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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA VARA FAZENDA

PÚBLICA DA CIDADE.

NETOR DAS QUANTAS, solteiro, dentista, residente e


domiciliado na Rua da multa, nº. 0000, com CEP nº. 44555-666, em Fortaleza (CE),
possuidor do CPF(MF) nº. 111.222.333-44, com CNH nº. 11122233(ora acostada),
com endereço eletrônico ficto@ficticio.com.br, ora intermediado por seu mandatário
ao final firmado – instrumento procuratório acostado –, esse com endereço
eletrônico e profissional inserto na referida procuração, o qual, em obediência à
diretriz fixada no art. 106, inc. I c/c art. 287, ambos do CPC, indica-o para as
intimações que se fizerem necessárias, vem, com o devido respeito à presença de
Vossa Excelência, ajuizar a presente

AÇÃO ANULATÓRIA C /C OBRIGAÇÃO DE FAZER


( COM PLEITO DE TUTELA PROVISÓRIA DE URGÊNCIA )

contra o

( 01 ) DEPARTAMENTO ESTADUAL DE TRÂNSITO DO ESTADO DO CEARÁ –


DETRAN/CE, pessoa jurídica de direito público, estabelida na Av. Y, nº.
0000, em Fortaleza (CE) – CEP nº. 33444-555, inscrita no CNPJ(MF) sob o
nº. 33.444.555/0001-66, endereço eletrônico desconhecido,

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e solidariamente

( 02 ) AUTARQUIA MUNICIPAL DE TRÂNSITO - AMC, pessoa jurídica de direito


público, estabelida na Rua Y, nº. 0000, em Fortaleza(CE) – CEP nº. 55333-
444, inscrita no CNPJ(MF) sob o nº. 44.222.111/0001-00, endereço
eletrônico desconhecido,

em decorrência das justificativas de ordem fática e de direito abaixo delineadas.

(1) – SÍNTESE DOS FATOS

O Autor é proprietário do veículo de placas HHH-0000,


de inscrição no Estado do Ceará, conforme se comprova pelo acostado Certificado
de Registro e Licenciamento do Veículo. (doc. 01)

Ao procurar licenciar o veículo acima citado, o Órgão de


Trânsito destacou que tal providência somente seria viável caso houvesse o
pagamento de 01(uma) multa por infração de trânsito ( Auto Infracionail nº.
6767677). Essa fora lavrada pela segunda requerida (“AMC”), o qual ora
colacionamos. (docs. 02)

De outro bordo, a notificação de infração, referente ao


auto de infração nº 6767677 foi recebido no dia 00/11/2222 pelo Autor, via Correios.
(doc. 03) Entrementes, a notificação de aplicação da respectiva penalidade foi
recebida na data de 22/33/4444. Desse modo, ocorrera em prazo superior a
30(trinta) dias, o que se constata do carimbo de postagem impresso pelos Correios.
(doc. 04)

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Tais condutas merecem análise deste órgão jurisdional,
de sorte a avaliar condutas ilícitas praticas pelas Rés, quais sejam, a ( i ) coerção
de pagamento de multa para licenciamento do veículo e, mais; tal procedimento se
apresenta galgado em ( ii ) multa de trânsito cuja “notificação de penalidade”
superou o prazo exigido por lei.
HOC IPSUM EST.
EST.

(2) – DO DIREITO

(2.1.) – LICENCIAMENTO DE VEÍCULO


CONDICIONAMENTO AO PAGAMENTO DE MULTA(S)
ILEGALIDADE

Os argumentos da primeira Promovida não devem


prevalecer. Essa sustenta que se faz necessário o prévio de pagamento das
penalidades aplicadas (multas) para que haja o licenciamento. Abriga-se em
normas advindas do que estipula a legislação de trânsito, a saber:

CÓDIGO DE TRÂNSITO NACIONAL

Art. 131 – O certificado de Licenciamento Anual será expedido ao veículo


licenciado, vinculado ao Certificado de Registro, no modelo e
especificações estabelecidos pelo CONTRAN.
[...]
§ 2º - O veículo somente será considerado licenciado estando quitados
os débitos relativos a tributos, encargos e multas de trânsito e
ambientais,
ambientais, vinculados ao veículo independentemente da
responsabilidade pelas infrações cometidas.
cometidas.

Todavia, a súmula do Egrégio Superior Tribunal de


Justiça esclarece que, ad litteram:
6
Súmula 127 – É ilegal condicionar a renovação da licença do veículo ao
pagamento de multa, da qual o infrator não foi notificado.

Portanto, segundo a orientação contida na súmula


supracitada, deve ser preservado ao condutor o direito de ampla defesa antes de
exigir-se a punição.

CONSTITUIÇÃO FEDERAL
Art. 5º - ( . . . )
LV – aos litigantes, em processo judicial ou administrativo,
administrativo, e aos acusados
em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa,
defesa, com os meios
e recursos a ela inerentes.

De igual modo o Código de Trânsito Brasileiro, ao


cuidar da autuação e da imposição de penalidades por infrações de trânsito,
determina uma série de atos e formalidades que devem necessariamente preceder
a penalização do infrator. Tudo isso a fim de garantir-se o direito à ampla defesa e
ao contraditório, verbo ad verbum:

Art. 281. A autoridade de trânsito, na esfera da competência estabelecida


neste Código e dentro de sua circunscrição, julgará a consistência do auto
de infração e aplicará a penalidade cabível.
Parágrafo único. O auto de infração será arquivado e seu registro
julgado insubsistente:
I - se considerado inconsistente ou irregular;
II - se, no prazo máximo de trinta dias,
dias, não for expedida a notificação
da autuação.
autuação.
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Art. 282. Aplicada a penalidade, será expedida notificação ao proprietário
do veículo ou ao infrator, por remessa postal ou por qualquer outro meio
tecnológico hábil, que assegure a ciência da imposição da penalidade.
penalidade.
§ 1º A notificação devolvida por desatualização do endereço do
proprietário do veículo será considerada válida para todos os efeitos.
[...]
§ 3º Sempre que a penalidade de multa for imposta a condutor, à
exceção daquela de que trata o § 1º do artigo 259, a notificação será
encaminhada ao proprietário do veículo, responsável pelo seu
pagamento.
§ 4º Da notificação deverá constar a data do término do prazo para
apresentação de recurso pelo responsável pela infração, que não será
inferior a trinta dias contados da data da notificação da penalidade. § 5º
No caso de penalidade de multa, a data estabelecida no parágrafo
anterior será a data para o recolhimento de seu valor.

No caso em espécie, nas considerações fáticas feitas


nesta peça vestibular ficou destacado que a notificação de aplicação da penalidade
foi postada além do trintídio legal.

Entrementes, é consabido que o Código de Trânsito


Brasileiro traz em seu bojo a necessidade de duas notificações no curso do
processo administrativo: a notificação da prática da infração e da aplicação da
penalidade. No que diz respeito a primeira notificação, faz-se mister para que o
infrator tome ciência do ato e tipo de infração de trânsito e, com isso, aprensente,
querendo, sua defesa administrativa.

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Porém, como visto acima (CCB, art. 281, parágravo
único, inc. II), a lei estipula o prazo máximo de 30(trinta) dias para que a segunda
notificação seja expedida. E mais, o descumprimento resulta como insubisistente o
auto infracional, decaindo-se, por isso, o direito de aplicar a multa. Assim, imperiosa
a presença de duas notificações para imposição de multa.

Nesse mesmo trilhar já definiu o Superior Tribunal de


Justiça in verbis:

Súmula 312 – No processo administrativo para imposição de multa de


trânsito, são necessárias as notificações da autuação e da aplicação da
pena decorrente da infração.

Com efeito, se a segunda notificação é insubisitente,


visto que postada acima do prazo definido em lei(30 dias), não há que se falar em
legalidade do processo administrativo, muito menos da imposição da multa.

Colacionamos, por mero desvelo de nossa parte, alguns


julgados que dizem respeito ao tema ora em vertente, verbis:

AGRAVO DE INSTRUMENTO. MANDADO DE SEGURANÇA. ATO JUDICIAL


IMPUGNADO. INDEFERIMENTO DE LIMINAR. TUTELA DE URGÊNCIA.
PRESSUPOSTOS PARA CONCESSÃO DE LIMINAR. PREENCHIMENTO DOS
REQUISITOS.
Multa de trânsito. Não indicação do condutor. Infração prevista no 257, §
8º do Código de Trânsito Brasileiro. Cognição sumária. Infração
dependente da existência de violação anterior às normas de trânsito,
imputada à pessoa jurídica proprietária do veículo. Dupla notificação.
Indispensabilidade. Exigência de notificação da pessoa jurídica
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proprietária do veículo para o exercício do direito de defesa em relação à
segunda infração. Inteligência da Súmula nº 312 do STJ. Lavratura do auto
de infração da segunda multa. Prazo decadencial de 30 dias, contados do
término do prazo de quinze dias para indicação do condutor. Previsão
legal. Artigo 281, parágrafo único, II, do Código de Trânsito Brasileiro.
Autos de infração lavrados mais de quatro meses após as infrações
antecedentes. Decadência do ato administrativo. Precedentes.
Consistência jurídica das alegações demonstrada. Risco de dano
irreparável. Possibilidade de obstáculo ao licenciamento da frota de
veículos da agravante diante da pendência das infrações. RECURSO
PROVIDO. (TJSP; EDcl 2218228-83.2015.8.26.0000; Ac. 8993218; São
Paulo; Nona Câmara de Direito Público; Rel. Des. José Maria Câmara
Junior; Julg. 17/02/2016; DJESP 23/02/2016)

CONSTITUCIONAL E ADMINISTRATIVO. APELAÇÕES CÍVEIS. DETRAN/CE.


AMC. ETTUSA. LICENCIAMENTO VEICULAR. MULTAS DE TRÂNSITO SEM
DUPLA NOTIFICAÇÃO. CONDICIONAMENTO ILEGAL. HONORÁRIOS
ADVOCATÍCIOS. CONDENAÇÃO. SÚMULAS NºS 127 E 312 DO STJ.
SÚMULA Nº 28 DO TJ/CE. RECURSOS CONHECIDOS E DESPROVIDOS.
1. Tratase
Tratase de apelações cíveis da sentença que julgou parcialmente
procedente o pedido autoral, declarando nulas as multas exaradas pela
ETTUSA e pelo Detran/CE. Condenou, ainda, os requeridos solidariamente
ao pagamento das custas processuais e dos honorários advocatícios, estes
fixados em 500,00 (quinhentos reais). 2. O STJ firmou posicionamento de
que as notificações da autuação e da aplicação da penalidade são
imprescindíveis para a imposição de multas de trânsito. Inteligência da
Súmula nº 312. 3. O Detran pode condicionar o licenciamento ao
pagamento de multa quando o proprietário do veículo for devidamente
notificado. Inteligência da Súmula nº 28 do TJ/CE. 4. A postura adotada
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pelo Detran/CE condicionar o licenciamento veicular ao prévio pagamento
de multas irregulares ensejou o ajuizamento da presente ação, não
havendo em falar em sua exclusão ao pagamento dos honorários
advocatícios, já que a sua participação no polo passivo da demanda não
decorreu apenas do único auto de infração de sua lavra, mas sim, do
condicionamento ilegal do licenciamento do veículo da autora. 5.
Recursos conhecidos e desprovidos. (TJCE; APL 0706765-
0706765-
04.2000.8.06.0001; Terceira Câmara Cível; Rel. Des. Washington Luis
Bezerra de Araújo; DJCE 11/03/2016; Pág. 20)

APELAÇÃO CÍVEL. PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. PRELIMINAR


DE NULIDADE DE SENTENÇA. AUSÊNCIA DE FUNDAMENTAÇÃO.
INOCORRÊNCIA. EXPEDIÇÃO DE CRLV. COMPETÊNCIA DO ÓRGÃO
ESTADUAL. CONDICIONAMENTO DE LICENCIAMENTO AO PAGAMENTO
DE MULTAS DAS QUAIS NÃO FOI NOTIFICADO O PROPRIETÁRIO DO
VEÍCULO. EXIGÊNCIA ILEGÍTIMA. ANTECIPAÇÃO DA TUTELA. ANULAÇÃO
DE MULTAS DE TRÂNSITO. ILEGITIMIDADE PASSIVA DO DETRAN/PE.
1. Em que pese o posicionamento desta corte no sentido de que a
legitimidade para responder ações como a presente guarda relação com o
órgão autuador, havendo pedido de expedição de licenciamento do
veículo do demandante, exsurge a legitimidade do detran/pe. 2. A
existência de multas impostas sem prévia notificação ao infrator não
obsta a expedição do licenciamento anual de veículos. Inteligência da
Súmula nº 127/stj. Precedentes. 3. Antecipação dos efeitos da tutela para
que o detran/pe proceda com o licenciamento do automóvel. 4. A
competência para anulação de auto de infração lavrado por órgão diverso,
é da entidade autuadora, não podendo o detran/pe anular referido ato,
nem tampouco ser responsabilizado civilmente. 5. Apelação provida

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parcialmente. (TJPE; APL 0002605-22.2013.8.17.1130; Rel. Des. Fábio
Eugênio Dantas de Oliveira Lima; Julg. 27/01/2016; DJEPE 08/03/2016)

(2.2.) – PEDIDO DE TUTELA PROVISÓRIA

Há nos autos “prova inequívoca” da ilicitude cometida


pelas Rés, notadamente em face das provas acostadas que comprovam que a
notificação de autuação fora feita acima do prazo de 30 dias, pazo ese definido em
lei.

De outro contexto, há fundado receio de dano


irreparável, porquanto o Autor poderá ter o veículo apreendido em face da ausência
do licenciamento, o qual exigido ilegalmente e condicionado ao pagamento de multa
iníquoa.

A reversibilidade da medida também é evidente, uma


vez que a Rés, se vencedoras na lide, poderão cobrar o débito originário da multa
em espécie. Poderão, mais, tornar a exigir o licenciamento do veículo com o
condicionamento do pagamento da multa acima citada, bem como inserir no
prontuário da habilitação do Autor os pontos correspondentes à infração de trânsito
em relevo.

Diante disso, o Autor vem requer, sem a oitiva prévia da


parte contrária (CPC, art. Art. 9º, § 1º, inc. I c/c art. 300, § 2º ), independente de
caução (CPC, art. 300, § 1º), tutela de urgência antecipatória no sentido de:

a) tornar sem efeito a multa originária da Notificação de


Autuação nº. 6767677, ora alvo de debate, sobretudo a
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pontuação a ela equivalente no prontudário do Autor (CNH nº
11122333), até ulterior deliberação deste juízo, devendo
excluí-la do referido prontuário, no prazo de cinco(5) dias,
caso já tenha assim procedido;

b) pede, mais, seja a primeira ré(“Detran”) instada a autorizar


o licenciamento do veículo de placas HHH-0000,
independentemente do pagamento da multa evidenciada nesta
peça vestibular, sob pena de multa diária, em ambos os casos,
de R$ 100,00( cem reais). (CPC, art. 497 c/c art. 537)

(3) – P E D I D O S e R E Q U E R I M E N T O S

POSTO ISSO,
como últimos requerimentos desta Ação Anulatória, o Autor requer que Vossa
Excelência se digne de tomar as seguintes providências:

( a ) a situação em liça é daquelas na qual não é possível a autocomposição


acerca do direito material em questão. (CPC, art. 334, § 4º, inc. II). Por
isso, deixa de pronunciar-se acerca de tal composição;

( b ) requer-se seja ratificada na sentença, em todos os seus termos, o


pedido de tutela provisória de urgência;

( c ) que ao final sejam os pedidos formulados julgados procedentes,


acolhendo-os, e, por essa razão, tornando-se definitiva a tutela provisória
almejada, e, com isso:

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( i ) anular a multa originária da Notificação de Autuação nº.
6767677, bem como a pontuação correspondente do prontuário
do Autor(CNH nº 000000);

( ii ) determinar que a primeira Ré(“Detran”), em definitivo,


autorize o licenciamento do veículo de placas HHH-0000,
independentemente do pagamento da multa originária da
Notificação de Autuação nº. 6767677;

( iii ) Condenar as Rés ao pagamento de despesas processuais e


honorários advocatícios, esses na forma do que rege o art. 85, §
3º, da Legislação Adjetiva Civil.

Protesta provar o quanto alegado por todos os meios


admissíveis em direito assegurados pela Lei Fundamental.

Atribui-se à causa o valor equivalente à multa de


trânsito em debate R$ xxx ( .x.x.x.xx.x ), em obediência aos ditames do art. 292, inc.
II, do CPC.

Respeitosamente, pede deferimento.

Cidade, 00 de abril do ano de 0000.

Beltrano de tal
Advogado – OAB(CE) 112233

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