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Direito Processual Civil

Professor Stanley Costa


AULA 01 – TEMAS FUNDAMENTAIS DO PROCESSO
Sumário: 1. Notas Introdutórias - 2. Jurisdição - 3. Ação - 3.1. Condições da
Ação - 3.2. Elementos da Ação - 4. Exceção - 5. Processo - 5.1. Processo X
Procedimento - 5.2. Espécies de Processo

1. NOTAS INTRODUTÓRIAS
A doutrina reconhece a existência de quatro institutos como sendo fundamentais
e estruturantes do direito processual, são eles: (a) Jurisdição; (b) Ação; (c) Exceção; (d)
Processo. Alguns doutrinadores, porém, reconhecem apenas três, a jurisdição, a ação e
o processo, afirmando ser esta a “trilogia estrutural do processo”1. De forma
simplificada, falaremos individualmente de cada instituto.

2. JURISDIÇÃO

Ao estudarmos o Direito Constitucional aprendemos que o Estado, para a garantia


de sua soberania, dividiu o seu poder em três, cada qual com uma função específica
(típica). Três são os poderes/funções essenciais do Estado: (i) poder executivo, que está
relacionado com a atividade administrativa, gestão ordinária dos bens e serviços
públicos; (ii) poder legislativo, que diz respeito à função de criar as normas gerais que
formam o Direito; (iii) poder jurisdicional, através do qual o Estado cumpre com a sua
missão pacificadora. É importante ressaltar que, excepcionalmente, um poder pode
exercer a função de outro, ao que chamamos de função atípica.

Cumprida essa breve introdução, podemos agora conceituar jurisdição como


sendo um dos poderes essenciais do Estado, o de dizer e aplicar o Direito ao caso
concreto a fim de solucionar definitivamente conflitos de interesses. Jurisdição é o
poder/dever do Estado de interferir na relação jurídica onde existe um litígio para,
substituindo a vontade das partes, dizer e impor a aplicação do Direito.

Conforme os ensinamentos de Daniel Amorim Assumpção Neves, “a jurisdição


pode ser entendida como a atuação estatal visando à aplicação do direito objetivo ao

1
DONIZETTI, Elpídio. Curso Didático de Direito Processual Civil. São Paulo: Atlas, 2016, p. 90.
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caso concreto, resolvendo-se com definitividade uma situação de crise jurídica e gerando
com tal solução a pacificação social”2.

Em sentido semelhante, Marcus Vinícius Rios Gonçalves leciona que “jurisdição é


a atividade do Estado, exercida por intermédio do juiz, que busca a pacificação dos
conflitos em sociedade pela aplicação das leis aos casos concretos”. 3

Ainda, alguns doutrinadores preferem analisar a jurisdição a partir de três


aspectos distintos: (i) poder – o poder jurisdicional é o que autoriza o Estado a intervir
na esfera particular das partes e aplicar o direito direita para a solução de conflitos; (ii)
função – a jurisdição é um encargo/dever do Estado (não só um direito), atribuído pela
Constituição Federal ao Poder Judiciário; (iii) atividade – complexo de atos jurídicos
praticados pelos agentes investidos de jurisdição, atos que são indispensáveis para o
exercício da função jurisdicional.

Observe a elucidativa explicação de Elpídio Donizetti4: “Partindo-se de uma visão


clássica, a jurisdição pode ser visualizada sob três enfoques distintos: como poder,
porquanto emana da soberania do Estado, que assumiu o monopólio de dirimir os
conflitos; como função, porque constitui dever do Estado prestar a tutela jurisdicional
quando chamado; finalmente, como atividade, uma vez que a jurisdição atua por meio
de uma sequência de atos processuais”.

Cumpre-nos ressaltar, ainda, que a jurisdição não é a única forma de solução de


conflitos. Apesar do Estado ter tomado para si o poder pacificador, existem outros
métodos de solução de conflitos (equivalentes jurisdicionais):

(i) Autotutela: forma de solução de conflito pela imposição da vontade de uma das
partes, considerada como mais forte. Por se tratar de composição parcial e muitas vezes
injusta, a autotutela é normalmente proibida. Contudo, existe exceções previstas na
própria lei, como o desforço imediato e a legítima defesa da posse.

2 NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Manual de Direito Processual Civil – vol. Único. Salvador: Ed. Juspodivm,
2017, p. 80.
3 GONÇALVES, Marcus Vinicius Rios. Direito Processual Civil Esquematizado. São Paulo: Saraiva, 2016, p 101.
4 DONIZETTI, Elpídio. Curso Didático de Direito Processual Civil. São Paulo: Atlas, 2016, p. 91.
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(ii) Autocomposição: forma de solução consensual dos conflitos fundada no sacrifício
integral ou parcial do interesse das partes. Solução do conflito por meio da conciliação,
dentro ou fora do processo, sendo sempre incentivada pela norma. Ocorre pela
desistência/renúncia, submissão ou transação.

(iii) Heterocomposição: forma de solução de conflito pela imposição da decisão de um


terceiro, alguém de fora da relação jurídica controvertida. Aqui se encontra a
arbitragem, meio paraestatal de solução de conflito que pode ser escolhido pela
vontade de ambas as partes (cláusula compromissária OU compromisso arbitral); e a
jurisdição, poder/dever do Estado de pacificar conflitos por meio da substituição da
vontade das partes pela vontade da lei.

A jurisdição é inafastável (CPC, arts. 3º e 140), mas não é obrigatória. O Estado não
monopolizou os instrumentos de resolução de conflitos. Existem meios alternativos de
solução de conflitos, os quais, inclusive, devem ser incentivados pelo Estado (com
exceção da autotutela que em regra é proibida).

O objetivo jurídico da jurisdição é a aplicação da vontade do direito, com o objetivo


de resolver a lide jurídica e promover a pacificação social. Diante de uma ameaça ou
afronta ao direito objetivo, a jurisdição é o meio para a resolução do conflito de
interesse, o que se dará por meio da imposição do direito material. Segundo Daniel
Amorim Assumpção Neves: “(...) a jurisdição, sempre que afasta essa violação concreta
ou iminente, faz valer o direito objetivo no caso concreto, resolvendo do ponto de vista
jurídico o conflito existente entre as partes”5.

3. AÇÃO

Em um sentido amplo, “ação” é o direito subjetivo e público de receber do Estado,


por meio do juiz, uma decisão acerca de determinado conflito, o que denominamos
provimento ou tutela jurisdicional. Sabemos que a jurisdição se caracteriza por ser
inerte, de modo que a “ação” é o direito mediante o qual o interessado provoca o Estado

5NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Novo CPC Comentado – artigo por artigo. Salvador: ed. JusPodivm, 2016,
p. 16.
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a dar uma resposta à pretensão formulada. “Ação” é o direito subjetivo de se exigir a
prestação jurisdicional.

Existe, entretanto, um conceito mais restrito que leva em consideração as diversas


teorias da ação, notadamente a Teoria Eclética de Liebman, adotada pelo Código de
Processo Civil brasileiro. Nesse contexto, “ação” é o direito subjetivo e público de obter
do Poder Judiciário uma resposta de mérito, ou seja, uma decisão de procedência ou
improcedência especificamente sobre a pretensão formulada. Para tanto, faz-se
indispensável o preenchimento de alguns requisitos preliminarmente, os quais
chamamos de condições da ação.

De acordo com as lições de Marcus Vinicius Rios Gonçalves:

O direito de acesso à justiça é incondicionado, independe do preenchimento de qualquer


condição: a todos assegurado, em qualquer circunstância; mas nem sempre haverá direto
a uma resposta de mérito. Para tanto, é preciso preencher determinadas condições; quem
não as preencher não terá o direito de ação em sentido estrito, mas tão somente em sentido
amplo. Ele receberá uma resposta do Judiciário, mas não de mérito. Será carecedor de ação.
(...) conquanto toda pretensão posta em juízo mereça uma resposta do Poder Judiciário,
nem sempre ela será tal que permita que o juiz se pronuncie a seu respeito. Há certas
situações em que o juiz se verá na contingência de encerrar o processo, sem responder à
pretensão posta em juízo, isto é, sem dar uma resposta ao pedido do autor. Isso ocorrerá
quando ele verificar que o autor é carecedor, que faltam as condições de ação. A ação em
sentido estrito aparece, portanto, como um direito condicionado6.

3.1. Condições da Ação

As condições da ação constituem matéria de ordem pública, devendo o juiz


analisá-las de ofício e extinguir a ação sem resolução de mérito quando identificar a
ausência de qualquer uma delas. Ainda, essa matéria não se sujeita à preclusão,
podendo ser suscitada pela parte e reconhecida pelo juiz a qualquer tempo ou grau de
jurisdição.

O criador da teoria eclética, Enrico Tullio Liebman, que afirmava ser a ação um
direito condicionado, originalmente visualizou a existência de três condições da ação:

6
GONÇALVES. Marcus Vinicius Rios. Direito Processual Civil Esquematizado – 9ªed. São Paulo:
Saraiva, 2018, p. 160.
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possibilidade jurídica do pedido, interesse de agir e legitimidade. Esse era o
entendimento adotado pelo Código de Processo Civil de 1973.

Todavia, o próprio Liebman reformulou seus estudos e passou a afirmar que a


possibilidade jurídica do pedido encontrava-se abrangida pelo próprio conceito de
interesse de agir. Com isso, o Novo CPC fez a devida adequação e passou a prevê a
existência de apenas duas condições da ação: (i) o interesse de agir e (ii) a legitimidade
ad causam.

Muito embora o Novo CPC não tenha utilizado a expressão condições da ação, não
há dúvidas de que elas continuam previstas em nosso ordenamento jurídico, apenas
com um número reduzido. Diz assim o artigo 17: “para postular em juízo é necessário
ter interesse e legitimidade”. Complementarmente, enuncia o artigo 485, inciso VI: “o
juiz não resolverá o mérito quando: (...) verificar a ausência de legitimidade ou de
interesse processual”.

ATENÇÃO: O Novo Código de Processo Civil reconhece a existência de apenas duas condições
da ação: o INTERESSE DE AGIR e a LEGITIMIDADE AD CAUSAM.

(i) O interesse de agir está relacionado com a utilidade que provimento


jurisdicional pode trazer para o caso concreto, se ele é ou não capaz de proporcionar
um resultado prático positivo para o demandante. De acordo com as lições de Daniel
Amorim Assumpção Neves, “o juiz deve analisar em abstrato e hipoteticamente se o
autor, sagrando-se vitorioso, terá efetivamente a melhora que pretendeu obter com o
pedido de concessão de tutela jurisdicional que formulou por mio do processo”7.

Doutrinariamente afirma-se ainda que o interesse de agir é observado a partir do


binômio necessidade/adequação. O demandante terá interesse processual quando a
intervenção do poder judiciário for necessária para a obtenção do bem da vida, e
quando pleitear o provimento jurisdicional pelo meio adequado.

7
NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Manual de Direito Processual Civil – vol. Único. Salvador: Ed. Juspodivm,
2017, p. 197
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Nesse sentido, não há interesse de agir quando: - Ajuizamento de ação de
cobrança de dívida ainda não vencida; - Ajuizamento de ação de usucapião antes de
atingido o lapso prescricional; - Ajuizamento de ação de indenização por acidente de
trânsito quando a seguradora do autor do ilícito se comprometer voluntariamente a
ressarcir os danos causados; - Ajuizamento de ação de cobrança de dívida prescrita; -
Ajuizamento da ação de cobrança de dívida de jogo.

(ii) No que diz respeito à legitimidade ad causam, a segunda condição da ação,


afirma-se que são legitimados aqueles que são os titulares da relação jurídica material
que é objeto da demanda. Têm legitimidade aqueles cujos interesses estão sendo
discutidos na ação. Nos termos do artigo 18 do Novo CPC, “ninguém poderá pleitear
direito alheio em nome próprio (...)”. É legitimada a ingressar em juízo, na condição de
parte, a pessoa que postular e defender direito próprio, e não alheio. Isso é o que
chamamos de legitimidade ordinária.

Ocorre, todavia, que essa regra comporta algumas exceções. O próprio artigo 18
é encerrado com a seguinte frase: “(...) salvo quando autorizado pelo ordenamento
jurídico”. Assim, existe a possibilidade de alguém pleitear direito alheio em nome
próprio, é o que chamamos de legitimidade extraordinária, ou substituição processual.

• Legitimidade Ordinária – Regra Geral – Pleitear direito próprio em nome próprio.

• Legitimidade Extraordinária – Exceção legal – Pleitear em nome próprio direito alheio.

De forma bastante didática, ensina Marcus Vinicius Rios Gonçalves: “Podemos


concluir que, no que concerne à legitimidade, existem dois grandes campos no Processo:
o da normalidade, em que as pessoas figuram em juízo, na condição de partes, em defesa
dos interesses e direitos que alegam ser próprios, sendo o que ocorre na imensa maioria
dos processos - a esse tipo de legitimidade, a comum, dá-se o nome de ordinária; e o da
anormalidade, naquelas hipóteses em que uma pessoa X poderá ser autorizada a figurar
em juízo, em nome próprio, na condição de parte, em defesa dos interesses de Y - nesse
caso, diz-se que haverá legitimidade extraordinária, também chamada ‘substituição
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processual’ (conquanto haja alguma divergência a respeito, essas duas expressões têm
sido usadas como sinônimas)”.8

É muito importante ter bastante atenção nessa parte da matéria, para não
confundir legitimidade extraordinária (ou substituição processual) com outros termos
semelhantes no processo civil, tais como, representação processual e sucessão
processual.

A representação processual ocorre quando alguém (o representante) demanda


em juízo direito alheio em nome alheio, porque o legitimado (representado) não tem
capacidade processual. Observe que o representado que é a parte do processo (autor
ou réu) e titular da relação jurídica material. Isso acontece quando, por exemplo, a mãe
atua como representante do filho menor em ação de alimentos.

Já a sucessão processual verifica-se quando no curso do processo ocorre a


alteração de uma das partes, por exemplo, em razão do falecimento, sendo ela então
sucedida pelo espólio ou seus herdeiros. Nesse caso, aquele que adentrou ao processo
supervenientemente estará atuando em nome próprio e em defesa de interesse
próprio.

Por fim, na legitimação extraordinária quem é parte e exerce toda a atividade


processual é o substituto, que não é o titular do direito debatido. Ele está atuando em
nome próprio, mas na defesa de direito alheio, isso porque é autorizado expressamente
pelo ordenamento jurídico.

São exemplos de substituição processual quando o Ministério Público ajuíza ações


coletivas, como ação civil pública ou mandado de segurança coletivo; quando o
Sindicado demanda em favor dos interesses dos seus membros; quando o Ministério
Público propõe ação de paternidade; quando um condômino sozinho ajuíza uma ação
para proteger o bem na sua totalidade; e quando a parte apela do capítulo da sentença
que dispõe sobre os honorários advocatícios.

8
GONÇALVES. Marcus Vinicius Rios. Direito Processual Civil Esquematizado – 9ªed. São Paulo:
Saraiva, 2018, p. 158.
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Legitimidade extraordinária (substituição processual) – Nome próprio / Direito alheio

Sucessão processual (alteração da parte) – Nome próprio / Direito próprio

Representação processual – Nome alheio / Direito alheio

3.2. Elementos da Ação

Três são os elementos identificadores da ação, os quais servem para individualizar


e distinguir uma ação da outra. Da análise desses elementos, ainda, é possível verificar
a existência de ações idênticas ou semelhantes, relevante para fixar fenômenos
processuais como litispendência, coisa julgada, perempção, conexão e continência.

a) Parte: É quem pede a tutela jurisdicional (Autor) e contra quem se pede (Réu).
Observe que representante não é parte, pois está atuando no processo em nome alheio.
No exemplo que foi dado anteriormente, o menor é a parte da ação de alimentos
(Autor), mas, por não ter capacidade processual, encontra-se representado por sua mãe.

b) Pedido: O que se pede. Na relação processual existe o pedido imediato e o


mediato. Imediato é o provimento jurisdicional, o que se pretende com a ação, a
condenação do réu, a constituição ou desconstituição de uma relação jurídica, ou a
declaração da existência de uma relação jurídica. Pedido mediato, por sua vez, é o
próprio bem da vida. Quando alguém ajuíza uma ação indenizatória em razão de
acidente de trânsito, por exemplo, ele pleiteia a condenação do réu (pedido imediato)
ao pagamento de uma quantia (pedido mediato).

c) Causa de pedir: É o porquê se pede. Trata-se dos fundamentos de fato e de


direito que embasam o pedido, a razão pela qual se pretende a prestação da tutela
jurisdicional. O rigor quanto a clareza da descrição dos fatos é grande, a petição inicial
deve apresentá-los com clareza e precisão. No que diz respeito ao direito, o rigor é um
pouco menor, pois partimos da premissa de que o juiz conhece o direito (jura novit
curia).
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Como afirmado acima, o conhecimento dos elementos da ação é importante para
identificação de causas repetidas ou semelhantes. Vejamos os fenômenos processuais
que podem ser causados por isso e quais as suas consequências:

i. Litispendência: Acontece quando se repete uma ação que está em curso. Já


existe uma ação em trâmite e é proposta uma outra ação idêntica, ou seja, com as
mesmas partes, pedido e causa de pedir. A lei proíbe a tramitação de duas ações
idênticas, em razão da economia processual e harmonização das decisões, devendo a
segunda ser extinta sem resolução de mérito (CPC, art. 485, V).

ii. Coisa julgada: Acontece quando, depois do trânsito em julgado da decisão de


uma ação, outra ação idêntica (mesmas partes, pedido e causa de pedir) é proposta.
Trata-se de fenômeno semelhante à litispendência, diferenciando-se pelo fato de que
na coisa julgada as ações não coexistem simultaneamente, já tendo sido a primeira
decidida e transitada em julgado. Nesse caso, todavia, a solução será a mesma: extinção
da segunda ação sem resolução de mérito (CPC, art. 485, V).

iii. Perempção: Trata-se de uma sanção imposta àquele que por três vezes
consecutivas propôs a mesma ação e deu causa à sua extinção por abandono. Caso isso
ocorra, o autor da causa não poderá propor, pela quarta vez, nova ação contra o réu
com o mesmo objeto (CPC, art. 486, §3º). Reconhecendo a perempção o juiz deverá
extinguir a ação sem resolução de mérito (CPC, art. 485, V).

iv. Conexão: Ocorre quando duas ou mais ações tiverem em comum o pedido ou
a causa de pedir (CPC, art. 55). Esse fenômeno pode produzir a modificação de
competência relativa por meio da reunião dos processos para decisão conjunta,
evitando assim a prolação de decisões conflitantes ou contraditórias sobre um mesmo
tema (harmonização dos julgados). Um segundo benefício da conexão é, sem dúvidas, a
economia processual.

Sobre a conexão devemos fazer alguns apontamentos que estão previstos no


Novo CPC. Primeiro, o legislador deixa claro os processos não deverão ser reunidos
quando um deles já houver sido sentenciado. Ainda, é possível a reunião por conexão
de execução de título extrajudicial e ação de conhecimento relativa ao mesmo título, ou
entre execuções fundadas no mesmo título. Por fim, talvez a grande novidade do novo
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código, a possibilidade de reunir processos que não são conexos (pelo pedido ou causa
de pedir), mas apenas semelhantes quanto às suas características, quando possam gerar
risco de prolação de decisões conflitantes ou contraditórias caso decididos
separadamente.

Importa sempre lembrar que a reunião de processos por conexão não é


obrigatória, mas uma faculdade do juiz, que deverá analisar a sua conveniência para o
caso concreto. É possível imaginar situações em que a reunião dos processos não
cumpra com seus objetivos (economia e harmonização das decisões) e ainda
comprometa o exercício da ampla defesa de uma das partes.

v. Continência: Dá-se a continência quando houver duas ou mais ações com


mesmas partes e causa de pedir, mas o pedido de uma, por ser mais amplo, abranger o
pedido das demais (ex.: uma ação que tenha por objeto a inadimplência de uma parcela,
e outra ação que tenha por objeto a inadimplência de todo o contrato). Observe que a
continência é uma espécie de conexão qualificada, pois exige a identidade da causa de
pedir e, além disso, identidade de partes e que o pedido de uma seja mais amplo e
abranja o pedido da outra.

Difícil imaginar que dois processos assim tramitem separadamente, por isso, o
efeito da continência será a reunião dos processos para que sejam decididos
simultaneamente. Todavia, nem sempre o efeito será esse. Novidade do Novo CPC, o
artigo 57 determina que quando houver continência e a ação continente (mais
abrangente) tiver sido proposta anteriormente, no processo relativo à ação contida
(menos abrangente) será proferida sentença sem resolução de mérito.

De acordo com o Novo CPC, ainda, em se tratando de conexão ou continência, as


ações propostas em separado serão reunidas no juízo prevento. A novidade fica por
conta do critério de definição da prevenção, que não é mais a citação válida, e sim o
registro ou a distribuição da petição inicial (arts. 58 e 59).

4. EXCEÇÃO

Considerando que todos temos o Direito de Ação em sentido amplo, sem


quaisquer requisitos (acesso à justiça), e em sentido estrido, desde que preenchidas as
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condições da ação (teoria eclética), e considerando também que o Estado não pode se
recusar a apreciar e julgar demandas que lhe sejam propostas (inafastabilidade da
jurisdição), é evidente que deve ser garantido ao réu o amplo direito de se defender.

Esse é, portanto, o terceiro pilar e instituto fundamental do processo civil: a


exceção. A lei garante ao réu o direito de saber da existência de processo contra ele, ter
informações sobre o seu conteúdo, impugnar a pretensão do autor e apresentar todos
os argumentos que entender necessários para o convencimento do juiz.

Apenas a título de esclarecimento, a expressão exceção pode ser aplicada no


processo civil de duas formas diferentes. A primeira acepção, em sentido amplo,
constitui sinônimo de defesa (instituto fundamental do processo civil). A segunda
acepção do termo, em sentido estrito, exceção é apenas uma das formas de se defender,
a qual era utilizada para as defesas de ordem privada, que não podem ser conhecidas
de ofício e estão subordinadas aos efeitos da preclusão. Grande mudança trouxe o Novo
CPC acerca das exceções em sentido estrito.

Por ora, apenas tratando sobre a teoria geral do processo, essas observações são
suficientes para o nosso estudo. Falaremos com mais profundidade sobre o direito de
defesa, apresentando suas classificações, modalidades e novidades do CPC/15, quando
tratarmos sobre a resposta do réu no processo de conhecimento.

5. PROCESSO

O processo, como bem define a melhor doutrina, é o instrumento da jurisdição. A


todos é garantido acessar a justiça e receber do Estado uma decisão que pacifique
conflitos. Ao autor é resguardado o direito de petição e de ação (se preencher as
condições da ação). Ao réu é resguardado conhecer da existência do processo, saber seu
conteúdo e impugnar a pretensão do autor.

Pois bem. Todos esses atos e manifestações são desenvolvidos dentro de um


processo. Por isso afirmamos que o processo, um dos institutos fundamentais do direito
processual civil, é o instrumento através do qual os sujeitos se relacionam, o autor
peticiona, o réu se defende (ou contra-ataca) e o juiz despacha, profere decisões
interlocutórias e sentencia.
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Do ponto de vista objetivo, no processo estão encadeados, de forma lógica e
previamente estabelecida por lei, todos os atos desenvolvidos ao longo da relação
processual, até que se alcance o objetivo final que é o provimento jurisdicional.
Subjetivamente, podemos considerar que o processo é o instrumento que une o juiz e
as partes. O processo não é um fim em si mesmo (princípio da instrumentalidade).

5.1. Processo X Procedimento

Não podemos confundir as expressões “processo” e “procedimento”. Processo é


o instrumento da jurisdição, que une os sujeitos processuais e onde os seus atos são
realizados. Procedimento, por sua vez, é a forma como o processo se desenvolverá no
tempo, é a forma como a lei determina que os atos processuais estão concatenados.

Assim, na maioria das vezes, o processo segue e se desenvolve de acordo com o


rito traçado pelo procedimento comum, podendo às vezes seguir procedimentos
especiais. Mais uma vez citando Marcus Vinicius Rios Gonçalves, “uma coisa é o conjunto
de atos; outra, a forma mais ou menos rápida, comum ou incomum, pela qual eles se
encadeiam no tempo”9. Quanto mais complexo for o procedimento, por admitir grande
número de diferentes atos, maior será a duração do processo.

O procedimento comum, que será estudado mais detalhadamente nas aulas


seguintes, segue a seguinte ordem: 1º) petição inicial; 2º) audiência de conciliação ou
mediação; 3º) contestação; 4º) réplica; 5º) saneamento; 6º) audiência de instrução e
julgamento; 7ª) memoriais/alegações finais; 8º) sentença.

Diferentemente, quanto mais simplificado for o procedimento, mais curta é a


duração do processo, conferindo à parte a prestação jurisdicional almejada com maior
brevidade, característica marcante dos procedimentos especiais (ex. ações possessórias,
embargos de terceiros, inventário e partilha, consignação em pagamento, monitória e
etc.). Não podemos deixar de destacar, ainda, que os Juizados Especiais Cíveis seguem
procedimento próprio previsto na lei 9.099/95.

9
GONÇALVES. Marcus Vinicius Rios. Direito Processual Civil Esquematizado – 9ªed. São Paulo:
Saraiva, 2018, p. 186.
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Como podemos observar, o Novo CPC trouxe por novidade a extinção da
classificação do procedimento comum em rito ordinário e rito sumário. Isso não existe
mais. Atualmente está previsto apenas o procedimento comum e diversos outros
procedimentos especiais.

ATENÇÃO: Não existe mais rito ordinário e sumário. O Novo CPC enuncia um procedimento
comum e vários outros procedimentos especiais.

5.2. Espécies de Processo

O Novo CPC prevê a existência de duas espécies de processo, classificadas de


conformidade com a tutela jurisdicional pretendida pela parte. O primeiro é o processo
de conhecimento, cujo objetivo é que o juiz conheça dos fatos com profundidade
(cognição exauriente) e ao final diga o direito. Aqui existe uma crise quanto à certeza do
direito. O autor pretende que o seu direito seja reconhecido, de tal modo a constituir ou
desconstituir uma relação jurídica, declarar a sua existência, ou condenar o réu.

A segunda espécie é o processo de execução, onde não há dúvidas quanto à


certeza do direito, residindo o problema apenas no âmbito da satisfação. A crise é de
inadimplemento. O direito é certo, todavia o executado está sendo demandado por não
ter satisfeito voluntariamente a pretensão do exequente.

É imperioso notar que o processo cautelar, enquanto instituto autônomo, foi


extinto do ordenamento jurídico, assim como as medidas cautelares. Não existe mais
aquela ideia de um processo cautelar em autos apartados e um outro processo principal.

Todavia, precisamos tomar muito cuidado, pois, muito embora o Novo CPC tenha
suprimido a autonomia do processo cautelar, ainda existe a tutela cautelar. O que
acontece é que o pedido cautelar agora deve ser feito no próprio processo de
conhecimento ou de execução, nos moldes de uma tutelar de urgência, que poderá ser
antecedente ou incidental.

Se o processo de conhecimento versa sobre a propriedade de um automóvel, por


exemplo, pode o autor pleitear o sequestro do bem para que ele não deteriore ou seja
danificado pelo réu. Igualmente, num processo de execução de título extrajudicial, pode
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o exequente requerer que sejam arrestados bens do executado a fim de garantir a
satisfação do crédito.

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