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O presente artigo visa apresentar e analisar as diversas classificações dos negócios jurídicos, por diversos

importantes doutrinadores do Direito Civil Brasileiro, como Maria Helena Diniz, Carlos Roberto Gonçalves e Silvio
de Salvo Venosa, e, ao fim, traçar uma comparação entre tais classificações, tendo em vista que há certa
controvérsia entre tais.

· Classificação segundo Maria Helena Diniz:

1) Quanto às vantagens que produzem, podem ser gratuitos, onerosos, bifrontes e neutros.

Gratuitos são os negócios em que as partes obtém benefícios ou enriquecimento patrimonial sem qualquer
contraprestação (por exemplo, doações); são onerosos quando os sujeitos visam, reciprocamente, obter
vantagens para si ou para outrem (desse modo, se suas prestações forem equivalentes e certas, são chamados
de comutativos, como compra e venda, se não o forem, serão aleatórios, como contrato de seguro); bifrontes,
se, conforme a vontade das partes, puderem ser gratuitos ou onerosos, sem que sua configuração jurídica fique
atingida, como o depósito ou o mútuo; neutros são os que lhes faltam atribuição patrimonial, visto terem os
bens sobre os quais recaem uma distinção específica, como, por exemplo, ato de instituição de bem de família.

2) Quanto às formalidades, podem ser solenes e não solenes.

Solenes são os negócios que requerem para sua existência forma especial, prescrita em lei, como o testamento;
não solenes, se não exigirem forma legal para sua efetivação, como a compra e venda de bem móvel.

3) Quanto ao conteúdo, em patrimoniais e extrapatrimoniais.

Patrimoniais são os que versam sobre questões suscetíveis de aferição econômica, podendo apresentar-se ora
como negócios reais, ora como negócios obrigacionais; extrapatrimoniais, se atinentes aos direitos
personalíssimos e ao direito de família.

4) Quanto à manifestação da vontade, se classificam em unilaterais, bilaterais e plurilaterais.

Unilaterais, se o ato volitivo provier de um ou mais sujeitos, desde que estejam na mesma direção colimando um
único objetivo (testamento e renúncia, por exemplo), subdividindo-se em receptícios (se os seus efeitos só se
produzirem após o conhecimento da declaração pelo destinatário) e não receptícios (se sua efetivação
independer do endereço a certo destinatário, como a renúncia de herança); bilaterais ou plurilaterais, conforme
a declaração volitiva emane de duas ou mais pessoas, porém dirigidas em sentido contrário, podendo ser
simples, quando concederem benefício a uma das partes e encargo à outra (doação e depósito gratuito, por
exemplo), e sinalagmáticos, quando conferirem vantagens e ônus a ambos os sujeitos, como locação.

5) Quanto ao tempo em que produzem seus efeitos, podem ser inter vivos ou causa mortis.
São inter vivos se acarretarem consequências jurídicas em vida dos interessados (doação, mandato, por
exemplo); mortis causa se regularem relações de direito após a morte do sujeito, como testamento e legado.
6) Quanto aos seus efeitos, em constitutivos e declarativos.

Constitutivos, se sua eficácia operar-se ex nunc, ou seja, a partir do momento da conclusão, como compra e
venda; declarativos são aqueles em que a eficácia é ex tunc, ou seja, só se efetiva a partir do momento em que
se operou o fato a que se vincula a declaração de vontade (por exemplo, divisão do condomínio e partilha).
7) Quanto à existência, em principais e acessórios.
Principais, se existirem por si mesmos, independentemente de qualquer outro, como locação; acessórios, se sua
existência subordinar-se à dos principais, como fiança.

8) Quanto ao exercício dos direitos, podem ser negócios de disposição e de simples administração.

Negócios de disposição são os que se implicam o exercício de amplos direitos sobre o objeto, como doação;
Negócios de simples administração são os concernentes ao exercício de direitos restritos sobre o objeto, sem
que haja alteração em sua substância (mútuo, locação de uma casa, por exemplo).

· Classificação segundo Carlos Roberto Gonçalves:

1) Quanto ao número de declarantes, os negócios jurídicos classificam-se em: unilaterais, plurilaterais e


bifrontes.

Unilaterais são os que se aperfeiçoam com uma única manifestação da vontade, como no testamento, codicilo,
renúncia de direitos, etc.

Subdividem-se em receptícios e não receptícios. Receptícios são aqueles em que a declaração da vontade tem de
se tornar conhecida do destinatário para produzir efeitos, como sucede na renúncia ou resilição de um contrato,
na revogação de mandato etc. Não receptícios são aqueles em que o conhecimento por parte de outras pessoas
é irrelevante, como se dá no testamento, confissão etc.

Bilaterais são os que se perfazem com duas manifestações da vontade coincidentes sobre o objeto.

Subdividem-se em bilaterais simples e sinalagmáticos. Simples são aqueles em que somente uma das partes
aufere vantagens, enquanto a outra arca com o ônus, como ocorre na doação e no comodato, por exemplo.
Sinalagmáticos são aqueles em que há reciprocidade de direitos e obrigações, como na compra e venda e na
locação.

Plurilaterais são os contratos que envolvem mais de duas partes, como o contrato de sociedade e os consórcios
de bens móveis e imóveis.

2) Quanto às vantagens patrimoniais que podem produzir, os negócios jurídicos classificam-se em gratuitos e
onerosos, neutros e bifrontes.

Negócios jurídicos gratuitos são aqueles em que só uma das partes aufere vantagens ou benefícios, como sucede
na doação pura e no comodato, por exemplo.

Nos onerosos ambos os contratantes auferem vantagens, às quais, porém, corresponde um sacrifício ou
contraprestação. É o que se passa com a compra e venda, a locação, a empreitada etc.

Os contratos onerosos subdividem-se em comutativos e aleatórios. Comutativos são os de prestações certas e


determinadas. As partes podem antever as vantagens e os sacrifícios decorrentes de sua celebração, porque não
envolvem nenhum risco. Já os contratos aleatórios caracterizam-se pela incerteza sobre as vantagens e
sacrifícios que deles podem advir, pois a perda ou o lucro dependem de um fato futuro e imprevisível.
Há negócios que não podem ser incluídos na categoria dos onerosos, nem dos gratuitos, pois lhes falta atribuição
patrimonial. São chamados de neutros e se caracterizam pela destinação do bem. Como exemplos, temos o
negócio que torna o bem indisponível pela cláusula de inalienabilidade e o que impede sua comunicação ao
outro cônjuge, mediante cláusula de incomunicabilidade. A instituição do bem de família, a renúncia abdicativa e
a doação remuneratória também podem ser lembrados como negócios neutros.

Bifrontes são os contratos que podem ser onerosos ou gratuitos, segundo a vontade das partes, como o mútuo,
o mandato, o depósito.

3) Levando-se em conta o momento da produção dos efeitos, os negócios jurídicos dizem-se inter vivos e causa
mortis.

Os negócios inter vivos destinam-se a produzir efeitos desde logo, isto é, estando as partes ainda vivas, como a
promessa de compra e vende, a locação, a permuta, o mandato, o casamento, etc.
Mortis causa são os negócios destinados a produzir efeitos após a morte do agente, como ocorre com o
testamento, o codicilo, a doação estipulada em pacto antenupcial para depois da morte do testador.

4) Quanto ao modo de existência, os negócios jurídicos denominam-se principais e acessórios.

Principais são os que têm existência própria e não dependem de qualquer outro, como a compra e venda, a
locação, a permuta etc.

Acessórios são os que têm sua existência subordinada à do contrato principal, como se dá com a cláusula penal,
a fiança, o penhor e a hipoteca, por exemplo. Em consequência, como regra seguem o destino do principal, salvo
estipulação em contrário na convenção ou na lei. Desse modo, a natureza do acessório é a mesma do principal.
Extinta a obrigação principal, extingue-se também a acessória; mas o contrário não é verdadeiro.

Negócios derivados ou subcontratos são os que têm por objeto direitos estabelecidos em outro contrato,
denominado básico ou principal (sublocação e subempreitada, por exemplo). Têm em comum com os acessórios
o fato de que ambos são precedentes de outro. Diferem, porém, pela circunstância de o derivado participar da
própria natureza do contrato-base.

Nesta espécie de avença, um dos contratantes transfere a terceiro, sem se desvincular, a utilidade
correspondente à sua posição contratual. O locatário, por exemplo, transfere a terceiro os direitos que lhe
assistem, mediante a sublocação. O contrato de locação não se extingue. E os direitos do sublocatário terão a
mesma extensão dos direitos do locatário, que continua vinculado ao locador.

5) Em relação às formalidades a observar, podem ser solenes (formais) e não solenes (de forma livre).

Solenes são os negócios jurídicos que devem obedecer à forma prescrita em lei para se aperfeiçoarem (a forma é
exigida como condição de validade do negócio), como o testamento e a renúncia da herança (formalidade ad
solemnitatem ou ad substantium) e a lavratura do assento do casamento no livro de registro, determinada no
art. 1.536 do Código Civil (formalidade ad probationem tantum).
Não solenes são os negócios de forma livre, ou seja, basta o consentimento para sua formação (a lei não reclama
nenhuma formalidade para seu aperfeiçoamento, podendo ser celebrados, inclusive, de forma verbal), como os
contratos de locação e de comodato. Em regra, os contratos têm forma livre, salvo expressas exceções.

6) Quanto ao número de atos necessários, classificam-se em simples, complexos e coligados.


Simples são aqueles que se constituem por ato único; Complexos são os que resultam da fusão de vários atos
sem eficácia independente, compondo-se de várias declarações de vontade, que se completam, emitidas pelo
mesmo sujeito, ou diferentes sujeitos, para a obtenção dos efeitos pretendidos na sua unidade, como a
alienação de um imóvel em prestações, que se inicia pela celebração de um compromisso de compra e venda,
mas se completa com a outorga da escritura definitiva. Dá-se a complexidade objetiva quando as várias
declarações de vontade, que se completam, são emitidas pelo mesmo sujeito tendo em vista o mesmo objeto; a
complexidade subjetiva se caracteriza pela pluralidade de declarações de diferentes sujeitos, mas convergindo
para o mesmo objeto.

Os negócios jurídicos coligados são os que se compõe de vários outros, de modo a existir uma multiplicidade de
negócios, conservando cada qual a fisionomia própria, mas havendo um nexo que os reúne (por exemplo, o
arrendamento de posto de gasolina, coligado pelo mesmo instrumento ao contrato de locação das bombas, de
comodato da área para funcionamento de lanchonete, de fornecimento de combustível, de financiamento etc.).

7) Em relação às modificações que pode produzir, os negócios jurídicos classificam-se em dispositivos e


obrigacionais.

Os dispositivos são utilizados pelo titular para alienar, modificar ou extinguir direitos, como, por exemplo,
conceder remissão de dívida, operar a tradição; São negócios jurídicos obrigacionais os que, por meio de
manifestações da vontade, geram obrigações para uma ou ambas as partes, possibilitando a uma delas exigir da
outra o cumprimento de determinada prestação, como sucede nos contratos em geral. Frequentemente, o
negócio dispositivo completa o obrigacional.

8) Quanto ao modo de obtenção do resultado, o negócio pode ser fiduciário e simulado.

Negócio fiduciário é aquele que caracteriza-se pela circunstância de que o meio utilizado transcende o fim
perseguido, não se compatibilizando o aspecto econômico com o aspecto jurídico do negócio (o meio excede o
fim; visam as partes um fim prático, realizando um negócio cujos efeitos ultrapassam os objetivos do que foi
celebrado). O negócio fiduciário é lícito e sério, perfeitamente válido, que se desdobra em duas fases: na
primeira, ocorre verdadeiramente a transmissão de um direito pertencente ao fiduciante; na segunda, o
adquirente fiduciário se obriga a restituir o que recebeu, ou seu equivalente.

O negócio simulado é o que tem a aparência contrária a realidade. Embora nesse ponto haja semelhança com o
negócio fiduciário, as declarações de vontade no simulado são falsas: as partes aparentam conferir direitos a
pessoas diversas daquelas a quem realmente conferem ou fazem declarações não verdadeiras, fraudando a lei
ou o Fisco. Logo, sabe-se que o negócio simulado não é valido.

· Classificação segundo Silvio de Salvo Venosa:

1) Unilaterais, bilaterais e plurilaterais.

Unilaterais são aqueles para os quais é suficiente e necessária uma única vontade para a produção de efeitos
jurídicos, como é o caso típico do testamento. São de duas espécies os negócios jurídicos unilaterais: negócios
jurídicos receptícios, aqueles cuja manifestação da vontade depende do conhecimento de outra pessoa, isto é, a
vontade deve ser dirigida e conhecida por outrem, como, por exemplo, a revogação de um mandato, e não
receptícios, para os quais o conhecimento por parte de outrem é irrelevante, como, por exemplo, o testamento
e a confissão de dívida.

Bilaterais são negócios que dependem sempre da manifestação de duas vontades, e plurilaterais, de mais de
duas vontades. São estes, por excelência, os contratos de conteúdo patrimonial.
2) Complexos.

Negócios jurídicos complexos são aqueles em que há um conjunto de manifestações de vontade, sempre mais de
uma, sem existirem interesses antagônicos, como o contrato de sociedade.

3) Causais e abstratos.

São negócios jurídicos causais os que estão vinculados à causa que se deve constar do próprio negócio, como é o
caso dos contratos, em geral. São abstratos os negócios que têm existência desvinculada de sua causa, de sua
origem, como é o caso dos títulos de crédito.

4) Onerosos e gratuitos.

Nos negócios onerosos, uma parte cumpre sua prestação para receber outra, como é o caso da compra e venda.
Nos gratuitos, só há prestação de uma das partes, por exemplo, doação.

5) Solenes e não solenes.

Negócios jurídicos solenes ou formais são aqueles que só têm validade se constituídos de uma determinada
forma, como é o caso dos contratos constitutivos ou translativos de direitos reais sobre imóveis de valor superior
ao mínimo previsto em lei.

Negócios jurídicos não solenes são os de forma livre.

6) Pessoais e patrimoniais.

Negócios jurídicos pessoais são os que se ligam às disposições da família, como o casamento, o reconhecimento
de filho, a emancipação. Patrimoniais são os que contêm um relacionamento com o patrimônio, como o
testamento e os contratos.

7) De pura administração e de disposição.

Negócios de pura administração são os que não implicam transferência do domínio ou disposição de direitos, e
os de disposição são os que implicam a transferência de direitos, havendo, aí, diminuição do patrimônio do
declarante.

8) Inter vivos e mortis causa.

São mortis causa os atos e negócios jurídicos que têm por finalidade regular o patrimônio de uma pessoa após
sua morte, como o testamento. São inter vivosos que não têm esse escopo, como a compra e venda.
Assim, conforme o acima exposto, é possível realizar a seguinte comparação entre os três autores:
As classificações de negócios jurídicos propostas por Silvio de Salvo Venosa, Maria Helena Diniz e Carlos Roberto
Gonçalves, podemos notar que há entre os três autores um consenso quanto à classificação pelos critérios de
formalidades (solenes e não solenes) e de tempo em que os negócios produzem efeitos ( inter vivos e causa
mortis).
Quanto às vantagens patrimoniais que produzem, Gonçalves e Diniz classificam os negócios da mesma forma,
qual seja, gratuitos e onerosos, neutros e bifrontes. Já Venosa se vale apenas dos gratuitos e onerosos,
descartando os neutros e bifrontes. É de se notar que, entre os três autores, Venosa é quem tem maior
preocupação em deixar a matéria simples e clara, em detrimento do conteúdo.

Quanto ao número de declarantes, novamente Gonçalves e Diniz concordam, ao classificar os negócios em


unilaterais, bilaterais e plurilaterais. Venosa concorda em partes; para ele essa classificação é válida, mas com a
ressalva de que se diferenciem os negócios plurilaterais dos complexos. Para ele, complexos são aqueles em que
as partes não têm interesses antagônicos entre si, como o caso da sociedade. Já para Gonçalves e Diniz, os
plurilaterais abrangem tanto os negócios em que as partes não têm interesses antagônicos entre si como os
negócios onde estes interesses antagônicos existem.

Complexos, para Gonçalves, são negócios que resultam de vários atos que, independentes, não teriam eficácia.
Eles entram em sua classificação dos negócios quanto ao número de atos necessários para seu aperfeiçoamento,
da qual fazem parte, além dos complexos, os simples e os coligados. Além dessas classificações, Gonçalves ainda
divide os negócios jurídicos em: dispositivos e obrigacionais (quanto às modificações que podem produzir),
fiduciários e simulados (quanto ao modo de obtenção do resultado) e principais, acessórios e derivados (quanto
ao modo de existência).

Maria Helena Diniz ainda se vale da classificação de Gonçalves quanto ao modo de existência dos negócios. Seu
livro, porém, não inclui nessa classificação os negócios derivados. As demais classificações dos negócios jurídicos
presentes em seu livro são: patrimoniais e extrapatrimoniais (quanto ao conteúdo), de disposição e de simples
administração (quanto ao exercício do direito) e constitutivos e declarativos (quanto aos seus efeitos).

Silvio de Salvo Venosa tem uma classificação em seu livro quanto ao conteúdo, assim como Maria Helena Diniz.
Ele, porém, substitui a nomeação extrapatrimoniais por pessoais. Venosa ainda separa os negócios jurídicos
entre de pura administração e de disposição, e entre causais e abstratos.

Desta feita, resta concluída a apresentação e a análise das diversas classificações, bem como a posterior
comparação entre tais, a fim de dirimir quaisquer dúvidas a respeito das diversas classificações de negócios
jurídicos.

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