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Casos Práticos

(Este esquema funciona para quando existe um sujeito a praticar determinado ato em sentido
lato. Quando não existem dados sobre como foi e por quem foi praticado, atender apenas à
validade desse ato/regulamento tendo em conta o conteúdo e não o processo de formação.
Não façam questões para as quais não têm dados.)
Para resolver um caso prático interessa em primeiro lugar a factualidade e então de seguida
a aplicação se necessária do direito a essa factualidade. (Sublinhem no enunciado)

Quem
Fez o quê
A quem
Como

Porquê
Onde
Etc.

De seguida, face a cada um destes factos, entramos no direito e questiona-se, atendendo


ao PRINCÍPIO DA LEGALIDADE que prevê que só se pode fazer aquilo que é autorizado,
pode?
- Tem competência para tal?
- Pode praticar esse ato?
- Pode destinar esse ato a esse destinatário?

- Pode recorrer a essa forma?


- Essa intenção é válida? (Excecionalmente por ser raro em DA I)
- Pode praticar esse ato nesse território? (Excecionalmente por apenas quando estão em
causa pessoas coletivas territoriais)

Se não puder, estamos perante um vício. Há então que qualificar o vício.


- Usurpação de Poderes

Vicio que consiste na prática por um órgão administrativo de um ato incluído nas atribuições
do poder legislativo, do poder moderador ou do poder judicial. Este vicio traduz a violação do
princípio da separação de poderes (111º/2 CRP). É, na realidade, uma incompetência
agravada. Este vício produz a nulidade do ato administrativo. Ex. Governo pratica um ato que
é da competência do poder judicial.
- Incompetência Absoluta e Relativa

Vicio que consiste na prática, por um órgão administrativo, de um ato incluído nas atribuições
ou competência de outro órgão administrativo.

Pode ser uma incompetência absoluta quando um órgão administrativo pratica um ato fora
das atribuições da pessoa coletiva ou do ministério a que pertence, ou uma incompetência
relativa, quando um órgão administrativo pratica um ato que está fora da sua competência,
mas que pertence à competência de outro órgão da mesma pessoa coletiva. Incompetência
Absoluta: Ex. CM de Lisboa aprova licença de construção de casa no município do Funchal /
Ministro dá ordem à CML para praticar determinado ato. Incompetência Relativa: Ex. CML
pratica ato da competência do Presidente da CML (órgãos diferentes da mesma pessoa
coletiva, município de Lisboa)

Podemos ainda distinguir a incompetência: em relação da matéria, isto é, um órgão invade os


poderes conferidos a outro órgão em função da natureza dos assuntos; em razão da
hierarquia, quando se invadem poderes conferidos a outro órgão em função do grau
hierárquico (ex. subalterno invade a competência do superior hierárquico ou vice versa); em
razão do lugar, quando um órgão administrativo invade os poderes conferidos a outro órgão
em função do território; em razão do tempo, quando um órgão administrativo exerce os seus
poderes legais praticando um ato administrativo antes ou depois do momento ou período em
que se encontra legalmente habilitado para o fazer.

A incompetência absoluta gera nulidade e a incompetência relativa gera anulabilidade.

- Vicio de forma

Vicio que consiste na preterição de formalidades essenciais (vício procedimental) ou na


carência de forma legal (vício de forma em sentido restrito). Tem 3 modalidades: preterição
de formalidades anteriores à prática do ato, preterição de formalidades relativas à prática do
ato e carência de forma legal. A preterição de formalidades posteriores à prática do ato
administrativo não produz ilegalidade do ato, apenas ineficácia, visto que a validade de um
ato administrativo é aferida sempre pela conformidade desse ato com o ordenamento
jurídico no momento em que ele é praticado. Ex. Lei exige escritura pública para a prática de
determinado ato e apenas há forma escrita.

Quanto às sanções deste vicio: a carência absoluta de forma legal gera nulidade; a preterição
do procedimento legalmente exigido gera nulidade; deliberações tomadas tumultuosamente
gera nulidade; deliberações tomadas sem quórum gera nulidade; deliberações tomadas sem
ser pela maioria exigida por lei gera nulidade; outros vícios de forma geram anulabilidade.

- Desvio de poder

Vicio que consiste no exercício de um poder discricionário por um motivo principalmente


determinante que não condigna com o fim que a lei visou ao conferir tal poder. Pressupõe
uma discrepância entre o fim legal e o fim real. Existe desvio de poder tanto no caso em que
haja um erro de direito (interpretou mal a lei) como no caso de má-fé (quis mesmo prosseguir
um fim contrário à lei).

O desvio de poder pode ser para fins de interesse público, isto é, quando o órgão visa alcançar
um fim de interesse público, embora diverso daquele que a lei impõe (Ex. CM diz aprovamos
a licença de construção para esse hotel se fizeres ao lado um bloco de apartamentos). O
desvio de poder pode ser ainda para fins de interesse privado, ou seja, o órgão não prossegue
um fim de interesse público, mas um fim de interesse privado, sendo este nulo segundo o
artigo 161º/2 alínea e) (Ex. CM diz aprovamos a licença de construção desde que construas
uma piscina na casa de cada vereador].

O desvio de poder para fins de interesse público gera a anulabilidade.

- Violação de lei

Vicio que consiste na discrepância entre o conteúdo ou o objeto do ato e as normas jurídicas
que lhe são aplicáveis. Esta ilegalidade é de natureza material, visto que é a própria substância
do ato que contraria a lei, isto é, o conteúdo ou objeto. Acaba por se afigurar como um vício
residual.

Este vicio produz-se normalmente quando, no exercício de poderes vinculados a


administração decida coisa diversa do que a lei estabelece ou nada decida quando a lei manda
decidir algo.

Mas, também poderá ocorrer violação de lei quando no exercício de poderes discricionários,
quando sejam infringidos princípios gerais que limitam ou condicionam, de forma genérica, a
discricionariedade administrativa, designadamente os princípios constitucionais. Assim, se é
verdade que o desvio de poder só se pode verificar no exercício de poderes discricionários, já
não é verdade que não possa verificar-se violação de lei no exercício de poderes
discricionários.

Violação de lei comporta várias modalidades: falta de base legal para a prática do ato; erro
de direito cometido pela Administração na interpretação, integração ou aplicação de normas
jurídicas; incerteza, ilegalidade ou impossibilidade de conteúdo do ato administrativo;
inexistência ou ilegalidade dos pressupostos, de facto ou de direito, relativos ao conteúdo ou
ao objeto do ato administrativo; ilegalidade dos elementos acessórios incluídos pela
administração no conteúdo do ato se essa ilegalidade for relevante; qualquer outra
ilegalidade do ato administrativo insuscetível de ser reconduzida a outro vicio (caráter
residual).

Em qualquer dos casos de violação de lei previstos no 161º/2 CPA gera nulidade, nos restantes
casos gera anulabilidade.
Uma vez qualificado o vício só resta concluir qual a consequência face ao ato, e quais as
consequências face aos efeitos do mesmo ato.
Artigo 161º, nulidade, e 163º, anulabilidade, do CPA. Tipicidade das causas de nulidade, se
não estiver lá prevista será anulabilidade.

EXEMPLO (Não tem a lei subjacente):


Ministro ordena à CML que revogue a licença de construção que concedeu a Abel.

Ministro – Quem?
Ordena (…) que revogue a licença de construção que concedeu a Abel – Fez o quê?
À CML – a quem?

Pode?
Quando questionamos se uma entidade administrativa pode fazer algo a alguém estamos, no
fundo a perguntar se tem COMPETÊNCIA para tal.
Não tendo, estaremos perante um vício de incompetência, neste caso, absoluta uma vez que
o Estado e o Município de Lisboa são duas pessoas coletivas diferentes.

Consequência:
Nulidade do ato

Um polícia multa não para fazer cumprir o código da estada, mas para trazer mais receita para
o Estado.
Um polícia - Quem
Multa – Fez o quê

Não para fazer cumprir o código da estrada, mas para trazer mais receita para o Estado - Com
que intenção

Pode?

Relativamente ao polícia multar (quem fez o quê) não suscitam dúvidas de que ele seja
competente para tal. No entanto, existe a violação do fim dessa competência (cumprir o
código da estrada), pelo que estamos perante um caso de vício de DESVIO DE PODER. Neste
caso o desvio de poder é para fins de interesse público, seria para fins de interesse privado se
por exemplo multasse tendo em vista receber uma recompensa monetária para que não
passe a multa.

Consequência:
Anulabilidade (se fosse fim de interesse privado, nulidade)

(Para o Ato X é prescrita a forma escrita) O Ministro pratica o Ato X verbalmente.

O Ministro – Quem
Pratica o Ato X – Fez o quê
Verbalmente – Como

Pode?
Vamos imaginar que relativamente a se pode praticar o ato ele é efetivamente competente.
O ato está, contudo, viciado pois o meio de expressão do mesmo não segue a forma prevista
na lei, pelo que estamos perante um VÍCIO DE FORMA. Neste caso de carência absoluta de
forma. Deixar uma nota que o vício de forma não se manifesta apenas quando não é
respeitado o modo de expressão da vontade em praticar o ato previsto na lei, pode
igualmente existir quando não se respeita o procedimento para a prática do ato (Ex. Para
praticar o ato é necessário praticar três fases, uma não é praticada, existe um vício de forma)
O vicio de forma tem especial relevância no Direito Administrativo II.

Consequência
Nulidade (se não existisse carência absoluta, mas sim apenas um vício de forma seria
anulabilidade)

Para terminar, ter em atenção o seguinte. Por vezes um ato padece de mais do que um vício,
portanto é importante analisar todos os dados do enunciado, sob pena de chegarmos a uma
conclusão errada. Há vícios que cominam a nulidade, outros a anulabilidade. Num caso com
vários vícios, em que um comina a anulabilidade e outro a nulidade do ato, prevalece a
nulidade, esta absorve a anulabilidade, invalidade mais “fraca”. Daí a importância de abordar
todos os dados uma vez que podemos chegar à conclusão de que um ato é anulável por
padecer de determinado vício quando na verdade era nulo porque padecia igualmente de
outro vício mais grave.

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