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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA

FACULDADE DE DIREITO
DEPARTAMENTO DE DIREITO PRIVADO

Disciplina: Direito Processual do Trabalho I (DIR044)


Professor: João Gabriel Lopes

Roteiro de Aula – Unidade 4


PARTES DO PROCESSO
Parte é a pessoa que ajuíza uma demanda ou tem uma demanda ajuizada contra si. Para que
litigue em juízo, a parte precisa deter capacidade processual (aptidão para participar da
relação jurídica processual).
A capacidade processual é um pressuposto subjetivo de validade do processo.
Qualquer pessoa pode ser parte em um processo (capacidade de direito), mas nem todas
podem atuar sozinhas (capacidade de fato) – o incapaz será representado ou assistido por
seus pais, por tutor ou por curador, na forma da lei (art. 71 do CPC).
No caso dos menores de dezoito anos, aplicam-se as regras do direito civil, devendo estar
representados (até 16 anos) ou assistidos (entre 16 e 18 anos) por seus responsáveis legais,
salvo em caso de emancipação.
Importante destacar a possibilidade de regime de curatela especial no caso de incapaz sem
representante legal (ou cujo representante tenha interesses conflitantes) ou réu preso revel.
Art. 72. O juiz nomeará curador especial ao:
I - incapaz, se não tiver representante legal ou se os interesses deste colidirem com os
daquele, enquanto durar a incapacidade;
II - réu preso revel, bem como ao réu revel citado por edital ou com hora certa,
enquanto não for constituído advogado.

A capacidade processual da pessoa jurídica é regida pelo art. 75 do CPC:


Art. 75. Serão representados em juízo, ativa e passivamente:
I - a União, pela Advocacia-Geral da União, diretamente ou mediante órgão
vinculado;
II - o Estado e o Distrito Federal, por seus procuradores;
III - o Município, por seu prefeito ou procurador;
IV - a autarquia e a fundação de direito público, por quem a lei do ente federado
designar;
V - a massa falida, pelo administrador judicial;
VI - a herança jacente ou vacante, por seu curador;
VII - o espólio, pelo inventariante;
VIII - a pessoa jurídica, por quem os respectivos atos constitutivos designarem ou,
não havendo essa designação, por seus diretores;
IX - a sociedade e a associação irregulares e outros entes organizados sem
personalidade jurídica, pela pessoa a quem couber a administração de seus bens;
X - a pessoa jurídica estrangeira, pelo gerente, representante ou administrador de sua
filial, agência ou sucursal aberta ou instalada no Brasil;
XI - o condomínio, pelo administrador ou síndico.
§ 1º Quando o inventariante for dativo, os sucessores do falecido serão intimados no
processo no qual o espólio seja parte.
§ 2º A sociedade ou associação sem personalidade jurídica não poderá opor a
irregularidade de sua constituição quando demandada.
§ 3º O gerente de filial ou agência presume-se autorizado pela pessoa jurídica
estrangeira a receber citação para qualquer processo.
§ 4º Os Estados e o Distrito Federal poderão ajustar compromisso recíproco para
prática de ato processual por seus procuradores em favor de outro ente federado,
mediante convênio firmado pelas respectivas procuradorias.

Preposto: representante da pessoa jurídica em juízo, em caso de impossibilidade do


responsável legal. Deve ter conhecimento dos fatos, mas não necessariamente presenciá-
los. Atualmente, encontra-se superada a Súmula 377/TST, com a redação vigente do art.
843, §3º, da CLT, restando dispensada a empresa de fazer-se presentar por empregado.
CAPACIDADE POSTULATÓRIA
A capacidade processual difere da capacidade postulatória, que consiste na autorização para
praticar diretamente determinados atos processuais. Embora se admita o jus postulandi (art.
791, CLT) no processo do trabalho, sua abrangência é limitada às instâncias ordinárias,
sendo vedada sua utilização em ações rescisórias, mandado de segurança e recursos de
competência do TST (Súmula 425, TST).
Caso opte por uma defesa técnica, a parte deve ser assistida por advogado, com mandato
estabelecido por procuração (art. 104, CPC c/c art. 653 e ss., CC).
Devem estar expressos na procuração, sob pena de não serem reconhecidos judicialmente,
os poderes para receber citação, confessar, reconhecer a procedência do pedido, transigir,
desistir, renunciar ao direito sobre o qual se funda a ação, receber, dar quitação, firmar
compromisso e assinar declaração de hipossuficiência econômica.
Admite-se o mandato tácito, mas este engloba apenas os poderes da cláusula ad judicia,
sendo vedado o substabelecimento (OJ 200 da SDI-1 do TST).
Note-se que, desde o CPC/2015, a ausência ou irregularidade de mandato consiste em
vício sanável, nos termos do art. 76 do diploma processual.
As partes economicamente hipossuficientes podem ser representadas pela Defensoria
Pública da União. No entanto, a atuação da DPU em processos trabalhistas tem se
mostrado bastante limitada na prática, em razão de limitações estruturais do órgão.
Usualmente, a assistência judiciária gratuita é prestada pelos sindicatos, nos termos da Lei
nº 5.584/1970.
Quanto ao Ministério Público do Trabalho, este pode atuar como custos legis, em nome
próprio, no papel de fiscalização da legislação protetiva do trabalho, assim como pode
litigar na qualidade de titular da ação, em defesa de direitos difusos e coletivos e, como
recentemente reconhecido pela SDI-1 do TST, também em defesa de direitos individuais
homogêneos, ainda que essa não seja uma prática usual:
“(...) AÇÃO CIVIL PÚBLICA. LEGITIMIDADEATIVA
DO MINISTÉRIO PÚBLICODO TRABALHO. PEDIDO DE PAGAMENTO
DE HORAS EXTRAS E REFLEXOS. DIREITO INDIVIDUAL HOMOGÊNEO.
Trata-se de ação civil pública ajuizada pelo Ministério Público do Trabalho com
pedido de pagamento de horas extras trabalhadas e seus reflexos em outros títulos,
entre outros. (...) Ressalta-se que o Supremo Tribunal Federal já pacificou o
entendimento de que os interesses homogêneos são espécie dos interesses
coletivos e esta SbDI-1 já pacificou entendimento quanto à legitimidade
do Ministério Público para ajuizar ação civil pública para a defesa de
interesses individuais homogêneos. Neste caso, o titular do direito é
perfeitamente identificável e o objeto é divisível e cindível, caracterizando-se,
porém, pela sua origem comum (decorrência de um mesmo fato), o que lhe
atribui o caráter de direito coletivo lato sensu. Busca-se, portanto, a reparação
de direitos de diversos empregados em razão de uma conduta da empresa, que não
cumpriu com suas obrigações trabalhistas, situação, portanto, uniforme para todos os
seus empregados. Ressalta-se que a homogeneidade que caracteriza o direito não está
nas consequências individuais no patrimônio de cada trabalhador, advindas do
reconhecimento desse direito, mas sim no ato único e de efeitos coletivos pelo
empregador de descumprir norma legal e no prejuízo ocasionado à categoria
dos empregados, como um todo, que, neste caso, deixaram de ter a
oportunidade de perceber o pagamento de horas extras decorrentes do
descumprimento da jornada de trabalho prevista na Constituição Federal e na
CLT. (...) Logo, tratando-se de tutela de direito individual homogêneo, é patente a
legitimidade ativa do Ministério Público do Trabalho para o ajuizamento desta ação
civil pública , com fundamento no artigo 83, inciso III, da Lei Complementar nº
75/93, nos termos em que decidido pela Turma, razão pela qual deve ser mantida a
decisão embargada. Embargos conhecidos e desprovidos" (Processo: E-ED-ARR -
541-76.2010.5.02.0042 Data de Julgamento: 04/02/2021, Relator Ministro: José
Roberto Freire Pimenta, Subseção I Especializada em Dissídios Individuais, Data de
Publicação: DEJT 12/02/2021).

LEGITIMIDADE PARA A CAUSA


A legitimidade para a causa é tradicionalmente abordada como uma condição da ação que
consiste na titularidade de um direito ou dever subjetivo que é objeto da lide judicial.
A legitimidade é sempre verificada em abstrato (teoria da asserção), a partir do que o autor
alega na petição inicial, devendo ser articulada com o próprio mérito da ação. Daí porque
alguns autores, como Calmon de Passos, refutam a sua caracterização como condição da
ação.
Ordinariamente, a legitimidade compete ao titular do direito ou do dever subjetivo em
questão.
Questão interessante surge no caso de óbito da parte pessoa física no curso do processo.
Na hipótese de óbito do trabalhador no curso do processo, este deve ser suspenso até a
regularização do polo ativo, com a nomeação do inventariante. Na prática judiciária,
contudo, admite-se a habilitação simplificada, suprindo-se a nomeação de inventariante pela
certidão de dependentes expedida pelo INSS ou por alvará judicial (Lei nº 6.858/1980).
No caso de encerramento da atividade empresarial, ocorre a sucessão trabalhista (arts. 10 e
468 da CLT), ocorrendo a cessão de débitos ao terceiro que assumi-las, o qual passará a ser
o único responsável por todos os débitos trabalhistas. Atenção apenas para o caso de
falência, em que a aquisição não importa sucessão trabalhista.
O caso dos danos morais: o espólio possui legitimidade para pleitear compensação por
danos morais?
Situação 1: trabalhador ajuíza a ação e vem a óbito no curso do processo – sucessão
processual (espólio ou dependentes habilitados na Previdência Social).
Situação 2: trabalhador morre antes do ajuizamento da ação. Discussão: extinção do
direito personalíssimo com a morte x dano já sofrido em vida (busca de direito
patrimonial).
É comum, na Justiça do Trabalho, a utilização da prerrogativa da legitimação extraordinária
para formulação, em nome próprio, do direito de terceiro, chamada de substituição
processual. O art. 8º, III, da Constituição, assegura que “ao sindicato cabe a defesa dos
direitos e interesses coletivos ou individuais da categoria, inclusive em questões judiciais ou
administrativas”. Daí decorre a legitimação ampla das entidades para substituir os
trabalhadores em juízo.
Aplica-se às ações em regime de substituição processual o microssistema da tutela coletiva.
Súmula nº 45 – TRT-5
SUBSTITUIÇÃO PROCESSUAL AMPLA. DIREITOS INDIVIDUAIS
HOMOGÊNEOS E HETEROGÊNEOS. SINDICATO. LEGITIMIDADE
ATIVA. 1. O artigo 8º, inciso III, da Constituição da República, consagra hipótese de
substituição processual ampla e irrestrita, uma vez que garante à entidade sindical a
possibilidade de ingressar em juízo na defesa de direitos e interesses coletivos ou
individuais da categoria que representa, consoante já expressado pelo Excelso
Supremo Tribunal Federal, intérprete maior do texto constitucional. 2. Tal modalidade
de substituição processual representa verdadeira garantia fundamental ao pleno acesso
à Justiça, pois permite a judicialização de questões, muitas vezes, delicadas e existentes
ainda no curso do contrato de trabalho, sem que o trabalhador tenha que figurar como
autor da demanda ou assinar documentos que possibilitem sua imediata identificação,
sem falar que produz real economia de recursos públicos, a efetivação do princípio da
razoável duração do processo e uniformidade de decisões judiciais. 3. Portanto, os
Sindicatos possuem legitimidade ativa para postularem, como substitutos processuais,
direitos individuais homogêneos e heterogêneos, sem restrições e de forma ampla.
A substituição processual distingue-se da representação processual, em que há atuação
em nome alheio para defesa de direito de terceiro. A representação deriva sempre de lei ou
convenção. Exemplos: menores de 16 anos (legal), preposto (convencional).
Nas ações de cumprimento e reclamações plúrimas, pode haver representação em ato
processual específico pelo sindicato da categoria (art. 843, caput, CLT) ou, em caso de
doença ou outro motivo poderoso, também por outro empregado que pertença à mesma
profissão (art. 843, §2º, CLT).

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