.

Rio de Janeiro, setembro de 2023.

Humberto Dalla Bernardina de Pinho


Desembargador no Tribunal de Justiça
do Estado do Rio de Janeiro
Professor Titular na Faculdade de Direito da UERJ

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