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Modos de suprimento da

incapacidade

Bacharelado em Direito
2º Semestre
Vinícius Eduardo de Jesus Pereira
Como os incapazes, relativa e absolutamente, pode ter garantido seus
direitos, já que os mesmos não possuem, em rega, a capacidade de
exercício?

Modos de suprimento de incapacidade


A incapacidade absoluta acarreta a proibição total, pelo incapaz, do exercício do direito.
Fica ele inibido de praticar qualquer ato jurídico ou de participar de qualquer negócio
jurídico. Estes serão praticados ou celebrados pelo representante legal do absolutamente
incapaz, sob pena de nulidade (art. 166, I).

A incapacidade relativa permite que o incapaz pratique atos da vida civil, desde que
assistido por seu representante legal, sob pena de anula­bilidade (art. 171, I). Certos atos,
porém, pode praticar sem a assistência deste, como já visto, retro. Quando necessária a
assistência, ambos participam do ato: o relativamente incapaz e seu representante. Se
necessário for assinar algum documento, ambos o assinarão. Se faltar a assinatura de um
deles, o ato será anulável.
Prescrevia o art. 84 do Código de 1916: “As pessoas absolutamente incapazes serão
representadas pelos pais, tutores, ou curadores em todos os atos jurídicos; as relativamente
incapazes, pelas pessoas e nos atos que este Código determina”.

O atual diploma não contém dispositivo semelhante, mas inovou, dedicando um capítulo específico aos
preceitos gerais sobre a representação legal e a voluntária (arts. 115 a 120)

arts. 1.634, VII, 1.690, 1.747, I e 1.774 do CC/2002.


Sistema de proteção aos incapazes
Sistema de proteção aos incapazes

O Código Civil contém um sistema de proteção aos incapazes. Em vá­rios dispositivos constata-se a
intenção do legislador em protegê-los, a começar já demonstrados.

Representação
Com efeito, importante pro­teção jurídica dos
hipossuficientes realiza-se por meio da Curatela/Tutela
representação e da assistência, que lhes dá a
necessária segurança, quer em relação à sua
Proteções esparsas
pessoa, quer em relação ao seu patrimônio,
possibilitando o exercício de seus direitos
Emancipação
Representação

Representação Assistência

Art.3º do CC Art.4º do CC

Destarte, essencial diferenciar a representação da assistência: a primeira implica dizer que


o representante é quem declara a vontade do representando enquanto, na segunda, o assistido
declara sua vontade e o assistente apenas a confirma.
Representação

Art. 115 do CC. Os poderes de representação conferem-se por lei ou pelo interessado.

A representação, assim, pode ser legal, como a deferida pela lei aos pais, tutores, curadores, síndicos,
administradores etc., e convencional ou voluntária, quando decorre de negócio jurídico específico: o
mandato.
Representação

Art. 116 do CC. A manifestação de vontade pelo representante, nos limites de seus poderes, produz efeitos
em relação ao representado.

Art. 104, I do CC

O representante atua em nome do representado, vinculando-o a terceiros com quem tratar. Deve agir,
portanto, na conformidade dos poderes recebidos. Se os ultrapassar, haverá excesso de poder, podendo por
tal fato ser responsabilizado (CC, art. 118). Enquanto o representado não ratificar os referidos atos, será
considerado mero gestor de negócios (CC, art. 665).
Representação

Art. 117 do CC. Salvo se o permitir a lei ou o representado, é anulável o negócio jurídico que o
representante, no seu interesse ou por conta de outrem, celebrar consigo mesmo.

O denominado autocontrato. Para tais efeitos, tem-se como celebrado pelo representante o
negócio realizado por aquele em quem os poderes houverem sido substabelecidos, de acordo
com o parágrafo único do dispositivo.
Representação

Consoante o art. 118 da codificação privada, o representante é obrigado a provar às pessoas


com quem tratar em nome do representado a sua qualidade e a extensão de seus poderes, sob
pena de, não o fazendo, responder pelos atos que a estes excederem.

O art. 119 do CC/2002 regula mais um caso de anulabilidade, do negócio concluído pelo
representante em conflito de interesses com o representado, se tal fato era ou devia ser do
conhecimento de quem com aquele tratou.
Curatela/Tutela

ECA

Fonte: https://www.tjdft.jus.br/institucional/imprensa/campanhas-e-produtos/direito-facil/edicao-semanal/tutela-x-curatela
Curatela

O Estatuto da Pessoa com Deficiência (Lei n. 13.146/2015) inova ao admitir a interdição de pessoa
capaz. Dispõe, com efeito, o § 1º do art. 84 da referida lei: “Quando necessário, a pessoa com
deficiência será submetida à curatela, conforme a lei”. A expressão “quando necessário” abrange
aqueles que, por causa permanente ou transitória, não puderem exprimir sua vontade (CC, art. 4º, III).

Art. 84, § 3º do EPD. A definição de curatela de pessoa com deficiência constitui medida protetiva
extraordinária, proporcional às necessidades e às circunstâncias de cada caso, e durará o menor tempo
possível.
Curatela

A curatela tem como objetivo proteção dos direitos e interesses de uma pessoa que já atingiu a maioridade, mas que
por algum motivo, não tem capacidade jurídica para manifestar sua vontade, seja por algum tipo de enfermidade
mental ou psicológica, por dependência química ou de álcool ou até mesmos os pródigos (pessoas que destoem seus
patrimônios por não conseguirem controlar seus gastos).

Após a pessoa ser interditada (decisão judicial que declara a incapacidade), é nomeado um curador para cuidar de seus
interesses e administrar seus bens.
Proteções esparsas
Há outras medidas tutelares que integram o referido sistema de proteção, especialmente nos assuntos concernentes ao poder familiar, à tutela, à
prescrição, às nulidades e outros. Destacam-se as seguintes:

1) não corre a prescrição contra os absolutamente incapazes (art. 198, I);

2) o mútuo feito a menor não pode ser reavido (art. 588), salvo nos casos do art. 589;

3) pode o menor ou o interdito recobrar dívida de jogo, que voluntariamente pa­gou (art. 814, in fine);

4) ninguém pode reclamar o que, por uma obrigação anulada, pagou a um incapaz, se não provar que reverteu em proveito dele a importância paga
(art. 181);

5) partilha em que há incapazes não pode ser convencionada amigavelmente (art. 2.015).

Perde, porém, a referida proteção o menor, entre dezesseis e dezoito anos, que proceder de forma incorreta, ocultando
dolosamente a sua idade, ou declarando-se maior, no ato de obrigar-se (art. 180 e 928).
Proteções esparsas

Art. 119, parágrafo único do CC/2002: estabelece o prazo de decadência de cento e oitenta dias, a contar da
conclusão do negócio ou da cessação da incapacidade, para pleitear-se a anulação. O dispositivo protege, também, a
boa-fé do terceiro, ao exigir, para a configuração da anulabilidade, o conhecimento, de sua parte, do aludido conflito
de interesses.

Se, porventura, o genitor alienasse bem imóvel pertencente ao menor, com observância de todos os
requisitos legais, inclusive autorização judicial, mesmo assim o negócio poderia ser anulado se se
apurasse, posteriormente, que o incapaz acabou prejudicado (pela valorização do imóvel, por exemplo, em
razão de um fato superveniente).
Proteções esparsas

Como tal benefício representava um risco à segurança dos negócios e à própria economia, não foi acolhido pelo
Código Civil de 1916, que proclamava, de forma categórica, no art. 8º: “Na proteção que o Código Civil confere
aos incapazes não se compreende o benefício de restituição”. O nosso ordenamento jurídico rechaçou, portanto,
o aludido benefício, que igualmente não é previsto no Código de 2002.

Malgrado o atual diploma não contenha dispositivo semelhante ao supratranscrito art. 8º, a impossibilidade de se anular um negócio
válido somente para se beneficiar o menor, sem que tenha havido qualquer causa de nulidade ou de anulabilidade, decorre do próprio
sistema jurídico, bem como da assimilação desse princípio pela doutrina e pela jurisprudência. Hoje, portanto, se o negócio foi
validamente celebrado, observados os requisitos da representação e da assistência e autorização judicial, quando necessária, não se
poderá pretender anulá-lo se, posteriormente, revelar-se prejudicial ao incapaz.
Emancipação

Enunciado n. 530, aprovado na VI Jornada de


Direito Civil, evento realizado em 2013, “a
A emancipação pode ser conceituada como o ato
emancipação, por si só, não elide a incidência do
jurídico que antecipa os efeitos da aquisição da
Estatuto da Criança e do Adolescente”
maioridade, e da consequente capacidade civil
plena, para data anterior àquela em que o menor
atinge a idade de 18 anos, para fins civis. Com a
emancipação, o menor deixa de ser incapaz e passa a Sendo assim, a título de exemplo, um menor emancipado não pode
tirar carteira de motorista, entrar em locais proibidos para crianças
ser capaz para os limites do Direito Privado. Deve
e adolescentes ou ingerir bebidas alcoólicas. Tais restrições
ser esclarecido, contudo, que ele não deixa de ser
existem diante de consequências que surgem no campo penal, e a
menor. emancipação somente envolve fins civis ou privados.
Emancipação

A emancipação, regra geral, é definitiva, irretratável e irrevogável. De toda sorte, conforme se


depreende de enunciado aprovado na V Jornada de Direito Civil, de novembro de 2011, a
emancipação por concessão dos pais ou por sentença do juiz está sujeita a desconstituição por vício
de vontade (Enunciado n. 397). Desse modo, é possível a sua anulação por erro ou dolo, por exemplo.

Trata-se, geralmente, de ato formal e solene, eis que o Código Civil de 2002 passou a exigir
instrumento público, como regra, sendo certo que a codificação anterior possibilitava a emancipação
por instrumento particular.
Emancipação

Art. 5º do CC/2002. A menoridade cessa aos dezoito anos completos, quando a pessoa fica habilitada à prática de
todos os atos da vida civil.

Parágrafo único. Cessará, para os menores, a incapacidade:

I - pela concessão dos pais, ou de um deles na falta do outro, mediante instrumento público, independentemente de
homologação judicial, ou por sentença do juiz, ouvido o tutor, se o menor tiver dezesseis anos completos;

II - pelo casamento;

III - pelo exercício de emprego público efetivo;

IV - pela colação de grau em curso de ensino superior;

V - pelo estabelecimento civil ou comercial, ou pela existência de relação de emprego, desde que, em função deles, o
menor com dezesseis anos completos tenha economia própria.

Rol taxativo
Emancipação

a) Emancipação voluntária parental:

Por concessão de ambos os pais ou de um deles na falta do outro. Nessas circunstâncias, não é
necessária a homologação perante o juiz, eis que é concedida por instrumento público e registrada
no Cartório de Registro Civil das Pessoas Naturais. Para que ocorra a emancipação parental, o
menor deve ter, no mínimo, 16 anos completos.
Emancipação

b) Emancipação judicial

Por sentença do juiz, em casos, por exemplo, em que um dos pais não concordar com a emancipação,
contrariando um a vontade do outro. A decisão judicial, por razões óbvias, afasta a necessidade de
escritura pública. Tanto a emancipação voluntária quanto a judicial devem ser registradas no Registro
Civil das pessoas naturais, sob pena de não produzirem efeitos (art. 107, § 1.º, da Lei 6.015/1973 –
LRP). A emancipação legal, por outro lado, produz efeitos independentemente desse registro,
conforme aponta a doutrina.
Emancipação

c) Emancipação legal matrimonial

Pelo casamento do menor. Consigne-se que a idade núbil tanto do homem quanto da mulher é de 16
anos (art. 1.517 do CC), sendo possível o casamento do menor se houver autorização dos pais ou dos
seus representantes. O divórcio, a viuvez e a anulação do casamento não implicam no retorno à
incapacidade. No entanto, entende parte da doutrina que o casamento nulo faz com que se retorne à
situação de incapaz, sendo revogável em casos tais a emancipação, o mesmo sendo dito quanto à
inexistência do casamento.
Emancipação

d) Emancipação legal, por exercício de emprego público efetivo

Segundo a doutrina, a regra deve ser interpretada a incluir todos os casos envolvendo cargos ou
empregos públicos, desde que haja nomeação de forma definitiva (DINIZ, Maria Helena. Código
Civil anotado..., 2005, p. 21). Estão afastadas, assim, as hipóteses de serviços temporários ou de
cargos comissionados.
Emancipação

e) Emancipação legal, por colação de grau em curso de ensino superior reconhecido

Para tanto, deve ser o curso superior reconhecido, não sendo aplicável à regra para o curso de
magistério, antigo curso normal. A presente situação torna-se cada vez mais difícil de ocorrer na
prática.
Emancipação

f) Emancipação legal, por estabelecimento civil ou comercial ou pela existência de relação de


emprego:

Obtendo o menor as suas economias próprias, visando a sua subsistência – necessário que o menor
tenha ao menos 16 anos, revelando amadurecimento e experiência desenvolvida. No entanto, na
prática, há dificuldade para se provar tal economia própria.
REFERÊNCIAS

GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro. Parte Geral-Volume 1. Saraiva


Educação SA, 2022.
 
PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de direito civil: introdução ao direito civil:
teoria geral de direito civil. 34. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2022.
 
TARTUCE, Flávio. Direito civil: lei de introdução e parte geral. 19. ed. Rio de Janeiro:
Forense, 2023.
 
TEPEDINO, Gustavo. OLIVA, Milena Donato. Fundamentos do direito civil: teoria geral
do direito civil. 3. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2022.

SOARES, Ricardo Maurício Freire. Hermenêutica e interpretação jurídica. Saraiva


Educação SA, 2023

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