Você está na página 1de 7

Visão panorâmica do Direito Alternativo

Cristiano Carrilho S. de Medeiros

Sumário
1. Considerações iniciais. 2. Dificuldades de
modernização do Direito. 3. A crise do Direito
Estatal. 4. Antecedentes históricos do Direito
Alternativo. 5. A alternatividade do Direito na
Europa e no Brasil. 6. Desmitificando o Direito
alternativo. 7. Direito Natural e Direito Alterna-
tivo. 8. A proposta do Direito alternativo. 9. Pla-
nos conceituais do Direito Alternativo. 10. Con-
clusões.

1. Considerações iniciais

Na lição do mestre Otacílio de Paula Sil-


va, “a realidade jurídica é fruto, obviamen-
te, de um conjunto de fatores de natureza
econômica, social, política e ética” (SILVA,
1994, p. 295). O mundo ocidental moderno
adota a conceituação dogmática do Direito
em juízos de “dever ser”. O Direito oficial,
carente de uma moldura flexível para sua
evolução e concretização da justiça, tem
apresentado lacunas e contradições. A ine-
ficiência estatal em criar, aplicar e monopo-
lizar normas deixa transparecer a crise do
Direito Dogmático.
Nessa realidade social, em que o Estado
tem deixado um verdadeiro vazio na solu-
ção dos conflitos, prejudicando a distribui-
ção da justiça entre as diferentes camadas
sociais, o Direito Alternativo surge como ten-
Cristiano Carrilho S. de Medeiros é Advo- tativa de suprir essas lacunas.
gado Trabalhista Especialista (Pós Graduação Analisando aspectos do Direito Alterna-
Latu Sensu/UFPE) e Mestrando em Direito Pri- tivo, Rinez Trindade afirmou que esse Di-
vado/UFPE. reito não constitui um programa efetivamen-
Brasília a. 38 n. 149 jan./mar. 2001 209
te orgânico e organizado (articulado). Tem sua legitimidade pelo império do Estado na
em comum a negação do Direito Positivo, sua criação e aplicação implicaria, num pri-
embora alguns defensores de tal Direito di- meiro momento, o acatamento inquestioná-
gam o contrário, assim como a insatisfação vel das disposições normativas do ordena-
com as formulações do Direito Natural, re- mento jurídico estatal, colocando as cama-
colocando até mesmo os argumentos mar- das sociais em posição de submissão.
xistas sob diferentes pontos de vista ou pro- O Direito dogmaticamente organizado
pondo um viver solipsista, transgressor e apresenta faces e graus de diversidade fi-
anárquico, cuja filosofia, em que pese a ri- xando textos normativos, dando significa-
queza e a sedução que provoca, esquece que ção aos termos que o compõem, argumen-
a satisfação dos desejos pressupõe o assen- tando com referência a eles, decidindo com
timento do outro e, freqüentemente, os dese- base neles e justificando decisões concretas.
jos não são coincidentes (TRINDADE, 1992, Fica ilustrado, portanto, o quadro de di-
p. 180). ficuldades de modernização do Direito di-
O presente estudo tem por objetivo ana- ante das diferentes realidades sociais e das
lisar e desmitificar a proposta do Direito tentativas de “desdogmatização” de orde-
Alternativo no cenário da insuficiência do namentos jurídicos de certos locais.
Estado na solução das lacunas e contradi- Uma realidade jurídica que tem por es-
ções, presentes na atual realidade jurídica. copo a pacificação social deveria acompa-
nhar o uso de fontes do Direito não apenas
2. Dificuldades de dogmáticas, socorrendo-se de diferentes
modernização do Direito campos de conhecimento e fontes “não-ofi-
ciais”. Por ser um sistema social, o Direito
O Direito evolui permanentemente e vi- está relacionado com outros sistemas, sen-
vemos no espírito de uma época que preco- do preciso se estabelecer relações de inter-
niza a moderna concepção do Direito como comunicação.
aquele que atingiu determinado nível de A interferência dos demais subsistemas
complexidade e organização. normativos, principalmente os éticos, pode
A ordem sociocultural ocidental é sus- ser considerada como benéfica ao desenvol-
tentada em paradigmas teóricos em que a vimento do Direito. Na lição de José Carlos
dogmática é o referencial do estudo, inter- Vieira, o Direito, sendo produto condicio-
pretação e aplicação do Direito. nado mas que também condiciona o com-
O processo para que uma sociedade ve- portamento social, deve ter em seu estudo o
nha a dogmatizar seu Direito pode ser con- conhecimento dos fatores sociais que dão
siderado lento. João Maurício Adeodato cita substrato a sua existência (VIEIRA, 1998, p.
pressupostos sociológicos para que o Direi- 46).
to em dada sociedade se torne dogmático: a Seria algo essencial para a boa interpre-
pretensão estatal do monopólio na produ- tação e aplicação das normas jurídicas, que
çaõ das normas jurídicas, a ascensão das os operadores do Direito aceitem o fenôme-
fontes estatais em prejuízo de outras fontes no jurídico como fato social, facilitando a
do Direito e a emancipação do subsistema intercomunicação de outros subsistemas na
jurídico dos demais subsistemas normati- facilitação de se constituir uma ordem nor-
vos éticos (ADEODATO, 1997, p. 258). mativa mais ética e menos dogmática.
Os juízos prescritivos do “dever ser” re-
pousam no chamado dogma jurídico. Os 3. A crise do Direito Estatal
dogmas sociais, morais e religiosos estari-
am no mundo do “ser”, nos juízos descriti- Em decorrência da inibição do processo
vos. Assim, o Direito Dogmático derivando de mudança em função da experiência, exis-

210 Revista de Informação Legislativa


te uma tendência em afirmar a “desdogma- tes abastadas, onerando os desprivilegia-
tização” do pensamento jurídico. dos na ótica econômica.
O Estado demonstra dificuldades em O Direito Dogmático, nessa realidade,
monopolizar o Direito deixando transpare- significa um mecanismo de controle social
cer uma verdadeira crise. Quando analisa- em crise quando se percebe sua incapacida-
mos o Direito Estatal nos países desenvol- de de deter o monopólio de aplicação e cria-
vidos e nos países subdesenvolvidos, obser- ção de normas. Exemplo dessa crise é a in-
vamos o crescente surgimento de novos gru- terferência e até a sobreposição de outros
pos sociais, criando situações não-previs- sistemas normativos éticos sobre o Direito.
tas no ordenamento jurídico oficial. Nesse
cenário, em que o Estado não consegue su- 4. Antecedentes históricos do
prir certas lacunas, novas esferas normati- Direito Alternativo
vas são criadas paralelamente ao Direito
Oficial. As origens do Direito Alternativo se en-
A multiplicidade dessas esferas norma- contram na atitude de juristas insatisfeitos
tivas, que possuem efetividade no plano com a vigência de normas jurídicas, crian-
social, mas que não são prescritas oficial- do métodos modernos de interpretação e
mente no ordenamento jurídico estatal, ori- aplicação.
ginam o chamado pluralismo jurídico. Seja qual for a opinião que se tenha so-
Esse contexto expressa a fragilidade de bre as origens históricas do chamado Direi-
certas teorias, a exemplo da visão kelseana, to Alternativo, é inegável registrar como
na explicação da legitimidade do Direito. antecessores históricos desse movimento a
Em síntese, Hans Kelsen reduzia o Direito a Escola Histórico-Evolutiva de Salleiles ao
norma jurídica formalmente válida, deriva- lado da Escola do Direito Livre, de Hermann
da de uma norma anterior também formal- Kantorowicz.
mente válida, numa estrutura escalonada Os debates doutrinários da Escola do
que teria como ponto de partida uma norma Direito Livre destacavam o princípio da
fundamental. ampla liberdade do juiz na solução dos lití-
Lembrando as palavras de José Carlos gios, permitindo que o julgador decidisse a
Vieira, “a pureza metodológica, proposta por lide sem estar limitado à lei.
Kelsen, leva a que se considere o Direito, vis- Kantorowicz salientava que num primei-
to a partir da norma, que decorre de uma ro momento o aplicador da lei buscasse o
norma fundamental, como justo, produto da “justo” e num segundo momento utilizasse
vontade estatal” (VIEIRA, 1998, p. 47). a lei.
Contudo, tal concepção “piramidal” é Kantorowicz entendia que a autorização
questionável quando observamos a realida- para que o juiz decidisse contra legem teria
de social que muitas vezes considera “Di- fundamento na idéia de que a realização da
reito” certos comandos que não derivam sua justiça estaria num plano superior à lei.
legitimidade da referida “pirâmide kelseni- A doutrina audaciosa que posterga a
ana” e possuem eficácia, mesmo estando própria lei (contra legem) despertou largo
divorciados de uma norma jurídica preexis- exame e brilhante polêmica. Difundiu-se
tente formalmente válida. logo seu conhecimento, graças à edição ita-
Nos países subdesenvolvidos, o Estado liana e autorizada do juiz Majetti, na qual,
se mostra inerte em deter a produção e a entretanto, houve alguns retoques, ligeiro
aplicação do Direito. Nesses países, a crise recuo no sentido da escola de Ehrlich. Ain-
do Direito Estatal vincula-se na interferên- da Stampe e Schmitt palmilharam a trilha
cia do subsistema econômico, tornando o de Kantorowicz e tiraram largo proveito das
Direito o instrumento de privilégios das eli- apóstrofes de Bülow, aliás, contrário ape-

Brasília a. 38 n. 149 jan./mar. 2001 211


nas à jurisprudência meramente casuística rais. Esse processo seria guiado pela finali-
e formalista, cultora exclusiva de preceitos dade humana, atendendo-se aos fatores so-
e brocardos, pandectológica, indiferente ao ciológicos do fenômeno jurídico.
exame dos fatores sociais dos fenômenos Edmundo Lima de Arruda Júnior e Clè-
jurídicos (MAXIMILIANO, 1999, p. 74). merson Merlin Clève são exemplos de juris-
tas que já falavam na viabilidade da criação
5. A alternatividade do Direito de um verdadeiro Direito Alternativo. Em
na Europa e no Brasil 1991, frustrada a tentativa da imprensa em
desmoralizar o movimento do Direito Alter-
Em interessante estudo, o mestre Alexan- nativo no nosso país, realizou-se em Floria-
dre da Maia salienta as peculiaridades do nópolis-SC o I Encontro Internacional de
Movimento do Direito Alternativo na Euro- Direito Alternativo.
pa. Segundo a tradição européia, a alterna- Finalmente, o Direito Alternativo encon-
tividade estaria nos limites da esfera estatal trado no Brasil é verificável pela busca da
da solução dos litígios, inexistindo o cha- sociedade civil pelos seus direitos tendo em
mado “Direito Alternativo”, mas, sim, um vista a intercomunicação social no Direito
“uso alternativo do Direito” (MAIA, 1997, Positivo.
p. 44).
Esse “uso alternativo do Direito”, bus- 6. Desmitificando o Direito Alternativo
cando a concretização de certas normas –
em princípio pouco aplicadas no ordena- Freqüentes ataques ao Direito Alternati-
mento –, atenderia a uma lógica interpreta- vo criam mitos negativos a esse movimento
tiva de prioridades a princípios gerais. prejudicando a efetivação de sua aplicação
Otacílio de Paula Silva, analisando a re- no plano jurídico, deixando a sociedade te-
alidade brasileira, observou que “o brasilei- merária a essa nova forma do Direito.
ro não ostenta, em regra, convicta disposi- O mito mais freqüente está contido na
ção no sentido de normal cumprimento da idéia que caracteriza o Direito Alternativo
lei, o que leva alguns a denominar esse ca- pela negação da lei. Essa alternatividade,
ráter como ‘crise de ética ’” (SILVA, 1994, p. buscando a realização dos anseios da po-
296). pulação, luta na verdade pelo surgimento
No presente exame, confrontando-se a de leis mais justas, em sintonia com a digni-
realidade brasileira com a européia, perce- dade dos indivíduos.
bem-se nítidas diferenças. Existe no Brasil o Numa perspectiva sociológica, o Direito
Direito Alternativo propriamente dito, como não pode ficar identificado apenas com a
uma tendência de desburocratizar o siste- lei nem se pode conceber o Estado como
ma estatal (MAIA, 1997, p. 46). único responsável pela produção normativa.
No Brasil, o Direito Alternativo começa Outra ficção preconiza que o Direito Al-
a ser organizado a partir da década de 90, ternativo põe em risco a segurança jurídica,
consagrando uma prática diferente para o autorizando excessivos poderes ao órgão
Direito, que atualmente é aceita pela socie- julgador, que poderia decidir arbitrariamen-
dade e pela comunidade jurídica. te. Na verdade, o que os alternativistas pro-
Em nosso país, o marco inicial desse curam é a superação do legalismo estreito,
movimento foi a criação de um grupo de es- mas dentro de determinados limites.
tudos organizado por magistrados do Rio Tais limites orientadores da postura do
Grande do Sul. Preocupados em libertar o órgão julgador são os princípios gerais do
Direito das estreitezas da dogmática, inves- Direito que garantiriam o critério de julga-
tiram-se nas prerrogativas de melhorar o mento. Os princípios guiam, fundamentam
alcance da lei por meio dos princípios ge- e limitam as normas positivas já sanciona-

212 Revista de Informação Legislativa


das e seriam instrumento do julgador no mas sim pontos comuns entre as diversas
compromisso da realização da justiça. posições doutrinárias de seus adeptos.
É necessário desmitificar o Direito Alter- Normalmente a proposta do Direito Al-
nativo, pois a oposição às idéias alternati- ternativo tende a rejeitar o modelo capitalis-
vistas surgem a partir de falsas concepções ta e o liberalismo burguês como sistema só-
desse movimento. Não se cogita de opera- cio-político, combatendo a miséria e lutan-
dores do Direito Alternativo combatendo a do pela ordem democrática, realizando as
lei em si. Na verdade, a solução alternativa igualdades.
dos litígios encontra respaldo dentro do pró- Entre as críticas dos alternativistas ao
prio ordenamento jurídico, por meio princi- positivismo jurídico está a proposta de se
palmente dos princípios gerais de Direito. romper os limites do estrito legalismo for-
mal de apego total à lei. O excessivo rigor
7. Direito Natural e Direito Alternativo formal proporciona certas contradições e
lacunas, como é denunciado pelos juristas
As relações intrínsecas entre Direito Al- alternativos.
ternativo e Direito Natural apontam esse Outra proposta do Direito Alternativo
como o antecessor fundamental daquele está na mobilização de classes menos favo-
(SOUTO, 1997, p. 95). recidas abrindo espaços sociais inéditos,
O jusnaturalismo ainda influencia o Di- revelando novos agentes políticos criado-
reito nos tempos atuais. Sua forma impreci- res de direitos.
sa se deve às variações no tempo e na socie- Segundo Cláudio Souto, o Direito Alter-
dade, segundo as épocas que se apresen- nativo seria a norma desviante em relação à
tam. legalidade estatal, na medida em que esta
O fulcro do jusnaturalismo é a existên- última lhe é desviante. Não coincide com a
cia de uma lei acima da norma jurídica po- legalidade do Estado, só sendo tal pelo des-
sitiva que deve orientar o Direito Positivo. vio, pela não-identificação, pela desseme-
Nesse sentido, o verdadeiro Direito não é lhança em relação ao conteúdo da legisla-
apenas o ordenamento jurídico positivo. ção estatal (SOUTO, 1997, p. 96).
A idéia de justiça social se faz presente A redução do Direito Alternativo a sim-
no Direito Alternativo e no Direito Natural; ples modo de expressão da vontade popu-
ambos combatem o estrito legalismo buscan- lar deve ser desconsiderada, pois tal práti-
do soluções para a crise estatal no Direito. ca pode estar viciada por uma noção de do-
minação, prejudicando a própria comuni-
8. A proposta do Direito Alternativo dade.

Devido à inércia estatal na solução efici- 9. Planos conceituais do


ente dos conflitos sociais, não conseguindo Direito Alternativo
monopolizar a produção das normas jurí-
dicas, inúmeros sistemas normativos se so- Uma concepção de Direito deve ser deci-
brepõem ao Direito, deixando transparecer didamente sociológica. O Direito existe para
a decadência do Direito Dogmático. os homens que vivem em sociedade e não se
Diante dessa incapacidade do Estado, a pode conceber uma sociedade humana sem
proposta do Direito Alternativo representa uma ordem jurídica, até mesmo nas formas
uma saída em meio a essa crise. O Direito mais rudimentares de estado. O Direito deve
Oficial, próximo da excludência e opressão, espelhar a consciência do grupo, o que esse
fica ao lado de um Direito paralelo, inoficial. grupo social entende por certo.
Não se pode afirmar que esse movimen- As regras de Direito devem conter um
to possua uma carga ideológica própria, mínimo de precisão indispensável à segu-

Brasília a. 38 n. 149 jan./mar. 2001 213


rança das relações sociais. A maior parte da sociocultural ocidental se sustenta em pa-
doutrina aponta o Direito Alternativo como radigmas teóricos em que a dogmática é o
sendo um procedimento extradogmático. referencial de estudo, interpretação e apli-
Em interessante estudo jurídico, Amil- cação do Direito.
ton Bueno de Carvalho coloca o Direito Al- 3. O Estado tem demonstrado não con-
ternativo em três planos: o uso alternativo seguir monopolizar o Direito, principalmen-
do Direito, a positividade combativa e o Di- te nos países subdesenvolvidos. Nessa rea-
reito Alternativo em sentido estrito (CAR- lidade, o Direito Dogmático deixa transpa-
VALHO, 1998, p. 3-5). recer sua crise, sendo sobreposto por outros
O referencial histórico do chamado “uso sistemas normativos.
alternativo do Direito” seria o final da déca- 4. Os antecedentes históricos do Direito
da de 60, na Itália. Utilizando as contradi- Alternativo têm referencial na Escola Históri-
ções e lacunas presentes no próprio sistema co-Evolutiva de Salleiles, ao lado da Escola
jurídico, as decisões eram emanadas em sin- do Direito Livre, de Hermann Kantorowicz.
tonia com as necessidades sociais, num con- 5. Enquanto na Europa sobressai o “uso
teúdo mais democrático. Correspondia a alternativo do Direito”, no Brasil existiria o
uma releitura das instituições jurídicas de “Direito Alternativo propriamente dito”,
modo diverso da forma tradicional. como tentativa de desburocratização do sis-
A “positividade combativa”, por seu tur- tema estatal, começando a ser organizado a
no, seria a concretização de princípios con- partir da década de 90.
siderados como conquista, a eficácia de di- 6. As concepções equivocadas mais fre-
reitos individuais e sociais que não seriam qüentes sobre o Direito Alternativo são o
estranhos ao Direito positivado. Na medi- mito da negação da lei e a ficção do risco da
da em que a concretização das conquistas outorga de excessivos poderes ao julgador.
democráticas já tomaram condição de lei, 7. Jusnaturalismo é o antecessor funda-
em termos estritos, não poderia ser conside- mental do Direito Alternativo e seus princí-
rado como “alternativo”. pios ainda influenciam o movimento, a exem-
O “Direito Alternativo em sentido estri- plo da idéia de justiça social, presente no
to” seria a alternativa ao Direito Estatal na Direito Alternativo e no Direito Natural.
esfera do pluralismo jurídico, preocupan- 8. Entre as propostas do Direito Alterna-
do-se com o atendimento das necessidades tivo, o rompimento do estrito legalismo e a
das camadas populares excluídas. Esse di- mobilização de classes menos favorecidas
reito paralelo emergente e insurgente seria representam uma saída diante da crise do
empiricamente verificado na sociedade, Direito Dogmático.
principalmente na América Latina. 9. Podemos situar o Direito Alternativo
em três planos conceituais: o uso alternati-
10. Conclusões vo do Direito, a positividade combativa e o
Direito Alternativo em sentido estrito.
1. O mundo ocidental ampara o conceito 10. O Direito Alternativo encontra-se in-
dogmático de Direito em juízos de “dever serido no próprio ordenamento: quando se
ser”. O Direito Oficial apresenta lacunas e busca uma maior efetividade a certas nor-
contra-sensos, deixando um vazio na solu- mas ou uma melhor interpretação; e, tam-
ção dos conflitos. bém, paralelo ao Direito Oficial: quando ve-
2. Por ser um sistema social, o Direito rificado empiricamente nas relações sociais,
possui uma relação de intercomunicação surgindo espontaneamente diante da inefi-
com outros sistemas. Entretanto, a ordem ciência Estatal na solução das lides.

214 Revista de Informação Legislativa


Bibliografia MAXIMILIANO, Carlos. Hermenêutica e aplicação
do direito. 18. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1998.
ADEODATO, João Maurício. Modernidade e direi- SILVA, Otacílio de Paula. Sociedade e direitos al-
to. Revista da Esmape: Recife. v. 2, n. 6, p. 256-262, ternativos. Revista LTR, p. 295-297, maio, 1994.
1997.
SOUTO, Cláudio. Tempo de direito alternativo: uma
CARVALHO, Amilton Bueno de. Direito alternati- fundamentação substantiva. Porto Alegre: Livra-
vo: uma revista conceitual. Disponível em: http : / ria do Advogado, 1997.
/ www uerj. Br / ~ direito / rqi / 07/070402. htm.
14 out. 1998. TRINDADE, Rinez. A problemática da justiça e
aspectos do chamado direito alternativo. Ajuris. Ano
MAIA, Alexandre da. O movimento do direito al- 12, n. 56, p. 179-190, nov. 1992.
ternativo e sua influência na comarca do Recife.
Revisyta da OAB – Seccional de Pernambuco. Reci- VIEIRA, José Carlos. O direito como fato social.
fe, n. 24, p. 41–46. 1997. Semina, v. 1, n. 9, p. 45–50, 1998.

Brasília a. 38 n. 149 jan./mar. 2001 215

Você também pode gostar