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Direito Civil Esquematizado

Professor Stanley Costa

Aula 05 – Teoria da Invalidade do


Negócio Jurídico
Sumário: 1. Notas Introdutórias – 2. Inexistência do Negócio Jurídico – 3.
Nulidade Absoluta (Negócio Jurídico Nulo) – 4. Nulidade Relativa (Negócio
Jurídico Anulável) – 5. Quadro Comparativo – 6. Conservação dos Atos e
Negócios Jurídicos.

1. NOTAS INTRODUTÓRIAS
Ainda considerando a teoria da escada ponteana, nesta aula trataremos sobre a
teoria da invalidade do negócio jurídico. Na ausência de qualquer dos pressupostos
essenciais, o negócio jurídico será declarado como viciado, nesse sentido, o ato jurídico
será inexistente quando faltar algum dos requisitos essenciais de existência (vontade,
objeto e agente), e será inválido quando faltar algum dos requisitos essenciais de
validade.

Assim sendo, se não houve qualquer manifestação de vontade, o negócio jurídico


será considerado inexistente, pois falta-lhe um elemento estrutural. Diferentemente, se
a vontade manifestada está viciada (ex.: por erro) ou emanou de um incapaz sem
representação/assistência, o negócio jurídico é inválido.

Especialmente no tocante à invalidade lato sensu, ela pode ser classificada em dois
graus: (a) nulidade absoluta, quando agredir norma de ordem pública; (b) nulidade
relativa (anulabilidade) quando agredir preceito de ordem privada.

O negócio jurídico será considerado INEXISTENTE quando faltar-lhe


INEXISTÊNCIA
algum elemento estrutural (vontade, objetivo, agente ou forma).

Nulidade Absoluta – O negócio jurídico será considerado nulo quando


agredir norma de ordem pública.
INVALIDADE
Nulidade Relativa – O negócio jurídico será considerado anulável
quando agredir norma de ordem privada.

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2. INEXISTÊNCIA DO NEGÓCIO JURÍDICO
Conforme anotado em aulas anteriores, não é todo doutrinador que reconhece o
plano da existência, especialmente porque o Código Civil de 2002 não faz qualquer
menção a este que seria o primeiro degrau da escada ponteana. O legislador inicia o
livro III da parte geral do Código Civil, que trata sobre os fatos jurídicos, já tipificando os
requisitos de validade (CC, art. 104).

Consequentemente, alguns doutrinadores chegam a arguir que não haveria


qualquer necessidade de se falar sobre o negócio jurídico inexistente, sendo muito mais
fácil simplesmente considerá-lo como negócio jurídico nulo, até porque, do ponto de
vista prático, não haveria qualquer diferença entre nulidade absoluta e inexistência.

Não obstante, a doutrina majoritária (clássica e contemporânea) reconhece o


plano da existência, de modo que não poderíamos deixar de falar sobre ele. Em
concursos públicos, por exemplo, dos mais simples aos mais concorridos, o concorrente
precisa considerar que NEGÓCIO JURÍDICO INEXISTENTE não se confunde com NEGÓCIO
JURÍDICO NULO.

O negócio jurídico inexistente é um nada para o Direito, pois lhe falta algum dos
requisitos mínimos (vontade, objeto, agente e forma), de modo que sequer nos
preocuparemos com a sua validade ou eficácia. Excepcionalmente, é possível que um
negócio jurídico inválido produza efeitos, bem como que um negócio jurídico válido não
os produza. De modo diverso, o primeiro plano é prejudicial aos demais, não havendo
qualquer exceção à regra de que o negócio jurídico inexistente será também inválido e
ineficaz.

De acordo com Flávio Tartuce, “o negócio jurídico inexistente é aquele que não
gera efeitos no âmbito jurídico, pois não preencheu os seus requisitos mínimos,
constantes do seu plano de existência. São inexistentes os negócios jurídicos que não

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apresentam os elementos que formam o suporte fático: partes, vontade, objeto e
forma”1.

Buscando encontrar alguma relevância do estudo sobre o negócio jurídico


inexistente, Carlos Roberto Gonçalves assim leciona:

Por se constituir em um nada no mundo jurídico, não reclama ação própria


para combatê-lo, nem há necessidade de o legislador mencionar os
requisitos de existência, visto que o seu conceito encontra-se na base do
sistema dos fatos jurídicos. Às vezes, no entanto, a aparência material do ato
apresenta evidências que enganam, justificando-se a propositura de ação
para discutir e declarar a sua inexistência. Para efeitos práticos, tal
declaração terá as mesmas consequências da declaração de nulidade2.

É perceptível que praticamente não existe diferenças entre negócio jurídico


inexistente e nulo, afora o fato de que o primeiro dispensa a propositura de ação judicial
para assim ser declarado, por isso das muitas e contundentes críticas ao tema. Não
obstante, repetimos, especialmente para a realização de exames/provas, inexistência
NÃO se confunde com nulidade absoluta, seja na faculdade ou no concurso público, se
o aluno marcar como inexistente um negócio jurídico que é nulo, ou vice-versa, a
resposta estará incorreta.

3. NULIDADE ABSOLUTA – Negócio Jurídico Nulo


Dissertando de forma genérica sobre a invalidade, Pablo Stolze e Rodolfo
Pamplona afirmam tratar-se de uma “sanção pela ofensa a determinados requisitos
legais, não devendo produzir efeito jurídico, em função do defeito que carrega em seu
âmago”3.

Relembrando o que foi exposto na introdução, a invalidade do negócio jurídico


pode se dar em dois graus: nulidade (nulidade absoluta) ou anulabilidade (nulidade
relativa). Pois bem, considera-se negócio jurídico nulo aquele que ofende norma de

1
TARTUCE, Flávio. Manual de Direito Civil – Volume Único. Rio de Janeiro: Forense, 2019, p. 254.
2
GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro - volume 1: parte geral. São Paulo: Saraiva,
2018, p. 487.
3
GAGLIANO, Pablo Stolze, PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Manual de Direito Civil – volume único.
São Paulo: Saraiva, 2018, p. 181.
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ordem pública, de modo que o vício presente é prejudicial não somente às partes, mas
também à sociedade como um todo.

Segundo o magistério de Carlos Roberto Gonçalves: “O negócio é nulo quando


ofende preceitos de ordem pública, que interessam à sociedade. Assim, quando o
interesse público é lesado, a sociedade o repele, fulminando-o de nulidade, evitando que
venha a produzir os efeitos esperados pelo agente”4.

De acordo com os artigos 166 e 167 do Código Civil, é NULO (nulidade absoluta) o
negócio jurídico quando:

Art. 166, I - Celebrado por pessoa absolutamente incapaz;

Art. 166, II - For ilícito, impossível ou indeterminável o seu objeto;

Art. 166, III - O motivo determinante, comum a ambas as partes, for ilícito;

Art. 166, IV - Não revestir a forma prescrita em lei;

Art. 166, V - For preterida alguma solenidade que a lei considere essencial para a sua validade

Art. 166, VI - Tiver por objetivo fraudar lei imperativa;

Art. 166, VII - A lei taxativamente o declarar nulo, ou proibir-lhe a prática, sem cominar sanção.

Art. 167 - Negócio jurídico simulado

Compreendido o conceito de nulidade absoluta e identificadas as hipóteses que a


configuram, resta a questão: quais são as consequências do seu reconhecimento?

Sabendo que a nulidade absoluta é consequência de um vício que ofende a ordem


pública, a legitimidade para a sua arguição é ampla. Nos termos do artigo 168 do Código
Civil, a nulidade absoluta pode ser alegada por qualquer interessado, ou pelo Ministério
Público, quando lhe couber intervir.

Também por envolver preceito de ordem pública, o legislador nos diz que o
negócio jurídico nulo deve ser pronunciado de ofício pelo juiz (ex officio), ou seja,
independentemente de provocação, pois os interesses da sociedade estão em risco. No

4
Op. cit., p. 488
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contexto processual, pela adoção do princípio da “vedação da decisão surpresa”,
ressalta-se que mesmo nas hipóteses em que o magistrado puder decidir de ofício, as
partes deverão ser intimadas anteriormente para se manifestarem (NCPC, art. 10).

Ademais, mesmo quando postulado pelas partes, o juiz não poderá suprir (sanar)
a nulidade absoluta, pois, novamente, o interesse social está em jogo.

CC, Art. 168. As nulidades dos artigos antecedentes podem ser alegadas por
qualquer interessado, ou pelo Ministério Público, quando lhe couber intervir.
Parágrafo único. As nulidades devem ser pronunciadas pelo juiz, quando
conhecer do negócio jurídico ou dos seus efeitos e as encontrar provadas,
não lhe sendo permitido supri-las, ainda que a requerimento das partes.

O negócio jurídico nulo está gravemente viciado, por isso, regra geral, não tem
“conserto”, não dá para ser adequado. Como afirma Flávio Tartuce, “a nulidade absoluta
tem um efeito fatal, liquidando totalmente negócio” 5. Nesse sentido, conforme
inteligência do artigo 169 do Código Civil, o negócio jurídico nulo não pode ser
confirmado pelas partes, nem convalesce pelo decurso do tempo, enfim, não pode ser
reparado e nem aproveitado.

CC, Art. 169. O negócio jurídico nulo não é suscetível de confirmação, nem
convalesce pelo decurso do tempo.

Aproveitando a questão do tempo (“não convalesce pelo decurso do tempo”),


importa-nos ressaltar que a nulidade absoluta é combatida por meio de ação
declaratória, que por natureza é imprescritível. O negócio jurídico nulo não está sujeito
a prazos decadenciais ou prescricionais.

A sentença declaratória de nulidade produz efeitos ex tunc, ou seja, retroativos


até à data da celebração do negócio jurídico. O ato nulo não produz nenhum efeito, de
modo que, ao afirmarmos que a sentença declaratória de nulidade é ex tunc, significa
que ela “cancelará” todas os efeitos que aparentemente teriam sido produzidos pelo
negócio jurídico.

5
Op. cit., p. 259
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Outrossim, refletindo novamente sobre eventual relação processual, ainda que a
demanda não esteja relacionada diretamente com a validade do negócio jurídico, a
nulidade absoluta pode ser arguida a qualquer tempo e grau de jurisdição. A única
observação que precisamos fazer é que o Superior Tribunal de Justiça já entendeu
reiteradas vezes que, em instâncias extraordinárias (STJ ou STF), o reconhecimento da
nulidade absoluta deverá respeitar o requisito do pré-questionamento.

STJ, Info 329. (...)Não obstante, ainda que se trate de questão chamada de
"ordem pública", isto é, nulidade absoluta – passível, segundo respeitável
doutrina, de conhecimento a qualquer tempo, em qualquer grau de
jurisdição –, este Superior Tribunal já cristalizou seu entendimento pela
impossibilidade de se conhecer da matéria de ofício, quando inexistente o
necessário prequestionamento.

Apesar todo o exposto, contrariando a ideia de que o negócio jurídico não pode
ser aproveitado, existe uma única saída. Através do artigo 170 do Código Civil, o
legislador passou a admitir a CONVERSÃO SUBSTANCIAL do negócio jurídico nulo. Pela
conversão substancial, também chamada de recategorização, o negócio jurídico nulo
NÃO SERÁ CONSERTADO, até porque isto não é possível, mas TRANSFORMADO em
outro negócio jurídico cujos requisitos tenham sido preenchidos.

De acordo com Luciano Figueiredo e Roberto Figueiredo, trata-se de uma


“recategorização do ato nulo, em um negócio válido, mediante o aproveitamento da
vontade e elementos materiais, atendendo a premissa de que a vontade se sobrepõe à
forma”6.

CC, Art. 170. Se, porém, o negócio jurídico nulo contiver os requisitos de
outro, subsistirá este quando o fim a que visavam as partes permitir supor
que o teriam querido, se houvessem previsto a nulidade.

Para melhor compreender o instituto da conversão substancial, seguem alguns


exemplos:

a) o contrato de compra e venda de imóvel, cujo valor supera 30 salários mínimos,


celebrado por escrito particular, será nulo por desrespeito à forma prevista no

6
FIGUEIREDO, Luciano e FIGUEIREDO, Roberto. Direito Civil – parte geral. Salvador: Juspodivm,
2018, p. 458.
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artigo 108 do Código Civil. Não obstante, sabendo que o contrato preliminar é válido
independe da forma do prevista para o principal, essa compra e venda pode ser
convertida em promessa de compra e venda.

b) É invalida a constituição de hipoteca sem vênia conjugal, entretanto é possível que


seja convertida em confissão de dívida.
c) Da mesma forma, é possível converter uma nota cambial nula em confissão de
dívida.
d) É nulo o testamento público que deixar de observar as formalidades previstas
expressamente na lei, porém, ele poderá ser convertido em testamento particular,
se os requisitos deste estiverem presentes.

Para concluir, de forma bastante concisa, o ato jurídico nulo caracteriza-se por
agredir preceito de ordem pública, ou seja, por conter vício que ofende toda a
coletividade, razão pela qual poderá ser alegado por qualquer interessado
(legitimidade ampla), pelo Ministério Público e, inclusive, deve o juiz reconhecê-lo de
ofício (ex officio). Ademais, os defeitos que geram a nulidade não são passíveis de
confirmação ou convalescimento pelo decurso do tempo, consequentemente, não há
prazo para a sua alegação, pois a nulidade absoluta não está sujeita à prescrição ou
decadência.

4. NULIDADE RELATIVA – Negócio Jurídico Anulável


O negócio jurídico anulável, ao contrário do negócio jurídico nulo, atinge preceitos
de ordem privada, portanto, envolve os interesses das partes e não os da sociedade, o
que altera significativamente as regras até aqui expostas.

Segundo Carlos Roberto Gonçalves (2018, p. 491): “Quando a ofensa atinge o


interesse particular de pessoas que o legislador pretendeu proteger, sem estar em jogo
interesses sociais, faculta-se a estas, se o desejarem, promover a anulação do ato. Trata-
se de negócio anulável, que será considerado válido se o interessado se conformar com
os seus e efeitos e não o atacar, nos prazos legais, ou o confirmar”.

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As causas de ANULABILIDADE estão previstas no artigo 171, que diz: “além dos
casos expressamente declarados na lei, é anulável o negócio jurídico”:

I - Por incapacidade relativa do agente

II - Vício resultante de erro

III - Vício resultante de dolo

IV - Vício resultante de coação

V - Vício resultante de estado de perigo

VI - Vício resultante de lesão

VII - Vício resultante de fraude contra credores

Ao contrário da nulidade absoluta, que é reconhecida por meio de ação


declaratória e imprescritível, a nulidade relativa pode ser reconhecida por via de ação
anulatória, que tem natureza constitutiva negativa (desconstitutiva) e se sujeita a
prazos decadenciais, por envolver direitos potestativos. Por isso, afirma-se que OS
NEGÓCIOS JURÍDICOS ANULÁVEIS CONVALESCEM EM RAZÃO DO TEMPO.

Os prazos e forma de contagem estão previstos nos artigos 178 e 179 do Código
Civil, senão vejamos:

CC, Art. 178. É de quatro anos o prazo de decadência para pleitear-se a


anulação do negócio jurídico, contado:
I - no caso de coação, do dia em que ela cessar;
II - no de erro, dolo, fraude contra credores, estado de perigo ou lesão, do
dia em que se realizou o negócio jurídico;
III - no de atos de incapazes, do dia em que cessar a incapacidade.
CC, Art. 179. Quando a lei dispuser que determinado ato é anulável, sem
estabelecer prazo para pleitear-se a anulação, será este de dois anos, a
contar da data da conclusão do ato.

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PRAZO DE DECADÊNCIA PARA ANULAR NEGÓCIO JURÍDICO
(CC, arts. 178 e 179)
I - Coação. → 4 (quatro) anos contados do dia em que cessar a coação.

II – Erro; Dolo; Estado de


→ 4 (quatro) anos contados do dia em que se realizou o
Perigo; Lesão; e Fraude
negócio jurídico.
Contra Credores.
→ 4 (quatro) anos contados do dia em que cessar a
III – Incapacidade Relativa.
incapacidade

IV - Quando a lei não


→ 2 (dois) anos contados da data da conclusão do ato.
dispuser prazo específico.

Considerando que o ato jurídico anulável se caracteriza por envolver questões de


interesse privado, ou seja, que ofendem apenas um grupo de pessoas, só poderá ser
questionado por aqueles que demonstrarem real interesse na sua desconstituição
(legitimidade restrita), não cabendo, em regra, a intervenção do Ministério Público.
Ademais, seguindo a mesma linha de raciocínio, é defeso (proibido) ao juiz reconhecer
a anulabilidade de ofício.

CC, Art. 177. A anulabilidade não tem efeito antes de julgada por sentença,
nem se pronuncia de ofício; só os interessados a podem alegar, e aproveita
exclusivamente aos que a alegarem, salvo o caso de solidariedade ou
indivisibilidade.

Outro ponto que distingue a nulidade absoluta da anulabilidade encontra-se no


fato de que, pelo princípio da conservação dos atos e negócios jurídicos, é possível que
o negócio jurídico anulável não seja invalidado, em razão de saneamento,
convalidação ou confirmação. A ratificação do negócio anulável pode ser expressa,
como quando o assistente que não supriu a incapacidade relativa na origem do negócio
jurídico, intervém posteriormente para sanar a invalidade; ou tácita, como quando o
interessado deixa escoar o prazo decadencial.

CC, Art. 172. O negócio anulável pode ser confirmado pelas partes, salvo
direito de terceiro.
CC, Art. 173. O ato de confirmação deve conter a substância do negócio
celebrado e a vontade expressa de mantê-lo.

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CC, Art. 174. É escusada a confirmação expressa, quando o negócio já foi
cumprido em parte pelo devedor, ciente do vício que o inquinava.
CC, Art. 175. A confirmação expressa, ou a execução voluntária de negócio
anulável, nos termos dos arts. 172 a 174, importa a extinção de todas as
ações, ou exceções, de que contra ele dispusesse o devedor.
CC, Art. 176. Quando a anulabilidade do ato resultar da falta de autorização
de terceiro, será validado se este a der posteriormente.

Historicamente sempre se afirmou que a sentença da ação anulatória produz


efeitos ex nunc, ou seja, não retroativos, de modo que tão somente impediria a
produção de efeitos a partir do seu trânsito em julgado, não atingindo aqueles
produzidos preteritamente. O fundamento para tal afirmação, inclusive, encontramos
na primeira parte do artigo 177 do Código Civil, que enuncia: “a anulabilidade não tem
efeito antes de julgada por sentença (...)”. Este é o posicionamento de importantes
doutrinadores, tais como Maria Helena Diniz, Carlos Roberto Gonçalves, Caio Mário e
Nelson Nery Júnior.

Todavia, atualmente a questão não é mais tão pacífica. Existe uma forte corrente,
anunciada por doutrinadores tão relevantes quanto os citados acima (Zeno Veloso,
Pablo Stolze, Rodolfo Pamplona, Cristiano Chaves, Nelson Rosenvald e Flávio Tartuce),
que reconhece a produção de efeitos parcialmente retroativos (ex tunc) pela sentença
da ação anulatória. Para tanto, fundamentam-se no artigo 182 do Código Civil, que assim
dispõe: “anulado o negócio jurídico, restituir-se-ão as partes ao estado em que antes
dele se achavam, e, não sendo possível restituí-las, serão indenizadas com o
equivalente”.

Parece-nos que essa última é a posição majoritária atualmente. De acordo com


Flávio Tartuce: “há de se defender efeitos retroativos parciais à sentença anulatória, es
que se deve buscar a volta à situação primitiva, anterior à celebração do negócio
anulado, se isso for possível. Ademais, cite-se o caso de anulação de um casamento, em
que as partes voltam a ser solteiras. Percebe-se claramente a presença de efeitos
retroativos”7.

7
Op. cit. p. 266.
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Evidentemente que esta regra não se aplica a negócio jurídicos de execução
periódica, tais como uma locação ou uma relação trabalhista, onde não há de se cogitar,
por exemplo, a devolução de valores já pagos.

5. QUADRO COMPARATIVO

NULIDADE ABSOLUTA ANULABILIDADE


a) Agride preceito de ordem pública a) Agride preceito de ordem privada

b) A ação que objetiva reconhecer a nulidade b) A ação anulatória é desconstitutiva


absoluta é declaratória. (constitutiva negativa).

c) Não convalesce pelo decurso do tempo. c) Convalesce pelo decurso do tempo.

d) Não se submete a prazos. d) Submete-se a prazo decadencial.

e) Pode ser arguida pelas partes, por terceiro e) Pode arguida apenas pelos legítimos
interessado ou pelo Ministério Público. interessados.

f) Não pode ser reconhecida ex officio pelo


f) Pode ser reconhecida ex officio pelo juiz.
juiz.

g) Não admite confirmação, mas sim


g) Admite confirmação (expressa ou tácita).
conversão substancial (CC, art. 170).

h) Opera efeitos entre aqueles que são


h) Opera efeitos erga omnes.
legitimados a alegar o vício.

6. CONSERVAÇÃO DOS ATOS E NEGÓCIOS JURÍDICOS


O princípio da conservação dos atos jurídico tem origem no direito processual que,
ao reconhecer que o processo é apenas um instrumento, prescreve que o ato processual
deverá ser considerado válido quando, praticado de outra forma, alcançar a sua
finalidade.

NCPC, Art. 188. Os atos e os termos processuais independem de forma


determinada, salvo quando a lei expressamente a exigir, considerando-se
válidos os que, realizados de outro modo, lhe preencham a finalidade
essencial.

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NCPC, Art. 277. Quando a lei prescrever determinada forma, o juiz
considerará válido o ato se, realizado de outro modo, lhe alcançar a
finalidade.

Com o devido equilíbrio, esse princípio tem sido aplicado também ao direito
material, através de alguns institutos, tais como, a Conversão Substancial ou
Recategorização (CC/02, art. 170); Ratificação, Saneamento, Convalidação ou
Confirmação (CC, art. 172); e Redução ou Nulidade Parcial (CC, art. 184).

Nos termos do artigo 112 do Código Civil, “nas declarações de vontade se atenderá
mais à intenção nelas consubstanciada do que ao sentido literal da linguagem”. Com
fundamento nessa premissa, o STJ já se pronunciou no sentido de que meros vícios
formais não são suficientes para o reconhecimento da invalidade de testamento.

STJ, Informativo 435. Inclina-se a jurisprudência do STJ pelo aproveitamento


do testamento quando, não obstante a existência de certos vícios formais, a
essência do ato se mantém íntegra, reconhecida pelo Tribunal estadual,
soberano no exame da prova, a fidelidade da manifestação de vontade da
testadora, sua capacidade mental e livre expressão. (REsp 600.746, Rel. Min.
Aldir Passarinho Jr., j. 20.5.10, 4ªT.)

Quando tratamos sobre a nulidade absoluta, observamos a possibilidade de


conversão substancial do negócio jurídico nulo (CC, art. 170), bem como analisamos a
possibilidade de ratificação (saneamento, convalidação ou confirmação) do negócio
jurídico anulável, que pode ser expressa ou tácita (CC, arts. 172 e ss.).

Por fim, resta-nos observar a regra exposta no artigo 184 do Código Civil, quando
à Redução do Negócio Jurídico. Assim dispõe o texto legal: “Respeitada a intenção das
partes, a invalidade parcial de um negócio jurídico não o prejudicará na parte válida, se
esta for separável; a invalidade da obrigação principal implica a das obrigações
acessórias, mas a destas não induz a da obrigação principal”.

Nesse contexto, por exemplo, se o autor da herança deixa 75% do seu patrimônio
para determinada pessoa através de testamento, o que não poderia fazer por ter
herdeiros necessários, o negócio jurídico deverá ser invalidado apenas parcialmente,
reduzindo a disposição à 50%, porção que respeita o limite da legítima.

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