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Direito Civil Esquematizado

Professor Stanley Costa

Aula 02 – Classificação do Negócio Jurídico


Sumário: 1. Notas Introdutórias – 2. Classificação dos Negócios Jurídicos – 2.1.
Quanto às manifestações de vontade dos envolvidos – 2.2. Quanto às
vantagens patrimoniais – 2.3. Quanto aos efeitos temporais – 2.4. Quanto à
formalidade – 2.5. Quanto à independência – 2.6. Quanto ao momento de
aperfeiçoamento – 2.7. Quanto ao momento de execução – 2.8. Quanto à
pessoalidade – 2.9. Quanto à tipicidade.

1. NOTAS INTRODUTÓRIAS
Conforme já estipulado anteriormente, negócio jurídico é uma categoria de ato
jurídico lícito, geralmente bilateral (mas que pode ser unilateral), que tem por objetivo
criar, modificar, conservar, transmitir ou extinguir direitos ou relações jurídicas. A
vontade humana tem grande destaque nesse âmbito, pois determina a criação do
negócio jurídico e os efeitos que ele produzirá (eficácia ex voluntate), limitada à boa-fé,
moral, bons costumes, função social e norma prevista em lei. Por isso, diz-se que o
negócio jurídico é a principal forma de manifestação da autonomia privada.

Vale lembrar que a possibilidade de regramento sobre as consequências, exercido


pelas próprias partes, é o que diferencia o negócio jurídico do ato jurídico em sentido
estrito (meramente lícito), em que a vontade é tão só o fato gerador, uma vez que os
efeitos estão pré-fixados na lei (eficácia ex lege).

Conforme o sempre didático magistério de Luciano Figueiredo e Roberto


Figueiredo:

No negócio jurídico, a vontade humana não só é o fato gerador, como


também determina os seus efeitos. Nele, o exercício da autonomia privada é
pleno. Exemplificam-se com as declarações unilaterais de vontade, os
contratos e o testamento. O ato humano volitivo não adere simplesmente a
um conjunto de efeitos pré-fixados, indo além, possibilitando a
autodeterminação das partes negociantes1.

Semelhantemente, conceituam Pablo Stolze e Rodolfo Pamplona: “Negócio


jurídico é a declaração de vontade, emitida em obediência aos seus pressupostos de

1
FIGUEIREDO, Luciano e FIGUEIREDO Roberto. Direito Civil – Parte Geral. Salvador: JusPodivm,
2018, p. 432.
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existência, validade e eficácia, com o propósito de produzir efeitos admitidos pelo
ordenamento jurídico pretendidos pelo agente.

2. CLASSIFICAÇÃO DOS NEGÓCIOS JURÍDICOS


Os negócios jurídicos são classificados de várias formas e em várias espécies, cada
qual com regras específicas e alguns efeitos próprios. Por tratar-se de tarefa teórica, a
doutrina não se mostra uniforme quanto às espécies, mas algumas figuras principais são
sempre lembradas, as quais pretendemos destacar aqui.

2.1. Quanto às manifestações de vontade dos envolvidos

a) Unilateral: Considera-se negócio jurídico unilateral aquele em que a declaração


de vontade de uma só pessoa é suficiente para o seu aperfeiçoamento. São exemplos
desta espécie o testamento, o codicilo, a promessa de recompensa, a instituição de
fundação, a renúncia de um crédito e etc.
Os negócios jurídicos unilaterais podem ser receptícios ou não receptícios. Os
negócios jurídicos unilaterais receptícios são aqueles em que a vontade do agente deve
ser conhecida pelo destinatário para que produza os devidos efeitos (ex.: promessa de
recompensa e revogação de mandato). Negócios jurídicos unilaterais não receptícios
são aqueles em que o conhecimento do destinatário é irrelevante (ex.: testamento).
b) Bilateral: Aquele que se aperfeiçoa com duas manifestações de vontade
coincidentes sobre o objeto, o que chamamos de acordo de vontades ou
consentimento mútuo. É o caso, por exemplo, da grande maioria dos contratos e do
casamento (corrente majoritária).
Os negócios jurídicos bilaterais podem ser simples ou sinalagmáticos. Negócio
jurídico bilateral simples é aquele em que, apesar da presença de dois sujeitos, apenas
um deles assume obrigações, sendo o outro apenas beneficiado pela avença (ex.:
doação; comodato; depósito gratuito e etc.). No sentido oposto, o negócio jurídico
sinalagmático é aquele em há reciprocidade de obrigações e vantagens, como nos
contratos em que ambas as partes são devedores e credoras uma da outra (ex.: compra
e venda, locação, permuta e etc.).

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c) Plurilateral: Negócio jurídico em que há mais de duas declarações de vontade,
como ocorre, por exemplo, no contrato social e nos consórcios.

2.2. Quanto às vantagens patrimoniais:

a) Gratuito: Negócio jurídico que se perfaz como ato de liberalidade, em que o


proveito econômico se dá em benefício de apenas um dos agentes, tal qual acontece na
doação pura e simples e no comodato.
b) Oneroso: Negócio jurídico em que ambas as partes auferem vantagens e
sofrem sacrifícios patrimoniais. Cada uma das partes se sujeita a dar ou fazer algo em
proveito do outro. Existe prestação e contraprestação, sacrifícios e benefícios
recíprocos. São exemplos os contratos de compra e venda, a locação e a empreitada.
c) Neutro: É o negócio jurídico que não pode ser classificado como gratuito ou
oneroso, tendo em vista que não possui caráter patrimonial, é o caso da instituição de
um bem de família voluntário, de uma cláusula de incomunicabilidade ou
inalienabilidade. Alguns doutrinadores incluem nesta categoria os negócios jurídicos
que envolvem bens fora do comércio, que possuem natureza despatrimonializada,
como a doação de sangue ou de órgãos.
d) Bifronte: Aquele que pode ser gratuito ou oneroso a depender da vontade das
partes. O tipo de negócio jurídico, por si só, não é capaz de revelar a sua gratuidade ou
onerosidade, mas tão só a vontade das partes concretamente manifestadas.
Exemplifica-se com o mandato, o mútuo e o depósito.

2.3. Quanto aos efeitos temporais:

a) Inter vivos: Negócio jurídico destinado a produzir efeitos com os interessados


em vida, como a compra e venda, a promessa de recompensa, a locação e os contratos
em geral.
b) Mortis causa: Negócio jurídico cujos efeitos serão produzidos apenas após a
morte de determinada pessoa. Exemplos: testamento, codicilo e doação estipulada em
pacto antenupcial para depois da morte do doador.

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2.4. Quanto à formalidade:

a) Informal (não solene): É o negócio jurídico de forma livre. Não se exige


qualquer formalidade, constituindo-se pela simples manifestação de vontade dos
contratantes. Urge destacar que, nos termos do artigo 107 do Código Civil, a
manifestação de vontade não depende de formas, salvo quando a lei expressamente a
exigir. Desse modo, conclui-se que o sistema contratual brasileiro adotou o princípio da
liberdade de formas.
b) Formal (solene): aquele que deve observar forma prescrita em lei, sob pena de
invalidade. Em certas situações basta a forma escrita, caso da fiança (CC, art. 819),
noutras faz-se necessário observar solenidade pública, caso dos negócios jurídicos de
alienação de imóvel com valor superior a trinta vezes o maior salário mínimo vigente no
País (CC, art. 108 – é indispensável a escritura pública).

2.5. Quanto à independência:

a) Principal: Negócio jurídico que existe em si mesmo e que, por isso, não possui
qualquer relação de dependência para com outro pacto. Exemplos: compra e venda,
permuta, locação e etc.
b) Acessório: Aquele cuja existência e validade depende de um outro negócio,
chamado principal. Exemplos: fiança, cláusula penal, pacto antenupcial, penhor,
hipoteca, anticrese e etc.

2.6. Quanto ao momento de aperfeiçoamento:

a) Consensual: Que se forma pela simples manifestação de vontade das partes.


Existem e são válidos no exato momento em que as partes entram em consenso, o que
ocorre com a aceitação da proposta. São exemplos de contratos consensuais a compra
e venda, a doação, a locação e o mandato.
b) Real: Aquele em que se aperfeiçoa com a entrega da coisa (traditio rei) que lhe
serve de objeto, não sendo suficiente apenas a manifestação de vontade. Esse é o caso
dos contratos de comodato, mútuo e depósito.

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2.7. Quanto ao momento de execução:

a) Execução instantânea: Aquele em que a prestação deve ser cumprida por meio
de um único ato (de uma só vez) realizado imediatamente após sua constituição (quae
unico actu perficiuntur). Nessa modalidade o momento de conclusão do negócio jurídico
(acordo de vontades) coincide com o momento de execução (cumprimento da
obrigação) do mesmo. Citamos como exemplo de negócio jurídico de execução
instantânea a compra e venda de pagamento à vista.
b) Execução diferida: cuja prestação é cumprida em um único ato (de uma só vez),
contudo este ato é realizado apenas em momento futuro, fato que os diferencia da
espécie anterior. O momento de conclusão do contrato é distinto do momento da
execução das prestações. Desta forma, pode ser diferida a obrigação do comprador que
programa o pagamento para trinta dias, ou que paga com cheque pós-datado (embora
seja ordem de pagamento à vista); ou, inversamente analisando, a obrigação de
vendedor que se compromete em fazer a entrega do bem no prazo de 30 dias.
c) Trato sucessivo: Negócio jurídico de execução periódica ou continuada, cujas
prestações são cumpridas em atos reiterados, em parcelas contínuas, em etapas. Trata-
se de obrigação que se protrai no tempo. São exemplos desta modalidade aquela
assumida na compra e venda a prazo, no contrato de locação, no consumo de água ou
de energia elétrica e etc. Especificamente no contrato de locação, que é sinalagmático,
vale fazer menção que a prestação do locador é periódica porque cede o uso e gozo
contínuo do bem, da mesma forma que é periódica a prestação do locatário porque paga
reiteradamente os alugueres.

2.8. Quanto à pessoalidade:

a) Pessoal: O negócio jurídico pessoal (personalíssimo ou intuitu personae) é


aquele em que a pessoa do contratante é elemento indispensável à sua celebração. Por
consequência, essa modalidade não autoriza a modificação do sujeito, seja por ato inter
vivos ou causa mortis. Por exemplo, temos o contrato de fiança, considerando que a condição
de fiador não é transmissível por herança, mas apenas os débitos vencidos e não pagos
enquanto o fiador era vivo (CC, art. 836).

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b) Impessoal: Negócio jurídico em que a pessoa do negociante não é relevante para a sua
formação. As partes unem-se em razão do objeto que está sendo contratado e não em razão do
sujeito com quem estão contratando. Os exemplos que citamos são, compra e venda, locação e
depósito.

2.9. Quanto à tipicidade:

a) Típico: Aquele que encontra expressa previsão na lei. São espécies negociais
com nomen iuris, ou seja, possuem disciplina e regulamentação legal. São exemplos
dessa modalidade, os contratos de compra e venda, troca, contrato estimatório, doação,
locação de coisas, empréstimo e etc.
b) Atípico: Negócio jurídico que não possui expressa previsão legal. Não são
disciplinados ou regulamentados pelo Código Civil ou lei extravagante, todavia, são
autorizados em razão do princípio da autonomia privada. De acordo com artigo 425 do
Código Civil é lícita a criação de contratos atípicos, desde que observadas as normas
gerais fixadas por lei, ou seja, desde que não contrarie norma expressa e não atente
contra os costumes, a boa-fé objetiva e a função social.

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