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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA

FACULDADE DE DIREITO
DEPARTAMENTO DE DIREITO PRIVADO

Disciplina: Direito Processual do Trabalho I (DIR044)


Professor: João Gabriel Lopes

Roteiro de Aula – Unidade 1


INTRODUÇÃO AO DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO
Tradicionalmente, conceitua-se o processo como um encadeamento lógico de atos e fatos
jurídicos que tem por objetivo a entrega da jurisdição, mediante a resolução da lide, definida
por Carnelutti como o “conflito de interesses qualificado por uma pretensão resistida”.
O papel do processo no direito: necessidade de vislumbrar o processo como um
instrumento que extrapola uma mera fórmula sem substância. Com todas as limitações
próprias de uma sociedade capitalista – a qual impõe, por si só, freios à concretização das
ideais de igualdade e liberdade –, existe um papel desempenhado pelo procedimento na
concretização de um Estado Democrático, e que ressai sobre a simples lógica que traduz
acesso à justiça como possibilidade abstrata de acesso ao Poder Judiciário e direito de defesa como a
possibilidade formal de manifestação nos autos de um processo.
Preparado somente para lidar com questões rotineiras e triviais, nos planos cível,
comercial, penal, trabalhista, tributário e administrativo, por tratar o sistema jurídico
com um rigor lógico-formal tão intenso que inibe os magistrados de adotar soluções
fundadas em critérios de racionalidade substantiva, o Judiciário se revela
tradicionalmente hesitante diante das situações não-rotineiras; hesitação essa que tende
a aumentar à medida que, obrigados a interpretar e aplicar os direitos humanos e
sociais estabelecidos pela Constituição, os juízes enfrentam o desafio de definir o
sentido e o conteúdo das normas programáticas que expressam tais direitos ou
considerar como não-vinculantes um dos núcleos centrais do próprio texto
constitucional. É aí, justamente, que se percebe como os direitos humanos e sociais,
apesar de cantados em prosa e verso pelos defensores dos paradigmas jurídicos de
natureza normativista e formalista, nem sempre são tornados efetivos por uma Justiça
burocraticamente inepta, administrativamente superada e processualmente superada;
uma Justiça ineficiente diante dos novos tipos de conflito – principalmente os
‘conflitos- limite’ para a manutenção da integridade social; ou seja, os conflitos de
caráter inter-grupal, inter-comunitário e inter-classista; uma Justiça que, revelando-se
incapaz de assegurar a efetividade dos direitos humanos e sociais, na prática acaba
sendo conivente com sua sistemática violação. É aí, igualmente, que se constata o
enorme fosso entre os problemas sócio-econômicos e as leis em vigor. Trata-se do
fosso revelado pela crônica incapacidade dos tribunais de aplicar normas de caráter
social ou de alargar seu enunciado por via de uma interpretação praeter legem, com a
finalidade de fazer valer os direitos mais elementares dos cidadãos situados abaixo da
linha de pobreza1.

No processo do trabalho, a preocupação deve ser acentuada em razão dos direitos


materiais que se objetiva tutelar e seu caráter central para a concretização do Estado Social
de Direito preconizado pelo art. 7º da Constituição de 1988. O processo do trabalho deve
consistir na garantia institucional do exercício de uma jurisdição para o trabalhador.

CONFLITO E PROCESSO DO TRABALHO


Além disso, não se pode perder de vista que o conflito nas relações deCF trabalho precede
a estruturação de uma sistemática procedimental de resolução pelo Estado. A disputa entre
capital e trabalho é intrínseca à dinâmica capitalista.

Tratado proposto na Rebelião de Santana (Ilhéus-BA, 1789)

1FARIA, José Eduardo. Os desafios do judiciário. Revista USP/Superintendência de Comunicação Social da


Universidade de São Paulo, n. 21, São Paulo: Universidade de São Paulo, Superintendência de Comunicação
Social, mar./mai. 1994. Disponível em: http://www.usp.br/revistausp/21/SUMARIO-21.htm p. 50.
Os direitos materiais trabalhistas possuem também um substrato histórico, resultante de
uma construção coletiva das classes trabalhadoras em distintos lugares em com diversas
temporalidades. Por essa razão, é imprescindível apreender tais direitos, inclusive na sua
dimensão processual/procedimental, a partir do caráter coletivo da proteção social.
Alguns reflexos dessa dimensão coletiva sobre a jurisdição:

• Novas dimensões de acesso à justiça;


• Coletivização do processo com protagonismo dos trabalhadores;
• Novos métodos de prestação jurisdicional;
• Papel do Ministério Público e da Defensoria Pública.
Na lide (ou no dissídio) trabalhista, o Estado reproduz, em alguma medida, o papel que
também exerce na regulação de direitos materiais trabalhistas, ao se colocar interposto
entre os interesses conflitantes do capital e do trabalho. O conflito subjaz a relação de
trabalho no contexto capitalista e, portanto, precede à estruturação de uma sistemática
procedimental de resolução de disputas.
Justamente por isso, o processo é apenas uma das fórmulas sociais de resolução de disputas
em torno da relação de emprego. Empregadores (ao se valerem do poder diretivo) e
empregados (por meio da greve) exercem diariamente a autotutela nas relações laborais. A
tentativa do Estado capitalista, por meio do processo, é a de impedir, prevenir, compor ou
solucionar, favorecendo uma ou outra parte, esse conflito, sem que as partes o façam por
suas próprias mãos.
Esse Estado não se porta de maneira neutra perante o conflito. O processo, como produto
da razão de um tempo histórico, traduz também a forma da ideologia. A busca da verdade
segundo os critérios da lei é a busca da verdade segundo os pressupostos que política,
social e economicamente conformam determinada comunidade.
Ideia de “segundo processo” (Márcio Túlio Viana): influência das interpretações do Direito
do Trabalho sobre o Processo do Trabalho:
Esse segundo processo influi, em graus variáveis, na produção da prova, e por
extensão na sentença, seja reforçando, seja – ao contrário – relativizando e às vezes até
invertendo o princípio do contraditório e o ideal de democracia. Basta observar o que
se passa numa audiência trabalhista: ao contrário do reclamado, o reclamante tem
sempre dificuldade de decodificar os símbolos, escapar das armadilhas, manter-se
seguro de si. E as suas testemunhas são como ele. Aliás, até o seu advogado, com
frequência, se parece com ele2.
Qualquer pretensão, portanto, de fazer com que o Direito do Trabalho, em seu viés
protetivo, e a democracia, em seu caráter substancial, tenham mínima efetividade exige que
o Processo do Trabalho seja também permeado pelo conceito de proteção que justifica a
existência de uma legislação própria para as garantias dos trabalhadores. A formalização do
processo, fenômeno acentuado pelos recentes movimentos pelos quais passou o
procedimento judicial trabalhista, cria uma deslegitimação pelo distanciamento.

FONTES DO DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO


Fontes materiais: fatos sociais, políticos, econômicos, culturais, éticos informados por
determinada comunidade política em um contexto histórico.
As fontes formais podem ser diretas ou indiretas.
Fontes formais diretas – CLT, CPC, Lei 6.830/1980 (execuções fiscais), Lei 7.701/1988
(processo no TST), LC 75/1993 (Ministério Público), Lei 7.347/1985 (LACP), Lei
8.078/1990 (CDC), Lei 8.069/1990 (ECA).
O processo civil é fonte supletiva/subsidiária do processo do trabalho.
Art. 15, CPC: Na ausência de normas que regulem processos eleitorais, trabalhistas ou
administrativos, as disposições deste Código lhes serão aplicadas supletiva e
subsidiariamente.

2VIANA, Márcio Túlio. O segundo processo. Revista do TST, Brasília, vol. 77, n. 2, abr/jun 2011, p. 196-
206.
Art. 769, CLT: Nos casos omissos, o direito processual comum será fonte subsidiária
do direito processual do trabalho, exceto naquilo em que for incompatível com as
normas deste Título.

Fontes formais indiretas – jurisprudência, analogia, equidade, princípios e normas gerais de


direito, usos e costumes, direito comparado.
Art. 8º, CLT: As autoridades administrativas e a Justiça do Trabalho, na falta de
disposições legais ou contratuais, decidirão, conforme o caso, pela jurisprudência, por
analogia, por eqüidade e outros princípios e normas gerais de direito, principalmente
do direito do trabalho, e, ainda, de acordo com os usos e costumes, o direito
comparado, mas sempre de maneira que nenhum interesse de classe ou particular
prevaleça sobre o interesse público.
Art. 4º, LINDB: Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a
analogia, os costumes e os princípios gerais de direito.
Art. 5º, LINDB: Na aplicação da lei, o juiz atenderá aos fins sociais a que ela se dirige
e às exigências do bem comum.

Direito estrangeiro como fonte do direito do trabalho? Caso da dispensa coletiva.


Exemplo: ROT-0000001-71.2013.5.04.0008:
Quanto à ocorrência de despedida em massa, nenhum reparo merece a sentença. A
doutrina qualifica como dispensa coletiva aquela que abrange um grande número de
trabalhadores num curto espaço de tempo e com motivação desvinculada de questões
individuais do trabalhador. Nesse ponto, pois, reporto-me à definição de Maurício
Godinho Delgado, transcrita na sentença, fl. 424v. Não difere da definição que
Orlando Gomes deu lá na década de 1970 ("Dispensa coletiva é a rescisão simultânea,
por motivo único, de uma pluralidade de contratos de trabalho numa empresa, sem
substituição dos empregados dispensados" - in Dispensa Coletiva na Reestruturação
da Empresa - Aspectos jurídicos do desemprego tecnológico. Editora LTr, São Paulo,
1974. p. 575.).
Penso que uma dispensa superior a 10% do quadro funcional da empresa em
determinado estabelecimento caracteriza, sem dúvida, uma despedida em massa. Só
para se ter como um parâmetro mínimo, já que a legislação trabalhista não define o
que seja "despedida em massa", o art. 1.1 da Diretiva nº 75/129 da Comunidade
Econômica Europeia considera dispensa coletiva como a efetuada por um empresário,
por um ou vários motivos não inerentes à pessoa do trabalhador, quando o número de
dispensas no período de 30 dias corresponda a:
(a) 10 empregados, cujo centro de trabalho empregue, habitualmente, entre 20 a 100
trabalhadores; (b) 10% do número de empregados, nos centros de trabalho que
empreguem habitualmente entre 100 a 300 trabalhadores; (c) 30 empregados, nos
centros de trabalho que empreguem Quanto à ocorrência de despedida em massa,
nenhum reparo merece a sentença. A doutrina qualifica como dispensa coletiva aquela
que abrange um grande número de trabalhadores num curto espaço de tempo e com
motivação desvinculada de questões individuais do trabalhador. Nesse ponto, pois,
reporto-me à definição de Maurício Godinho Delgado, transcrita na sentença, fl. 424v.
Não difere da definição que Orlando Gomes deu lá na década de 1970 ("Dispensa
coletiva é a rescisão simultânea, por motivo único, de uma pluralidade de contratos de
trabalho numa empresa, sem substituição dos empregados dispensados" - in Dispensa
Coletiva na Reestruturação da Empresa - Aspectos jurídicos do desemprego
tecnológico. Editora LTr, São Paulo, 1974. p. 575.). Penso que uma dispensa superior
a 10% do quadro funcional da empresa em determinado estabelecimento caracteriza,
sem dúvida, uma despedida em massa. Só para se ter como um parâmetro mínimo, já
que a legislação trabalhista não define o que seja "despedida em massa", o art. 1.1 da
Diretiva nº 75/129 da Comunidade Econômica Europeia considera dispensa coletiva
como a efetuada por um empresário, por um ou vários motivos não inerentes à pessoa
do trabalhador, quando o número de dispensas no período de 30 dias corresponda a:
(a) 10 empregados, cujo centro de trabalho empregue, habitualmente, entre 20 a 100
trabalhadores; (b) 10% do número de empregados, nos centros de trabalho que
empreguem habitualmente entre 100 a 300 trabalhadores; (c) 30 empregados, nos
centros de trabalho que empreguem habitualmente o mínimo de 300 trabalhadores;
(d) ou 20 empregados, seja qual for o número de trabalhadores habitualmente
empregados nos centros de trabalho afetados, desde que a dispensa se verifique dentro
de um período de 90 dias.

Jurisprudência como fonte do direito – decisões vinculantes e o paradoxo ideológico da


Reforma Trabalhista de 2017.
Art. 927, CPC: Art. 927. Os juízes e os tribunais observarão:
I - as decisões do Supremo Tribunal Federal em controle concentrado de
constitucionalidade;
II - os enunciados de súmula vinculante;
III - os acórdãos em incidente de assunção de competência ou de resolução de
demandas repetitivas e em julgamento de recursos extraordinário e especial
repetitivos;
IV - os enunciados das súmulas do Supremo Tribunal Federal em matéria
constitucional e do Superior Tribunal de Justiça em matéria infraconstitucional;
V - a orientação do plenário ou do órgão especial aos quais estiverem vinculados.
Art. 702, CLT: Ao Tribunal Pleno compete:
I - em única instância: (...)
f) estabelecer ou alterar súmulas e outros enunciados de jurisprudência uniforme, pelo
voto de pelo menos dois terços de seus membros, caso a mesma matéria já tenha sido
decidida de forma idêntica por unanimidade em, no mínimo, dois terços das turmas
em pelo menos dez sessões diferentes em cada uma delas, podendo, ainda, por
maioria de dois terços de seus membros, restringir os efeitos daquela declaração ou
decidir que ela só tenha eficácia a partir de sua publicação no Diário Oficial; (...)

O negócio jurídico processual: elemento de autonomia privada no direito processual


(relação de natureza pública).
Art. 190, CPC: Versando o processo sobre direitos que admitam autocomposição,
é lícito às partes plenamente capazes estipular mudanças no procedimento para
ajustá-lo às especificidades da causa e convencionar sobre os seus ônus, poderes,
faculdades e deveres processuais, antes ou durante o processo.
Parágrafo único. De ofício ou a requerimento, o juiz controlará a validade das
convenções previstas neste artigo, recusando-lhes aplicação somente nos casos de
nulidade ou de inserção abusiva em contrato de adesão ou em que alguma
parte se encontre em manifesta situação de vulnerabilidade.
Não se aplica o negócio jurídico processual em matéria de ordem pública. Exemplos:
competência absoluta, supressão de instância, exclusão do Ministério Público.
Vulnerabilidade fática do trabalhador também deve recomendar a invalidação de negócios
processuais que lhe sejam lesivos. TST – IN 39/2016 – art. 2º, II: inaplicabilidade ao direito
processual do trabalho.

FUNDAMENTOS DO DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO


Classificação de Rodrigues Pinto3.
Princípios constitucionais do processo
Princípio do juízo natural: dupla ideia de que não há lide que possa ser julgada
sem prévia existência de um juízo legal competente e de que não há causa que possa
ser apreciada por tribunal de exceção. Previsão no art. 5º, XXXVII e LII, da
Constituição.
Princípio do devido processo legal: impossibilidade de privação da liberdade ou
do patrimônio sem que se siga um procedimento estipulado em normas jurídicas.
Justaposição do capital ao trabalho: subordinação impõe que o trabalhador precise
aguardar o processo, enquanto o empregador age por autotutela. Previsão no art.
5º, LIV, da Constituição.
Princípio da isonomia: igualdade entre as partes (art. 5º, caput, da Constituição),
que deve ser concretizada em sua dimensão material, possibilitando que,
independentemente de sua condição econômica, possam ter assegurado o acesso à
jurisdição. Alguns autores questionam a aplicabilidade, ao processo do trabalho, do
princípio da proteção ao trabalhador, ao fundamento de que ele romperia com o
dever de imparcialidade do magistrado4. No entanto, é preciso ponderar que o
compromisso primeiro do direito processual (instrumental, por essência) é a
realização dos direitos materiais sonegados. A própria legislação, apesar das
reformas precarizantes recentes, admite o influxo do caráter essencialmente
desigual da relação de emprego sobre a relação jurídico-processual (regras de ônus
da prova, garantias de gratuidade judiciária, desnecessidade de depósito recursal
pelo empregado, impulso oficial nas execuções*, não comparecimento do
reclamante à audiência).
Princípio da garantia de controle jurisdicional: impossibilidade de se excluir da
apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça de lesão a direito (art. 5º, XXXV,
da Constituição). A aplicação desse princípio acarretou a interpretação conforme a
Constituição dos §§1º a 4º do art. 652-D da CLT (Comissões de Conciliação
Prévia).
ADI 2139, STF: Contraria a Constituição interpretação do previsto no art. 625-D e
parágrafos da Consolidação das Leis do Trabalho pelo qual se reconhecesse a
submissão da pretensão à Comissão de Conciliação Prévia como requisito para

3PINTO, José Augusto Rodrigues. Processo Trabalhista de Conhecimento. São Paulo: LTr, 2005.
4A título exemplificativo: ZANGRANDO, Carlos. Princípios jurídicos do direito do trabalho. São Paulo:
LTr, 2011.
ajuizamento de reclamação trabalhista. Interpretação conforme a Constituição da
norma.

Princípio da motivação das decisões: dever de justificação das decisões judiciais,


reforçado com o advento do Código de Processo Civil de 2015. A ausência de
motivação é causa de nulidade da decisão, sujeitando a causa a novo julgamento
pelo juízo que a proferiu sem cumprir o referido dever jurídico.
Art. 489, §1º, CPC: Não se considera fundamentada qualquer decisão judicial, seja ela
interlocutória, sentença ou acórdão, que:
I - se limitar à indicação, à reprodução ou à paráfrase de ato normativo, sem explicar
sua relação com a causa ou a questão decidida;
II - empregar conceitos jurídicos indeterminados, sem explicar o motivo concreto de
sua incidência no caso;
III - invocar motivos que se prestariam a justificar qualquer outra decisão;
IV - não enfrentar todos os argumentos deduzidos no processo capazes de, em tese,
infirmar a conclusão adotada pelo julgador;
V - se limitar a invocar precedente ou enunciado de súmula, sem identificar seus
fundamentos determinantes nem demonstrar que o caso sob julgamento se ajusta
àqueles fundamentos;
VI - deixar de seguir enunciado de súmula, jurisprudência ou precedente invocado
pela parte, sem demonstrar a existência de distinção no caso em julgamento ou a
superação do entendimento.

Princípio da reversibilidade das decisões: possibilidade de modificação de


decisões por instâncias superiores em virtude de erros de julgamento. Exceção:
causas de pequeno valor submetidas ao rito sumário que não contenham vício de
inconstitucionalidade (art. 2º, §4º, Lei nº 5.584/1970).
Princípio da ampla defesa e do contraditório: garantia do livre exercício de
defesa, com a possibilidade de acesso integral aos meios juridicamente válidos para
firmar uma tese jurídica ou comprovar fatos em juízo. Assegurado pelo art. 5º, LV
da Constituição).
Princípios gerais do processo
Princípio da imparcialidade do juízo e princípio da simetria de tratamento
processual das partes: equidistância entre as partes versus proteção ao trabalhador.
Princípio da publicidade dos atos do processo: os atos processuais, em regra,
são públicos.
Art. 189, CPC: Os atos processuais são públicos, todavia tramitam em segredo de
justiça os processos:
I - em que o exija o interesse público ou social;
II - que versem sobre casamento, separação de corpos, divórcio, separação, união
estável, filiação, alimentos e guarda de crianças e adolescentes;
III - em que constem dados protegidos pelo direito constitucional à intimidade;
IV - que versem sobre arbitragem, inclusive sobre cumprimento de carta arbitral,
desde que a confidencialidade estipulada na arbitragem seja comprovada perante o
juízo.
§ 1º O direito de consultar os autos de processo que tramite em segredo de justiça e
de pedir certidões de seus atos é restrito às partes e aos seus procuradores.
§ 2º O terceiro que demonstrar interesse jurídico pode requerer ao juiz certidão do
dispositivo da sentença, bem como de inventário e de partilha resultantes de divórcio
ou separação.

Princípio da lealdade processual: dever das partes de agirem em boa-fé. No


direito processual do trabalho, a questão ganhou novos contornos com a previsão
da responsabilidade por dano processual prevista a partir da Lei nº 13.467/2017.
CLT: Art. 793-A. Responde por perdas e danos aquele que litigar de má-fé como
reclamante, reclamado ou interveniente.
Art. 793-B. Considera-se litigante de má-fé aquele que:
I - deduzir pretensão ou defesa contra texto expresso de lei ou fato
incontroverso;
II - alterar a verdade dos fatos;
III - usar do processo para conseguir objetivo ilegal;
IV - opuser resistência injustificada ao andamento do processo;
V - proceder de modo temerário em qualquer incidente ou ato do processo;
VI - provocar incidente manifestamente infundado;
VII - interpuser recurso com intuito manifestamente protelatório.
Art. 793-C. De ofício ou a requerimento, o juízo condenará o litigante de má-fé a
pagar multa, que deverá ser superior a 1% (um por cento) e inferior a 10% (dez por
cento) do valor corrigido da causa, a indenizar a parte contrária pelos prejuízos que
esta sofreu e a arcar com os honorários advocatícios e com todas as despesas que
efetuou.
§ 1o Quando forem dois ou mais os litigantes de má-fé, o juízo condenará cada um na
proporção de seu respectivo interesse na causa ou solidariamente aqueles que se
coligaram para lesar a parte contrária.
§ 2o Quando o valor da causa for irrisório ou inestimável, a multa poderá ser fixada
em até duas vezes o limite máximo dos benefícios do Regime Geral de Previdência
Social.
§ 3o O valor da indenização será fixado pelo juízo ou, caso não seja possível mensurá-
lo, liquidado por arbitramento ou pelo procedimento comum, nos próprios
autos.
Art. 793-D. Aplica-se a multa prevista no art. 793-C desta Consolidação à
testemunha que intencionalmente alterar a verdade dos fatos ou omitir fatos essenciais
ao julgamento da causa.
Parágrafo único. A execução da multa prevista neste artigo dar-se-á nos mesmos
autos.
Princípio da preclusão: garantia de marcha dos atos processuais, com objetivo de
que a jurisdição seja entregue de forma eficiente. Em alguma medida, relaciona-se
também com a boa-fé processual.
Art. 795, CLT: As nulidades não serão declaradas senão mediante provocação das
partes, as quais deverão argüi-las à primeira vez em que tiverem de falar em audiência
ou nos autos.

Princípio da celeridade e economia do processo: rejeição de atos inúteis ao


desenrolar da lide.
Peculiaridades do Processo do Trabalho
Conciliabilidade: tentativa obrigatória de solução negociada entre as partes.
Poder normativo dos tribunais trabalhistas: possibilidade de edição de normas
sem respaldo legal, vinculantes para as partes, pelos tribunais trabalhistas, ao
julgarem dissídios coletivos.
Capacidade postulatória: possibilidade de a parte comparecer em juízo e a ele
dirigir-se em nome próprio, sem assistência técnica do advogado. Válida apenas
para procedimento comum.
Súmula 425, TST: O jus postulandi das partes, estabelecido no art. 791 da CLT,
limita-se às Varas do Trabalho e aos Tribunais Regionais do Trabalho, não alcançando
a ação rescisória, a ação cautelar, o mandado de segurança e os recursos de
competência do Tribunal Superior do Trabalho.

Rodrigues Pinto também considera as seguintes peculiaridades: inaceitação da


inépcia, julgamento sem petição, pluralização dos dissídios individuais, instauração
ex officio da instância, triplo grau de jurisdição, instância única.
Técnicas de procedimento
Oralidade: busca pela simplicidade dos atos processuais.
Concentração de atos: busca de maior celeridade, resolvendo-se de imediato os
incidentes.
Instrumentalidade do processo: processo como meio pra assegurar a realização
de direito material.
Inquisitoriedade: poder mais amplo ao magistrado para impor a marcha do
processo, sobretudo na coleta de provas.
Identidade física do juiz: o magistrado responsável pela instrução deve julgar o
processo.

EFICÁCIA DA LEI PROCESSUAL NO TEMPO


Três teorias a respeito da eficácia da lei processual no tempo: (1) teoria da unidade (época
do ajuizamento da ação); (2) teoria das fases processuais (lei vigente no início de cada fase
do processo – postulatória, instrutória, recursal, liquidação, execução); (3) teoria do
isolamento dos atos processuais (aplicação imediata para os atos processuais praticados a
partir da sua vigência).
Regra geral: tempus regit actum. Mitigação no caso dos recursos (é o tempo da decisão
recorrida, e não o da prática do ato processual, que deve reger a legislação aplicável).
Debates após a reforma trabalhista de 2017 (Lei nº 13.467/2017):
Prazos processuais em dias úteis: data da intimação.
Incompetência territorial: data da notificação.
Honorários sucumbenciais: data da prolação da sentença x data do ajuizamento
da ação. Resolução pelo art. 6º da IN 41/2018, TST.
Prescrição intercorrente: necessidade de prévia notificação e cômputo a partir de
11.11.2017.

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