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Loteamento Clandestino

ILUSTRÍSSIMO SENHOR PRESIDENTE DA JUNTA ADMINISTRATIVA DE RECURSO DE


INFRAÇÕES DE TRÂNSITO – JARI DA PREFEITURA MUNICIPAL DE SANTA CRUZ DO
SUL-RS.
Dos dados:
Notificado:
Proprietá rio: XXXXXXXXXXXXXXX
CPF: XXXXXXXXXXX
Veículo: XXXXXXXXXXXX
Placa: XXXXXXXXXXXXXXX
Infração:
Local da infraçã o: XXXXXXXXXXXXXXXX
Nº Auto de Infraçã o: XXXXXXXXXXXXX
Da qualificação:
Eu, FULANA DE TAL, CPF nº XXXXXXXXXX, residente e domiciliada na XXXXXXXXXXX,
CIDADE, venho respeitosamente à presença de Vossa Senhoria, com fundamento na Lei nº
9.503/97, interpor o presente recurso contra a aplicaçã o de penalidade por suposta
infraçã o de trâ nsito, conforme notificaçã o anexa, o que faz da seguinte forma.
Dos Fatos:
Consta no auto de infraçã o que o veículo QUALIFICAÇÃ O VEÍCULO, na data de 20/10/2015,
na LOCAL DA MULTA, à s HORÁ RIO DA MULTA, estava em via pú blica e o condutor estava
utilizando telefone celular.
A começar a motorista e dona do automó vel em questã o é funcioná ria de um Escritó rio
Contá bil, realizando SOMENTE serviço interno e no horá rio mencionado, estaria em meio
ao expediente de trabalho.
Ademais, o presente auto de infraçã o, é insubsistente e precisa/deve ser julgado
inconsistente e irregular por Vossa Senhoria, tendo em vista o que se explana:
Segundo parecer do DENATRAN, existe a necessidade da abordagem do condutor para se
lavrar o auto de infraçã o - a fim de se comprovar realmente se o "infrator" encontrava-se
dirigindo utilizando-se de telefone celular, pois o simples fato de se pegar o telefone celular
nã o configura a infraçã o tipificada pelo art. 252, VI - ademais se nã o há abordagem do
infrator - nã o há como a autoridade verificar se o "infrator" estava ou nã o falando ao
telefone celular, pois esta é, a finalidade do telefone.
Insurge-se um pseudo-sistema baseado em ficçã o fá tica - nã o devendo tal presunçã o
prosperar.
Para que fosse consistente e valido, tal auto de infraçã o deveria o condutor ter sido parado,
autuado em flagrante, sob pena de ofensa aos Princípios do Devido Processo Legal e da
Ampla Defesa.
É sabido por todos que a conduta dos fiscais de trâ nsito de Santa Cruz do Sul deixa a
desejar, pois sã o infundadas pois, somente na existência de BLITZ existe o flagrante. Porém
nã o é o que acontece, sendo que, diariamente sã o aplicadas supostas multas sem o
motorista ao menos saber, pois quase nunca sã o parados.
ISSO SE DISTÂNCIA MUITO DO CARÁTER EDUCATIVO DE APLICAÇÃO DE MULTAS.
Para ser educativo o motorista precisa ser devidamente parado, advertido verbalmente E
MULTADO se necessá rio, mas assim como é feito, se trata de cará ter punitivo e de abuso de
poder.
O subjetivismo dessa multa é tã o grande que chega a inverter o ô nus da prova, sabidamente
inserido no artigo 333 do Có digo Processo Civil, sob a falaciosa ideia de que o agente da
autoridade, no caso, tem fé pú blica.
Aceitar-se que um simples agente municipal de trâ nsito tem em seu ato de multar a
presunçã o da verdade absoluta, é querer minimizar, fragilizar os direitos e garantias dos
cidadã os que trafegam com seus carros pelas avenidas da cidade. O condutor fica à mercê
dos humores, amores e desamores de um agente da autoridade, cuja caneta vai
fazendo vários reféns nas armadilhas orquestradas pela administração pública.
A multa aplicada pelo uso do telefone celular chega à casa dos cidadã os numa total
surpresa que nã o raro o condutor se questiona de como alguém pode afirmar que estava
neste dia, hora e local falando no celular? Por que o agente não fez o condutor parar e
assinar a multa? Entã o começa um verdadeiro processo Kafkiano[1]. Um agente que nã o
se sabe quando e onde viu, ou parece que viu o motorista dirigindo e usando o celular. Se o
carro estava parado, entã o o motorista poderia usar o celular. Nã o pode fazê-lo quando em
movimento. Neste caso, uma centena de fatos podem gerar o gesto de o motorista levar a
mã o pró ximo do ouvido. Ainda que pareça pueril o argumento, o movimento pode ser fruto
de um breve mal estar, como uma coceira no ouvido, ou um aparelho auditivo que esteja
saindo do lugar ou, mesmo, o cordã o dos ó culos que se desprendeu. Qualquer insignificante
caso fortuito.
A autuaçã o em flagrante faz-se imprescindível, pois trata-se de infraçã o de difícil
constataçã o, cuja verificaçã o à desistência pela autoridade de trâ nsito claramente poderá
dar margem a inú meros equívocos e injustiças. Isto porque quaisquer elementos que
possam ter levado a autoridade de trâ nsito a entender infringido o artigo 252, VI seriam
vestígios como o fato do condutor estar aparentemente falando sozinho no carro ou
encontrar-se com a mã o pró xima ao ouvido, fatos insuficientes para formarem uma
convicçã o.
Ora, é vedado à Administraçã o Pú blica lavrar auto de infraçã o ou cominar penas e multas
com base em meras suposiçõ es ou "desconfianças", circunstâ ncia agravada ainda pelo fato
de ser de extrema dificuldade ou até impossível, a produçã o de prova em contrá rio pelo
condutor. Devido a tal dificuldade o ô nus da prova é invertido, como determina a lei
processual pá tria, cabendo à autoridade autuadora a obrigaçã o de provar o cometimento
indubitá vel da infraçã o antes de cominar a pena.
O que, em conclusã o, importa é que o agente, ao seu talante, multa, do cume da sua "fé
pú blica". E o dano que esse gesto é capaz de causar nã o se limita, apenas, à esfera
financeira, mas acrescenta quatro pontos na CNH.
Quando se vive num Estado Democrá tico, exercitar a cidadania faz parte do processo. Nã o
se pode virar as costas à s injustiças, aos engodos. Tem-se que se insurgir contra esses
impositores. Aceitar como verdadeira uma multa aplicada ao arbítrio de um agente-fiscal
de trâ nsito, é a mais absoluta manifestaçã o de conformismo e desrespeito à inteligência.
Na esfera da legislaçã o do trâ nsito, as arbitrariedades nã o se limitam, apenas, ao plano
material, mas, especialmente, ao formal. Atente-se: multado o motorista pode exercer o
direito de recorrer. Ocorre que esse recurso será analisado por uma junta do Município,
formada por três membros. Indisfarçá vel que está presente a figura de o algoz travestido
de seu pró prio juiz. A Prefeitura indica seus agentes capazes de multar, beneficia-se com o
valor da multa e, ainda, tem o poder de julgar o ato dos seus pró prios prepostos. Na medida
em que o ó rgã o julgador dá provimento ao recurso, está reconhecendo que mal elegeu seu
representante (culpa in eligendo) e, portanto, mal administra. Por isso, como regra, os
recursos sã o indeferidos sob insó litas argumentaçõ es.
Ainda é oportuno ressaltar um fato da maior relevâ ncia: o que diz respeito à prova. A
simples alegaçã o, como já visto, nã o significa prova. Está sob exame, agora, a aplicaçã o de
multa sob a alegaçã o de que o motorista usava, dirigindo, o telefone celular. De um lado, o
agente afirmando; de outro, o motorista, se for o caso, negando. Sabidamente, como ensina
basilar princípio de ló gica material, ninguém pode provar o nada. Em se tratando de prova,
a analogia com o Processo Penal é evidente. Para elucidar, de maneira objetiva e
incontestá vel, a necessidade da existência de prova a respeito de um fato alegado contra
alguém, sã o oportunos os ensinamentos de ARANHA 1987, p.9)[2], quando disserta sobre a
Divisã o do Ô nus Probató rio:
A respeito da teoria do ô nus da prova encontramos vá rias doutrinas, desde os romanos,
com as má ximas de Ulpiano (reus in exceptione actor est) e Paulo (ei incubit probatio qui
dicet, non qui negat), até hoje, com os excelentes ensinamentos de Bentham (a prova
incumbe a quem pode satisfazê-la), Weber (a prova incumbe a quem pleiteia um direito ou
uma liberaçã o, em relaçã o a fatos ainda incertos), Fitting (quem pleiteia um direito em
juízo deve alegar e provar os fatos que o produzem, isto é, os pressupostos da norma-regra,
devendo os outros fatos, pressupostos da norma-exceçã o, ser provados pelo adversá rio),
Gianturco (deve provar quem auferir uma vantagem, etc..
A legislaçã o do trâ nsito nã o atropela, apenas, os princípios processuais pertinentes, mas a
pró pria Constituiçã o Federal, quando fala da presunçã o da inocência:
Art. 5º. LVII - ninguém será considerado culpado até o trâ nsito da sentença penal
condenató ria.
Ressalte-se que a aplicaçã o de uma multa nada mais significa do que a prá tica de um ato
administrativo. E este, para sua concretizaçã o plena, necessita preencher requisitos
indispensá veis. No entendimento de ABREU (1998, p. 124)[3] “a simples mençã o do
dispositivo legal nã o basta para caracterizá -la, porque a infraçã o é um fato, com suas
circunstâ ncias ou elementos constitutivos”.
A autoridade de trâ nsito deve ter em mente que a finalidade primeira do novo CTN nã o é a
sançã o, a puniçã o, mas, conforme dispõ e o
Art. 5º, Capítulo II, do diploma legal referido: I- estabelecer diretrizes da política nacional
de trâ nsito, com vistas à segurança, à fluidez, ao conforto, à defesa ambiental e à educaçã o
para o trâ nsito, e fiscalizar seu cumprimento.
Nesse sentir, entende-se que a nova legislaçã o está preocupada com a educaçã o e a
prevençã o. Se é esse o objetivo da lei, nada mais natural que o agente - que é o instrumento
para que ela se concretize - aplique suas regras no intento de prevenir e educar o cidadã o,
de forma preferencial. Caso contrá rio, estará desvirtuada a pró pria aplicaçã o da Lei. Nã o
pode a Administraçã o Pú blica fazer das multas um meio de encher as burras do erá rio.
Enfocando um brocardo latino, pode-se dizer que allegatio et non probatio, quasi non
allegatio. Naturalmente, que aquilo que se alega se nã o se pode provar, sequer pode ser
considerada uma simples alegaçã o. Logo, nã o há prova concreta de que o motorista estaria
dirigindo e usando o celular. Há só uma presunçã o.
Para finalizar, chega-se ao entendimento de que a multa aplicada pelo uso do telefone
celular, quando nã o preenchidas as formalidades para validade do ato, deverá ser
considerada insubsistente, conforme preceitua o art. 281, pará grafo ú nico, I do CTB. Deve
ser arquivada.
DO DIREITO:

O Có digo Nacional de Trâ nsito em seu artigo 280, § 2º preceitua:


Art. 280. Ocorrendo infraçã o prevista na legislaçã o de trâ nsito, lavrar-se-á auto de infraçã o,
do qual constará :
§ 2º. A infraçã o deverá ser comprovada por declaraçã o da autoridade ou do agente da
autoridade de trâ nsito, por aparelho eletrô nico ou por equipamento audiovisual, reaçõ es
químicas ou qualquer outro meio tecnologicamente disponível, previamente
regulamentado pelo CONTRAN. (grifo nosso)
A interpretaçã o do artigo 280 é clara, a prova da infraçã o de trâ nsito é a declaraçã o do
agente pú blico, que deve estar presente nos autos, esta comprova que o fato ocorreu da
forma descrita na conduta típica.
Porém, na pró pria notificaçã o da autuaçã o está em branco o requisito de equipamento
utilizado. O que torna o auto nulo.
DOS PEDIDOS: Diante do exposto, e considerando que a Requerente nã o cometeu a
mencionada infraçã o, requer-se: a) seja declarado inconsistente e irregular o Auto de
Infraçã o nº 901525615666, dando-se provimento a presente DEFESA; b) seja eximido o
Requerente do recolhimento do valor correspondente, bem como do acréscimo de
pontuaçã o; c) seja identificado o oficial de trâ nsito responsá vel pela lavratura do auto de
infraçã o. D) Requer a produçã o de provas em direito admitidos, especialmente a intimaçã o
pessoal dos agentes de trâ nsito municipais, responsá veis pela autuaçã o.
Termos em que,
Pede deferimento.
Santa Cruz do Sul-RS, 23 de Novembro de 2015.
____________________________ nome recorrente
CPF nº xxxxxxxxxxxxxxxx

[1] Processo em que o réu nã o sabe por quê, ou de quê, está sendo acusado.
[2] ADALBERTO JOSÉ Q. T. DE CAMARGO ARANHA (Da Prova no Processo Penal, Saraiva,
1987, p.9)
[3] WALDIR DE ABREU ( Có digo de Trâ nsito Brasileiro, Saraiva, 1998, p. 124)-

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