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EXCELENTÍSSIMO CHEFE DE TRÂNSITO DA PREFEITURA

MUNICIPAL DE

AIT nº

Qualificação completa vem respeitosamente, interpor o presente

RECURSO

Em face da notificação supracitada – cópia anexa-, pelos fatos e fundamentos a


seguir expostos.

1- DA NOTIFICAÇÃO
A presente notificação refere-se ao veículo (modelo e placa) de uso do
recorrente, por uma possível infração ao art. 208 do CTB, qual seja, avançar o sinal
vermelho do semáforo ou o de parada obrigatória, cometida em 21/05/2017, às 14:34,
na cidade de Campinas/SP.

2- DA INVALIDADE DA PENALIDADE TENDO COMO AGENTE


AUTUADOR A PREFEITURA DE CAMPINAS
Primeiramente, deve-se deixar clara a incompetência deste órgão de
Trânsito, Empresa Municipal de Desenvolvimento de Campinas – EMDEC,
PREFEITURA DE CAMPINAS – SP, para multar.

O que ocorre é que a Prefeitura de Campinas/SP, tem como órgão autuador de


suas multas a EMDEC SETRANSP, e esta, por ser uma sociedade de economia mista
e ter personalidade jurídica de direito privado, não possui como competência a
aplicação das penalidades, mas apenas e tão somente a fiscalização do trânsito. Sendo
assim, fica impedida de exercer o poder de polícia, próprio dos agentes da
administração pública direta.

O Superior Tribunal de Justiça já decidiu no sentido de não haver delegação de


competência dos poderes estatais, incluindo nesta seara o poder de polícia,

Conforme decidido pelo colendo STJ, no Resp nº 817.534, "somente os atos


relativos ao consentimento e à fiscalização são delegáveis, pois aqueles
referentes à legislação e à sanção derivam do poder de coerção do Poder
Público". [...] EMENTA: ADMINISTRATIVO - APELAÇÃO CÍVEL -
EMBARGOS DE DEVEDOR - EXECUÇÃO FISCAL - MULTAS -
BHTRANS - LEGITIMIDADE DA AUTUAÇÃO - EXERCÍCIO DE

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PODER DE POLÍCIA EM SUA PLENITUDE - INOCORRÊNCIA -
LIMITAÇÃO A ATOS DE FISCALIZAÇÃO - IMPOSIÇÃO DE MULTA -
ATO PROCEDIDO DIRETAMENTE PELO MUNICÍPIO - LEGALIDADE
- RECONHECIMENTO - IMPROCEDÊNCIA DOS PEDIDOS - RECURSO
PROVIDO - SENTENÇA REFORMADA. - Evidente a impossibilidade de
sociedade de economia mista exercer o poder de polícia em sua
plenitude, sendo legítima sua atividade apenas quanto à fiscalização e
autuação; restando impedida, no entanto, de impor sanções, porque
derivado "do poder de coerção do Poder Público", indelegável por
definição.
(TJ-MG - AC: 10024120308473001 MG, Relator: Barros Levenhagen, Data
de Julgamento: 08/05/2014, Câmaras Cíveis / 5ª CÂMARA CÍVEL, Data de
Publicação: 15/05/2014) (Grifo nosso).

Outra decisão a respeito da matéria, também do STJ,


EMENTA ADMINISTRATIVO. PODER DE POLÍCIA. TRÂNSITO.
SANÇÃO PECUNIÁRIA APLICADA POR SOCIEDADE DE ECONOMIA
MISTA. IMPOSSIBILIDADE. 1. Antes de adentrar o mérito da controvérsia,
convém afastar a preliminar de conhecimento levantada pela parte recorrida.
Embora o fundamento da origem tenha sido a lei local, não há dúvidas que a
tese sustentada pelo recorrente em sede de especial (delegação de poder de
polícia) é retirada, quando o assunto é trânsito, dos dispositivos do Código de
Trânsito Brasileiro arrolados pelo recorrente (arts. 21 e 24), na medida em
que estes artigos tratam da competência dos órgãos de trânsito. O
enfrentamento da tese pela instância ordinária também tem por consequência
o cumprimento do requisito do prequestionamento.
2. No que tange ao mérito, convém assinalar que, em sentido amplo, poder de
polícia pode ser conceituado como o dever estatal de limitar-se o exercício da
propriedade e da liberdade em favor do interesse público. A controvérsia em
debate é a possibilidade de exercício do poder de polícia por particulares (no
caso, aplicação de multas de trânsito por sociedade de economia mista).
3. As atividades que envolvem a consecução do poder de polícia podem ser
sumariamente divididas em quatro grupo, a saber: (I) legislação, (II)
consentimento, (III) fiscalização e (IV) sanção.
4. No âmbito da limitação do exercício da propriedade e da liberdade no
trânsito, esses grupos ficam bem definidos: o CTB estabelece normas
genéricas e abstratas para a obtenção da Carteira Nacional de Habilitação
(legislação); a emissão da carteira corporifica a vontade o Poder Público
(consentimento); a Administração instala equipamentos eletrônicos para
verificar se há respeito à velocidade estabelecida em lei (fiscalização); e
também a Administração sanciona aquele que não guarda observância ao
CTB (sanção).
5. Somente os atos relativos ao consentimento e à fiscalização são
delegáveis, pois aqueles referentes à legislação e à sanção derivam do
poder de coerção do Poder Público.
6. No que tange aos atos de sanção, o bom desenvolvimento por
particulares estaria, inclusive, comprometido pela busca do lucro -
aplicação de multas para aumentar a arrecadação.
7. Recurso especial provido (Grifo nosso).

Outro motivo que impede a EMDEC de autuar ou multar os motoristas decorre


da incompatibilidade da função social da empresa e o princípio da moralidade, já que,
por ser uma sociedade de economia mista, de acordo com o art. 2º da lei 6404/76, tem
como finalidade a persecução do lucro.

Sendo assim, há uma impossibilidade de coincidir os princípios da


Administração Pública, elencados no art. 37 da Constituição Federal com a finalidade

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de tal sociedade, que busca sempre o lucro independente de averiguar ou respeitar
princípios essenciais da nossa sociedade.

Em resumo, a imensa capacidade arrecadatória da EMDEC, decorrente do


exercício do poder de polícia, não se coaduna com os princípios norteadores a que deve
se submeter a administração pública, padecendo de moralidade e legalidade o exercício
de fiscalização do trânsito por aquela sociedade.

Diante de todo o exposto, pode-se inferir que este órgão é reconhecidamente


incompetente para multar, devendo os presentes autos serem devidamente julgados
inconsistentes e, por conseguinte, anular a penalidade imposta ao recorrente.

3- DO NÃO ENVIO DA AUTUAÇÃO AO RECORRENTE E


CONSEQUENTE ARQUIVAMENTO DA NOTIFAÇÃO

A Resolução 404/12 do CONTRAN que dispõe sobre padronização dos


procedimentos administrativos na lavratura de Auto de Infração, menciona, em seu art.
3º, acerca dos requisitos técnicos mínimos para a fiscalização de veículos automotores:

Art. 3º À exceção do disposto no § 5º do artigo anterior, após a verificação da


regularidade e da consistência do Auto de Infração, a autoridade de trânsito
expedirá, no prazo máximo de 30 (trinta) dias contados da data do
cometimento da infração, a Notificação da Autuação dirigida ao proprietário
do veículo, na qual deverão constar os dados mínimos definidos no art. 280
do CTB e em regulamentação específica. (grifo nosso)

No caso concreto, mais uma norma foi desrespeitada. O recorrente não recebeu
em seu domicílio a autuação, o que está em desacordo com os parágrafos 2º e 4º do
mesmo art. 3º,

§ 2º A não expedição da notificação da autuação no prazo previsto no


caput deste artigo ensejará o arquivamento do Auto de Infração.

§ 4º A autoridade de trânsito poderá socorrer-se de meios tecnológicos para


verificação da regularidade e da consistência do Auto de Infração.

Se quem autuou diz que o fato foi cometido pelo recorrente, mas não há provas
disso, não há motivo para que a notificação continue. O CPC dá respaldo para o
recorrente quando dispõe que o autor deve provar as suas alegações,

Art. 373. O ônus da prova incumbe:


I - ao autor, quanto ao fato constitutivo de seu direito;

Logo, pugna para que o agente autuador comprove que realmente enviou a
notificação de autuação para a residência do recorrente, ou do proprietário, tendo em

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vista que não ficou demonstrada nem comprovada essa emissão. Por conta dessa
ausência de certeza do envio, requer seja arquivado o auto de infração, nos moldes do
art. 3º, § 2º da Resolução 404/12 do CONTRAN.

4- DO CÓDIGO DE TRANSITO BRASILEIRO E DA RESOLUÇÃO 404/12


DO CONTRAN
O CTB, que institui o código e as normas de trânsito, dispõe em seu art. 280 as
informações necessárias que devem conter no autor de infração:

“Art.. 280. Ocorrendo infração prevista na legislação de trânsito, lavrar-se-á


auto de infração, do qual constará:
I - Tipificação da infração;
II - local, data e hora do cometimento da infração;
III - caracteres da placa de identificação do veículo, sua marca e espécie, e
outros elementos julgados necessários à sua identificação;
IV -o prontuário do condutor, sempre que possível;
V - identificação do órgão ou entidade e da autoridade ou agente autuador
ou equipamento que comprovar a infração;
(...)”(grifo nosso)

Sendo assim, após uma análise da notificação, verifica-se que a autoridade


autuadora não cumpriu o determinado pelo art. 280, IV, CTB, que é a juntada do
prontuário do condutor, infringindo uma das regras do mencionado artigo.
E nem se argumente que tal fato adequa à segunda parte do mesmo art. 280,
CTB, posto que inegável a possibilidade de juntada da mesma pelo órgão competente,
que possui absolutamente todas as informações do suposto condutor infrator.
O art. 4º da mesma resolução, dispõe ainda que a infração deve conter
esclarecimentos acerca da suposta infração cometida,

“Art. 4º Sendo a infração de responsabilidade do condutor, e este não for


identificado no ato do cometimento da infração, a Notificação da
Autuação deverá ser acompanhada do Formulário de Identificação do
Condutor Infrator, que deverá conter, no mínimo
(...)
XI - esclarecimento sobre a responsabilidade nas esferas penal, cível e
administrativa, pela veracidade das informações e dos documentos
fornecidos. ” (Grifado)

É possível perceber pela análise do artigo que ainda há a obrigatoriedade do


esclarecimento da responsabilidade nas esferas cível, administrativa e penal pelas
declarações fornecidas. Todavia, na notificação recebida pelo recorrente, não consta
nenhum esclarecimento acerca de qualquer responsabilidade. Por isso deve ser
considerada nula de pleno direito.

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De igual modo, não consta na notificação recebida qualquer menção ou
advertência em relação à penalidade que poderá ser imposta ao recorrente, acarretando
novamente em mais um desrespeito à ordem legal em vigor.
Após tudo o que foi dito, o recorrente ainda teve seu direito prejudicado por ter
havido total inversão do ônus da prova, demonstrada pela ofensa ao princípio
constitucional da presunção da inocência (art. 5º, LVII da CF/88), ou seja, ao invés do
órgão autuador provar a existência da infração, que de fato não ocorreu, o recorrente
tem que lançar mão do presente recurso para provar sua inocência.
Portanto, verificada a existência de vícios de forma insanáveis, posto que ferem
disposições constitucionais e infraconstitucionais elementares, não há outra solução,
senão a declaração de nulidade de pleno direito do presente AIT, com seu consequente
arquivamento, tendo seu registro julgado irregular, nos termos do art. 281, parágrafo
único, I, do CTB.

5- DO ESTUDO TÉCNICO ESTIPULADO PELA RESOLUÇÃO 396/11

A Resolução do CONTRAN dispõe em seu art. 4º, acerca de um estudo técnico


prévio a ser feito antes da instalação do medidor de velocidade fixo:

Art. 4º Cabe à autoridade de trânsito com circunscrição sobre a via


determinar a localização, a sinalização, a instalação e a operação dos
medidores de velocidade do tipo fixo.
(...)
§ 2º Para determinar a necessidade da instalação de medidor de velocidade do
tipo fixo, deve ser realizado estudo técnico que contemple, no mínimo, as
variáveis do modelo constante no item A do Anexo I, que venham a
comprovar a necessidade de controle ou redução do limite de velocidade no
local, garantindo a visibilidade do equipamento.

Como pode ser extraído do § 2º, o estudo técnico é imprescindível para a


instalação do medidor e deve ser feito com periodicidade de 12 meses conforme
novamente dispõe o §3º,

§ 3° Para medir a eficácia dos medidores de velocidade do tipo fixo ou


sempre que ocorrerem alterações nas variáveis constantes no estudo técnico,
deve ser realizado novo estudo técnico que contemple, no mínimo, o modelo
constante no item B do Anexo I, com periodicidade máxima de 12 (doze)
meses.

O § 6º impõe a obrigatoriedade da publicidade desses estudos técnicos, a fim de


possibilitar à população a constatação dos serviços feitos, no caso especificamente, em
relação aos medidores de velocidade;

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§ 6° Os estudos técnicos referidos nos §§ 2°, 3°, 4°e 5º devem:
I - estar disponíveis ao público na sede do órgão ou entidade de trânsito com
circunscrição sobre a via;
II - ser encaminhados às Juntas Administrativas de Recursos de Infrações –
JARI dos respectivos órgãos ou entidades.
III - ser encaminhados ao órgão máximo executivo de trânsito da União e aos
Conselhos Estaduais de Trânsito - CETRAN ou ao Conselho de Trânsito do
Distrito Federal - CONTRADIFE, quando por eles solicitados.

Oportunamente, informa que não obteve acesso ao estudo técnico junto ao órgão
de trânsito. Isso posto, requer a juntada a estes autos, do estudo técnico
supramencionado, para verificar se foi cumprido o requisito legal supracitado, sob pena
de não o fazendo, obrigatoriamente deve ser anulado este auto de infração, que é o que
desde já requer.

6- DA RESOLUÇÃO 396/11 E A VERIFICAÇÃO DOS MEDIDORES DE


VELOCIDADE
A Resolução nº 396/11 do CONTRAN, que dispõe sobre requisitos técnicos
mínimos para a fiscalização de veículos automotores, em seu artigo 3º, prevê a
obrigatoriedade de manutenção periódica dos radares fixos, conforme inciso III, do
artigo mencionado;

III - ser verificado pelo INMETRO ou entidade por ele delegada,


obrigatoriamente com periodicidade máxima de 12 (doze) meses e,
eventualmente, conforme determina a legislação metrológica em vigência
(grifo nosso).

A referida resolução também garante que em casos de estudo técnico novo deve
haver uma nova checagem a fim de comprovar a eficácia dos medidores de velocidade,
em no máximo 12 meses.
Porém, ao consultar a multa, foi possível perceber que a data de aferição do
equipamento é de 28/01/2016.
Isso quer dizer que já tem mais de 1 ano e meio sem nenhum tipo de manutenção
do radar, o que enseja inconsistência do registro efetuado pelo equipamento e
consequente contestação da multa, o que desde já requer.

DOS PEDIDOS

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Diante do exposto, requer o conhecimento e o provimento do presente recurso
para:

I – Deferir o efeito suspensivo do presente recurso, caso o mesmo não seja


julgado em até 30 dias da data de seu protocolo, conforme o artigo 285, § 3º do CTB;

II- Acolher a preliminar apresentada, reconhecendo a incompetência deste órgão


para multar, determinando-se o arquivamento dos presentes autos;

III- Deferir a presente defesa, já que não haverá outra solução, senão a
declaração de inconsistência do registro, com seu posterior arquivamento, nos termos do
art. 281, parágrafo único, inciso I do Código de Trânsito Brasileiro, e a extinção da
respectiva pontuação eventualmente anotada no prontuário da recorrente;

Pede deferimento.

Campinas, ______ de _________________ de 2017.

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