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Profª Me.

Tailanne Pecorelli - Direito do Consumidor

INTRODUÇÃO AO DIREITO DO CONSUMIDOR

-Breve histórico:
1. Lei Sherman anti trust 1891 – combinação de preços e monopólios
2. Organização europeia de cooperação econômica 1948
3. Importância da atuação de John Kenedy em 1962 (coletividade - saúde e segurança,
informação, escolha)
4. Princípio da vulnerabilidade do consumidor na ONU 1982
5. Código de Defesa do Consumidor 1990

- Surge por determinação do art. 48 do Atos das Disposições Finais e Transitórias da Constituição
Federal de 1988:
- Proteção Constitucional: artigos 5º, inciso XXXII; 24, inciso VIII; 150, §5º e 170, inciso V
- Norma de ordem pública e de interesse social -> Sui generis: conteúdos de direito público e
privado:
CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR~ NORMA DE ORDEM PÚBLICA~
DERROGAÇÃO DA LIBERDADE CONTRATUAL. O caráter de norma pública atribuído ao
Código de Defesa do Consumidor derroga a liberdade contratual para ajustá-la aos parâmetros da
lei [ ... ]. (STJ, REsp. 292942/MG, Rei. Min. Sálvio de Figueiredo Teixeira, DJ 07/05/2001).
- Eficácia horizontal dos direitos fundamentais:
EFICÁCIA DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS NAS RELAÇÕES PRIVADAS. As violações
a direitos fundamentais não ocorrem somente no âmbito das Relações entre o cidadão e o Estado,
mas igualmente nas relações travadas entre pessoas físicas e jurídicas de direito privado. Assim,
os direitos fundamentais assegurados pela Constituição vinculam diretamente não apenas os
poderes públicos, estando direcionados também à proteção dos particulares em face dos poderes
privados (STF, RE 201819/RJ, Rei•. Mio•. Ellen Gracie, Rei. p/ o acórdão Mio. Gilmar Mendes,
j. ll/10/2005). >
- Irretroatividade:
Conquanto o CDC seja norma de ordem pública, não pode retroagir para alcançar o contrato que
foi celebrado e produziu seus efeitos na vigência da lei anterior, sob pena de afronta ao ato jurídico
perfeito (STJ, REsp. 248155/SP, Rel .Min. Sálvio de Figueiredo Teixeira, DJ 23/05/2000).
Sendo constitucional o princípio de que a lei não pode prejudicar o ato jurídico perfeito, ele se
aplica também às leis de ordem pública. De outra parte, se a cláusula relativa à rescisão com a
perda de todas as quantias já pagas constava do contrato celebrado anteriormente ao Código de
Defesa do Consumidor, ainda quando a rescisão tenha ocorrido após a entrada em vigor deste, a
aplicação dele para se declarar nula a rescisão feita de acordo com aquela cláusula fere. sem
dúvida alguma, o ato jurídico perfeito, porquanto a modificação dos efeitos futuros de ato jurídico
perfeito caracteriza a hipótese de retroatividade mínima que também é alcançada pelo disposto
no art. 5°, XXXVI, da Carta Magna (STF, RE 205.999-4-SP, ReL Min. Moreira Alves, DJ
03/03/2000.).
- O Direito do Consumidor e a Pós-Modernidade Jurídica: O Código Brasileiro de Defesa do
Consumidor constitui uma típica norma pós-moderna, no sentido de rever conceitos antigos do
Direito Privado, tais como o contrato, a responsabilidade civil e a prescrição.
Profª Me. Tailanne Pecorelli - Direito do Consumidor

1. Globalização
2. Abundância de sujeitos e direitos – Pluralismo, comunicação e narração (double sense)
3. Hipercomplexidade
4. Era da desordem (Ricardo Lorenzetti)

a) enfraquecimento das fronteiras entre as esferas do público e do privado;


b) pluralidade das fontes, seja no Direito Público ou no Direito Privado;
c) proliferação de conceitos jurídicos indeterminados;
d) existência de um sistema aberto, sendo possível uma extensa variação de julgamentos;
e) grande abertura para o intérprete estabelecer e reconstruir a sua coerência;
f) mudanças constantes de posições, inclusive legislativas;
g) necessidade de adequação das fontes umas às outras;
h) exigência de pautas mínimas de correção para a interpretação jurídica.

- Era ou dimensão de direitos:

1ª Geração: Princípio da Liberdade.


2ª Geração: Princípio da Igualdade.
3ª Geração: Princípio da Fraternidade (pacificação social). Aqui melhor se enquadraria o Código
de Defesa do Consumidor.
4ª Geração: Proteção do patrimônio genético.
5ª Geração: Proteção de direitos no mundo digital

- Representa uma norma principiológica:


“o direito consumerista pode ser utilizado como norma principiológica mesmo que inexista
relação de consumo entre as partes litigantes porque as disposições do CDC veiculam cláusulas
criadas para proteger o consumidor de práticas abusivas e desleais do fornecedor de serviços,
inclusive as que proíbem a propaganda enganosa” (STJ – REsp 1.552.550/SP – Terceira Turma
– Rel. Min. Moura Ribeiro – j. 01.03.2016 – DJe 22.04.2016). Nos termos do voto do Ministro
Relator, “o relacionamento entre as emissoras de televisão e os telespectadores caracteriza uma
relação de consumo na medida em que elas prestam um serviço público concedido e se beneficiam
com a audiência, auferindo renda. Portanto, a emissora se submete aos princípios ditados pelo
CDC que tem por objetivo a transparência e harmonia das relações de con sumo (CDC, art. 4º),
do qual decorre o direito do consumidor de proteção contra a publicidade enganosa (CDC, art.
6º)”. Ao final, uma emissora foi condenada a indenizar a outra em R$ 500.000,00, a título de
danos morais.
- De eficácia supralegal:
Recurso extraordinário. Danos morais decorrentes de atraso ocorrido em voo internacional.
Aplicação do Código de Defesa do Consumidor. Matéria infraconstitucional. Não conhecimento.
1. O princípio da defesa do consumidor se aplica a todo o capítulo constitucional da atividade
econômica. 2. Afastam-se as normas especiais do Código Brasileiro da Aeronáutica e da
Convenção de Varsóvia quando implicarem retrocesso social ou vilipêndio aos direitos
assegurados pelo Código de Defesa do Consumidor. 3. Não cabe discutir, na instância
extraordinária, sobre a correta aplicação do Código de Defesa do Consumidor ou sobre a
incidência, no caso concreto, de específicas normas de consumo veiculadas em legislação especial
sobre o transporte aéreo internacional. Ofensa indireta à Constituição da República. 4. Recurso
não conhecido” (STF – RE 351.750-3/RJ – Primeira Turma – Rel. Min. Carlos Britto – j.
17.03.2009 – DJE 25.09.2009, p. 69).
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“Agravo regimental no agravo de instrumento. Transporte aéreo internacional. Extravio de


bagagem. Código de Defesa do Consumidor. Prevalência. Convenção de Varsóvia. Quantum
indenizatório. Redução. Impossibilidade. Dissídio não configurado. 1. A jurisprudência
dominante desta Corte Superior se orienta no sentido de prevalência das normas do CDC, em
detrimento das normas insertas na Convenção de Varsóvia, aos casos de extravio de bagagem, em
transporte aéreo internacional. 2. No que concerne à caracterização do dissenso pretoriano para
redução do quantum indenizatório, impende ressaltar que as circunstâncias que levam o Tribunal
de origem a fixar o valor da indenização por danos morais são de caráter personalíssimo e levam
em conta questões subjetivas, o que dificulta ou mesmo impossibilita a comparação, de forma
objetiva, para efeito de configuração da divergência, com outras decisões assemelhadas. 3.
Agravo regimental a que se nega provimento” (STJ – AgRg-Ag 1.278.321/SP – Terceira Turma
– Rel. Des. Conv. Vasco Della Giustina – j. 18.11.2010 – DJe 25.11.2010).
“Agravo regimental. Recurso especial. Extravio de bagagem. Indenização ampla. Código de
Defesa do Consumidor. 1. É firme a jurisprudência desta Corte no sentido de que, após a edição
do Código de Defesa do Consumidor, não mais prevalece a tarifação prevista na Convenção de
Varsóvia. Incidência do princípio da ampla reparação. Precedentes. 2. Agravo regimental
desprovido” (STJ – AgRg-REsp 262.687/SP – Quarta Turma – Rel. Min. Fernando Gonçalves –
j. 15.12.2009 – DJe 22.02.2010).

Informativo n. 866 da Corte: “nos termos do art. 178 da Constituição da República, as normas e
os tratados internacionais limitadores da responsabilidade das transportadoras aéreas de
passageiros, especialmente as Convenções de Varsóvia e Montreal, têm prevalência em relação
ao Código de Defesa do Consumidor. (...). No RE 636.331/RJ, o Colegiado assentou a prevalência
da Convenção de Varsóvia e dos demais acordos internacionais subscritos pelo Brasil em
detrimento do CDC, não apenas na hipótese de extravio de bagagem. Em consequência, deu
provimento ao recurso extraordinário para limitar o valor da condenação por danos materiais ao
patamar estabelecido na Convenção de Varsóvia, com as modificações efetuadas pelos acordos
internacionais posteriores. Afirmou que a antinomia ocorre, a princípio, entre o art. 14 do CDC,
que impõe ao fornecedor do serviço o dever de reparar os danos causados, e o art. 22 da
Convenção de Varsóvia, que fixa limite máximo para o valor devido pelo transportador, a título
de reparação. Afastou, de início, a alegação de que o princípio constitucional que impõe a defesa
do consumidor [Constituição Federal (CF), arts. 5.º, XXXII, e 170, V] impediria a derrogação do
CDC por norma mais restritiva, ainda que por lei especial. Salientou que a proteção ao consumidor
não é a única diretriz a orientar a ordem econômica. Consignou que o próprio texto constitucional
determina, no art. 178, a observância dos acordos internacionais, quanto à ordenação do transporte
aéreo internacional. Realçou que, no tocante à aparente antinomia entre o disposto no CDC e na
Convenção de Varsóvia – e demais normas internacionais sobre transporte aéreo –, não há
diferença de hierarquia entre os diplomas normativos. Todos têm estatura de lei ordinária e, por
isso, a solução do conflito envolve a análise dos critérios cronológico e da especialidade”

- Expressa um modelo aberto de interação legislativa


Art. 7° Os direitos previstos neste código não excluem outros decorrentes de tratados ou
convenções internacionais de que o Brasil seja signatário, da legislação interna ordinária, de
regulamentos expedidos pelas autoridades administrativas competentes, bem como dos que
derivem dos princípios gerais do direito, analogia, costumes e eqüidade.
Profª Me. Tailanne Pecorelli - Direito do Consumidor

- Aplicação do Diálogo das Fontes:


- Diálogo sistemático de coerência: A conceituação encontra-se em uma norma - compra
e venda- art. 481 do CC
- Diálogo de complementariedade e subsidiariedade: os contratos de consumo que também
são contratos de adesão- art. 51 do CDC e art. 424 do CC
- Diálogo de influências recíprocas sistemáticas: conceitos estruturais sofrem influência.
AÇAO CIVIL PÚBLICA. CONTRATO DE ARRENDAMENTO MERCANTIL "LEASING".
CLÁUSULA DE SEGURO. ABUSIVIDADE. INOCORRÊNCIA.
1. Não se pode interpretar o Código de Defesa do Consumidor de modo a tornar qualquer
encargo contratual atribuído ao consumidor como abusivo, sem observar que as relações
contratuais se estabelecem, igualmente, através de regras de direito civil.
2. O CDC não exclui a principiologia dos contratos de direito civil. Entre as normas
consumeristas e as regras gerais dos contratos, insertas no Código Civil e legislação extravagante,
deve haver complementação e não exclusão. É o que a doutrina chama de Diálogo das Fontes.
3. Ante a natureza do contrato de arrendamento mercantil ou leasing, em que pese a empresa
arrendante figurar como proprietária do bem, o arrendatário possui o dever de conservar o bem
arrendado, para que ao final da avença, exercendo o seu direito, prorrogue o contrato, compre ou
devolva o bem.
4. A cláusula que obriga o arrendatário a contratar seguro em nome da arrendante não é abusiva,
pois aquele possui dever de conservação do bem, usufruindo da coisa como se dono fosse,
suportando, em razão disso, riscos e encargos inerentes a sua obrigação. O seguro, nessas
circunstâncias, é garantia para o cumprimento da avença, protegendo o patrimônio do arrendante,
bem como o indivíduo de infortúnios.
5. Rejeita-se, contudo, a venda casada, podendo o seguro ser realizado em qualquer seguradora
de livre escolha do interessado.
6. Recurso especial parcialmente conhecido e, nessa extensão, provido.

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