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ACÓRDÃO
*
Professora do Curso de Graduação e Pós-graduação em nível de Mestrado do Centro
Universitário de Maringá (CESUMAR). Mestre e Doutora em Direito pela Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo. Advogada na comarca de Maringá (PR).
412 Revista Jurídica Cesumar – v.2, n. 1 - 2002
ANÁLISE DO ACÓRDÃO
1. HISTÓRICO
2. DECISÃO ANALISADA
"[...] o Ministério Público não tem legitimidade para propor ação civil
pública relativa às mensalidades escolares, tendo em vista que o valor
cobrado pela Faculdade estaria acima do máximo permitido em lei, porque
os interesses defendidos não são indisponíveis, difusos ou coletivos, mas
essencialmente privados e disponíveis”.
3. CRÍTICA AO ACÓRDÃO
1
Dannini, R. J. F. Tutela Jurisdicional dos direitos e interesses coletivos no código do
consumidor. Revista de Direito do Consumidor, São Paulo, nº 10, p. 188, abr.ljun. 1994.
414 Revista Jurídica Cesumar – v.2, n. 1 - 2002
ligados entre si não apenas por uma circunstância de fato, mas por relação
de fato que ganhou contornos jurídicos, transformando em relação
jurídica”2
2
Gonçalves, M. V. R. O ministério público e a defesa do consumidor. Revista de Direito do
Consumidor, São Paulo, nº. 07, p. 67, jul./set. 1993.
3
Ibidem., p. 67.
4
Nery Júnior, N. Aspectos do processo civil no código de defesa do consumidor. Revista de
Direito do Consumidor, São Paulo, nº. 1, p. 202, [s./d]
5
Nery Júnior, N. Aspectos do processo civil no código de defesa do consumidor. Revista de
Direito do Consumidor, São Paulo, nº. 1, p. 203, [s./d.]
Galdino – Comentário a Acórdão 415
6
Apud: Alvim, A. Tratado de direito processual civil. 2. ed. São Paulo: R. dos Tribunais, 1990.
v. 1. pp. 515-516.
7
Armelin, D. Legitimidade para agir no direito processual civil brasileiro. São Paulo: R. dos
Tribunais, 1989. p. 85.
8
Armelin, D. Legitimidade para agir no direito processual civil brasileiro. São Paulo: R. dos
Tribunais, 1989. pp. 116-117.
9
Alvim, A. Tratado de direito processual civil. 2. ed. São Paulo: R. dos Tribunais, 1990. v. 1.
p.351.
416 Revista Jurídica Cesumar – v.2, n. 1 - 2002
10
Ibidem., p. 516.
11
Chiovenda, G. Instituições de direito processual civil. São Paulo: Ed. Saraiva 1969. v. 2. p.
252.
12
Ibidem., p. 254.
13
Carnelutti, F. Sistema di diretto processuale civile. Padova: Casa CEDAM, [s/d]. v. 2. p. 379.
14
Carnelutti, F. Sistema di diretto processuale civile. Padova: Casa CEDAM, [s/d]. v. 2. p. 379.
Galdino – Comentário a Acórdão 417
15
Liebman, E. T. Manual de direito processual civil. Rio de Janeiro: Ed. Forense, 1984. v. 1. p.
160.
16
Schónke, A. Derecho Processual Civil. Barcelona: Ed. Bosch, 1950. p. 85.
17
Apud: Oliveira Júnior, W. M. de. Substituição Processual. São Paulo: R. dos Tribunais, 1971.
pp. 116-117.
18
Alla, V. J. C. apud Grinover, A. P. A ação civil pública e a defesa de interesses individuais
homogêneos. Revista de Direito do Consumidor, São Paulo, nº 05, p. 140, jan./mar. 1999.
418 Revista Jurídica Cesumar – v.2, n. 1 - 2002
“fenômeno pelo qual alguém autorizado por lei, atua em juízo como parte,
em nome próprio e no seu interesse, na defesa de pretensão alheia”19
Após estas considerações, convém ressaltar que “os institutos do
processo civil ortodoxo não mais atendem à necessidade de hoje, no campo
dos direitos difusos e coletivos. Criada para solucionar lides de natureza
individual, a legitimidade para causa como condição da ação está a merecer
outra construção dogmática, que deverá levar em consideração o fim a que
se destina essa legitimação; a defesa, em juízo, de direitos meta ou
supraindividuais”20
Para que houvesse uma efetiva tutela judicial dos interesses difusos,
coletivos e individuais homogêneos, o Código de Defesa do Consumidor
trouxe algumas inovações, dentre elas, as ações coletivas, dispondo em seu
art. 81 que "a defesa dos interesses e direitos dos consumidores das vítimas
poderá ser exerci da em juízo individualmente, ou a título coletivo".
Kazuo Watanabe, ao comentar tal dispositivo, observa que o Código
de Defesa do Consumidor tem por objeto tanto as ações individuais como as
ações coletivas, "sendo que a tutela coletiva abrange dois tipos de interesses
ou direitos: a) os essencialmente, que são os 'difusos', definidos no inc. I do
parágrafo único do art. 81, e os 'coletivos' propriamente ditos, conceituados
no inciso II do parágrafo único do art. 81; b) os de natureza coletiva apenas
na forma em que são tutelados, que são os 'individuais homogêneos',
definidos no inciso III do parágrafo único do art. 81 (p. 623)21
O CDC ampliou o rol dos legitimados para a propositura das ações
coletivas, para incluir os entes oficiais, especificamente destinados à defesa
dos interesses pelo Código, ainda que sem personalidade jurídica. Mas nada
impede que cada um dos co-legitimados possa isoladamente, ajuizar ação
coletiva. Ocorre, portanto, a chamada legitimação concorrente, disjuntiva e
exclusiva.
A legitimidade se diz concorrente quando a legitimidade de uma das
entidades não exclui a de outra: são todas simultânea e independentemente
legitimadas para agir. Concorrentemente, aqui, significa não-exclusiva de
uma só entidade. Também é chamada disjuntiva no sentido de não ser
complexa, vez que qualquer uma das entidades co-legitimadas poderá
propor, sozinha, ação coletiva sem necessidade de formação de litisconsórcio
ou de autorização por parte dos demais co-legitimados. Por fim trata-se de
uma legitimidade exclusiva, porque somente aquelas entidades
19
Nery Junior, N.; Nery, R. M. A. Código de processo civil comentado e legislação processual civil
extravagante em vigor. 3 ed. São Paulo: R. dos Tribunais, 1997. p. 259.
20
Nery Júnior, N. Aspectos do processo civil no código de defesa do consumidor. Revista de
Q
Direito do Consumidor, São Paulo, n 1, p. 209. [s./ld].
21
Watanabe, K. Demandas coletivas e os problemas emergentes da praxis forense. Revista de
Q
Processo, São Paulo, ano 17, n 67, p.23, jul./set. 1992., Kazuo.
Galdino – Comentário a Acórdão 419
taxativamente previstas em lei (LACP, art. 15 e CDC, art. 82, v. g.) poderão
propor uma ação coletiva. As pessoas físicas e as demais pessoas jurídicas,
portanto, não terão legitimidade para propor uma ação coletiva, exceto nos
estritos casos de ação popular (CF/88, art. 5°, LXXIII) em que somente
pessoa física, no gozo de seus direitos políticos, tem legitimidade22.
Discute-se na doutrina a natureza jurídica da participação processual
do Ministério Público nas ações coletivas, se seria legitimação extraordinária
ou ordinária.
Para grande parte dos doutrinadores a dicotomia clássica da
legitimação em ordinária e extraordinária se encontra, hoje, superada,
qualificando a legitimação do MP e associações que vão a juízo na defesa
dos direitos difusos e coletivos em legitimação autônoma para a condução do
processo.
Os Professores Rosa Maria Andrade Nery e Nelson Nery Júnior
entendem que:
"O substituto processual defende direito de titular determinado. Como os
titulares dos direitos difusos são indetermináveis e os dos direitos coletivos
indeterminados (CDC. art. 81, parágrafo único, I e II), sua defesa em juízo
é realizada por meio de legitimação autônoma para a condução do
processo Selbstandige Prozebfiihrungsbejugnis, estando superada a
dicotomia clássica entre a legitimação ordinária e extraordinária”23.
Em relação à natureza jurídica da legitimação do Ministério Público
na defesa dos direitos individuais homogêneos, alguns doutrinadores
entendem se tratar de substituição processual, enquanto outros entendem não
se tratar, nem de substituição processual, nem de representação24.
22
Gidi, A. Legitimidade para agir em ações coletivas. Revista de Direito do Consumidor. São
Paulo. n.14. p.55. Abr./jun. 1995.
23
Nery Junior, N.; Nery, R. M. A. Código de processo civil comentado e legislação processual
civil extravagante em vigor 3 ed. São Paulo: R. dos Tribunais, 1997. p. 260.
24
Para Sérgio Ricardo de Arruda Fernandes "[...] em nosso atual sistema legal, a ação coletiva
exercida para defesa de direitos individuais homogêneos também encerra a hipótese de
substituição processual, figurando como substituto alguns dos legitimados pelo art. 82 e,
como substituído o detentor do direito material individual." (Fernandes, S. R. de A. Breves
considerações sobre as ações coletivas contempladas no código de defesa do consumidor.
Revista de Processo, São Paulo, ano 18, nº. 71, p. 145, jul./set. 1993.).
Por outro lado, Carlos Eduardo Faraco Braga afirma que "[...] falar que a legitimidade é
concorrente, que no caso dos interesses individuais homogêneos trata-se de legitimação
extraordinária a título de substituição processual e admitir-se o litisconsórcio, vai em
confronto com tudo o que dissemos no subitem 6.1, onde a doutrina não admite a
possibilidade de na legitimação extraordinária ocorrer a figura do litisconsórcio". (Braga, C
E. F. Ação coletiva. Revista de Direito do Consumidor, São Paulo, nº. 7, p. 97, jul./set.
1993.).
420 Revista Jurídica Cesumar – v.2, n. 1 - 2002
25
Nery Junior, N.; Nery, R. M. A. Código de processo civil comentado e legislação processual
civil extravagante em vigor. 3 ed. São Paulo: R. dos Tribunais, 1997. p. 260.
26
Alvim, 1. A. Noções gerais sobre o processo no código do consumidor. Revista de Direito do
Consumidor, São Paulo, nº 10. abr.l jun. 1994.
27
Watanabe, K. Demandas coletivas e os problemas emergentes da praxis forense. Revista de
Q
Processo, São Paulo, ano 17, n 67, p.16, jul./set. 1992.
Galdino – Comentário a Acórdão 421
28
Gidi, A. Legitimidade para agir em ações coletivas. Revista de Direito do Consumidor.
São Paulo. n.14. p.63. Abr./jun. 1995.
29
Mazzilli, H. N. A defesa dos interesses difusos em Juízo. 3. ed. São Paulo: R. dos Tribunais,
1991. pp. 41/53
422 Revista Jurídica Cesumar – v.2, n. 1 - 2002
30
Mancuso, R. de C. apud Alvim et. al. Comentários ao código de proteção do consumidor, 1
ed. São Paulo: R. dos Tribunais. [s.d.] p. 275.
31
Alia, V. J. C. apud Grinover, A. P .. A ação civil pública e a defesa de interesses individuais
homogêneos. Revista de Direito do Consumidor, São Paulo, nº 05, p. 149, jan./mar. 1999.
32
Ibidem., p. 149.
Galdino – Comentário a Acórdão 423
5. CONCLUSÃO
33
Nery Júnior, N. Aspectos do processo civil no código de defesa do consumidor. Revista de
Direito do Consumidor, São Paulo, nº 1, p. 203. [s.d.].
424 Revista Jurídica Cesumar – v.2, n. 1 - 2002
6. REFERÊNCIAS
ALLA, V. J. C. A ação civil pública e a defesa de interesses individuais
homogêneos. Revista de Direito do Consumidor, São Paulo, n° 05, jan./mar. 1999.
ALLA, V. J. C. Jurisprudência Comentada. Revista de Direito do Consumidor, São
Paulo, n° 16, p. 140-149. out./dez. 1995
ALVIM, A. et al. Código do consumidor comentado e legislação correlata. São
Paulo: R. dos Tribunais, 1991.
ALVIM, A. et al. Manual de direito processual civil. 3. ed. São Paulo: R. dos
Tribunais, 1990. v. 1.
ALVIM, A. et al. Tratado de direito processual civil. 2. ed. São Paulo: R. dos
Tribunais, 1990. V. I.
ALVIM, A. e al. Teresa Arruda. Noções gerais sobre o processo no código do
consumidor. Revista de Direito do Consumidor, São Paulo, n° 10. abr./ jun. 1994.
ARMELIN, D. Legitimidade para agir em ações coletivas. Revista de Direito do
Consumidor, São Paulo, n° 14, abr./jun. 1995.
ARMELIN, D. Legitimidade para agir no direito processual civil brasileiro. São
Paulo: R. dos Tribunais, 1989.
BRAGA, C. E. F. Ação coletiva. Revista de Direito do Consumidor, São Paulo, n° 7,
jul./sct. 1993.
CALAMANDREI, P. Instituciones de derecho procesal civil. Buenos Aires: Ed.
Juridicas Europa-America, 1973. V. 2.
CARNELUTTI, F. Sistema di diretto processuale civile. Padova: Casa CEDAM,
[s/d). V. 2.
CHIOVENDA, G. Instituições de direito processual civil. São Paulo: Ed. Saraiva,
1969. V. 2.
CRETELLA JÚNIOR, J. et al. Comentários ao código do consumidor. Rio de
Janeiro: Ed. Forense, 1992.
Galdino – Comentário a Acórdão 425