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Abuso de Direito
Encontra-se previsto no artigo 334° do Código Civil. O abuso de direito é conceito indeterminado
que carece de um processo de concretização para melhor aplicar a justiça ao caso concreto.
Contudo, mesmo sendo um conceito indeterminado, é possível afirmar que o abuso de direito
surge quando alguém exerce um direito de forma ilegítima (neste contexto significa de forma
ilícita), ultrapassando os limites da boa-fé (objetiva) ou dos bons costumes (regras da moral social
- como as regras de conduta sexual e familiar e códigos deontológicos). Segundo o Professor
Menezes Cordeiro existem diversos tipos de atos abusivos, entre os quais:
1) a exceptio doli;
2) venire contra factum proprium;
3) inalegabilidades formais;
4) supressio e a surrectio;
5) tu quoque;
6) o desequilíbrio no exercício do direito.
Ação Direta
A ação direta é uma das manifestações de autotutela (a par da legítima defesa e do estado de
necessidade) e encontra-se prevista no artigo 336º do Código Civil. Define-se como a
possibilidade de recorrer à força para realizar ou assegurar o próprio direito, não podendo a
ação direta servir para assegurar direitos de outrem. Como na legítima defesa e no estado de
necessidade, a ação direta é uma causa de exclusão da ilicitude. Assim quem age em ação direta
para defender um direito próprio, não tem de pagar uma indemnização por via da responsabilidade
civil extracontratual, uma vez que a ação direta é uma causa de exclusão da ilicitude (um dos
cinco pressupostos da responsabilidade civil prevista no artigo 483º do Código Civil).
Pressupostos:
1) exige-se que haja impossibilidade de recorrer a meios coercivos judiciais ou policiais, ou
que o recurso a esses meios não possa evitar a inutilização prática do direito;
2) a ação direta só é permitida se for proporcional, tal como a legitima defesa;
3) só pode ser exercida sobre um direito próprio e não de um terceiro;
4) não deve sacrificar interesses superiores aos que o agente vise realizar ou assegurar
(artigo 336°, n° 3 do Código Civil).
Exemplos: pode atuar em ação direta alguém que furta um gravador a outrem que o recolheu,
sem o consentimento do seu titular, uma gravação confidencial, para posterior destruição da
gravação.
Distinção entre legítima defesa, estado de necessidade e ação direta: o estado de necessidade
distingue-se da ação direta, porque esta visa a conservação prática de um direito, e o estado de
necessidade procura evitar a consumação ou a ampliação de um dano. E em comparação dos
pressupostos da legítima defesa e da ação direta resulta, desde logo, uma diferença essencial:
enquanto que para a legítima defesa ser lícita é preciso que a agressão seja atual e contrária à lei,
na ação direta basta o perigo de inutilização prática de um direito subjetivo.
Acórdão
Decisão final proferida por um tribunal coletivo, ou seja, é a decisão de um tribunal constituído
por mais de um juiz (artigo 152°, n°3 do Código de Processo Civil). Não confundir com o
conceito de "sentença" que é uma decisão judicial final proferida por um juiz singular.
Ad probationem
Significa "para fins de prova". Este termo tem especial relevância para a matéria da forma do
negócio jurídico (artigos 219° e 220° do Código Civil).
Assim a forma ad probationem requer-se para demonstrar a existência do negócio, pelo que na
sua falta, o negócio não pode ser comprovado, por o Direito não admitir qualquer outro modo de
prova quanto à sua existência.
Segundo o Tribunal da Relação de Guimarães: o artigo 220º do CC, prevê que a lei preveja
outra sanção para a falta de forma. E o que ocorre quando o documento seja exigido apenas para
facilitar a prova da declaração - formalidade ad probationem. Assim, nestes casos, a inobservância
da forma legalmente imposta apenas resulta dificultada a prova, não sendo afetada a validade do
ato, que, porém, só poderá ser provado ou por um meio mais solene, com força probatória superior
à do documento exigido, ou por confissão (artigo 364°, nº2º do Código Civil).
Ad substantiam
A forma ad substanciam é exigida pelo Direito para a própria consubstanciação do negócio em
si, sendo que na sua falta, há nulidade. Nos negócios jurídicos que exigem forma legal específica
(como o contrato de compra e venda de um bem imóvel que exige escritura pública para produzir
efeitos jurídicos - artigo 875° e artigo 220º do Código Civil) denominam-se como negócios
jurídicos cuja forma é ad substantiam, uma vez que sem esta forma legal o negócio jurídico é
nulo, logo não produz efeitos jurídicos. Enquanto que nos negócios jurídicos cuja forma é ad
probationem, a falta de forma acarreta apenas como consequência a impossibilidade de prova: o
ato só pode ser provado com aquela forma, ou outra forma mais solene.
Aluguer
Modalidade do contrato de locação, que diz respeito a coisas móveis apenas. Assim, o aluguer é
o contrato pelo qual uma das partes se obriga a proporcionar à outra o gozo temporário de uma
coisa móvel, mediante retribuição (artigos 1022° e 1023° do Código Civil).
Não confundir aluguer com arrendamento: o contrato de locação diz-se arrendamento quando
versa sobre o gozo temporário de uma coisa imóvel, enquanto que o aluguer incide sobre o gozo
temporário de uma coisa móvel.
Por exemplo: António vai de férias. Decide alugar um automóvel (coisa móvel) para a viagem,
e arrendar uma casa perto da praia para a sua estadia com a sua família (coisa imóvel).
Anulabilidade
O negócio anulável é tratado, apesar do vício, como válido. Se não for anulado, no prazo legal
(um ano - artigo 287° do Código Civil), passa a ser definitivamente válido (válido = produção
dos efeitos jurídicos).
Ato Jurídico
Segundo o Professor Menezes Cordeiro os atos jurídicos em sentido amplo repartem-se em:
1) atos jurídicos em sentido estrito (stricto sensu);
2) negócios jurídicos.
Os atos jurídicos stricto sensu estipulam apenas a liberdade de celebração, o que significa que
nestes uma das partes apenas "aceita" cláusulas contratuais que lhe são apresentadas pela
contraparte, sem margem de estipular ou negociar cláusula por cláusula.
Por exemplo: celebração de contratos com cláusulas contratuais gerais, que são contratos com
cláusulas previamente definidas. Caso típico: quando se aceitam termos e condições de uma rede
social como o Instagram, TikTok, Facebook, entre outras; ou quando nos dirigimos a uma loja de
telecomunicações e celebramos um contrato cujas cláusulas estão previamente definidas, para ter
acesso a um serviço mensal de televisão/ internet/ e telemóvel).
Base do negócio
Este conceito surge a propósito do erro no negócio jurídico. O erro sobre a base do negócio,
encontra-se previsto no n° 2 do artigo 252° do Código Civil. Assim, verifica-se “erro sobre a
base do negócio” sempre que ocorra uma falsa representação das circunstâncias em que as partes
fundaram a sua decisão de contratar, não se tornando necessário o reconhecimento por acordo da
essencialidade dos motivos, ao contrário exigido para o erro sobre os motivos.
Boa-fé
O conceito normativo de boa fé é utilizado pelo legislador em dois sentidos distintos:
1) no sentido de boa fé objetiva, enquanto norma de conduta, ou seja, no plano dos
princípios normativos, como base orientadora e fundamento de efetivas soluções
reguladoras dos conflitos de interesses, alcançadas através da densificação, concretização
e preenchimento pelos Tribunais desta cláusula geral (por exemplo, a exigência do
cumprimento de deveres de lealdade e de informação numa fase pré-contratual decorrem
da concretização do princípio da boa-fé em sentido objetivo), assim a boa-fé em sentido
objetivo diz respeitos às normas de conduta (cumprimento de deveres de lealdade,
segurança, e informação) que são exigidas às partes aquando da negociação ou
cumprimento de um determinado contrato;
2) no sentido de boa fé subjetiva ou psicológica, isto é, como consciência ou convicção
justificada de se adotar um comportamento conforme ao direito e respetivas exigências
éticas.
Bons costumes
Os bons costumes são regras da moral social - como as regras de conduta sexual e familiar e
códigos deontológicos. Os bons costumes envolvem, tendencialmente, duas áreas:
1) códigos de conduta sexual e familiar;
2) códigos deontológicos (formuladas por instâncias profissionais próprias: advogados,
médicos, jornalistas e banqueiros).
Concretização: a exigência da conformidade do Direito com os bons costumes surge a propósito
do conteúdo do negócio jurídico (artigo 280º nº2 do CC) e a propósito do regime do abuso de
direito previsto no artigo 334° do CC.
Exemplo: atenta contra os bons costumes levar um idoso com mais de 90 anos, viúvo há uma
semana, sem filhos, a um notário, para outorga de uma procuração que permitiu, ao agente, ficar
com boa parte dos bens do lesado.
Capacidade Jurídica
A capacidade jurídica reparte-se em:
1) capacidade de gozo – significa a suscetibilidade de ser sujeito de relações jurídicas ou
ter direitos subjetivos, a capacidade jurídica aqui é vista como um elemento estativo –
basta estar no mundo jurídico como titular.
2) capacidade de exercício – a capacidade de exercício consiste assim na medida dos
direitos e das obrigações que uma pessoa pode exercer e cumprir por si, pessoal e
livremente. Está, pois, em causa a forma como uma pessoa é admitida a exercer certos
direitos ou a cumprir determinadas obrigações.
Assim as pessoas individuais podem ser sujeitas de quaisquer relações jurídicas, salvo disposição
legal em contrário e por isso mesmo dispõem de capacidade jurídica (artigo 67º do CC).
Cláusula Penal
É uma cláusula contratual, onde as partes fixam, num momento prévio, as consequências do
eventual incumprimento do negócio jurídico por uma das partes (artigo 810º do Código Civil).
Por exemplo: as partes celebram um determinado contrato e estipulam que "em caso de
incumprimento da obrigação da entrega da coisa objeto do contrato nesta data específica, é
exigida uma indemnização num montante de 10.000 EUR".
Coação
Dentro da matéria do negócio jurídico a coação é um meio que atinge a liberdade negocial de
uma das partes. O Código Civil distingue:
1) coação física (artigo 246° do Código Civil)
2) coação moral (artigo 255° do Código Civil), e têm consequências distintas.
Coação física: na coação física alguém é levado, pela força, a emitir uma declaração, sem ter
vontade de o fazer - na coação física não há, assim, qualquer manifestação de vontade, mas apenas
uma aparência. Nestes casos o declarante é um mero instrumento à mercê de outrem, não
existindo qualquer intenção na declaração emitida.
Exemplo de coação física: António agarra no braço de Bento e este assina, à força, um contrato
que este não quer.
Coação moral: a coação moral é a perturbação da vontade, traduzida no medo que vicia a decisão
negocial, por falta de liberdade suficiente, resultante de ameaça ilícita de um dano (de um mal),
cominada com intuito de extorquir a declaração negocial, atuando sobre a vontade negocial e
determinando-a num sentido em que, de outra forma, se não determinaria.
Exemplos: António aponta uma arma a Bento (este ato é ilícito - contrário à lei) com o intuito
de obrigar este último a assinar um determinado contrato (coação moral), ou António ameaça
Bento que se este não assinar o contrato, vai destruir a sua honra em todos os meios de
comunicação social.
Nestes exemplos não existe uma total ausência de vontade (como existe nas situações de coação
física), no entanto esta vontade negocial é forçada pela ameaça e pelo medo (portanto uma
vontade totalmente viciada).
Note-se ainda que, ao contrário da coação física, a consequência para os negócios jurídicos
celebrados sobre coação moral é a anulabilidade e não a nulidade (artigo 256° do Código Civil).
Não confundir coação moral com temor referencial: A coação moral distingue-se do temor
referencial (artigo 255º, n°3 do Código Civil): o temor referencial é, por exemplo, o medo sentido
pelos filhos em desiludir os seus progenitores com algum comportamento ou outros superiores a
quem devem respeito, ocorre, especialmente, em situações de trabalho. Na coação moral não
existe um mero receio de desiludir, mas antes um receio que advém de uma ameaça grave que
pode pôr em causa bens como integridade física ou a própria vida do declarante.
Condição
A condição é uma cláusula contratual típica e acessória, que vem subordinar a eficácia de uma
declaração de vontade a um evento futuro e incerto (artigo 270° do Código Civil).
Confirmação
A confirmação é um negócio jurídico unilateral (não depende da aceitação do destinatário), pelo
qual a pessoa com legitimidade para arguir a anulabilidade declara aprovar o negócio viciado.
Conhecimento oficioso
Este conceito é particularmente importante para a matéria das invalidades do negócio jurídico,
principalmente a nulidade (artigo 286º do Código Civil) que é de conhecimento oficioso. É um
conceito que se compreenderá na sua plenitude na cadeira de Direito Processual Civil.
A regra no processo civil português é a de que o Tribunal só pode conhecer dos factos que as
partes alegam/apresentam (princípio do dispositivo - artigo 5.° do Código do Processo Civil),
sob pena da sentença ser nula nos termos do artigo 615°, alínea e) do Código de Processo Civil
(ou seja, a sentença será nula se o tribunal for além do que tiver sido alegado pelas partes;
exemplo: António pede a condenação de Bento numa indemnização de 100.000 euros decorrentes
dos danos causados por Bento ao António num acidente de viação, o Tribunal não pode depois
vir a condenar Bento além do montante pedido por António, nem por outra responsabilidade que
não seja a extracontratual que se encontra prevista no artigo 483º do Código Civil).
Assim, se existir um litígio em Tribunal sobre um determinado negócio jurídico e nenhuma das
partes invocar a sua nulidade nas peças processuais que apresentam, pode o tribunal reparar
(decorrente da prova produzida ao longo do processo) que o negócio é nulo, ou porque é um
negócio simulado (artigo 240° do Código Civil), ou porque o contrato de compra e venda não
respeita a forma exigida por lei (artigo 875° do Código Civil), entre outras causas de nulidade.
Fundamento: A nulidade dos negócios jurídicos é de conhecimento oficioso uma vez que é um
vício que afeta valores de interesse público que
prevalecem sobre a autonomia privada.
Contrato-promessa
Contrato promessa é o contrato pelo qual as partes, ou uma delas, se obrigada a celebrar novo
contrato - o contrato definitivo (artigo 410º n°1 do Código Civil), ou seja, o contrato promessa
tem como objetivo vincular as partes a celebrar um contrato posterior e definitivo. Neste sentido,
do contrato promessa emergem prestações de facto jurídico positivo: a obrigação de emitir, no
futuro, as declarações de vontade integrantes do contrato definitivo prometido.
Por exemplo: António quer comprar um imóvel a Bento pelo preço de 80.000 EUR. As partes
prometem, através de um contrato (contrato de promessa de compra e venda), que dali a um mês
celebram o contrato definitivo de compra e venda do imóvel através da escritura pública num
notário (artigo 875° do Código Civil).
Culpa in Contrahendo
Designa a culpa na formação dos contratos e encontra-se prevista no artigo 227° do Código Civil.
Segundo o Professor Menezes Cordeiro a culpa in contrahendo, assume o papel, de assegurar,
nas negociações do contrato, o respeito dos valores gerais (como o princípio da boa-fé) da ordem
jurídica. Assim, na fase da preparação dos contratos, as partes não devem criar situações de
confiança que, depois, venham a frustrar. Por exemplo: se António tem uma intenção remota de
contratar (ou seja, não está assim tão interessado no negócio), não deve convencer a contraparte
(Bento) do contrário (viola um dever de lealdade - boa-fé em sentido objetivo), e esta violação da
confiança que legitimamente foi criada na contraparte (Bento) pode provocar responsabilidade
por culpa in contrahendo.
O objetivo da culpa in contrahendo é permitir o ressarcimento de danos causados, numa fase pré-
contratual, decorrentes da violação de:
1) deveres de segurança;
2) deveres de informação;
3) deveres de lealdade.
Declaração negocial
A declaração negocial representa uma exteriorização (expressa ou tácita), um comportamento,
uma comunicação, de uma pessoa que se destina a comunicar, segundo o Direito, um conteúdo
significativo de efeitos jurídicos.
A declaração negocial distingue-se das declarações de ciência, que atestam conhecimento de
factos, mas que não produzem efeitos jurídicos.
Por exemplo: António dirige-se a Bento e diz: "proponho-te a venda do meu automóvel por
5.000 euros e Bento responde-lhe "Excelente negócio. Aceito!"
António dirige a Bento uma declaração negocial expressa (proposta) e Bento dirige uma
declaração negocial expressa (aceitação) a António. O encontro destas duas declarações negociais
formam o negócio jurídico, no caso o contrato de compra e venda, cujos efeitos jurídicos se
encontram no artigo 879° do Código Civil:
1) a propriedade do automóvel transfere-se para a esfera jurídica do Bento;
2) o direito de propriedade extingue-se na esfera jurídica do António;
3) surge a obrigação de pagamento dos 5.000 euros por parte de Bento a António;
4) surge a obrigação de entrega do automóvel na esfera jurídica de António.
O silêncio: o silêncio é a ausência de declaração. O silêncio não deve ser confundido com
declaração negocial tácita, uma vez que na tácita existe uma ação, um comportamento negocial
que tem um sentido que é juridicamente relevante, no silêncio não existe nada, é uma omissão, e
este não pode valer por si mesmo como declaração negocial. Assim, em direito "quem cala não
consente", ou seja, o silêncio não vale por si mesmo (regra geral) como declaração negocial.
Emancipação
Encontra-se prevista no artigo 133º do Código Civil e é uma das exceções à incapacidade de
exercício do menor: a emancipação do menor decorre do seu casamento (artigo 132° do CC),
ainda que não autorizado (neste caso o menor não adquire total capacidade de exercício na medida
em que continua a ser considerado menor quanto à administração dos bens que leve para o casal
ou que posteriormente lhe advenham por título gratuito até à maioridade (artigo 1649º do CC).
Equidade
A equidade é a justiça do caso concreto. Neste sentido, e em contraposição com a lei (que é geral
e abstrata), a equidade atende às especificidades do caso concreto e procura encontrar uma
solução justa considerando os factos apresentados no próprio caso que se está a tentar resolver.
Nos termos do artigo 4° do Código Civil (que prevê o valor da equidade) "os tribunais só podem
resolver segundo a equidade:
1) quando haja disposição legal que o permita (ou seja, tem de existir uma norma que
autorize que em determinadas situações, o caso concreto possa ser resolvido segundo
juízos de equidade);
2) quando haja acordo das partes e a relação jurídica não seja indisponível;
3) quando as partes tenham previamente convencionado o recurso à equidade, nos termos
aplicáveis à cláusula compromissória.
Assim, a equidade traduz, no nosso sistema jurídico, um método facultativo que o julgador (juiz)
tem ao seu dispor para que possa decidir sem aplicação de regras formais (ou quando estas não
dão resposta ao caso concreto).
Por exemplo: A necessidade de fazermos apelo aos critérios da equidade, nos termos do n°3 do
artigo 566° do Código Civil, segundo a qual, "se não puder ser averiguado o valor exato dos
danos, o tribunal julgará equitativamente dentro dos limites que tiver por provados", surge
quando se encontre esgotada a possibilidade de recurso aos elementos com base nos quais se
determinaria com precisão o montante dos danos.
Erro
Dentro da matéria dos vícios da vontade e da declaração surge o erro, que se pode dividir entre:
1) erro na declaração (erro-obstáculo)
2) erro na vontade (erro vício).
Estado de Necessidade
O estado de necessidade é uma causa de exclusão da ilicitude e um dos meios de autotutela (sem
recurso às forças policiais ou judiciais) que o ordenamento jurídico admite. O estado de
necessidade tem como objetivo evitar a consumação ou o aumento de um dano, distinguindo-se
este da legítima defesa na medida em que no estado de necessidade não está em causa nenhuma
agressão praticada contra o agente.
Por exemplo: no direito civil (artigo 339°, n°1 do Código Civil) age em estado necessidade
(portanto, de forma lícita) quem destruir coisa alheia para remover um perigo atual de um dano
manifestamente maior, quer do agente, quer de um terceiro. Imagine que António foi de férias
para o Evereste um mês e deixou, por distração, a torneira aberta da sua banheira. Bento, seu
vizinho, começa a ver sair água da sua porta e arromba-a para fechar a torneira e evita assim a
inundação da casa de António e estragos no prédio inteiro. Em princípio arrombar a porta de uma
casa alheia é um comportamento ilícito uma vez que está a violar o direito de propriedade de
outrem, no entanto como a danificação da porta se deveu à proteção da própria casa de António
e do prédio, o ordenamento jurídico aceita que este ato seja lícito.
Exceptio doli
É uma das modalidades de abuso de direito que significa exceção de dolo esta traduz ou traduziria
o poder reconhecido a uma pessoa de paralisar a pretensão de certa pessoa quando esta
pretendesse prevalecer-se de sugestões ou artifícios não permitidos pelo Direito.
Factos jurídicos
É todo o ato humano ou acontecimento natural juridicamente relevante.
Esta relevância jurídica traduz-se na produção de efeitos jurídicos, que decorrem do facto jurídico.
Contraposição entre facto jurídico e efeito jurídico: os factos são eventos do mundo real
(natural ou humano que o Direito toma como causa de certas consequências juridicamente
atendíveis. Os efeitos jurídicos são consequências desses factos, e consistem fundamentalmente
numa aquisição, numa modificação, ou numa extinção de relações jurídicas.
Classificações dos factos jurídicos: podem existir factos jurídicos: podem existir factos
jurídicos voluntários ou factos jurídicos involuntários ou naturais.
Forma
Diz-se forma da declaração ou do negócio o modo utilizado para exteriorizar a vontade, desde
que seja minimamente solene, ou seja: acompanhada de sinais exteriores que sejam percetíveis
para as pessoas. A matéria da forma do negócio jurídico encontra-se prevista nos artigos 219° e
seguintes do Código Civil.
Para maior desenvolvimento vide supra anotações acima às palavras "ad substanciam" e "ad
probationem".
Fraude à lei
É, segundo o Professor Menezes Cordeiro, uma forma de ilicitude que envolve, por si mesma,
a nulidade do negócio jurídico. Os negócios celebrados com fraude à lei procuram contornar uma
proibição legal, tentando atingir o mesmo resultado que os negócios legais por caminhos diversos
dos quais a lei proibiu. Na fraude à lei as partes tentam, através de artifícios mais ou menos
assumidos, conferir ao negócio uma aparência de licitude e conformidade com a lei.
Requisitos:
1) o negócio terá de ter uma aparência inóqua;
2) tem de existir uma intenção específica de prosseguir um objetivo vedado pela lei;
Inalegabilidades formais
Ocorre quando o negócio jurídico é nulo por falta de forma (por exemplo quando um contrato de
compra e venda de um imóvel é celebrado, não com a forma de escritura pública, mas num
guardanapo), no entanto esta nulidade por falta de forma não pode ser invocada sob pena de se
verificar uma situação de abuso de direito, contrário à boa-fé (artigo 334º do Código Civil). A
inalegabilidade formal aproxima-se da figura do venire contra factum proprium, mas é uma
modalidade muito específica, trata-se de uma situação em que um agente, sabendo que há falta
de forma no negócio, convence a contraparte a celebrar o negócio com uma forma menos solene
e posteriormente quer vir invocar a nulidade por falta de forma. O sistema jurídico não permite
que este tipo de contradição ocorra, uma vez que não é admissível que a mesma pessoa que cria
a situação de nulidade, vir mais tarde invocar esse mesmo vício para não cumprir as obrigações
emergentes do negócio.
Por exemplo, imagine-se que António convence a contraparte, Bento, um senhor já de idade, a
concluir um contrato de compra e venda de um terreno numa folha de papel normal. Bento está
convencido que o negócio é válido. Passado uns meses da celebração do negócio, Bento reclama
a entrega do terreno a António. António, por sua vez, recusa-se a entregar o terreno uma vez que
o negócio é nulo por falta de forma (artigo 875° do Código Civil). No entanto, como foi António
que criou a situação de nulidade, ele não a pode invocar sob pena de agir em abuso de direito
(artigo 334º do Código Civil).
Ineficácia
A ineficácia em sentido estrito traduz a situação do negócio jurídico que, não tendo em si vícios,
não produza os seus efeitos jurídicos, devido a fatores externos. Assim, a ineficácia "stricto sensu"
é um desvalor negativo do negócio jurídico que não envolve a sua invalidade e que não se
reconduz necessariamente à ilicitude. Esta ineficácia do negócio jurídico só surge quando está
prevista na lei, uma vez que o negócio jurídico que é válido produz os seus efeitos jurídicos (como
a transmissão da propriedade, num contrato de compra e venda), não sendo isto possível apenas
em casos excecionais determinados pela lei.
Inexistência
É uma matéria controversa dentro do tratamento das invalidades do negócio jurídico. Há autores
que autonomizam a inexistência como uma invalidade autónoma do negócio jurídico (como é o
caso do Professor Pedro Pais Vasconcelos) e outros autores que não autonomizam a inexistência
da nulidade (como é o caso do Professor Menezes Cordeiro). A discussão desenvolve-se, a título
de exemplo e não esgotando, em torno do artigo 246° do Código Civil (coação física) uma vez
que este preceito refere que: "a declaração não produz qualquer efeito, se o declarante não tiver
a consciência de fazer uma declaração negocial ou for coagido pela força física a emiti-la; mas,
se a falta de consciência da declaração foi devida a culpa, fica o declarante obrigado a
indemnizar o declaratário", ou seja, da locução "a declaração não produz qualquer efeito", o
Professor Pedro Pais Vasconcelos atribui-lhe o desvalor da inexistência, contudo o Professor
Menezes Cordeiro atribui-lhe o desvalor de nulidade, uma vez que entende que em matéria dos
vícios que afetam o negócio jurídico só existem a anulabilidade e a nulidade, são estes que estão
previstos nos artigos 286º, 287° e 289° do Código Civil. Assim, para o Professor Menezes
Cordeiro "Os pretensos casos de inexistência jurídica são, pois, casos de nulidade".
Juros
O juro é a remuneração cobrada pelo empréstimo de dinheiro.
Por exemplo: O Banco XPTO empresta 50.000 EUR a António (contrato de mútuo bancário),
este último terá de pagar ao Banco juros que correspondem ao preço do serviço que o Banco
presta ao emprestar o dinheiro.
Legitima Defesa
Encontra-se prevista no artigo 337° do Código Civil. A legítima defesa define-se como uma das
causas de exclusão da ilicitude numa situação em que o lesado pretende acionar o mecanismo da
responsabilidade civil (artigo 483º do Código Civil). Vejamos: como a responsabilidade civil
extracontratual (artigo 483° do Código Civil) pressupõe que estejam preenchidos cinco requisitos
1) facto;
2) esse facto tem de ser ilícito (contrário à lei/normas de proteção);
3) tem de existir dano;
4) culpa;
5) nexo de causalidade entre o facto e o dano, existem situações em que nem todos os
requisitos estão preenchidos, logo não há azo a indemnização do lesado por via da
responsabilidade civil extracontratual, é o que acontece quando existe um uma situação
que afasta a ilicitude do facto, como é o caso da legitima defesa.
Por exemplo: António vai a andar na rua à noite e depara-se com Bento à sua frente. Bento
aponta-lhe uma arma e diz: "se não me deres o dinheiro que tens, eu disparo". António, mestre
das artes marciais, consegue desarmar Bento e fugir. Bento ficou gravemente magoado uma vez
que caiu no chão com muita força e ficou gravemente ferido. Bento decide então intentar uma
ação em tribunal pedindo uma indenização a António pelos danos corporais que este lhe causou,
no entanto António invoca que agiu em legitima defesa que exclui a ilicitude do seu ato (ofensa
à integridade física do Bento). Nesta situação a invocação da legítima defesa por parte de António,
impede que o mecanismo da responsabilidade civil se acione e que exista um dever de
indemnização por parte de António, uma vez que a legitima defesa é uma causa de exclusão da
ilicitude, que é, por sua vez, um dos pressupostos obrigatórios da responsabilidade civil
extracontratual (artigo 483° do Código Civil).
Excesso de legítima defesa: o artigo 337º n°2 do Código Civil prevê o excesso de legítima
defesa, ou seja, prevê os casos em que um dos pressupostos da legítima defesa não se encontra
preenchida: o da proporcionalidade ou necessidade. Assim, há excesso de legítima defesa quando
a ação do defendente se alongue para além do que seria necessário para deter eficazmente a
agressão. Exemplos: imagine-se que está um grupo de pessoas a apedrejar uma loja e a danificar
um carro. O dono da loja saia em defesa desta com uma arma de fogo para afastar o grupo, no
entanto não há legítima defesa (mas sim excesso de legítima defesa) se depois do grupo dispersar,
ele ainda perseguir e atingir a tiro um dos agressores, aqui o dono da loja já tinha afastado o grupo
da sua propriedade e foi além do que a legítima defesa permite, houve um excesso.
Negócio Jurídico
Facto jurídico voluntário cujo núcleo essencial é integrado por uma ou mais declarações de
vontade a que o ordenamento jurídico atribui efeitos jurídicos concordantes com a vontade das
partes. Nos negócios jurídicos existe liberdade de celebração e estipulação, segundo o Professor
Menezes Cordeiro.
Exemplos de negócios jurídicos que dependem da entrega da coisa para produzirem os seus
efeitos típicos: o penhor (artigo 669°, n°1 do Código Civil); o comodato (artigo 1129° do Código
Civil); o mútuo (artigo 1142º do Código Civil), e o depósito (artigo 1185º do Código Civil).
Nota importante: o contrato de compra e venda não pode ser qualificado como um negócio
jurídico quoad constitutionem porquanto este não ter necessidade da entrega da coisa objeto do
contrato para produzir os seus efeitos jurídicos (previstos no artigo 879º do Código Civil): a
transmissão da propriedade sobre a coisa para o comprador; a emergência da obrigação de
pagamento do preço por parte do comprador e o surgimento na esfera jurídica do vendedor da
obrigação de entrega da coisa. Assim, o contrato de compra e venda qualifica-se tipicamente como
um negócio jurídico quoad effectum uma vez que basta um encontro de vontades (declarações
negociais - proposta e aceitação) para que o negócio produza os seus efeitos jurídicos,
independentemente da entrega da coisa.
Nulidade
A nulidade constitui uma das invalidades que podem afetar a eficácia do negócio jurídico. Um
negócio jurídico nulo nunca produziu os seus efeitos jurídicos típicos, porquanto atinge o negócio
em si. No que diz respeito ao regime jurídico da nulidade, este encontra-se no artigo 286º do
Código Civil, que prescreve o seguinte:
1) a nulidade é invocável a todo o tempo;
2) por qualquer interessado;
3) podendo ser declarada oficiosamente pelo Tribunal.
Por exemplo: A celebração de um contrato de compra e venda tem como efeitos jurídicos
essenciais (artigo 879º do Código Civil):
1) a transmissão da propriedade da coisa ou da titularidade do direito (assim, num contrato
de compra e venda válido, se António vende a Bento um imóvel, este último passa a ser
o seu proprietário);
2) a obrigação de entregar a coisa;
3) a obrigação de pagar o preço (assim, António (vendedor) está obrigado por força da
celebração do contrato de compra e venda a entregar a coisa imóvel a Bento (comprador),
e este último está obrigado a pagar o preço acordado entre as partes. Se as partes
incumprirem com a obrigação de pagar o preço ou obrigação de entrega da coisa, estas
podem exigir junto de um Tribunal o cumprimento das obrigações em falta). Nestes
termos, se este contrato de compra e venda do imóvel tiver sido celebrado entre António
e Bento num guardanapo, este padece de nulidade por falta de forma (artigos 220º e 875°
do Código Civil), o que significa que este contrato nunca produziu os seus efeitos
jurídicos típicos previstos no artigo 879º do Código Civil, ou seja, o Bento nunca se
tornou proprietário do imóvel, porquanto o direito de propriedade não se transmitiu, o
que significa que o Bento não tem a obrigação de pagar o preço acordado entre as partes
e o António não está obrigado a entregar o imóvel a Bento.
Contudo, se António chegou a entregar a Bento o imóvel (através da entrega das suas
chaves), e se Bento pagou a António o preço do imóvel acordado entre ambos, Bento terá
de devolver as chaves do imóvel a António e António terá de restituir o dinheiro do
imóvel pago por Bento, uma vez que o contrato de compra e venda é nulo e estas
obrigações de pagar o preço e de entrega da coisa nunca se constituíram, e o direito de
propriedade nunca se transmitiu nos termos do n°1 do artigo 289° do Código Civil
(efeitos da declaração de nulidade e da anulação - retroatividade).
Não confundir a nulidade com o regime da anulabilidade do negócio jurídico (ver acima a
anotação à anulabilidade): ao contrário do negócio jurídico nulo, o negócio jurídico anulável
produz os seus efeitos jurídicos típicos até que um dos contraentes decide anular o negócio. Por
exemplo: António e Bento foram jantar fora. No decorrer do jantar, António fica extremamente
embriagado e Bento, aproveitando-se do estado de António, propôs-lhe a venda do seu automóvel
por um preço bastante elevado. António aceitou comprar o automóvel a Bento, e porque este é
um contrato quoad effectum (ver anotação à definição de negócio jurídico quoad effectum), os
efeitos jurídicos deste contrato produziram-se assim que António aceitou celebrar o negócio.
Neste sentido, e nos termos do artigo 879° do Código Civil:
1) o direito de propriedade do automóvel transmitiu-se para a esfera jurídica do António;
2) António ficou obrigado a pagar o preço acordado entre as partes,
3) Bento ficou obrigado a entregar o automóvel a António.
No dia seguinte, Bento ligou a António a perguntar quando é que este lhe pagava o preço do
automóvel acordado e quando é que este lhe podia entregar o automóvel. António ficou incrédulo
com a chamada uma vez que mal se lembra, porquanto estava embriagado, de celebrar este
negócio jurídico com Bento.
Assim, António decidiu então anular o negócio jurídico com fundamento em incapacidade
acidental, nos termos do artigo 257° do Código Civil, o que significa que António deixa de ser o
proprietário do automóvel e de ter a obrigação de pagar o seu preço, e Bento deixa de ter a
obrigação de entregar o automóvel a António.
Neste sentido a grande diferença, para além dos regimes jurídicos (artigos 286° e 287° do Código
Civil), entre nulidade e anulabilidade é esta: enquanto que nos negócios jurídicos nulos os seus
efeitos jurídicos nunca se produziram (como vimos acima: num contrato de compra e venda nulo,
o comprador nunca chegou a adquirir a propriedade da coisa objeto do negócio, e as obrigações
de pagar o preço e de entrega da coisa nunca se constituíram), nos negócios jurídicos anuláveis
os efeitos jurídicos produzem-se, uma vez que o negócio jurídico é válido até que um dos
contraentes decide anular os seus efeitos com um dos fundamentos previstos no Código Civil,
como a incapacidade acidental (artigo 257° do Código Civil), coação moral (artigo 255° do
Código Civil), erro sobre a pessoa ou sobre o objeto do negócio jurídico (artigo 251° do Código
Civil), entre outros. No entanto, mesmo que um negócio jurídico seja anulável, pode acontecer
que os contraentes nunca a invoquem, o que significa que o negócio, mesmo anulável, pode
continuar a produzir os seus efeitos jurídicos.
Personalidade Jurídica
A Personalidade Jurídica responde à pergunta do que é ser Pessoa para o Direito e consiste na
suscetibilidade de uma pessoa individual ou coletiva ser sujeito de direitos ou obrigações
jurídicas. Todo o ser humano singular, por força da dignidade da pessoa humana que fundamenta
a razão de ser da Constituição, tem personalidade jurídica.
1) Menezes Cordeiro defende que há direito à vida desde a conceção, logo a personalidade
jurídica adquire-se a partir desse momento, assim sendo o nascituro tem personalidade
jurídica, porque tem direito á vida nos termos do artigo 24° da CRP. (Crítica ao artigo
66° do CC).
2) Diogo Costa Gonçalves: defende o monismo conceptual: não distingue a personalidade
jurídica da capacidade de gozo. O nascimento deve ser entendimento como a expansão
da capacidade de gozo (doutrina minoritária).
3) Problemas suscitados: interpretação do artigo 66º do CC; direitos dos nascituros; direitos
dos concepturos; dano-morte; indemnização pelos danos morais por perda do progenitor;
problema da natureza jurídica do embrião;
4) A personalidade jurídica cessa com a morte, nos termos do artigo 68° do CC sem prejuízo
da tutela de direitos de personalidade de pessoa falecida, ofendida na sua integridade
moral, nos termos do artigo 71° do СС.
5) A personalidade jurídica de uma pessoa singular envolve a sujeição a deveres e a
titularidade de direitos, destacando-se de entre estes, Os direitos de personalidade (artigo
70° e seguintes do CC): direito à integridade moral (honra pessoal e honra social), direito
à intimidade da vida privada (teoria das esferas), direito à imagem, direito à voz, direito
à integridade física e o problema da limitação dos direitos de personalidade (artigo 81°
do CC + artigo 280° do CC + artigo 340° do CC).
6) Alguns dos Direitos de Personalidade foram elevados a Direitos Fundamentais pelo facto
de constarem da CRP: é a título de exemplo, o caso dos direitos à identidade pessoal ( e
aqui surgem problema éticos sobre a alteração genética dos nascituros), à capacidade
civil, à cidadania, ao bom nome e reputação, à imagem, à palavra, à reserva da intimidade
da vida privada e familiar, dignidade pessoal e identidade genética (artigo 26º da CRP).
Prescrição
O seu regime encontra-se previsto nos artigos 298°, n°1,300° a 327° do Código Civil. Quando
uma obrigação prescreve, ela deixa de ser exigível em Tribunal, e passa a ser apenas uma
obrigação natural (artigo 402° do Código Civil). Ou seja, se existir um litígio em Tribunal e uma
das partes invocar que o exercício do direito já prescreveu, então o processo termina uma vez que
a obrigação em causa já não é exigível perante os tribunais. Assim, e em suma: o devedor tem a
faculdade de se opor ao exercício do direito prescrito (artigo 304° do Código Civil) sem que, no
entanto, este direito se extinga (artigo 304°, n°2 do Código Civil), uma vez que o direito de exigir
judicialmente (obrigação civil) fica reduzido a um direito de pretender (obrigação natural);
Fundamentos da prescrição: à medida que o tempo passa o devedor irá ter uma crescente
dificuldade em fazer prova do pagamento que tenha efetuado, uma vez que muito dificilmente
alguém irá conservar recebidos ou outros comprovativos anos a fio. "A não haver prescrição,
qualquer pessoa poderia, a todo o tempo, ser demandada novamente por quase tudo o que pagou
ao longo da vida.
A prescrição não se confunde com a caducidade: a caducidade vem regulada nos artigos 298º
nº2 e 328° a 333° do Código Civil, e tem como efeito que o direito se extingue a partir do momento
em que expirou o prazo dentro do qual deveria ter sido invocado. Assim, enquanto que a
caducidade é mesmo uma forma de extinguir direitos (em consequência do seu não exercício
durante um determinado período), a prescrição modifica o exercício dos direitos: ou seja, passado
um determinado prazo as obrigações passam de ser exigíveis em tribunal, para não serem
exigíveis em tribunal (mas elas não se extinguem, simplesmente, modificam a sua natureza).
Simulação
É uma das causas de nulidade do negócio jurídico que se encontra prevista nos artigos 240° a
243° do Código Civil.
"Quando se invoca a simulação, afirma-se que a vontade declarada intencionalmente não
correspondeu à vontade representada e querida pelas partes; através de um concerto
defraudatório, fingido, as partes emitiram intencionalmente declarações não consonantes com
aquilo que efetivamente queriam, com o fito de enganar terceiros (artigo 240º do CC), ou seja,
simularam declarações negociais"
Requisitos:
1) tem de existir um acordo entre o declarante e o declaratário;
2) tem de haver uma divergência entre a declaração e a vontade das partes;
3) o intuito de enganar terceiros.
A simulação é absoluta quando as partes não pretendam a celebrar qualquer negócio e é relativa
quando a simulação esconda um negócio verdadeiramente pretendido: o negócio dissimulado.
Por exemplo estamos perante uma situação de simulação absoluta quando as partes simulam
vender o seu património a familiares (por exemplo) para evitar que os seus bens sejam penhorados
(para pagar as dívidas dos credores). Ou seja, nestes casos a propriedade dos bens nunca chega a
transferir-se para os familiares uma vez que nunca se chegou a celebrar os negócios.
Estamos perante simulação relativa quando as partes fingem celebrar um certo negócio jurídico
e na realidade querem um outro negócio de tipo ou conteúdo diverso (negócio oculto).
Supressio
A suppressio (supressão) é uma das manifestações do abuso de direito, na qual existe uma
posição jurídica que não tendo sido exercida (exista uma total inação), em certas circunstâncias e
por certo lapso de tempo, não possa mais sê-lo, uma vez que irá contrariar os ditames da boa-fé.
As situações de supressio surgem, sob pena desta modalidade perder o seu sentido útil, antes do
prazo de prescrição terminar, ou seja, são situações de inação onde as obrigações ainda são
exigíveis judicialmente.
Neste sentido, "a suppressio é, no fundo, uma forma de tutela da confiança do beneficiário,
perante a inação do titular do direito", que faz surgir uma nova situação jurídica (a surrectio):
assim a pessoa adquire uma nova situação jurídica, decorrente da inação prolongada do titular de
um determinado direito, que é incompatível com o exercício do direito que esteve "inativo"
durante muitos anos. Caso típico - abuso de direito na ação (mas hipotético, neste exemplo):
António e Bento celebraram um contrato de compra e venda sobre um tabuleiro de xadrez.
António pagou a Bento, mas este nunca lhe chegou a entregar o tabuleiro. Passados 10 anos,
António mete uma ação em Tribunal contra Bento a exigir a entrega do tabuleiro. Ora, nesta
situação podemos estar perante abuso de direito por parte de António, uma vez que este esteve
inativo sobre o exercício do seu direito durante dez anos, gerando uma confiança legítima em
Bento que essa obrigação nunca mais iria ser um tema na sua vida.
Requisitos:
1) tem de existir um não exercício prolongado;
2) uma situação de confiança decorrente do não exercício;
3) uma justificação para essa confiança;
4) um investimento de confiança;
5) a imputação da confiança ao não exercente.
Reserva Mental
O seu regime encontra-se previsto no artigo 244º do Código Civil. É outro caso de divergência
da vontade, assim temos reserva mental, sempre que o declarante emite uma declaração contrária
à sua vontade real com o intuito de enganar o declaratário. No entanto o n°2 do artigo 244° do
Código Civil distingue a reserva mental desconhecida do declaratário e a reserva mental
conhecida do declaratário.
Reserva mental desconhecida do declaratário: ela não afeta a validade da declaração negocial
que produz os seus efeitos normais como se não tivesse havido reserva, assim quem declarar
conscientemente uma coisa ao contrário daquilo que realmente pretende, fica vinculado à sua
declaração (fundamento = tutela da confiança de terceiros e segurança jurídica);
Por exemplo: num acidente de carro - António conduzia na autoestrada a 200 km/h, acabando-
se por despistar e bater no carro de Bento. Bento ficou com o carro destruído e gravemente ferido.
Devido a estas circunstâncias, Bento intentou uma ação no Tribunal contra António pedindo uma
indemnização pelos danos causados por este decorrente do acidente de viação. Bento invocou
para o efeito a responsabilidade civil de António, porquanto este (i) ia a conduzir um carro e este
despistou-se (factos); (ii) a 200 km/h na autoestrada (ilicitude - uma vez que viola o Código da
Estrada - normas de proteção), (iii) produziu danos no carro e no próprio Bento, (iv) agiu com
culpa uma vez que António sabia que não se podia conduzir na autoestrada a 200 km/h (dolo
direto, uma vez que seria previsível, naquela velocidade, ter um acidente); (v) existiu nexo de
causalidade entre o facto (condução em excesso de velocidade) e os danos (no carro do Bento e à
sua integridade física.
Termo
Cláusula pela qual as partes subordinam a eficácia de um negócio jurídico à verificação de um
facto futuro efetivo. Dentro do futuro efetivo, o termo pode ser
1) certo, ou seja, as partes que celebram o negócio sabem de antemão quando é que o evento
de verifica (data específica - no dia 11 de setembro de 2031)
2) incerto, no sentido em que a sua ocorrência é segura (ela vai de facto acontecer mas não
se sabe qual será o momento exato (exemplo típico: a morte de uma pessoa - é um evento
certo mas incerto no momento em que vai ocorrer).
Tu quoque
É uma modalidade de abuso de direito que significa "também tu", e exprime a regra pela qual a
pessoa que viole uma norma jurídica não pode depois, sem abuso:
1) "prevalecer-se da situação da decorrente;
2) exercer a posição violada pelo próprio;
3) exigir a outrem o acatamento da situação já violada".
Caso típico de tu quoque: o disposto no artigo 126º do Código Civil. Não tem o direito de invocar
a anulabilidade o menor que para praticar o ato / negócio jurídico, tenha usado dolo por exemplo
falsificar o documento de identificação) com o objetivo de se fazer passar por maior ou
emancipado.
Usos
Os usos correspondem a práticas sociais reiteradas não acompanhadas da convicção de
obrigatoriedade, em cuja noção está ínsita ou implícita a ideia de uma reiteração ou repetição dum
comportamento ao longo do tempo.
Por exemplo: concedendo uma empresa o gozo da terça-feira de Carnaval a todos os seus
trabalhadores, prática que sempre vigorou na empresa desde a sua fundação em 1994 até 2013,
configura-se uma prática constante, uniforme e pacífica integrante dum uso da empresa que
justifica a tutela da confiança dos seus trabalhadores, pelo que não podia esta retirar
unilateralmente o seu gozo a partir de 2014.
Assim, o venire postula duas condutas da mesma pessoa, lícitas em si mesmas (ou seja, não são
contrárias à lei), e têm de ser condutas diferidas no tempo (acontecem em momentos temporais
diferentes - uma anterior e outra posterior). A primeira conduta (factum proprium) é contrariada
pela segunda conduta (posterior), e o problema é que elas são condutas opostas.
Pressupostos:
1) tem de existir um comportamento anterior do agente suscetível de basear uma situação
objetiva de confiança;
2) tem de existir uma justificação para essa confiança (que vai gerar expetativas);
3) tem de existir um investimento de confiança;
4) tem de haver imputação da situação de confiança.
Sistema móvel: os requisitos para a proteção da confiança articulam-se entre si nos termos de
um sistema móvel, ou seja, não existe entre os pressupostos uma hierarquia e não têm de existir
todos em simultâneo: a falta de algum dos requisitos pode ser compensada pela intensidade
especial que assumam os requisitos que se verificam no caso concreto.