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2 Negócio jurídico
Para efeitos da classificação estudada, “Negócio jurídico é todo evento decorrente da vontade humana,
que se consubstancia em um conjunto de atos jurídicos dependentes entre si, dispostos pelos
negociantes em uma ordem temporal lógica, para obtenção do resultado ou interesse pretendido pelas
partes.”(LISBOA, 2004, p. 371). Essa modalidade ainda será estudada pormenorizadamente.

Unilaterais, bilaterais e plurilaterais


Quanto ao número de declarantes ou de manifestações de vontade necessárias ao seu
aperfeiçoamento, os negócios jurídicos classificam-se em unilaterais, bilaterais ou plurilaterais.

2.1.1 Negócios jurídicos unilaterais


Negócios jurídicos unilaterais são os que se aperfeiçoam com uma única manifestação de vontade
(Exemplo: testamento, codicilo, instituição de fundação, aceitação e renúncia da herança, promessa de
recompensa etc.).
Subdividem-se em duas espécies:
• receptícios – são aqueles em que a declaração de vontade tem de se tornar conhecida do destinatário
para produzir efeitos (exemplo: denúncia ou resilição de um contrato, revogação de mandato etc.);
• não receptícios – são aqueles em que o conhecimento por parte de outras pessoas é irrelevante
(exemplo: testamento, confissão de dívida etc.).
2.1.2 Negócios jurídicos bilaterais
Negócios jurídicos bilaterais são aqueles que se perfazem com duas manifestações de vontade
coincidentes sobre o objeto. Essa coincidência chama-se consentimento mútuo ou acordo de vontades
(contratos em geral). Podem existir várias pessoas no polo ativo e, também, várias no polo passivo, sem
que o contrato deixe de ser bilateral pela existência de duas partes, pois estas não se confundem com
aquelas.Em outras palavras, o que torna o contrato bilateral é a existência de dois polos distintos,
independentemente do número de pessoas que integre cada polo.
2.1.3 Negócios jurídicos plurilaterais Negócios jurídicos plurilaterais são os contratos que envolvem mais
de duas partes, ou seja, mais de dois polos distintos (exemplo: contrato social de sociedades com mais
de dois sócios).
2.2 Gratuitos, onerosos, neutros e bifrontes
Quanto às vantagens patrimoniais que podem produzir, os negócios jurídicos classificam-se em gratuitos
e onerosos, neutros e bifrontes.
2.2.1 Negócios jurídicos gratuitos Negócios jurídicos gratuitos são aqueles em que só uma das partes
aufere vantagens ou benefícios (Exemplo: doação pura ou comodato).

2.2.2 Negócios jurídicos onerosos


Negócios jurídicos onerosos são aqueles em que ambos os contratantes auferem vantagens ou
benefícios, aos quais, porém, corresponde uma contraprestação
(Exemplo: compra e venda, empreitada, locação etc.).Pode-se dizer, portanto, que todo negócio
oneroso é bilateral, mas a recíproca não é verdadeira (Exemplo: doação, comodato).Os negócios
jurídicos onerosos podem ser:
• comutativos – quando a prestação de uma parte depende de uma contraprestação da outra, que é
equivalente, certa e determinada;
• aleatórios – quando a prestação de uma das partes depende de acontecimentos incertos e
inesperados. A álea, a sorte, é elemento do negócio (Exemplo: contrato de seguro).
2.2.3 Negócios jurídicos neutrosHá negócios que não podem ser incluídos na categoria dos onerosos,
nem dos gratuitos, pois lhes falta atribuição patrimonial.
São chamados de neutros e se caracterizam pela destinação dos bens. Em geral, coligam-se aos negócios
translativos, que têm atribuição patrimonial, como, por exemplo, a instituição das cláusulas de
inalienabilidade e incomunicabilidade.
2.2.4 Negócios jurídicos bifrontes Negócios jurídicos bifrontes são os contratos que podem ser onerosos
ou gratuitos, segundo a vontade das partes (Exemplo: mútuo, mandato, depósito etc.).
A conversão de negócio jurídico só se torna possível, se o contrato é definido na lei como negócio
gratuito, pois a vontade das partes não pode transformar um contrato oneroso em gratuito, uma vez
que subverteria a sua causa.Nem todos os contratos gratuitos podem ser convertidos em onerosos por
convenção das partes.
A doação e o comodato, por exemplo, ficariam desfigurados, se tal acontecesse, pois se transformariam,
respectivamente, em venda e locação.
2.3 Negócios jurídicos inter vivos e causa mortisConsiderando o momento da produção dos efeitos, os
negócios jurídicos podem ser classificados em inter vivos e causa mortis.

Inter vivos – destinam-se a produzir efeitos desde logo, isto é, estando as partes ainda vivas (Exemplo:
promessa de venda e compra).
Causa mortis – são os negócios jurídicos destinados a produzir efeitos após a morte do agente (Exemplo:
testamento).
2.4 Negócios jurídicos principais e acessóriosQuanto ao modo de existência, os negócios jurídicos
poderão ser principais e acessórios.
Negócios jurídicos principais são os negócios jurídicos que têm existência própria e não dependem da
existência de qualquer outro para produzir efeitos (Exemplo: compra e venda, locação etc.)

Negócios jurídicos acessórios são os que têm sua existência subordinada a um negócio jurídico principal
(Exemplo: cláusula penal, fiança etc.), de forma que seguem o destino do principal. Extinta a obrigação
principal, extingue-se também a acessória, mas o contrário não persiste.
2.5 Negócios solenes ou formais e não solenes ou de forma livre
Em relação às formalidades a serem observadas, os negócios jurídicos estão
Subdivididos em solenes ou formais e não solenes ou de forma livre.
2.5.1 Negócios jurídicos solenes ou formaisSão os negócios jurídicos que devem obedecer à forma
prescrita em lei para que se aperfeiçoem.
Quando a forma é exigida como condição de validade do negócio, este é solene e a formalidade é ad
solemnitatem, isto é, constitui a própria substância do ato (Exemplo: escritura pública na alienação de
imóvel, no testamento público etc.).
Mas determinada forma pode ser exigida apenas como prova do ato. Nesse caso, se diz tratar-se de uma
formalidade ad probationem tantum (Exemplo: assento do casamento no livro de registro – art. 1536).
2.5.2 Negócios jurídicos não solenes ou de forma livre
Em regra, os negócios jurídicos obedecem a forma livre. Como a lei não reclama nenhuma formalidade
para o seu aperfeiçoamento, podem ser celebrados por qualquer forma, inclusive a verbal (art. 107 –
CC).

2.6 Negócios jurídicos simples, complexos e coligados


Quanto ao número de atos necessários, classificam-se em negócios jurídicos simples, complexos ou
coligados.
Simples são os negócios que se constituem por ato único.
Complexos são os que resultam da fusão de vários atos com eficácia independente.
Compõem-se de várias declarações de vontade, que se completam, emitidas pelo mesmo sujeito ou
diferentes sujeitos, para a obtenção dos efeitos jurídicos pretendidos na sua unidade (Exemplo:
alienação de um imóvel em prestações, que se inicia pela celebração de um compromisso de compra e
venda e se completa com a outorga da escritura definitiva).O negócio jurídico complexo é único e não se
confunde com o coligado.
Coligados são os que se compõem de vários outros negócios jurídicos distintos (Exemplo: arrendamento
de posto de gasolina, coligado pelo mesmo instrumento ao contrato de locação das bombas, de
comodato de área para funcionamento de lanchonete, de fornecimento de combustível, de
financiamento etc.).
2.7 Negócios jurídicos dispositivos e obrigacionais Considerando as modificações que podem produzir,
os negócios jurídicos poderão ser dispositivos ou obrigacionais.
Dispositivos são aqueles utilizados pelo titular para alienar, modificar ou extinguir direitos (Exemplo: a
constituição de usufruto em favor de terceiro).
Obrigacionais são os que, por meio de manifestações de vontade, geram obrigações para uma ou para
ambas as partes, possibilitando às mesmas a exigência de uma contraprestação (Exemplo: compra e
venda. Um se dispõe a pagar o preço e o outro a entregar a coisa).
2.8 Negócio fiduciário e negócio simuladoPor derradeiro, quanto ao modo de obtenção do resultado, o
negócio jurídico pode ser fiduciário e simulado.Negócio fiduciário é aquele em que alguém, o fiduciante,
transmite um direito a outrem, o fiduciário, que se obriga a devolver esse direito ao patrimônio do
transferente ou a destiná-lo a outro fim. Visam as partes um fim prático,realizando um negócio cujos
efeitos ultrapassam os objetivos do que foi celebrado. Há uma discrepância entre o negócio jurídico
utilizado e os fins a serem buscados.Negócio simulado é o que tem aparência contrária à realidade, ou
seja, não é válido. Embora, nesse sentido, seja semelhante ao negócio fiduciário, neste as declarações
de vontade são falsas (Exemplo: declarações falsas para fraudar o Fisco).Finalizando esta etapa,
analisaremos nesse momento as regras referentes aos elementos constitutivos do negócio jurídico, já
apontadas anteriormente, quais sejam, os Planos de Existência, Validade e Eficácia.

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