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DISCIPLINAS COMPLEMENTARES

Direito Processual Coletivo


Fernando Gajardoni
Aula 4

ROTEIRO DE AULA

Tema: Ação Civil Pública II

3. Legitimidade Ativa (art. 5º LACP e 82 do CDC)

Art. 5o Têm legitimidade para propor a ação principal e a ação cautelar:


I - o Ministério Público;
II - a Defensoria Pública;
III - a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios;
IV - a autarquia, empresa pública, fundação ou sociedade de economia mista;
V - a associação que, concomitantemente:
a) esteja constituída há pelo menos 1 (um) ano nos termos da lei civil;
b) inclua, entre suas finalidades institucionais, a proteção ao patrimônio público e social, ao meio ambiente, ao
consumidor, à ordem econômica, à livre concorrência, aos direitos de grupos raciais, étnicos ou religiosos ou ao
patrimônio artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico.
§ 1º O Ministério Público, se não intervier no processo como parte, atuará obrigatoriamente como fiscal da lei.
§ 2º Fica facultado ao Poder Público e a outras associações legitimadas nos termos deste artigo habilitar-se como
litisconsortes de qualquer das partes.

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§ 3º Em caso de desistência infundada ou abandono da ação por associação legitimada, o Ministério Público ou
outro legitimado assumirá a titularidade ativa.
§ 4.° O requisito da pré-constituição poderá ser dispensado pelo juiz, quando haja manifesto interesse social
evidenciado pela dimensão ou característica do dano, ou pela relevância do bem jurídico a ser protegido.
§ 5.° Admitir-se-á o litisconsórcio facultativo entre os Ministérios Públicos da União, do Distrito Federal e dos
Estados na defesa dos interesses e direitos de que cuida esta lei.
§ 6° Os órgãos públicos legitimados poderão tomar dos interessados compromisso de ajustamento de sua conduta
às exigências legais, mediante cominações, que terá eficácia de título executivo extrajudicial.

Art. 82. Para os fins do art. 81, parágrafo único, são legitimados concorrentemente:
I - o Ministério Público,
II - a União, os Estados, os Municípios e o Distrito Federal;
III - as entidades e órgãos da Administração Pública, direta ou indireta, ainda que sem personalidade jurídica,
especificamente destinados à defesa dos interesses e direitos protegidos por este código;
IV - as associações legalmente constituídas há pelo menos um ano e que incluam entre seus fins institucionais a
defesa dos interesses e direitos protegidos por este código, dispensada a autorização assemblear.
§ 1° O requisito da pré-constituição pode ser dispensado pelo juiz, nas ações previstas nos arts. 91 e seguintes,
quando haja manifesto interesse social evidenciado pela dimensão ou característica do dano, ou pela relevância
do bem jurídico a ser protegido.

a) Definição ope legis (públicos/privados/sociedade civil)

O Brasil fez uma opção de definir ope legis, nos termos da lei, quais são os legitimados ativos para a propositura
da ação civil pública. Além dos legitimados constantes nos dispositivos acima, ninguém mais pode propor a ação
civil pública, tratando-se de rol taxativo. Já houve tentativa legislativa de tornar o rol da ação civil pública igual o
rol da ação popular, ou seja, permitir que o cidadão pudesse propor ação civil pública, mas isso restou frustrado.

No sistema norteamericano, qualquer pessoa pode propor ação civil pública (class action), desde que preenchidos
os requisitos da legislação norteamericana. Ainda assim, o sistema brasileiro é bastante democrático por ter
colocado dentre os legitimados órgãos públicos (MP, Defensoria Pública, Administração Direta e Autarquias),
órgãos privados (Administração Indireta) e organismos da sociedade civil (associações).

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b) Legitimidade concorrente e disjuntiva

Legitimidade concorrente é quando há mais de um legitimado e disjuntiva porque um legitimado não precisa
esperar ou não precisa de autorização do outro para agir. A legitimidade deles é literalmente autônoma e um não
depende do outro. Assim, não podemos concordar com algumas posturas de cidades muito pequenas do interior
do Brasil em que as associações, antes de propor a ação civil pública, procuram o MP para ver se ele concorda. O
art. 617 do CPC é um exemplo de legitimidade concorrente e não disjuntiva, deve seguir a ordem ali prevista.

c) Natureza da legitimação
a) Ordinária

Posição amplamente minoritária, que era no passado defendida pelo professor Kazuo Watanabe. O MP propõe
ação civil pública para defender a prerrogativa constitucional dele, ainda que beneficie outras pessoas. Da mesma
forma ocorre com a Defensoria Pública.

b) Extraordinária (art. 18, parágrafo, CPC)

Essa posição prevaleceu no Brasil por muitos anos, até aproximadamente 2010, defendida por Cássio Scarpinella
Bueno e outros. O MP e os demais legitimados agem em nome próprio, porém defendendo direito alheio.

Art. 18. Ninguém poderá pleitear direito alheio em nome próprio, salvo quando autorizado pelo ordenamento
jurídico.
Parágrafo único. Havendo substituição processual, o substituído poderá intervir como assistente litisconsorcial.

c) Autônoma para a condução do processo (difusos e coletivos)

A partir de estudos capitaneados pelo professor Nelson Nery Júnior extraída do Direito alemão, começou a se
sustentar no Brasil que esse modelo de legitimação ordinária e extraordinária seria incompatível com o processo
coletivo brasileiro porque são modelos criados para o processo individual, ligados à ideia de titularidade de
direitos. Em se tratando de direitos difusos e coletivos (naturalmente coletivos), a legitimação é autônoma para a
condução do processo que é desprendida, separada da titularidade do direito material para a propositura da ação
civil pública e condução do processo coletivo. Essa é a posição que prevalece em doutrina e jurisprudência.

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E quanto aos direitos individuais homogêneos (o direito é individual, mas por ter tantas pessoas com o mesmo
direito, se permite o uso das ferramentas do processo coletivo para tutelar tal direito – acidentalmente coletivos)?
Voltamos para a legitimidade extraordinária porque o direito individual homogêneo é individual e, por isso,
conseguimos encaixar nele a teoria da legitimação utilizada pelo direito individual (art. 18, CPC).

d) Litisconsórcio ativo, facultativo e unitário entre co-legitimados (arts. 5º, §§ 2º e 5º, LACP)

Os legitimados podem atuar em litisconsórcio, sendo ativo (na propositura), facultativo (opcional) e unitário (o
efeito da decisão tem que ser igual para todos os litisconsortes ativos).

Art. 5º LACP (...)


§ 2º Fica facultado ao Poder Público e a outras associações legitimadas nos termos deste artigo habilitar-se como
litisconsortes de qualquer das partes.
§ 5° Admitir-se-á o litisconsórcio facultativo entre os Ministérios Públicos da União, do Distrito Federal e dos
Estados na defesa dos interesses e direitos de que cuida esta lei.

e) Controle judicial da representação adequada (pressuposto)

Embora haja no Brasil a posição minoritária do professor Nery no sentido de que o juiz só controla a representação
adequada da associação porque a associação é a única em que o art. 5º prevê o controle judicial, prevalece no
país a ideia de que existe um controle judicial da representação adequada.

Ou seja, além do controle legislativo da legitimidade, haveria um segundo controle, que seria um controle do juiz
e o juiz veria no caso concreto se aquele objeto daquela ação proposta pelo legitimado está dentro das suas
finalidades institucionais. Essa posição hoje é a largamente dominante na doutrina e jurisprudências brasileiras,
no sentido de que não apenas na associação, mas em todos os legitimados ativos também haveria um controle
judicial para averiguar se aquele legitimado é um bom porta-voz daqueles interesses.

O professor, de forma minoritária, entende que legitimidade é uma coisa e ser um representante adequado é
outra coisa. A legitimidade sempre é presente porque deriva da lei, mas eles podem ser partes legítimas e não ter
boa representação dos interesses em jogo e por esse motivo o professor entende que legitimidade é uma coisa,

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é condição da ação, mas representação adequada é outra coisa. É pressuposto processual de validade da relação
jurídica processual.

3. Legitimidade Ativa (art. 5º LACP e 82 do CDC)


3.1. Ministério Público

a) Finalidade institucional (art. 127 da CF e Lei 8.625/93)

O MP, em sua estrutura constitucional, tem 4 fins: tutela do regime democrático, tutela da ordem jurídica, tutela
dos interesses sociais e tutela dos direitos individuais indisponíveis.

i) Difusos e coletivos: sempre representa (indivisibilidade/interesse social). Representação adequada.

Súmula 329-STJ: O Ministério Público tem legitimidade para propor ação civil pública em defesa do patrimônio
público.

ii) Individuais homogêneos: controvertido/casuística (tendência em admitir) (súmula 601/STJ e cancelamento


da súmula 470/STJ – DPVAT)

Nesses casos, deve se perguntar se o direito individual que está sendo defendido tem conotação social ou se é um
direito indisponível porque o art. 127 da CF fala que o MP só pode ter como objeto nas ações que ele propõe a
defesa do regime democrático, da ordem jurídica, dos interesses sociais e direitos individuais indisponíveis.

Existe um financiamento habitacional concedido a muitas pessoas em contratos individuais cujo índice de reajuste
está extremamente prejudicial aos adquirentes desses imóveis. O MP poderia propor uma ação civil pública para
rever esses índices? É um direito individual homogêneo, mas não dá para negar que sistema financeiro da
habitação envolve direito à moradia do art. 6º da CF e, portanto, trata-se de direito individual homogêneo com
enorme conotação social. O MP tem plena legitimidade para propor tal ação civil pública.

Imagine uma situação em que temos milhares de pessoas portadoras de uma doença que não têm em seu favor
um atendimento próprio no SUS. O MP decide propor uma ação civil pública para garantir para cada um desses
indivíduos que poderiam propor ações individuais para pedir o tratamento próprio, com base no art. 196 da CF.

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Esse direito individual é relacionado a um direito indisponível, como os direitos à saúde e à vida. Assim, o MP pode
propor essa ação civil pública.

Imagine a situação da existência de um condomínio de alto padrão com 70, 80, 100 imóveis e ali, por conta de
vício na convenção de condomínio, os moradores desses lotes começam a ser cobrados de modo exagerado e
ilegal determinada taxa condominial. Poderia o MP propor uma ação civil pública para readequar o valor devido
para cada um dos condôminos? É um direito individual homogêneo, mas não tem conotação social e tampouco é
indisponível (aqui a questão é puramente patrimonial). O MP não é representante adequado.

Na dúvida, admita o MP como legitimado porque temos que pensar que o processo coletivo é um instrumento de
facilitação do acesso à justiça, de amplificação do processo civil brasileiro. A súmula 601 do STJ acabou por
sacramentar o entendimento de que, em matéria de Direito do Consumidor (difusos, coletivos ou até individuais
homogêneos), o MP sempre pode propor ação civil pública pela conotação social.

Súmula 601-STJ: O Ministério Público tem legitimidade ativa para atuar na defesa de direitos difusos, coletivos e
individuais homogêneos dos consumidores, ainda que decorrentes da prestação de serviço público.

b) ACP em favor de uma única pessoa (perplexidade) (art. 8º, III, da Resolução CNMP 174/2017 –
procedimento administrativo) (Ex. súmula 594/STJ - alimentos)

Durante muito tempo se debateu esse tema de modo enviesado. Ação civil pública é e sempre será instrumento
para a tutela de direitos difusos, coletivos e individuais homogêneos. Em algum momento, os promotores
passaram a acreditar que todas as suas ações cíveis seriam ações civis públicas.

Súmula 594-STJ: O Ministério Público tem legitimidade ativa para ajuizar ação de alimentos em proveito de criança
ou adolescente independentemente do exercício do poder familiar dos pais, ou do fato de o menor se encontrar
nas situações de risco descritas no artigo 98 do Estatuto da Criança e do Adolescente, ou de quaisquer outros
questionamentos acerca da existência ou eficiência da Defensoria Pública na comarca.

Exatamente por essa percepção, o Conselho Nacional do Ministério Público editou uma Resolução 174/2017
disciplinando no âmbito do MP a instauração e tramitação de notícia de fato e de procedimento administrativo,
que serve para apurar fato que enseje a tutela de interesses individuais indisponíveis.

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3.2. Defensoria Pública

a) Finalidade institucional (arts. 5º, LXXIV, e 134, da CF, e LC 80/1994)

De acordo com esses dispositivos constitucionais e com a LC n. 80/94, veremos que, diferentemente do MP que
tinha quatro finalidades institucionais, a Defensoria Pública tem duas:

⮚ Defesa dos Direitos Humanos, não interessando a cor ou a condição financeira das pessoas, seja em direito
individual, seja em direito coletivo;

⮚ Defesa dos necessitados, tanto nos direitos individuais quanto nos interesses coletivos. A Defensoria
Pública tem legitimidade para qualquer ACP, mas, para a corrente dominante no Brasil, só tem
representação adequada em uma ACP que trabalhe com essas duas finalidades institucionais. Não sendo
uma dessas duas, o juízo deve determinar que outro legitimado assuma a titularidade ativa à luz do
princípio de interesse jurisdicional e do conhecimento do mérito, o qual já estudamos.

Art. 5º, LXXIV - o Estado prestará assistência jurídica integral e gratuita aos que comprovarem insuficiência de
recursos;

Art. 134. A Defensoria Pública é instituição permanente, essencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-
lhe, como expressão e instrumento do regime democrático, fundamentalmente, a orientação jurídica, a promoção
dos direitos humanos e a defesa, em todos os graus, judicial e extrajudicial, dos direitos individuais e coletivos, de
forma integral e gratuita, aos necessitados, na forma do inciso LXXIV do art. 5º desta Constituição Federal .
§ 1º Lei complementar organizará a Defensoria Pública da União e do Distrito Federal e dos Territórios e
prescreverá normas gerais para sua organização nos Estados, em cargos de carreira, providos, na classe inicial,
mediante concurso público de provas e títulos, assegurada a seus integrantes a garantia da inamovibilidade e
vedado o exercício da advocacia fora das atribuições institucionais.
§ 2º Às Defensorias Públicas Estaduais são asseguradas autonomia funcional e administrativa e a iniciativa de sua
proposta orçamentária dentro dos limites estabelecidos na lei de diretrizes orçamentárias e subordinação ao
disposto no art. 99, § 2º.
§ 3º Aplica-se o disposto no § 2º às Defensorias Públicas da União e do Distrito Federal.

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§ 4º São princípios institucionais da Defensoria Pública a unidade, a indivisibilidade e a independência funcional,
aplicando-se também, no que couber, o disposto no art. 93 e no inciso II do art. 96 desta Constituição Federal.

b) Conceito de hipossuficiente/necessitado

i) Econômico (art. 5º, LXXIV, CF)

No passado, se entendeu que o conceito de necessitado ou conceito de hipossuficiente era vinculado à capacidade
econômica porque quando lemos o art. 134 da CF, veremos que somos remetidos para o art. 5º, LXXIV da CF, que
fala expressamente de necessitado econômico, de quem é pobre na acepção econômica do termo e durante muito
tempo esse entendimento prevaleceu.

ii) Econômico e organizacional (jurídico – incapacidade de auto-organização) (funções típicas e atípicas)

Contudo, a jurisprudência evoluiu no sentido de que necessitado pode ser tanto o econômico, que é o pobre (art.
5º, LXXIV), mas também o necessitado organizacional, de capacidade jurídica e isso seria uma função atípica, mas
da Defensoria Pública nos termos do art. 4º da LC n. 80/94. Exemplos: curadoria especial de réus ausentes no
processo civil em citação por edital (art. 72 do CPC), defesa técnica no processo penal.

O art. 4º da LC 80/94 traz várias atribuições do defensor público e se você analisar, lá você consegue verificar com
clareza algumas hipóteses em que a atuação do defensor público tem a ver com a pobreza econômica da pessoa
e outras hipóteses que nada tem a ver com a pobreza da pessoa. Atividades típicas seriam as relacionadas à
pobreza econômica, como o inciso I. Atividades atípicas, como as do inciso XVI, têm a ver com a incapacidade de
auto-organização, hipossuficiência organizacional.

c) Atuação em sede coletiva

i) só nos individuais homogêneos (Min. Teori Zavascki)

Durante algum tempo, se entendeu que a Defensoria Pública só atuaria nas ações relativas à direitos individuais
homogêneos, sendo a posição do saudoso Ministro Teori Zavascki, isto porque a única maneira de saber se alguém

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é necessitado, de acordo com ele, era verificar se o direito em si mesmo considerado conforme a titularidade da
pessoa favorecia o necessitado.

Em outras palavras, a Defensoria Pública é legitimada para defender os necessitados, só que para saber se alguém
é necessitado, econômico ou organizacional, temos que saber quem é a pessoa. Então, só vamos conseguir saber
quem é o titular do direito nos direitos individuais homogêneos porque nos difusos e nos coletivos os sujeitos são
indeterminados ou determinados por categoria/grupo/classe.

● Exemplo: existe uma ACP que teria por objetivo garantir a defesa dos poupadores dos expurgos
inflacionários de 1990. A Defensoria Pública é a titular da ACP. Para o Teori, isso seria possível porque a
Defensoria Pública está defendendo um direito individual homogêneo, de cada um dos poupadores e a
sentença viria para todos igualmente, mas, na hora de liquidar e executar a pessoa somente poderia se
beneficiar da sentença coletiva se provasse que era necessitada, econômica ou organizacional;

ii) todos (potencialmente necessitados) (STF ADI 3943) (Tema/STF 607) (STJ Resp. 912.849-RS)

Hoje, tanto o STJ quanto o STF, existe a interpretação que a Defensoria Pública pode atuar tanto nos difusos
quanto nos coletivos e nos individuais homogêneos e, para sustentar essa posição, construiu-se
jurisprudencialmente a ideia das ações em favor dos potencialmente necessitados, ou seja, existem grupos
potencialmente vulneráveis em que é possível se presumir a condição de necessitado, econômico ou
organizacional e, à luz do caso em abstrato, seria possível admitir a atuação da Defensoria Pública em favor de
todos, necessitados ou não necessitados.

● Exemplo real da Defensoria Pública do Estado de São Paulo: uma ação para garantir para as presas de
Ribeirão Preto absorventes íntimos. Lá, tem presas cujas famílias podem comprar e levar para elas, mas,
no Brasil, as estatísticas mostram que a larga maioria dos presos são pobres e então temos um grupo de
potencialmente necessitados, podendo atuar em favor desse direito coletivo. O MP também poderia ter
ingressado com tal ACP, inexistindo conflito de atribuições porque essa legitimidade é concorrente
disjuntiva, conforme estudamos na aula passada.

Efeito colateral desse entendimento: a atuação da Defensoria Pública pode acabar beneficiando necessitados e
não necessitados, de forma uniformizada.

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“AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. LEGITIMIDADE ATIVA DA DEFENSORIA PÚBLICA PARA AJUIZAR
AÇÃO CIVIL PÚBLICA (ART. 5º, INC. II, DA LEI N. 7.347/1985, ALTERADO PELO ART. 2º DA LEI N. 11.448/2007).
TUTELA DE INTERESSES TRANSINDIVIDUAIS (COLETIVOS STRITO SENSU E DIFUSOS) E INDIVIDUAIS HOMOGÊNEOS.
DEFENSORIA PÚBLICA: INSTITUIÇÃO ESSENCIAL À FUNÇÃO JURISDICIONAL. ACESSO À JUSTIÇA. NECESSITADO:
DEFINIÇÃO SEGUNDO PRINCÍPIOS HERMENÊUTICOS GARANTIDORES DA FORÇA NORMATIVA DA CONSTITUIÇÃO
E DA MÁXIMA EFETIVIDADE DAS NORMAS CONSTITUCIONAIS: ART. 5º, INCS. XXXV, LXXIV, LXXVIII, DA
CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA. INEXISTÊNCIA DE NORMA DE EXCLUSIVIDAD DO MINISTÉRIO PÚBLICO PARA
AJUIZAMENTO DE AÇÃO CIVIL PÚBLICA. AUSÊNCIA DE PREJUÍZO INSTITUCIONAL DO MINISTÉRIO PÚBLICO PELO
RECONHECIMENTO DA LEGITIMIDADE DA DEFENSORIA PÚBLICA. AÇÃO JULGADA IMPROCEDENTE.
(ADI 3943, Relator(a): CÁRMEN LÚCIA, Tribunal Pleno, julgado em 07/05/2015, ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-154
DIVULG 05-08-2015 PUBLIC 06-08-2015)”

3. Legitimidade Ativa (art. 5º LACP e 82 do CDC)


3.3. Administração direta e indireta

a) Finalidade institucional

i) União, Estado, DF e Município (representantes universais?)

Não resta dúvida nenhuma de que, de todos os legitimados previstos no art. 5º da LACP, esses quatro são os
legitimados com a maior finalidade institucional e, consequentemente, com a maior representatividade adequada
de todos porque União, Estado, DF e Município servem para o bem comum, para o bem todos e garantia de bem-
estar da população. Em teses, eles podem atuar em qualquer segmento.

O professor tem certa ressalva quanto aos doutrinadores que afiram que União, Estado, DF e Município são
representantes universais dos interesses da coletividade porque ele acha que a administração direta até tem a
maior atribuição de todas, mas dentro das suas competências constitucionais e dentro de sua respectiva área
federativa. A administração direta tem por finalidade institucional propiciar o bem comum, são uma infinidade de
temas passíveis de ação civil pública.

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● Exemplo: é a União que trata de telecomunicações. A União pode propor uma ACP para discutir com as
operadoras de telefonia ou com as operadoras de internet determinado tema? Sim, mas o Município
pode, por ACP? O professor tem reservas em afirmar que sim, porque isso estaria fora da competência
constitucional do Município. As sociedades de economia mista e empresas públicas são
preponderantemente regidas pelo direito privado.

ii) Demais (leis criadoras e estatutos/contratos sociais) → administração indireta

Na administração indireta, voltamos para a regra da finalidade institucional e, consequentemente, a


administração indireta (autarquias federais, fundações de direito público, empresas públicas e sociedades de
economia mista) podem propor ACP, mas eles só representam adequadamente os interesses que os seus
estatutos indicam, que as leis que os criaram indiquem.

● Exemplos: Petrobras (sociedade de economia mista) pode propor ACP em relação a temas correlatos com
recursos naturais, petróleo, gás natural, etc., mas certamente a Petrobras não tem legitimidade para
propor ACP na defesa da saúde ou da segurança pública. O INSS (autarquia federal) pode propor ACP
sobre a seguridade social e não sobre o meio ambiente, por falta de representação adequada.

b) Personalidade judiciária (art. 82, III, do CDC)

Quando estudamos Direito Processual Civil, lembramos que existem órgãos que têm personalidade jurídica
(respondem por seus direitos e por suas obrigações, é como se eles existissem como uma pessoa real) e alguns
órgãos têm personalidade judiciária (não têm existência autônoma, mas têm capacidade para estar em juízo a fim
de defender os seus interesses próprios porque eles têm interesses e prerrogativas próprias para defender).

O art. 82, III do CDC que, por conta do microssistema processual coletivo vai aplicar para tudo, a administração
direta e a administração indireta têm determinadas pastas, segmentos internos com atribuição própria para
defender, como o PROCON que geralmente é vinculado à secretaria da cidadania, que tem uma finalidade própria
para defender. Assim, o PROCON, por si, pode propor ACP. O mesmo raciocínio vale para a secretaria do meio
ambiente de um Município ou Estado, que têm finalidade própria.

3. Legitimidade Ativa (art. 5º LACP e 82 do CDC)

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3.4. Associações

a) Amplitude da expressão (sindicatos, partidos políticos, grêmios estudantis, OAB, etc.). Atuação das
cooperativas (arts. 21, XI e 88-A, da Lei 5.764/81)

O conceito ou indicação de “associação” no art. 5º da LACP é genérico porque no termo associação abarcamos
sindicatos, partidos políticos, grêmios estudantis (diretórios acadêmicos) e até mesmo a OAB (autarquia especial).
Recentemente, a Lei das Cooperativas sofreu uma reforma legislativa para inserir o art. 88-A, com a previsão da
possibilidade de propor ACP.

Art. 88-A da Lei 5.764/71. “A cooperativa poderá ser dotada de legitimidade extraordinária autônoma
concorrente para agir como substituta processual em defesa dos direitos coletivos de seus associados quando a
causa de pedir versar sobre atos de interesse direto dos associados que tenham relação com as operações de
mercado da cooperativa, desde que isso seja previsto em seu estatuto e haja, de forma expressa, autorização
manifestada individualmente pelo associado ou por meio de assembleia geral que delibere sobre a propositura
da medida judicial” (Incluído pela Lei nº 13.806, de 2019)

A parte em negrito dá a entender que se trataria de ACP, mas a parte destacada de marca-texto trata de outro
instituto, que é a representação do art. 5º, XXI. Esse art. 88-A trata de legitimação extraordinária ou de
representação que precisa de autorização dos filiados das cooperativas?

A lei é muito mal feita, mas o professor acredita que só pode ser legitimação extraordinária nesse caso e a segunda
parte do dispositivo, em amarelo, não vale absolutamente nada porque não precisamos dessa lei para autorizar
algo que a CF já autorizou, que é a representação.

Art. 21. O estatuto da cooperativa, além de atender ao disposto no artigo 4º, deverá indicar:
(...)
XI – se a cooperativa tem poder para agir como substituta processual de seus associados, na forma do art. 88-A
desta Lei.

b) Expressa disciplina do controle judicial da representação mediante:

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i) Constituição ânua (dispensa: art. 5º, § 4º, LACP)

A associação tem que estar constituída e em funcionamento há pelo menos um ano para verificar se não se trata
de uma entidade ad hoc, no sentido de ter sido construída apenas para aquele fim de propor a ACP. Contudo, um
ano é um período muito curto e nada impede de montar uma associação para esse fim exclusivo.

O art. 5º, § 4º, LACP vai estabelecer que o requisito da pré constituição poderá ser dispensado pelo juiz quando
haja manifesto interesse social evidenciado pela dimensão ou característica do dano ou pela relevância do bem
jurídico a ser protegido. Não se aplica ao mandado de segurança coletivo.

● Exemplo real no Estado de São Paulo: a Associação de Defesa dos Fumantes quis entrar com uma ação
contra as grandes produtoras de cigarro do Brasil na década de 1990 para as obrigar a indenizar todos os
fumantes que tiveram problemas de saúde em virtude do uso nocivo do cigarro sob o argumento de que
as propagandas de cigarro sempre mostravam que quem fumava era um destaque social, era elegante e
forte. Essa associação foi criada apenas para propor a ACP e o juiz do caso entendeu que a relevância da
discussão e a repercussão social era tão grande que ele dispensou a constituição ânua, o que foi mantido
pelo STJ, inclusive. Essa ação, ao final, foi julgada improcedente.

Art. 5º LACP (...)


§ 4° O requisito da pré-constituição poderá ser dispensado pelo juiz, quando haja manifesto interesse social
evidenciado pela dimensão ou característica do dano, ou pela relevância do bem jurídico a ser protegido.

ii) Finalidade institucional (pertinência temática)

Há a legitimidade ativa das associações para propor ACP, mas apenas dentro daquilo que seus estatutos
determinem como sendo objeto social das respectivas entidades. (Greenpeace = meio ambiente; IDEC =
consumidor; Associação de Defesa do Direito à Arma = defender o direito à arma).

Em nenhum momento a lei diz que só pode propor a ACP dentro da sua finalidade principal. Pode propor a ACP
nas finalidades institucionais, dentro da pertinência temática, isto é, quanto maior o objeto social da entidade,
maior a representação adequada dela para propor determinados temas. Veremos várias associações criadas com

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um objetivo principal e depois com vários outros objetivos que também vão habilitar essa entidade a defender
outros interesses ainda que não relacionados com a sua finalidade principal.

c) A questão dos Individuais Homogêneos e do art. 2º-A parágrafo único da Lei 9.494/97 X art. 5º, XXI, da
CF) (STJ: REsp 1.438.263 e tema 480) (Tema 1.075 STF – art. 16 da LACP) (STF RE 573.232 e RE 612.043)

Sabemos que o processo coletivo tutela direitos difusos, coletivos e individuais homogêneos e que esses últimos
são direitos individuais, que podem ser tutelados por cada um dos indivíduos vitimados, mas sem prejuízo do uso
do processo coletivo para tutela desse direito que é individual. Quando foi feita essa construção pelo Legislativo,
eles não esperavam que uma das principais pessoas que o principal fosse exatamente o Estado e as suas entidades.
Começaram a perceber que o Estado antes lesava 15.000 pessoas e apenas 2.000 entravam com a ação.

Com o uso da ACP para a tutela dos individuais homogêneos, as 15.000 acabam sendo indenizadas e isso era ruim
para o Estado, que antes “se dava bem” pela inércia da maioria dos titulares individuais. O Estado reagiu contra o
processo coletivo através de medida provisória e temos uma, que está valendo até hoje, que inseriu na Lei
9.494/97 o art. 2º-A. Vejamos:

Art. 2o-A. A sentença civil prolatada em ação de caráter coletivo proposta por entidade associativa, na defesa dos
interesses e direitos dos seus associados, abrangerá apenas os substituídos que tenham, na data da propositura
da ação, domicílio no âmbito da competência territorial do órgão prolator. (Incluído pela Medida provisória nº
2.180-35, de 2001)
Parágrafo único. Nas ações coletivas propostas contra a União, os Estados, o Distrito Federal, os Municípios e suas
autarquias e fundações [pessoas jurídicas de direito público], a petição inicial deverá obrigatoriamente estar
instruída com a ata da assembleia da entidade associativa que a autorizou, acompanhada da relação nominal dos
seus associados e indicação dos respectivos endereços. (Incluído pela Medida provisória nº 2.180-35, de 2001)

Quando a associação propõe ação contra qualquer pessoa, a decisão só vai valer para quem morar na competência
do órgão jurisdicional. O parágrafo único do dispositivo traz que, para as pessoas jurídicas de direito público da
Administração direta e indireta, só ia ser possível a propositura da ação:

● Se tivesse uma autorização da assembleia permitindo isso; e

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● Se a inicial estivesse acompanhada de uma relação nominal da ata sobre quem são as pessoas associadas
que moram naquele Município e que seriam beneficiadas por aquela decisão.

Esse dispositivo acabou fazendo uma enorme confusão porque misturou a mesma confusão que fez a Lei das
Cooperativas com legitimidade extraordinária e representação. Quando a lei autoriza alguém em nome próprio a
propor ação em defesa de direito alheio, não precisa de autorização nenhuma adicional porque a autorização já
está na lei (LACP), independente de ata de assembleia. No caso de representação do art. 5º, XXI da CF, os
associados de uma entidade podem dar poder para que alguém aja em nome alheio na defesa de direito alheio.

⮚ Exemplo: o professor é filiado à APAMAGIS (Associação Paulista dos Magistrados) e a APAMAGIS não
precisa de autorização nenhuma de seus associados para defender os interesses das qualidades de
trabalho da categoria. Contudo, se vários juízes estiverem com problemas com uma financeira acerca de
um índice abusivo de correção monetária da compra de um carro, eles podem dar uma autorização em
assembleia para a APAMAGIS entrar com uma ação em nome deles e isso não tem nada a ver com a
finalidade institucional da APAMAGIS, que atua nesse caso como representante de seus associados.

REPRESENTAÇÃO – ASSOCIADOS – ARTIGO 5º, INCISO XXI, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. ALCANCE. O disposto no
artigo 5º, inciso XXI, da Carta da República encerra representação específica, não alcançando previsão genérica
do estatuto da associação a revelar a defesa dos interesses dos associados. TÍTULO EXECUTIVO JUDICIAL –
ASSOCIAÇÃO – BENEFICIÁRIOS. As balizas subjetivas do título judicial, formalizado em ação proposta por
associação, é definida pela representação no processo de conhecimento, presente a autorização expressa dos
associados e a lista destes juntada à inicial.
(RE 573232, Relator(a): RICARDO LEWANDOWSKI, Relator(a) p/ Acórdão: MARCO AURÉLIO, Tribunal Pleno,
julgado em 14/05/2014, REPERCUSSÃO GERAL - MÉRITO DJe-182 DIVULG 18-09-2014 PUBLIC 19-09-2014)

OS JULGADOS ABAIXO NÃO TRATAM DE AÇÃO CIVIL PÚBLICA, MAS SIM DE AÇÃO COLETIVA DE ASSOCIAÇÃO
REPRESENTANDO SEUS FILIADOS

“I – A previsão estatutária genérica não é suficiente para legitimar a atuação, em Juízo, de associações na defesa
de direitos dos filiados, sendo indispensável autorização expressa, ainda que deliberada em assembleia, nos
termos do artigo 5º, inciso XXI, da Constituição Federal; II – As balizas subjetivas do título judicial, formalizado em

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ação proposta por associação, são definidas pela representação no processo de conhecimento, limitada a
execução aos associados apontados na inicial” (RE 573.232, Pleno, Rel. p/ Acórdão Min. Marco Aurélio)

“A eficácia subjetiva da coisa julgada formada a partir de ação coletiva, de rito ordinário, ajuizada por associação
civil na defesa de interesses dos associados, somente alcança os filiados, residentes no âmbito da jurisdição do
órgão julgador, que o sejam em momento anterior ou até a data da propositura da demanda, constantes de
relação juntada à inicial do processo de conhecimento” (STF, RE 612.043, Pleno, Rel. Min. Marco Aurélio) (“A tese
que propus é alusiva à ação coletiva de rito ordinário. A ação civil pública tem rito todo próprio” – Embargos de
Declaração)

A DISCUSSÃO NO STJ

“Existem fundamentos para defender que a tese anunciada pelo STF, analisando casos de ação coletiva ordinária
- legitimação ad processum lastreada na representação, não se aplicaria ao tema em discussão, que cuida de ACP
– com legitimação extraordinária por substituição processual, com lastro na legislação Federal” (STJ: REsp
1.438.263, Min. Rel. Raul Araújo, Corte Especial, 2020)

4. Legitimidade Passiva

Falaremos aqui da legitimidade passiva da ação coletiva ativa, aquela tradicional em que a coletividade é autora.
O direito está na coletividade reclamando uma determinada obrigação ou dever de um particular ou mais
particulares. Exemplos: ação civil pública ambiental, ação de improbidade administrativa, ação para poder garantir
a proteção do patrimônio histórico e cultural, etc.

a) Ausência de previsão legal na ACP (três posições)

i) Inaplicabilidade do microssistema (art. 6º da LAP)

Esse dispositivo estabelece que na ação popular, tem que ser formado um litisconsórcio necessário passivo entre
todos que praticaram ou participaram do ato tido por ilegal e lesivo. Se for uma ação popular por conta de uma
propaganda ilegal por parte da Administração pública, que viola o art. 37, § 1º da CF, sendo uma auto promoção
do governante, serão réus a prefeitura, o administrador, o responsável pela publicidade da prefeitura, todos os

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que foram beneficiados diretamente pelo ato, como a empresa contratada para fazer a propaganda irregular. Essa
regra não se aplica para a ACP porque eles entendem que é um regramento muito específico e particular para a
situação da ação popular.

Art. 6º A ação será proposta contra as pessoas públicas ou privadas e as entidades referidas no art. 1º, contra as
autoridades, funcionários ou administradores que houverem autorizado, aprovado, ratificado ou praticado o ato
impugnado, ou que, por omissas, tiverem dado oportunidade à lesão, e contra os beneficiários diretos do mesmo.
§ 1º Se não houver benefício direto do ato lesivo, ou se for ele indeterminado ou desconhecido, a ação será
proposta somente contra as outras pessoas indicadas neste artigo.
§ 2º No caso de que trata o inciso II, item "b", do art. 4º, quando o valor real do bem for inferior ao da avaliação,
citar-se-ão como réus, além das pessoas públicas ou privadas e entidades referidas no art. 1º, apenas os
responsáveis pela avaliação inexata e os beneficiários da mesma.
§ 3º A pessoas jurídica de direito público ou de direito privado, cujo ato seja objeto de impugnação, poderá abster-
se de contestar o pedido, ou poderá atuar ao lado do autor, desde que isso se afigure útil ao interesse público, a
juízo do respectivo representante legal ou dirigente.
§ 4º O Ministério Público acompanhará a ação, cabendo-lhe apressar a produção da prova e promover a
responsabilidade, civil ou criminal, dos que nela incidirem, sendo-lhe vedado, em qualquer hipótese, assumir a
defesa do ato impugnado ou dos seus autores.
§ 5º É facultado a qualquer cidadão habilitar-se como litisconsorte ou assistente do autor da ação popular.

ii) Litisconsórcio facultativo (Resp. 789.027-PR), salvo se se tratar de anulação de contrato (Resp
901.422-SP)

Quem vai eleger quem vai ser réu na ACP será o autor coletivo e a ressalva se dá porque não dá para anular um
contrato para um contratante e não anular para os demais, em que se tem um litisconsórcio necessário.

PROCESSO CIVIL. MEDIDA CAUTELAR. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. INDISPONIBILIDADE DE TÍTULOS PÚBLICOS (LFTs).
ALEGAÇÃO DE VIOLAÇÃO AO ART. 47 DO CPC. INOCORRÊNCIA DE LITISCONSÓRCIO NECESSÁRIO. APELAÇÃO NA
AÇÃO PRINCIPAL. PERDA DE OBJETO DA CAUTELAR.
1. No recurso especial se pretende atacar acórdão do Tribunal de origem que deferiu a medida cautelar para
impedir o Estado do Paraná de dispor dos títulos públicos (LFTs) recebidos em troca de títulos da dívida pública
do Estado de Alagoas, até decisão final da ação civil pública.

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2. Por não existir na cautelar pedido que influa direta ou indiretamente na esfera jurídica da União ou do Bacen,
bem como por não se discutir qualquer relação jurídica de que sejam titulares, não há que se cogitar de
litisconsórcio necessário envolvendo as referidas entidades.
3. Prolatada sentença e proferido acórdão de apelação nos autos do processo principal, que tratam de ação civil
pública cujo objeto é mais amplo e, portanto, engloba o provimento dado na cautelar, torna-se prejudicado o
recurso que atacava a decisão na cautelar.
4. Agravo regimental não provido.
(AgRg no REsp 789.027/PR, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES, SEGUNDA TURMA, julgado em
03/12/2009, DJe 17/12/2009)

PROCESSO CIVIL E ADMINISTRATIVO - AMBIENTAL - LOTEAMENTO E CONSTRUÇÕES - IRREGULARES


POTENCIALMENTE LESIVAS AO MEIO AMBIENTE - PREQUESTIONAMENTO - INEXISTÊNCIA - SÚMULA 211/STJ -
DEFICIÊNCIA RECURSAL - SÚMULA 284/STF - VIOLAÇÃO AO ART. 535 DO CPC - NÃO-OCORRÊNCIA -
EMPREENDEDORES, ADQUIRENTES E OCUPANTES - LITISCONSÓRCIO NECESSÁRIO.
1. Não ofende o art. 535, II, do CPC, decisões em que o Tribunal de origem decide, fundamentadamente, as
questões essenciais ao julgamento da lide.
2. É deficiente a fundamentação do especial quando não demonstrada contrariedade ou negativa de vigência a
tratado ou lei federal.
3. Inexistência de prequestionamento dos arts. 103, 131, 165, 267, § 3º, 286, 289, 292, 301, § 4º, 334, 459, 460,
463, II, 485, IX, §§ 1º e 2º do CPC; arts. 1º, 3º, 4º, 11, 13, 14, 16, 19 e 21 da Lei 7.347/85; arts. 81 a 117 do CDC;
arts. 3º, 4º, 9º, 10, 14, § 1º da Lei 6.938/81; art. 1.518 do CC c/c art. 186 da Lei 6.766/79.
4.Na ação civil pública de reparação a danos contra o meio ambiente os empreendedores de loteamento em área
de preservação ambiental, bem como os adquirentes de lotes e seus ocupantes que, em tese, tenham promovido
degradação ambiental, formam litisconsórcio passivo necessário.
5. Recurso especial conhecido em parte e, nessa parte, provido.
(REsp 901.422/SP, Rel. Ministra ELIANA CALMON, SEGUNDA TURMA, julgado em 01/12/2009, DJe 14/12/2009)

iii) Definição do direito material à luz dos arts. 113 e 114 do CPC.

O professor prefere essa posição de que é o direito material, o caso concreto que define.

Art. 113. Duas ou mais pessoas podem litigar, no mesmo processo, em conjunto, ativa ou passivamente, quando:

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I - entre elas houver comunhão de direitos ou de obrigações relativamente à lide;
II - entre as causas houver conexão pelo pedido ou pela causa de pedir;
III - ocorrer afinidade de questões por ponto comum de fato ou de direito.
§ 1º O juiz poderá limitar o litisconsórcio facultativo quanto ao número de litigantes na fase de conhecimento, na
liquidação de sentença ou na execução, quando este comprometer a rápida solução do litígio ou dificultar a defesa
ou o cumprimento da sentença.
§ 2º O requerimento de limitação interrompe o prazo para manifestação ou resposta, que recomeçará da
intimação da decisão que o solucionar.

Art. 114. O litisconsórcio será necessário por disposição de lei ou quando, pela natureza da relação jurídica
controvertida, a eficácia da sentença depender da citação de todos que devam ser litisconsortes.

RESUMINDO
o importante é não afirmar a necessariedade do litisconsórcio passivo

5. Competência na ACP (aplicação para Ação de Improbidade Administrativa?)

As regras que falaremos aqui sobre ACP, na opinião do professor, também vale para a ação de improbidade
administrativa. Esse tema civil de improbidade administrativa é um tema ministrado por outro professor. Antes
de verificar a competência da ACP no Brasil, devemos verificar se o caso se encaixa em uma das hipóteses dos
arts. 21 a 23 do CPC, que são os casos de jurisdição nacional brasileira.

5.1. Critério funcional-hierárquico (Ações Originárias e foro privilegiado): não há!

Não existe foro privilegiado em ação coletiva, em ACP, ainda que o réu seja o Presidente da República, do Senado
ou Ministro do STF, exemplificativamente, começando em primeira instância. Esse entendimento nos tribunais
superiores é pacífico. Existem alguns autores que estabelecem que existem duas hipóteses de ações coletivas que
são de competência originária do STF: art. 102, I, ‘f’ e ‘n’.

Esses dois dispositivos estabelecem que o STF julga causas em que haja conflito federativo (Estado x Estado) ou
causas que sejam interesse de toda a Magistratura nacional. O professor discorda desse entendimento deles

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porque o que leva para o STF não é o fato de ser ACP, é o fato de ser qualquer ação (cobrança, declaratória, etc.).
Não interessa a via e sim o objeto, então não tem foro privilegiado em ACP.

5.2. Critério material (1ª instância)

i) Eleitoral (121 da CF): não há (105-A da Lei 9.504/97) (STJ CC 113.433-AL)

Por conta de uma opção sistêmica, o art. 105-A da Lei 9.504/97, ratificado pelo julgamento do STJ, afirma que a
Justiça Eleitoral não tem competência para a ACP. Um promotor resolve propor uma ACP ambiental para obrigar
todos os candidatos dos partidos políticos a repararem o dano ambiental causado pela distribuição de santinhos
nas ruas e indenizar a coletividade pela sujeira. Isso não vai ser julgado pela Justiça Eleitoral porque a matéria não
é Eleitoral e sim Ambiental, indo para a Justiça Comum.

Não pode ACP, mas nada impede inquérito civil eleitoral no âmbito do MP eleitoral. Apesar de esses dispositivos
legais abaixo colacionados falarem que não cabem os procedimentos da ACP na Justiça Eleitoral, não podemos
nos esquecer que o inquérito civil está previsto na CF, no art. 129, entre as atribuições do MP.

Art. 121. Lei complementar disporá sobre a organização e competência dos tribunais, dos juízes de direito e das
juntas eleitorais.
§ 1º - Os membros dos tribunais, os juízes de direito e os integrantes das juntas eleitorais, no exercício de suas
funções, e no que lhes for aplicável, gozarão de plenas garantias e serão inamovíveis.
§ 2º - Os juízes dos tribunais eleitorais, salvo motivo justificado, servirão por dois anos, no mínimo, e nunca por
mais de dois biênios consecutivos, sendo os substitutos escolhidos na mesma ocasião e pelo mesmo processo, em
número igual para cada categoria.
§ 3º - São irrecorríveis as decisões do Tribunal Superior Eleitoral, salvo as que contrariarem esta Constituição e as
denegatórias de habeas corpus ou mandado de segurança.
§ 4º - Das decisões dos Tribunais Regionais Eleitorais somente caberá recurso quando:
I - forem proferidas contra disposição expressa desta Constituição ou de lei;
II - ocorrer divergência na interpretação de lei entre dois ou mais tribunais eleitorais;
III - versarem sobre inelegibilidade ou expedição de diplomas nas eleições federais ou estaduais;
IV - anularem diplomas ou decretarem a perda de mandatos eletivos federais ou estaduais;
V - denegarem habeas corpus , mandado de segurança, habeas data ou mandado de injunção.

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Art. 105-A da Lei 9.504/97. Em matéria eleitoral, não são aplicáveis os procedimentos previstos na Lei no 7.347,
de 24 de julho de 1985.

ADMINISTRATIVO. CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. PROPAGANDA ELEITORAL.


DEGRADAÇÃO DO MEIO AMBIENTE. AUSÊNCIA DE MATÉRIA ELEITORAL. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA ESTADUAL.
1. A Justiça Eleitoral, órgão do Poder Judiciário brasileiro (art.
92, V, da CF), tem seu âmbito de atuação delimitado pelo conteúdo constante no art. 14 da CF e na legislação
específica.
2. "As atividades reservadas à Justiça Eleitoral aprisionam-se ao processo eleitoral, principiando com a inscrição
dos eleitores, seguindo-se o registro dos candidatos, eleição, apuração e diplomação, ato que esgota a
competência especializada (art. 14, parágrafo 10, CF)" (CC 10.903/RJ).
3. In casu, sobressai a incompetência da justiça eleitoral, uma vez que não está em discussão na referida ação civil
pública direitos políticos, inelegibilidade, sufrágio, partidos políticos, nem infração às normas eleitorais e
respectivas regulamentações, isto é, toda matéria concernente ao próprio processo eleitoral.
4. A pretensão ministerial na ação civil pública, voltada à tutela ao meio ambiente, direito transindividual de
natureza difusa, consiste em obrigação de fazer e não fazer e, apesar de dirigida a partidos políticos, demanda
uma observância de conduta que extravasa período eleitoral, apesar da maior incidência nesta época, bem como
não constitui aspecto inerente ao processo eleitoral.
5. A ação civil pública ajuizada imputa conduta tipificada no art.
65 da Lei 9.605/98 em face do dano impingido ao meio ambiente, no caso especificamente, artificial, formado
pelas edificações, equipamentos urbanos públicos e comunitários e todos os assentamentos de reflexos
urbanísticos, conforme escólio do Professor José Afonso da Silva. Não visa delimitar condutas regradas pelo direito
eleitoral; visa tão somente a tutela a meio ambiente almejando assegurar a função social da cidade e garantir o
bem-estar de seus habitantes, nos termos do art. 182 da Constituição Federal.
6. Conflito conhecido para declarar competente o Juízo de Direito da 2ª Vara Cível de Maceió - AL, ora suscitado.
(CC 113.433/AL, Rel. Ministro ARNALDO ESTEVES LIMA, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 24/08/2011, DJe
19/12/2011)

ii) Trabalhista (114 da CF): OK (súmula 736 do STF)

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Súmula 736 do STF: Compete à Justiça do Trabalho julgar as ações que tenham como causa de pedir o
descumprimento de normas trabalhistas relativas à segurança, higiene e saúde dos trabalhadores.

O MPT ajuíza essas ações para evitar o emprego de menores em determinados tipos de trabalhos, evitar que
determinado ambiente seja insalubre para uma categoria de trabalhadores, evitar determinadas práticas
discriminatórias em uma relação de emprego, etc.

iii) Federal (109 da CF): OK - parte ou causa de pedir (MPF: STJ, Resp. 1.057.878-RS e CC 90.722)
(MPE – STF, Reclamação 7358) (revogação s. 183 STJ)

É óbvio que a Justiça Federal tem competência para ACP e essa competência pode ser dada pelo fator parte
(União, autarquias federais e empresas públicas federais, independentemente do tema) ou pelo fator causa de
pedir (art. 109, III e XI da CF). Devemos tomar muito cuidado em matéria ambiental para definir a competência da
Justiça Federal porque existe um hábito equivocado de achar que toda vez que o dano ambiental for a um dos
bens da União (art. 20 da CF), automaticamente a competência seria da Justiça Federal.

Não é, porque para definir a competência da Justiça Federal temos que verificar a causa de pedir ou a parte. Se
eventualmente, ainda que o bem seja da União, tenhamos a ausência de uma causa de pedir do art. 109 da CF ou
a ausência de uma parte do art. 109, I e II da CF, automaticamente está excluída a competência da Justiça Federal.

⮚ Exemplo: o Rio Sapucaí corta o Estado de Minas Gerais e o Estado de São Paulo. Pela regra do art. 20 da
CF, os rios que cortam mais de um Estado são bens da União. Existem muitas ações porque teve dano
nesse rio. Quem está propondo essas ações? O MP Estadual. A competência não é da Justiça Federal
porque em nenhum inciso do art. 109 encontraremos que a Justiça Federal julga as causas relativas aos
seus bens ambientais. Além disso, não tem nem no polo ativo e nem no polo passivo nenhum órgão
federal. Pode ter interesse do IBAMA, então deve ser intimado para manifestar interesse ou não.

O STJ entende que o MPF, apesar de não estar no art. 109, I da CF é órgão da União e atrai automaticamente a
competência para a Justiça Federal. Esse mesmo raciocínio se aplica à Defensoria Pública da União quando da
propositura de uma ACP, que atrai a competência para a Justiça Federal. Outro exemplo é a defesa dos povos
indígenas, tratados ou convenções internacionais.

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Cuidado, porque o fato de a ação começar na Justiça Federal não garante que ela termine na Justiça Federal
porque o MPF ou a DPU pode propor uma ACP que começa na Justiça Federal porque se trata de órgão da União,
mas o juiz do caso, apesar da legitimidade desses órgãos, pode fazer o controle da representação adequada e
entender que aquilo está fora das atribuições do MPF ou da DPU, como no caso de um rio local.

PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. REPARAÇÃO DE DANO AMBIENTAL. ROMPIMENTO DE DUTO DE ÓLEO.
PETROBRAS TRANSPORTES S/A. TRANSPETRO. VAZAMENTO DE COMBUSTÍVEL. INTEMPESTIVIDADE DO AGRAVO
DE INSTRUMENTO. AUSÊNCIA DE PREQUESTIONAMENTO. SÚMULA 211/STJ. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL.
SÚMULA 150/STJ. LEGITIMAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL. NATUREZA JURÍDICA DOS PORTOS. LEI
8.630/93. INTERPRETAÇÃO DO ART. 2º, DA LEI 7.347/85.
1. Cinge-se a controvérsia à discussão em torno a) da tempestividade do Agravo de Instrumento interposto pelo
MPF e b) da competência para o julgamento de Ação Civil Pública proposta com a finalidade de reparar dano
ambiental decorrente do vazamento de cerca de 1.000 (mil) litros de óleo combustível após o rompimento de um
dos dutos subterrâneos do píer da Transpetro, no Porto de Rio Grande.
2. Não se conhece do Recurso Especial quanto à tempestividade do recurso apresentado na origem, pois a matéria
não foi especificamente enfrentada pelo Tribunal de origem. Aplicação da Súmula 211 do Superior Tribunal de
Justiça.
3. Em relação ao segundo fundamento do Recurso Especial, o Tribunal Regional Federal da 4ª Região decidiu que,
no caso, a legitimidade ativa do Ministério Público Federal fixa a competência da Justiça Federal.
4. O Superior Tribunal de Justiça possui entendimento firmado no sentido de atribuir à Justiça Federal a
competência para decidir sobre a existência de interesse processual que justifique a presença da União, de suas
autarquias ou empresas públicas na lide, consoante teor da Súmula 150/STJ.
5. A presença do Ministério Público Federal no pólo ativo da demanda é suficiente para determinar a competência
da Justiça Federal, nos termos do art. 109, I, da Constituição Federal, o que não dispensa o juiz de verificar a sua
legitimação ativa para a causa em questão.
6. Em matéria de Ação Civil Pública ambiental, a dominialidade da área em que o dano ou o risco de dano se
manifesta (mar, terreno de marinha ou Unidade de Conservação de propriedade da União, p. ex.) é apenas um
dos critérios definidores da legitimidade para agir do Parquet federal. Não é porque a degradação ambiental se
deu em imóvel privado ou afeta res communis omnium que se afasta, ipso facto, o interesse do MPF.
7. É notório o interesse federal em tudo que diga respeito a portos, tanto assim que a Constituição prevê não só
o monopólio natural da União para ?explorar, diretamente ou mediante autorização, concessão ou permissão?,

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em todo o território nacional, ?os portos marítimos, fluviais e lacustres? (art. 21, XII, f), como também a
competência para sobre eles legislar ?privativamente? (art. 22, X).
8. Embora composto por partes menores e singularmente identificáveis, em terra e mar ? como terminais e
armazéns, públicos e privados ?, o porto constitui uma universalidade, isto é, apresenta-se como realidade jurídica
una, embora complexa;
equipara-se, por isso, no seu conjunto, a bem público federal enquanto perdurar sua destinação específica, em
nada enfraquecendo essa sua natureza o fato de se encontrarem imóveis privados inseridos no seu perímetro
oficial ou mesmo o licenciamento pelo Estado ou até pelo Município de algumas das unidades individuais que o
integram.
9. O Ministério Público Federal, como regra, tem legitimidade para agir nas hipóteses de dano ou risco de dano
ambiental em porto marítimo, fluvial ou lacustre.
10. Não é desiderato do art. 2º, da Lei 7.347/85, mormente em Município que dispõe de Vara Federal, resolver
eventuais conflitos de competência, no campo da Ação Civil Pública, entre a Justiça Federal e a Justiça Estadual,
solução que se deve buscar, em primeira mão, no art. 109, I, da Constituição Federal.
11. Qualquer que seja o sentido que se queira dar à expressão "competência funcional" prevista no art. 2º, da Lei
7.347/85, mister preservar a vocação pragmática do dispositivo: o foro do local do dano é uma regra de eficiência,
eficácia e comodidade da prestação jurisdicional, que visa a facilitar e otimizar o acesso à justiça, sobretudo pela
proximidade física entre juiz, vítima, bem jurídico afetado e prova.
12. O licenciamento pelo IBAMA (ou por órgão estadual, mediante seu consentimento expresso ou tácito) de obra
ou empreendimento em que ocorreu ou poderá ocorrer o dano ambiental justifica, de plano, a legitimação para
agir do Ministério Público Federal. Se há interesse da União a ponto de, na esfera administrativa, impor o
licenciamento federal, seria no mínimo contraditório negá-lo para fins de propositura de Ação Civil Pública.
13. Recurso Especial não provido.
(REsp 1057878/RS, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em 26/05/2009, DJe
21/08/2009)

CONFLITO POSITIVO DE COMPETÊNCIA. JUSTIÇA FEDERAL E JUSTIÇA ESTADUAL. AÇÃO CAUTELAR, CIVIL PÚBLICA
E DECLARATÓRIA. DANOS AO MEIO AMBIENTE. CONTINÊNCIA. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL.
1. A competência da Justiça Federal, prevista no art. 109, I, da Constituição, tem por base um critério subjetivo,
levando em conta, não a natureza da relação jurídica litigiosa, e sim a identidade dos figurantes da relação
processual. Presente, no processo, um dos entes ali relacionados, a competência será da Justiça Federal.

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2. É da natureza do federalismo a supremacia da União sobre Estados-membros, supremacia que se manifesta
inclusive pela obrigatoriedade de respeito às competências da União sobre a dos Estados. Decorre do princípio
federativo que a União não está sujeita à jurisdição de um Estado-membro, podendo o inverso ocorrer, se for o
caso. Precedente: CC 90.106-ES, 1ª S., Min. Teori Albino Zavascki, DJ de 10.03.2008.
3. Estabelecendo-se relação de continência entre ação cautelar e ação civil pública de competência da Justiça
Federal, com demanda declaratória, em curso na Justiça do Estado, a reunião das ações deve ocorrer, por força
do princípio federativo, perante o Juízo Federal. Precedente: CC 56.460-RS, 1ª S., Min. José Delgado, DJ de
19.03.07 4. Ademais, (a) não se aplica a orientação contida na Súmula 183/STJ em razão do seu cancelamento
(EDcl no CC 27676/BA, 1ª Seção, Min.
José Delgado, DJ de 05.03.2001); (b) o Juízo Federal suscitado também tem competência territorial e funcional
(Resolução n. 600-17, do TRF da 1ª Região de 28.06.2005) sobre o local onde ocorreu o dano (art. 2º da Lei n.
7.347/85).
5. Conflito conhecido para declarar a competência do Juízo Federal para as ações aqui discutidas, divergindo do
relator.
(CC 90.722/BA, Rel. Ministro JOSÉ DELGADO, Rel. p/ Acórdão Ministro TEORI ALBINO ZAVASCKI, PRIMEIRA SEÇÃO,
julgado em 25/06/2008, DJe 12/08/2008)

RECLAMAÇÃO. ILEGITIMIDADE ATIVA DO MINISTÉRIO PÚBLICO ESTADUAL. INICIAL RATIFICADA PELO


PROCURADOR-GERAL DA REPÚBLICA. AFASTAMENTO DA INCIDÊNCIA DO ART. 127 DA LEP POR ÓRGÃO
FRACIONÁRIO DE TRIBUNAL ESTADUAL. VIOLAÇÃO DA SÚMULA VINCULANTE 9. PROCEDÊNCIA. 1. Inicialmente,
entendo que o Ministério Público do Estado de São Paulo não possui legitimidade para propor originariamente
Reclamação perante esta Corte, já que “incumbe ao Procurador-Geral da República exercer as funções do
Ministério Público junto ao Supremo Tribunal Federal, nos termos do art. 46 da Lei Complementar 75/93” (Rcl
4453 MC-AgR-AgR / SE, de minha relatoria, DJe 059, 26.03.2009). 2. Entretanto, a ilegitimidade ativa foi corrigida
pelo Procurador-Geral da República, que ratificou a petição inicial e assumiu a iniciativa da demanda. 3.
Entendimento original da relatora foi superado, por maioria de votos, para reconhecer a legitimidade ativa
autônoma do Ministério Púbico Estadual para propor reclamação. 4. No caso em tela, o Juiz de Direito da Vara
das Execuções Criminais da Comarca de Presidente Prudente/SP, reconhecendo a ocorrência de falta grave na
conduta do sentenciado, declarou perdidos os dias remidos, nos termos do art. 127 da LEP. 5. Ao julgar o agravo
em execução interposto pela defesa do reeducando, a 12ª Câmara de Direito Criminal do Tribunal de Justiça do
Estado de São Paulo, em 10 de setembro de 2008, deu provimento ao recurso, para restabelecer os dias remidos.
6. O julgamento do agravo ocorreu em data posterior à edição da Súmula Vinculante 09, como inclusive foi

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expressamente reconhecido pela Corte local. 7. O fundamento consoante o qual o enunciado da referida Súmula
não seria vinculante em razão de a data da falta grave ter sido anterior à sua publicação não se mostra correto. 8.
Com efeito, a tese de que o julgamento dos recursos interpostos contra decisões proferidas antes da edição da
súmula não deve obrigatoriamente observar o enunciado sumular (após sua publicação na imprensa oficial), data
venia, não se mostra em consonância com o disposto no art. 103-A, caput, da Constituição Federal, que impõe o
efeito vinculante a todos os órgãos do Poder Judiciário, a partir da publicação da súmula na imprensa oficial. 9.
Desse modo, o acórdão do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, proferido em 10 de setembro de 2008, ao
não considerar recepcionada a regra do art. 127 da LEP, afrontou a Súmula Vinculante 09. 10. No mérito,
reclamação julgada procedente, para cassar o acórdão proferido pela 12ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça
do Estado de São Paulo, que restabeleceu os dias remidos do reeducando.
(Rcl 7358, Relator(a): ELLEN GRACIE, Tribunal Pleno, julgado em 24/02/2011, DJe-106 DIVULG 02-06-2011)

iv) Estadual (residual) (súmula 42 STJ) (súmulas 150 e 224 do STJ e art. 45, § 3º, do CPC) (cumulação
de pedidos - STJ, REsp 1.120.169/RJ e 45 CPC) (súmula 489 STJ – continência)

Se não for caso de Trabalhista ou Federal, a competência vai para a Justiça Estadual porque a Justiça Estadual é
de competência residual. Não é atribuição da Justiça Federal julgar causas de interesse de sociedade de economia
mista. O art. 109, I da CF fala que a Justiça Federal julga causas cujas partes são União, autarquia pública federal
e empresa pública federal. Sociedade de economia mista, ainda que o capital seja preponderantemente federal é
de competência da Justiça Estadual, como o Banco do Brasil e a Petrobras. O sistema S também é de competência
da Justiça Estadual (SESI, SENAI, etc.)

Súmula 42-STJ: Compete a Justiça Comum Estadual processar e julgar as causas cíveis em que é parte sociedade
de economia mista e os crimes praticados em seu detrimento.

Essas duas súmulas que hoje fazem parte do texto legal do art. 45, § 3º do CPC definem o que se faz ou como se
faz com os processos em curso na Justiça Estadual quando haja intervenção de um dos entes federais, do art. 109,
I da CF. Aplicando-se o entendimento dessas duas súmulas e do art. 45, § 3º, toda vez que tiver intervenção de
um dos entes do art. 109, I da CF, o juiz estadual remeterá os autos para a Justiça Federal a fim de que o juiz
federal se pronuncie sobre haver ou não haver interesse do ente federal ingressante.

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Se o juiz federal entender que não há interesse da União ou do ente que interveio, ele vai simplesmente devolver
o processo para a Justiça Estadual e consequentemente, ainda que o juiz estadual não concorde, ele toca o
processo e não vai suscitar conflito de competência.

⮚ Exemplo: imagine que o MP Estadual entrou com uma ação ambiental para discutir dano ao Rio Sapucaí
na comarca do professor. O professor intima o IBAMA sobre o dano nesse rio da União e o IBAMA
geralmente manifesta desinteresse em participar porque o dano seria apenas local e o professor segue
com o processo. Quando há a intervenção do IBAMA, o juiz estadual deve remeter os autos para a Justiça
Federal. O juiz federal pode entender que o processo deve seguir na Justiça Federal, mas o juiz federal
pode entender que não há interesse da União como um todo porque o dano é local, então o juiz federal
indefere o ingresso do IBAMA e remete os autos de volta para a Justiça Estadual e o juiz estadual não
pode suscitar conflito de competência nesse tipo de caso. Se o IBAMA não concordar, deve agravar de
instrumento para o TRF.

Súmula 150 STJ: Compete a Justiça Federal decidir sobre a existência de interesse jurídico que justifique a
presença, no processo, da União, suas Autarquias ou Empresas públicas.

Súmula 224 STJ: Excluído do feito o ente federal, cuja presença levara o Juiz Estadual a declinar da competência,
deve o Juiz Federal restituir os autos e não suscitar conflito.

Art. 45. Tramitando o processo perante outro juízo, os autos serão remetidos ao juízo federal competente se nele
intervier a União, suas empresas públicas, entidades autárquicas e fundações, ou conselho de fiscalização de
atividade profissional, na qualidade de parte ou de terceiro interveniente, exceto as ações:
I - de recuperação judicial, falência, insolvência civil e acidente de trabalho;
II - sujeitas à justiça eleitoral e à justiça do trabalho.
§ 1º Os autos não serão remetidos se houver pedido cuja apreciação seja de competência do juízo perante o qual
foi proposta a ação.
§ 2º Na hipótese do § 1º, o juiz, ao não admitir a cumulação de pedidos em razão da incompetência para apreciar
qualquer deles, não examinará o mérito daquele em que exista interesse da União, de suas entidades autárquicas
ou de suas empresas públicas.
§ 3º O juízo federal restituirá os autos ao juízo estadual sem suscitar conflito se o ente federal cuja presença
ensejou a remessa for excluído do processo.

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O entendimento dominante hoje é que a cumulação de pedidos depende da aplicação da regra do art. 327, § 2º
que diz que para cumular pedidos no mesmo processo, precisamos ter o mesmo procedimento, compatibilidade
entre os pedidos e competência do juiz para apreciar todos os pedidos. A partir desse julgado, que acabou virando
lei, acabou por se interpretar que essa regra também vale para os casos de litisconsórcio facultativo.

Existia um expediente do MPU e da DPU que pretendiam, através da formação de litisconsórcios facultativos
passivos, ampliar a atribuição deles e a competência da Justiça Federal porque eles montavam as ACP sempre
colocando no processo um ente que atrai a competência da Justiça Federal em litisconsórcio facultativo com todos
os demais que não são da competência da Justiça Federal.

⮚ Exemplo: a DPU ou o MPF resolvia fazer uma ação contra os bancos por causa da questão do tempo na
fila em tempos de COVID. Eles propunham a ação conta a Caixa Econômica Federal, que é o banco que é
julgado pela Justiça Federal como regra, por ser empresa pública federal. Para ampliar a atribuição deles,
eles formavam com base no art. 113 do CPC um litisconsórcio com Santander, Bradesco, Itaú e todos os
demais bancos privados. Com essa formação do litisconsórcio, se ampliava a competência da Justiça
Federal, então esse julgado do STJ diz que as regras sobre cumulação de pedidos têm que valer também
para o litisconsórcio facultativo, de modo que só pode ser formado litisconsórcio facultativo se os juízos
tiverem competência para apreciar pedidos contra todos eles. Quanto aos bancos privados, os autos
devem ser remetidos para a Justiça Estadual.

O raciocínio dessa observação relacionada com esse precedente e do art. 45, caput, do CPC só se aplica se o objeto
da ação, se o litisconsórcio formado na ação coletiva, for facultativo, apenas se o objeto da ação for cindível
porque sendo impossível a cisão do objeto e desmembrar o litisconsórcio porque ele é necessário, tudo prossegue
na Justiça Federal (Súmula 489 STJ).

⮚ Exemplo: existe uma ACP de reparação de danos ao patrimônio público que não é de improbidade porque
o prefeito de uma cidade pegou uma verba do repasse federal e contratou sem licitação uma empresa. A
rigor, o prefeito e a pessoa jurídica de direito privado não são julgados pela Justiça Federal, mas nesse
caso há um litisconsórcio necessário com a União porque o prejuízo sofrido foi da União. Impossível cindir
o objeto, o processo deve seguir na Justiça Federal.

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RECURSO ESPECIAL. DIREITO PROCESSUAL CIVIL COLETIVO. AÇÃO CIVIL PÚBLICA AJUIZADA EM FACE DE ONZE
INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS. EXPURGOS INFLACIONÁRIOS. JUSTIÇA FEDERAL. JURISDIÇÃO ABSOLUTA. REGRAS
PREVISTAS DIRETAMENTE NA CONSTITUIÇÃO. LITISCONSÓRCIO FACULTATIVO COMUM. LITISCONSORTES QUE
NÃO POSSUEM FORO NA JUSTIÇA FEDERAL. IMPOSSIBILIDADE. CUMULAÇÃO DE DEMANDAS E DE PEDIDOS. JUÍZO
INCOMPETENTE PARA CONHECER DE TODOS ELES (ART. 292, § 1º, INCISO II, CPC E ART. 109 DA CF/1988).
ADEMAIS, EVENTUAL CONEXÃO (NO CASO INEXISTENTE) NÃO ALTERA COMPETÊNCIA ABSOLUTA E NÃO REÚNE
AS AÇÕES QUANDO JÁ HOUVER SENTENÇA PROFERIDA.
1. A interpretação legal não pode conduzir ao estabelecimento de competência originária da Justiça Federal se
isso constituir providência desarmônica com a Constituição Federal.
2. Portanto, pela só razão de haver, nas ações civis públicas, espécie de competência territorial absoluta - marcada
pelo local e extensão do dano -, isso não altera, por si, a competência (rectius, jurisdição) da Justiça Federal por
via de disposição infraconstitucional genérica (art. 2º da Lei n. 7.347/1985). É o próprio art. 93 do Código de Defesa
do Consumidor que excepciona a competência da Justiça Federal.
3. O litisconsórcio facultativo comum traduz-se em verdadeiro cúmulo de demandas, que buscam vários
provimentos somados em uma sentença formalmente única (DINAMARCO, Cândido Rangel. Litisconsórcio. 8 ed.
São Paulo: Malheiros, 2009, p. 86). Sendo assim - e levando-se em conta que "todo cúmulo subjetivo tem por
substrato um cúmulo objetivo" (idem, ibidem), com causas de pedir e pedidos materialmente diversos (embora
formalmente únicos) -, para a formação de litisconsórcio facultativo comum há de ser observada a limitação
segundo a qual só é lícita a cumulação de pedidos se o juízo for igualmente competente para conhecer de todos
eles (art. 292, § 1º, inciso II, do CPC).
4. Portanto, como no litisconsórcio facultativo comum o cúmulo subjetivo ocasiona cumulação de pedidos, não
sendo o juízo competente para conhecer de todos eles, ao fim e ao cabo fica inviabilizado o próprio litisconsórcio,
notadamente nos casos em que a competência se define ratione personae, como é a jurisdição cível da Justiça
Federal.
5. Ademais, a conexão (no caso inexistente) não determina a reunião de causas quando implicar alteração de
competência absoluta e "não determina a reunião dos processos, se um deles já foi julgado" (Súmula n. 235/STJ).
6. Recurso especial não provido. (REsp 1120169/RJ, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado
em 20/08/2013, DJe 15/10/2013)

Súmula 489 STJ: Reconhecida a continência, devem ser reunidas na Justiça Federal as ações civis públicas
propostas nesta e na Justiça estadual.

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Às vezes temos continência entre ações na Justiça Federal e na Justiça Estadual e os processos são reunidos para
julgamento conjunto na Justiça Federal.

5. Competência na ACP

5.3. Critério valorativo: não há (nacionalmente) (3º, I da Lei 10.259/2001 e 2º, § 1º, da Lei 12.153/2009)

Sabemos que existem os Juizados Especiais Federais que cuidam de causas contra a União, autarquias federais e
empresas públicas federais até 60 salários-mínimos e temos os Juizados Especiais da Fazenda Pública que cuidam
de causas contra o Município, Estado, autarquias municipais e estaduais e empresas públicas municipais e
estaduais até 60 salários-mínimos. Poderia ter uma ACP de até 60 salários-mínimos para o âmbito do JEF e do
JEFP? Não há, porque os seguintes dispositivos expressamente excluem o cabimento de ação coletiva na tutela
dos difusos, coletivos e individuais homogêneos perante os Juizados, sempre sendo da Justiça Comum.

Primeiramente, esse critério de valor da causa não ter utilidade na ACP é só do ponto de vista nacional. Em
determinado Estado, podemos ter regras de critério valorativo para definir competência de órgãos da Justiça
Estadual, como temos, por exemplo, na Capital de São Paulo e seus foros regionais.

Em segundo lugar, devemos ter cuidado porque a vedação desses dispositivos é para as ações coletivas. Nada
impede a propositura de ações individuais, ainda que de casos que envolvem direitos individuais homogêneos, no
âmbito do JEF e JEFP, como o caso do Microvlar, dos expurgos inflacionários ou do lote do carro com defeito.

Art. 3o Compete ao Juizado Especial Federal Cível processar, conciliar e julgar causas de competência da Justiça
Federal até o valor de sessenta salários mínimos, bem como executar as suas sentenças.
§ 1o Não se incluem na competência do Juizado Especial Cível as causas:
I - referidas no art. 109, incisos II, III e XI, da Constituição Federal, as ações de mandado de segurança, de
desapropriação, de divisão e demarcação, populares, execuções fiscais e por improbidade administrativa e as
demandas sobre direitos ou interesses difusos, coletivos ou individuais homogêneos;

Art. 2o É de competência dos Juizados Especiais da Fazenda Pública processar, conciliar e julgar causas cíveis de
interesse dos Estados, do Distrito Federal, dos Territórios e dos Municípios, até o valor de 60 (sessenta) salários
mínimos.

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§ 1o Não se incluem na competência do Juizado Especial da Fazenda Pública:
I – as ações de mandado de segurança, de desapropriação, de divisão e demarcação, populares, por improbidade
administrativa, execuções fiscais e as demandas sobre direitos ou interesses difusos e coletivos;
II – as causas sobre bens imóveis dos Estados, Distrito Federal, Territórios e Municípios, autarquias e fundações
públicas a eles vinculadas;
III – as causas que tenham como objeto a impugnação da pena de demissão imposta a servidores públicos civis ou
sanções disciplinares aplicadas a militares.

5.4. Critério territorial (02 posições)

Já sabemos que é primeira instância porque não temos critério funcional hierárquico, já sabemos que vai ser na
Federal, na Trabalhista ou na Estadual Comuns porque os Juizados não atuam. Falta definir o local.

a) Aplica-se o art. 2º da LAPC para difusos/coletivos (competência absoluta) e 93 do CDC para IH


(competência relativa ou absoluta - controvertido) (Superada: STF Tema 1.075)

Essa é a posição majoritária porque vai nos dizer que o art. 93 do CDC é a regra geral de competência que temos
no sistema, se aplicando para os difusos, coletivos e individuais homogêneos. Essa primeira posição diz ainda que
essa regra é de competência absoluta e, por isso, segue o art. 64 do CPC, em que o juiz pode pronunciar de ofício
a competência, não se prorroga, não se sana o vício, se for violada pode caber ação rescisória, etc.

Se o dano for local, a competência será no local do dano ou no local onde ocorreria o dano, no caso de ações
preventivas. Se o dano for regional, o art. 93 do CDC vai estabelecer que a ação pode ser ajuizada na capital do
Estado que foi atingido pelo dano. Se o dano, por sua vez, for um dano nacional, podemos ter o ajuizamento na
capital do Estado atingido pelo dano ou no DF.

⮚ Exemplos: um dano ambiental em Ribeirão Preto/SP, a ACP ambiental será ajuizada em Ribeirão Preto/SP.
Se teve um dano aos consumidores de uma propaganda enganosa feita na cidade de São Paulo, será
ajuizada em São Paulo. Se o dano pelo comportamento de uma empresa pública estadual atingiu o Estado
de Minas Gerais inteiro, a ação será ajuizada em Belo Horizonte/MG. Se uma empresa de telefonia causou
dano no Brasil inteiro, a ação será ajuizada na capital de um dos Estados em que ela atua ou no DF.

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⮚ E os casos que atingem apenas parte de um Estado ou apenas a região Sul e Sudeste do Brasil? As coisas
complicam e, por isso, é muito ruim esse critério legislativo. Assim, tem prevalecido a ideia da prevenção,
com a ressalva de que, se a capital foi atingida, ela tem preferência no julgamento da ação.

Art. 93. Ressalvada a competência da Justiça Federal, é competente para a causa a justiça local:
I - no foro do lugar onde ocorreu ou deva ocorrer o dano, quando de âmbito local;
II - no foro da Capital do Estado ou no do Distrito Federal, para os danos de âmbito nacional ou regional, aplicando-
se as regras do Código de Processo Civil aos casos de competência concorrente.

Em 2021, O STF ao julgar o Tema 1.075 que discutiu o art. 16 da LACP falou que a competência para todas as ACP
segue o art. 93 do CDC. É de competência absoluta, de interesse público.

b) Aplica-se o art. 93 do CDC para difusos, coletivos e IH (competência absoluta)

I) insuficiência legal do critério (o que é dano regional ou nacional?)

Dano local todo mundo consegue entender. Dano regional seria um dano estadual? Se fosse isso seria fácil. Uma
propaganda que foi veiculada ilegalmente, de forma enganosa, na macrorregião do interior de São Paulo, seria
local ou regional? Se for regional, pode ajuizar a ação na capital do Estado e lá eles sequer foram atingidos.

Não há resposta. O professor sugere que dano regional só é considerado aquele que alcança mais de uma comarca
ou subseção judiciária, mas desde que alcance a capital do Estado. O dano nacional somente faz sentido se
pensarmos em um dano que também atinge o Distrito Federal.

II) Multiplicidade de ações e prevenção (STF Tema 1.075)

Havendo multiplicidade de ações, haverá prevenção do juízo que recebeu a primeira ação. Aplicamos a regra do
art. 2º da LACP que diz que o juiz para o qual distribuída, registrada, em que houve a primeira propositura de ação
se torna prevento para todas as demais e nesses casos de dano regional ou dano nacional isso acontece muito.
Em caso de privatização, surgem muitas ACP em vários locais do Brasil e quem recebeu a primeira herda todas as
demais pelo critério da prevenção.

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III) Controle abuso e concomitância ACP (forum shopping e forum non conveniens) (STJ, CC
164.362, 2020)

* Forum shopping e forum non conveniens (STJ, CC 164.362, 2020)

Forum shopping é sinônimo de competência concorrente, porque o autor elege o foro conforme aquilo que ele
entende ser mais adequado. O STJ entendeu, nesse julgado, que o controle da competência nas ações coletivas
deve se basear também em interesse público na melhor apuração do fato e, portanto, com um limitador natural
ao fórum shopping seria a possibilidade de o Poder Judiciário decretar que em determinadas escolhas abusivas ou
arbitrárias feitas pelo autor, o Judiciário poderia negar por questões de conveniência (forum non conveniens) a
sua competência. Um dano ambiental atingiu 8 Estados e o juízo mais conveniente seria o da capital.

CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA. DIREITO AMBIENTAL. DESASTRE DE BRUMADINHO. ROMPIMENTO DE


BARRAGEM DA EMPRESA VALE DO RIO DOCE. AÇÃO POPULAR. LEI 4.717/1965. COMPETÊNCIA PARA JULGAR A
AÇÃO POPULAR QUANDO JÁ EM ANDAMENTO AÇÃO CIVIL PÚBLICO COM OBJETO ASSEMELHADO.
DISTINGUISHING. TEMA AMBIENTAL. FORO DO LOCAL DO FATO. APLICAÇÃO SUBSIDIÁRIA DA LEI DE AÇÃO CIVIL
PÚBLICA.
HISTÓRICO DA DEMANDA 1. Trata-se, na origem, de Ação Popular proposta por Felipe Torello Teixeira, advogado
qualificado nos autos, contra a União, o Distrito Federal, o Estado de Minas Gerais e a Vale S.A., objetivando
liminarmente o bloqueio de ativos financeiros dos réus, no valor de R$ 4.000.000.000,00 (quatro bilhões de reais)
e, ao final, a confirmação da tutela liminar, cumulada com a declaração de nulidade dos atos comissivos da Vale
S.A. e omissivos da União, do Distrito Federal e do Estado de Minas Gerais, bem como a condenação dos réus a:
a) recuperar o meio ambiente degradado pelo rompimento da barragem da Vale S.A. no Município de Brumadinho
- MG; b) pagar indenização pelos danos materiais e morais decorrentes do desastre, no valor de R$
4.000.000.000,00 (quatro bilhões de reais); c) a pagar multa civil por dano ambiental, em montante a ser arbitrado
por este Juízo.
Neste momento, o STJ aprecia apenas o Conflito de Competência.
2. O juiz suscitado entendeu que o foro competente, na situação específica dos autos, não se enquadraria na regra
geral do domicílio do autor, haja vista que, em virtude da defesa do interesse coletivo, o processamento da ação
seria mais bem realizado no local da ocorrência do ato que o cidadão pretende ver anulado. O juiz suscitante, por
sua vez, defende que o julgamento poderá ser atribuído à Vara Federal do domicílio do peticionante.
A JURISPRUDÊNCIA DO STJ À LUZ DAS CIRCUNSTÂNCIAS PECULIARES DO CASO CONCRETO 3. Não se desconhece

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a jurisprudência do STJ favorável a que, sendo igualmente competentes o juízo do domicílio do autor popular e o
do local onde houver ocorrido o dano (local do fato), a competência para examinar o feito é daquele em que
menor dificuldade haja para o exercício da Ação Popular. A propósito: CC 47.950/DF, Rel. Ministra Denise Arruda,
Primeira Seção, DJ 7/5/2007, p. 252; CC 107.109/RJ, Rel. Ministro Castro Meira, Primeira Seção, DJe 18/3/2010.
4. Malgrado isso, as circunstâncias do caso concreto devem ser analisadas de forma que se ajuste o Direito à
realidade. Para tanto, mister recordar os percalços que envolveram a definição da competência jurisdicional no
desastre de Mariana/MG, o que levou o STJ a eleger um único juízo para todas as ações, de maneira a evitar
decisões conflitantes e possibilitar que a Justiça se realize de maneira mais objetiva, célere e harmônica.
5. A hipótese dos autos apresenta inegáveis peculiaridades que a distinguem dos casos anteriormente enfrentados
pelo STJ, o que impõe adoção de solução mais consentânea com a imprescindibilidade de se evitar tumulto
processual em demanda de tamanha magnitude social, econômica e ambiental. Assim, necessário superar,
excepcionalmente, a regra geral contida nos precedentes invocados, nos moldes do que dispõe o art. 489, § 1º,
VI, do CPC/2015. De fato a tragédia ocorrida em Brumadinho/MG invoca solução prática diversa, a fim de entregar,
da melhor forma possível, a prestação jurisdicional à população atingida. Impõe-se, pois, ao STJ adotar saída
pragmática que viabilize resposta do Poder Judiciário aos que sofrem os efeitos da inominável tragédia.
DISTINGUISHING: AÇÃO POPULAR ISOLADA E AÇÃO POPULAR EM COMPETIÇÃO COM AÇÃO CIVIL PÚBLICA COM
OBJETO ASSEMELHADO 6. A solução encontrada é de distinguishing à luz de peculiaridades do caso concreto e
não de revogação universal do entendimento do STJ sobre a competência para a ação popular, precedentes que
devem ser mantidos, já que lastreados em sólidos e atuais fundamentos legais e justificáveis argumentos políticos,
éticos e processuais.
9. Assim, a regra geral do STJ não será aplicada aqui, porque deve ser usada quando a Ação Popular for isolada.
Contudo, na atual hipótese, tem-se que a Ação Popular estará competindo e concorrendo com várias outras Ações
Populares e Ações Civis Públicas, bem como com centenas, talvez milhares, de ações individuais, razão pela qual,
em se tratando de competência concorrente, deve ser eleito o foro do local do fato.
AÇÃO POPULAR EM TEMAS AMBIENTAIS 8. Deveras a Lei de Ação Popular (Lei 4.717/1965) não contém regras de
definição do foro competente.
À época de sua edição, ainda não vigorava a Lei da Ação Civil Pública (Lei 7.347/1985); portanto se utilizava, até
então, o CPC, subsidiariamente. Todavia, com a promulgação da retromencionada Lei 7.347/1985, a aplicação
subsidiária do CPC passou a ser reservada àqueles casos para os quais as regras próprias do processo coletivo
também não se revelassem suficientes.
9. Nesse contexto, a definição do foro competente para a apreciação da Ação Popular, máxime em temas como o
de direito ambiental, reclama a aplicação, por analogia, da regra pertinente contida no artigo 2º da Lei da Ação

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Civil Pública. Tal medida se mostra consentânea com os princípios do Direito Ambiental, por assegurar a apuração
dos fatos pelo órgão judicante que detém maior proximidade com o local do dano e, portanto, revela melhor
capacidade de colher as provas de maneira célere e de examiná-las no contexto de sua produção.
10. É verdade que, ao instituir a Ação Popular, o legislador constituinte buscou privilegiar o exercício da
fiscalização e da própria democracia pelo cidadão. Disso não decorre, contudo, que as Ações Populares devam ser
sempre distribuídas no foro mais conveniente a ele; neste caso, o de seu domicílio. Isso porque, casos haverá,
como o destes autos, em que a defesa do interesse coletivo será mais bem realizada no local do ato que, por meio
da ação, o cidadão pretenda ver anulado. Nessas hipóteses, a sobreposição do foro do domicílio do autor ao foro
onde ocorreu o dano ambiental acarretará prejuízo ao próprio interesse material coletivo tutelado por intermédio
desta ação, em benefício do interesse processual individual do cidadão, em manifesta afronta à finalidade mesma
da demanda por ele ajuizada.
AUSÊNCIA DE PREJUÍZO PARA O AUTOR DA AÇÃO POPULAR 11. Cumpre destacar que, devido ao processamento
eletrônico, as dificuldades decorrentes da redistribuição para local distante do domicílio do autor são
significativamente minimizadas, se não totalmente afastadas, em decorrência da possibilidade de acesso integral
aos autos por meio do sistema de movimentação processual.
COMPETÊNCIA DO LOCAL DO FATO 12. Na presente hipótese, é mais razoável determinar que o foro competente
para julgamento desta Ação Popular seja o do local do fato. Logo, como medida para assegurar a efetividade da
prestação jurisdicional e a defesa do meio ambiente, entende-se que a competência para processamento e
julgamento do presente feito é da 17ª Vara Federal da Seção Judiciária do Estado de Minas Gerais.
CONCLUSÃO 13. Conflito de Competência conhecido para declarar competente o Juízo suscitante.
(CC 164.362/MG, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 12/06/2019, DJe 19/12/2019)

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