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Teoria Geral do Direito Privado

Curso de Direito
1º semestre 2019
Professora Andresa Tatiana da Silva
Código Civil Brasileiro

LEI No 10.406, DE 10 DE JANEIRO DE 2002.


DOS NEGÓCIOS JURÍDICOS

Negócio jurídico (conceito e classificação).


Noções sobre os planos de existência, validade e
eficácia do negócio jurídico.
Da representação.
Elementos acidentais (condição, termo, encargo ou
modo): conceitos, espécies e efeitos jurídicos.
UNILATERAIS, BILATERAIS
E PLURILATERIAS:

a) Unilaterais – são os que se aperfeiçoam com uma


única manifestação de vontade (ex.: testamento,
codicilo, instituição de fundação, aceitação e renúncia
da herança, promessa de recompensa, etc.).
São de duas espécies:
- Receptícios – são aqueles em que a declaração de
vontade tem de se tornar conhecida do destinatário para
produzir efeitos (ex.: denúncia ou resilição de um contrato,
revogação de mandato, etc.).

- Não receptícios – são aqueles em que o conhecimento


por parte de outras pessoas é irrelevante (ex.: testamento,
confissão de dívida, etc.).
b) Bilaterais – são os que se perfazem com duas
manifestações de vontade, coincidentes sobre o objeto.
Essa coincidência chama-se consentimento mútuo ou
acordo de vontades(contratos em geral). Podem existir
várias pessoas no polo ativo e também várias no pólo
passivo, sem que o contrato deixe de ser bilateral pela
existência de duas partes. Em outras palavras, o que torna
o contrato bilateral é a existência de dois polos distintos,
independentemente do número de pessoas que integre
cada polo.

c) Plurilaterais – são os contratos que envolvem mais de


duas partes, ou seja, mais de dois polos distintos (ex.:
contrato social de sociedades com mais de dois sócios).
GRATUITOS, ONEROSOS
E BIFRONTES:

a) Gratuitos – são aqueles em que só uma das partes aufere vantagens


ou benefícios (ex.: doação pura).

b) Onerosos – são aqueles em que ambos os contratantes auferem


vantagens, às quais, porém, corresponde uma contraprestação (ex.:
compra e venda, locação, etc.). Conclui-se, portanto, que todo o negócio
oneroso é bilateral, mas a recíproca não é verdadeira (ex.: doação,
comodato). Os negócios jurídicos onerosos podem ser:

1. Comutativos – quando a prestação de uma parte depende de uma


contraprestação da outra, que é equivalente, certa e determinada.

2. Aleatórios – quando a prestação de uma das partes depende de


acontecimentos incertos e inesperados. A álea, a sorte, é elemento do negócio
(ex.: contrato de seguro).
c) Neutros – há negócios que não podem ser incluídos
na categoria dos onerosos, nem dos gratuitos, pois
lhes falta atribuição patrimonial. São chamados de
neutros e se caracterizam pela destinação dos bens.
Em geral, coligam-se aos negócios translativos, que
têm atribuição patrimonial, como por exemplo a
instituição das cláusulas de inalienabilidade e
incomunicabilidade.

d) Bifrontes – são os contratos que podem ser


onerosos ou gratuitos, segundo a vontade das partes
(ex.: mútuo, mandato, depósito, etc.).
“INTER VIVOS”
e “MORTIS CAUSA”

a) “Inter vivos” – destinam-se a produzir efeitos


desde logo, isto é, estando as partes ainda
vivas (ex.: promessa de venda e compra).

b) “Mortis causa” – são os negócios jurídicos


destinados a produzir efeitos após a morte do
agente (ex.: testamento).
PRINCIPAIS E ACESSÓRIOS:

a) Principais – são os negócios jurídicos que têm existência


própria e não dependem da existência de qualquer outro para
produzir efeitos (ex.: compra e venda, locação, etc.).

b) Acessórios – são os que têm sua existência subordinada


a um negócio jurídico principal (ex.: cláusula penal, fiança,
etc.), de forma que seguem o destino do principal (nulo este,
nulo também será o negócio acessório, sendo que a
recíproca não é verdadeira).
SOLENES OU FORMAIS
E NÃO SOLENES OU DE FORMA LIVRE:

a) Solenes ou formais – são os negócios jurídicos que devem


obedecer à forma prescrita em lei para que se aperfeiçoem. Quando a
forma é exigida como condição de validade do negócio, este é solene
e a formalidade é “ad solemnitatem”, isto é, constitui a própria
substância do ato (ex.: escritura pública na alienação de imóvel, no
testamento público, etc.). Mas determinada forma pode ser exigida
apenas como prova do ato. Nesse caso, se diz tratar-se de uma
formalidade “ad probationem tantum” (ex.: assento do casamento no
livro de registro – art. 1536).

b) Não solenes ou de forma livre – são os negócios jurídicos de forma


livre. Como a lei não reclama nenhuma formalidade para o seu
aperfeiçoamento, podem ser celebrados por qualquer forma, inclusive
a verbal (art. 107).
SIMPLES, COMPLEXOS E COLIGADOS:

a) Simples – são os negócios que se constituem por ato único.

b) Complexos – são os que resultam da fusão de vários atos com


eficácia independente. Compõem-se de várias declarações de vontade, que
se completam, emitidas pelo mesmo sujeito ou diferentes sujeitos, para a
obtenção dos efeitos jurídicos pretendidos na sua unidade (ex.: alienação de
um imóvel em prestações, que se inicia pela celebração de um compromisso
de compra e venda, e se completa com a outorga da escritura definitiva). O
negócio jurídico complexo é único e não se confunde com o coligado.

c) Coligados – são os que se compõem de vários outros negócios jurídicos


distintos (ex.: arrendamento de posto de gasolina, coligado pelo mesmo
instrumento ao contrato de locação das bombas, de comodato de área para
funcionamento de lanchonete, de fornecimento de combustível, de
financiamento, etc.).
DOS NEGÓCIOS JURÍDICOS

Negócio jurídico (conceito e classificação).


Noções sobre os planos de existência, validade e
eficácia do negócio jurídico.
Da representação.
Elementos acidentais (condição, termo, encargo ou
modo): conceitos, espécies e efeitos jurídicos.
CONCEITOS
• Negócio Jurídico é uma espécie do gênero ato jurídico em
sentido amplo.

• Pode ser entendido como toda ação humana, de


autonomia privada, com o qual o particular regula por si
os próprios interesses.

• Nele há uma composição de interesses.

• Os atos praticados pelos agentes foram previstos em lei e


desejados por eles.
CONCEITOS
Negócio Jurídico – art. 104/184 Elementos
Essenciais:
• Plano de existência: manifestação de vontade,
finalidade negocial e idoneidade do objeto
• Plano de validade: art. 104 – agente capaz, objeto
lícito, possível, determinado ou determinável,
forma prescrita e não defesa em lei;
• Plano de eficácia: pode ser imediata ou aguardar
a realização de um dos elementos acidentais:
condição, termo e encargo.
CONCEITOS
1. Quanto à
Manifestação a) Unilaterais
b) Bilaterais
de vontade

2. Quanto às a) Gratuitos
vantagens b) Onerosos

3. Quanto ao tempo
a) Inter vivos
em que devam
NEGÓCIO produzir efeitos b) Causa mortis

JURÍDICO 4. Quanto à a) Principais


subordinação b) Acessórios

5. Quanto a a) Solenes
formalidade b) Não solenes

a) Impessoais
6. Quanto às pessoas b) Intuitu personae
1. Quanto à manifestação da vontade:

➢ unilaterais – a declaração de vontade, feita por uma ou


mais pessoas, na mesma direção.

– Ex.: testamento, instituição de fundação, procuração,


renúncia de direitos, promessa de recompensa)

➢ bilaterais – duas manifestações de vontade, em sentido


oposto, porém há coincidência em relação ao objeto.

– Ex . Contratos.
2. Quanto às vantagens:

➢ gratuitos – só uma das partes aufere vantagem; Ex.:


doação pura; comodato.

➢ onerosos – ambos os celebrantes possuem ônus e


vantagens recíprocas.

– ATENÇÃO: Todo negócio oneroso é bilateral, porque a


prestação de uma das partes envolve uma contraprestação da
outra. Mas nem todo ato bilateral é oneroso. Ex. doação é
contrato e, portanto, negócio jurídico bilateral.
3. Quanto ao tempo em que devam produzir efeitos:

➢ inter vivos – destinados a produzir efeitos durante a vida


dos interessados;

➢ causa mortis – emitidos para gerar efeitos após a morte do


declarante

– 4. Quanto à subordinação:

➢ principais – são os negócios jurídicos que têm existência


própria e não dependem de nenhum outro;

➢ acessórios – aquele cuja existência subordina a um outro.


5. Quanto às formalidades:

➢ solenes – são celebrados de acordo com a forma prevista


na lei;

➢ não solenes – não dependem de forma rígida para sua


celebração.

– 6. Quanto à pessoa:

➢ impessoais – não importa quem sejam as partes;

➢ intuitu personae – aquele realizado de acordo com as


qualidades especiais de quem o celebra.
Interpretação dos negócios jurídicos

• Interpretar o negócio jurídico é, precisar o sentido e alcance


do conteúdo da declaração de vontade. Busca-se apurar a
vontade concreta das partes, não a vontade interna,
psicológica, mas a vontade objetiva, o conteúdo, as normas
que nascem da sua declaração.

• As Teoria da vontade e da declaração

Art. 112 do CC: “Nas declarações de vontade se atenderá mais à


intenção nelas consubstanciada do que ao sentido literal da
linguagem”.
Regras de Interpretação

O artigo112 do CC. estabelece, pois, uma regra de


interpretação destacando o elemento intenção sobre a
literalidade da linguagem. Cabe ao intérprete investigar qual
foi a real intenção dos contratantes na elaboração da cláusula
contratual duvidosa ou obscura.
Art. 113. Os negócios jurídicos devem ser interpretados conforme a boa-
fé e os usos do lugar de sua celebração

Art. 114. Os negócios jurídicos benéficos e a renúncia interpretam-se


estritamente.
Outros dispositivos: arts. 423, 819 e 1899 do CC. e art. 47 do CDC.
Regras de Interpretação

É possível distinguir, no mundo jurídico, os planos de


existência, validade e eficácia do negócio jurídico. Embora
esses vocábulos sejam empregados, muitas vezes, como
sinônimos, é importante precisar o significado de cada um.

O novo Código Civil não adotou a tricotomia existência –


validade – eficácia conhecida como Escada Ponteana
porque esses requisitos de existência se encontram na base do
sistema dos fatos jurídicos.
PLANOS DO NEGÓCIO JURÍDICO
PLANO DE EXISTÊNCIA PLANO DE VALIDADE PLANO DE EFICÁCIA
Elementos Estruturais: Elementos Essenciais Elementos Acidentais
Onde estão os elementos são os requisitos do art. 104 O plano de eficácia é onde
mínimos, os pressupostos de do CC. São condições os fatos jurídicos produzem
existência. Sem eles, o necessárias para o produza seus efeitos, pressupondo a
negócio não existe seus efeitos. Se o s possui é passagem pelo plano da
válido, se não os possui, o existência, não, todavia, pelo
negócio é inválido podendo plano da validade.
▪declaração de vontade ser nulo ou anulável . ▪Condição;
▪finalidade negocial; ▪Termo;
▪Agente capaz;
▪idoneidade do objeto. ▪Encargo ou modo
▪objeto lícito, possível,
No plano da existência não determinado ou
se indaga da invalidade ou determinável; As consequências do negócio
eficácia, importando apenas ▪forma prescrita ou não jurídico, seus efeitos práticos
a realidade da existência. no caso concreto
defesa em lei.
PLANO DE EXISTÊNCIA

– Os requisitos de existência são os seus elementos


estruturais

a) Manifestação de vontade:

b) Finalidade negocial

c) Idoneidade do objeto:
MANIFESTAÇÃO DE VONTADE

MANIFESTAÇÃO DE VONTADE: a vontade é o pressuposto


básico do negócio jurídico, que pode ser expressa, tácita e
presumida. O silêncio pode ser interpretado como manifestação
de vontade tácita quando a lei, as circunstâncias ou os usos o
autorizarem (CC. Art ). A vontade uma vez manifestada, obriga o
proporiente, segundo o princípio da obrigatoriedade dos
contratos (pacta sunt servanda), ao qual se opõe o da
onerosidade excessiva (art. 478 ). “A manifestação de vontade
subsiste ainda que o seu autor haja feito a reserva mental de
não querer o que manifestou, salvo se dela o destinatário tinha
conhecimento”
FORMAS DE MANIFESTAÇÃO DE VONTADE

▪ Expressa: é a que se realiza por meio da palavra, falada


ou escrita, e de gestos, sinais ou mímicas, de modo
explícito, possibilitando o conhecimento imediato da
intenção do agente.

– Ex. celebração de contratos verbais ou escritos, na


emissão de títulos de crédito, cartas, mensagens. Os
gestos e mímicas são utilizados principalmente pelos
surdos-mudos, bem como nos pregões da Bolsa de
Valores.
FORMAS DE MANIFESTAÇÃO DE VONTADE

▪ Tácita: é a declaração da vontade que se revela pelo


comportamento do agente.

– Ex. aceitação de herança, que se infere da prática de


atos próprios da qualidade de herdeiro (art. 1.805, CC) e
da aquisição de propriedade móvel pela ocupação (art.
1.263). Mas nos contratos, a manifestação de vontade só
pode ser tácita quando a lei não exigir que seja expressa.
FORMAS DE MANIFESTAÇÃO DE VONTADE

▪ Presumida: é a declaração não realizada


expressamente, mas que a lei deduz de certos
comportamentos do agente. Ex. As presunções de
pagamento previstas nos arts. 322, 323 e 324 do CC.;
aceitação da herança quando o doador fixar prazo ao
donatário para declarar se aceita ou não a liberalidade e
este se omitir (art. 539) e de aceitação da herança quando
o herdeiro for notificado a se pronunciar sobre ela em
prazo não maior de trinta dias e não o fizer (art. 1.807)
O silêncio como manifestação de vontade
Art. 111. O silêncio importa anuência, quando as circunstâncias ou os
usos o autorizarem, e não for necessária a declaração de vontade
expressa.
– O silêncio só poderá ser interpretado como manifestação
tácita da vontade:

▪ quando a lei conferir a ele tal efeito: é o que sucede na


doação pura, quando o doador fixa prazo ao donatário,
para declarar se aceita ou não a liberalidade. Desde que o
donatário ciente do prazo, não faça, dentro dele, a
declaração entender-se-á que aceitou.(CC, art. 539), ou
quando o herdeiro, notificado para dizer se aceita ou não a
herança, nos termos do art. 1.807, deixa transcorrer o
prazo fixado pelo juiz sem se manifestar.
O silêncio como manifestação de vontade

▪ quando tal efeito ficar convencionado em um pré-


contrato ou ainda resultar dos usos e costumes: como se
infere do ar. 432, CC
• “Se o negócio for daqueles em que não seja costume a
aceitação expressa, ou o proponente a tiver dispensado,
reputar-se-á concluído o contrato, não chegando a tempo a
recusa”.
• Cabe ao juiz examinar caso por caso para verificar se o
silêncio, no caso concreto, traduz ou não a vontade.
Reserva mental

Há reserva mental quando um dos contratantes reserva-se,


secretamente, a intenção de não cumprir o contrato.
A reserva mental é combatida no Código Civil no seu artigo 110,
onde dispõe que:
"a manifestação de vontade subsiste ainda que o seu autor haja
feito a reserva mental de não querer o que manifestou, salvo se dela
o destinatário tinha conhecimento“.
Ex. um autor declara que o produto da venda de seus livros será
para fins filantrópicos, mas faz isto unicamente para granjear
simpatia e assim fazer com que a venda seja boa; não poderá
depois voltar atrás e não destinar o valor auferido para o fim
anunciado.
Reserva mental

Ex. estrangeiro que, em situação ilegal no país, casa-se com uma mulher
da terra a fim de não ser expulso pelo serviço de imigração.
Ex. declaração do testador que, com a preocupação de prejudicar herdeiro,
dispõe em benefício de quem se diz falsamente devedor.

ATENÇÃO: A reserva mental, regra geral, é irrelevante, subsistindo a


validade do negócio jurídico. Mas, se conhecida da outra parte, gera a
inexistência do negócio jurídico, em face da ausência de vontade.
A reserva mental conhecida da outra parte não torna nula a declaração de
vontade, esta é inexistente.
Finalidade negocial ou jurídica:

▪ FINALIDADE NEGOCIAL OU JURÍDICA: é o propósito de


adquirir, conservar, modificar ou extinguir direitos.
• A existência do negócio jurídico depende da manifestação
de vontade com finalidade negocial.

▪ IDONEIDADE DO OBJETO: é necessária para a realização do
negócio que se tem em vista. Se a intenção das partes é
celebrar um contrato de mútuo, a manifestação de vontade
deve recair sobre coisa fungível. No comodato, o objeto
deve ser coisa infungível. Para constituição de hipoteca, é
necessário que o bem dado em garantia imóvel, navio ou
avião.
PLANO DE VALIDADE
Requisitos para a validade
Art . 104 A validade do negócio jurídico requer:
I – agente capaz;
II – objeto lícito, possível, determinado ou determinável;
III – forma prescrita ou não defesa em lei”

O negócio jurídico é uma emissão volitiva dirigida a um


determinado fim. Para que produza todos os efeitos, é
necessário que se revista de certos requisitos fáticos
referentes à pessoa do agente(capacidade do agente), ao
objeto da relação (a licitude do objeto) e à forma da emissão
da vontade (forma prescrita em lei).
A capacidade do agente

Capacidade do agente é a aptidão para intervir em


negócios jurídicos como declarante ou declaratário. A
incapacidade de exercício é suprida, porém pelos meios
legais: a representação e a assistência: (CC, art.1.634, V)
Para que o negócio jurídico ganhe plena eficácia
produzindo todos os seus efeitos, exige a lei que ele seja
praticado por agente capaz. Por agente capaz há que se
entender a pessoa capaz ou emancipada para os atos da
vida civil.
Objeto lícito, possível, determinado ou
determinável

A licitude está inserida no conceito. É o objeto que não


atenta contra a lei a moral e os bons costumes.
A possibilidade: O objeto também tem que ser possível.
Quando impossível o negócio é nulo.
Impossibilidade física: é a que emana de leis físicas ou
naturais; deve ser absoluta. Impossibilidade jurídica: quando
o ordenamento jurídico proíbe negócios à respeito de
determinado bem(art. 426)
O objeto também tem que ser determinado ou determinável.
A Forma

A vontade, manifestada pelas pessoas, pode ser verbal, por


escrito, ou através de gestos. Em numerosos casos a lei exige
das partes uma forma especial.
A regra geral é a forma livre.
“A validade da declaração de vontade – diz o art. 107 do CC -
não dependerá de forma especial, senão quando a lei
expressamente a exigir”.
Todas as exceções devem ser respeitadas, ou seja, se a lei
impuser forma especial, esta deverá ser atendida. Por
exemplo, a compra de uma casa à vista, deve ser através da
escritura pública. Se realizada por instrumento particular, não
tem validade, porque a lei impõe uma forma (CC, artigo 108).
DA REPRESENTAÇÃO

Representação é a possibilidade de outro praticar atos da vida


civil no lugar do interessado, de forma que o primeiro, o
representante, possa conseguir efeitos jurídicos para o segundo,
o representado, do mesmo modo que este poderia fazê-lo
pessoalmente. Pode ser legal ou voluntária. O representante é
um substituto do representado, porque o substitui não apenas na
manifestação externa, fática do negócio, como também na
própria vontade do representado.
ATENÇÃO: Quem age em nome de outrem sem poderes
pratica ato nulo ou anulável.
Regras da representação

O vigente Código Civil traz, em sua parte geral, disposições


gerais sobre a representação (arts. 115 a 120), distinguindo
o art. 115 essas duas formas de representação, conferidas
"por lei ou pelo interessado".
Art. 115. Os poderes de representação conferem-se por lei ou pelo
interessado.
Art. 116. A manifestação de vontade pelo representante, nos limites
de seus poderes, produz efeitos em relação ao representado.

ATENÇÃO: O representante deve agir na conformidade dos


poderes recebidos. Se os ultrapassar, haverá excesso de
poder, podendo, por tal fato, ser responsabilizado.(CC, art.
118).
Consequências da representação
➢ os efeitos do negócio jurídico representativo, concretizado
dentro dos limites dos poderes conferidos, repercutem,
exclusivamente, na esfera jurídica do representado;
➢ o vínculo negocial é estabelecido apenas entre o representado
e a contraparte, sendo o representante estranho ao negócio
jurídico representativo celebrado;
➢ os efeitos, obrigações e direitos são auferidos e suportado
direta e indiretamente pelo dominus negotii;
➢ as obrigações inadimplidas do dominus negotii não são de
responsabilidade do representante, salvo quando este
pessoalmente responsabilizou-se pelo cumprimento;
➢ o dominus negotii é legitimado, ativa e passivamente, para
figurar na relação processual tendo por objeto o negócio jurídico
representativo, no exercício do jus persequendi in judicio.
Tipos de Representação

Representação Legal: A representação legal ocorre quando


a lei estabelece, para certas situações, uma representação,
o que ocorre no caso dos incapazes, na tutela, curatela etc.
Nesses casos, o poder de representação decorre
diretamente da lei, que estabelece a extensão do âmbito da
representação, os casos em que é necessária, o poder de
administrar e quais as situações em que se permite dispor
dos direitos do representado.

Representação Voluntária: A representação voluntária é


baseada, em regra, no mandato, cujo instrumento é a
procuração. A figura da representação não se confunde com
a do mandato
Tipos de Representantes

▪ legal: aquele a quem a lei confere poderes para


administrar bens e interesses alheios, como pais, tutores e
curadores.
▪ judicial: o nomeado pelo para exercer poderes de
representação no processo, como o inventariante e o
administrador da empresa penhorada.
▪ convencional: o que recebe mandato outorgado pelo
credor (art. 115 e 656).
Contrato Consigo mesmo ou Autocontratação

❑ dupla representação: quando ambas as partes se


manifestam por meio do mesmo representante (art. 685) - o
representante não figura e não se envolve no negócio jurídico,
o que cabe somente aos representados. Somente os
representados adquirem direitos e obrigações.
❑ Quando o representante é a outra parte no negócio
celebrado, exercendo dois papéis distintos como é o caso do
mandato em causa própria – o mandatário recebe poderes
para alienar determinado bem, por determinado preço, a
terceiros ou a si mesmo.
Semana 9 48
Contrato Consigo mesmo ou Autocontratação

Regra geral, o mandatário (representante), não pode atuar


em seu próprio interesse, não lhe sendo lícito celebrar
contrato consigo mesmo, ainda que não exista conflito de
interesse.
Apenas excepcionalmente o mandante ou a lei podem
autorizar que o mandatário atue em nome do representado e
que também se apresente como a outra parte do negócio
jurídico a ser celebrado.

117 do Código Civil, "salvo se o permitir a lei ou o representado, é anulável


o negócio jurídico que o representante, no seu interesse ou por conta de
outrem, celebrar consigo mesmo".
PLANO DA EFICÁCIA

Elementos acidentais do negócio jurídico

São elementos dispensáveis para a celebração do negócio


jurídico.
Têm como objetivo modificar uma ou algumas
conseqüências naturais dos negócios jurídicos.
São declarações acessórias de vontade.

a) Condição
b) Termo
c) Encargo ou modo

50
CONDIÇÃO

Condição é uma cláusula que subordina o efeito jurídico


ao efeito do negócio jurídico a evento futuro e incerto. A
incerteza deve ser objetiva e não subjetiva. (art. 121)

Enquanto não realizada a condição, o ato não pode ser


exigido.
Assim, a promessa de pagar quantia a alguém, se concluir
curso superior, não pode ser exigida enquanto não ocorrer o
evento.
A condição atinge os efeitos dos negócios jurídicos se assim
desejarem os agentes. Uma vez que o ato sob condição
apresenta-se como todo unitário, não deve a condição ser
encarada como cláusula acessória.
Elementos da CONDIÇÃO

➢ Voluntariedade: a cláusula tem que ser voluntária


➢ Futuridade: que o acontecimento a que subordina a
eficácia ou a resolução do ato jurídico seja futuro
➢ Incerteza: que o acontecimento a que subordina a
eficácia ou a resolução do ato jurídico deve ser incerto.
Ex. Pagarei a dívida se a colheita não me trouxer prejuizo.
Negócios jurídicos que não aceitam
condição

Os negócios jurídicos que não aceitam condição são os


chamados ‘atos puros’.

São condições não aceitas pelo direito:


a) não se casar;
b) exílio ou morada perpétua em determinado lugar;
c) exercício de determinada profissão;
d) seguimento de determinada religião;
e) aceitação ou renúncia de herança;
f) reconhecimento de filho;
g) emancipação.
CLASSIFICAÇÃO:
Há várias espécies de condição, as quais podem ser
classificadas:
1.quanto à licitude;
2.quanto à possibilidade;
3.quanto à fonte de onde promanam;
4.quanto ao modo de atuação.

1. Quanto à licitude:
▪ lícitas: são lícitas, em geral, “ todas as condições não
contrárias à lei, à ordem público ou aos costumes” (art. 122,
CC.)
▪ Ilícita: serão ilícitas todas as que atentarem contra proibição
expressa ou virtual do ordenamento jurídico, a moral ou os bons
costumes. Ex. é ilícita a condição que obriga alguém a mudar
de religião.
2. Quanto à possibilidade: possíveis e impossíveis
As condições impossíveis podem ser:

a) fisicamente impossíveis: as que não podem ser


cumpridas por nenhum ser humano. Ex. Te dou R$ 100,00
se tocares o céu com o dedo.
a) juridicamente impossíveis: as que esbarram em
proibição expressa do ordenamento jurídico ou ferem a
moral e os bons costumes.
Ex. a condição de adotar pessoa da mesma
idade(CC,art.1.619) ou a de realizar negócio que tenha por
objeto herança de pessoa viva (CC,art.426).; a condição de
cometer crime ou de se prostituir.
Efeitos das condições impossíveis

Desde que a impossibilidade física seja genérica, não restrita


ao devedor, têm-se por inexistentes quando resolutivas, isto
é, serão consideradas não escritas.

Art. 124. Têm-se por inexistentes as condições impossíveis,


quando resolutivas, e as de não fazer coisa impossível.

ATENÇÃO! O que se reputa inexistente é a cláusula


estipuladora da condição e não o negócio jurídico subjacente,
cuja eficácia não fica prejudicada.
Quando a condição é suspensiva, a eficácia do contrato está
a ela subordinada. Se o evento é impossível, o negócio
jamais alcançará a necessária eficácia.

Art. 123. Invalidam os negócios jurídicos que lhes são


subordinados:
I - as condições física ou juridicamente impossíveis, quando
suspensivas;
II - as condições ilícitas, ou de fazer coisa ilícita;
III - as condições incompreensíveis ou contraditórias.
resumo dos efeitos

Quando resolutivas: são consideradas inexistentes, não


escritas, permanecendo válido o negócio jurídico
subjacente:
Quando suspensivas: invalidam a cláusula condicional e
contaminam todo o contrato, que, por essa razão, não pode
subsistir. O mesmo sucede com as condições ilícitas, ou de
fazer coisa ilícita e com as incompreensíveis ou
contraditórias.
3. Quanto à fonte de onde promanam ou quanto à
participação dos celebrantes: (causais, potestativas, mistas,
promíscuas e perplexas ou contraditórias)

▪ Causais: são as que dependem do acaso, do fortuito, de


fato alheio à vontade das partes ou da vontade exclusiva de
terceiros.Ex. te darei tal quantia se chover amanhã.

▪ Potestativa: são as que decorrem da vontade ou do poder


de uma das partes, que pode provocar ou impedir sua
ocorrência.As condições potestativas dividem-se em:
a) puramente potestativas
b) simplesmente potestativas.
a) Puramente potestativas: são consideradas ilícitas pelo
art. 122 do C.C. por sujeitarem todo o efeito do ato ao
puro arbítrio de uma das partes. Ex. se eu quiser, se eu
levantar o braço, se me aprouver... Dependem de mero
capricho.
a) Simplesmente potestativas: são admitidas por
dependerem não só da manifestação de vontade de
uma das partes como também de algum acontecimento
ou circunstância exterior que escapa ao controle. Ex. Se
fores a Roma. Tal viagem não depende somente da
vontade, mas também da obtenção de tempo e dinheiro.
Ex. art. 420, 505, 509 e 513 do Código Civil.
Mistas: são as condições que dependem simultaneamente da
vontade de uma das partes e da vontade de um terceiro. Ex. Te
darei uma certa quantia se casares com tal pessoa ou se
constituíres sociedade com fulano.
Promíscuas: as condições puramente potestativas podem perder
esse caráter em razão de algum acontecimento inesperado ou
causal que venha a dificultar sua realização. Ex. é de início
puramente potestativa a condição de escalar determinado morro,
mas perderá esse caráter se o agente, inesperadamente, vier a
padecer de algum problema físico que dificulte e torne incerto o
implemento da condição. Nesse caso, a condição se torna
promíscua.
Perplexas ou contraditórias: as que não fazem sentido e deixam o
intérprete perplexo sem entender o propósito da estipulação. Ex.
instituo A meu herdeiro universal se B for meu herdeiro universal.
4. Quanto ao modo de atuação: (suspensiva e resolutiva)
a) Suspensiva – a eficácia do negócio jurídico fica suspensa
até a implementação de evento futuro e incerto. As partes
protelam o negócio temporariamente a eficácia, quando o
evento futuro e incerto acontecer o negócio se realiza. Ex.
“Te darei uma quantia se te graduares no curso superior“
Condição suspensiva é mera expectativa de direito.

Art. 125. Subordinando-se a eficácia do negócio jurídico à condição


suspensiva, enquanto esta se não verificar, não se terá adquirido o
direito, a que ele visa.
Resolutiva – é a que subordina a ineficácia do negócio a
evento futuro e incerto. Quando ocorre o evento futuro e
incerto extingue-se os efeitos do negócio jurídico.

É aquela condição que deseja que certo contrato seja


extinto, logo que se verificar um determinado fato, o seu
acontecimento faz terminar os efeitos do negócio, 127, CC.
Ex: Custeio os teus estudos até te formares.
TERMO:

Termo é o dia ou momento em que começa ou se extingue a


eficácia do negócio jurídico, podendo ter como unidade de
medida a hora, o dia, o mês ou o ano. É a cláusula contratual
que subordina a eficácia do negócio jurídico a evento futuro e
certo.
▪ Termo inicial (ou suspensivo ou dies a quo) aquele a partir
do qual se pode exercer o direito; O termo inicial suspende
o exercício, mas não a aquisição do direito (art. 131, CC)
▪ Termo final (ou extintivo ou dies ad quem) aquele no qual
termina a produção de efeitos do negócio jurídico.o termo
final resolve seus efeitos.
▪ PRAZO é o lapso de tempo compreendido entre o termo inicial
e o termo final.
CONTAGEM DO PRAZO: Regra geral

Art. 132. Salvo disposição legal ou convencional em contrário,


computam-se os prazos, excluído o dia do começo, e incluído o
do vencimento.
§ 1o Se o dia do vencimento cair em feriado, considerar-se-á
prorrogado o prazo até o seguinte dia útil.
§ 2o Meado considera-se, em qualquer mês, o seu décimo
quinto dia.
§ 3o Os prazos de meses e anos expiram no dia de igual
número do de início, ou no imediato, se faltar exata
correspondência.
§ 4o Os prazos fixados por hora contar-se-ão de minuto a
minuto
ATENÇÃO

Não confundir termo inicial com condição suspensiva.

Na condição suspensiva configura-se uma mera


expectativa de direito.

No termo inicial, configura-se um direito adquirido


conforme preceituam os arts. 125 e 131 do CC.
ENCARGO OU MODO

Cláusula acessória, em regra, descreve atos de liberalidade inter


vivos ou causa mortis , que impõe ônus ou obrigação a uma
pessoa contemplada pelos referidos atos.
O encargo não suspende a aquisição ou exercício de direito.
Ex. faço doação a instituição, impondo-lhe o encargo de prestar
determinada assistência a necessitados; faço legado de
determinada quantia a alguém, impondo-lhe o dever de construir
monumento em minha homenagem; etc.
Obs. Art. 555 CC. “A doação pode ser revogada por ingratidão
do donatário ou por inexecução do encargo”.
Obs. Considera-se não escrito o encargo ilícito ou impossível,
salvo se constituir o motivo determinante da liberalidade, caso
em que se invalida o negócio jurídico.
CASO CONCRETO 1

Carlos Alberto e Miguel são colegas de turma e estudam no


3o período da faculdade de Direito. Durante a aula de
Direito Civil, Miguel, que anotava a matéria, vê que sua
caneta começa a falhar. Carlos Alberto, percebendo que o
amigo está em dificuldades, abre seu estojo, tira dele uma
lapiseira e, em silêncio, a entrega a Miguel que, também em
silêncio, a aceita e retoma suas anotações. Ao final da aula,
Carlos Alberto pede a lapiseira de volta. Miguel se recusa a
devolvê-la, alegando ter havido uma doação na presença
de diversas testemunhas.

Pergunta-se:
1) Houve negócio jurídico entre Carlos Alberto e Miguel?
Justifique a resposta.

2)Tomando por base a classificação dos negócios jurídicos


como podemos classificar o ato praticado ?

3) É possível a prática de negócio jurídico sem a troca de


palavras?

4) Como se deve resolver o conflito entre Carlos Alberto e


Miguel, diante das regras de interpretação contidas em nosso
Código Civil?
CASO CONCRETO 2

José Carlos decide doar bens imóveis de sua propriedade


para Júlio e determina que tais bens sejam utilizados em
atividades de ensino para crianças com necessidades
especiais. Júlio assume o compromisso de cumprir tal
destinação. Pouco tempo depois, os bens recebidos por ele
são utilizados para a implantação de uma rede de padarias.

1. A doação feita para Júlio possuí algum elemento


acidental? Em caso positivo, justifique e conceitue. Em
caso negativo, justifique.
2. Pode haver revogação do contrato celebrado?
Fundamente a resposta.
3. Aplica-se na hipótese, a regra do artigo 125 do CC?
Esclareça.
CASO CONCRETO 3

Antero empresta a Luiz Guilherme a quantia de R$ 4.500,00


(quatro mil e quinhentos reais ), concedendo a este último um
ano de prazo para pagar. O empréstimo ocorre no dia 26 de
junho. O dia 26 de junho do ano seguinte é um sábado.
Pergunta-se:
1) Qual é a data do vencimento da dívida de Luiz Guilherme?
2) No caso, identifique o termo e o prazo para o pagamento
da dívida.
QUESTÃO OBJETIVA 1

Requisitos de validade do negócio jurídico.

O Código Civil exige, para a validade do ato jurídico, que o


agente seja capaz. Tal disposição legal configura a exigência
de que o agente:
A) tenha capacidade de gozo, a capacidade de direito, a
capacidade de aquisição.
B) tenha capacidade de fato, a capacidade de ação, a
capacidade de exercício.
C) pessoa física, seja dotado de personalidade jurídica.
D) tenha sempre mais de 18 anos de idade.
E) nenhuma das respostas anteriores está correta.
QUESTÃO OBJETIVA 2

Sobre os elementos acidentais do negócio jurídico, que podem afetar


sua validade ou comprometer sua eficácia em determinadas
situações, marque a alternativa correta:

a) sobrevindo condição resolutiva em negócio jurídico de execução


continuada ou periódica, a sua realização, salvo disposição em contrário,
não tem eficácia quanto aos atos já praticados, ainda que incompatíveis
com a natureza da condição pendente;
b) considera-se não escrito o encargo ilícito ou impossível, salvo se
constituir o motivo determinante da liberalidade, caso em que se invalida o
negócio jurídico;
c) ao titular do direito eventual, nos casos de condição suspensiva ou
resolutiva, não é permitida a prática de atos destinados à sua conservação
ou execução;
d) não tendo sido estipulado prazo para sua execução, os negócios
jurídicos celebrados entre vivos são exeqüíveis trinta dias após a data da
celebração.

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