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Direito Processual Civil

Professor Stanley Costa


AULA 02 – SUJEITOS DO PROCESSO
Sumário: 1. Capacidade De Ser Parte E Capacidade Processual - 1.1. Curador
Especial - 1.2. Outorga Conjugal No Processo Civil - 2. Capacidade Postulatória
- 3. Sucessão Das Partes - 4. Litisconsórcio - 4.1. Prazo Em Dobro - 4.2. Espécies
De Litisconsórcio - 4.3. Intervenção Iussu Iudicis - 5. Intervenção De Terceiros
- 5.1. Classificação - 5.2. Assistência - 5.3. Denunciação Da Lide - 5.4.
Chamamento Ao Processo - 5.5. Incidente De Desconsideração Da
Personalidade Jurídica - 5.6. Amicus Curiae.

Ao estudarmos os institutos fundamentais do direito processual civil foi possível


identificar os sujeitos que se relacionam através do processo, com destaque para as partes
(autor e réu) e o juiz.

O Novo Código de Processo Civil reservou o Livro III, que vai do artigo 70 ao artigo 187,
para tratar desses personagens, começando pelas partes e seus procuradores e passando pela
regulamentação do litisconsórcio e intervenção de terceiro.

1. CAPACIDADE DE SER PARTE E CAPACIDADE PROCESSUAL

Todo aquele que é dotado de capacidade de direito (instituto de direito material), ou seja,
que possa ser titular de direitos e obrigações na ordem civil, pode também ser autor ou réu em
processo. Toda pessoa é capaz de direitos e deveres na ordem civil (CC, art. 1º), e toda pessoa
tem capacidade de ser parte, seja natural ou jurídica, de direito público ou privado.

O Código de Processo Civil confere capacidade de ser parte até mesmo aos denominados
entes despersonalizados, tais como a massa falida, a herança jacente ou vacante, o espólio, o
condomínio e a sociedade sem personalidade. Muito embora o Novo CPC tenha deixado de
regulamentar expressamente, entende-se que o nascituro também é dotado de capacidade
para ser parte de relação processual.

Apesar dessa regra, é importante observar que nem toda pessoa tem capacidade para
estar em juízo pessoalmente, de figurar no processo de forma autônoma e sem representação
(capacidade processual).

Mais uma vez fazendo um paralelo com o direito civil, aqui estamos diante da capacidade
de exercício (instituto de direito material), que classifica as pessoas em capazes, absolutamente
incapazes e relativamente incapazes. Aqueles que são incapazes de exercer pessoalmente os
atos da vida civil, também são incapazes de, por si só, estarem em juízo.
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Nesse sentido, o artigo 70 do Novo CPC enuncia que “toda pessoa que se encontre no
exercício de seus direitos tem capacidade para estar em juízo”. Complementarmente, estipula o
artigo 71, “o incapaz será representado ou assistido por seus pais, por tutor ou por curador, na
forma da lei”.

1.1. Curador Especial

Em algumas situações pode acontecer do incapaz estar temporariamente sem um


representante legal. Para esses casos o legislador criou a figura do curador especial.

De conformidade com o artigo 72 do Código de Processo Civil, o juiz nomeará curador


especial ao: I - incapaz, se não tiver representante legal ou se os interesses deste colidirem com
os daquele, enquanto durar a incapacidade; II - réu preso revel, bem como ao réu revel citado
por edital ou com hora certa, enquanto não for constituído advogado.

O parágrafo único termina a regulamentação sobre o tema tipificando que: a curatela


especial será exercida pela Defensoria Pública, nos termos da lei.

1.2. Outorga Conjugal no Processo Civil

O Código de Processo Civil estabelece no artigo 73 uma espécie de restrição à capacidade


processual, ao determinar que o cônjuge necessitará do consentimento do outro (outorga
uxória ou marital) para propor ação que verse sobre direito real imobiliário, salvo quando
casados sob o regime de separação absoluta de bens. São exemplos de ações que versam sobre
direito real imobiliário: ação reivindicatória, ação de usucapião, ação de nunciação de obra nova,
ação demolitória, ação de imissão na posse e etc.

Ambos os cônjuges serão necessariamente citados para a ação: I - que verse sobre direito
real imobiliário, salvo quando casados sob o regime de separação absoluta de bens; II -
resultante de fato que diga respeito a ambos os cônjuges ou de ato praticado por eles; III -
fundada em dívida contraída por um dos cônjuges a bem da família; IV - que tenha por objeto o
reconhecimento, a constituição ou a extinção de ônus sobre imóvel de um ou de ambos os
cônjuges.

Ao determinar que ambos os cônjuges sejam citados, o legislador nos apresenta uma das
hipóteses de litisconsórcio passivo necessário em razão da lei. No polo ativo a questão é um
pouco diferente, pois tratando-se imóvel de propriedade exclusiva de um dos cônjuges, muito
embora a outorga conjugal continue sendo necessária, aquele não for proprietário não figurará
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na condição de autor. Além disso, nos afiliamos à corrente que acredita não existir litisconsórcio
necessário ativo.

Como o próprio Código Civil estabelece no artigo 1.648, quando o consentimento for
negado por um dos cônjuges sem motivo justo, ou lhe for impossível concedê-lo, ele poderá ser
suprido judicialmente (CPC, art. 74).

Urge ressaltar que essa regra não se aplica às ações possessórias (interdito proibitório,
manutenção e reintegração de posse), mesmo porque posse não é direito real. O legislador
considera as ações possessórias como sendo de natureza pessoal, de tal modo que a
participação do cônjuge do autor ou do réu somente será indispensável nas hipóteses de
composse ou de ato por ambos praticado.

Por fim, não podemos esquecer que, em razão dos preceitos constitucionais, aplica-se o
disposto do artigo 73 também à união estável comprovada nos autos.

2. CAPACIDADE POSTULATÓRIA

A capacidade postulatória é tratada no Novo CPC a partir do artigo 103. Considerada como
um pressuposto processual de existência, diz respeito à necessidade de a parte estar
representada em juízo por advogado regularmente inscrito na Ordem dos Advogados do Brasil.
Capacidade postulatória é a aptidão técnica para a realização dos atos processuais, que é
atribuída a advogados inscritos na OAB, defensores públicos e representantes do Ministério
Público.

A lei autoriza a postulação em causa própria quando a parte tiver habilitação legal (CPC,
art. 103, parágrafo único), e dispensa a capacidade postulatória em algumas situações
excepcionais, tais como, nas causas cíveis de até 20 salários mínimos processadas nos Juizados
Especiais (Lei 9.099/95, art. 9º), nas causas trabalhistas (CLT, art. 792) e nos Habeas Corpus (CPP,
art. 654).

Quando for indispensável a participação do advogado, será necessária a juntada de


procuração para que possa postular em juízo (CPC, art. 104). Sem procuração, o advogado
poderá postular somente para praticar atos de urgência ou para evitar preclusão, decadência
ou prescrição, hipóteses em que deverá exibir a procuração no prazo de 15 dias, prorrogável por
igual período por despacho do juiz, sob pena do ato ser considerado ineficaz e ainda responder
pelas despesas e por perdas e danos (CPC, art. 104, §§ 1º e 2º).
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A procuração geral para o foro, chamada na praxe de ad judicia, pode ser outorgada por
instrumento público ou particular, e habilita o advogado a praticar todos os atos do processo,
exceto receber citação, confessar, reconhecer a procedência do pedido, transigir, desistir,
renunciar ao direito sobre o qual se funda a ação, receber, dar quitação, firmar compromisso e
assinar declaração de hipossuficiência econômica, que devem constar de cláusula específica
(CPC, art. 105).

3. SUCESSÃO DAS PARTES

De início repetimos a advertência para que não se confunda substituição processual com
sucessão processual. Conforme já estudamos, substituição processual é termo sinônimo à
legitimidade extraordinária, que ocorre quando excepcionalmente, por autorização do
ordenamento jurídico, alguém vai à juízo, em nome próprio, postular direito ou interesse alheio
(CPC, art. 18).

O fenômeno da sucessão processual, diferentemente, se configura quando um ou alguns


dos sujeitos que compõem o polo ativo ou passivo da relação jurídica processual é trocado por
um terceiro, que se tornará o novo autor ou réu. Ocorre uma mudança de pessoas em algum
dos polos da demanda, todavia, esse novo sujeito estará postulando direito próprio em nome
próprio (legitimidade ordinária).

Nesse sentido, o artigo 108 do Código de Processo Civil determina que, no curso do
processo, somente é lícita a sucessão voluntária das partes nos casos expressos em lei. Para que
aconteça a sucessão voluntária a vontade das partes, por si só, não é suficiente.

O artigo 109 do mesmo diploma legal regulamenta a sucessão por ato entre vivos. Diz o
legislador que a alienação da coisa ou direito litigioso, a título particular, não altera a
legitimidade das partes. O objeto que está sendo disputado pelas partes em processo não perde
sua disponibilidade pelo simples fato de ser coisa litigiosa, entretanto, caso seja alienado, o
alienante prosseguira como parte do processo, mesmo não sendo mais o dono da coisa.

Essa explicação nos esclarece que na hipótese de alienação da coisa ou direito litigioso
não ocorre a sucessão processual automática, o adquirente ou cessionário só poderá adentrar
ao processo em sucessão do alienante ou cedente, e assim assumir a condição de parte, se a
parte contrária consentir. Entretanto, caso não haja o consentimento da parte contrária, o
adquirente ou cessionário poderá intervir no processo como assistente litisconsorcial, uma nova
espécie de intervenção de terceiro voluntária, prevista no artigo 124 do CPC/15.
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Por tudo isso, mesmo que a sucessão não seja consentida e não aconteça a intervenção
do assistente litisconsorcial, os efeitos da sentença proferida entre as partes originárias serão
estendidos ao adquirente ou cessionário.

Já o artigo 110 do Novo CPC prevê a sucessão processual por causa mortis. Nos termos da
lei, ocorrendo a morte de qualquer das partes, dar-se-á a sucessão pelo seu espólio ou pelos
seus sucessores. Nesse caso, observe que não há necessidade de consentimento da parte
contrária, a sucessão processual é obrigatória. O processo será suspenso e nesse período
deverão ser habilitados os novos legitimados (CPC, arts. 687 a 692).

4. LITISCONSÓRCIO

Geralmente a relação processual é composta por um autor e um réu, excepcionalmente


haverá litisconsórcio quando existir mais de uma pessoa no polo ativo, no polo passivo ou em
ambos. Litisconsórcio é, portanto, a pluralidade de sujeitos em qualquer dos polos da demanda,
sendo admitido por lei em qualquer processo ou procedimento, mesmo nas demandas de
competência dos Juizados Especiais (Lei 9099/95, art. 10).

A justificativa e relevância do instituto repousam sobre pelo menos dois fundamentos: i)


economia processual – formando-se o litisconsórcio apenas um processo tramitará, com uma
instrução e uma sentença; ii) harmonia dos julgamentos de demandas semelhantes – a
existência de variados processos acerca do mesmo tema induz o risco de serem prolatadas
sentenças diferentes e até mesmo conflitantes, risco que é evitado com a formação
litisconsorcial.

4.1. Prazo em dobro

Repetindo a essência da regra já prevista na lei processual anterior, o Novo CPC enuncia
no artigo 229 que litisconsortes que tiverem diferentes procuradores, de escritórios de
advocacia distintos, terão prazos contados em dobro para todas as suas manifestações, em
qualquer juízo ou tribunal, independentemente de requerimento.

A ideia do legislador, evidentemente, é possibilitar que os patronos da causa tenham fácil


acesso aos autos para a elaboração das suas manifestações, garantindo assim a ampla defesa.
Imaginando, por exemplo, a oportunidade em que os réus devam apresentar suas contestações,
a carga dos autos por um dos advogados certamente prejudicaria a postulação dos demais.
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O espírito da norma ficou ainda mais claro com o advento do Novo CPC, tendo o legislador
expressamente estipulado que, para ter direito ao prazo dobrado, os advogados deverão ser de
escritórios de advocacia distintos e os autos não poderão ser eletrônicos, pois neste caso os
procuradores têm livre acesso à plataforma digital (CPC, art. 229 §2º).

Destarte, quatro são os requisitos para que tenha esse direito a prazo dobrado: i)
multiplicidade de sujeitos em um mesmo polo da relação processual; ii) multiplicidade de
advogados; iii) advogados de escritórios de advocacia distintos; iv) autos não eletrônicos.

Havendo apenas dois réus, se a defesa for apresentada por apenas um deles, o outro será
declarado revel e sofrerá os efeitos desta condição, dentre os quais destacamos a não intimação
pessoal dos atos processuais, que serão apenas publicados. Nessa hipótese, com fundamento
no parágrafo primeiro do artigo 229 do Novo CPC, cessará então a contagem do prazo em dobro.
Outrossim, de acordo com a Súmula 641 do STF, “não se conta em dobro o prazo para recorrer,
quando só um dos litisconsortes haja sucumbido”.

4.2. Espécies de litisconsórcio

1) Classificação quanto à posição das partes:

a. Litisconsórcio passivo: Ocorre quando no mesmo processo, ao mesmo tempo,


figurarem dois ou mais réus. Existe pluralidade de réus.

b. Litisconsórcio ativo: Ocorre quando no mesmo processo, ao mesmo tempo,


figurarem dois ou mais autores. Existe pluralidade de autores.

c. Litisconsórcio misto ou recíproco: Ocorre quando no mesmo processo, ao mesmo


tempo, figurarem mais de um autor e mais de réu. Existe pluralidade de autores e réus.

2) Classificação quanto ao momento de formação do litisconsórcio:

a. Litisconsórcio originário (inicial): Ocorre quando a pluralidade de litigantes


existe desde o início da demanda, indicada na própria petição inicial. O litisconsórcio é formado
concomitantemente ao próprio processo. Ex.: Ação de execução de título extrajudicial proposta
contra todos os devedores solidários.

b. Litisconsórcio superveniente (incidental ou ulterior): Ocorre quando o


litisconsórcio é formado em momento posterior ao início da demanda, não indicado na petição
inicial. Ex.: Sucessão processual causa mortis. No curso da demanda o autor vem a falecer e,
consequentemente, ele é sucedido por seus três herdeiros que formam litisconsórcio ativo.
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3) Classificação quanto à obrigatoriedade de formação do litisconsórcio:

a. Litisconsórcio necessário: Situação em que o litisconsórcio decorre da própria lei


ou da relação jurídica objeto da demanda (unitariedade). A formação do litisconsórcio é inerente
ao desenvolvimento válido do processo; o litisconsórcio é obrigatório sob pena de extinção do
processo sem resolução do mérito. Ao autor não resta outra opção senão a formação do
litisconsórcio.

✓ Exemplo 1: Ação de usucapião de imóvel – A lei exige que a citação daquele em cujo nome
esteja registrado o bem e também dos seus confinantes (CPC, art. 246 §3°).
✓ Exemplo 2: Ação de divisão e demarcação de terras particulares (CPC, arts. 570 e 574).
✓ Exemplo 3: Ação que verse acerca de direito real sobre imóvel (ex.: reivindicatória) – A lei
exige que figurem no polo passivo ambos os cônjuges (CPC, art. 73).
✓ Exemplo 4: Litisconsórcio necessário por força da relação jurídica ser única e incindível –
Anulação do casamento, por lógica ambos os cônjuges deverão ser litisconsortes.
✓ Exemplo 5: Litisconsórcio necessário por força da relação jurídica ser única e incindível – Ação
pauliana proposta por credor prejudicado contra os celebrantes de um negócio jurídico
fraudulento (ação anulatória).

b. Litisconsórcio facultativo: Situação na qual o litisconsórcio decorre de convenção


dos litigantes, ou seja, não é indispensável à validade do processo. No momento da propositura
da demanda, a formação do litisconsórcio é opcional. O artigo 113 do Novo CPC elenca as
hipóteses de litisconsórcio facultativo: I - Entre elas houver comunhão de direitos ou de
obrigações relativamente à lide (Nesse caso há cotitularidade de um direito ou obrigação. Ex.:
dívida solidária); II - Entre as causas houver conexão pelo pedido ou pela causa de pedir (ex.:
várias vítimas de um acidente de grandes proporções ajuízam uma ação indenizatória); III -
Ocorrer afinidade de questões por ponto comum de fato ou de direito (Não há conexão, mas as
demandas guardam considerável afinidade. Ex.: o dono de um imóvel ajuíza uma só demanda
contra dois vizinhos que ao reformarem seus imóveis, cada um o seu próprio imóvel, causaram
danos ao autor).

b.1 - Litisconsórcio facultativo irrecusável (regra geral): Como regra, se os


requisitos legais forem preenchidos, o juiz não poderá recusar a formação da relação
litisconsorcial. A formação do litisconsórcio facultativo é uma prerrogativa das partes,
dependendo exclusivamente da vontade delas.
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b.2 - Litisconsórcio facultativo recusável (exceção): Se o número de litigantes
for muito grande, caracterizando o litisconsórcio multitudinário (plúrimo ou múltiplo), de tal
modo que possa comprometer a rápida solução do conflito, dificultar o exercício do direito de
defesa ou o cumprimento da sentença, será autorizado ao juiz, de ofício ou a pedido do réu,
determinar o desmembramento do processo, criando vários outros com um número menor de
pessoa

4) Classificação quanto à uniformidade da decisão:

a. Litisconsórcio comum (simples): Situação em que a decisão de mérito, embora


proferida num mesmo processo, não necessariamente será a mesma para todos os
litisconsortes. O litisconsórcio é simples quando a decisão puder produzir diferentes efeitos para
cada litisconsorte, mesmo que não venha efetivamente a ser diferente. A mera possibilidade de
decisões de mérito diferentes configura o litisconsórcio comum. Ex.: Diversas pessoas envolvidas
num acidente de trânsito ajuízam ação indenizatória contra o suposto causador do ilícito civil.
Os valores indenizatórios podem variar de acordo com a extensão do dano, podendo até o
pedido de um ou outro ser julgado improcedente.

b. Litisconsórcio unitário: Situação em que a decisão de mérito deverá ser a mesma


para todos os litisconsortes, invariavelmente (NCPC, art. 116). A unitariedade decorre da
natureza da relação jurídica material, que é una e indivisível, logo é juridicamente impossível
que as decisões de mérito sejam diferentes. Ex.: Ação pauliana ajuizada pelo credor prejudicado
com o objetivo de anular negócio jurídico fraudulento. É impossível que o negócio jurídico seja
anulado só para um dos réus.

Ativo: pluralidade de autores.

Quanto à posição das


Passivo: pluralidade de réus.
partes:
Misto: pluralidade de autores e réus.

Originário: forma-se concomitante ao próprio processo.


Quanto ao momento
de formação: Superveniente: forma-se no curso do processo.

Necessário: obrigatório por força de lei OU da natureza da


relação jurídica material (una e indivisível).
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Quanto à Facultativo: a formação depende da vontade das partes.

obrigatoriedade de Quando o número de sujeitos for muito grande, o juiz pode

formação: mandar desmembrar o processo (litisconsórcio multitudinário).

Quanto à Unitário: a decisão de mérito deverá ser a mesma para todos os


litisconsortes.
uniformidade das
decisões: Simples: a decisão de mérito pode ser diferente.

Algo MUITO IMPORTANTE a ser destacado, porque diversas vezes foi cobrado pelo
elaborador do Exame da OAB, é a possibilidade de conjugação das duas últimas classificações.
Separamos algumas regras que devem ser decoradas:

→ Não existe litisconsórcio necessário ativo, pois ninguém pode ser obrigado a demandar
no polo ativo, e ninguém pode ter o seu direito de ação subordinado à participação de outro
colegitimado.

→ Não é correto afirmar que todo litisconsórcio necessário será unitário. Igualmente, não
é correto afirmar que todo litisconsórcio facultativo será simples.

• Litisconsórcio necessário e simples - Quando o litisconsórcio for necessário em razão da


lei ele geralmente será simples. Ex.: Ação de usucapião.

• Litisconsórcio necessário e unitário - Quando o litisconsórcio for necessário em razão da


relação jurídica controvertida ele geralmente será unitário. Ex.: Ação pauliana.

• Litisconsórcio facultativo e simples – Quase em todas as hipóteses o litisconsórcio


facultativo será simples. Ex.: Litisconsórcio formado em razão de conexão da causa de pedir.

• Litisconsórcio facultativo e unitário – Trata-se da hipótese mais debatida e contestada


pela doutrina. Considerando que não há litisconsórcio necessário ativo, porque ninguém
pode ser obrigado a demandar, quando a relação for una e indivisível, o litisconsórcio ativo
será facultativo e unitário. Ex.: Ação reivindicatória ajuizada por apenas um dos condôminos.

4.3. Intervenção iussu iudicis:


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A falta de citação do litisconsorte necessário para compor o polo passivo da demanda
pode produzir diferentes consequências. Com fulcro no artigo 115 do Novo CPC, a sentença de
mérito será nula, se deveria ser uniforme em relação a todos que deveriam ter integrado o
processo (litisconsórcio necessário e unitário – relação jurídica una e indivisível). Se era possível
que a sentença fosse diferente para cada um dos litisconsortes (litisconsórcio necessário e
simples – por força da lei), então ela será ineficaz.

O Novo CPC trouxe de volta a intervenção iussu iudicis, que nada mais é do que a atuação
oficiosa do juiz de determinar ao autor que requeira e providencie a citação de todos os
litisconsortes necessários que não indicados na inicial como réus, sob pena de extinção do
processo.

NÃO CITAÇÃO DE ALGUM DOS LITISCONSORTES NECESSÁRIOS (CPC, art. 115)

Litisconsórcio necessário e unitário A sentença de mérito será nula.

Litisconsórcio necessário e simples A sentença de mérito será ineficaz para os não citados.

5. INTERVENÇÃO DE TERCEIROS

O Código de Processo Civil colaciona variadas situações em que terceiros podem integrar
o processo incidentalmente. Recordando as lições sobre os elementos da ação, temos que
partes são “quem pede e contra quem se pede”. Inversamente, considera-se então como
terceiro todo aquele que não é nem autor e nem réu.

A doutrina entende que intervenção de terceiro é um fato jurídico processual por meio
do qual alguém estranho à relação processual adentra a uma demanda já instaurada, tendo,
portanto, natureza jurídica incidente processual. Esse instituto tem por fundamento privilegiar
os princípios da economia processual e do contraditório, pois será dado ao terceiro que de
alguma forma pode sofrer os efeitos da decisão judicial a possibilidade de se defender.

Por vezes as relações materiais são demasiadamente complexas, assim, a sentença que
soluciona eventual conflito pode repercutir contra terceiros. Caso exista essa possibilidade, é
razoável concluirmos que deve ser dado a esse terceiro a oportunidade de participar da relação
processual. Por isso afirmamos que só é admitida a intervenção de terceiro num processo em
andamento quando, de alguma forma, existir a possibilidade dele sofrer efeitos da decisão
judicial.
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O Novo CPC trouxe diversas inovações nesse âmbito, a começar pela extinção da
nomeação à autoria – que passou a ser prevista no artigo 339 como hipótese de correção do
polo passivo – e também da oposição – que foi alçada à condição de procedimento especial (art.
682). No sentido oposto, a assistência entrou para o rol de intervenções de terceiro e tivemos a
instituição de duas novas modalidades, o amicus curiae e o incidente de desconsideração da
personalidade jurídica.

Como resultado desse empreendimento, atualmente temos a previsão de cinco


modalidades de intervenção de terceiros: i) assistência; ii) denunciação da lide; iii) chamamento
ao processo; iv) incidente de desconsideração da personalidade jurídica; v) amicus curiae.

CPC de 1973 (revogado) CPC de 2015 (em vigor)

→ Não era modalidade de intervenção de 3º. I – Assistência

I – Denunciação da Lide II – Denunciação da Lide

II – Chamamento ao Processo III – Chamamento ao Processo

IV – Incidente de Desconsideração da
→ Sem correspondência.
Personalidade Jurídica.

→ Sem correspondência. V – Amicus Curiae

III – Nomeação à autoria → Hipótese de correção do polo passivo.

IV – Oposição → Procedimento Especial.

Insta ressaltar que nos juizados especiais, como regra, nunca foi admitido qualquer das
hipóteses de intervenção de terceiro (Lei 9.099/95, art. 10), todavia, com o advento do novo
CPC, passou a ser possível nesse microssistema o incidente de desconsideração da
personalidade jurídica (CPC, art. 1.062). Não podemos esquecer que o litisconsórcio é sempre
possível no âmbito dos juizados especiais.

5.1. Classificação
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As modalidades de intervenção de terceiros são classificadas em: voluntária (espontânea)
e provocada (coacta). A intervenção é voluntária (espontânea) quando parte da vontade do
próprio terceiro, ele é que se apresenta para participar do processo, independentemente de
qualquer atitude das partes ou do juiz. Temos como exemplos, a assistência e o amicus curiae.

Mas a intervenção poderá ser provocada (coacta), quando o ingresso do terceiro ao


processo ocorrer a pedido de uma das partes ou do próprio juiz (de ofício). A requerimento das
partes, a intervenção é provocada nos casos da denunciação da lide, do chamamento ao
processo e da desconsideração da personalidade jurídica. O amicus curiae, por sua vez, pode ser
determinado pelo juiz de ofício, convocado a pedido da parte, ou apresentar-se de forma
voluntária.

5.2. Assistência

Uma boa inovação técnica do novo CPC, sem dúvidas, foi a inclusão da assistência no rol
das modalidades de intervenção de terceiros. No antigo diploma a assistência se encontrava
equivocadamente no mesmo capítulo do litisconsórcio.

O assistente é um terceiro que ingressará no processo, a qualquer tempo e em qualquer


procedimento ou grau de jurisdição, (CPC, art. 119, §ú) a fim de auxiliar uma das partes, razão
pela qual a consideramos como modalidade ad coadjuvandum de intervenção de terceiros. A
assistência não é admitida no procedimento sumaríssimo dos juizados especiais (L. 9.099/95,
art. 10).

De qualquer modo, é pressuposto da intervenção que o terceiro tenha interesse jurídico


(CPC, art. 119). O interesse do terceiro não pode ser meramente afetivo, moral, econômico,
profissional ou outro semelhante. O interesse há de ser jurídico, o que significa que o terceiro
deve ser titular de uma relação jurídica que pode ser influenciada em decorrência da decisão
que será proferida no processo.

Ademais, conforme já anotado, ressalta-se que a assistência é modalidade de intervenção


de terceiro autônoma, pois o terceiro é que se apresenta por meio de petição, demonstrando
nela o seu interesse jurídico. As partes serão intimadas a manifestar sobre o ingresso do terceiro,
caso não haja impugnação no prazo de 15 (quinze) dias, o pedido do assistente será deferido,
salvo se for o caso de rejeição liminar (CPC, art. 120). Se houver impugnação, o juiz decidirá o
pedido de plano, sem suspender o processo, decisão da qual caberá agravo de instrumento (CPC,
art. 1.015, IX).
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5.2.1. Assistência simples

Na assistência simples o terceiro pretende adentrar ao processo pois a decisão pode


produzir efeitos reflexos (mediatos) sobre uma relação jurídica que mantém com o assistido. O
terceiro não faz parte da relação jurídica discutida na demanda, mas tem interesse na vitória
de uma das partes, com quem mantém uma outra relação que pode ser influenciada pelo
julgamento da causa.

O exemplo mais citado na doutrina é de um processo de despejo ajuizado contra o


locatário, em que intervém o sublocatário. As partes envolvidas na locação e na sublocação são
distintas, não mantendo o sublocatário relação jurídica com o locador, entretanto, a extinção
do contrato de locação poderá culminar também na extinção da sublocação. Não restam dúvidas
quanto ao interesse jurídico do terceiro.

Em suma, (i) deve o terceiro manter relação jurídica com uma das partes; (ii) relação
distinta daquela que está sendo apreciada no processo; (iii) mas que pode ser influenciada
reflexamente pela decisão que julgá-lo.

Quanto aos poderes do assistente simples, com fulcro no artigo 121, sua função é atuar
como auxiliar e em subordinação à parte principal, podendo praticar os mesmos atos
processuais (alegar, juntar documentos, requerer a produção de provas, arguir impedimento,
arguir incompetência absoluta e etc.) desde que não contrarie a vontade do assistido.

Nos termos do artigo 122 do Novo CPC, “a assistência simples não obsta a que a parte
principal reconheça a procedência do pedido, desista da ação, renuncie ao direito sobre o que se
funda a ação ou transija sobre direitos controvertidos”.

Uma inovação muito relevante do novo CPC está prevista no parágrafo único do artigo
121. Diz o texto da lei: “Sendo revel ou, de qualquer outro modo, omisso o assistido, o assistente
será considerado seu substituto processual”. Diante da revelia do assistido, o assistente terá
legitimidade extraordinária para, em nome próprio, defender interesses alheios.

5.2.2. Assistência litisconsorcial

De imediato podemos afirmar que o assistente litisconsorcial nada mais é do que um


litisconsorte facultativo unitário ulterior.
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O assistente litisconsorcial, ao contrário do simples, possui interesse direto na demanda
pois sofrerá os efeitos imediatos da decisão que julgá-la, e não apenas efeitos reflexos. O
terceiro é titular da relação jurídica que está sendo discutida no processo, ou colegitimado
extraordinário.

Tipifica o artigo 124 do Novo Código de Processo Civil: “Considera-se litisconsorte da parte
principal o assistente sempre que a sentença influir na relação jurídica entre ele e o adversário
do assistido”.

Assim temos o exemplo de ação reivindicatória ou possessória de bem condominial.


Como já dissemos, não existe litisconsórcio necessário ativo, logo, qualquer dos
condôminos/compossuidores pode ajuizar ação. Se um só propuser a demanda, ele poderá
continuar sozinho até a expedição da sentença de mérito, a qual produzirá efeitos sobre os
demais. Contudo, se os cotitulares quiserem ingressar no processo, eles poderão fazê-lo na
condição de assistentes litisconsorciais.

Em suma, o assistente litisconsorcial atuará como parte do processo, tendo todos os


poderes que o assistido tem, e não estando a ele subordinado. A diferença do assistente
litisconsorcial para o litisconsorte originário, é que aquele receberá processo e passará a nele
atuar na exata situação em que se encontre.

5.3. Denunciação da lide

Esta é uma modalidade de intervenção de terceiro provocada, a qual pode ser requerida
por qualquer das partes do processo (CPC, art. 125).

Com o ingresso do terceiro, uma nova demanda passará a se desenvolver nesse mesmo
processo, entre o denunciante e o denunciado. Assim, afirma-se que a denunciação é uma
demanda incidental. Em um só processo existirão duas ações, uma principal e outra incidental.

A denunciação da lide ocorre quando uma das partes tem pretensão regressiva ou de
garantia contra terceiro, caso venha a sucumbir na demanda principal. Não existe, portanto,
relação entre o denunciado e o adversário do denunciante. O que existe é uma demanda entre
autor e réu, e outra demanda entre denunciante e denunciado.

O denunciante está antecipando a pretensão que tem contra o terceiro, o que noutras
situações culminaria na carência da ação por falta de interesse de agir (necessidade), mas que
aqui é permitido por meio da denunciação da lide.
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O grande fundamento dessa modalidade de intervenção de terceiro é a economia
processual, pois permite ao titular de um direito de regresso, exercê-lo no mesmo processo em
que já figura como parte, caso seja vencido na demanda principal. O juiz, na sentença, terá que
julgar tanto a ação principal quanto a incidental (denunciação da lide).

Além de incidental e regressiva, a denunciação da lide é ação eventual, pois o julgamento


dessa nova demanda está subordinado ao julgamento da demanda principal. A denunciação da
lide só será julgada se o denunciante sucumbir na demanda principal.

Enuncia o artigo 129 do CPC: “se o denunciante for vencido na ação principal, o juiz
passará ao julgamento da denunciação da lide”. Por sua vez, o parágrafo único: “se o
denunciante for vencedor, a ação de denunciação não terá o seu pedido examinado, sem prejuízo
da condenação do denunciante ao pagamento das verbas de sucumbência em favor do
denunciado”.

O artigo 125 do Código de Processo Civil traz duas hipóteses em que será admissível a
denunciação da lide. A primeira delas retrata uma situação típica do direito contratual, a evicção.
Diz o legislador: “É admissível a denunciação da lide, promovida por qualquer das partes: I - ao
alienante imediato, no processo relativo à coisa cujo domínio foi transferido ao denunciante, a
fim de que possa exercer os direitos que da evicção lhe resultam”.

A segunda hipótese prevista no artigo 125, diz respeito “àquele que estiver obrigado, por
lei ou pelo contrato, a indenizar, em ação regressiva, o prejuízo de quem for vencido no
processo”. Esse inciso é tão amplo que, em verdade, a previsão da evicção é desnecessária.
Diversos são os contratos que estabelecem direito de regresso, e algumas situações em que esse
direito decorre da própria lei.

Evidentemente, se a denunciação da lide não for feita ou for indeferida pelo juiz, o direito
de regresso não restará prejudicado. Isso é o que dispõe o parágrafo primeiro do artigo 125,
senão, vejamos: “o direito regressivo será exercido por ação autônoma quando a denunciação
da lide for indeferida, deixar de ser promovida ou não for permitida”.

Quanto ao procedimento, a denunciação da lide poderá ser requerida tanto pelo autor
quanto pelo réu. Nas duas hipóteses, o denunciado assumirá a posição de litisconsorte do
denunciante. Interessante observar que o denunciado se tornará, simultaneamente, réu da
denunciação e litisconsorte do denunciado na demanda principal.
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Em resumo, feita a denunciação pelo autor, a citação do denunciado deverá ser requerida
na petição inicial. O denunciado será citado antes do réu, para que se defenda da denunciação
e acrescente novos argumentos à inicial (CPC, art. 127). Feita a denunciação pelo réu, a citação
do denunciado deverá ser requerida na contestação. Poderá o denunciado apresentar
contestação, se defendendo da denunciação, e impugnando os fatos alegados pelo autor na
petição inicial (CPC, art. 128).

No CPC/73 a denunciação da lide era obrigatória. Essa regra foi retirada do ordenamento
com o advento do Novo CPC, que afirmar ser a denunciação admitida nas hipóteses do artigo
125, sendo que o direito de regresso pode ser exercido por ação autônoma quando a
denunciação for indeferida, deixar de ser promovida ou não for permitida.

O Novo CPC tornou o sistema da denunciação da lide mais restritivo. Primeiro, ele permite
apenas uma única denunciação sucessiva, ou seja, a possibilidade de o denunciado denunciar
um outro terceiro, contra quem tem direito regressivo. Isso só poderá acontecer uma vez.

Ademais, o Novo CPC aboliu a denunciação “per saltum” que acontecia quando a parte
do processo principal, o denunciante, se voltava contra um terceiro com quem não
mantinha/manteve relação jurídica material, mas que figurou na cadeia contratual como
alienante da coisa litigiosa. Simplificando, o denunciante “pulava” o terceiro com quem
realmente manteve relação jurídica. ESSA POSSIBILIDADE FOI VEDADA PELO NOVO CPC.

5.4. Chamamento ao processo

É forma de intervenção de terceiros provocada exclusivamente pelo réu. Esta é a primeira


diferença entre o chamamento ao processo e a denunciação da lide, onde o denunciante pode
ser tanto o autor quanto o réu.

A segunda diferença está no fato de que no chamamento ao processo discute-se apenas


uma relação jurídica, da qual o terceiro também faz parte. Não existem duas demandas distintas
(principal e incidental), mas tão somente uma, que originariamente foi proposta contra apenas
um dos coobrigados. Nesse caso, o réu indicado na petição inicial chama os demais responsáveis
para integrarem o polo passivo da ação.

Na denunciação da lide existem duas relações jurídicas materiais distintas, uma entre
autor e réu (demanda principal), e outra entre denunciante e denunciado (direito de regresso).
Como regra o denunciado não possui relação direta com o adversário do denunciante.
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O artigo 130 do Novo CPC elenca as hipóteses em que será admissível o chamamento ao
processo, requerido pelo réu: I - do afiançado, na ação em que o fiador for réu; II - dos demais
fiadores, na ação proposta contra um ou alguns deles; III - dos demais devedores solidários,
quando o credor exigir de um ou de alguns o pagamento da dívida comum.

A primeira situação diz respeito ao contrato de fiança, negócio jurídico através do qual
alguém se responsabiliza pelo pagamento da dívida de outrem. Entretanto, considerando que o
fiador não é o devedor, ele poderá pleitear ressarcimento daquele de quem é a dívida.
Imaginando que o fiador seja demandado diretamente pelo credor, o CPC admite então que o
fiador, fundamentado na premissa do “benefício de ordem” (regra do contrato de fiança),
chame o devedor principal ao processo.

O segundo inciso, ainda no âmbito do contrato de fiança, prevê a situação em que


havendo diversos fiadores, apenas um deles seja demandado pelo credor. Além do demandado
ter a possibilidade de chamar ao processo o devedor principal (benefício de ordem), poderá
também chamar os demais fiadores (solidariedade).

A última situação prevista no artigo 130 é de chamamento ao processo em caso de


solidariedade passiva. O credor pode demandar um, alguns ou todos devedores solidários, essa
é a garantia fundamental do instituto da solidariedade. Contudo, em se tratando de processo
de conhecimento, o devedor demandado poderá chamar ao processo os demais codevedores.
Em caso de sentença de procedência, os efeitos serão produzidos contra todos, mas o credor
reservará o direito de mandar penhorar bens (se não houver pagamento voluntário) de apenas
um dos executados. Essa sentença valerá, então, como título executivo em favor do réu que
satisfizer a dívida (CPC, art. 132).

5.5. Incidente de desconsideração da personalidade jurídica

A teoria da desconsideração da personalidade jurídica chegou ao Brasil com os trabalhos


dos doutrinadores Fábio Konder Comparato e Rubens Requião, e atualmente encontra-se
prevista no Código Civil a partir do artigo 50, como forma excepcional de superar a autonomia
da pessoa jurídica, para atingir o patrimônio dos sócios, quando ocorrer o descumprimento da
função social da empresa.

A desconsideração da personalidade jurídica é um instituto de direito material, cabendo


ao Código Civil estabelecer os requisitos da sua aplicação. Muito embora reconheçamos a
existência da “teoria menor”, aplicada às relações consumeristas e também no âmbito da
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responsabilidade por danos ambientais (CDC, art. 28, §5º; e Lei nº 9.605/98, art. 4º), o Código
Civil adotou a “teoria maior da desconsideração”, segundo a qual, para que ocorra a suspensão
episódica da personalidade jurídica são necessários os seguintes requisitos: a) Insuficiência de
patrimônio da sociedade (requisito objetivo); b) Ação fraudulenta ou abuso da personalidade
jurídica, que caracterize desvio de finalidade ou que culmine em confusão patrimonial (requisito
subjetivo).

Apesar do instituto material existir há bastante tempo, somente agora, com o advento do
novo CPC, foi estabelecido o procedimento da desconsideração, incluído entre as modalidades
de intervenção de terceiros.

O incidente de desconsideração da personalidade jurídica será instaurado a requerimento


da parte ou do Ministério Público, quando lhe convier intervir. Portanto, é vedado ao juiz
decretar a desconsideração da personalidade jurídica de ofício.

É cabível em qualquer fase do processo de conhecimento, cumprimento de sentença ou


execução fundada em título executivo extrajudicial (CPC, art. 134, caput). Dispensa-se a
instauração do incidente se a desconsideração da personalidade jurídica for requerida na
petição inicial, hipótese em que será citado o sócio ou a pessoa jurídica.

A instauração do incidente suspenderá o processo (salvo se a desconsideração for


requerida na petição inicial). Na petição, o requerente deverá demonstrar o preenchimento dos
requisitos para a desconsideração da personalidade jurídica (CC, art. 50). É do requerente,
portanto, o ônus de prova. O sócio (ou a pessoa jurídica, na desconsideração inversa) será citado
para se manifestar no prazo de 15 dias, isso em privilégio do princípio do contraditório (CPC, art.
135). Se necessário o juiz determinará a produção de mais provas.

Concluída a instrução, então julgará o incidente por decisão interlocutória, contra a qual
caberá recurso de agravo de instrumento (CPC, art. 1.015, IV). Caso o processo se encontre em
grau de recurso, da decisão proferida pelo relator caberá agravo interno (CPC, art. 136, §ú).

5.6. Amicus Curiae

A previsão genérica do amicus curiae como modalidade de intervenção de terceiros é uma


das novidades do Novo Código de Processo Civil. Até então, em nosso ordenamento jurídico
havia apenas algumas previsões bastante específicas estabelecendo hipóteses em que esse
terceiro poderia intervir, por exemplo, no controle concentrado de constitucionalidade (Leis
9.868/99 e 9.882/99).
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Com o advento do novo diploma processual passou-se, então, a admitir a genérica
intervenção do amicus curiae em qualquer processo judicial, desde que preenchidos os
requisitos estabelecidos no caput do artigo 138 do CPC, quais sejam: a) relevância da matéria;
b) especificidade do tema objeto da demanda; c) repercussão social da controvérsia; d)
representatividade adequada do terceiro.

Mas, afinal, quem é o amicus curiae e qual a sua função dentro do processo?

Etimologicamente a expressão, derivada do latim, significa amigo da corte! Esse terceiro,


que pode ser pessoa natural, pessoa jurídica, órgão ou entidade especializada (CPC, art. 138), é
alguém com profundo conhecimento técnico sobre matéria específica que, ao ingressar no
processo, não assumirá a condição de parte e nem auxiliar da parte, mas sim de auxiliar do juízo.

Não tendo interesse direto ou reflexo na demanda, como é o caso do assistente simples,
o amicus curiae poderá intervir em processos que tenham por objeto matérias de grande
relevância, temas muito específicos (complexos) ou de considerável repercussão social, com a
finalidade de instigar o debate e ajudar o Judiciário a proferir decisões mais justas e precisas.
Por isso entendemos que o que motiva a intervenção do amicus curiae em processo alheio é um
“interesse institucional” ou “metaindividual”.

Para melhor elucidar o tema, citamos alguns exemplos de amicus curiae elencados por
Fredie Didier no seu curso de direito processual civil: i) uma associação científica que possui
representatividade adequada para a discussão de temas relacionados à atividade científica que
patrocina; ii) um antropólogo renomado, no que diz respeito a questões relacionadas a povos
indígenas; iii) uma entidade de classe, sobre questão que diga respeito à atividade profissional
que ela representa.

Quanto ao procedimento, o amicus curiae pode adentrar ao processo de forma voluntária


(intervenção espontânea), a requerimento das partes ou por determinação de ofício do juiz
(intervenção provocada). Se requerida pela parte ou determinada pelo juiz (ou relator), o amigo
da corte terá o prazo de 15 (quinze) dias para se manifestar, contado a partir de sua intimação
(CPC, art. 138).

De acordo com o parágrafo primeiro do artigo 138 do Novo CPC, a intervenção do amicus
curiae não implicará em alteração de competência. Assim, por exemplo, se for o caso de uma
autarquia federal que ingresse num processo em trâmite na Justiça Estadual, isso não
influenciará na competência do órgão jurisdicional.
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Ademais, o mesmo parágrafo determina que o amicus curiae, como regra, não poderá
interpor recursos. Excepcionalmente, ele terá legitimidade para opor embargos de declaração e
recorrer da decisão que julgar o incidente de resolução de demandas repetitivas.

Por fim, com fundamento no parágrafo segundo do artigo em comento, caberá ao juiz (ou
relator), na decisão que solicitar ou admitir a intervenção, definir os poderes do amicus curiae.
De qualquer modo, a doutrina entende que sua atuação será basicamente manifestar/opinar
sobre a questão que é objeto da demanda.

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