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TGNJ – respostas modelo

Noção de negócio jurídico


O negócio insere-se nos atos jurídicos em sentido amplo pois há intervenção, e este é
relevante, da vontade humana. O negócio jurídico caracteriza-se pela existência de
liberdade de celebração e de liberdade de estipulação. Pelo contrário o ato jurídico ss
apenas comporta liberdade de celebração. São elementos no negócio jurídico as partes,
objeto e conteúdo (efeitos a produzir).

Negócios unilaterais e contratos


O negócio é unilateral quanto tem apenas uma parte, quando tem duas ou mais estamos
perante um contrato, ou negócio bilateral/multilateral respetivamente. Surge a dúvida
no que toca a como definir as partes. Não podemos usar o número de pessoas pois uma
parte pode ser formada por mais do que uma pessoa, não podemos usar as declarações
pois um negócio pode ter várias declarações e não podemos usar interesses pois vários
intervenientes podem ter interesses distintos.
Assim sendo, a doutrina desenvolve:
MC – a distinção entre as partes prende-se com os efeitos produzidos pelo negócio
jurídico, isto é, existem tantas partes quantos os efeitos distinguirem. OU seja, entende-
se por efeitos as obrigações e direitos que possam surgir da celebração do negócio,
como tal, o número de partes está relacionado com o número de efeitos distintos que o
negócio produz.
CF – a distinção entre as partes prende-se com a posição quanto ao interesse objetivo
por detrás do negócio. A posição quanto ao interesse objetivo significa o objetivo em si
que cada parte tem com a celebração do negócio, como tal haverá tantas partes quanto
as posições em relação objetivo distinguirem. Devemos olhar para o destino geral do
negócio e compreender se as partes caminham na mesma direção ou se pelo contrário
caminham em direções opostas.
A relevância prática desta distinção pode ser aferida no exemplo do ato constitutivo de
sociedade, onde, segundo MC estaríamos perante um contrato visto que os efeitos
distinguem os diversos sócios, enquanto por outro lado segundo CF estaríamos perante
um negócio unilateral pois a posição quanto ao interesse objetivo dos sócios será à
partida o mesmo.

Negócios típicos e atípicos


Um negócio é típico quando a sua regulação conste da lei, por outro lado será atípico
quando tenha sido engendrada pelas partes.
Podem acontecer negócios mistos (com elementos típicos e atípicos), a dúvida situa-se
em que regime aplicar:
1. Teoria da absorção: aplica-se o regime do negócio preponderante. Critica: pode
não haver um negócio que seja suficientemente preponderante;
2. Teoria da cisão: aplica-se o regime que corresponde ao problema verificado no
caso concreto. Critica: põe-se em causa a unidade do negócio;
3. Teoria da integração: há uma lacuna negocial e aplicamos o regime do art. 239º
CC.
Podem ainda ocorrer negócios de união onde apesar de existir uma pluralidade de
negócios as partes celebram os mesmos de uma vez só num só contrato, podem ser
acidentais quando as partes celebram dois contratos que não têm qualquer ligação
entre si por tal ser mais comodo, ou funcionais quando um negócio está dependente do
outro.
Podemos falar de tipos sociais onde apesar de não existir um modelo legal a prática faz
com que surja um modelo usual – franchises.

Negócios nominados e inominados


Os negócios nominados são aqueles que a lei atribui nomen iuris e os inominados não
possuem nomem iuris. Pode haver negócios atípicos com nomem iuris mas sem
regulamentação legal.

Negócios intervivos e negócios mortis causa


O negócio é inter vivos quando as causas dos efeitos do negócio decorrem ainda em vida
de ambas as partes. O negócio é mortis causa sempre que visa regular situação criadas
pelos efeitos da morte, sendo que esta cria vários problemas e os negócios que visam
resolver problemas jurídicos relacionados com a morte são mortis causa.
Esta destinação é relevante devido às diferenças em termos de regime que cada tipo de
negócio postula:
AS regras da interpretação nos negócios mortis causa diferem das dos intervivos.
Quando falamos em interpretação em negócios mortis causa esta é puramente subjetiva
devendo procurar aquilo que o de cuis quereria – art. 2187º. Nos negócios intervivos
aplicamos a regra geral, que já tem a sua vertente objetiva – art. 236.
No conflito entre a autonomia privada e a tutela de confiança temos estes dois conceitos
em choque nos negócios inter vivos sendo que será necessário um equilíbrio entre
ambos, contudo nos negócios mortis causa não se aplica a tutela da confiança visto que
o de cuis não tem legitimas expectativas a serem tuteladas, não só isto, como o
testamento goza de livre revogabilidade pelo que pessoa X nunca pode afirmar ter
legitimas expetativas de receber determinado direito por testamento.

Negócio consensuais e formais


São negócios formais aqueles onde existe a exigência de forma legal, ou seja, a lei obriga
a que respeite alguma solenidade na forma da exteriorização de vontade em que o
negócio é celebrado. Se a forma não for respeitada o negócio é nulo – art. 220º (e 294).
São negócios consensuais aqueles que a lei não exige forma legal – art. 219 – há
liberdade de forma.

Negócios reais (quoad effectum), obrigacionais, familiares e sucessórios


O negócio é real quando o efeito é a constituição/extinção/modificação de um direito
de natureza real. O mesmo aplica-se a todas as outras, mas respetivamente: natureza
obrigacional, natureza familiar e natureza sucessória.

Negócios reais quoad constitutionem e negócios consensuais


O negócio é consensual (quoad constitutionem) quando este fica celebrado com as
simples declarações de vontade (emissões negociais). A transferência de propriedade
(num c/v por exemplo) dá-se por mera eficácia do contrato – art. 408/1º.
São negócios reais (quoad constitutionem) aqueles onde a sua celebração não se dá
apenas com a declaração de vontade, mas sim com esta aliada à tradição da coisa. A
entrega da coisa é uma formalidade essencial pelo que a sua ausência determina a
nulidade do negócio visto que falta um dos elementos deste – art. 294º. São negócios
reais quoad constitutionem o penhor (669º), mútuo (1142º), comodato (1129º),
deposito (art. 1185), parceria pecuniária (art. 1121º) e doação de moveis (art. 947º/2).
Dependendo da doutrina seguida é possível celebrar versões atípicas destes negócios
em que não é necessário a entrega da coisa ao abrigo da autonomia privada, não se
aplicando ao penhor e doação de moveis. A posição de Vaz serra e mota pinto é a
dominante defendem que é possível celebrar um negócio atípico caberá então ao
intérprete (art. 236) determinar qual seria a intenção das partes (de modo a descobrir
se realmente se trata de uma versão atípica ou não do negócio celebrado), chegando à
conclusão de que as partes queriam celebrar uma versão típica do negócio sem haver a
tradição o negócio será nulo nos termos do art. 294. Se se descobrir que as partes
queriam celebrar o negócio atípico e não houve tradição o negócio é valido havendo, no
entanto, obrigação de entregar a coisa. Por outro lado, para Antunes Varela, não é
possível versão atípica destes negócios, sem a tradição da coisa o negócio é sempre nulo
art. 294, no entanto é possível salvar o negócio nulo com a conversão deste para um
contrato promessa de celebração do mesmo, sendo que mais tarde celebramos o
negócio tipico.
Deixamos de fora os negócios de penhor pois a tradição da coisa é necessária para haver
direito de penhor sobre essa coisa o princípio da tipicidade dos direitos reais (art. 1306º)
não nos permite criar direitos reais atípicos como o penhor sem posse, para além disto
a posse da coisa é que determina publicidade e segurança jurídica, servindo como
garantia de proteção contra terceiros. A doação de moveis por sua vez tem dois
caminhos, quando esta é feita oralmente exige a tradição da coisa e esta exigência surge
como forma alternativa à forma escrita, portanto a tradição da coisa torna-se uma
exigência de forma e não uma mera formalidade que será nulo nos termos do art. 220.

Negócios causais e negócios abstratos


No negócio causal para se invocar um direito tem de invocar a fonte do mesmo. Num
negócio abstrato pode invocar-se um direito sem invocar a fonte.

Negócios gratuitos e onerosos


Nuns negócios onerosos existem vantagens e prejuízos económicos para ambas as
partes, enquanto no negocio gratuito uma das partes apenas terá prejuízos económicos
e a outra vantagens económicas. Há uma parte da doutrina que exige a existência de
animus donandi para podermos estar perante um negócio gratuito, ou seja, intenção de
praticar uma liberalidade sem esperar receber algo em troca.
Um negócio pode ser simultaneamente gratuito e oneroso diga-se a doação modal – art.
963º - onde o doador doa um determinado bem mas em conjunto exige uma obrigação,
pelo que para o doador o negócio é gratuito mas para o donatário será gratuito e
oneroso.
A lei trata estes negócios de forma diferente nos seguintes casos:
Interpretação: na interpretação podemos chegar a conclusões duvidosas onde para
tomarmos partido devemos atentar ao art. 237, se o negócio for oneroso devemos
seguir a interpretação que traduz uma maior igualdade para as partes, se for gratuito
devemos seguir aquela que for menos onerosa para o disponente.
Tutela de terceiros: a inoponibilidade a terceiros de boa-fé exige que o negócio nulo ou
anulável seja oneroso – art. 291º;
Impugnação pauliana: se o negocio é gratuito pode haver sempre impugnação pauliana,
se for oneroso apenas se o terceiro agir de má-fé – art. 612.

Negócios sinalagmáticos e não sinalagmáticos


O negócio sinalagmático caracteriza-se por dar origem a obrigações reciprocas para
ambas as partes, o sinalagma é a fonte das obrigações reciprocas. Para os negócios
sinalagmáticos a lei estabelece normas especificas: art. 428 – na falta de prazos
diferentes no negócio a execução do contrato está dependente do cumprimento de
ambas as partes; art. 801 – se o negócio for sinalagmático pode haver resolução.
O negócio não sinalagmático assenta na ausência de obrigações reciproca, uma parte só
tem direitos e a outra obrigações. O mutuo oneroso (empréstimo com juros) é um
negócio não sinalagmático visto que o mutuante apenas tem o direito de credito e o
mutuário o dever de entregar o dinheiro com juros, a entrega do dinheiro ao mutuário
não corresponde a uma obrigação visto que por este ser negócio real quoad
constitutionem tal será formalidade essencial para a validade deste negócio.

Negócios monovinculante e bivinculantes


O negócio monovinculante apenas irá vincular uma parte, já o bivinculantes vincula
ambas. Podem existir negócios sinalagmáticos monovinculantes, como o caso da
promessa unilateral (art. 411), onde apesar de existirem obrigações recíprocas apenas
uma das partes está vinculada a cumpri-la sendo que a outra pode escolher cumprir ou
não cumprir – contrato promessa unilateral.

Negócios de disposição e negócios de administração


O negócio de disposição comporta a alienação de um elemento estável (aquele que
entra com o intuito de permanecer no nosso património) ou alienação de um elemento
instável (aqueles que à priori se sabe que vão sair eventualmente do património) a título
gratuito.
O negócio de administração comporta o uso, conservação, fruição ou melhoria de um
elemento estável ou a alienação a título oneroso de um elemento instável.

Negócios comutativos e negócios aleatórios


O negócio é aquele que possui aleá – ou seja a incerteza – esta é sabida e querida e
como tal torna-se essência no negócio.
O negócio comutativo é aquele onde as partes conhecem as prestações e valores que
lhes competem, ou pelo menos, sabem determiná-las.
Nos negócios aleatórios pode existir álea quanto:
A prestação a realizar: não sabemos que prestação iremos realizar, tanto podemos ser
credores como devedores. Exemplo: apostas.
A realização de uma prestação: sabemos que prestação podemos ter de realizar, mas
não sabemos se verdadeiramente a teremos de realizar.
O valor da prestação: sabemos qual a prestação, mas não o valor total desta;
Realização e valor da prestação: não se sabe se a prestação vai ser realizada nem o valor
desta.

Formação de um negócio jurídico


A formação de um negócio jurídico pressupõe a existência de declarações negociais.
Para haver uma declaração negocial perfeita é necessário: vontade perfeita tem de
haver vontade ação (vontade de praticar determinado ato), vontade de declaração
(vontade de comunicar através do comportamento uma determinada mensagem) e
vontade funcional (vontade de se vincular juridicamente ao negócio). Declaração que é
a exteriorização da vontade. Concordância entre a vontade e a declaração. O regime –
art. 224º - pensado pelo legislador aplica-se apenas a negócios entre ausentes (lapso
temporal entre proposta e aceitação). Por outro lado, o legislador não tem em conta os
negócios entre presentes (onde não há lapso temporal entre proposta e aceitação).

Declarações recipiendas e não recipiendas


São declarações recipiendas aquelas cuja eficácia está dependente de um destinatário
(ex: proposta negocial), já as declarações não recipiendas não tem destinatário (ex:
oferta ao público). Existem cinco teorias que defendem em que momento a declaração
recipienda se torna eficaz:
1. Teoria de exteriorização: a declaração produz efeitos mal é exteriorizada. Não
chega, pois, a vontade pode exteriorizar-se sem chegar ao destinatário;
2. Teoria de expedição: a declaração produz efeitos mal é enviada ao destinatário.
Não chega, pois, a declaração pode ser remetida sem nunca chegar ao
destinatário;
3. Teoria de receção: a declaração produz efeitos quando o destinatário a receber
com efetividade. Não chega, pois, o destinatário pode recebê-la e ainda assim
não se aperceber de tal;
4. Teoria da posse: a declaração produz efeitos logo que esta chega ao poder do
destinatário em condições de ser conhecida. Não chega, pois, nada garante
consciência do destinatário;
5. Teoria do conhecimento: a declaração é eficaz mal esta chegue ao efetivo
conhecimento do destinatário.
O art. 224º adota diversas destas teorias consoante a situação concreta.
O Art. 224/1 segunda parte estipula que as declarações não recipiendas tornam-se
eficazes mal a vontade do declarante se manifeste de forma adequada (teoria da
exteriorização).
O art. 224º/1 1º parte estipula que a eficácia das declarações recipiendas, regra geral,
estão dependentes da posse destas pela parte do destinatário (teoria da posse) ou
aquando deste tome conhecimento (teoria do conhecimento).
O art. 224º/2 estipula que a declaração recipienda é eficaz se só por culpa do
destinatário esta não for por ele eficazmente recebida (teoria da expedição).
Por último, o art. 224º/3 estipula que é ineficaz a declaração recipienda quando seja
recebida pelo destinatário em condições de, sem culpa sua, não poder ser conhecida
(teoria do conhecimento).

Silencio
O silencio corresponde à total ausência de comunicação por parte de um dos sujeitos, o
art. 218º diz-nos que o silencio não é valorado como declaração negocial exceto nos
seguintes casos:
Lei: se a lei estipular que o silencio tem um valor. Exemplo: compra e venda a contendo
(art. 923/2);
Usos: o uso tem de estar em consonância com a boa-fé e com a lei, devemos ler o art.
218º em consonância com o art. 3º;
Convenção: um acordo onde as partes concordam que o silencio tem determinado valor;
Autovinculação: apesar de nata dito na lei, a doutrina tem vindo a aceitar a
autovinculação, ou seja, quando o próprio autor do silencio assim o valorar como
declaração negocial. A heterovinculação, ou seja, quando uma das partes valora o
silencio de outra sem o seu consentimento é proibida. Nos negócios formais não
podemos por convenção ou por autovinculação derrogar os efeitos de forma com
prejuízo de nulidade.

Forma da declaração
Qualquer declaração negocial tem uma forma, mais ou menos solene. A forma é o modo
de exteriorização da vontade, aquilo que dá corpo à vontade. Uma formalidade é algo
que o legislador faz acrescer à declaração de vontade para que haja celebração válida
do negócio. CF discorda deste entendimento e afirma que a forma é sempre a
exteriorização do pensamento e a formalidade o modo como o vou exteriorizar.
Os fundamentos para as imposições da exigência de forma prendem-se com a
solenidade (necessidade de dar publicidade a determinadas ações para que estas sejam
conhecidas pelo público em geral), reflexão (para que as partes celebrem o negócio de
forma mais consciente permitindo que estas reflitam sobre os efeitos inerentes ao
negócio), e prova (demonstração da ocorrência dos factos). Um negócio que não
observe as regras de forma exigidas para a sua celebração é nulo nos termos do art.
220º.

Forma legal
A forma legal é aquela que a lei explicitamente exige. A forma legal pode ter problemas
nos casos em que algumas clausulas seguem a forma legal e outras não. Nestes casos a
forma legal opera apenas perante o cerne negocial, isto é, sobre os elementos essências
que devem seguir sempre a forma exigida. No que toca às estipulações acessórias estas
só estão sujeitas à forma legalmente exigida quando esta lhes seja aplicável – art. 221º
- ou seja, quando os requisitos de solenidade, reflexão e prova não lhes sejam aplicáveis.
Quando as estipulações acessórias não seguem a forma exigida temos de aferir qual o
período temporal em que estas foram acordadas entre as partes: anteriores ou
contemporâneas à celebração do negócio ou posteriores à celebração do negócio.
Se forem clausulas acessórias anteriores ou contemporâneas (art. 221º/1) temos de
aferir os requisitos da validade formal, ou seja, averiguar se estas estão sujeitas aos
critérios de solenidade, reflexão e prova, se estes fundamentos de imposição de forma
não lhes forem aplicáveis então as clausulas não necessitam de seguir a forma
legalmente exigida e como tal são válidas, a própria jurisprudência tem entendido que
se as clausulas acessórias não dizem respeito a elementos essências do negócio não
estarão sujeitas à forma legal. Para além disto é necessário verificar se a vontade das
partes de inserir as clausulas acessórias no negócio não foi revogada pelo facto de estas
não serem inseridas no documento que respeita a forma legal ou se simplesmente estes
não sentiram necessidade de as incluir. Se nada demonstrar que não havia vontade das
partes então as clausula sãs válidas, caso contrário temos estas como revogadas e não
irão vincular as partes.
Se por outro lado as clausulas acessórias forem posteriores (art. 221º/2) à celebração
do negócio então o problema da vontade das partes é afastado pois têm-se a celebração
como última vontade considerada. Ainda assim temos de averiguar se os fundamentos
de imposição de forma legal não se aplicam a estas clausulas, se assim entendermos
então estas serão válidas, caso contrário serão nulas.

Forma voluntária
Há forma voluntária (art. 222) sempre que as partes celebram o negócio de forma mais
solene do que aquela que a lei exigia. Surge o problema quando algumas clausulas
seguem a forma voluntariamente escolhida e outras não, interessa saber se estas
clausulas que não seguem a forma voluntária são eficazes. Se a lei não exige forma
solene, existe liberdade de forma – art. 219º- e não estaríamos perante um problema
de validade formal, mas sim da vontade das partes caso a clausula seja acordada
anteriormente ou contemporaneamente à celebração do negócio. Legislador tem um
juízo de desconfiança para com estes casos dai a necessidade de averiguar se a vontade
das partes de incluir aquelas clausulas existia à data da celebração do negócio. Se não
incluíram as clausulas tal pode acontecer porque não sentiram necessidade ou porque
mudaram de ideias quanto a estas e já não as queriam incluir. Para aferir se havia ou
não vontade de manter as clausulas devemos ter em conta as regras da interpretação
(art. 236), se nada demonstrar que a vontade das partes era revogar as clausulas então
estas são validas.
Nos casos em que a lei exige forma haverá um problema de validade formal nos casos
em que as clausulas não respeitem a forma legal nem a forma voluntaria. Aqui temos
exclusãoduas hipóteses, se as clausulas forem anteriores ou contemporâneas ao
negócio atentamos ao art. 222/1 e temos de aferir os requisitos da validade formal e da
vontade. Para aferir se as clausulas acessórias estão sujeitas à forma legal utilizamos os
critérios de solenidade, reflexão e prova, se tal não se aplicar então estas não necessitam
de seguir a forma legalmente exigida sendo validas. Quanto à vontade o legislador tem
um juízo de desconfiança para com estes casos dai ser necessário aferir se há a vontade
das partes de inserir estas clausulas à data da celebração do negócio, estas podem não
te-lo feito por não considerarem necessário ou tal pode representar uma revogação da
vontade do incluir, vai depender da interpretação.
Se as clausulas acessórias forem posteriores atentamos ao art. 222º/2 e temos apenas
de aferir o requisito da validade formal.

Forma convencional
A forma convencional é aquela em que há acordo/convenção (art. 223) entre as partes
sobre a forma de celebração do negócio, surge um problema quando algumas clausulas
seguem a forma convencionada e outras não. As partes podem acordar não fazer o
combinado e nestes casos haverá revogação da convenção desde que as circunstâncias
do caso permitam concluir que as partes tinham vontade de revogar o antes acordado.
Se a convenção for anterior à celebração do negócio haverá problema se as partes
celebrarem o negócio de forma diferente à forma convencionada apenas aferimos o
problema da vontade, se for manter a convenção então haverá um problema de forma,
se não então será uma revogação da convenção.
Se a convenção for contemporânea ou posterior à celebração do negócio atentamos ao
art. 223/2 e o legislador presume que a convecção apenas pretende revestir o negócio
de maior solenidade. Esta pode ser ilidida se se chegar à conclusão que a vontade das
partes era revogar o negócio anterior e celebrar o negócio novo de forma
convencionada.

Proposta negocial
A proposta negocial é uma declaração negocial recipienda com um destinatário
determinado. Para estarmos perante uma verdadeira proposta negocial é necessário
que esta seja completa (deve abranger todos os pontos a integrar no futuro contrato),
deve ter adequação formal (a proposta deve revestir a forma exigida para o negócio que
se quer celebrar) e deve ser firme (intenção inequívoca de contratar vinculando-se
juridicamente ao negócio). No fundo, a proposta deve surgir de tal modo que uma
simples declaração de concordância do seu destinatário faça dele um contrato. Se um
destes pressupostos não se verificar estamos perante um convite a contratar. Este nada
mais é do que o período pré-contratual ou período de negociações, a aceitação desse
convite não significa celebração de negócio.
Muitas vezes, em sites de alienação de imoveis, encontramos convites a contratar e não
propostas, visto que apesar destes ser firmes e completos o pressuposto da adequação
formal não é preenchido.

Efeitos e prazos da proposta negocial


A proposta é um facto constitutivo de direito potestativo para o destinatário –
possibilidade de alterar unilateralmente a esfera jurídica de outrem – já o proponente
fica numa posição de sujeição – ver a sua esfera jurídica ser unilateralmente alterada
com a aceitação.
O art. 224º estabelece quando é que se produzem os efeitos da proposta negocial. A
pessoa que se encontra na posição de sujeição não pode ficar em tal ad eternum, o que
significa que consoante determinados limites temporais a posição de sujeição extingue-
se e o direito potestativo irão eventualmente caducar. Os prazos servem para tutelar o
proponente.
Atentemos ao art. 228. A regra geral – 228/1 a) – diz que a proposta é eficaz pelo prazo
que as partes estabelecerem (autonomia privada); O regime supletivo urgente – art.
281º/1 b) – o proponente estipula a urgência da resposta, aqui o prazo é geral e abstrato,
sendo que a proposta dura até que em condições normais está e a sua aceitação
cheguem ao seu destino; o regime supletivo não urgente – art. 228/1 c) – o proponente
não estipula urgência na resposta, o prazo é geral e abstrato, a proposta dura até que
em condições normais esta e a sua aceitação cheguem ao seu destino mais um
acréscimo e 5 dias.
Importa esclarecer o sentido da expressão “condições normais” que varia consoante a
plataforma utilizada para fazer chegar a proposta ao destinatário, devemos conjugar o
art. 228 com o art. 279, daqui retiramos que só se começa a contar o prazo no dia
seguinte à expedição, o prazo é corrido, se não calhar num dia útil passasse para o dia
útil mais próximo. Se a proposta for expedida por mail ou SMS o tempo das condições
normais tem-se por instantâneo, se for por correio azul então 24h ou 48h, se for por
correio normal temos em conta os prazos das notificações judiciais - 3 dias segundo o
art. 248º CP civil.
Se um proponente emite várias propostas a diversos destinatários e um destes aceita a
proposta antes dos demais então o negócio tem-se por celebrado. Qualquer outra
aceitação posterior será nula por compra e venda de bens alheios (art. 892) e pode gerar
RCPC.

Receção tardia da aceitação


Se a proposta for aceite aquando do prazo já passado atentamos ao art. 229º, devemos
distinguir os seguintes casos.
A aceitação foi enviada dentro do prazo, mas sem culpa do destinatário não chega a
tempo ao proponente e como este enviou a tempo o mesmo tem uma expetativa
legitima de que o negócio foi celebrado (art. 229/1 e 229/2 1º parte), para estarmos
perante esta situação a aceitação tem de ser enviada dentro do prazo de vigência da
proposta e o meio de comunicação em situações normais oferecia garantias para que a
resposta chegasse dentro do prazo. Daqui o propoente pode: ignorar o atraso e o
negócio celebra-se ou o proponente considera que há atraso e que a proposta caduca,
contudo este deve informar o aceitante que o negócio não se celebrou para tutelar as
legitimas expetativas do mesmo sob consequência de RCPC.
Já em qualquer outro caso se considera o contrato como não celebrado a não ser que a
aceitação seja convertida numa proposta por cópia ou remissão – art. 229º/2 2º parte.
Falamos de casos onde a aceitação foi enviada depois do prazo por culpa do destinatário
ou enviada ainda no prazo, mas em condições que não garantiam que ela chegasse ao
proponente dentro do prazo, não existem legitimas expetativas da parte do aceitante.
Podemos estar perante uma inalegabilidade formal se o negócio for tratado como se
tivesse sido celebrado validamente quando não foi.

Extinção da eficácia da proposta negocial


A eficácia da proposta negocial extingue-se quando haja: caducidade (decorrido o prazo
a proposta caduca); morte ou incapacidade do proponente (se conseguirmos presumir
ser essa a sua vontade ou se tal resultar de declaração – art. 231º/1 e 226º, caso tal não
aconteça em regra mantem-se os efeitos e a proposta continua em vigor); morte ou
incapacidade do destinatário (cessação dos efeitos da proposta, esta caduca – art.
231º/2); ilegitimidade superveniente do proponente (se enquanto o destinatário não
receber a proposta ou tomar conhecimento da mesma, o declarante perca o poder de
disposição so direito a que a mesma se refere – art. 226º/2); aceitação (forma-se o
contrato); rejeição (não se forma o contrato, ou pode haver contraproposta e a anterior
perde efeito); revogação (o proponente já não quer celebrar o negocio e como tal
informa o destinatário, revogando a proposta). A possibilidade de revogar vai depender
do momento temporal e de se na proposta se reservou essa possibilidade de forma
explicita. Pode haver revogação apenas até à data que a resposta é recebida ou
conhecida (art. 224/1). Depois da proposta ser recebida/conhecida aplica-se o pacta
sunt servanda (art. 406). A aceitação também pode ser revogada nos mesmos termos
que a proposta. O art. 230 fala da irrevogabilidade da proposta em bom rigor trata-se
de uma retratação.
Oferta ao publico
Ao contrário da proposta a oferta ao publico é dotada de generalidade não tendo
destinatário preciso e individualizado. OU seja, temos um proponente que quer celebrar
um negócio com qualquer interessado. A oferta ao público necessita de ser completa
(abranger todos os elementos que devem constar no futuro contrato), deve ter
adequação formal (respeitar a forma exigida para a celebração do contrato) e firme
(intenção inequívoca de contratar). A oferta ao publico deve ser celebrada de tal modo
que uma mera aceitação leve a celebração do negócio. Se um destes pressupostos não
estiver preenchido estamos perante um convite a contratar.
A revogação da oferta ao publica pode ser feita nos termos do art. 230º/3 ou seja a
revogação da oferta ao publico deve ser igual/semelhante à forma utilizada para fazer a
oferta, não há prazos a não ser que já tenha havido aceitação.

Aceitação
A aceitação é fundamental para a formação do negócio, tem de ser total e inequívoca
(absoluta concordância) e tem de ter adequação formal. Os efeitos da aceitação são a
celebração do contrato, esta só produz efeitos quando é conhecida pelo propoente ou
quando chega a sua posse (art. 224/1).
A sua revogação está estipulada no art. 235º/2, em bom rigor é uma retratação e apenas
pode ser revogada antes de produzir efeitos. Caso contrário os efeitos já se produziram
e os negócios são para cumprir – art. 406.
Se estivermos uma aceitação tácita devemos atentar ao art. 234º, este tem
complicações de interpretação pelo que pode ser visto de duas formas. Pode ser
interpretado como uma dispensa da declaração de aceitação onde a execução do
contrato é um ato de cumprimento do negócio nestes casos temos uma proposta/oferta
ao publico e o seu cumprimento dispensa a aceitação. Por outro lado, podemos
interpretar como sendo uma dispensa do carater recipiendo da declaração e aqui temos
uma verdadeira aceitação tácita pelo que há aceitação mesmo que esta não seja dirigida
ao proponente seria ao invés dirigida à generalidade das pessoas se aceitarmos esta
interpretação perante um contrato formal a declaração de aceitação ainda que não
recipienda teria de cumprir os requisitos de forma. A relevância prende-se com a eficácia
do contrato, isto é, a partir de que momento ele produz efeitos.

Rejeição
O destinatário da proposta pode rejeitar ou enviar uma contraproposta.
A rejeição pode ser revogada para aceitação desde que dentro dos prazos do art. 235º.
Também se pode contrapropor se houver firmeza, completude e adequação formal.

DL 24/2014
Este diploma trata maioritariamente de três modalidades de negócio: negócios
celebrados fora do estabelecimento comercial – onde o vendedor vai de encontro ao
comprador – os contratos celebrados à distância – onde o comprador e vendedor não
estão fisicamente presentes um ao lado do outro, o comprador utiliza um sistema criado
pelo vendedor para efetuar o negócio - negócios de fornecimento de conteúdos digitais
– onde o objeto do negócio é digital. Este DL só se aplica quando está em causa uma
relação fornecedora (profissional) e consumidor (particular).
Este diploma surge para defender o consumidor visto que este está pensado
exatamente para as situações onde ele é apanhado de surpresa ou não tem contacto
físico direto com o produto na altura da compra.

Negócios celebrados fora do estabelecimento comercial


Nos negócios celebrados fora do estabelecimento comercial existe uma intensificação
do dever pré-contratual da informação, o art. 4º elenca as matérias que têm d ser
obrigatoriamente informadas ao consumidor. Se o fornecedor violar este dever existem
sanções, no que toca a encargos se o consumidor não for informado dos mesmos então
será o fornecedor que terá de suportar estes (art. 4º/5). As informações obrigatórias
têm de ser transmitidas por escrito em papel ou outro suporte duradouro (art. 4º/6)
sendo que a aceitação tem de ser escrita, isto serve para adicionar solenidade ao
negócio. Caso a forma não seja respeitada o contrato será considerado nulo nos termos
do art. 9º/1.
Este diploma consagra um direito ao arrependimento atribuído ao consumidor, este
consiste na capacidade de resolver o contrato dentro de um determinado prazo a contar
da receção do bem/serviço (art. 10º) Regra geral o prazo é de 14 dias, mas sabemos que
nos negócios celebrados fora do estabelecimento comercial onde estes sejam
celebrados no domicílio do comprador ou durante uma deslocação organizada pelo
fornecedor de bens o prazo passa a ser 30 dias (art. 10º/1). Quando o consumidor emite
a declaração de arrependimento, ao contrário do art. 229º, aqui o que interessa é a data
do envio, ou seja, mesmo que a declaração de arrependimento só chegue após o final
do prazo, esta será valida desde que remetida dentro do prazo – esta declaração de
arrependimento tem liberdade de forma. Caso o consumidor exerça o seu direito ao
arrependimento o comprador será obrigado a devolver o bem. O direito ao
arrependimento é ilimitável e irrenunciável pelo que qualquer clausula que extinga ou
diminua este é nula. O art. 17º estabelece uma exceção ao direito de arrependimento,
por exemplo quando o bem é consumível e foi consumido.

Contratos celebrados à distância


Nos negócios celebrados fora do estabelecimento comercial existe uma intensificação
do dever pré-contratual da informação, o art. 4º elenca as matérias que têm d ser
obrigatoriamente informadas ao consumidor. Se o fornecedor violar este dever existem
sanções, no que toca a encargos se o consumidor não for informado dos mesmos então
será o fornecedor que terá de suportar estes (art. 4º/5). As informações obrigatórias
têm de ser transmitidas por escrito em papel ou outro suporte duradouro (art. 4º/6)
sendo que a aceitação tem de ser escrita, isto serve para adicionar solenidade ao
negócio. Caso a forma não seja respeitada o contrato será considerado nulo nos termos
do art. 9º/1.
Nas compras online o consumidor tem um dever de confirmação. Se a compra for feita
pelo telemóvel existe apenas necessidade de consentimento escrito.
O DL 24/2014 estabelece a regra geral de 14 dias para exercer o direito ao
arrependimento (art. 10º).
Quando o consumidor emite a declaração de arrependimento, ao contrário do art. 229º,
aqui o que interessa é a data do envio, ou seja, mesmo que a declaração de
arrependimento só chegue após o final do prazo, esta será valida desde que remetida
dentro do prazo – esta declaração de arrependimento tem liberdade de forma. Caso o
consumidor exerça o seu direito ao arrependimento o comprador será obrigado a
devolver o bem. O direito ao arrependimento é ilimitável e irrenunciável pelo que
qualquer clausula que extinga ou diminua este é nula. O art. 17º estabelece uma exceção
ao direito de arrependimento, por exemplo quando o bem é consumível e foi
consumido.

Negociação automática
Aplica-se a casos em que se dispensa a presença de uma das partes. Será o caso das
máquinas de comida automáticas. Existem duas teorias que procurar justificar de que
modo se celebram os contratos nestes casos:
A teoria da oferta automática: defende que a simples presença do autómato pronto a
funcionar deve ser vista como oferta ao público, sendo quando o utente aciona o
autómato tal é visto como uma aceitação dessa oferta ao público gerando
automaticamente o negócio. Qualquer falha subsequente será um incumprimento do
contrato perpetuado por quem utiliza o autómato, portanto entramos no regime do
incumprimento. Deste modo o autómato entende-se como um simples prolongamento
da vontade da contraparte.
Teoria da aceitação: aqui a simples acionação do autómato não significa a conclusão do
contrato, mas sim um possível convite a contratar. Deste modo considera-se que o
utente é que formula a proposta e o autómato pode ou não aceitar a proposta do
proponente em troca do preço paga.

CCG – DL 446/85
As CCG são proposições impessoais e pré-elaboradas que os contraentes podem adotar
para efeitos de conclusão de um negócio. Num contrato com CCG o aderente não tem
liberdade de estipulação pelo que apenas tem liberdade de celebração. Para estarmos
perante CCG temos de verificar os seguintes pressupostos cumulativos:
1. Juridicidade: são proposições negocialmente significativas com aptidão para
criar vinculação negocial;
2. Pré-formuladas: existem antes da sua eventual inclusão no contrato, ou seja, são
feitas à priori e mantem-se qua tales quando incluídas no contrato;
3. Generalidade: aplicam-se a uma multiplicidade de pessoas, apetência estrutural
para utilização em vários negócios;
4. Rigidez: as CCG não são negociáveis, se as CCG forem modificadas deixam de ser
tal e passam a ser simples clausulas negociais;
A natureza jurídica das CCG sofre de divergência na doutrina, no entanto tomo partido
na posição que admite que estas são como sendo um negócio jurídico e por vezes uma
norma jurídica, por um lado são negócio jurídico pois precisam de ser inseridas no
negócio para valerem como CCG e é preciso manifestação de vontade para aceitar as
CCG, por outro lado podem valer como normas jurídicas pois podem produzir efeitos da
sua integração no negócio e porque objeto de ação inibitória, para além disso são gerais
e abstratas.
Nas CCG temos sempre o utilizador – aquele que utiliza as CCG – e aderente – aquele a
quem as CCG são apresentadas e pode escolher celebrar ou não o negócio que utilize as
CCG. Não devemos confundir utilizador e aderente com proponente e aceitante visto
que podemos ter uma parte do negócio que é simultaneamente utilizador e aceitante
(ex: seguros).
O contrato pré-formulado aplica-se apenas a uma pessoa pelo que não deve ser
confundido com CCG que se aplicam à generalidade, ainda assim o regime legal é o das
CCG.
O DL 446/85 estabelece o ónus da adequada comunicação e informação (art. 5º e 6º)
onde o utilizador tem de fazer chegar ao aderente o conteúdo das CCG de forma
adequada e explicita. O incumprimento deste ónus não gera ilicitude e não exclui a
validade do negócio na sua integra, no entanto, a lei estabelece a exclusão da CCG que
não cumpriu um dos ónus. O ónus da prova recai sobre o utilizador provar que os ónus
forma cumpridos (art. 5º/3).
As clausulas prevalentes (art. 7º) são aquelas que forem negociadas entre as partes,
sendo que se uma CCG contradisser uma destas a mesma será prevalente e superior.
O art. 8º estabelece as CCG que se tem por excluídas por incumprimento do Ónus, para
além disso as clausula surpresas, e as clausulas inseridas depois da assinatura.
A exclusão da clausula não compromete a subsistência do contrato e com a exclusão
destas recorremos a normas supletivas ou regras de integração (art. 13/2º).
Em caso de dúvida na interpretação utilizamos o art. 10º, se mesmo com a interpretação
não chegarmos a nenhuma conclusão aplica-se o art. 11º onde se favorece o sentido
que mais favoreça o aderente.
O regime de invalidade das CCG consiste em regra geral (art. 15º) declarar como nulas
todas as CCG contrárias à boa-fé. No entanto o regime varia entre negócios celebrados
entre profissionais (art. 18º e 19º) e negócios celebrados entre profissional e particular
(art. 18º até art. 22º).
Existem dois tipos de invalidade nas CCG, as CCG absolutamente proibidas e as
relativamente proibidas. As primeiras são nulas e nunca serão válidas. As segundas são
nulas exceto quando o quadro negocial padronizado as justifique.
A consequência da invalidade é mais rica que o regime geral do art. 286, segundo o
regime do DL 446/85 o aderente pode (tendo sempre em conta o art. 280º):
1. Confirmar o negócio;
2. Nulidade total – art. 12º;
3. Conservar o negócio limitando a nulidade às clausulas proibidas – art. 13º;
4. Redução do negócio – art. 292º CC e art. 14º - a redução pode ser impedida se
determinarmos que a vontade das partes à data da celebração do negócio seria
a da não celebração na versão mais magra da redução.
Depreende-se que apenas o aderente terá legitimidade para invocar a nulidade visto
que o regime das CCG serve para o proteger.
Por último serve referir que é possível aplicar uma ação inibitória as CCG onde um
tribunal pode avaliar e proferir se as mesmas são proibidas ou não (apenas associações
ou MP podem fazê-lo).

Regime de compra e venda de bens de consumo


O âmbito de aplicação deste DL 84/2021 estende-se ao contrato de compra e venda,
contrato de prestação de serviços, empreitada, locação e conteúdos digitais. Aplicamos
este regime sempre que no negócio exista uma relação entre profissional e particular
singular (art. 2º). Não aplicamos o DL quando estamos perante um negócio entre
profissionais, entre profissional e pessoa coletiva e no caso de compra e venda de bens
em segunda mão se não for a título profissional.
Regime aplicável à compra e venda de bens moveis
Todos os consumidores têm direito à conformidade do bem móvel, esta traduz-se na
ausência de defeitos e também qualidade acordadas para o fim pretendido.
Dentro da conformidade temos dois prismas (art. 6º e 7º): subjetivo, que resulta da
relação que se estabeleceu entre o profissional e o consumidor; objetivos, resulta da
experiência comum.
A falta de conformidade tanto se pode manifestar em hardware como em software, ou
até mesmo em acessórios como instruções. Contudo não haverá garantia quando o
vendedor alertou o consumidor para a falta de conformidade e ainda assim este aceitou
a mesma
O vendedor responde pelas faltas de conformidade, no entanto, existe um prazo para
essa responsabilização (responsabilidade objetiva). A responsabilidade dura 3 anos –
art. 12º/1 – e começa a contar após a entrega da coisa, existem algumas
particularidades: nos primeiros dois anos o legislador presume a falta de conformidade
do bem à data da celebração de negócio (art. 13º/1), A presunção é ilidível mediante
demonstração por parte do vendedor; depois dos dois anos até ao fim do prazo o
vendedor ainda pode ser responsabilizado, mas já não há presunção pelo que o ónus
recai sobre o consumidor (art. 13º/4).
De modo a resolver a falta de conformidade existem 4 possibilidades- art. 15º - não
existe autonomia total na escolha pelo que existe uma hierarquia de soluções: primeiro
opta-se por reparar ou substituir o bem (a título gratuito), se tal não for possível, pode-
se optar pela redução do preço e em último caso a resolução do contrato. O comprador
poderá optar sempre por exercer o seu direito de rejeição se a falta de conformidade se
verificar dentro do prazo de 30 dias após a entrega da coisa – art. 16º.

Representação
Há representação sempre que uma pessoa pode agir em nome e no interesse de outrem.
Aquele que age em interesse de outrem é o representante aquele cujo interesse se visa
realizar é o representado – art. 258º e ss.
Para haver verdadeira representação são necessários os seguintes pressupostos:
atuação em nome de outrem, atuação no interesse de outrem e fundamento jurídico
para o poder de representação – legitimidade indireta. A imputação direta dos efeitos
do ato ao representado, os efeitos produzem-se automaticamente na esfera jurídica do
representado.
A representação tem como efeitos a legitimação do ato praticado por uma pessoa
diferente daquela cuja esfera jurídica os seus efeitos se projetam.
Regra geral a vontade relevante para efeitos de apuramento de vicio é a do
representante exceto naquilo em que a vontade determinante foi a do representado
(art. 259º/1). Se o representado estiver de má-fé, ainda que o representante esteja de
boa-fé, tal não releva para a patologia no negócio (art. 259/2).

Figuras afins da representação


Não devemos confundir representação com mandato sem poderes pois aqui apesar de
o mandatário agir segundo o interesse de outrem e com fundamento jurídico para tal o
mesmo fá-lo em nome próprio.
Ação sub-rogatória: alguém atua no nome de outra pessoa, mas em interesse próprio;
Gestão de negócios: não há fundamentação jurídica;
Núncio: tudo acontece como na representação, mas o poder de decisão não existe pelo
que há apenas uma simples transmissão de vontade, na representação a vontade do
representante entra em jogo. Dissociação subjetiva – dissociação entre o autor material
do ato e pessoa cuja esfera jurídica se vai alterar.

Modalidades de representação
A representação pode ser legal – se a fonte do poder representativo for a lei – ou
voluntária se a fonte do poder representativo resulta do negocio jurídico.
A representação pode ser ativa quando o representante atua em nome de outrem
mediante a emissão de declarações de vontade ou passiva quando os poderes emitidos
ao representante apenas emitem que este receba declarações de outrem.

Contrato consigo mesmo


O contrato consigo mesmo, ou autocontrato, ocorre quando o representante
simultaneamente intervém no contrato em nome do representado e em nome próprio,
ou quando a mesma pessoa é representante de ambas as partes. O regime estabelecido
pelo art. 261º diz-nos que estes negócios são anuláveis exceto quando o representado
haja consentido especificamente na possibilidade do autocontrato ou quando do
negócio não decorra conflito de interesses.
A anulabilidade pode ser sanada por confirmação nos termos do art. 288º CC.
O art. 261º/2 vem nos dizer que o mesmo regime se aplica quando o representante se
faça substituir por alguém a quem passe os poderes que lhe foram atribuídos.
Se do autocontrato o representante vender um bem a terceiro, mas posteriormente o
representado invoque a anulabilidade podemos estar perante uma C/v de bens alheios
(art. 892).

Procuração
A procuração é uma modalidade de representação voluntária (art. 262º) esta tanto pode
ser o documento jurídico como o negócio de representação voluntaria em si. Discute-se
qual a natureza da procuração, é pacifico que esta é unilateral, CF defende que a
procuração é um negócio unilateral não recipiendo, pelo que produzirá efeitos logo a
partir do momento em que esta é emitida. Por outro lado, há quem defenda que a
procuração é um negócio recipiendo peço que apenas produzirá efeitos quando for
conhecida ou chegar a posse de determinada pessoa, pergunta-se se esta pessoa é o
terceiro com quem se irá negociar ou o procurador.
Para se ser procurador é necessário aliar os pressupostos da representação à
necessidade de o procurador ter capacidade natural (art. 263) mais uma exigência de
forma pelo que a procuração deve seguir a forma prevista para o negócio que a mesma
confere poderes para celebrar (art. 262º/2), se o procurador vier a praticar mais do que
um ato a procuração deve revestir a forma do negócio mais solene praticado.
Is poderes de representação extinguem-se nos termos do art. 265 por renuncia do
procurador que é livre e não necessita de fundamento, cessação da realça jurídica que
serve de base à procuração, e por revogação pelo representado é livre exceto quando
vise prosseguir também os interesses do representante ou terceiro onde será necessário
fundamento. O procurador tem obrigação de restituir a procuração ao representado
sem poder invocar a retenção do documento – art. 267º.
Tutela de terceiros na procuração
O regime do art. 266º confere tutela a terceiros em caso de extinção dos poderes de
representação, distinguem-se duas situações:
Quando a causa da extinção dos poderes de representação é a revogação, se a
procuração tiver uma pessoa determinada com quem o negócio deveria ser celebrado
então a revogação da procuração deve ser dada a conhecer por meio idóneo não só ao
representante como também ao terceiro com que o negócio seria celebrado. Se a
procuração for emitida com generalidade para poder celebrar o negócio com quem o
procurador quiser então a revogação da procuração deve ser dada a conhecer ao
procurador e publicitada segundo os termos do art. 258º CP civil, ou seja, no jornal mais
lido da região ou num reconhecido jornal nacional. Se o representado não levar a
conhecer a revogação esta torna-se inoponivel a terceiros a menos que este tenha dela
conhecimento na data da celebração do negócio.
Quando não se trate de revogação, mas de qualquer outra causa de extinção, é
inoponivel ao terceiro com quem posteriormente o procurador tenha praticado o ato
abrangido pelos poderes representativos se o terceiro ignorar sem culpa a causa da
extinção – art. 266/2.

Representação sem poderes


A representação sem poderes ocorre quando há falta de poder – o representante
praticar um ato que não tinha poder para tal ou o poder já tinha cessado – ou quando
há excesso de poderes – o procurador pratica um ato que ultrapassa os poderes que lhe
tinham sido conferidos.
Na delimitação do regime da representação sem poderes importa ter presente que é
possível a modalidade de representação tácita (art. 217º) desde que o carater formal da
procuração não impeça tal coisa e haja comportamento concludente das partes.
O desvalor associado é a ineficácia do ato em relação ao representado, ou seja, este não
sofre efeitos na sua esfera jurídica com a verificação do ato que resulta da representação
sem poderes. O representado pode ainda ratificar o ato se assim considerar benéfico –
eficácia a posteriori – a ratificação deve seguir a forma exigida para o negócio jurídico
que foi praticado (art. 268). A ratificação tem efeitos retroativos exceto direitos
adquiridos por terceiros. O prazo para a ratificação é estabelecido pelo terceiro findo o
prazo a lei valora o silencio como declaração negativa, ou seja, rejeição – art. 268/3. O
terceiro que não conhecia a representação sem poderes pode revogar ou rejeitar o
negócio celebrado até que este seja ratificado, exceto se este sabia da representação
sem poderes – art. 268/4.

Abuso de representação
Aqui o representante age, formalmente, no âmbito dos poderes que lhe foram
conferidos, mas utiliza-os para um fim não ajustado aquele segundo o qual a procuração
se constitui.
Existe uma adequação formal em conjunto com uma desadequação material, contudo
aqui o ato tem se por eficaz, exceto se houver conhecimento ou cognoscibilidade desta
desadequação.
O regime aqui funciona de modo a melhor tutelar o terceiro, uma vez que a simples
justificação dos poderes de representação não significa que os mesmos não estejam a
ser exercidos abusivamente – art. 260º CC -, o que não acontece com as diligencias de
um homem médio na representação sem poderes.

Requisitos do objeto negocial


O art. 280º CC estabelece limites ao objeto negocial, mais concretamente vem dizer que
será nulo o negócio cujo objeto seja indeterminável, contra a lei, fisicamente ou
juridicamente impossível, ofensivo dos bons costumes ou contrário a ordem pública.

Limites ao fim negocial


O legislador estabeleceu no art. 281º limites ao fim negocial, mais concretamente este
fim não pode ser contrário à lei, contrário à ordem pública ou ofensivo dos bons
costumes sobre pena de nulidade.
O fim significa “para que?” ou seja, o que se pretendia obter com a celebração do
negócio. Não devemos confundi-lo com o motivo – origem de circunstâncias que leva ao
negócio – nem com a causa – função do tipo negocial escolhido.
Ao analisar o art. 281 compreendemos que este exige que o fim seja comum as partes
para que este seja nulo, tal justifica-se, pois, diz-se que a tutela da confiança não permite
ferir um negócio inteiro quando apenas uma das partes tinha um fim ilícito. Contudo se
os fins de ambas as partes forem ilícitos, mesmo que sejam fins diferentes, a tutela da
confiança não irá salvar o negócio.
Pergunta-se ainda se para invocar a nulidade é necessário que: ambas as partes devem
conhecer e querer o fim ilícito – dolo direto; ou, apenas uma das parte conhecer e querer
o fim ilícito enquanto que a outra apenas aceita a possibilidade do mesmo – dolo
eventual.

Condição
Segundo o art. 270º a condição é uma clausula negocial típica que vem subordinar a
eficácia de um negócio ao acontecimento de um facto futuro e incerto.
A condição é suspensiva quando o negócio só produz efeitos depois da ocorrência do
facto futuro e incerto. Por outro lado, é resolutiva quando o negócio deixa de produzir
efeitos sempre que aconteça ou não aconteça o facto futuro e incerto.
Se a condição for casual tal significa que esta não depende da vontade das partes. Se for
potestativa então esta depende da vontade das partes apesar de apenas serem
admitidas se assentarem em dados objetivos.
Serão condições improprias aquelas que dependam da verificação de um facto passado
ou presente, impossíveis, condições necessárias, e condições legais.
A aplicação das condições está limitada no contrato de arrendamento e no contrato de
trabalho bem como no casamento.
A invalidade da condição (art. 271) implica a invalidade de todo o negócio pois a eficácia
do negócio está dependente da condição. Contudo se a causa da invalidade for a
impossibilidade da condição resolutiva, nos negócios pessoais e familiares ou nos
negócios gratuitos a condição invalida tem-se por não escrita.
Será invalida a condição contrária à lei, indeterminável, impossível, ofensiva dos bons
costumes ou contraria à ordem pública.
A condição deve seguir a forma do negócio onde a mesma está convencionada.
A pendencia corresponde ao período compreendido entre a formação do negócio e a
verificação do facto futuro e incerto. A parte que está dependente da convenção
encontra-se numa situação jurídica de expetativa jurídica, ou seja, uma situação jurídica
ativa que confere tutela a alguém que pode vir a ser titular de um direito, mas está
dependente da verificação de um facto complexo de produção sucessiva.
A proteção atribuída à parte dependente da convenção é conferida através da
necessidade de ambas as partes estarem de boa-fé, a possibilidade de praticar atos de
conservação sobre a coisa, o proprietário tem eficácia precária nos negócios que
celebrar com terceiros sobre a coisa que consta da condição, ou seja, a eficácia do
negócio com terceiro está dependente da não verificação da condição (art. 272º e ss).
O fim da pendencia pode verificar-se quando o facto futuro e incerto acontece, quando
há certeza que não vai ocorrer o facto, quando há tu quoque (de má-fé a parte a quem
prejudica impede a realização do negócio e vem aproveitar-se disso) tem-se a condição
como verificada ou não verificada se for a parte a quem favorece a agir de má-fé – art.
275º.
A verificação da condição tem eficácia retroativa menos quando as partes acordem o
contrario, ou se estivermos perante negócios de efetuação continuada, ou sobre os atos
de administração, ou quando há um possuidor de boa-fé (art. 276 e 277).

Termo
O termo é a clausula negocial típica que subordina a eficácia de um negócio à verificação
de um facto futuro e certo. Será um termo inicial se o negócio apenas produzir efeitos
quando se verifique o facto futuro e certo ou será termo final quando a verificação do
facto futuro e certo faça terminar os efeitos do negócio.
Se o termo for invalido então tal irá ferir todo o negócio (seguindo os critérios da
condição) exceto no casamento, perfilhação e testamento. O art. 278º diz-nos para
aplicar o regime da condição ao termo com as devidas alterações. A regra do termo é a
irretroatividade.

Modo
O modo é uma clausula típica dos negócios gratuitos que impõe uma obrigação ao
beneficiário da doação ou ao herdeiro.
Modo vs condição suspensiva: o modo não impede o negócio, mas obriga, a condição
não obriga, mas impede o negócio. No modo o negócio produz logo os seus efeitos
translativos, na condição apenas quando se verifica o facto futuro e incerto.
Modo vs condição resolutiva: interpretamos o negocio. Se o objetivo principal for a
adoção de uma conduta temos uma condição, se for a produção de efeitos translativos
será um modo.
Se a obrigação modal for nula tal não afeta o negócio todo, apenas passa a haver um
negócio não modal.
O incumprimento não é suficiente para a resolução do negócio modal.

Interpretação
A interpretação traduz-se em retirar o conteúdo e o objeto do negócio jurídico. A regra
geral é o art. 236 mas existem exceções para os negócios formais – art. 238 – e para o
testamento – art. 2187º.
A doutrina diverge sobre o que é verdadeiramente importante interpretar, as teorias
subjetivistas dizem que devemos sempre retirar a vontade das partes
independentemente de fatores externos, daqui surge a teoria da vontade que diz o
objetivo da interpretação é reconstruir a vontade do declarante e a teoria da
responsabilidade onde apesar de o fim ser o mesmo o declarante deve cumprir o ónus
da adequada comunicação – uma comunicação clara ou pelo menos com esforço e
intuito de ser clara. Por outro lado, as teorias objetivistas dizem que o que importa é a
declaração visto que é esta o único fator que o declaratário tem acesso, surge assim a
teoria da impressão que diz que a declaração vale com o sentido que um homem medio
daria à declaração se colocado na posição do declaratário real, e a teoria da confiança
que completa a teoria da impressão dizendo que se o declaratário conhecia a vontade
real esta será a que prevalecerá.
Consoante a posição que tomamos tal irá afetar a maneira como lemos o art. 236, assim
sendo se optarmos por uma visão mais subjetivista como CF então:
- O art. 236/2 será a norma principal, ou seja, se o declaratário conhecia a vontade do
declarante será este o sentido da declaração.
- O art. 236/1 aplicar-se-á quando não conseguirmos aplicar o 236/2, deste modo
estamos perante dois ónus, o ónus da adequada comunicação da parte do declarante, e
o ónus do adequado entendimento da parte do declaratário. Quanto ao declaratário vai
valer sempre o sentido percetível, quanto ao declarante em princípio vale o sentido
percetível, se este corresponde ao sentido querido então não há problemas, mas se não
então temos de abrir duas hipóteses, a primeira é se o declarante cumpriu o ónus da
adequada comunicação e se tal fez então aplica-se o sentido querido e não o sentido
percetível, se não cumpriu o ónus da adequada comunicação será imputável o sentido
percetível.
Por outro lado, se optarmos por uma visão mais objetivista como MC:
- o art. 236/1 1º parte é a norma principal e tem prevista a teoria da impressão, ou seja,
a declaração vale com o sentido que um homem médio lhe daria;
- o art. 236/1 2º parte aplica-se quando não podemos contar com o sentido real da
declaração;
- o art. 236/2 decorre da teoria da confiança, ou seja, se o declaratário conhecia a
vontade do declarante é esta que valerá.

Autoqualificação
Quando se redige um contrato este tem um tipo e uma qualificação, coloca-se a questão
de que valor dar a esta qualificação que as partes dão ao contrato celebrado. As partes
podem ter dado uma qualificação errada ao contrato mas aqui o que importa é as
obrigações e deveres decorrentes do mesmo mais do que a sua qualificação. Também
pode acontecer as partes darem uma qualificação diferente propositadamente para
fugir a determinado tipo negocial.
A autoqualificação não é vinculativa, mas também não prejudica a validade do negocio,
isto pois independentemente da qualificação que as partes atribuiem ao negocio, em
principio este valerá segundo as obrigações e deveres que verdadeiramente surjam do
contrato.

Casos duvidosos
Falamos dos casos onde da interpretação do art. 236 surge mais do que um sentido
possível, ainda assim apenas um pode prevalecer pelo que aplicamos o art. 237, este
diz-nos que nos negócios gratuitos escolhe-se o sentido menos gravosos para o
disponente e nos negócios onerosos o sentido que traduzir um maior equilíbrio entre as
partes. Surge o problema quando não há uma verdadeira diferença notável entre os
sentidos, assim sendo não conseguimos retirar um sentido e como tal não se consegue
retirar o conteúdo do negócio pelo que este será indeterminável e consequentemente
nulo – art. 280.

O art. 238 serve para os negócios formais e vem dizer que a declaração não pode valer
com um sentido que nada tenha a ver com o texto e que o sentido apenas valerá se
corresponder à vontade real das partes e se as exigências de forma não lhe forem
aplicáveis – art. 221.
Se da interpretação se retirar um sentido sem base na letra o negócio será nulo, se não
podemos sempre procurar um sentido que tenha maior correspondência com a letra da
lei.

Integração
A integração serve para integrar as lacunas negociais, ou seja, aspetos do negócio que
deviam ter sido incluídos, mas não foram. O art. 239º vem nos dizer que na falta de
disposição especial a declaração negocial deve ser integrada em harmonia com a
vontade que as partes teriam tido se houvessem previsto o ponto omisso ou quando
haja outra solução por eles imposta segundo os ditames da boa-fé. A doutrina diverge
quanto a que caminho seguir, CF diz-nos que devemos procurar normas supletivas, caso
não existam devemos ter em conta a vontade hipotética das partes e se ainda assim não
for suficiente ou contrário à boa-fé devemos escolher a vontade hipotética objetiva do
homem medio. Por outro lado o conceito exigente de lacuna diz que devemos atentar à
vontade hipotética das partes e só depois à vontade hipotética objetiva. Por ultimo MC
considera que o critério final é a boa-fé como integradora de lacunas e como tal olhamos
para a vontade hipotética objetiva.

Modalidades de cessação de eficácia do negócio jurídico


A revogação é o ato voluntário de cessação da eficácia do negocio jurídico, existe uma
vontade livre (não necessita de previsão no negócio ou na lei pois assenta na autonomia
privada) (nos negócios unilaterais é totalmente livre, se for nos negócios multilaterais
só é livre quando a vontade é comum as partes – pacta sunt servanda – art. 406),
discricionária (não precisa de fundamento) e não retroativa.
A resolução é o ato voluntário de cessação de eficácia do negócio jurídico assente numa
vontade condicionada (só é possível quando o negocio ou a lei assim o diga), vinculada
(tem de haver justa causa) e retroativa.
Denuncia é o ato voluntário de extinção assente numa vontade livre, discricionária, não
retroativa, unilateral e em certa parte própria das relações duradouras.
A caducidade resulta de um facto de efeito extintivo e não assenta em vontade ou
decisão, pode ser em sentido amplo quando a causa da extinção da eficácia do negocio
é a verificação de um facto aqual o direito associa efeito extintivo, ou em sentido estrito
quando a a eficácia extingue-se em função do decurso do tempo.

COAÇÃO FISICA
Na coação física há uma ausência de vontade de ação que acaba por levar a ausência de
vontade de declaração e vontade funcional. Há coação física – art. 246º CC – quando
uma força exterior ao agente o leva a assumir um comportamento declarativo
independente da sua vontade, totalmente excluída por essa força. O art. 246º diz que
nos casos de coação física o negocio não produz efeitos, CF diz que daqui retiramos que
o negocio será inexistente. MC por outro lado diz que a o dever de indemnizar
decorrente do preceito contradiz a não produção de qualquer efeito e que o vicio será
a nulidade.

Falta de consciência da declaração


O art. 246º fala de falta de consciência de declaração que será a falta de vontade de
declaração ou falta de vontade ação quando esta tenha causa interna. O declarante
emite uma declaração sem ter consciência ou intenção de o fazer.
Na falta de vontade de declaração temos de conjugar o art. 246º com o regime da
interpretação – art. 236 – e o regime do erro – art. 247. Propõe-se uma interpretação
restritiva do art. 246º onde só faz sentido aplicar a falta de vontade de declaração se um
homem medio conseguiria perceber que o declarante tinha falta de consciência de
declaração. Caso este critério nos leve à conclusão que este não conseguira perceber a
falta de consciência de declaração então passamos para o regime do erro – art.
247.Como consequência podemos ter a inexistência (CF), a nulidade (MC) ou um regime
misto onde será inexistente se houver falta de vontade de ação e nulo se houver falta
de vontade de declaração.

Declaração não séria


Nas declarações não sérias existe falta de vontade funcional, ou seja, falta de se
autovincular juridicamente – art. 245º. Quando o declarante profere a declaração não
seria este não tem a expetativa como quer que o declaratário se aperceba da não
seriedade. O vicio associado a esta modalidade pode ser a nulidade ou segundo outra
doutrina será inexistência para os casos do art. 245/1 e nulidade para o 245/2.
Estamos perante uma graça pesada quando um homem médio colocado na posição real
do declaratário não conseguiria perceber que a declaração do declarante não era seria
e pode surgir dever de indemnizar por RCO.
Nos casos em que o declarante emite uma declaração séria mas o declaratário a
interpreta como não séria temos de usar as regras da interpretação, se um homem
médio interpreta a declaração como não séria será esse o sentido que vale, sentido
percetivel – art. 236/1. Se o homem medio tem a declaração como seria então esta
valerá como tal e o declaratário pode estar em reserva mental ou pode ser uma simples
declaração não seria.

Erro vicio
O erro vicio reporta-se a uma má formação de vontade, seja por ausência de liberdade
ou de informação, a patologia do erro está na vontade.
Para que haja erro é necessária a ignorância ou seja, quando o declarante por não saber,
ou saber mal algo, quer uma coisa. Há uma divergência entre a vontade real (aquilo que
a pessoa quer) e a vontade hipotética (aquilo que a pessoa quereria se não estivesse em
erro).

Erro sobre a pessoa do declaratário


Segundo o art. 251º podemos estar perante um erro sobre a pessoa do declaratário
quando haja uma ignorância ou falsa representação da pessoa do declaratário (alguém
se faz passar por outrem) ou quando falta uma qualidade objetiva. É qualidade objetiva
aquela que pode ser relevante para a generalidade das pessoas.
Para que este erro seja relevante é necessário:
- Essencialidade do motivo sobre o qual recai o erro: o erro tem de recair sobre um
motivo essencial, ou seja, a qualidade objetiva da pessoa do declaratário era essencial
para celebrar o negócio;
- Conhecimento ou cognoscibilidade por parte do declaratário dessa essencialidade: o
declaratário sabia ou devia saber que a qualidade objetiva da pessoa do declaratário era
essencial para celebrar o negócio.
Com isto verificado o regime será o da anulabilidade, o prazo será de um ano a contar
com a cessação do vicio, no caso concreto será a contar do conhecimento do erro. O
titular do direito potestativo de anulação será o declarante que estava em erro.

Erro sobre o objeto do negócio


O art. 251 fala ainda do erro que aconteça por ignorância ou falta de qualidade objetiva
sobre determinado objeto. O preço em si não é uma característica subjetiva, tal não
significa que isto não possa se ter em conta quando a oscilação do mesmo decorra de
características objetivas como raridade do objeto. Os requisitos de relevância são a
essencialidade do motivo que recai o erro: a qualidade objetiva do objeto devia ser
essencial para o negócio. E conhecimento ou cognoscibilidade dessa essencialidade por
parte do declaratário: o declaratário conhecia ou deveria conhecer que a qualidade
objetiva do objeto era essencial para o negócio. Se o erro for relevante a consequência
é a anulabilidade, o prazo é de um ano a contar com o conhecimento do erro e o titular
do direito potestativo de anulação é a parte que estava em erro.

Erro sobre os motivos


Aqui falamos de uma norma mais aberta, aplicamos o art. 252/1 a qualquer erro sobre
os motivos que não estejam especificados nas outras alíneas. Olhamos para o que leva
o declarante a querer celebrar o negócio e como tal tem-se uma visão subjetiva. Pode
ser um erro sobre a pessoa do declarante, um erro sobre terceiro ou um erro sobre
características subjetivas. Os requisitos de relevância são essencialidade do motivo: o
motivo sobre o qual recai o erro era essencial para a celebração do negócio. E acordo
entre declarante e declaratário quanto à essencialidade do motivo: o declarante e o
declaratário têm de ter acordado quanto a essencialidade do motivo. Se o erro for
relevante então o negócio é anulável no prazo de um ano a contar com o conhecimento
do erro e titular do direito potestativo de anulação será a parte em erro.

Erro sobre a base


O art. 252/2 trata os casos onde o erro recai sobre a base do negocio. A base são as
circunstancias de facto ou de direito que foram determinantes para a vontade de
celebrar o negocio. A doutrina e a jurisprudência têm vindo a aceitar que tanto o erro
como a base podem ser unilaterais. Dito isto, o art. 252º/2 remete-nos para o art. 437,
tendo isto em conta e adotando uma visão mais moderna serão requisitos de relevância:
a essencialidade da base para o declarante, o conhecimento ou cognoscibilidade dessa
essencialidade da parte do declaratário e a manutenção do negocio viola a boa-fé. Se tal
estiver preenchido, e continuando a adotar a visão mais recente da doutrina, o art. 437
fala de duas consequências – modificação ou anulabilidade – como tal aceitamos que o
erro sobre as bases pode dar azo a modificação ou a anulabilidade, contudo o principio
favore negocie impõe que se opte por salvar o negocio com a modificação sempre que
tal for possível, só depois poderemos passar para a anulabilidade.

Erro qualificado por dolo


Este erro caracteriza-se pela existência de Dolus Malus que se entende como qualquer
sugestão ou artificio que induza ou mantem em erro o autor da declaração. Mais
concretamente falamos de dolo artimanha – art. 253 – onde existe intenção de enganar
o próximo. Chamamos de deceptor ao autor do dolo e de decepto ao enganado.
Para que o erro qualificado por dolo seja relevante existe um requisito geral: dupla
causalidade, ou seja, foi o dolo que causou o erro e foi o erro que causou a declaração.
Se o dolo for relevante a consequência é a anulabilidade, ainda assim o regime varia em
algumas situações, como tal:
Se o deceptor for o declaratário e o decepto o declarante, o requisito de relevância será
a dupla causalidade e a consequência a anulabilidade total do negócio;
Se o deceptor é um terceiro e o decepto é o declarante e existe um declaratário, temos
de verificar se há dupla causalidade e se o declaratário conhecia ou devia conhecer o
dolo, se sim a consequência é a anulabilidade.
Se o deceptor for um terceiro que vai beneficiar do negócio, o decepto o declarante e o
declaratário está de boa-fé, o requisito de relevância será a dupla causalidade, a
consequência será a anulabilidade parcial ou seja, apenas se anulam os efeitos que
beneficiariam o deceptor.
Se o deceptor é um terceiro, o decepto é o declarante, o declaratário esta de boa-fé e o
beneficiário do negócio é outro terceiro, os requisitos de relevância são a dupla
causalidade e o beneficiário conhecer ou dever conhecer o dolo, a consequência será a
anulabilidade parcial face ao beneficiário.

Coação moral
Na coação moral – art. 255 - existe medo e este pressupõe uma falta de liberdade. Para
haver coação moral é necessário que haja a ameaça de um mal (criação, continuação ou
intensificação de um mal), ilicitude da ameaça (por violação de norma legal ou abuso de
direito) e intencionalidade da ameaça (a ameaça é feita com intenção de obter
determinada declaração, se a declaração obtida não for a pretendida então não há
coação moral).
Quando o coator é o declaratário, para que a coação moral seja relevante é necessário
que haja dupla causalidade – ameaça causou o medo e o medo causou a vontade.
Quando o coator é um terceiro, para que a coação moral seja relevante, é necessária
dupla causalidade – foi a ameaça que causou o medo e foi o medo que causou a vontade
– ameaça de um mal grave – o interesse do declarante tem de ser superior ao do
declaratário – receio justificado da consumação – no caso concreto o coagido tem receio
fundamentado que a ameaça vai ser concretizada.
A consequência será a anulabilidade, aplicamos a regra geral, 1 ano a contar da cessação
do medo e o titular do direito potestativo de anulação é o coagido.

Estado de necessidade
O estado de necessidade é uma situação de facto que representa uma situação de perigo
para um bem jurídico, quando estamos neste estado sente-se o medo. Normalmente
aplica-se a figura da usura ao estado de necessidade. Contudo não é de descartar os
casos onde alguém tem um dever de ação decorrente de lei ou do NJ e pede, em troca
desse dever de ação, uma contraprestação. Pela pessoa estar com o medo do estado de
necessidade esta acaba por ceder, mas tem-se entendido que tal negócio é ofensivo dos
bons costumes como sentido ético do sistema e da vida em sociedade e como tal nulo
nos termos do art. 280.

Usura
A usura – art. 282 – é um vicio complexo pois esta atinge não só a formação de vontade,
mas também o conteúdo do negócio. A usara compreende o aproveitamento da
fragilidade alheia.
Para haver usura é necessário:
- Pressupostos subjetivos que determinam o vicio na formação de vontade: vítima de
usura numa posição de inferioridade e usurário explora esta situação de inferioridade
(basta explorar mesmo inconscientemente).
- Pressupostos objetivos que determinam o vicio no conteúdo do negócio: lesão
excessiva onde o custo para a vitima é claramente superior do que o beneficio que retira.
A usura é sempre relevante e a consequência será a modificação (se o desequilíbrio se
encontrar no conteúdo do negocio podemos modificar o mesmo de modo a equilibra-
lo) ou a anulabilidade.
A vítima da usura é titular do direito de modificação/anulação, contudo o legislador
estabeleceu dois regimes:
- Usura não criminoso: regime geral da anulabilidade, 1 ano a contar do ultimo momento
que cessa o vicio, ou seja em que a vitima se apercebe da usura ou com a extinção da
posição de inferioridade.
- usura criminosa: 5 anos, se o vicio ainda não tiver cessado no fim dos 5 anos então
adicionamos mais 1 ano a contar da responsabilidade criminal e se nos dois prazos
anteriores o vicio ainda não tiver cessado então aplicamos o regime geral da
anulabilidade.

Erro na declaração
Falamos de uma divergência não intencional entre a vontade declarada e a vontade real
(art. 247-249). A razão do engano pode estar em dois sítios:
1. Erro no significante – a pessoa escolhe a palavra errada, ou seja, declara algo que
não queria;
2. Erro no significado – a pessoa declara o que queria, mas atribui a esta um
conteúdo que não corresponde à realidade.
Se o erro for conhecido resolve-se pelo art. 236/2. Se o erro for cognoscível resolvemos
pelo art. 236/1.
Só existe patologia quando o erro não é conhecido nem cognoscível – erro obstáculo.
O erro obstáculo é relevante sempre que haja essencialidade do motivo sobre o qual
recai o erro e haja conhecimento ou cognoscibilidade do declaratário sobre a
essencialidade do elemento que recai o erro.
O efeito será a anulabilidade, 1 ano a contar do conhecimento do erro.
O art. 249 fala de erros de calculo ou de escrita, contudo estes têm-se por conhecidos
ou cognoscíveis.
Erro no entendimento
O erro no entendimento é desenvolvido pela doutrina como sendo a situação onde o
declaratário vai interpretar a declaração do declarante com um sentido que não
corresponde ao sentido percetivel.
Se o declaratário simplesmente aceitar a declaração do declarante com um “sim” não
haverá problemas e esta irá valer com o sentido querido e percetivel.
Se o declaratário aceitar a declaração do declarante mas proferindo uma alteração que
não constava da declaração inicial então a professora Elsa considera que não há uma
aceitação pois esta deve ser total e inequívoca.
Se houver uma divergência entre a vontade real e a vontade declarada mais um erro
obstáculo então estamos perante um dissenso que pode ser patente se houver uma
discordância entre sentidos objetivos fácil de perceber ou oculto quando há acordo de
sentidos objetivos mas divergência de sentidos queridos. O dissenso caracteriza uma
falta de acordo, sem acordo não há aceitação e sem aceitação o negócio não se celebra
– art. 232.

Simulação
A simulação é uma modalidade de divergência intencional entre a vontade querida e a
vontade declarada. Para que haja simulação é necessária divergência entre a vontade
real e a vontade declarada, pacto simulatório e intenção de enganar.
A simulação pode ser absoluta quando há apenas um negócio e as partes declaram que
querem celebrar este quando na verdade não querem ou pode ser simulação relativa
quando haja dois negócios, o negócio simulado (vontade declarada) e o negocio
dissimulado (vontade real).
A simulação é inocente quando esta se limita a enganar outrem, por outro lado será
fraudulenta quando as partes querem prejudicar alguém – art. 242/2.
A simulação subjetiva diz respeito aos sujeitos, a simulação objetiva diz respeito ao
conteúdo ou ao objeto.
O art. 240/2 diz-nos que o negócio simulado é sempre nulo, mas e o negocio
dissimulado? A lei exige que olhemos para o negócio dissimulado como se não houvesse
simulação, se o negocio for consensual não haverá grande problema, no entanto o art.
241/2 estabelece uma particularidade quanto aos negócios formais este exige que o
negócio dissimulado siga a forma exigida para o negócio que foi celebrado, ora a verdade
é que um notário não vai admitir o registro de dois negócios, um simulado e um
dissimulado, como tal a doutrina e a jurisprudência têm entendido que ao avaliar a
validade do negocio dissimulado devemos: verificar se a forma exigida para o negócio
dissimulado foi seguida pelo negócio simulado e verificar se os elementos essenciais do
negócio dissimulado constam do negócio simulado – art. 221a. Se tal se verificar então
o negócio dissimulado é válido, caso contrário será nulo por vicio de forma – art. 220.
Serve ter em atenção que quando o negócio é uma doação a maioria da doutrina admite
que o animus donandi – dar sem esperar nada em troca – é uma exigência de forma dos
negócios gratuitos, apenas oliveira Ascensão discorda de tal.
Tem legitimidade para arguir a nulidade da simulação os simuladores, os herdeiros
legitimários, os legatários, os sucessíveis legitimários, os preferentes, os credores, os
sub-adquirentes e o Estado. No fundo, art. 286, todos os que possam ver a sua esfera
jurídica ser alterada pela declaração de nulidade.
Inoponibilidade da nulidade da simulação perante terceiros de boa-fé
O art. 243 estabelece que a nulidade da simulação é inoponivel a terceiros de boa-fé,
esta boa-fé será subjetiva psicológica contudo o art. 243/3 leva-nos a querer que em
certo caso pode ser boa-fé subjetiva ética. Ou seja, se um dos simuladores haja alienado
o bem que decorre do negocio simulado a um terceiro de boa-fé, mesmo que a nulidade
seja invocada, tal será inoponivel frente a esse terceiro desde que ele esteja de boa-fé.
Temos de ter em conta os casos em que o terceiro usa a inoponibilidade a seu favor e
tenta aproveitar-se do negocio simulado, como por exemplo um preferente que quer
exercer o seu direito de preferência sobre o valor do negocio simulado que será inferior
que o valor real do negocio dissimulado, nestes casos temos de compatibilizar o art. 243
com a sua ratio legis, o objetivo desta norma será de impedir prejuízos para terceiros,
não de lhes conferir um beneficio ou uma vantagem, assim sendo no caso suprarreferido
estaríamos perante um enriquecimento sem causa (enriquecimento sem fundamento
jurídico para tal) – art. 473, pelo que o terceiro não poderia se aproveitar da
inoponibilidade para preferir pelo preço mais baixo.
Se diversos terceiros estiverem de má fé estes não vão poder invocar a nulidade nem
gozar da inoponibilidade. Nunca devemos descartar a possibilidade de aplicação do art.
291. A hipótese mais complicada surge quando dois terceiros estão de boa-fé, e um quer
invocar a nulidade do negocio enquanto o outro quer mante-lo. Surgem quatro
soluções:
- Teoria da realidade, onde estiver o direito é onde está o interesse;
- Teoria da aparência, seguimos a simulação como se esta fosse válida e vemos onde
está o direito;
- Regime geral, qualquer interessado pode invocar a nulidade;
- CF, conflito de direitos não se aplica.

Errada qualificação do negócio


Aqui as partes erram na qualificação do negócio porque assim o quiseram fazer,
pensemos no CT que é qualificado como prestação de serviços. Tal não será uma
simulação relativa pois há apenas um negócio, para alem disso a errada qualificação não
é nula visto que o interprete irá lhe atribuir a qualificação correta correspondente ao
conteúdo do negocio e não àquela que as partes escolhem adotar, já o negocio simulado
é sempre nulo. A errada qualificação não vincula o interprete pelo que este não olha ao
nome atribuído mas sim ao conteúdo do próprio contrato.

Interposição real de pessoas


A interposição subjetiva de pessoas será um caso de simulação. Tal não se aplica na
simulação real onde A vende a B para B vender a C. Em ambos os casos temos dois
negócios, contudo na simulação apenas um é querido, na interposição real ambos são
queridos. O negócio simulado é sempre nulo, a interposição real apenas será se esta for
feita por fraude à lei ou qualquer outra violação do fim ou requisito de objeto negocial.

Negócio fiduciário
A fidúcia é a confiança, nos negócios fiduciários confere-se mais poderes a uma pessoa
do que seriam necessário para o fim que se pretende com a confiança de que a pessoa
não os irá exercer.
Os negócios fiduciários podem ter um fim de garantia ou fins de administração e
alienação. O principio da tipicidade dos direitos reais – art. 1306 – em principio impedira
a eficácia destas negócios contudo tem-se entendido que o pacto comissório não
pretende criar um novo direito real mas sim será um negocio de natureza obrigacional,
a pessoa tem todos os direitos que vêm com a propriedade mas compromete-se a não
utilizar alguns.
O problema maior fica no pacto fiduciário com fim de garantia, mais concretamente o
pacto comissório (art. 694) que é nulo por enrequicimento sem causa, ainda assim a lei
permite o pacto marciano que em tudo é igual ao pacto comissório com exceção de que
neste, se o credor ficar efetivamente com o bem, este deve devolver ao devedor a
medida do enriquecimento que ganhou entre a diferença do valor da divida e do valor
do bem.

Negócio indireto
Este negocio é composto pelo seu tipo de referencia mais um fim indireto, por vezes
escolhemos um tipo negocial mas queremos seguir um fim que não corresponde a esse
tipo. O negocio é indireto sempre que o fim típico do negocio celebrado não se
assemelhe ao fim típico comum desse mesmo negocio mas sim ao tipo de outro (compra
e venda de um palacete por 100€, tipo é compra e venda mas assemelha-se ao tipo
doação). Este só será nulo se violar o art. 281.

Reserva mental
A reserva mental é um caso de divergência intencional entre a vontade declarada e a
vontade real mas neste caso é unilateral, ou seja, apenas o declarante emite uma
declaração que não corresponde à vontade real para enganar o declaratário – art. 244.
Pode ser absoluta quando o declarante declara que quer celebrar algo que na verdade
não quer, ou relativa, quando o declarante declara querer celebrar um negocio quando
na verdade queria celebrar outro. Pode ser inocente ou fraudulenta, total ou parcial. Se
a reseerva mental não for conhecida do declaratário então os efeitos mantêm-se. Se for
conhecida aplicamos o regime da simulação.

Ineficácia SA
Diz-se por ineficaz em sentido amplo quando um ato não vai produzir todos os efeitos
que devia produzir. Existem 4 modalidades: inexistência, invalidade, ineficácia e
irregularidade.

Inexistência
Não sabemos se existe, o legislador fala dela no casamento civil, MC diz que esta não
existe, CF diz que existe.

Invalidade
A invalidade é o desvalora associado a um vicio genético, pode ser nulidade,
anulabilidade e invalidade mista.
Regra geral é a retroatividade contudo esta tem limites. Quando o bem é alienado
gratuitamente a terceiro o legislador estabelece um regime especial – art. 289 – onde
se a restituição não for possível o terceiro deve devolver o valor do enriquecimento.
Os possuidores de boa-fé não verão retroatividade nos frutos colhidos.
Existe tutela de terceiros de boa-fé (art. 291) sempre que a aquisição do bem for feita a
titulo oneroso, o bem seja registável, o terceiro esteja em boa-fé subjetiva ética, o
registo do bem seja anterior ao registo de ação de nulidade e terem passado mais de
três anos do registo sem ter havido nulidade anulabilidade.

Aqui não há nenhum vicio genético, mas a produção de efeitos do ato está dependente
da verificação de uma determinada circunstância externa que não ocorre e tal faz com
que o ato seja ineficaz. Exemplo: condição e registo.

A ineficácia pode ser:


1. Absoluta: quando o ato não produz efeitos relativamente a ninguém;
2. Relativa: quando o ato não produz efeitos externamente, mas produz efeitos
inter partes.

Também pode ser:


1. Originária: o ato não produz efeitos desde o início porque lhe falta a
circunstância externa. Exemplo: condição suspensiva;
2. Superveniente: o ato não produz efeitos porque posteriormente falta a
circunstância externa. Exemplo: condição resolutiva.

Por último:
1. Total: todos os efeitos estão dependentes da circunstância externa;
2. Parcial: apenas alguns efeitos estão dependentes da circunstância externa.

A ineficácia pode ter efeitos das seguintes maneiras:


1. Inoponibilidade: o facto não pode ser invocado frente a alguém. Também pode
ser absoluta ou relativa.
2. Impugnabilidade: alguém pode impugnar os efeitos que determinado ato iria
produzir impedido a sua produção. Isto serve para proteger interesses legítimos
que podem ser postos em causa através do determinado negócio. Exemplo:
impugnação pauliana.

Irregularidade
Ninguém discute a existência desta figura, contudo não se sabe se esta deve ser
verdadeiramente considerada como uma figura de ineficácia ou se será algo diferente.
Um ato irregular não tem um vicio, mas há uma determinada regra que a lei estabelece
que não foi observada (e a não observância não pressupõe invalidade) mas que vem
comprometer a produção plena de efeitos pelo ato. Exemplo: casamento irregular.

O ato produz efeitos, mas não produz todos os efeitos que produziria se a regra tivesse
sido observada, tal faz a doutrina divergir. Quem coloca o acento tónico nos efeitos que
não são produzidos vê um caso de ineficácia. Quem pelo contrário foca-se nos efeitos
que o ato produz afasta a ineficácia.

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