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DIREITOS DIFUSOS E COLETIVOS (DIREITO

PROCESSUAL COLETIVO)

TUTELA COLETIVA

Ações Coletivas: ação coletiva para a defesa de


interesses individuais homogêneos; ação coletiva
inibitória; ação coletiva passiva; ação coletiva cautelar;
ação de usucapião coletiva

1. Ações coletivas

Caro(a) leitor(a), nesta unidade estudaremos algumas espécies de ações coletivas.

As ações coletivas têm por objeto alguma providência. É preciso salientar que usaremos
o termo providência com a acepção de causa de pedir. Verifica-se, assim, a natureza
do direito tutelado pela ação coletiva.

Nos termos do art. 3º da Lei nº 7.347/1985 – Lei de Ação Civil Pública (LACP), pode-se
pedir providência para o pagamento em dinheiro ou cumprimento de uma obrigação de
fazer ou não fazer. Inclusive, no Código de Defesa do Consumidor (CDC) admite-se a
figura do pedido genérico na ação coletiva, cujo valor da indenização será objeto de
liquidação. Logo, o leque de providências no âmbito de uma ação coletiva é amplo.

Já ação popular, conforme inteligência do art. 5º, LXXIII, da Constituição Federal


(CF/1988), prevê um objeto mais restrito:

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Art. 5º (...)

LXXIII − qualquer cidadão é parte legítima para propor ação popular que vise a anular
ato lesivo ao patrimônio público ou de entidade de que o Estado participe, à
moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao patrimônio histórico e
cultural, ficando o autor, salvo comprovada má-fé, isento de custas judiciais e do ônus
da sucumbência (Grifos nossos.).

2. Ações coletivas para a defesa de interesses individuais


homogêneos

Ações coletivas para defesa de interesses individuais homogêneos consistem na


possibilidade conferida aos legitimados à tutela coletiva para que proponham, em
nome próprio e no interesse das vítimas ou seus sucessores, ação civil coletiva
de responsabilidade pelos danos individualmente sofridos (art. 91 do CDC). O
Ministério Público, se não propuser a ação, atuará obrigatoriamente como fiscal da lei
(art. 82 do CDC):

Art. 81. A defesa dos interesses e direitos dos consumidores e das vítimas poderá ser
exercida em juízo individualmente, ou a título coletivo.

Parágrafo único. A defesa coletiva será exercida quando se tratar de:

I – interesses ou direitos difusos, assim entendidos, para efeitos deste código, os


transindividuais, de natureza indivisível, de que sejam titulares pessoas indeterminadas
e ligadas por circunstâncias de fato;

II – interesses ou direitos coletivos, assim entendidos, para efeitos deste código, os


transindividuais, de natureza indivisível de que seja titular grupo, categoria ou classe
de pessoas ligadas entre si ou com a parte contrária por uma relação jurídica base;

III – interesses ou direitos individuais homogêneos, assim entendidos os decorrentes de


origem comum.

Art. 82. Para os fins do art. 81, parágrafo único, são legitimados concorrentemente:
(Redação dada pela Lei nº 9.008, de 21.3.1995.)

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I – o Ministério Público,

II – a União, os Estados, os Municípios e o Distrito Federal;

III – as entidades e órgãos da Administração Pública, direta ou indireta, ainda que sem
personalidade jurídica, especificamente destinados à defesa dos interesses e direitos
protegidos por este código;

IV – as associações legalmente constituídas há pelo menos um ano e que incluam entre


seus fins institucionais a defesa dos interesses e direitos protegidos por este código,
dispensada a autorização assemblear.

§ 1º O requisito da pré-constituição pode ser dispensado pelo juiz, nas ações previstas
nos arts. 91 e seguintes, quando haja manifesto interesse social evidenciado pela
dimensão ou característica do dano, ou pela relevância do bem jurídico a ser protegido.

(...)

Art. 91. Os legitimados de que trata o art. 82 poderão propor, em nome próprio e no
interesse das vítimas ou seus sucessores, ação civil coletiva de responsabilidade pelos
danos individualmente sofridos, de acordo com o disposto nos artigos seguintes.
(Redação dada pela Lei nº 9.008, de 21.3.1995.)

Art. 92. O Ministério Público, se não ajuizar a ação, atuará sempre como fiscal da lei.

(...)

Art. 94. Proposta a ação, será publicado edital no órgão oficial, a fim de que os
interessados possam intervir no processo como litisconsortes, sem prejuízo de ampla
divulgação pelos meios de comunicação social por parte dos órgãos de defesa do
consumidor.

Art. 95. Em caso de procedência do pedido, a condenação será genérica, fixando a


responsabilidade do réu pelos danos causados.

“Em caso de procedência do pedido, a condenação será genérica, fixando a


responsabilidade do réu pelos danos causados” (art. 95 do CDC). Nota-se, pois, que a
condenação será genérica e não cuidará das especificidades de cada um dos
consumidores titulares dos direitos individuais homogêneos.

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A liquidação e a execução da sentença poderão ser promovidas pela vítima e seus
sucessores, assim como pelos legitimados à propositura de ação coletiva (art. 97 do
CDC). Nada obsta, ainda, que a execução seja promovida de forma coletiva por algum
dos legitimados para tanto (art. 98 do CDC).

Art. 97. A liquidação e a execução de sentença poderão ser promovidas pela vítima e
seus sucessores, assim como pelos legitimados de que trata o art. 82.

Parágrafo único. (Vetado).

Art. 98. A execução poderá ser coletiva, sendo promovida pelos legitimados de que
trata o art. 82, abrangendo as vítimas cujas indenizações já tiveram sido fixadas em
sentença de liquidação, sem prejuízo do ajuizamento de outras execuções. (Redação
dada pela Lei nº 9.008, de 21.3.1995.)

§ 1° A execução coletiva far-se-á com base em certidão das sentenças de liquidação, da


qual deverá constar a ocorrência ou não do trânsito em julgado.

§ 2° É competente para a execução o juízo:

I – da liquidação da sentença ou da ação condenatória, no caso de execução individual;

II – da ação condenatória, quando coletiva a execução.

É importante esclarecer que a execução, se feita individualmente pela vítima ou seus


sucessores, poderá ter lugar em juízo distinto daquele onde foi proferida a decisão
condenatória. Poderá ser proposta tanto no juízo da ação condenatória como no juízo de
domicílio da vítima.

Nesse sentido, já decidiu o Superior Tribunal de Justiça (STJ) a possibilidade de


execução individual de ação coletiva no “foro do domicílio do beneficiário, porquanto os
efeitos e a eficácia da sentença não estão circunscritos a lindes geográficos, mas aos
limites objetivos e subjetivos do que foi decidido, levando-se em conta, para tanto,
sempre a extensão do dano e a qualidade dos interesses metaindividuais postos em
juízo” (REsp. nº 1.243.887/PR, Min. Luis Felipe Salomão, Julgado em 19.10.2011;
EREsp. nº 1.134.957/SP, rel. Min. LAURITA VAZ, CORTE ESPECIAL, julgado em
24.10.2016, DJe 30.11.2016).

Atenção!

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Por fim, esclarece-se que o prazo para os beneficiários ajuizarem as
respectivas execuções individuais da sentença coletiva é de cinco anos,
contados a partir do trânsito em julgado da ação coletiva.

3. Ação coletiva inibitória

Ação coletiva inibitória é aquela que pretende obter uma tutela jurisdicional preventiva,
ou seja, visa evitar a prática do ato lesivo. Ao contrário da ação de ressarcimento, que
objetiva recompor um dano já causado, o pedido inibitório destina-se a inibir a
efetivação ou a continuação do ilícito.

Atenção!

É importante mencionar que, conforme o disposto no parágrafo único, do


art. 497, do Código de Processo Civil (CPC/2015), “para a concessão da
tutela específica destinada a inibir a prática, a reiteração ou a
continuação de um ilícito, ou a sua remoção, é irrelevante a
demonstração da ocorrência de dano ou da existência de culpa ou dolo”.

O CDC traz previsão da ação coletiva inibitória em seu art. 102:

CDC, art. 102. Os legitimados a agir na forma deste código poderão propor ação
visando compelir o Poder Público competente a proibir, em todo o território
nacional, a produção, divulgação distribuição ou venda, ou a determinar a
alteração na composição, estrutura, fórmula ou acondicionamento de produto, cujo uso
ou consumo regular se revele nocivo ou perigoso à saúde pública e à incolumidade
pessoal. (Grifos nossos.)

Nesse caso, a ação coletiva objetiva prevenir a ocorrência de eventos danosos aos
consumidores.

Atenção!

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O art. 84, § 5º, do CDC, também traz a previsão de medidas inibitórias,
tais como a busca e apreensão, o desfazimento de obra, a remoção de
coisas e pessoas, e o impedimento de atividade nociva, além de
requisição de força policial.

A ação civil pública também admite tanto a tutela preventiva (inibitória ou de remoção
do ilícito) como a tutela repressiva. Assim, conforme previsto na LACP:

Art. 11. Na ação que tenha por objeto o cumprimento de obrigação de fazer ou não
fazer, o juiz determinará o cumprimento da prestação da atividade devida ou a cessação
da atividade nociva, sob pena de execução específica, ou de cominação de multa diária,
se esta for suficiente ou compatível, independentemente de requerimento do autor.

É possível identificar, ainda, a tutela inibitória na chamada ação popular preventiva


(tutela inibitória ou de remoção do ilícito): nessa forma, visa evitar ou afastar o ato
lesivo. Assim, há duas espécies de tutela preventiva:

a) tutela inibitória: quando o ato lesivo ainda não foi praticado, e tem o objetivo de
evitar que o ato lesivo seja praticado;

b) tutela de remoção do ilícito: quando o ato lesivo já foi praticado; e tem o objetivo
de remover/afastar o ato danoso.

Há alguns anos, havia o entendimento de que a tutela da ação popular não podia ser
preventiva, mas somente reparatória. Hoje, entende-se que a ação popular também se
presta à tutela preventiva. Fernando Fonseca Gajardoni explica que

A tutela preventiva, que é, no mais das vezes, relacionada às obrigações


de fazer e não fazer, e cuja execução, precipuamente, é feita mediante
cominações (multa), pode ser inibitória ou de remoção do ilícito. Por
tutela inibitória, entende-se a tendente a obstar (impedir) a ocorrência do
ilícito. Já a tutela da remoção do ilícito objetiva afastar (retirar) o ilícito já
praticado, tenha ele já desencadeado ou não danos indenizáveis (2012, p.
147).

Por fim, vale mencionar que a tutela inibitória pode ser positiva ou negativa, isto é,
pode consistir em uma obrigação de fazer ou de não fazer.

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4. Ação coletiva passiva

A chamada ação coletiva passiva é aquela na qual os legitimados coletivos figuram no


polo passivo da demanda, substituindo a coletividade. Assim, ao contrário da usual
legitimidade ativa coletiva, para a propositura de ações coletivas, na ação coletiva
passiva os legitimados coletivos são os demandados, os réus.

No entanto, há enorme discussão sobre tal possibilidade.

Como se sabe, as ações coletivas são promovidas por um representante (legitimado


coletivo) dos interesses de outros indivíduos ou grupo de pessoas que não figurarão
naquele processo. Conforme leciona o Professor Humberto Theodoro Júnior:

Caracterizam-se as ações coletivas pela circunstância de atuar o autor


não em defesa de um direito próprio, mas em busca de uma tutela que
beneficia toda a comunidade ou grandes grupos, aos quais compete
realmente a titularidade do direito material invocado (2016, p. 714).

As ações coletivas objetivam, portanto, a proteção do direito de uma coletividade e a


sentença proferida produzirá efeitos para esses sujeitos que não integraram a relação
jurídica processual.

A legitimação coletiva está prevista, por exemplo, no art. 5º da LACP:

LACP, art. 5º Têm legitimidade para propor a ação principal e a ação cautelar: (Redação
dada pela Lei nº 11.448, de 2007).

I – o Ministério Público; (Redação dada pela Lei nº 11.448, de 2007.)

II – a Defensoria Pública; (Redação dada pela Lei nº 11.448, de 2007.)

III – a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios; (Incluído pela Lei nº


11.448, de 2007.)

IV – a autarquia, empresa pública, fundação ou sociedade de economia mista; (Incluído


pela Lei nº 11.448, de 2007.)

V – a associação que, concomitantemente: (Incluído pela Lei nº 11.448, de 2007.)

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a) esteja constituída há pelo menos 1 (um) ano nos termos da lei civil; (Incluído pela Lei
nº 11.448, de 2007.)

b) inclua, entre suas finalidades institucionais, a proteção ao patrimônio público e


social, ao meio ambiente, ao consumidor, à ordem econômica, à livre concorrência, aos
direitos de grupos raciais, étnicos ou religiosos ou ao patrimônio artístico, estético,
histórico, turístico e paisagístico. (Redação dada pela Lei nº 13.004, de 2014.)

O CDC também elenca os legitimados coletivos para atuar na defesa dos interesses e
direitos difusos, coletivos e individuais homogêneos dos consumidores:

Assim, os legitimados coletivos atuam no polo ativo da ação coletiva, com o intuito de
proteger os direitos e interesses dos indivíduos ou grupos de indivíduos substituídos.

Diante disso, indaga-se: é possível o ajuizamento de uma ação coletiva passiva?


Isto é, podem os legitimados coletivos figurar no polo passivo de uma ação?

É certo que não há previsão legal expressa sobre essa questão, seja para
autorizar, seja para vedar a ação coletiva passiva.

Há doutrinadores que vislumbram autorização para a ação coletiva passiva no art. 5º, §
2º, da LACP, que faculta ao Poder Público e a outras associações legitimadas nos termos
desse artigo habilitar-se como litisconsortes de qualquer das partes:

LACP, art. 5º (...)

§ 2º Fica facultado ao Poder Público e a outras associações legitimadas nos termos


deste artigo habilitar-se como litisconsortes de qualquer das partes.

Esse posicionamento também defende a possibilidade de admissão dos legitimados do


art. 82 do CDC no polo passivo das lides coletivas diante das convenções coletivas de
consumo previstas no art. 107 do CDC, que, se não forem observadas, ensejam a
instauração de uma lide coletiva e, consequentemente na colocação de um dos
representantes das respectivas categorias de substituídos no polo passivo. Nesse
sentido, posicionam-se autores como Pedro Lenza, Fredie Didier Jr. e Ada Pelegrini
Grinover.

Além disso, a corrente que defende a possibilidade de ação coletiva passiva argumenta
também o fundamento genérico constante no art. 83 do CDC, bem como no art. 18 do

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CPC/2015:

CDC, art. 83. Para a defesa dos direitos e interesses protegidos por este código são
admissíveis todas as espécies de ações capazes de propiciar sua adequada e efetiva
tutela.

CPC, art. 18. Ninguém poderá pleitear direito alheio em nome próprio, salvo quando
autorizado pelo ordenamento jurídico.

Parágrafo único. Havendo substituição processual, o substituído poderá intervir como


assistente litisconsorcial.

Por outro lado, Hugo Nigro Mazzili, Humberto Theodoro Jr. e Leonardo de Medeiros
Garcia sustentam que a substituição processual pelos legitimados coletivos somente
pode ocorrer no polo ativo. Segundo essa parcela da doutrina, a atuação do substituto
processual visa somente beneficiar os sujeitos substituídos, não sendo cabível a
colocação dos legitimados coletivos no polo passivo, nem mesmo por meio de
reconvenção.

Aqueles que entendem ser impossível que os legitimados coletivos figurem no polo
passivo da demanda argumentam a ausência de regulamentação legal para isso e,
ainda, a ofensa ao contraditório, considerando a falta de defesa direta das pessoas
representadas.

Atenção!

Há julgado do STJ sustentando que “A atribuição de legitimidade ativa


não implica, automaticamente, legitimidade passiva dessas entidades
para figurarem, como rés, em ações coletivas, salvo hipóteses
excepcionais” (STJ, REsp. nº 1051302/DF, 3ª Turma, rel. Min. Nancy
Andrighi, julgado em 23.03.2010, DJe 28.04.2010 – grifos nossos).

5. Ação coletiva cautelar

As ações coletivas cautelares podem ser ajuizadas para a defesa de interesses

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transindividuais, visando assegurar um provimento futuro. A LACP traz, inclusive, a
possibilidade de cumulação entre a tutela principal e a tutela cautelar:

Art. 3º A ação civil poderá ter por objeto a condenação em dinheiro ou o cumprimento
de obrigação de fazer ou não fazer.

Art. 4º Poderá ser ajuizada ação cautelar para os fins desta Lei, objetivando, inclusive,
evitar dano ao patrimônio público e social, ao meio ambiente, ao consumidor, à honra e
à dignidade de grupos raciais, étnicos ou religiosos, à ordem urbanística ou aos bens e
direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico.

Em pureza de princípio, a verdadeira ação cautelar tem natureza instrumental


(preparatória ou incidente).

Assim, quando o art. 4º da LACP fala que poderá ser ajuizada ação cautelar
objetivando, inclusive, evitar o dano; na verdade, está se referindo a uma verdadeira
antecipação de tutela em ação principal, e não propriamente a uma ação cautelar.

Contudo, mesmo as cautelares verdadeiras e próprias podem ser ajuizadas para a


defesa de interesses transindividuais, desde que presentes os pressupostos gerais de
cautela.

Requerimento direto ao Tribunal: interposto recurso contra a sentença de primeiro


grau, a medida cautelar será requerida diretamente ao tribunal.

Limitações: por fim, ressalte-se que a Lei nº 8.437/1992 proíbe que o juiz conceda
liminares contra atos do poder público em diversos tipos de ações. A estipulação é de
constitucionalidade duvidosa e, além disso, não se aplica às ações cautelares, sendo
que somente as medidas liminares não poderão ser concedidas. A medida cautelar ao
fim do processo cautelar, sim.

Antecipação de tutela: também resta plenamente cabível a antecipação de tutela nos


processos coletivos, tanto pela correta interpretação do art. 4º da LACP (Lei nº
7.347/1985), quanto pela aplicação do § 3º do art. 84 do CDC, em razão do
microssistema coletivo.

Outro exemplo de medida cautelar em ação coletiva consiste nas cautelares


preparatórias constantes na Lei nº 8.429/1992 – Lei de Improbidade Administrativa
(LIA): indisponibilidade de bens do indiciado (art. 7º); decretação do sequestro de bens

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do agente ou de terceiro que tenha enriquecido ilicitamente ou causado danos ao
patrimônio público (art. 16); exame e o bloqueio de bens, contas bancárias e aplicações
financeiras mantidas pelo indiciado no exterior (art. 16, § 2º); afastamento do agente
público do exercício do cargo, emprego ou função (art. 20, parágrafo único).

6. Ação de usucapião coletiva

Também conhecida como prescrição aquisitiva, a usucapião é um modo originário de


aquisição da propriedade imóvel ou móvel e de outros direitos reais suscetíveis de
exercício continuado, como a servidão e o usufruto, pela posse prolongada no tempo.

A usucapião especial urbana coletiva é prevista pelo art. 10 do Estatuto da Cidade,


que teve sua redação alterada pela Lei nº 13.465/2017. O instituto tem inegável alcance
social por permitir que sejam usucapidas coletivamente áreas urbanas inferiores a 250
m², ocupadas por população de baixa renda para sua moradia por cinco anos, onde não
for possível identificar os terrenos ocupados individualmente.

O objetivo da usucapião coletiva é a regularização de assentamentos informais,


estabelecendo, assim, áreas destinadas à população carente. Vejamos o que revela a Lei
nº 10.257/2001 (Estatuto da Cidade):

Art. 10. Os núcleos urbanos informais existentes sem oposição há mais de cinco anos e
cuja área total dividida pelo número de possuidores seja inferior a duzentos e
cinquenta metros quadrados por possuidor são suscetíveis de serem usucapidos
coletivamente, desde que os possuidores não sejam proprietários de outro imóvel
urbano ou rural. (Redação dada pela lei nº 13.465, de 2017.)

§ 1º O possuidor pode, para o fim de contar o prazo exigido por este artigo, acrescentar
sua posse à de seu antecessor, contanto que ambas sejam contínuas.

§ 2º A usucapião especial coletiva de imóvel urbano será declarada pelo juiz, mediante
sentença, a qual servirá de título para registro no cartório de registro de imóveis.

§ 3º Na sentença, o juiz atribuirá igual fração ideal de terreno a cada possuidor,


independentemente da dimensão do terreno que cada um ocupe, salvo hipótese de
acordo escrito entre os condôminos, estabelecendo frações ideais diferenciadas.

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§ 4º O condomínio especial constituído é indivisível, não sendo passível de extinção,
salvo deliberação favorável tomada por, no mínimo, dois terços dos condôminos, no
caso de execução de urbanização posterior à constituição do condomínio.

§ 5º As deliberações relativas à administração do condomínio especial serão tomadas


por maioria de votos dos condôminos presentes, obrigando também os demais,
discordantes ou ausentes. (Grifos nossos.)

Neste ponto, é importante esclarecer os conceitos de núcleo urbano e núcleo urbano


informal. As definições estão no art. 11 da Lei nº 13.465/2017.

Art. 11. Para fins desta Lei, consideram-se:

I – núcleo urbano: assentamento humano, com uso e características urbanas,


constituído por unidades imobiliárias de área inferior à fração mínima de parcelamento
prevista na Lei nº 5.868, de 12 de dezembro de 1972, independentemente da
propriedade do solo, ainda que situado em área qualificada ou inscrita como rural;

II – núcleo urbano informal: aquele clandestino, irregular ou no qual não foi possível
realizar, por qualquer modo, a titulação de seus ocupantes, ainda que atendida a
legislação vigente à época de sua implantação ou regularização;

(...) (Grifos nossos.).

Dessa forma, são requisitos necessários para a usucapião coletiva:

a) presença de núcleos urbanos informais;

b) posse mansa e pacífica, sem oposição, há mais de cinco anos;

c) posse sobre unidade com área inferior a duzentos e cinquenta metros


quadrados por possuidor;

d) inexistência de propriedade de outro imóvel urbano ou rural.

Observe que o § 3º do art. 10 do Estatuto da Cidade, estabelece que, na sentença da


ação de usucapião coletiva, o juiz atribuirá igual fração ideal de terreno a cada
possuidor, independentemente da dimensão do terreno que cada um ocupe.
Essa regra somente será afastada na hipótese de haver acordo escrito entre os

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condôminos, quando será possível estabelecer frações ideais diferenciadas.

Por fim, destaque-se os legitimados para a propositura de ação de usucapião especial


urbana:

Lei nº 10.257/2001, art. 12. São partes legítimas para a propositura da ação de
usucapião especial urbana:

I – o possuidor, isoladamente ou em litisconsórcio originário ou superveniente;

II – os possuidores, em estado de composse;

III – como substituto processual, a associação de moradores da comunidade,


regularmente constituída, com personalidade jurídica, desde que explicitamente
autorizada pelos representados.

§ 1º Na ação de usucapião especial urbana é obrigatória a intervenção do Ministério


Público.

§ 2º O autor terá os benefícios da justiça e da assistência judiciária gratuita, inclusive


perante o cartório de registro de imóveis.

Atenção!

Não há autorização legal para que o MP ajuíze ação de usucapião


coletiva.

Obra coletiva do Curso Ênfase produzida a partir da análise estatística de incidência


dos temas em provas de concursos públicos.
A autoria dos e-books não se atribui aos professores de videoaulas e podcasts.
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