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Obs.: O STF recentemente decidiu que transexuais podem solicitar a mudança de prenome e
gênero em registro civil sem necessidade de autorização JUDICIAL e de CIRURGIA DE
TRANSGENITALIZAÇÃO (mudança de sexo) em respeito ao princípio da Dignidade da
Pessoa Humana – ADI 4275

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ATO FATO JURÍDICO - 3° modalidade de Fato Jurídico Lato Sensu.

A doutrina identifica uma terceira modalidade de fato jurídico Lato Sensu qual seja o ato fato
jurídico. Nessa figura estamos diante de uma conduta humana voluntária e lícita onde é
irrelevante se indagar se o indivíduo tinha ou não intenção em praticá-la, de maneira que a sua
caracterização está diretamente relacionada à consequência, ao desdobramento daquela
conduta pouco importando se ela era querida ou não.
Alguns doutrinadores chamam esse instituto de ATO HUMANO AVOLITIVO justamente pela
irrelevância na manifestação de vontade, servindo de exemplo os arts. 1264 e 1269.
Aproximasse do ato jurídico stricto sensu, porém nesse último é obrigatório que o indivíduo
manifeste a sua vontade de forma livre e consciente e por essa razão a capacidade civil plena
é inafastável. Como no ato fato é irrelevante saber se o indivíduo queria ou não o praticar
poderá ser celebrado por pessoa incapaz. Os atos praticados por pessoa incapaz e que são
socialmente aceitos, como ir ao cinema sozinho e andar de ônibus desacompanhado também
se enquadram como ato fato justamente por que não poderia ser negócio jurídico que exige
capacidade civil plena.
Negócio Jurídico

Pressuposto de Existência (Definição Doutrinária):


Muito embora o art. 104 fale dos pressupostos de validade do negócio jurídico a doutrina
identifica anteriormente os pressupostos de existência.
1 - Finalidade Negocial: Inicialmente é essencial que a manifestação de vontade possa
determinar as consequências que se pretende alcançar e caso não seja possível atribuir essa
finalidade negocial aquela declaração será compreendida como ato jurídico stricto sensu e não
como negócio jurídico.
2 - Vontade Humana: significa que o negócio contém obrigatoriamente uma vontade
declarada que deve refletir a vontade interna daquele indivíduo em praticar aquele negócio.
Alguns negócios jurídicos aparentam conter uma declaração de vontade que se quer existe
interinamente tal como acontece com o indivíduo que celebra negócio sobre influência da
coação física (vis absolutas), onde o negócio jurídico aparenta conter a declaração de vontade
do coagido, porém reflete apenas a vontade de seu coator, como acontece, por exemplo,
quando o indivíduo com ameaça de arma de fogo se ver obrigado a vender um imóvel de sua
propriedade. Incumbe ao coagido fazer prova de que celebrou o negócio sob ameaça física do
coator.
Não se está falando de objeto ilícito
3 - Idoneidade do objeto: Implica em reconhecer que o bem escolhido pelas partes deve ser
próprio, adequado para a modalidade negocial e por elas eleitas. Assim, por exemplo, a
celebração de um comodato exige obrigatoriamente um bem infungível. Se o contrato tem por
objeto 100 cadeiras de plástico estamos diante de uma outra modalidade negocial, na medida
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que inexiste comodato de bem fungível. Alguns bens como os fisicamente impossíveis não
se prestam a qualquer modalidade negocial e na eventualidade de ser celebrado negócio
jurídico envolvendo esses bens, como uma venda do pedaço do céu ou o disposto no art. 426,
a situação é de inexistência e não de invalidade.

Atendidos os pressupostos de existência passa-se à análise dos pressupostos de


validade. A norma prevê duas espécies distintas de invalidade, graduações de invalidade,
sendo elas: nulidade (nulidade absoluta) e anulabilidade (nulidade relativa), em ambos os
casos o negócio não deveria ter sido realizado, porém foi e assim o legislador impõe uma das
situações previstas anteriormente. No primeiro caso, o legislador entende que estamos diante
de um vício ou defeito do negócio jurídico de maior gravidade, na medida que as
consequências são experimentadas pelas partes, por pessoas diretamente atingidas pela
celebração do negócio, mas também o interesse público seria alcançado por um negócio
nulo. Como desdobramento de uma nulidade é possível afirmar inicialmente que a mesma é:
• IMPRESCRITÍVEL, ou seja, o interessado poderá requerer o reconhecimento da
nulidade a qualquer tempo. Apesar da norma expressa prevista no art. 169 do C.C,
alguns doutrinadores e parte da jurisprudência entendem que é possível sustentar após
10 anos da prática do ato, prazo máximo de prescrição, a nulidade só sendo
reconhecida pelo judiciário diante do prejuízo comprovado com a manutenção do
negócio jurídico (pas de nullité sans grief - não há nulidade sem prejuízo). (Art. 169 do
C.C)

• Negócios jurídicos nulos NÃO ADMITEM SANATÓRIA (ratificação), ou seja, na medida


que o judiciário tome conhecimento dos mesmos obrigatoriamente os negócios terão
que ser desfeitos já que não podem ser ratificados. (Art. 169 do C.C)

• Por fim o interessado na nulidade deverá propor AÇÃO DECLARATÓRIA DE


NULIDADE DO NEGÓCIO JURÍDICO para reconhecer a invalidade do ato e também o
M.P nas hipóteses do art. 178 do CPC. (Art. 168, caput do C.C)

• O JUIZ DEVE (TEM QUE) CONHECÊ-LA DE OFÍCIO: o magistrado não precisa


aguardar a propositura da ação declaratória de nulidade, podendo assim agir de
ofício, ou seja, sem provocação no momento em que tomar conhecimento da prática
daquele negócio jurídico. (Art. 168, § único)

• ATINGE O 3° DE BOA-FÉ: na hipótese daqueles que praticaram o negócio jurídico nulo


já tiverem passado adiante o seu bem para alguém que o tenha adquirido de boa-fé,
este 3° será alcançado pela nulidade e depois em ação autônoma poderá se voltar
contra aqueles que participaram do negócio nulo para exigir indenização.

• A SENTENÇA PRODUZ EFEITOS (EX TUNC): retroage a data da celebração do


negócio jurídico como se o mesmo jamais tivesse sido praticado, apagando assim
todos os efeitos que possam ser retirados do ordenamento jurídico.

o Ex.: Art. 497, incisos


Art. 1801, incisos II
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Anulabilidade (nulidade relativa): o legislador pondera que o vício ou defeito daquele
negócio jurídico é de menor gravidade, na medida em que representa uma ofensa a
interesses EXCLUSIVAMENTES privados, sem qualquer repercussão junto a coletividade. Por
essa razão, as consequências que se colocam são mais brandas do que na nulidade. Como
desdobramento de uma anulabilidade é possível afirmar inicialmente que:
• HÁ PRAZO = art. 179: O interessado deverá pretender o reconhecimento da anulação
em prazo estipulado pela norma, sendo certo que quando o legislador nada disser
acerca do prazo será este de 2 anos na forma do art. 179 do C.C. Se a ação não for
reconhecida no prazo previsto em lei, a consequência que se coloca é a
impossibilidade de se questionar aquela situação jurídica em momento posterior,
convalidando-se, ou seja, tornando válido aquele negócio jurídico.

• Ação anulatória SÓ pelo INTERESSADO: Apenas o interessado poderá requerer o


pronunciamento dessa anulação o que será feito através de ação anulatória, não
podendo o MP fazê-lo.

• O JUIZ NÃO PODE AGIR DE OFÍCIO: O magistrado tomando conhecimento dessa


anulação nada poderá fazer, na medida em que não pode agir de OFÍCIO, ou seja, sem
a devida provocação.

• ADMITE SANATÓRIA (RATIFICAÇÃO / CONFIRMAÇÃO) = art. 172 do C.C: Como a


lesão se dá apenas a interesses privados, negócios anuláveis admitem sanatória, ou
seja, as partes poderão manifestar suas vontades no sentido de não desfazer aquele
negócio jurídico.

• NÃO PREJUDICA O 3° DE BOA - FÉ = art. 182 do C.C: Na hipótese daqueles que


praticaram negócio anulável já terem passado adiante o bem em favor de um indivíduo
que tenha agido de boa-fé a anulação não será pronunciada, cabendo ao prejudicado
apenas requerer perdas e danos.

• A SENTENÇA PRODUZ EFEITO "EX NUNC": A sentença produzirá efeitos


prospectivos, ou seja, ex nunc e por mais que as partes sejam restituídas a situação que
vigorava antes da celebração do negócio os efeitos serão produzidos dali em diante.

o Ex.: Art. 496 do C.C


Art. 450 do C.C

Pressupostos de validade do negócio jurídico


- Art. 104 do C.C, incisos:
I – Capacidade Absolutamente Incapaz Faz o negócio através de Representante

Caso seja feito sem o representante o negócio é NULO (art. 166, I, C.C)

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Relativamente Incapaz Faz o negócio através de Assistente

Caso seja feito sem o representante O negócio é ANULÁVEL (art. 171, I, C.C)

II – Objeto Lícito = se o objeto ou o motivo determinante for ilícito o negócio será NULO, com
base no art. 166, incisos II e III.

III – Forma prescrita ou não defesa em lei: Como regra, o art. 107 deixa claro que as
declarações de vontade não precisarão assumir uma determinada forma ou formalidade.
Porém, a própria norma prevê que alguns negócios jurídicos precisarão obedecer determinada
forma ou formalidade exigida pela lei. Toda vez que o legislador impuser a obediência a
determinada forma e o interessado deixar de atendê-la como era da substância do ato que
ela fosse atendida o negócio será NULO, tal como se extrai dos art. 108, 541 e 1864 do C.C.

Naqueles negócios jurídicos de livre forma e formalidade as partes podem optar em


conferir as suas declarações de vontade uma maior formalidade não por que isto seja uma
exigência legal, mas sim para que os direitos e obrigações dos envolvidos fiquem melhor
assegurados. Toda vez que isso ocorrer diz-se que a forma é "ad probationem", ou seja, meio
de prova do vínculo existente entre as partes. Tomando por exemplo o contrato de locação, o
mesmo pode ser celebrado verbalmente, no entanto as partes habitualmente optam pelo
contrato escrito para que os direitos e obrigações do locador e locatário fiquem melhor
assegurados.

27/10/17

* Continuação dos Pressupostos de Validade

Além dos 3 pressupostos de validade previstos no art. 104, a doutrina e a própria norma,
mas não o referido artigo, preveem a presença de 2 outros pressupostos.

A LEGITIMIDADE ou a falta dela compromete a validade do negócio jurídico. Naquelas


hipóteses em que o indivíduo plenamente capaz não está habilitado a prática daquele
determinado negócio jurídico e o indivíduo ainda assim insiste em praticá-lo o negócio será
NULO, tendo como exemplo o art. 497 do CC. Por outro lado, em outras hipóteses o indivíduo
plenamente capaz poderia realizar determinados negócios em específico bastando para tanto
que cumprisse uma exigência prevista em lei. Se o indivíduo insiste em praticar esse ato
sem cumprir o que determina a norma o mesmo é anulável e não nulo, considerando que essa
legitimidade poderia ser obtida como se extrai do art. 496 do CC.
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O último pressuposto de validade seria A MANIFESTAÇÃO DE VONTADE livre e
consciente. Toda vez que o indivíduo atua sob a influência de um ou mais dos vícios de
consentimento / vontade há uma desconsciência entre a vontade interna e a vontade
declarada e os negócios jurídicos concretizados nesse contexto são ANULÁVEIS no prazo de
4 anos na forma do art. 178, I e II. Nessas hipóteses, existe vontade interna, porém a
declaração não reflete o que se pretendia intimamente. Apesar de alguma discussão
doutrinária a norma prevê 5 vícios de vontade, sendo eles: erro, dolo, coação moral, estado
de perigo e a lesão, sendo certo que em relação aos dois últimos, parte da doutrina entende
que não se trata propriamente de um vício de vontade.

Eficácia

Além do plano da existência e da validade, os negócios jurídicos precisam ser analisados a


luz da EFICÁCIA, na medida em que nem todo negócio jurídico VÁLIDO produz EFEITOS
IMEDIATOS, concomitantes a data de sua celebração.

As partes ao celebrarem um negócio jurídico podem prever expressamente que aquele


negócio jurídico só produz efeitos em momento futuro, tal como aconteceria, por exemplo, se o
indivíduo estipulasse em uma doação feita por escritura pública que a transferência estaria
condicionada a conclusão do ensino superior. Nessas circunstâncias o negócio seria válido,
porém INEFICAZ NAQUELE MOMENTO devido a uma circunstância INTRÍNSECA, inerente ao
próprio contrato. Em outras oportunidades o negócio jurídico não produzirá efeitos imediatos
devido à circunstância EXTERNA, tal como acontece no art. 1653 do C.C, bem como no
testamento que só produzirá efeitos por ocasião do óbito.

Os negócios jurídicos NULOS produzem efeitos até que a nulidade seja pronunciada.

No que diz respeito às anulabilidades se o indivíduo não promover a medida judicial cabível
no prazo previsto em lei aquele negócio jurídico produzirá efeitos indefinidamente.

Vícios de consentimento

1 - Erro: o indivíduo por uma FALSA interpretação da realidade acaba declarando vontade
diversa daquela que declararia se tivesse compreendido corretamente aquilo que lhe era
apresentado. Enquanto no DOLO o indivíduo é induzido a erro, enganado, no ERRO a pessoa
se engana sozinha e por ignorância ou por uma incompreensão dos fatos acaba por
declarar vontade diversa da que pretendia intimamente. Trata-se de vicio de vontade de
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difícil aceitação por parte do judiciário que estabelece, com apoio doutrinário e jurisprudencial 3
requisitos para sua configuração. Inicialmente o erro precisa ser SUBSTANCIAL, ESSENCIAL,
ou seja, deve ficar caracterizado que o indivíduo só contratou por conta da incompreensão dos
fatos que estavam diante de si. Existe ainda o chamado erro ACIDENTAL onde apesar do
equívoco por parte do declarante o mesmo recai sobre circunstância secundária, não principal,
como, por exemplo, o senhor de idade que contrata o cartão de crédito e por engano contrata o
seguro do cartão juntamente. O erro ACIDENTAL / NÃO ESSENCIAL permite apenas as
perdas e danos jamais a anulação.

Além do erro que permite a anulação ser essencial deve ainda ser ESCUSÁVEL,
TOLERÁVEL, ou seja, deve ficar evidenciado que qualquer pessoa naquela situação
também poderia agir em erro, sendo certo que o judiciário ao fazer tal análise atentará as
especificidades do caso concreto. Por fim, a anulação está condicionada ao POTENCIAL
CONHECIMENTO PELA OUTRA PARTE DO VÍCIO DE CONSENTIMENTO, na medida em
que se tratando de um vício de difícil comprovação nada mais justo que aquele que contratou
com quem agi em erro não possa ser surpreendido com essa alegação naquelas situações em
que não há qualquer indício mínimo da ocorrência do erro.

O art. 139 prevê 4 modalidades únicas de ERRO ESSENCIAL, sendo elas:

• Erro quanto ao negócio, quando o indivíduo acredita estar praticando uma modalidade
negocial, mas em verdade celebra outra.
1. Ex.: O indivíduo que acredita estar realizando um contrato de aluguel quando, na
verdade, está vendendo sua casa.
• Erro quanto ao objeto, que estaria presente naquelas hipóteses em que a declaração
incide sobre o bem diverso do intimamente pretendido.
1. Ex.: Aquele que ao comprar um imóvel na planta acaba por comprar lote diverso
do que realmente queria.
• Erro quanto as qualidades do objeto, que estaria presente na situação do indivíduo que
compra uma bolsa de couro sintético acreditando ser de material legítimo.
• Erro quanto a pessoa (in persona) quando o equívoco diz respeito a identidade ou as
qualidades do indivíduo.
 Ex.: Aquele que doa um imóvel para uma pessoa acreditando que a mesma havia
lhe salvado de um acidente e em momento superveniente fica apurado que seu
salvador era outro.

Muito embora a norma estipule que o prazo de 4 anos a que refere o art. 178 seja contado
da data da conclusão do negócio jurídico, no vício do erro bem como do dolo o indivíduo só
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toma conhecimento da presença do vício em momento superveniente, na medida em que
quando o indivíduo declara a sua vontade acredita fielmente que é aquilo que pretende, assim,
só vai ter conhecimento do vício de consentimento em momento superveniente aplicando-se de
acordo com a doutrina e a jurisprudência (Sumula 278 do STJ), contrariando disposição
legal expressa, A TEORIA DA "ACTIO NATA" onde o prazo deverá ser contado da data do
efetivo conhecimento do vício, e não da data da conclusão do negócio jurídico.

Como a hipótese é de anulação e não de nulidade do negócio jurídico, o mesmo não


precisa, necessariamente, ser desconstituídos. Assim, se há hipótese puder conduzir àquilo
que as partes realmente pretendiam elaborar de maneira que seja possível identificar a coisa
ou pessoa que seria contemplada com aquele negócio jurídico não haverá necessidade de
desconstituí-lo. Dessa forma se por exemplo um indivíduo deixa em testamento um imóvel para
seu sobrinho Luiz e depois fica caracterizado que não possui sobrinho com esse nome, não há
necessidade de desconstituir o ato, aproveitando-se a declaração de vontade justamente por
conta de a hipótese ser de anulação. Art. 142 do Código Civil.

Os MOTIVOS são as circunstâncias internas que levaram o indivíduo a concretização


daquele negócio jurídico. Em regra, são absolutamente irrelevantes a concretização do
negócio, salvo naquelas hipóteses em que estiver expressamente previsto no contrato. Assim,
se o indivíduo aluga um imóvel esperando se tratar de uma localidade tranquila deverá prever
essa circunstância no próprio contrato, caso o faça poderá requerer a anulação do negócio
jurídico se não se constatar. Art. 140 do Código Civil.

2 – Dolo: Substancial / Essencial e Acidental

Por Ação ou Omissão

Dolo Bônus e Malus (Definição Doutrinária)

No DOLO o indivíduo devido a uma conduta ardilosa, maliciosa atribuída a outra parte
acaba por declarar uma vontade que não declararia se a conduta do outro não tivesse sido
praticada. No dolo o indivíduo é provocado a errar e tal como no erro é possível identificar o
dolo ESSENCIAL e o dolo ACIDENTAL, podendo se afirmar quanto ao segundo que apesar do
indivíduo ter sido enganado, ludibriado contrataria de qualquer forma e com isso a sua
constatação na forma do art. 146 só permite a satisfação e perdas e danos não se admitindo a
anulação.

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O dolo pode se dar por uma AÇÃO e nesse contexto será substancial ou acidental. Por
OMISSÃO quando em um negócio jurídico bilateral uma informação deixa de ser prestada
muito embora deveria ter sido, já que absolutamente relevante para a concretização do negócio
jurídico. Por OMISSÃO enseja pedido de anulação.

O dolo BÔNUS são as táticas comerciais que são empregadas na tentativa de


convencimento onde são exaltados as qualidades e vantagens daquela contratação. Trata-se
de conduta lícita. Porém a partir do momento que é possível identificar que a informação
prestada é mentirosa o dolo passa a ser MALUS e por esta razão poderá conduzir ao pedido
de anulação ou de perdas e danos a depender se for substancial ou acidental.

Na hipótese de ambas as partes estarem agindo com dolo ao celebrarem um negócio


jurídico nenhuma delas poderá requerer qualquer tipo de indenização ou tentar desfazer o
negócio mesmo que o prejuízo de um seja maior do que do outro. O art. 150 é uma
decorrência lógica do princípio de eticidade e da ideia proveniente deste princípio de que a
ninguém é dado o direito de tirar benefício de sua própria torpeza.

03/11/17

Normalmente aquele que engana uma outra pessoa objetivando a celebração de um


negócio jurídico, assim procede para tirar proveito próprio impondo-se a anulação.
Excepcionalmente o DOLO poderá ser exercido por terceiro, pessoa estranha a celebração
do negócio. Nesse contexto será imprescindível indagar a conduta daquele que contratou com
quem atua sob a influência do vício de consentimento. Imaginando que João/corretor induza
Marcos/comprador a comprar um imóvel pertencente a Ana/vendedora, ocultando de Marcos
fato relevante que deveria ter sido anunciado, celebrado o negócio, imaginando que Marcos
tome conhecimento daquele fato que lhe impediria de contratar, o sucesso da ação anulatória
está condicionado a análise da conduta de Ana. Se Ana não sabia nem poderia se presumir
que soubesse da conduta de João, atua de boa fé e como a hipótese é de anulação e não de
nulidade absoluta, o negócio será mantido restando a Marcos apenas a possibilidade de exigir
perdas e danos de João. Caso Ana soubesse ou pudesse saber da conduta de João porque,
por exemplo, são parentes, amigos ou a transação se deu por valor muito diferente do de
mercado a ação anulatória, dentro do prazo, será acolhida cabendo ainda o pedido de perdas
e danos contra os dois.

O negócio jurídico não é sempre celebrado pelo proprietário do bem ou pelo interessado
imediato. É possível assim que o indivíduo se valha da representação admitindo a norma duas
modalidades: legal, que é exercida pelos pais, tutores e curadores e a convencional, que
habitualmente é exercida através do mandato materializado através de uma procuração. Em
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ambas as hipóteses o representante atua nos interesses do representado praticando negócio
jurídico que repercute diretamente sobre a esfera do representado. Imaginando que o
representante engane uma outra pessoa a contratar, o enganado poderá se voltar contra o
REPRESENTADO para exigir a anulação já que o negócio foi celebrado com ele, porém
através do representante e quanto aos eventuais prejuízos suportados por esse terceiro,
deverá ser observada a modalidade de representação envolvida. Em se tratando de
representação legal onde o representante não foi escolhido pelo representado e, portanto, não
tem qualquer responsabilidade pelas condutas por ele praticada, apenas o representante
arcará com as perdas e danos. Na hipótese da representação convencional a situação será
absolutamente diversa na medida em que o representante foi escolhido e o representado
responde pela má escolha do seu representante e por todos os atos por ele praticados naquilo
que a doutrina conhece como “culpa in eligendo”.

3 - Coação Moral: também é conhecida como vis compulsiva e nela, diferentemente do que
acontece na coação física, a situação concreta revela uma opção de comportamento, ou seja,
diante da realidade que está sendo apresentada, o indivíduo pode optar entre dois
comportamentos, ceder a coação celebrando negócio ou resistir a ela experimentando as
consequências do mal prometido. Habitualmente a coação moral está associada a revelação
de fatos da vida pregressa ou atual do coagido, porém pode também dizer respeito à ameaça
contra seu parente ou pessoa a ele relacionada, comprovando-se nessa situação o vínculo
afetivo entre os envolvidos. A ameaça também pode dizer respeito aos bens do coagido. A
própria norma deixa clara a ideia de que o prazo para o ajuizamento da ação anulatória seja
contado não da data da conclusão do negócio jurídico, mas sim da data em que a coação
cessar considerando que mesmo após a concretização do negócio o coagido pode continuar
sendo ameaçado. A ameaça deve estar relacionada a algo atual ou eminente não se
admitindo como coação moral a ameaça de mal futuro.

Da mesma maneira que o dolo pode ser exercido por terceiro, a coação moral também
terá o mesmo tratamento pela lei nos artigos 154 e 155. A anulação ou não do negócio jurídico
estará condicionada à análise da conduta da pessoa que contratou com o coagido.
Diferentemente do erro, onde o magistrado compara a conduta do indivíduo com a conduta do
ser humano comum naquelas circunstâncias e observando aquelas especificidades do grau de
instrução, por exemplo, entre outros, a coação moral passa por uma análise subjetiva onde o
magistrado deverá analisar caso a caso, até mesmo porque o que levaria um indivíduo a se
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sentir ameaçado não levaria a outro e o coator se vale de uma proximidade para conseguir
obter a declaração de vontade que lhe é vantajosa. O Temor Reverencial vem a ser o respeito
que se é obtido através de relações de hierarquia/subordinação, tais como a relação que se
estabelece entre pais e filhos, aluno e professor, empregador e empregado, dente outros. As
ameaças realizadas nesse contexto (Temor Referencial) não são consideradas como coação
moral, desde que não haja abuso por parte daquele que ocupa posição superior na hipótese
que caso algum negócio jurídico venha a ser concretizado o mesmo será inválido pela
presença da coação moral.

A ameaça de um exercício regular de direito não é considerada como coação moral como
aconteceria, por exemplo, com a menina que ameaça de propor ação de investigação de
paternidade contra aquele que ela julga ser o pai. Porém, não pode o credor ou o titular de um
direito legítimo abusar dessa relação passando a exercer o seu direito de maneira ilegítima, o
que por certo caracterizaria uma coação moral, como o credor que vai ao trabalho do devedor
sistematicamente com o intuído de cobrá-lo e diante da evidente coação moral o devedor
acaba por contratar. A coação moral nessas circunstâncias está relacionada diretamente ao
ABUSO DE DIREITO previsto no artigo 187 CC, trata-se do que a doutrina chama de abuso de
direito relacionado ao fato do indivíduo ser titular de um direito legítimo legal ou
contratualmente assegurado que ao exercê-lo age de maneira desarrazoada,
desproporcional, trazendo assim evidentes prejuízos com essa atuação. No abuso de direito,
uma situação inicialmente legítima deixa de sê-lo pela conduta do interessado. O pedido de
anulação ou de perdas e danos motivado pelo abuso de direito não está relacionado a prova
de dolo ou culpa por parte daquele que abusa, sendo mais uma hipótese de responsabilidade
objetiva e não subjetiva, na medida em que é irrelevante saber se o indivíduo queria ou não
praticar aquela conduta de maneira abusiva.

09/11/17

4 - Estado de Perigo Objetivo = desproporção

Subjetivo = necessidade de salvar

Dolo de Aproveitamento

Tanto o estado de perigo quanto a lesão são vícios de consentimento criados pelo atual
C.C. A caracterização do estado de perigo exige a presença cumulativa de 3 requisitos
evidentes no art. 156. Inicialmente é fundamental que no momento da contratação fique
evidente a desproporção entre as obrigações. É preciso estar atento ao momento de aferir
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essa desproporção, considerando que como o prejudicado dispõe de grande prazo para propor
a ação anulatória é perfeitamente possível que por ocasião do seu ajuizamento aquela
desproporção inicialmente prevista já não mais exista ou venha a existir. Dessa forma deverá o
magistrado observar em que momento eventual desproporção estará presente. Por outro lado,
a norma não estabelece um critério predefinido para entender se está ou não presente a
desproporção cabendo ao magistrado fazê-la. É fundamental, ainda, ficar caracterizado a
prova de que a obrigação foi contraída em necessidade de salvar a si próprio, pessoa de sua
família ou por ele aquele que contratou afetivamente relacionado. Por fim, é fundamental ainda
a presença do chamado DOLO DE APROVEITAMENTO que consiste na constatação de que a
pessoa que negociou com quem age em estado de perigo tinha o conhecimento dessa
situação e dela tirou proveito.

5 – Lesão Objetivo = desproporção

Subjetivo = necessidade ou inexperiência

Na lesão o vício objetivo é idêntico ao do estado de perigo devendo ser observado


especificamente que em muitas situações as obrigações são inicialmente proporcionais e no
curso daquele contrato se tornam desproporcionais, o que por certo não permitiria a aplicação
da lesão. Na hipótese será aplicada a chamada TEORIA DA IMPREVISÃO permitindo ao
prejudicado com esse desequilibro superveniente requerer a revisão do negócio ou
excepcionalmente a sua extinção, porém nunca será admitida o pedido de anulação.

Ajuizada a ação anulatória tendo por fundamento o vício da lesão como aconteceria, por
exemplo, com o indivíduo que contrata com engenheiro agrônomo para auxiliá-lo em plantação
de eucalipto e este profissional liberal lhe cobre valor extorsivo. Ajuizada ação anulatória para
desconstituir o ato, o engenheiro agrônomo manterá aquele negócio jurídico concordando em
reduzir o proveito econômico que teve, fazendo, assim, desaparecer o requisito objetivo desse
instituto. Muito embora a regra em negócios jurídicos anuláveis seja no sentido de ser
realizada com a manifestação de todos os envolvidos, nessa peculiar hipótese o legislador
admite ser realizada com a manifestação exclusiva daquele que contratou com o lesado

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justamente por ser hipótese de nulidade relativa onde o negócio não precisa necessariamente
ser desfeito.

Quanto ao requisito subjetivo da lesão, o mesmo estará presente de duas formas


distintas, podendo o possível lesado se utilizar de qualquer uma delas, desde que associadas
a excessiva desproporção. Quanto à necessidade está a mesma relacionada a necessidade
de contratar, ou seja, de praticar aquele negócio jurídico em específico, como aconteceria
com o bombeiro hidráulico que cobra valor extorsivo para execução de um serviço. É também
possível que se dê através da inexperiência que significa a falta de prática em relação aquele
ato ou negócio em específico, como aconteceria na hipótese do engenheiro agrônomo. O Dolo
de Aproveitamento não precisa estar caracterizado para a lesão. Como os requisitos desse
vício se assemelham ao do estado de perigo, naquelas situações em que não seja possível
invocá-lo considerando que o dolo de aproveitamento não estaria configurado será aplicado à
hipótese, subsidiariamente, a alegação de lesão para que se tente a desconstituição daquele
negócio jurídico.

* O código trata como defeito do negócio jurídico todos os vícios de consentimento e ainda o
instituto DA FRAUDE CONTRA CREDORES dando a entender que também se trata de um
vício de consentimento, o que não é verdade. Tanto a fraude, como a simulação são VÍCIOS
SOCIAIS o primeiro tratado pelo legislador como hipótese de anulação e o segundo como de
nulidade. Em ambos os vícios sociais aquele que contrata prática um negócio jurídico com a
livre intenção em realizá-lo agindo de forma livre e consciente ao concretizá-lo. Dessa forma,
não há que se falar em vício de consentimento. Na fraude contra credores o indivíduo aliena
bens de sua propriedade e ao proceder dessa forma se coloca em insolvência ou agrava uma
insolvência já existente, de maneira que aquele bem transferido a terceiro seria a única opção
dos credores receberem suas dívidas. O devedor realiza a alienação de forma intencional o
que não significa que ele necessariamente tinha a intenção de não pagar seus credores com a
transferência daqueles bens, nem mesmo que atua em conluio, combinadamente com a
pessoa que adquiriu o bem para prejudicar os credores o que conduziria a um outro vício
social, a simulação.

10/11/17

Na fraude contra credores estamos diante de duas ações distintas, a primeira ajuizada pelo
credor tentando receber o seu crédito, de maneira que cada um dos credores deverá propor

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individualmente suas ações. Paralelamente a isso, caso se descubra que o devedor alienou
bens de sua propriedade e com isso suas dívidas não poderão ser satisfeitas, será possível
propor uma segunda ação, a PAULIANA ou REVOCATÓRIA, com o objetivo de fazer retornar
ao patrimônio do devedor aquele bem, oportunidade em que as ações individuais de cobrança
ou execução que se encontravam insatisfeitas pela ausência de fundos pelo devedor terão
continuidade com alienação daquele bem e pagamento total ou parcial da dívida, art. 165.

Para o sucesso da ação pauliana será imprescindível averiguar se a transferência da


propriedade do bem pelo devedor ocorreu a título oneroso ou gratuito. No primeiro caso, o
adquirente que negociou com o insolvente terá flagrante prejuízo com a desconstituição do
negócio jurídico já que por certo não recuperará o que pagou. Assim, caso esteja de boa-fé e
levando em conta que a hipótese é de nulidade relativa o negócio será mantido e a invalidade
só será pronunciada caso o adquirente soubesse ou pudesse saber da insolvência, hipótese
em que estaria de má-fé, caso a transação se desse por valor muito inferior à de mercado,
caso os envolvidos tivessem relação de amizade ou parentesco e tudo mais que pudesse fazer
crê ao magistrado da má-fé efetiva ou presumida do adquirente. Em se tratando de alienação
onerosa o adquirente pode evitar o desfazimento do negócio, depositando em juízo o valor
ainda não pago, desde que aquilo represente o valor de mercado do bem ao invés de entregá-
lo ao devedor. Imaginando que João (devedor insolvente ou preste a se tornar) negocie a
venda de seu carro com Marcos pelo valor de 40 mil e este antes de pagar o preço vem a ter
conhecimento da insolvência de João ao invés de entregá-lo o preço o depositará em juízo e o
magistrado tomando conhecimento disso chamará todos os credores para que recebam as
suas partes. Na hipótese de alienação GRATUITA a solução da norma é diferenciada
considerando que o adquirente não terá qualquer prejuízo pelo desfazimento do negócio,
apenas deixará de ter um benefício econômico. Por esta razão, comprovada a fraude, o
negócio jurídico será anulável independentemente de boa ou má fé do adquirente, como
aconteceria se tivesse recebido o bem em doação. Por certo também que na eventualidade do
devedor ser também um credor, não poderá perdoar aquela dívida cujo o conteúdo
econômico não lhe pertence, mas sim aos seus credores.

A AÇÃO PAULIANA poderá ser proposta apenas por aqueles credores que já ostentavam
essa condição no momento da alienação. Assim, se um contrato foi firmado em 2015 tendo o
devedor assumido obrigação de quitá-lo de forma periódica e um ano depois caso este devedor
venha a vender um bem colocando-se em situação de insolvência ou agravando uma
insolvência já existente poderá aquele credor pretender o desfazimento daquela transação.
Porém, caso a mesma tivesse sido concretizada em 2016 e o crédito tivesse sido assumido
meses depois este credor não poderia se valer da ação pauliana, na medida em que a todo
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mundo é dado o direito de alienar os seus bens e no momento em que o contrato foi celebrado
com o credor aquele bem não integrava o patrimônio do devedor e por essa razão não garantia
qualquer dívida.

Os credores com garantia são aqueles que exigem por ocasião da concessão do crédito
que um bem específico e determinado do devedor seja concedido em garantia, como
aconteceria, por exemplo, quando o indivíduo hipoteca seu único imóvel como garantia de
pagamento de uma dívida. Essa espécie de credor não precisa se valer da ação pauliana, na
medida em que dispõe daquele bem como garantia ao pagamento da dívida. Passará a ser
credor sem garantia (quirografário) quando o bem que lhe foi oferecido não for suficiente ao
pagamento da dívida.

O credor quirografário também é conhecido como credor sem garantia, na medida que o
mesmo no momento em que o crédito é concedido não exige qualquer bem específico e
determinado do devedor como garantia ao pagamento da dívida. O credor quirografário diante
do não pagamento pontual por parte do devedor tem total interesse na ação pauliana, já que
eventualmente precisará vasculhar o patrimônio do devedor para tentar receber suas dívidas.

Exceções = Art. 164

“Presumem-se, porém, de boa-fé e valem os negócios ordinários indispensáveis à


manutenção de estabelecimento mercantil, rural, ou industrial, ou à subsistência do devedor e
de sua família.”

Prescrição e decadência

Ambos os fenômenos se enquadram como FATO JURÍDICO STRICTU SENSU, na medida


em que por mais que a ocorrência dos mesmos também seja proveniente da inércia do
homem, a prescrição e a decadência ocorrem especialmente devido ao decurso de um lapso
temporal previsto em lei.

O fundamento de validade desses institutos é a estabilização das relações jurídicas, na


medida em que não é entendido como razoável a ideia de que o indivíduo possa cobrar um
direito, dívida ou exercer um direito constestativo a qualquer tempo, fixando a norma um prazo
máximo para que isso aconteça, findo o qual aquela situação jurídica não mais poderá ser
questionada, nem mesmo o débito poderá ser cobrado.
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Na estrutura do CC/1916 o legislador não especificava o que era decadência e o que era
prescrição, cabendo ao interprete compreender qual situação ensejaria a prescrição e qual a
decadência. No código atual os prazos prescricionais são tratados nos arts. 205 e 206, sendo
atualmente o maior prazo de 10 anos e quanto aos decadenciais estão espalhados pela parte
geral e especial do código, habitualmente se fazendo referência à decadência em homenagem
ao princípio da operabilidade, já que fica facilitada a aplicação do instituto.

Prescrição

Na prescrição a situação concreta revela sempre uma relação direta, imediata de débito e
crédito. Sempre estaremos diante, do binômio Prestação e Pretensão. O indivíduo deve
entregar uma determinada prestação, assumida contratualmente ou proveniente da própria
norma, de uma única vez ou de trato sucessivo a depender do caso concreto. Caso a
prestação não seja entregue espontaneamente pelo devedor, nasce para aquele que teria o
direito de recebê-la, o credor, o direito de exigir o cumprimento daquilo que está previsto em
lei ou foi acordado. A partir do momento em que fica evidente o inadimplemento, o credor tem
a pretensão de ter o seu crédito satisfeito e exercitará esse direito se valendo de medida
judicial, desde que o faça dentro do prazo previsto em lei, sob pena de prescrição.

A PRESCRIÇÃO fulmina, extingue a possibilidade do credor de submeter o devedor a um


processo judicial visando recebimento de seu crédito. Não se extingue a dívida, mas sim a
possibilidade de cobrá-la, na medida em que não é mais coercível, passível de ser executada.

OBS.: Quando não tivermos uma situação prevista nos casos prescricionais do Art. 206
(prazos específicos) do C.C, aplica-se o prazo de 10 anos previsto no Art. 205 do C.C (regra
geral).

OBS.: A PRESCRIÇÃO acaba sempre com a pretensão e NÃO com a prestação.

O art. 882 do CC traz em seu texto uma das maiores aplicações da ideia de que prestação
e prescrição não se confundem. Aquele que eventualmente venha a pagar uma dívida
prescrita sabendo ou não que não estaria mais obrigado a realizar aquele pagamento não
poderá exigir de volta aquilo que pagou. A norma compreende que cumpriu uma obrigação
moral reconhecendo a existência de uma prestação e dessa forma não poderá tomar qualquer
medida para ser restituído daquele pagamento. Habitualmente em doutrina se ensina que a
prescrição extingue o direito de AÇÃO e não o direito em si, o que significa, que não se é mais
possível a ida ao judiciário, porém a prestação continua existindo já que não foi paga.
Proposta a ação objetivando a cobrança daquela dívida o prazo prescricional que até então
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vinha correndo de prejuízo ao credor cessa, na medida em que naquele momento manifestou
legitimamente o seu interesse em receber aquela dívida.

Os prazos de prescrição são inafastáveis pelos interesses das partes, de maneira que
mesmo havendo consenso entre devedor e credor não poderão os mesmos aumentar ou
diminuir os prazos previstos em lei que são de ordem pública. Trata-se de norma que contém
um evidente conteúdo imperativo. Da mesma forma, após a prescrição se consumar, o
DEVEDOR poderá abrir mão do direito de alegá-la, fazendo esta declaração de forma
categórica ou praticando atos que revelem que esta seria a sua intenção como, por
exemplo, iniciar o pagamento da dívida, nesta hipótese é perfeitamente possível renunciar a
prescrição, na medida em que o indivíduo estaria reconhecendo uma obrigação, prestação que
deveria cumprir espontaneamente. Porém, é absolutamente inadmissível a ideia de que
possa abrir mão do direito de no futuro alegar uma prescrição que no momento da declaração
de vontade ainda não se consumou. Assim, imaginando uma prescrição de cinco anos se o
devedor, neste período, comunica formalmente ao credor que não pode pagar naquele
momento, abrindo mão de alegar a prescrição futura, sua manifestação de vontade não produz
qualquer efeito e caso o credor não cobre no prazo legal, poderá o devedor sustentar a
prescrição. A vedação do art. 191 tem por fundamento a ideia que o devedor se colocaria nas
mãos do credor considerando que a dívida ficaria imprescritível.

O art.194, revogado em 2006, vedava ao magistrado o reconhecimento de ofício da


prescrição justificado na ideia de que a alegação incumbiria ao devedor, que poderia não ter
interesse em sustentá-la arcando assim com aquela prestação que ainda existia, muito embora
não fosse mais coercível. O CPC à época revogou essa norma entendendo que quando a
prescrição estivesse evidente o judiciário deveria reconhecê-la, na medida em que a prestação
jurisdicional, a atividade do judiciário, seria desenvolvida de maneira mais célere diminuindo,
assim, o número de ações que lotam o judiciário.

Caso o magistrado não perceba a prescrição total ou parcial, o devedor poderá sustentá-la
a todo e qualquer tempo no curso daquela demanda judicial, não existindo, assim, prazo para
que aquela alegação seja realizada. O art.196 deixa claro que qualquer alteração subjetiva em
relação a pessoa do credor não afetará os prazos prescricionais. Assim, imaginando um prazo
prescricional de cinco anos, se o credor vem a óbito no segundo ano, seus herdeiros possuirão
mais três anos para cobrar a dívida e não de outros cinco anos, como se poderia supor. A
norma prevista no art. 196, se aplica tanto ao credor PN quanto a PJ, sem qualquer distinção.

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Causas suspensivas / impeditivas da prescrição

As causas suspensivas e impeditivas estão tratadas nos arts. 197 a 201. As referidas
causas se aplicam a ambas as situações variando apenas em relação ao momento de sua
ocorrência. Se o prazo prescricional sequer começou a ocorrer a hipótese é de causa
impeditivas. Se o mesmo já vinha correndo estamos diante da suspensão do prazo
prescricional. As referidas causas poderão ocorrer inúmeras vezes no curso da prescrição e
independem da conduta do interessado no sentido de suspendê-las.

No que diz respeito à suspensão o prazo ficará paralisado até que as causas suspensivas
não estejam mais presentes e depois extintas a causa o prazo voltará a correr de onde parou,
aproveitando-se o prazo transcorrido até aquele momento.

A hipótese mais recorrente de causa impeditiva / suspensiva da prescrição é a tratada no


art. 198, I do CC. A norma deixa claro que não corre prescrição contra indivíduo
absolutamente incapaz, de maneira que ao completar 16 anos a prescrição começará a
correr contra aquele que se tornou relativamente incapaz. Assim, se o menor com 10 anos de
idade venha a ser vítima de um atropelamento com sequelas definitivas, o prazo para ajuizar
ação indenizatória contra seu ofensor começará a contar da data em que completar 16 anos,
dispondo de três ou cinco anos a depender de quem seja o responsável pelo pagamento. Se o
mesmo era PJ de direito público Interno este prazo será de cinco anos, se for PJ de Direito
Privado será três anos (art.206). O mesmo raciocínio será aplicado àquele indivíduo que se
tornou relativamente incapaz já que passou a ter discernimento reduzido.

Em se tratando de alimentos estabelecidos em favor de menor, há uma outra causa


suspensiva a ser observada: qual seja o poder familiar. Assim, os alimentos são devidos
apenas a partir do momento em que são estabelecidos judicialmente e nesse contexto, o
credor disporá de dois anos para cobrá-lo, art.206, § 2. Assim, imaginando que o indivíduo
tenha estabelecido esses alimentos quando o menor possuía apenas dez anos de idade a
situação comportará uma causa impeditivas da prescrição, na medida em que o prazo só
começará a correr na data em que o menor não mais estiver sob poder familiar, o que
acontecerá quando completar seus 18 anos e neste momento disporá de dois anos para cobrar
todo o período atrasado. Ao completar a maioridade não há a que se falar na extinção
automática do dever de prestar alimentos devendo ser observado ainda que no dia em que
completar 20 anos e 1 mês só poderá cobrar a prestação de alimentos atrasada apenas no que
diz respeito aos dois últimos anos na medida em que toda a dívida pretérita, anterior a este
prazo, se encontra prescrita.
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A situação do art. 200 será sempre uma nítida hipótese de CAUSA IMPEDITIVAS da
prescrição e será aplicada naquelas situações em que o fato ensejar consequências criminais
e civis.

Causas Interruptivas

As causas interruptivas de prescrição estão expressamente tratadas no art. 202. A hipótese


que deve habitualmente ser usada é a propositura da ação no prazo a que se refere a lei.
Basta que a demanda seja distribuída antes que a prescrição se consuma para que não exista
prescrição. Das hipóteses tratadas no art. 202, vale ressaltar a notificação judicial ou
extrajudicial do devedor para efetivar o pagamento, a confissão de dívida, parcelamento, e
até mesmo a renegociação. Em todas essas hipóteses a interrupção ocorrerá. É importante
frisar que diferentemente do que ocorre na suspensão, que pode acontecer inúmeras vezes no
curso do prazo prescricional, a interrupção não possui o mesmo tratamento por parte da
norma, de maneira que se o credor adotar uma das medidas previstas dos incisos II ao V só
poderá proceder desta forma uma única vez, e na segunda oportunidade deverá propor ação
sob pena da dívida prescrever.

As causas interruptivas exigem sempre uma conduta do interessado e terão por efeito
zerar o prazo prescricional que será, então, todo ele reiniciado.

Decadência ou Caducidade (Art. 207 ao 211)

Os prazos de decadência estão previstos na parte geral e especial do C.C diferentemente


das de prescrição que estão condensados todos eles nos arts. 205 e 206 do C.C. Enquanto na
prescrição estamos diante de uma situação de débito e crédito, a decadência está
imediatamente relacionada a titularidade de um DIR. POTESTATIVO. Nessa espécie de
direito o indivíduo tem a possibilidade de interferir na esfera alheia com a sua manifestação de
vontade, criando-se um verdadeiro estado de sujeição, na medida que aquele que
experimenta esse direito contra si nada pode fazer para evitar que isso ocorra.

Usualmente a decadência está ligada ao direito de submeter aquela relação jurídica à


apreciação do Poder Judiciário dentro do prazo previsto em lei. Se o titular de direito não
promove a ação dentro do prazo, o réu não pode evitar que aquela relação seja discutida em
juízo, o que não significa necessariamente no êxito da ação. Esgotado o prazo para a
propositura da ação está imediatamente EXTINTO Dir. Potestativo não existindo qualquer

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prestação remanescente a ser satisfeita. EX. de Prazos Decadenciais: Art. 178 do C.C / Art.
1815, § único

A ÚNICA causa impeditiva / suspensiva que se aplica a DECADÊNCIA diz respeito ao


absolutamente incapaz, ou seja, o prazo decadencial voltará ou começará a correr na data que
o indivíduo completar 16 anos ou passar de pessoa sem qualquer discernimento para
discernimento reduzido. Os prazos decadenciais estão sempre relacionados a uma sentença
desconstitutiva ou constitutiva de uma relação jurídica. No curso do prazo decadencial aquele
que sofreria o exercício desse direito Potestativo não pode abrir mão de no futuro alegá-lo,
considerando que sua postura tornaria aquela relação jurídica passível de ser discutida a
qualquer tempo. Da mesma forma após findo o prazo não há qualquer sentido em admitir que o
indivíduo possa abrir mão de alegar a decadência, na medida que o direito Potestativo
atribuível a outra parte se extinguiu pelo decurso tempo. Tanto funciona dessa forma que o
magistrado deverá de OFÍCIO conhecer da decadência (Art. 210 do C.C), justamente por que
o indivíduo não é mais titular de direito algum a ser resguardado.

A decadência convencional (Art. 211 do C.C) tem que ser pronunciada sem provocação
pelo magistrado. É possível que as partes convencionem, estipulem a presença de um
decadencial e nesse contexto apenas os próprios envolvidos poderão sustentar a decadência
sem que o magistrado possa atuar de ofício. Habitualmente os prazos decadenciais estão
relacionados ao dir. de ação. Porém, é possível observar esse dir. Potestativo que conduz à
decadência em outras situações, tais como as previstas no art. 26 do Código de Defesa do
Consumidor, onde o consumidor possui prazo para reclamar pela presença do vício ou defeito
do produto ou serviço e este prazo é decadencial.

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