Você está na página 1de 3

LIGA DE ENSINO DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO UNIVERSITÁRIO DO RIO GRANDE DO NORTE

CURSO DE DIREITO
DIREITO CIVIL I (TEORIA GERAL DO DIREITO CIVIL)
2º PERÍODO
PROF. WALBER CUNHA LIMA

1. Nulidade do negócio jurídico: conceito e classificação

O negócio jurídico que não atende aos requisitos de validade ou apresenta defeito é inválido. Esclarece
Sílvio Venosa (2016) quando o negócio jurídico se apresenta de forma irregular, defeituosa, tal
irregularidade ou defeito pode ser mais ou menos grave, e o ordenamento jurídico pode atribuir
reprimenda maior ou menor. Nesse aspecto, pode a lei simplesmente ignorar o ato, considerando que ele
não possui a menor consistência, pois lhe falta algum elemento estrutural, sendo ele inexistente; pode a lei
fulminar o ato com pena de nulidade, extirpando-o do mundo jurídico; ou ainda, pode a lei admiti-lo,
ainda que viciado ou defeituoso, desde que nenhum interessado se insurja contra ele e postule a sua
anulação. Constata-se, assim, três categorias de ineficácia dos negócios jurídicos: inexistentes, nulos e
anuláveis (VENOSA, 2016).

Segundo Maria Helena Diniz (2017) a nulidade é a consequência prevista em lei, nas hipóteses em que
não estão preenchidos os requisitos básicos para a existência válida do ato negocial. Nesse sentido,
explicita a autora que há duas espécies de nulidades admitidas em nosso ordenamento jurídico: a absoluta
e a relativa. Na nulidade absoluta do negócio jurídico, este não reproduz qualquer efeito por ofender,
gravemente, princípios de ordem pública. Um negócio jurídico que resulta em nulidade é como se nunca
tivesse existido desde a sua formação, pois a declaração de sua invalidade produz efeito ex tunc,
retroagindo à data de sua celebração. A nulidade relativa (anulabilidade) refere-se a negócios que se
acham inquinados de vício capaz de lhes determinar a ineficácia, mas que poderá ser eliminado,
restabelecendo-se a sua normalidade. A declaração judicial de sua ineficácia opera efeitos ex nunc, de
modo que o negócio jurídico produz efeitos até esse momento (DINIZ, 2017).

Preleciona Flávio Tartuce (2016) que a nulidade é a consequência prevista em lei, nas hipóteses em que
não estão preenchidos os requisitos básicos para a existência válida do ato negocial. Sob esse influxo,
aduz ele que duas são as espécies de nulidades, concebendo-se a palavra em sentido amplo (lato sensu):
nulidade absoluta (nulidade stricto sensu) e nulidade relativa (anulabilidade).

No mesmo sentido, Fabio Ulhoa Coelho (2016) didaticamente esclarece que há dois graus de invalidade
do negócio jurídico. No grau mais elevado, o negócio jurídico é nulo (invalidade absoluta), no menos,
anulável (invalidade relativa). Distingue a lei, na verdade, uma hipótese da outra em atenção aos valores
socialmente difundidos. Para ele, há situações em que a lei, para coibir ações repulsivas mais graves,
imputa ao negócio jurídico um grau máximo de invalidação, dando-o por nulo; e há aquelas em que coíbe
ações ainda socialmente repulsivas, mas de menor gravidade, reservando ao negócio jurídico grau mínimo
de invalidação, tomando-o, então, por anulável.

Portanto, duas são as espécies de nulidades admitidas em nosso ordenamento jurídico: a absoluta e a
relativa (anulabilidade). Nulidade absoluta seria o ato nulo, enquanto que relativa, o ato anulável.

Nulidade absoluta – Nos casos de nulidade absoluta existe um interesse social, além do individual, para
que se prive o ato ou negócio jurídico dos seus efeitos específicos, visto que há ofensa a preceito de
ordem pública e, assim, afeta a todos. Por essa razão, pode ser alegada por qualquer interessado, devendo
ser pronunciada de ofício pelo juiz (CC, art. 168, parágrafo único) (GONÇALVES, 2017).
Anulabilidade (nulidade relativa) – Diz respeito aos negócios jurídicos firmados na esfera da autonomia
privada. Ela não se opera automaticamente, mas requer a iniciativa da parte que não viciou o ato.
(NADER, 2016). Diferente da nulidade absoluta, a relativa (anulabilidade), que não tem efeito antes de
julgada por sentença, não poderá ser pronunciada de ofício, exigindo, pois, para o seu reconhecimento,
alegação dos legítimos interessados (GAGLIANO; PAMPLONA FILHO, 2017). Assim, Não é qualquer
interessado que pode pleitear a anulação, apenas a parte prejudicada na relação negocial. A declaração
judicial de sua ineficácia opera ex nunc, ou seja, o negócio jurídico anulável produz efeitos até que venha
sentença judicial desconstitui-los (FARIAS; ROSENVALD, 2018). Isto é assim porque a anulabilidade se
prende a uma desconformidade que a norma considera menos grave, uma vez que o negócio anulável
viola preceito concernente a interesses meramente individuais, acarretando uma reação menos extrema.

NULIDADE ABSOLUTA NULIDADE RELATIVA (ANULABILIDADE)


O ato nulo atinge interesse público O ato anulável atinge interesse privados
Não admite confirmação. Admite confirmação
Pode ser arguida pelas partes, por terceiro Somente pode ser arguida pelos legítimos
interessado, pelo MP (quando couber intervir) interessados
Cabe decretação de oficio pelo juiz, logo pode ser Não cabe decretação de oficio pelo juiz, nem o MP
conhecida ex officio suscitá-la
Sentença tem efeitos erga omnes (contra todos) e Sentença tem efeito inter partes (entre as partes) e
ex tunc (retroativos) ex nunc (irretroativos )

2. Causas de nulidade

Conforme nos ensina Carlos Roberto Gonçalves (2017), o Código Civil, leva em conta o respeito à ordem
pública, formula exigências de caráter subjetivo, objetivo e formal. Assim, considera-se nulo o negócio
jurídico quando “celebrado por pessoa absolutamente incapaz” (CC, art. 166, I), quando “for ilícito,
impossível ou indeterminável o seu objeto” (CC, art. 166, II), quando “o motivo determinante, comum a
ambas as partes, for ilícito” (CC, art. 166, III), quando “não revestir a forma prescrita em lei” ou “for
preterida alguma solenidade que a lei considere essencial para a sua validade” (CC, art. 166, IV e V);
quando “tiver por objetivo fraudar a lei imperativa” (CC, art. 166, VI) e, finalmente, quando “a lei
taxativamente o declarar nulo ou proibir-lhe a prática sem cominar sanção” (CC, art. 166, VII)

Verifica-se que os incisos I, II, IV e V do art. 166 do CC estão atrelados ao art. 104, que evidencia os
requisitos de validade do negócio jurídico (agente capaz; objeto lícito, possível, determinado ou
determinável; forma prescrita ou não defesa em lei). Estabelecem, assim, sanção para a inobservância
dos aludidos requisitos.

No tocante ao III do art. 166 (“o motivo determinante, comum a ambas as partes, for ilícito”), ressalta
Flávio Tartuce (2016) que o motivo está no plano subjetivo do negócio, na intenção das partes, não
residindo o plano objetivo. Nesse sentido, citando lição do jurista Zeno Veloso, explicita ele que “o
negócio jurídico, em si, não tem objeto ilícito, mas a nulidade é determinada porque, no caso concreto,
houve conluio das partes para alcançar um fim ilegítimo, e eventualmente criminoso. Por exemplo:
vende-se o automóvel para que seja utilizado num sequestro; aluga-se uma cassa para a exploração de
lenocínio. A venda e a locação não são negócios que contrariem o Direito, mas são fulminados de
nulidade nos exemplos dados, porque o motivo determinante deles, comum a ambas as partes, era
ilícito”.

No tocante ao inciso VI (“tiver por objetivo fraudar a lei imperativa”) a nulidade do negócio como
consequência é necessária e ao mesmo tempo lógica. Se a lei imperativa visa o interesse social e se é
vedado às pessoas a sobreposição de seus interesses às normas de ordem pública, é intuitivo que o ato
negocial contrário à lei imperativa seja fulminado por nulidade absoluta. Hipótese semelhante é a
prevista no inciso VII (“a lei taxativamente o declarar nulo ou proibir-lhe a prática sem cominar
sanção”). Não apenas no CC, mas na legislação em geral, há inúmeras disposições proibitivas com ou
sem previsão de nulidade. O art. 1.475 do CC, por ex., declara a nulidade da cláusula que proíbe ao
proprietário a venda de imóvel hipotecado. Tal previsão de nulidade se revela para o alcance dos
objetivos do legislador, pois a hipótese não se enquadra em qualquer outra espécie prevista no art. 166,
ora em estudo, além da definida no inciso VII. Com esta regra o legislador se cerca de todas as garantias
possíveis, a fim de evitar o triunfo de ações ilegais (NADER, 2016).

CC, Art. 166. É nulo o negócio jurídico quando:


I - celebrado por pessoa absolutamente incapaz;
II - for ilícito, impossível ou indeterminável o seu objeto;
III - o motivo determinante, comum a ambas as partes, for ilícito;
IV - não revestir a forma prescrita em lei;
V - for preterida alguma solenidade que a lei considere essencial para a sua validade;
VI - tiver por objetivo fraudar lei imperativa;
VII - a lei taxativamente o declarar nulo, ou proibir-lhe a prática, sem cominar sanção.

3. Causas de anulabilidade

Acerca das causas de anulabilidade do negócio jurídico o art. 171 do CC preceitua que: “além dos casos
expressamente declarados na lei, é anulável o negócio jurídico: I- por incapacidade relativa do agente;
II – por vício resultante de erro, dolo, coação, estado de perigo, lesão ou fraude contra credores.”

Nesse aspecto, Flávio Tartuce (2016) esclarece as hipóteses causadoras de anulabilidade elencadas no
referido dispositivo legal:

a) Quando o negócio for celebrado por relativamente incapaz, sem a devida assistência;
b) Quando houver o negócio jurídico estiver maculado com vícios advindos do erro, dolo, coação ,
estado de perigo, lesão ou fraude contra credores;
c) Nos demais casos especificados de anulabilidade, como, por exemplo, na hipótese de venda de
bem imóvel sem a outorga uxória (mulher) ou marital (marido), previsto no art. 1647 do CC.

Você também pode gostar