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DA DEFESA DO CONDUMIDOR EM JUÍZO

Art. 81, CDC

Trouxeram os dispositivos do Código que se seguem concreção e aplicabilidade a diversas


normas constitucionais (art. 5º, XXXV e art. 129, III) que corroboram no sentido de incluir no
ordenamento jurídico brasileiro não apenas a tutela individual, como também a coletiva relativa
aos interesses difusos, coletivos e individuais homogêneos dos jurisdicionados.

No sistema de proteção coletiva de direitos, outras leis de afiguram de forma igualmente avultosa,
tais como a Lei de Ação Civil Pública (Lei 7.347/85), a Lei da Ação Popular (Lei 4.717/65),
dentre inúmeras outras, que vêm para alicerçar essa nova geração de direitos encampados pelo
ordenamento pátrio há curto interregno temporal.

Direitos difusos, coletivos e individuais homogêneos – conceito legal (parágrafo único).

No ordenamento jurídico brasileiro os interesses ou direitos transindividuais ou


metaindividuais ou supraindividuaisvêm marcados por este caractere, agrupando-os o
legislador em três espécies distintas: os difusos, os coletivos em sentido estrito e os individuais
homogêneos.

Atualmente, encontramos como diplomas processuais fundamentais para a defesa de


direitos e interesses difusos, coletivos e individuais homogêneos, o CDC, a LACP, que
guardam entre si relação de total complementariedade e reciprocidade, de modo que
alterações de conteúdo em um diploma irão repercutir no outro necessariamente. Tal
reciprocidade encontra respaldo nos arts. 90 e 117 do CDC.

Interesses ou direitos DIFUSOS (inciso I)

Art. 81. A defesa dos interesses e direitos dos consumidores e das vítimas poderá ser exercida
em juízo individualmente, ou a título coletivo.

Parágrafo único. A defesa coletiva será exercida quando se tratar de:

I - interesses ou direitos difusos, assim entendidos, para efeitos deste código, os transindividuais,
de natureza indivisível, de que sejam titulares pessoas indeterminadas e ligadas por
circunstâncias de fato;

DIFUSOS são os interesses que, nos termos da lei, possuem natureza indivisível, titulares
indeterminados e ligados por circunstâncias de fato, pontuados pela nuança de dissipação,
dispersão.

A ordem na ação coletiva para tutela dos direitos difusos e coletivos stricto sensu, servirá como
freio da atividade lesiva ou como correção de forma genérica. (Fredie Didier)
À guisa de exemplo podemos, ainda, destacar o próprio direito do consumidor que, em uma de
suas vertentes – a par da proteção individual -, vem sob a forma difusa, como as questões
atinentes à oferta e à publicidade que, pelos meios de comunicação de massa, se dispersam
pela sociedade atingindo número indeterminado de pessoas.

Interesses ou direitos COLETIVOS (inciso II)

Art. 81. A defesa dos interesses e direitos dos consumidores e das vítimas poderá ser exercida
em juízo individualmente, ou a título coletivo.

Parágrafo único. A defesa coletiva será exercida quando se tratar de:

II - interesses ou direitos coletivos, assim entendidos, para efeitos deste código, os


transindividuais, de natureza indivisível de que seja titular grupo, categoria ou classe de pessoas
ligadas entre si ou com a parte contrária por uma relação jurídica base;

O nomen juris é utilizado de 2 formas: para designar, em sentido amplo, todos os direitos
afastados, por sua natureza, da tutela individual; e, também, em relação aos transindividuais de
natureza indivisível de que seja titular grupo, categoria ou classe de pessoas ligadas entre
si ou com a parte contrária por uma relação jurídica base.

Kazuo Watanabe diz que a relação jurídica a que faz menção o inciso II é preexistente a lesão
ou ameaça de lesão do interesse ou direito do grupo, categoria ou classe de pessoas;

Os indivíduos atingidos pela lesão supramencionada são, portanto, determinados ou, ao


menos, determináveis e, ainda, ligados por uma relação jurídica base, residindo nestes pontos à
distinção entre difusos, apesar de igualmente se caracterizarem pela incindibilidade, a ligação
entre os titulares indeterminados se faz por circunstância de fato que lhes são comuns.

Ex.: Contratos de consórcio que lutam contra aumentos abusivos, estudantes de uma mesma
escola que visam impedir aumento de mensalidades escolares, associações de consumidores
que visam combater o aumento abusivo de planos de saúde, etc.

A tese de repercussão geral fixada no RE 612.043 pelo STF foi a de que:

“A eficácia subjetiva da coisa julgada formada a partir de ação coletiva, de rito ordinário, ajuizada
por associação civil na defesa de interesses dos associados, somente alcança os filiados,
residentes no âmbito da jurisdição do órgão julgador, que o fossem em momento anterior ou até a
data da propositura da demanda, constantes de relação juntada à inicial do processo de
conhecimento”.

(Obs.: o julgado está anexado no portal)

Interesses ou direitos INDIVIDUAIS HOMOGÊNEOS (inciso III)


Art. 81. A defesa dos interesses e direitos dos consumidores e das vítimas poderá ser exercida
em juízo individualmente, ou a título coletivo.

Parágrafo único. A defesa coletiva será exercida quando se tratar de:

III - interesses ou direitos individuais homogêneos, assim entendidos os decorrentes de origem


comum.

São aqueles pertencentes a titulares determináveis por situação de fato compartilhada por todos.

A justificativa da implementação do instituto no direito pátrio se relaciona, mais uma vez, à


situação de vulnerabilidade que se encontra o consumidor diante de grupos econômicos que
causam danos individuais em massa, tornando, por vezes, a tutela individual absolutamente
inviável, ou, quando não inviável, sujeita a injustiças decorrentes da disparidade de decisões
dadas a causas com objeto idêntico.

Com relação a origem desse direito, o CDC elenca como sendo uma origem comum. Mas, o que
seria essa origem comum?

A fim de dar um respaldo ainda maior a tutela coletiva a doutrina majoritária (ÉdisMilaré, Kazuo
Watanabe, Antônio Herman Benjamin) defendem que origem comum pode advir tanto de uma
situação de fato como de uma relação jurídica;

Já em uma visão minoritária o doutrinador Hugo Nigro Mazzilli defende que origem comum só
pode decorrer de uma situação de fato.

A doutrina e a jurisprudência têm exigido especificamente para a tutela dos direitos individuais
homogêneos um 4º requisito, qual seja: “Que seja recomendável o tratamento conjunto dos
direitos ou interesses individuais, em razão da utilidade coletiva dessa tutela”, ou seja, a tutela
coletiva deverá se mostrar mais vantajosa. (STJ)

Só se tem admitido ações coletivas em prol de direitos individuais homogêneos quando haja
vantagem (utilidade) em relação a tutela individual, exigindo a existência de um número razoável
de sujeitos a serem defendidos. Ausente esta utilidade, têm-se declarado a carência da ação
coletiva por inadequação de via eleita e/ou ilegitimidade ativa, não se reconhecendo em tais
casos, a presença de direitos individuais homogêneos. (REsp 823.063/PR; REsp 1.109.335/SE).
Art. 82, CDC - Legitimação para agir

Art. 82. Para os fins do art. 81, parágrafo único, são legitimados concorrentemente:

I - o Ministério Público,

II - a União, os Estados, os Municípios e o Distrito Federal;

III - as entidades e órgãos da Administração Pública, direta ou indireta, ainda que sem
personalidade jurídica, especificamente destinados à defesa dos interesses e direitos protegidos
por este código;

IV - as associações legalmente constituídas há pelo menos um ano e que incluam entre seus fins
institucionais a defesa dos interesses e direitos protegidos por este código, dispensada a
autorização assemblear.

§ 1° O requisito da pré-constituição pode ser dispensado pelo juiz, nas ações previstas nos arts.
91 e seguintes, quando haja manifesto interesse social evidenciado pela dimensão ou
característica do dano, ou pela relevância do bem jurídico a ser protegido.

Afinado com o art. 5º da Lei nº 7.347/85, trouxe o dispositivo em comento o rol dos legitimados
para a propositura de ações coletivas para a defesa de direitos difusos, coletivos e individuais
homogêneos.

Consoante menciona o art. sub examen, a legitimação ad causamde que trata é concorrente,
disjuntiva e extraordinária.

Legitimação concorrente: visa não privilegiar nenhuma entidade em especial, seja ela pública
ou privada, na permissão para o ingresso das ações, dando com isso maior eficácia possível a
proteção criada.

Fredie Didier utiliza a terminologia colegitimação como sinônimo de legitimação concorrente.

Legitimação disjuntiva: diz respeito ao fato de que para a propositura da Ação Coletiva, nenhum
dos legitimados precisa pedir autorização para o outro.

Legitimação extraordinária (substituição processual) porque os legitimados peticionam em


nome próprio direito alheio. Quando nos depararmos com questionamentos acerca da natureza
jurídica da legitimação nas Ações Civis Públicas para defesa de direitos coletivos lato sensu, se
recomenda apontar como correta a alternativa que indique a legitimação extraordinária ou
substituição processual, pois esta é a tese amplamente majoritária na jurisprudência do STJ e
STF.

A legitimação poderá ser exercida por apenas um dos legitimados, mais de um ou, até
mesmo, por todos. Se assim procederem, formarão no pólo ativo da demanda, um
litisconsórcio facultativo. Desta feita, nas ações coletivas de que trata o presente artigo, se
houver litisconsórcio, será sempre facultativo.

Os §§ 2º e 5º do Art. 5º da Lei 7.3447/85 (Lei da Ação Civil Pública) tratam da possibilidade dos
legitimados se unirem em litisconsórcio.

Art. 5º, §2º, Lei 7.347/85 - Fica facultado ao Poder Público e a outras associações legitimadas
nos termos deste artigo habilitar-se como litisconsortes de qualquer das partes.

Art. 5º, §5º, Lei 7.347/85 - Admitir-se-á o litisconsórcio facultativo entre os Ministérios Públicos da
União, do Distrito Federal e dos Estados na defesa dos interesses e direitos de que cuida esta lei.

Passemos agora a estudar especificadamente cada um dos legitimados.

Legitimação do MP (Inciso I do Art. 82 do CDC e inciso I do Art. 5º da Lei 7.347/85)

Ante o perfil constitucional atribuído ao MP, natural que fosse legitimado à defesa dos interesses
difusos e coletivos. A prática, inclusive, alçou-o à categoria de principal defensor da espécie.

Art. 129, CF - São funções institucionais do Ministério Público:

[...]

III - promover o inquérito civil e a ação civil pública, para a proteção do patrimônio público e
social, do meio ambiente e de outros interesses difusos e coletivos; [...]

Se analisarmos atentamente a disposição constitucional, perceberemos que ele não engloba os


direitos individuais homogêneos. Sobre este assunto, existem três teorias, vejamos:

Teoria Ampliativa: Os direitos tutelados automaticamente indisponíveis legitimam a atuação


sempre no MP como autor;

Teoria Restritiva: Inexiste a legitimidade do MP como nos casos em que evoluam litígios que
versem sobre direitos individuais homogêneos;

Teoria Eclética: Procura no caso concreto identificar a existência de um relevante interesse social
que legitime o MP.

A Teoria Eclética é que prevalece no STF e STJ. Esta teoria também esta em concordância com
a Súmula 7 do CSMP/SP.

Súmula 7, CSMP/SP - O Ministério Público está legitimado à defesa de interesses ou direitos


individuais homogêneos de consumidores ou de outros, entendidos como tais os de origem
comum, nos termos do art. 81, III, c/c o art. 82, I, do CDC, aplicáveis estes últimos a toda e
qualquer ação civil pública, nos termos do art. 21 da Lei nº 7.347/85 (LACP), que tenham
relevância social, podendo esta decorrer, exemplificativamente, da natureza do interesse ou
direito pleiteado, da considerável dispersão de lesados, da condição dos lesados, da necessidade
de garantia de acesso à Justiça, da conveniência de se evitar inúmeras ações individuais, e/ou de
outros motivos relevantes.

Então é possível o Ministério Público ser legitimado ativo para este tipo de defesa, desde que
haja demonstração de relevância social. Neste sentido a doutrina traz o seguinte exemplo:

Ex. Moradores de um determinado bairro que procuram o Ministério Público por estarem
dispensando lixo em um terreno baldio do bairro, sem nenhum tratamento, o que está trazendo
prejuízo aos moradores, pela desvalorização dos imóveis. Este caso se trata de um típico direito
individual homogêneo, no entanto, também possui relevância social, pois a prática de cumular lixo
sem tratamento em um terreno baldio acaba prejudicando o meio ambiente como um todo.

A relevância social pode ser objetiva (decorrente da própria natureza, dos valores e bens em
questão como a dignidade humana, saúde, meio ambiente, etc.) ou subjetiva (aflorada pela
qualidade especial dos sujeitos, como por exemplo: idosos, deficientes, crianças, etc.).

Sabendo disso, precisamos destacar que o STJ e o STF entendem que a relevância social pode
ser tanto de natureza objetiva, como subjetiva.

Defensoria Pública (inciso II do Art. 5º da Lei 7.347/85)

Art. 5º, Lei 7.347/85 - Têm legitimidade para propor a ação principal e a ação cautelar: I - o
Ministério Público; II - a Defensoria Pública; III - a União, os Estados, o Distrito Federal e os
Municípios; IV - a autarquia, empresa pública, fundação ou sociedade de economia mista; V - a
associação que, concomitantemente: a) esteja constituída há pelo menos 1 (um) ano nos termos
da lei civil; b) inclua, entre suas finalidades institucionais, a proteção ao patrimônio público e
social, ao meio ambiente, ao consumidor, à ordem econômica, à livre concorrência, aos direitos
de grupos raciais, étnicos ou religiosos ou ao patrimônio artístico, estético, histórico, turístico e
paisagístico.

05/10

Feito essa observação precisamos atentar para o que prevê o Art. 134 da CF, vejamos:

Art. 134, CF - A Defensoria Pública é instituição permanente, essencial à função jurisdicional do


Estado, incumbindo-lhe, como expressão e instrumento do regime democrático,
fundamentalmente, a orientação jurídica, a promoção dos direitos humanos e a defesa, em todos
os graus, judicial e extrajudicial, dos direitos individuais e coletivos, de forma integral e gratuita,
aos necessitados, na forma do inciso LXXIV do art. 5º desta Constituição Federal.

O dispositivo acima legitima a Defensoria Pública para defender direitos individuais e coletivos
“aos necessitados, na forma do inciso LXXIV do art. 5º desta Constituição Federal” – assim, surge
o questionamento se a Defensoria só estaria legitimada a defender direitos coletivos dos
necessitados?

O entendimento do STJ e STF é que mesmo ante a função institucional da Defensoria Pública,
que é atuar em prol dos necessitados, nada obsta que, diante da natureza difusa do direito a ser
defendido se extravase o espectro do círculo dos necessitados – ou seja, não é necessário que
ele fique apenas na esfera dos necessitados, seja com relação aos direitos difusos, coletivos ou
individuais homogêneos.

Legitimação da União, dos Estados, dos Municípios e do Distrito Federal (Inciso II do Art.
82 do CDC e inciso III do Art. 5º da Lei 7.347/85)

A delimitação da legitimação das pessoas políticas se encontra exatamente no seu âmbito de


atribuição e competência. Isso significa que se um dano ocorrer no município de São José dos
Campos, não poderá eventual ação coletiva ser proposta pelo município de São Paulo.

Entretanto, se houver abalo recíproco, restando ambas as localidades danificadas, poderá haver
legitimação concorrente.

Ex.: O Município A pode ajuizar ações coletivas em prol do meio ambiente, dos consumidores,
das pessoas com deficiência, etc., pois não lhe é necessário o requisito da pertinência temática.
Todavia, não tem legitimidade para ajuizar uma ação que visa beneficiar, tão somente,
consumidores residentes do Município “B”.

Nesse caso, faltaria ao Município “A” um mínimo de vinculação com a lide. A doutrina interpreta
essa vinculação como interesse de agir (interesse processual).

Entidades e órgãos da Administração Pública, direta ou indireta, ainda que sem


personalidade jurídica, especificamente destinados à defesa dos interesses e direitos
protegidos por este código (Inciso III do Art. 82 do CDC e inciso IV do Art. 5º da Lei
7.347/85)

A doutrina defende que determinados órgãos que não tenham personalidade jurídica a Lei lhe
confere uma personalidade denominada “personalidade judiciária” (Nelson Nery Jr.) ou
“personalidade judicialiforme” (José Carlos Barbosa Moreira) – por exemplo: a Mesa da Câmara
ou do Senado, Secretarias dos Governos tratam-se de órgãos sem personalidade jurídica, mas
que poderão propor ações em defesa de direitos coletivos por possuírem personalidade judiciária.

E uma Fundação Privada teria legitimidade para propor uma Ação Coletiva?

O Art. 82 do CDC não traz previsão para a Fundação Privada, em contrapartida o inciso IV do Art.
5º da Lei 7.347/85 elenca a previsão de que as Fundações são legitimadas, sem, no entanto,
mencionar se ela é Pública ou Privada.
Em sendo assim, parte da doutrina sustenta que se interpretarmos ambos os dispositivos
conjuntamente, somente as Fundações Públicas é que seriam legitimadas, mas há quem espose
entendimento diverso, até no intuito de aumentar a amplitude na Tutela dos Direitos Coletivos
(Entendimento da 1º Seção do STJ).

Outra questão interessante que também vai de encontro com o previsto no inciso III do Art. 82 do
CDC e o art. 54, XIV do EOAB, é a questão da ORDEM DOS ADVOGADOS DO BRASIL.

Trata-se de uma Autarquia Federal – assim ela tem legitimidade para propor Ação Coletiva
desde que seja em prol dos seus associadosii, desde que os advogados se incluam entre os
titulares dos interesses a serem defendidos (como no caso da proteção do meio ambiente, em
que o interesse é da coletividade, ou nadefesa do interesse dos consumidores em geral), estará
presente a legitimação da Ordem para a defesa de tais interesses, ainda que difusos. Sob tal
ponto de vista, a OAB não estaria jungida à pertinência temática. (Mazzilli)

Para outros, somente se admite a atuação da entidade em prol dos interesses coletivos e
individuais homogêneos de seus associados. Sob essa ótica, ela estaria submetida à pertinência
temática. (João Batista de Almeida)

A 2ª Turma do STJ (REsp 331.403/RJ) entendeu que a OAB poderia ajuizar uma ACP em prol de
qualquer direito difuso ou coletivo, tendo em vista que seu Estatuto lhe atribui a defesa, inclusive
judicial, da CF, do Estado de Direito e da justiça social.

De outro lado, a mesma Turma, rechaçou a legitimidade da OAB para propor ação de
improbidade administrativa, por não vislumbrar a pertinência temática entre os fins institucionais
da OAB e o bem jurídico tutelado.

Associações legalmente constituídas há pelo menos um ano e que incluam entre seus fins
institucionais a defesa dos interesses e direitos protegidos por este código, dispensada a
autorização assemblear (Inciso IV do Art. 82 do CDC e inciso V do Art. 5º da Lei 7.347/85)

Então alguns requisitos precisam ser levados em conta para que a Associação possa propor
Ação Coletiva, vejamos:

1) A associação deve estar legalmente constituída; (condição formal)

2) Sua constituição deve ter ocorrido há pelo menos um ano do fato que enseja a propositura
da ação; (condição temporal)

3) Pertinência temática, objetiva, ou finalística (condição institucional): a defesa dos


interesses a serem tutelados deve estar entre os fins institucionais da associação.

Exceções: Dispensa do requisito de pré constituição


Art. 82, §1º, CDC – O requisito da pré-constituição pode ser dispensado pelo juiz, nas ações
previstas nos arts. 91 e seguintes, quando haja manifesto interesse social evidenciado pela
dimensão ou característica do dano, ou pela relevância do bem jurídico a ser protegido.

O STJ já reconheceu a possibilidade de dispensa do requisito temporal em alguns casos, como,


por exemplo, em uma ação movida por uma associação de moradores em face de uma empresa
de reciclagem, para reparação de danos materiais e morais em virtude de disposição final
inadequada de resíduos tóxicos, e consequente contaminação da água e dos moradores do
bairro. (REsp 706.449/PR. 4ª Turma. Rel. Min. Fernando Gonçalves).

Art. 83, CDC - Para a defesa dos direitos e interesses protegidos por este código são
admissíveis todas as espécies de ações capazes de propiciar sua adequada e efetiva
tutela.

Na realidade este dispositivo vem de encontro ao previsto no inciso XXXV do Art. 5º da CF,
vejamos:

Art. 5º, XXXV, CF - a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a
direito;

Art. 84, CDC – Na ação que tenha por objeto o cumprimento da obrigação de fazer ou não
fazer, o juiz concederá a tutela específica da obrigação ou determinará providências que
assegurem o resultado prático equivalente ao do adimplemento.

Este dispositivo esta intimamente ligado aos seguintes artigos do CPC/2015: 497, 499, 500, 536 e
537.

Art. 87, CDC – Nas ações coletivas de que trata este código não haverá adiantamento de
custas, emolumentos, honorários periciais e quaisquer outras despesas, nem condenação
da associação autora, salvocomprovada má-fé, em honorários de advogados, custas e
despesas processuais.

Parágrafo único - Em caso de litigância de má-fé, a associação autora e os diretores


responsáveis pela propositura da ação serão solidariamente condenados em honorários
advocatícios e ao décuplo das custas, sem prejuízo da responsabilidade por perdas e
danos.

Denota-se que o legislador elencou apenas a figura da Associação. Sob este aspecto surge a
seguinte dúvida: e os demais legitimados, não poderão ser responsabilizados por litigância de má
fé?

Fredie Didier nos ensina que: “Embora a lei apenas mencione as Associações, qualquer
legitimado a Ação Coletiva, inclusive o Ministério Público, somente poderá ser condenado ao
pagamento de custas e honorários se houver litigância temerária, sendo, portanto, a regra do Art.
87 do CDC aplicável a qualquer legitimado da Ação Coletiva.”

Ada Pellegrini defende que esse entendimento decorre da própria lealdade processual, indo de
encontro aos Arts. 79/81 do CPC.

Exemplo: O Ministério Público propôs uma ACP que foi julgada procedente e a parte ré foi
condenada por litigância de má fé. Quanto ao pagamento do décuplo das custas, não nos paira
dúvida, mas será que ela teria de pagar honorários sucumbenciais ao MP?

Daniel Amorim Assumpção Neves, em sua obra “Manual do processo coletivo”, traz alguns
posicionamentos sobre o assunto:

1º) o art. 23 do EOAB prevê que os honorários advocatícios, fixados em decorrência da


sucumbência, constituem direito autônomo do advogado;

2º) os promotores de justiça não desempenham atividade de advocacia em sua atuação;

3º) o custo social da atuação do MP em defesa dos interessados da coletividade não é pago
pelas custas do processo e sim pelos impostos gerais suportados pela população. No mesmo
sentido é o entendimento do STJ (Resp 1.420.691/RJ, 2ª Turma)

De lege ferenda, seria interessante a previsão expressa no sentido de condenação do réu aos
pagamento dos honorários advocatícios em favor do FDD, o que em última análise aproveitaria a
toda a coletividade ofendida pelo ato praticado pelo réu sucumbente.

Art. 88, CDC - Na hipótese do art. 13, parágrafo único deste código, a ação de regresso
poderá ser ajuizada em processo autônomo, facultada a possibilidade de prosseguir-se
nos mesmos autos, vedada a denunciação da lide.

Este art. visa facilitar o trâmite processual e a economia processual.

Consolidou-se a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, que, superando uma divergência


inicial, passou a entender que a vedação à denunciação da lide prevista no art. 88 do CDC não se
restringe à responsabilidade por fato do produto (art. 13 do CDC), sendo aplicável também às
demais hipóteses de responsabilidade civil por acidentes de consumo (arts. 12 e 14 do CDC).

O STJ tem frequentemente repelido a denunciação da lide nas ações civis públicas fundadas na
responsabilidade objetiva do réu, quando a denunciação invoca a responsabilidade subjetiva de
terceiro. Alega-se que a introdução da discussão sobre a responsabilidade subjetiva tende a
procrastinar a conclusão do processo, atentando contra os princípios da celeridade e economia
processual. No mesmo sentido é a doutrina majoritária.

Quanto aação de regresso se permite que seja aforada no próprio juízo da ação de indenização e
com o aproveitamento dos mesmos autos do processo.
Das Ações Coletivas Para a Defesa de Interesses Individuais Homogêneos

Art. 91, CDC - Os legitimados de que trata o art. 82 poderão propor, em nome próprio e no
interesse das vítimas ou seus sucessores, ação civil coletiva de responsabilidade pelos
danos individualmente sofridos, de acordo com o disposto nos artigos seguintes.

O dispositivo acima vem corroborar com o entendimento que o Ministério Público pode ingressar
com Ação Coletiva para tutela de interesses individuais homogêneos. Salienta-se que o Capítulo
que este artigo esta incluído é o Das Ações Coletivas Para a Defesa de Interesses Individuais
Homogêneos – assim mais uma vez reforça-se o entendimento de que o Ministério Público é
legitimado para essadefesa de direitos.

Art. 92, CDC - O Ministério Público, se não ajuizar a ação, atuará sempre como fiscal da lei.

Se o Ministério Público não for o autor, ele sempre terá que intervir como fiscal da lei, conforme
se prevê no artigo acima que também é previsto no Art. 5º, §1º da Lei da Ação Civil Pública.

Passemos agora para o foro competente para propositura da Ação Coletiva:

Art. 93, CDC - Ressalvada a competência da Justiça Federal, é competente para a causa a
justiça local:

I - no foro do lugar onde ocorreu ou deva ocorrer o dano, quando de âmbito local;

II - no foro da Capital do Estado ou no do Distrito Federal, para os danos de âmbito


nacional ou regional, aplicando-se as regras do Código de Processo Civil aos casos de
competência concorrente.

A Competência elencada no Art. 93 do CDC, trata-se de uma competência funcional ou territorial


– pois, se for funcional, trata-se de competência absoluta, já se for territorial será relativa. E
aí????

Vejamos o que dispõe o Art. 2º da Lei de Ação Civil Pública: “As ações previstas nesta Lei
serão propostas no foro do local onde ocorrer o dano, cujo juízo terá competência
funcional para processar e julgar a causa”.

O STF e o STJ têm denominado a competência do art. 2º da LACP como territorial e funcional.
Parte da doutrina critica a denominação legal (competência funcional), entendendo que a
competência determinada pelo local do dano não é funcional, mas territorial, embora
excepcionalmente absoluta.

Chiovenda corrobora com o entendimento acima. Já o Rodolfo de Camargo Mancuso, Daniel


Assunção Amorim, Humberto Theodoro Junior defendem tratar-se de uma competência territorial.
Já com um entendimento diferente, Patrícia Pizzol e Greco Filho, defendem tratar-se de uma
competência hibrida, misturando-as.
A despeito da celeuma doutrinária, em resposta a uma eventual questão objetiva convém
apontarmos como correta a classificação dessa competência como funcional, conforme a
denomina a LACP.

Art. 93, CDC - Ressalvada a competência da Justiça Federal, é competente para a causa a
justiça local:

Podemos dizer que a competência da Justiça Estadual é residual – ou seja, se não for da
competência da Justiça Federal (Arts. 108 e 109 da CF), residualmente será competente a
Justiça Estadual.

Inciso I - no foro do lugar onde ocorreu ou deva ocorrer o dano, quando de âmbito local;

Agora se fixarmos a competência somente no local do dano, será que isso não traria prejuízo ao
consumidor em algumas situações?

Fazendo uma interpretação sistemática do CDC, o consumidor possui o direito de escolher o foro
para a propositura da Ação. Assim, podemos nos valer do que prevê o Art. 101, inciso I do CDC,
podendo então que a Ação seja proposta em seu domicílio.

Art. 101, CDC - Na ação de responsabilidade civil do fornecedor de produtos e serviços, sem
prejuízo do disposto nos Capítulos I e II deste título, serão observadas as seguintes normas: I - a
ação pode ser proposta no domicílio do autor; [...]

Inciso II - no foro da Capital do Estado ou no do Distrito Federal, para os danos de âmbito


nacional ou regional, aplicando-se as regras do Código de Processo Civil aos casos de
competência concorrente.

Segundo Ada Pellegrini e Rodolfo de Camargo Mancuso sendo o dano de âmbito nacional o
melhor seria estabelecer como competente apenas o foro do Distrito Federal, visto que facilitaria
o acesso a justiça, sem ocasionar privilégios aos moradores do Estado onde fosse proposta a
Ação em detrimento dos demais.

De outro lado, Arruda Alvim e Rizzato Nunes entendem que se o dano for nacional o autor
poderá optar para propor a Ação em qualquer capital do Estado ou no Distrito Federal – estes
autores acabam seguindo literalmente o que dispõe o inciso II do Art. 93 do CDC e vai de
encontro com a jurisprudência dominante do STJ.

Agora se o dano for regional, atingindo várias cidades de um mesmo Estado ou várias cidades
de Estados diferentes, também há divergência em relação ao foro competente, vejamos:

Rodolfo de Camargo Mancuso entende se o dano for regional a Ação deverá ser proposta no
Estado mais prejudicado. Ada Pellegrini entende pela literalidade do inciso II do Art. 93 do CDC
defendendo que a Ação pode ser proposta em qualquer Capital ou no Distrito Federal.
Já Rizzato Nunes defende que se o dano for Regional e atingir várias cidades de um único
Estado, a Ação Coletiva deve ser proposta na Capital do Estado; já se atingir mais de um Estado,
as Capitais dos Estados atingidos terão competência concorrente para propositura da Ação
Coletiva, tornando-a prevento o juízo.

Art. 94, CDC - Proposta a ação, será publicado edital no órgão oficial, a fim de que os
interessados possam intervir no processo como litisconsortes, sem prejuízo de ampla
divulgação pelos meios de comunicação social por parte dos órgãos de defesa do
consumidor.

O dispositivo acima quer facilitar a tutela coletiva. Visa-se a “Molecularização da Tutela”.

De acordo com Ada Pellegrini as possibilidades que poderão advir do Art. 94 do CDC são as
seguintes:

a) o interessado não intervir no processo coletivo: se a sentença for procedente será igualmente
beneficiado pela Coisa Julgada; mas se a demanda for rejeitada, pelo mérito, ainda poderá
ingressar em juízo com Ação Individual;

b) o interessado intervir no processo a título de litisconsorte: neste caso, será normalmente


colhido pela Coisa Julgada favorável ou desfavorável, não podendo, neste último caso, renovar a
Ação a título individual.

Rizzato Nunes descreve que o entendimento é bastante simples: o efeito da coisa julgada na
hipótese de improcedência da ação (art. 103,§ 2º do CDC), só atinge aqueles que tiverem
ingressado como litisconsorte na ação coletiva proposta pelo legitimado do art. 82.

Caso haja a habilitação, a natureza do litisconsórcio será facultativa, unitário e superveniente.

Sobre a publicação do edital, aplica-se, no que couber, o art. 257 do CPC.

A ausência de publicação desse edital não constitui nulidade hábil para ensejar a extinção da
ACP (REsp 205.481/MG)

Art. 95, CDC – Em caso de procedência do pedido, a condenação será genérica, fixando a
responsabilidade do réu pelos danos causados.

Assim, podemos afirmar que a Sentença em sede de Ações que tutelam Direitos Coletivos é
certa, mas ela não é liquida, que deverá se dar em fase de liquidação, pois cada consumidor de
forma individualizada terá que liquidar sua parte.

No entanto, o STJ entende que se o Juiz tiver elementos para quantificar a indenização na
Sentença, poderá fazê-lo (ainda que o pedido seja ilíquido), não havendo nesta técnica
julgamento ultra petita.

Vide arts. 491,§1º; 509 e 512 do CPC.


Art. 97, CDC - A liquidação e a execução de sentença poderão ser promovidas pela vítima e
seus sucessores, assim como pelos legitimados de que trata o art. 82.

Segundo o Fredie Didier, na liquidação serão apurados:

a) Os fatos e as alegações referentes ao dano individualmente sofrido pelo demandante;

b) A relação de causalidade entre o dano e o fato potencialmente danoso acertado na sentença;

c) Os fatos e alegações pertinentes ao dimensionamento do dano sofrido.

Art. 15 LACP: Decorridos sessenta dias do trânsito em julgado da sentença condenatória,


sem que a associação autora lhe promova a execução, deverá fazê-lo o Ministério Público,
facultada igual iniciativa aos demais legitimados.

Embora o dispositivo faça menção apenas à hipótese de inércia da "associação“autora, é ele


aplicável, na verdade, aos casos em que qualquer colegitimado que tenha proposto a ação
permaneça imóvel.

Art. 98. A execução poderá ser coletiva, sendo promovida pelos legitimados de que trata o
art. 82, abrangendo as vítimas cujas indenizações já tiveram sido fixadas em sentença de
liquidação, sem prejuízo do ajuizamento de outras execuções.

§ 1° A execução coletiva far-se-á com base em certidão das sentenças de liquidação, da


qual deverá constar a ocorrência ou não do trânsito em julgado.

§ 2° É competente para a execução o juízo:

I - da liquidação da sentença ou da ação condenatória, no caso de execução individual;

II - da ação condenatória, quando coletiva a execução.

Denota-se que a execução do julgado constante da liquidação, que poderá ocorrer de duas
formas: individual ou coletiva.

O artigo ora comentado traz a regulamentação da forma coletiva de execução, estendendo a


legitimação aos que figuram no art. 82 do CDC, que não se revestirá de obrigatoriedade, visto
que o texto do dispositivo legal deixa claro que as execuções individuais poderão correr
paralelamente.

Competência para julgamento da execução individual e coletiva

Quando coletiva a execução, o juízo competente será aquele por onde tramitou a ação
condenatória. A competência será – tal qual nas demandas reguladas pelo CPC – de natureza
funcional e, portanto, absoluta.
Todavia, no que concerne às execuções individuais, haverá competência concorrente do juízo
que proferiu a condenação e daquele que liquidou a sentença ou no foro do exequente, segundo
Fredie Diddier.

Assim, aplica-se por analogia o Art. 101, inciso I do CDC, no que tange a competência para
execução disposta no Art. 98 §2º inciso I do CDC. Esta aplicação tem sido admitida pelo STJ
(Resp 1.908.242/GO), sob o fundamento adicional de que limitar a competência ao juízo da
condenação, além de congestioná-lo, poderia inviabilizar o acesso a justiça das vítimas que
residam distantes desse foro.

Art. 99, CDC - Em caso de concurso de créditos decorrentes de condenação prevista na Lei
n.° 7.347, de 24 de julho de 1985 e de indenizações pelos prejuízos individuais resultantes
do mesmo evento danoso, estas terão preferência no pagamento.

Parágrafo único. Para efeito do disposto neste artigo, a destinação da importância


recolhida ao fundo criado pela Lei n° 7.347 de 24 de julho de 1985, ficará sustada enquanto
pendentes de decisão de segundo grau as ações de indenização pelos danos individuais,
salvo na hipótese de o patrimônio do devedor ser manifestamente suficiente para
responder pela integralidade das dívidas.

Concurso de créditos

Estabelece a lei que, havendo condenação pelo dano difuso causado e também pelo dano
individual, é dizer, havendo concurso de créditos, o individual terá preferência em relação à
condenação proferida em ACP, com o montante destinado ao Fundo a que se refere o art. 13
de LACP.

Se o recolhimento da quantia resultante da condenação ao aludido Fundo preceder o trânsito em


julgado da decisão na ação de indenização por danos individuais, deverá a destinação da receita
auferida ficar suspensa até que se definam as ações individuais.

O Fundo de Defesa de Direitos Difusos tem por finalidade a reparação dos danos causados ao
meio ambiente, ao consumidor, a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, paisagístico,
por infração a ordem econômica e a certos interesses difusos e coletivos. (Lei nº 9.008/95)

Entretanto, oferece a lei à possibilidade de tal regra ser desconsiderada pela atividade cognitiva
do juiz no que tange à suficiência do patrimônio do devedor. O julgador deverá para deixar de
sustar a destinação a que se refere o §1º, convencer-se de que o patrimônio do réu é suficiente
para arcar com as indenizações a que foi condenado.

Art. 100. Decorrido o prazo de um ano sem habilitação de interessados em número


compatível com a gravidade do dano, poderão os legitimados do art. 82 promover a
liquidação e execução da indenização devida.
Parágrafo único. O produto da indenização devida reverterá para o fundo criado pela Lei
n.° 7.347, de 24 de julho de 1985.

Decurso do prazo sem habilitação

Intentada a ação coletiva para tutela de direitos ou interesses individuais homogêneos por um dos
legitimados do art. 82 e, posteriormente, julgada procedente para condenar o réu, seguir-se-á a
habilitação dos interessados, a liquidação da sentença genérica proferida e, então, a execução.

Todavia, casos há, em que o dano individualmente considerado é irrisório, carecendo do


aspecto econômico interessante aos prejudicados – como o caso do fornecedor que subtrai de
cada embalagem de farinha 10 gramas.

Assim, para que a tutela coletiva, nesta hipótese, cumpra por completo sua destinação, mister se
faz que, decorrido prazo razoável – um ano no caso - sem a manifestação suficiente dos
interessados, promovam os legitimados a liquidação e execução da condenação alcançada, para
que a sanção civil dos infratores reste concretizada e o equilíbrio se restabeleça.

Todavia, o dispositivo não é feliz em sua redação. Não estabelece o termo inicial do prazo de um
ano para que os lesados se habilitem, nem esclarece de que modo eles tomarão conhecimento
do início do seu fluxo.

O prazo se inicia com o trânsito em julgado da sentença condenatória. Mas como aumentar a
publicidade sobre o início de seu curso? O ideal é que, por analogia ao art. 94 do CDC, publique-
se um edital no diário oficial (embora, frise- se, o prazo inicie seu curso do trânsito em julgado).
Além disso, é interessante que o autor, na própria petição inicial da ação civil pública, já requeira
seja o réu condenado também a providenciar tal publicação nos meios de comunicação social
(televisão, rádio, internet, jornais etc.).

Além dissohá divergência sobre o prazo ser decadencial ou não.

De acordo com TeoryZavascky, este prazo é decadencial. Em outras palavras: uma vez
transcorrido, a vítima não poderá executar seu crédito individual. De outro modo, o devedor
poderia ser obrigado a pagar mais do que o valor do dano por ele gerado.

Com efeito, considerando que, após tal prazo, a diferença entre o valor do dano e aquele
percebido pelas vítimas é destinado ao fundo (“fluidrecovery”), e, do fundo, não poderá ser
empregado para o ressarcimento individual das vítimas faltantes, a estas só restaria executar
diretamente o patrimônio do próprio réu. Ocorre que ele já teria pago a integralidade do prejuízo
causado, de modo que, se fosse novamente executado, pagaria mais do que devia.

Já em sentido contrário a Ada Pellegrini defende que tal prazo não é decadencial, assim, não
impede que a vítima liquide e execute seu crédito individualmente, enquanto não sobrevier a
prescrição.
Fredie Didier também entende que esse prazo de 1 ano não implica perda do direito de a vítima
liquidar e executar os créditos individuais. Trata-se de prazo legal que compõe o suporte fático do
surgimento da legitimidade extraordinária coletiva para a instauração do pedido de liquidação da
“fluidrecovery”. Desta forma, caberá ao réu, nesta ação de liquidação, apontar a existência de
liquidações individuais em andamento e o eventual pagamento já realizado a alguns indivíduos,
para que o magistrado possa quantificar mais justamente o valor da indenização fluída.

EX: Vamos imaginar que tenhamos um total de 1000 pessoas lesadas. 450 vítimas já pleitearam
suas execuções de forma individual, enquanto os outros 550 já solicitaram que um dos
legitimados realizasse a execução de forma coletiva. Neste caso, não ocorrerá “Fluid Recovery”.

EX: Já se 300 vítimas ajuizarem execuções de forma individual, 500 solicitarem ao Ministério
Público para que ingresse com a Execução Coletiva e os outros 200 permanecerem inertes. Aqui
ocorrerá “Fluid Recovery" na parte que tocaria a estas 200 vítimas que permaneceram inertes.

Art. 101 - Na ação de responsabilidade civil do fornecedor de produtos e serviços, sem


prejuízo do disposto nos Capítulos I e II deste título, serão observadas as seguintes
normas:

I - a ação pode ser proposta no domicílio do autor;

II - o réu que houver contratado seguro de responsabilidade poderá chamar ao processo o


segurador, vedada a integração do contraditório pelo Instituto de Resseguros do Brasil.
Nesta hipótese, a sentença que julgar procedente o pedido condenará o réu nos termos do
Art. 80 do Código de Processo Civil. Se o réu houver sido declarado falido, o
Administrador Judicial será intimado a informar a existência de seguro de
responsabilidade, facultando-se, em caso afirmativo, o ajuizamento de ação de indenização
diretamente contra o segurador, vedada a denunciação da lide ao Instituto de Resseguros
do Brasil e dispensado o litisconsórcio obrigatório com este.

Kazuo Watanabe dispõe que o chamamento ao processo trazido no inciso II do Art. 101 do
CDC, visa ampliar a garantia do consumidor e ao mesmo tempo possibilitar ao fornecedor,
convocar desde logo sem a necessidade de Ação Regressiva Autônoma, o segurador para
responder pela cobertura securitária prometida.

Art. 102. Os legitimados a agir na forma deste código poderão propor ação visando
compelir o Poder Público competente a proibir, em todo o território nacional, a produção,
divulgação distribuição ou venda, ou a determinar a alteração na composição, estrutura,
fórmula ou acondicionamento de produto, cujo uso ou consumo regular se revele nocivo
ou perigoso à saúde pública e à incolumidade pessoal.

Uma vez provocado o Judiciário – por meio da ação de que trata o artigo ora comentado -, caberá
ao órgão jurisdicional compelir a esfera de poder competente a realizar a fiscalização
necessária para extirpar do mercado o fornecimento de produtos que sejam nocivos ou
perigosos à saúde pública ou à incolumidade das pessoas.

Visa compelir o Poder Público ao exercício do poder de polícia;

Fiscalização do mercado de consumo.

Art. 103, CDC – Nas ações coletivas de que trata este código, a sentença fará coisa julgada:

I - erga omnes, exceto se o pedido for julgado improcedente por insuficiência de provas,
hipótese em que qualquer legitimado poderá intentar outra ação, com idêntico fundamento
valendo-se de nova prova, na hipótese do inciso I do parágrafo único do art. 81;

II - ultra partes, mas limitadamente ao grupo, categoria ou classe, salvo improcedência por
insuficiência de provas, nos termos do inciso anterior, quando se tratar da hipótese
prevista no inciso II do parágrafo único do art. 81;

III - erga omnes, apenas no caso de procedência do pedido, para beneficiar todas as
vítimas e seus sucessores, na hipótese do inciso III do parágrafo único do art. 81.

§ 1° Os efeitos da coisa julgada previstos nos incisos I e II não prejudicarão interesses e


direitos individuais dos integrantes da coletividade, do grupo, categoria ou classe.

§ 2° Na hipótese prevista no inciso III, em caso de improcedência do pedido, os


interessados que não tiverem intervindo no processo como litisconsortes poderão propor
ação de indenização a título individual.

§ 3° Os efeitos da coisa julgada de que cuida o art. 16, combinado com o art. 13 da Lei n°
7.347, de 24 de julho de 1985, não prejudicarão as ações de indenização por danos
pessoalmente sofridos, propostas individualmente ou na forma prevista neste código, mas,
se procedente o pedido, beneficiarão as vítimas e seus sucessores, que poderão proceder
à liquidação e à execução, nos termos dos arts. 96 a 99.

§ 4º Aplica-se o disposto no parágrafo anterior à sentença penal condenatória.

O CDC consagrou a Coisa Julgada “secundumeventumprobationis”, para as ações coletivas que


versam sobre direitos difusos ou coletivos em sentido estrito.

A Coisa Julgada “secundumeventumprobationis” é aquela que só se forma em caso de


esgotamento das provas, ou seja, se a demanda for julgada procedente ou improcedente com
suficiência de provas. Não sendo atingido o grau de certeza a decisão não formará coisa julgada.
A decisão judicial só produzirá coisa julgada se forem exauridos todos os meios de prova.

Inciso I - erga omnes, exceto se o pedido for julgado improcedente por insuficiência de
provas, hipótese em que qualquer legitimado poderá intentar outra ação, com idêntico
fundamento valendo-se de nova prova, na hipótese do inciso I do parágrafo único do art.
81;

Então se procedente a Ação Coletiva, os prejudicados podem se valer de pleitos individuais


embasados na Sentença? Será que o indivíduo poderia se valer dessa sentença a fim de liquida-
la? Sobre o tema vejamos o que prevê o dispositivo abaixo:

Art. 104, CDC - As ações coletivas, previstas nos incisos I e II e do parágrafo único do art.
81, não induzem litispendência para as ações individuais, mas os efeitos da coisa julgada
erga omnes ou ultra partes a que aludem os incisos II e III do artigo anterior não
beneficiarão os autores das ações individuais, se não for requerida sua suspensão no
prazo de trinta dias, a contar da ciência nos autos do ajuizamento da ação coletiva.

Assim o entendimento é que se o indivíduo já estiver movendo uma Ação Individual ele terá que
pedir suspensão desse pleito, embasado no art. 313, V, “a” do CPC, para poder se valer da
decisão na Ação Coletiva, em sentido contrário, se ele não pedir suspensão ele não poderá se
valer do resultado da Ação Coletiva.

Inciso II - ultra partes, mas limitadamente ao grupo, categoria ou classe, salvo


improcedência por insuficiência de provas, nos termos do inciso anterior, quando se tratar
da hipótese prevista no inciso II do parágrafo único do art. 81;

Este inciso trata das sentenças que envolvam interesses coletivos em sentido estrito – assim,
como o grupo é determinável, o efeito da Coisa Julgada não será erga omnes, mas sim ultra
partes.

Inciso III - erga omnes, apenas no caso de procedência do pedido, para beneficiar todas as
vítimas e seus sucessores, na hipótese do inciso III do parágrafo único do art. 81.

Este inciso trata dos efeitos da Coisa Julgada na Ação Coletiva que tutelam Direitos Individuais
Homogêneos, qual seja: erga omnes apenas no caso de procedência do pedido.

Se um sujeito já estiver movendo uma Ação Individual concomitantemente à uma Ação Coletiva
deverá requerer a suspensão da Ação Individual, até que saia o resultado da Ação Coletiva,
conforme prevê o Art. 104 do CDC, já estudado anteriormente, que embora disponha
expressamente apenas acerca dos incisos I e II do Art. 103 do CPC, há o entendimento que se
aplica também ao inciso III.

Uma vez suspensa a Ação Individual se a Ação Coletiva for julgada improcedente, há a
possibilidade de retomá-la, por outro lado se a Ação Coletiva for julgada procedente, extingue-se
a individual e, segue-se com a liquidação e execução da decisão na Ação Coletiva.

Pela leitura do Art. 104 do CDC nos dá a impressão que apenas a parte é quem terá que
requerer a suspensão da Ação Individual, no entanto, a verdade é que o próprio Juiz ao tomar
conhecimento de que tramita uma Ação Coletiva sobre o mesmo assunto, pode de ofício
suspender a Ação Individual (Resp 1.110.549/RS; Resp 1.189.679/RS).

Transporte in utilibusda Coisa Julgada

Art. 103, §3º, CDC - Os efeitos da coisa julgada de que cuida o art. 16, combinado com o art. 13
da Lei n° 7.347, de 24 de julho de 1985, não prejudicarão as ações de indenização por danos
pessoalmente sofridos, propostas individualmente ou na forma prevista neste código, mas, se
procedente o pedido, beneficiarão as vítimas e seus sucessores, que poderão proceder à
liquidação e à execução, nos termos dos arts. 96 a 99.

No caso de termos uma Ação Coletiva “Lato Sensu” e uma Ação Individual tramitando
concomitantemente, se não for requerida a suspensão da Ação Individual, esta última terá seu
trâmite normal e o Autor não poderá se beneficiar da decisão da Ação Coletiva.

Por outro lado, se houver a Ação Coletiva e não houver uma Ação Individual tratando do mesmo
assunto, há possibilidade de se fazer o transporte in utilibus da Coisa Julgada, ou seja, o
indivíduo que não compunha o polo ativo da Ação poderá se valer da Sentença da Ação Coletiva,
seja ela tratando de Direito Difuso, Coletivo em Sentido Stricto ou Individual Homogêneo.

O entendimento acima é majoritário e inclui doutrinadores como: Ada Pellegrini, Marcelo


Abelha e Teori Zavascki; de outro lado, minoritariamente, Hugo Nigro Mazzilli e José Ignácio
Botelho de Mesquita, entendem que não há que se falar em transporte in utilibus da Coisa
Julgada se na Ação Civil Pública em prol de Direitos Difusos ou Coletivos não for formulado
pedido para que também se tutelem Direitos Individuais Homogêneos, não haverá como as
vítimas e seus sucessores serem beneficiados pela futura coisa julgada coletiva.

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