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A teoria dos atos inexistentes surgiu na França, na obra de Zachariae, para explicar a
ineficácia de certos casamentos não declarados expressamente nulos pela lei. De fato, em matéria
matrimonial, a nulidade é sempre textual, isto é, o casamento só é nulo ou anulável nos casos em
que a lei o declara expressamente. Percebeu-se, porém, que em certos casos a lei não declara
expressamente a nulidade, mas , ao mesmo tempo, seria um absurdo considerá-lo válido diante da
falta de um elemento substancial à perfeição do ato.
Surgiu, então, a teoria dos atos inexistentes para negar eficácia a esses casamentos não
declarados nulos pela lei.
Assim, o negócio jurídico inexistente é o que não reúne os elementos essenciais à sua
formação.
Na doutrina, discute-se quais seriam esses elementos essenciais. De acordo com Orlando
Gomes, os pressupostos de existência são apenas a vontade e o objeto.
De fato, todo negócio jurídico é uma declaração de vontade. Sem a vontade o ato não existe.
Exemplos: vontade extorquida pela coação física ou declarada por erro obstativo. Igualmente, se
faltar o objeto, o negócio é também inexistente, como, por exemplo, a compra e venda sem coisa
ou sem preço.
Outra corrente considera que são três os requisitos de existência:
a) Declaração de vontade;
b) Objeto;
c) Forma.
Por outro lado, o negócio jurídico nulo é o constituído em desacordo com a lei. O art. 104 do
CC preceitua que a validade do negócio jurídico requer:
I. agente capaz;
II. objeto lícito, possível, determinado ou determinável;
III. forma prescrita ou não defesa em lei.
Vê-se, assim, que os requisitos de validade complementam os de existência. Com efeito, a
declaração de vontade deve emanar de agente capaz, o objeto deve ser lícito, possível,
determinado ou determinável e a forma deve ser a prescrita ou a não defesa em lei.
O ato inexistente não produz qualquer consequência jurídica, além disso, nunca poderá
convalidar-se.
Em regra, a inexistência, para ser reconhecida, independe de ação judicial, devendo o negócio
ser simplesmente ignorado, a não ser em casos excepcionais onde a inexistência depender da
produção de prova testemunhal, como, por exemplo, a arguição de ausência de consentimento no
casamento.
O ato nulo, ao contrário do inexistente, pode ter eficácia como putativo, em homenagem à
boa-fé de um dos contratantes.
O Código Civil não cuida dos atos inexistentes.
Justifica-se a omissão pelo fato de que ao legislar, como salienta Renan Lotufo, já se está no
plano da validade, e, portanto, só se deve operar com os planos da validade e da eficácia.
O negócio jurídico eficaz é o que está apto a produzir efeitos.
Saliente-se, ainda, que o ato ou negócio jurídico pode ser:
a) válido e eficaz.
b) válido e ineficaz. Por exemplo, na pendência de condição suspensiva.
c) inválido, mas eficaz. Tal ocorre, por exemplo, com os casos de nulidade relativa, enquanto
esta não for pronunciada judicialmente.
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I. agente capaz;
II. objeto lícito, possível, determinado ou determinável;
III. forma prescrita ou não defesa em lei.
AGENTE CAPAZ
OBJETO LÍCITO
O objeto lícito é o que está de acordo com a lei, moral, ordem pública e bons costumes. É
vedado, por exemplo, o contrato de herança de pessoa viva. Igualmente, é nulo o contrato pelo
qual alguém se compromete a realizar cenas de sexo explícito.
Em sendo ilícito o objeto, a nulidade é absoluta (art. 166, II, do CC). Portanto, o
descumprimento do avençado não enseja qualquer indenização por perdas e danos.
OBJETO POSSÍVEL
a) absoluta: quando a prestação for irrealizável por qualquer pessoa. Exemplos: volta ao
mundo a pé em meia hora; viagem para Júpiter. Nesse caso, a nulidade é absoluta, de modo que a
parte não poderá pleitear indenização por perdas e danos.
b) relativa: quando a prestação for passível de realização, embora de difícil concretização.
Exemplos: construção de uma casa em uma semana; escrever um livro em cinco dias, etc. Em tal
situação não se invalida o negócio, de modo que a inadimplência poderá ensejar uma indenização
por perdas e danos.
Com efeito, dispõe o art.106 do CC:
“A impossibilidade inicial do objeto não invalida o negócio jurídico se for relativa, ou se cessar
antes de realizada a condição a que ele estiver subordinada”.
Denota-se que se a impossibilidade absoluta cessar antes de realizada a condição a que
estava subordinado o negócio, este também será tido como válido, consoante se depreende da
análise da 2ª parte do citado art. 106 do CC. Assim, é inválida a estipulação de objeto que não
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exista na natureza. Se, porém, o agente conseguir criar esse objeto antes da realização da condição
a que se subordinar o negócio, este se convalidará. Trata-se, como se vê, da convalidação de um
ato inicialmente nulo. O dispositivo em apreço refere-se a condição, mas, por analogia, também
deve ser aplicado aos negócios jurídicos sob termo em que a impossibilidade absoluta do objeto
cessa antes do advento deste.
FORMA
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a) contratos de que forem partes o Banco Nacional de Habitação ou entidades que integram o
Sistema Financeiro de Habitação (art. 60, §5º, da lei 4.380/64);
b) os compromissos de compra e venda e promessa de cessão relativos a imóveis (decreto-lei
58/37 e lei 6.676/79);
c) todos os atos relativos a cédula hipotecária (art. 26 do decreto-lei 70/66);
d) contratos de venda e compra de imóvel com alienação fiduciária em garantia (art.38 da lei
9.514/97).
CAUSA
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elemento integrante da declaração de vontade, sendo que alguns anticausalistas consideram que a
causa, nos negócios onerosos, acaba se confundindo com o próprio objeto.
O Código Civil Brasileiro é anticausalista, posto que a causa não figura entre os requisitos de
validade do negócio jurídico mencionados pelo art. 104.
A causa é um instituto que integra a própria declaração da vontade. Não se trata, a meu ver,
de um instituto autônomo
MOTIVO
Causa é a finalidade econômica e social que a parte tem em mira ao celebrar o negócio
jurídico. Se, por exemplo, alguém compra uma casa para nela instalar um restaurante, esta
finalidade constitui a causa.
A causa distingue-se do objeto. No exemplo, a casa é o objeto; a finalidade de montar um
restaurante é a causa.
Motivo, por outro lado, é o antecedente psíquico da ação. É o móvel psicológico que
impulsiona o agente a celebrar o negócio jurídico. A causa é apenas uma espécie de motivo, pois
este, pode abranger uma infinidade de situações.
O Código de 1916 era anticausalista, porque deixou de incluir a causa entre os requisitos de
validade do negócio jurídico.
O Código atual assumiu uma postura intermediária, pois demonstra uma tendência causalista,
dispondo no art. 166, III, que é nulo o negócio jurídico quando o motivo determinante, comum a
ambas as partes, for ilícito.
Assim, o motivo ilícito, e não apenas a causa, vicia o negócio jurídico quando for comum a
ambas as partes. Basta, para que a nulidade seja decretada, que uma das partes tenha ciência da
má-fé da outra. Se, por exemplo, o locador aluga o imóvel ciente de que a finalidade do locatário é
utilizá-lo como cativeiro de um sequestro, não poderá mover-lhe a ação de cobrança dos aluguéis,
diante da nulidade do contrato. Se, ao revés, o locador estava de boa-fé, o contrato será válido,
viabilizando-se, destarte, a cobrança dos aluguéis. Anote-se que, no exemplo ministrado, o objeto
do negócio, qual seja, a casa alugada, é lícito, recaindo a ilicitude sobre a causa consubstanciada na
finalidade criminosa.
Na compra e venda de maconha, por exemplo, o objeto do negócio é ilícito. Nesse caso, para
a decretação da nulidade, pouco importa a boa-fé de um dos contratantes. Na causa ilícita, ao
revés, a boa-fé de uma das partes impede a nulidade do ato.
Força convir, portanto, que o Código atual não é totalmente causalista nem anticausalista,
tendo assumido uma posição intermediária, atento à boa-fé e à má-fé das partes.
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REPRESENTAÇÃO
CONCEITO
Dispõe o art. 115 do CC que: “Os poderes de representação conferem-se por lei ou pelo
interessado”.
A representação legal é atribuída por lei em razão da incapacidade do representado. É o caso
dos pais em relação aos filhos menores e do tutor ou curador, em relação ao pupilo ou curatelado.
Quanto ao curatelado, que são os maiores incapazes, a lei os classifica como relativamente
incapazes, nos termos do art. 4º, II a IV, do CC, de modo que, a rigor, devem ser assistidos e não
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propriamente representados.
A representação voluntária ou convencional, por sua vez, é a derivada do mandato expresso
ou tácito, verbal ou escrito.
Nada obsta, por outro lado, que o representante legal constitua representante voluntário
para representar o incapaz em certos atos.
Por fim, o representante judicial é o nomeado pelo juiz. Exemplos: curador da herança
jacente, inventariante, administrador judicial da massa falida, etc.
OS PODERES DE REPRESENTAÇÃO
A manifestação de vontade pelo representante, nos limites de seus poderes, produz efeitos
em relação ao representado (art. 116 do CC). De fato, o representante encontra-se investido de
poderes para atuar em nome do representado, de modo que com a realização do negócio, os
direitos e deveres são atribuídos ao representado, incorporando-se em seu patrimônio. À exceção
dos atos personalíssimos, via de regra, qualquer ato pode ser praticado por meio da representação.
Na representação legal, os atos e negócios jurídicos devem ser celebrados pelo próprio
representante, em nome do incapaz, estando este impedido de praticar o ato diretamente, ao
contrário da representação convencional, em que, não obstante os poderes outorgados ao
representante, o representado continua com o direito de realizar diretamente o negócio para o
qual havia delegado os poderes de representação.
O representante é obrigado a provar às pessoas, com quem contratar em nome do
representado, a sua qualidade e a extensão de seus poderes, sob pena de, não o fazendo,
responder pelos atos que a estes excederem (art. 118 do CC). Assim, o representado não se obriga
pelos atos praticados pelo representante, que extrapolarem os limites de seus poderes. Nada
obsta, contudo, que o representado ratifique o ato.
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Benefício de restituição é o instituto jurídico que permite a anulação dos negócios jurídicos
válidos celebrados pelo representante, que sejam prejudiciais aos interesses do incapaz.
O instituto da “restitutio in integrum”, que vigorou ao tempo das Ordenações, acabou sendo
abolido pelo art. 8º do Código Civil de 1916. Como adverte Sílvio Venosa, a instituição nem sempre
beneficiava o menor, já que atemorizava aqueles que pretendiam com ele contratar. Desse modo,
os negócios feitos com menores, desde que representados ou assistidos, são plenamente válidos e
eficazes.
O Código atual, porém, prevê um instituto similar ao benefício de restituição, dispondo no
seu art. 119, que: “É anulável o negócio concluído pelo representante em conflito de interesses
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com o representado, se tal fato era ou devia ser do conhecimento de quem com aquele tratou”. É
de cento e oitenta dias, a contar da conclusão do negócio e da cessação da incapacidade, o prazo
de decadência para pleitear-se a anulação prevista neste artigo (parágrafo único do art. 119 do CC).
Não se trata propriamente do benefício de restituição, pois este instituto permitia a anulação
de todo e qualquer ato prejudicial ao incapaz, pouco importando se a outra parte tinha ou não
conhecimento de que o ato poderia prejudicá-lo.
No citado art. 119 do CC, não é propriamente o prejuízo acarretado ao incapaz a causa da
anulação do negócio, mas o fato de este ter sido concluído pelo representante em conflito de
interesses com o representado. Ocorre esse conflito quando o interesse do representado for
antagônico ao do representante.
Da mesma forma que é anulável o negócio jurídico celebrado pelo representante consigo
mesmo, haverá também a anulabilidade quando for celebrado com outrem, visando, no entanto,
um benefício próprio ou alheio, e não o interesse do incapaz. Todavia, nesse caso, de ato praticado
pelo representante em benefício próprio ou alheio, a anulação só se caracterizará se tal fato era ou
devia ser do conhecimento de quem com aquele contratou. Se o contratante estava de boa-fé, isto
é, desconhecia o real propósito do representante, nem tinha possibilidade de conhecer (erro
escusável), o negócio não poderá ser anulado.
Se, porém, o outro contratante sabia ou devia saber do conflito de interesses, o ato poderá
ser anulado, no prazo de cento e oitenta dias, a contar da conclusão do negócio ou da cessação da
incapacidade. Trata-se de prazo decadencial, conforme preceitua o parágrafo único do art. 119 do
CC.
Saliente-se, por fim, que o dispositivo em análise é aplicável tanto à representação legal
quanto à convencional. Tratando-se de representação legal, o prazo decadencial só começa a fluir
com a cessação da incapacidade, pois a decadência não corre contra os absolutamente incapazes
(art. 208 do CC). Na representação convencional, porém, o prazo para ação anulatória começa a
fluir a contar da conclusão do negócio.
NÚNCIO OU MENSAGEIRO
Negócio jurídico inexistente é o que não reúne os elementos necessários à sua formação. O
negócio inexistente não produz qualquer consequência jurídica; nunca se convalida e jamais poderá
ter eficácia como negócio putativo.
Os pressupostos de existência do negócio, para uma corrente, são a vontade e o objeto.
Outra corrente considera a vontade, o objeto e a forma como requisitos de existência.
Com efeito, se todo negócio jurídico é uma declaração de vontade, força convir, portanto,
que, no caso de ausência completa de vontade, o ato não existe. Exemplos: vontade extorquida
pela coação física ou declarada por erro obstativo; casamento celebrado sem o consentimento de
um dos nubentes, etc.
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celebrarem esse outro negócio. Trata-se de uma pressuposição da vontade hipotética de ambas as
partes. A compra e venda de imóvel, por exemplo, é nula, se for celebrada por instrumento
particular, todavia, poderá ser convertida em compromisso de compra e venda, pois este último
contrato não exige escritura pública. Outro exemplo: a nota promissória nula por falta de requisito
essencial pode ser convertida em confissão de dívida. A conversão não pode ser determinada ex
officio, urge que seja arguida pelas partes ou por terceiro juridicamente interessado.
V. for preterida alguma solenidade que a lei considere essencial para a sua validade. Assim, a
falta de legitimação, nos casos exigidos pela lei, pode ser causa de nulidade absoluta ou relativa,
conforme seja ou não essencial essa formalidade. Se o interesse tutelado for público, haverá
nulidade absoluta; se for privado, a nulidade será relativa. Quando, porém, a lei exigir autorização,
a nulidade é relativa, podendo o ato ser validado pela posterior ratificação desse terceiro (art.176
do CC).
VI. tiver por objetivo fraudar lei imperativa. O ato com fraude à lei, vale dizer, para subtrair-se
à sua aplicação, reveste-se de nulidade absoluta. Entende-se por imperativa a lei de ordem pública,
cogente, que ordena um determinado comportamento.
VII. a lei taxativamente o declarar nulo, ou proibir-lhe a prática, sem cominar sanção. Quando
a lei usa a expressão “é nulo” ou outra equivalente, a nulidade é absoluta. Em contrapartida, a
nulidade é relativa quando a lei usa a expressão “é anulável”. Às vezes, porém, a lei proíbe a prática
do negócio, mas permanece silente sobre o ato ser nulo ou apenas anulável. Em tal situação, o
negócio jurídico, em princípio, será nulo. Todavia, como observa Sílvio Venosa, “poderão existir
situações nas quais o negócio se apresenta aparentemente como nulo, mas a interpretação
sistemática o faz entender como anulável. Devemos ter em mente que a nulidade repousa sempre
em causa de ordem pública, enquanto a anulabilidade tem vista mais acentuadamente o interesse
privado”.
Finalmente, a última causa de nulidade absoluta é a simulação. Com efeito, dispõe o art. 167
do CC que: “É nulo o negócio jurídico simulado, mas subsistirá o que se dissimulou, se válido for na
substância e na forma”.
O negócio jurídico é anulável, conforme preceitua o art. 171 do CC, nas seguintes hipóteses:
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prazo decadencial para a anulação do negócio jurídico é de 4 (quatro) anos, a contar do dia em que
se realizou o negócio jurídico, no caso de coação, conta-se do dia em ela cessar; e no caso de atos
de incapazes, do dia em que cessar a incapacidade. Quando a lei dispuser que determinado ato é
anulável, sem estabelecer prazo para pleitear-se a anulação, será este de dois anos, a contar da
data da conclusão do ato (art.179 do CC). Assim, no silêncio da lei, é de dois anos o prazo para a
ação anulatória. Tratando-se de ação anulatória movida por terceiro, o prazo deve ser contado do
dia em que o terceiro tomou conhecimento do negócio, presumindo-se essa ciência se o ato estiver
registrado no Registro Público, por força do princípio da publicidade dos registros. No Código de
1916, discutia-se na nulidade relativa se o prazo era prescricional ou decadencial. O Código atual
acertadamente fez menção à decadência, dirimindo essa antiga controvérsia.
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Decretada a nulidade, seja ela absoluta ou relativa, o negócio é desfeito, como se nunca
tivesse existido, reconduzindo-se as partes ao estado anterior à sua celebração. Assim, anulado o
testamento, por exemplo, o herdeiro deve restituir os bens herdados. Anulada a compra e venda, o
vendedor restitui o preço e o comprador a coisa.
Com efeito, reza o art. 182 do CC: “Anulado o negócio jurídico, restituir-se-ão as partes ao
estado em que antes dele se achavam, e, não sendo possível restituí-las, serão indenizadas com o
equivalente”.
Assim, se não for possível a restituição ao “status quo ante” pelo fato, por exemplo, do
perecimento da coisa ou alienação a terceiro de boa-fé, as partes serão indenizadas com o
equivalente ao seu valor.
Esta regra de que a decretação da nulidade reconduz os interessados ao status quo ante,
mediante a devolução das prestações recebidas, comporta duas atenuações.
A primeira encontra-se no art. 181 do CC: “Ninguém pode reclamar o que, por uma obrigação
anulada, pagou a um incapaz, se não provar que reverteu em proveito dele a importância paga”.
Aludido dispositivo é complementado pelo disposto no art. 310 do CC: “Não vale o pagamento
cientemente feito ao credor incapaz de quitar, se o devedor não provar que em benefício dele
efetivamente reverteu”. Se, por exemplo, o devedor efetua o pagamento a um incapaz, seja a
incapacidade absoluta ou relativa, ciente da incapacidade, o negócio é anulado, mas o incapaz não
terá que restituir a importância recebida, a não ser que tenha revertido em proveito dele mesmo.
Entende-se por proveitoso o pagamento quando o incapaz lhe deu o destino razoável e útil, agindo
como agiria o accipiens capaz e diligente. Portanto, a restituição do pagamento só se efetuará se
demonstrar que o pagamento reverteu em proveito do incapaz. Ignorando-se a incapacidade, é
válido o pagamento se o erro for escusável, aplicando-se por analogia o art. 309 do CC, que cuida
do pagamento feito ao credor putativo.
A segunda atenuação encontra-se prevista no art. 1.214 do CC: “O possuidor de boa-fé tem
direito, enquanto ela durar, aos frutos percebidos”. Assim, a restituição das partes ao status quo
ante não é aplicável aos frutos percebidos durante a boa-fé.
Por outro lado, tem sido afirmado que a declaração de nulidade absoluta aproveita a todos os
interessados e não somente aos que a postularam, tendo, pois, efeito erga omnes, ao passo que a
anulabilidade aproveita exclusivamente aos que a alegarem, salvo o caso de solidariedade ou
indivisibilidade, conforme preceitua o art. 177 do CC.
Assim, na nulidade relativa, quando a obrigação for divisível, a sentença que a reconhece só
aproveita às partes. Tratando-se, porém, de solidariedade ou indivisibilidade, a sentença
aproveitará também aos demais interessados, conforme ressalva o citado art. 177 do CC. Anote-se,
porém, que a sentença não poderá prejudicar os interessados que não figuraram no processo como
partes, por força dos limites subjetivos da coisa julgada.
Na nulidade absoluta, o Código é omisso quanto ao fato de a sentença aproveitar ou não a
todos os interessados. Por raciocínio lógico, tendo em vista a restituição do bem ao patrimônio do
devedor, não resta dúvida de que a sentença beneficia os interessados que não participaram do
processo. Se, porém, o bem houver sido alienado a terceiro, urge que este figure também como réu
na ação de declaração de nulidade, sob pena de não ser atingido pela sentença. Entendimento
diverso violaria os limites subjetivos da coisa julgada. Assim, para que a ação seja procedente em face
desse terceiro, é preciso demonstrar a sua má-fé, consistente na ciência ou na possibilidade de
conhecer o vício que inquinava a aquisição do bem por parte de seu antecessor. Se houver adquirido
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o bem de boa-fé e mediante erro escusável, o negócio por ele realizado não poderá ser invalidado,
aplicando-se, por analogia, o disposto no parágrafo único do art. 1.827 do CC, que, consagrando a
teoria do herdeiro aparente, preceitua: “São eficazes as alienações feitas, a título oneroso, pelo
herdeiro aparente a terceiro de boa-fé”.
Por outro lado, na nulidade absoluta, a sentença, que é meramente declaratória, produz
efeitos retroativos, volvendo-se os interessados ao status quo ante, respeitados os direitos dos
terceiros de boa-fé. Na nulidade relativa, cuja sentença é desconstitutiva, alguns civilistas, como
Washington de Barros Monteiro, preconizam que o efeito da sentença também é retroativo,
outros, ao revés, acertadamente, sustentam o efeito “ex nunc” da sentença, desfazendo-se o
negócio somente a partir da sua prolação.
Tratando-se, porém, de nulidade relativa em razão de erro, dolo, coação, lesão, estado de
perigo e fraude contra credores, não paira dúvida sobre o efeito “ex tunc” da sentença,
desfazendo-se o ato retroativamente, desde o momento de sua celebração.
É inexata a afirmação categórica de que na nulidade absoluta o negócio não produz nenhum
efeito. Como salienta Orlando Gomes, o ato nulo enquanto não for declarado nulo produz efeitos,
pois se não se declarar a nulidade, o negócio vive, perdura. Nesse aspecto, pode-se afirmar que
nenhuma nulidade é imediata ou instantânea. Diz-se que os negócios nulos são insanáveis.
Realmente, não se permite que as partes os confirmem, nem o juiz os valide. Embora se afirme que
não prescrevem, a verdade é que pelo decurso do tempo o ato nulo vem afinal a convalescer, ainda
que pela via oblíqua da usucapião.
Acrescente-se, por outro, que a regra “pas de nullite sans grief”, não há nulidade sem
prejuízo, vigora apenas no âmbito processual. No Direito Civil, a nulidade é decretada,
independentemente da arguição ou comprovação do prejuízo.
A nulidade pode ser total e parcial. A primeira afeta o negócio jurídico inteiramente; a
segunda destrói apenas uma ou algumas cláusulas.
Em regra, vigora o princípio da incomunicabilidade das nulidades, segundo o qual a nulidade
parcial de um negócio não o prejudica na parte válida se esta for da outra separável (art.184 do CC).
Assim, anulado o testamento pelo fato de ter invadido a legítima dos herdeiros necessários,
subsiste a validade na parte de reconhecimento de filho. Outro exemplo: anulada a cláusula do
divórcio, que versa sobre a herança de pessoa viva, o restante do acordo permanece válido.
O princípio da incomunicabilidade das nulidades comporta duas exceções.
A primeira é quando não for possível a separação da parte não atingida pela nulidade.
Anulada uma das cláusulas de transação, por exemplo, toda a transação será nula, por força do
princípio da indivisibilidade da transação.
A segunda é a invalidade da obrigação principal, que implica a das obrigações acessórias, mas
a destas não induz a da obrigação principal. Assim, anulada a compra e venda, anulam-se também
as obrigações acessórias, como a hipoteca, o penhor, a cláusula penal, etc. Todavia, a nulidade da
obrigação acessória não atinge a obrigação principal, exceto na hipótese de condição ilícita, em que
a nulidade da condição atinge a obrigação principal (art. 123, II, do CC).
Finalmente, a invalidade do instrumento, isto é, da forma escrita, não contamina o negócio
jurídico, sempre que este puder provar-se por outro meio (art.183 do CC). Assim, nos negócios
solenes, a nulidade do instrumento invalida também o negócio jurídico, mas nos negócios de forma
livre, que foram celebrados por escrito, a nulidade do instrumento não anula o negócio jurídico,
pois este poderá provar-se por outros meios.
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Dispõe o art. 180 do CC que: “O menor, entre dezesseis e dezoito anos, não pode, para
eximir-se de uma obrigação, invocar a sua idade se dolosamente a ocultou quando inquirido pela
outra parte, ou se, no ato de obrigar-se, declarou-se maior”.
Vê-se, portanto, que o menor, ao agir com dolo quanto à sua idade, ocultando-a ao ser
interrogado pela outra parte, ou, então, declarando-se espontaneamente maior, fica inibido de
mover a ação anulatória do negócio jurídico, equiparando-se, destarte, ao maior, apesar de o ato
ter sido celebrado sem a assistência de seu representante legal.
De acordo com Sílvio Rodrigues, a regra do art. 180 do CC, para ser aplicada, não basta que o
menor tenha agido com dolo, urge ainda o erro escusável da outra parte. Tratando-se, por
exemplo, de menor com aparência infantil, a outra parte deve desconfiar. Nesse caso, o erro é
inescusável, fruto da negligência, viabilizando-se a anulação do negócio.
Finalmente, o aludido dispositivo legal é inaplicável ao menor de dezesseis anos, cujo negócio
praticado sem a representação de seu representante legal reveste-se de nulidade absoluta.
A INVALIDADE DO INSTRUMENTO
Dispõe o art. 183 do CC que: “A invalidade do instrumento não induz a do negócio jurídico
sempre que este puder provar-se por outro meio”.
Instrumento é a forma escrita do negócio.
Nos negócios solenes, para os quais a lei exige forma especial, o instrumento funciona como
requisito de validade, de modo que a sua nulidade contamina também o conteúdo do ato.
Exemplo: a nulidade da escritura pública de venda de imóveis provoca a nulidade da própria
compra e venda.
Nos negócios jurídicos informais, não solenes, o instrumento é apenas um meio de prova, ao
invés de atuar como requisito de validade. Esses negócios “ad probationem tantum” são aqueles de
forma livre, mas que as partes deliberam realizar por escrito. Exemplo: compra e venda de bens
móveis celebrada por escritura pública. Em tal situação, a nulidade do instrumento não contamina
a compra e venda, pois esta pode ser comprovada por outro meio.
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Vedada a transmissão e reprodução deste material (art. 184 CP).
Aluno Carlos Jose Lopés
DIREITO CIVIL - PARTE GERAL CPF - 93518064487
PROF. FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
PERGUNTAS:
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