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FACULDADE PITÁGORAS

DIREITO

ANDRÉ LUCAS MAGGIONI


ANA CAROLINA BORGES NASCIMENTO

EDUARDO COSTA

ELISAMA MARQUES

NAYM MIGUEL LOURENÇO OLIVEIRA

LUCAS CASSIANO DINIZ AGUIAR

Direito Coletivo do Trabalho


Tutelas Coletivas Especificas

Governador Valadares/MG
2022
ANDRÉ LUCAS MAGGIONI
ANA CAROLINA BORGES NASCIMENTO

EDUARDO COSTA

ELISAMA MARQUES

NAYM MIGUEL LOURENÇO OLIVEIRA

LUCAS CASSIANO DINIZ AGUIAR

Tutelas Coletivas Especifica


Ação de Cumprimento; Ação Popular; e Ação de Improbidade Administrativa.

Seminário da disciplina de Direito Coletivo do


Trabalho, do curso de Direito, 6º período,
Noturno.
Orientador: Prof.ª Daiane

Governador Valadares/MG
2022

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ART. ARTIGO

CC CÓDIGO CIVIL

CPC CÓDIGO PROCESSUAL CIVIL

CF CONSTITUIÇÃO FEDERAL

NCC NOVO CÓDIGO CIVIL

STF SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL

TJ TRIBUNAL DE JUSTIÇA

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LISTA DE SÍMBOLOS

§ PARÁGRAFO

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SUMÁRIO

AÇÃO DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA .......................................................... 6


AÇÃO POPULAR ..................................................................................................... 16

AÇÃO DE CUMPRIMENTO ...................................................................................... 34


REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA .............................................................................. 46

AÇÃO DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA


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1. CONCEITO

A improbidade administrativa é todo ato pelo qual, o agente público ou o


particular (em colaboração com o agente público), fere os princípios administrativos,
que são: legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência. Mais
especificamente, tutelando as condutas que atentem contra os princípios da
administração, prejuízo ao erário e enriquecimento ilícito.

Tal responsabilidade, de acordo com as modernas doutrinas de direito


administrativo, colocam no bojo de responsabilização do agente público, como uma
quarta esfera de responsabilização, no qual, as outras três seriam, a civil,
administrativa e penal, ambas, aplicadas de forma autônoma.

Se olharmos mais a fundo, veremos que existem seis esferas de


responsabilização: a política (quando o ato de improbidade importa em suspensão de
direitos políticos) e a exercida pelos tribunais de contas, chamado de processo de
controle.

Por mais que essas esferas possuam autonomia, sendo possível a aplicação
de maneira cumulativa de tais responsabilidades, notaremos que, a sentença penal
que negue a autoria ou materialidade do crime, exclui a responsabilização nas outras
esferas. Atualmente já se entende que a excludente da legítima defesa, também e
aplicada. Mas veja, outras exclusões de punibilidade elencadas no código penal, não
geram escusa de responsabilização nas outras esferas (civil e administrativa), salvo,
a esfera da improbidade administrativa, que será excluída a responsabilidade do
agente, se houver alguma causa de excludente penal aceita pelo processo penal
autônomo. Por isso, quando vermos o processo, veremos que poderá haver
suspensão do processo de improbidade, para aguardar a sentença penal
condenatória.

Note, que a ação de improbidade administrativa, é usada contra gentes


públicos, sendo um ramo do direito administrativo (público). Como regra, o direito do
trabalho, tutela os litígios envolvendo as relações de emprego dos particulares (CLT)
e não as relações de vínculo público. Em primeira análise, é que não há uma relação
do direito coletivo do trabalho, com a ação de improbidade administrativa, tanto que,
por mais que o pedido de instauração, possa ser feito por qualquer um que tome

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conhecimento do ato ímprobo, somente o Ministério Público, poderá mover ação de
improbidade administrativa (titular exclusivo).

A verdade, é que o bojo de agente públicos, em sua maioria, são estatutários,


possuindo leis específicas que regulam suas atividades. Porém, como se vera adiante,
existiram agentes, que mesmo possuindo vínculo com o Estado, sendo considerados
agentes públicos, não terão vinculo estatutário, e sim, celetista. Possuindo tutela direta
com o direito do trabalho. Porém, por óbvio, tenha em mente, que improbidade
administrativa, é um conceito administrativo, que pune agentes públicos e não
particulares (somente se atuarem como coautores ou partícipes do ato ímprobo), onde
a ação tramita em processo judicial/administrativa.

2. EVOLUÇÃO HISTÓRICA

O conceito de improbidade administrativa, mesmo que vago e sem muitas


especificações, é abordado pela Constituição de 1946 em seu art. 141 § 31, dispondo
sobre o perdimento e sequestro de bens, em caso de enriquecimento ilícito com
relação a abuso de cargo ou função pública. A constituição de 1967 repetiu o texto,
vindo a ser modificado pela Emenda Constitucional nº 1/1969 (art. 153, § 11), dando
uma conceituação mais específica, trazendo consigo, por causa da Lei 4.717, de
1965, o instituto da ação popular (remédio constitucional utilizado por qualquer
cidadão, objetivando impedir ações contra o patrimônio público). Note, que tal lei,
aproxima a ação, com os atos de improbidade, visto que atualmente, a ação de
improbidade e a ação popular, podem correr de maneira autônoma, uma, não
extinguindo a outra, mesmo que impetradas por causa mesmo fato.

Após anos de evolução legislativa que regulavam as interações entre agentes


públicos e o Estado, foi criada a Lei de Improbidade Administrativa (Lei 8.429/92)
aplicada, salvo modificações específicas, até o ano de 2021, ano em que a lei teve
robustas modificações, se transformando na Lei de Improbidade Administrativa
(14.230/21).

Umas das principais modificações, foram a exclusão da responsabilização por


culpa, do agente público que causasse prejuízo ao erário na modalidade culposa, ou
seja, não existe mais a responsabilidade culposa na Lei de Improbidade Administrativa
(LIA). Outras mudanças, foram nas sanções impostas, a exclusão de uma das

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modalidades (aplicação indevida de benefício financeiro ou tributário), e a ação
podendo ser movida, somente pelo MP (titular exclusivo). A prescrição das sanções
(tanto as sanções, como o afastamento do agente e sequestro de bens, serão feitas
somente por decisão judicial, e não mais administrativa) passando de 5 para 8 anos.

Essas, foram as mudanças mais impactantes. Uma das coisas que se


mantiveram, foram a imprescritibilidade do ressarcimento dos danos causados à
Fazenda Pública, pois tal ato, não é proveniente de sanção, e sim, uma
responsabilidade imposta em decorrência do comprovado prejuízo e autoria, após a
sentença.

3. CARACTERÍSTICAS

A ação de improbidade administrativa, dispensa processo administrativo


prévio, podendo ser de imediato, a ação ser proposta pelo Ministério Público, em
decorrência dos indícios de materialidade e autoria, seguindo o rito ordinário. Além
disso, tal procedimento comporta o contraditório e ampla defesa. Diferentemente do
Processo Administrativo Disciplinar (PAD), em que a defesa técnica não é obrigatória,
na LIA, o processo exige a presença da defesa técnica (advogado), visto que as
sanções possíveis, ensejam suspensão de direitos políticos, perdimento de bens e
valores/multa, proibição de contratar com o poder público, e além do mais,
possibilitando a prisão, em decorrência do processo penal autônomo, pois os atos de
improbidade, em sua maioria, implicam em crimes contra a administração.

4. NATUREZA JURÍDICA

A natureza jurídica da ação de improbidade administrativa, é de direito


público/penal, possuindo uma lei que tutela os procedimentos nela elencados, além
de sanções, como acima explicadas, que geram restrições de direitos.

5. BEM JURÍDICO TUTELADO

O bem jurídico tutelado pela Lei de Improbidade Administrativa (LIA), é a


regular gestão dos recursos públicos. Extrai desse conceito geral, a administração
correta dos bens, direcionando os gastos e bens públicos, aos interesses
coletivos/públicos e não singulares/privados, seguindo exatamente o fim proposto
para os mesmos. Atuação funcional de maneira impessoal, além de tutelar o
patrimônio público.
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6. REQUISITOS

Primeiro, de acordo com a nova lei de improbidade, qualquer ato elencado,


precisa ser necessariamente doloso, não existindo a modalidade culposa nos atos de
improbidade administrativa. Ou seja, ao se impetrar uma ação de improbidade
administrativa, precisasse analisar se o agente agiu de má-fé, e por mais que não se
aceite o princípio da insignificância na LIA, entende-se que as condutas, para se
caracterizarem improbidade, precisam ser relevantes, caso contrário, se constituírem
mera irregularidade administrativa, não se irá configurar o ato, como ímprobo.

Veja, a autoridade competente, tomando conhecimento de tais fatos, é


obrigada a acionar o titular da ação de improbidade, assim como ocorre nos processos
administrativos, quando a mesma é obrigada a iniciar um PAD ou sindicância contra
o agente público. A instauração de ação de improbidade, é um ato vinculado, e não
discricionário.

7. HIPÓTESE DE CABIMENTO

Visto os requisitos gerais para que a conduta seja considera relevante para o
LIA, veremos algumas das condutas relevantes e que geram sanções; essas,
podendo ser aplicadas isolada ou cumulativamente pelo juiz:

Primeiro, vale citar, as atuações mais graves, que geram enriquecimento ilícito
(umas das modalidades da Lei de Improbidade Administrativa). As sanções, por
consequência, são mais graves, sendo que se pode aplicar:

- Perda dos bens e valores acrescidos ilicitamente;

- Perda da função pública e suspenção dos direitos políticos, por até 14 anos;

- Multa referente ao valor acrescido ilicitamente;

- Proibição de contratar com a administração pública, ou receber benefícios,


direta ou indiretamente, por até 14 anos;

Como exemplo de ato que gere enriquecimento ilícito, podemos citar o do


agente público que, utilizar bem de propriedade pública, se valendo de sua função,
para obras ou serviços particulares, ou; receber vantagem econômica indevida, seja
direta ou indiretamente, para fazer declaração falsa sobre dado técnico que envolva
obras públicas, etc. Veja, que esses atos, são considerados crimes no âmbito penal
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(peculato e corrupção passiva, respectivamente) e que a aplicação no âmbito penal,
não afasta a do âmbito de improbidade, podendo existir ambas as sanções.

As atuações de gravidade intermediária, são aquelas que geram prejuízos ao


erário, possuindo sanções mais leves que as do enriquecimento ilícito, visto que o
dano resulta em uma dilapidação ao patrimônio público e não vantagem pessoal
propriamente dita:

- Perda dos bens e valores acrescidos ilicitamente, se ocorrer;

- Perda da função pública e suspenção dos direitos políticos, por até 12 anos;

- Multa referente ao valor do dano causado;

- Proibição de contratar com a administração pública, ou receber benefícios,


direta ou indiretamente, por até 12 anos;

Interessante notar, que pode haver enriquecimento ilícito, porém, o


enriquecimento precisa ser de terceiros, e não do particular em si, como por exemplo:
frustrar licitação, facilitar a indevida incorporação à patrimônio particular de terceiro;
agir ilicitamente na arrecadação de impostos, etc.

Lembre-se, o ressarcimento ao erário, não é uma sanção, por isso é


imprescritível, diferente das sanções, que possuem 8 anos de prescrição, salvo se o
prazo for interrompido, quando será reduzido pela metade (4 anos). E para que
concretize tal ressarcimento, precisa ser provado o efetivo prejuízo ao erário público,
além disso, mesmo que ocorra a morte do agente, seus sucessores responderam pelo
valor, até o limite da herança.

Por fim, veremos as ações que não necessitam de prejuízo ao erário público,
nem mesmo, enriquecimento ilícito. Denominado de atos que atentem contra os
princípios, tal modalidade, sendo de menor gravidade, ensejando em sanções mais
leves, tais como:

- Multa civil de até 24 vezes em relação à remuneração percebida pelo agente;

- Proibição de contratar com a administração pública, ou receber benefícios,


direta ou indiretamente, por até 4 anos;

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Enseja ato de improbidade administrativo que atente contra os princípios;
negar publicidade aos atos públicos, frustrar concorrência de concurso público, revelar
fato ou circunstância sigilosa em virtude do cardo, etc.

Percebe-se, que não se resulta em perda da função pública, nem mesmo a


suspensão dos direitos políticos. Note também, que a perda da função pública, nos
demais casos, atinge o vínculo da mesma qualidade e natureza que o agente público
ou político detinha, podendo excepcionalmente, estender a outros cargos de natureza
diversa, de acordo com a gravidade da conduta.

8. LEGITIMIDADE

A legitimado ativo para propor ação de improbidade administrativa é somente


do Ministério Público. Sendo o titular exclusivo da ação, terá a legitimidade para
acompanhar as apurações administrativas e solicitar medidas cautelares, como;
sequestro de bens, afastamento do agente público, entres outras medidas.

9. FUNÇÕES DO LEGITIMADO

No mais, as funções do MP, são de cuidar do andamento do processo,


solicitando ou até mesmo, executando quando necessário, as medidas necessárias
para a efetiva conclusão do mesmo.

10. COMPETÊNCIA

Segundo a Primeira Seção do Superior Tribunal de Justiça (STJ), a


competência se define pela pessoa, e não pelo objeto propriamente dito.

De regra, não basta que os recursos sejam provenientes da União, para que
a justiça competente seja federal, pois, se tais recursos, sejam incorporados ao
patrimônio do Estado, ou do município, será competente a justiça estadual. O fato de
as verbas estarem sujeitas ao controle do Tribunal de Contas da União, não enseja a
responsabilização perante à justiça federal, necessitando para tanto, que seja o dano
relativo aos bens, patrimônios e recursos, pertencentes e em detrimento da União.

De maneira resumida; prejuízo perante patrimônio da União (justiça federal),


prejuízo perante patrimônio dos estados ou municípios (justiça estadual).

Lembre-se, a Lei de Improbidade Administrativa, não se trata de lei penal, e


seu processo, não é regido de igual modo, pelo código de processo penal, razão pela
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qual, não existe foro por prerrogativa de função quando se tratar de ação de
improbidade administrativa.

11. POLO ATIVO E POLO PASSIVO

O sujeito ativo é sempre o Ministério Público (quando se tratar da ação), e o


passivo, o agente público ou particular que concorre com o ato ímprobo). No caso de
ato de improbidade em si, o agente passivo é o agente público ímprobo e o sujeito
passivo, o Estado, podendo o particular configurar nesse polo, se for também
diretamente prejudicado.

Para ficar claro, agente público, é todo aquele que ocupa cargo (seja efetivo,
político ou comissionado), função, emprego; seja de maneira permanente ou
temporária, remunerada ou não. Ou seja, a LIA quando se trata de agente público,
coloca em seu sentido mais amplo possível. Nesse sentido, até mesmo mesários
(agentes honoríficos que exercem função transitória e não remunerada), ou até
mesmo os estagiários.

Fica claro, que mesmo que o vínculo não seja de direito público (estatutário)
como é o caso dos efetivos, haverá responsabilização por improbidade, como é o caso
dos empegados públicos que prestam concurso público para ingressarem nos
empregos disponibilizados pelas pessoas jurídicas de direito privado da administração
indireta, possuindo vínculo celetista com a administração, e não estatutário. Mesmo
que o vínculo seja pela CLT, responderam conforme o rito imposto pela LIA.

12. CUSTAS PROCESSUAIS

O entendimento jurisprudencial acerca de tal tema, dispõe que, assim como


ocorre na Lei n. 7.347/85, os honorários sucumbenciais em ação de improbidade
serão afastados, salvo comprovada má-fé. Essa analogia poderá ser aplicada às
custas processuais, pois a ação, possui cunho de natureza pública. Por mais que
possua aspectos civis em seu rito, como o ressarcimento dos danos causados ao
erário público. Não só isso, mas vemos, que é ilógico impormos custas processuais à
parte ativa, sendo que o titular exclusivo da ação de improbidade, é o próprio MP.

13. FUNDAMENTOS JURÍDICOS

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Tudo acerca a Lei de Improbidade Administrativa (LIA), se encontra
fundamentada em lei seca, que corresponde à Lei nº 14.230, de 25 de outubro de
2021. Tal lei é recente, razão pela qual, jurisprudências e entendimentos novos sobre
o tema podem surgir. Fato é, que a lei, simplificou de maneira sistêmica o “modus
operandi” do processo, além das sanções possíveis, expressas no texto legal.

14. PROCEDIMENTO

Antes de mais nada, convém esclarecer, que a ação de improbidade, possui


caráter repressivo sancionatório, e não preventivo, ou seja, só ocorre, com a prática
do ato ímprobo, e não com sua iminência ou perigo.

O procedimento administrativo utilizado incialmente, para a apuração dos


fatos preliminares, é o INQUÉRITO CIVIL. A ciência da prática de qualquer ato
ímprobo, pode ser feita por qualquer pessoa, tanto que o STJ, possui entendimento
que até mesmo, a instauração de inquérito civil pode ser feita mediante denúncia
anônima, desde que tal denúncia, seja verossímil. Note, que assim como no inquérito
policial, tal instauração (inquérito civil), é facultativa. Mas veja, é facultativa a
instauração quando é a pedido, se a autoridade administrativa tomar conhecimento
do fato, ou o Ministério Público requisitar a instauração, não será uma faculdade e
sim, uma obrigação, a luz da obrigatoriedade que tem a administração de punir os
agentes públicos quando praticarem algum ilícito, seja penal, administrativo, etc.

A representação será feita por escrito, se verbal, reduzida a termo,


obrigatoriamente, contendo as informações pertinentes.

A instauração do inquérito civil ou do processo administrativo, suspende o


prazo prescricional por no máximo 180 dias, recomeçando a correr, seja com a
conclusão do inquérito, ou começara a correr normalmente, mesmo com o inquérito
estando aberto em período superior aos 180 dias, não ensejando em seu trancamento
a extrapolação de tal prazo.

Instaurado o inquérito civil, e com as investigações, houver a coleta de


informações suficientes de materialidade e autoria, será o inquérito remetido ao MP
(titular EXCLUSIVO da ação de improbidade administrativa), que irá propor a ação
judicial diretamente. Não se confunda com o código de processo penal, em que pese,
possui um rito mais complexo.

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Antes mesmo de iniciada a ação, ou depois de iniciada, o Ministério Público
ou a parte interessada, poderá solicitar a indisponibilidade de bens, quando fundado
o prejuízo, para o integral ressarcimento do dano; afastamento cautelar do agente
público, sendo de 90 dias, prorrogáveis por igual período. Todas as medidas
cautelares, serão aplicadas somente pela autoridade judiciária, e sempre com a oitiva
do réu, sobre tais medidas, sempre assegurando o contraditório e a ampla defesa.

A competência territorial, será de onde ocorrer o dano, ou do lugar da pessoa


jurídica prejudicada. Juntamente com isso, a entidade estatal vítima, deve ser
intimada, e caso queira, poderá intervir no processo. Se não quiser, o processo correrá
normalmente.

O rito seguido no processo, será o ordinário, assegurando sempre as partes,


contestações dos fatos, com oitiva de testemunhas e eventualmente, provas periciais.
Tal fase, denominando, “fase instrutória”.

Poderá o juiz, converter a ação de improbidade, em ação civil, por entender


irregularidades na demanda administrativa, cabendo agravo de instrumento. Não só
isso, para as decisões interlocutórias em geral, caberá agravo de instrumento, se
assemelhando muito com os procedimentos previstos no código de processo civil,
visto que no penal, o recurso contra decisões interlocutórias, seria o recurso em
sentido estrito.

Contra a decisão que der procedência da demanda, ou rejeitar a demanda de


ação de improbidade, caberá apelação.

Passado a fase instrutória, e não havendo empecilhos processuais, exercida


as partes, todas as suas defesas pertinentes, o juiz proferirá sua decisão. Cabe
lembrar, que à luz da “dosimetria da pena”, o juiz poderá aplicar as sanções de
maneira isolada ou cumulativamente, sendo cada sanção, aplicada de maneira
motivada. O que determinará o numero de sanções, e seu grau, será a gravidade do
ato ímprobo praticado.

Após a sentença, caberá apelação, e após sanado todos os recursos, ocorrerá


o trânsito em julgado, produzindo os efeitos sancionatórios. Todos os efeitos,
dependeram do ato praticado, e da gravidade de tal ato praticado, como já explicado

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anteriormente. Por óbvio, algumas sanções, vincularam o magistrado, como a
impossibilidade de aplicação de perda da função pública aos aposentados (STJ).

Vale destacar, por fim, as demissões por justa causa, que os empregados
públicos (regidos pela CLT) podem ter, em decorrência do ato ímprobo. Veja que, a
demissão feita pelas pessoas jurídicas de direito privado da administração pública
indireta (empresas públicas e sociedades de economia mista, entre outras), serão
tuteladas pela justiça trabalhista, e, o agente, tendo sido condenado por ato de
improbidade, irá configurar a justa causa de sua demissão, por parte da pessoa
jurídica interessada.

15. JURISPRUDÊNCIA

DIREITO DO TRABALHO. JUSTA CAUSA. IMPROBIDADE. Configurado ato de


improbidade do obreiro e, consequentemente, quebra de fidúcia na relação patrão-
empregado, autoriza-se a aplicação da justa causa.

(TRT-1 - RO: XXXXX20195010016 RJ, Relator: DALVA AMELIA DE OLIVEIRA


MUNOZ CORREIA, Data de Julgamento: 25/08/2021, Oitava Turma, Data de
Publicação: 03/09/2021)

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AÇÃO DE POPULAR

1. CONCEITO

O Art. 5°, LXXIII da Constituição Federal diz:


“LXXIII - qualquer cidadão é parte legítima para propor ação popular que vise a
anular ato lesivo ao patrimônio público ou de entidade de que o Estado participe,
à moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao patrimônio histórico e
cultural, ficando o autor, salvo comprovada má-fé, isento de custas judiciais e do
ônus da sucumbência;”
Em outras palavras, todos os cidadãos são capazes de propor uma ação
popular sempre que cogitar que houve alguma ação do poder público que foi nocivo a
este.

Segundo Hely Lopes Meirelles:


“é o meio constitucional posto à disposição de qualquer cidadão para obter a
invalidação de atos ou contratos administrativos – ou a estes equiparados –
ilegais e lesivos do patrimônio federal, estadual e municipal, ou de suas
autarquias, entidades paraestatais e pessoas jurídicas subvencionadas com
dinheiros públicos”.

A ação popular tem como maior objetivo proteger direitos difusos, coletivos,
ou seja, não é possível satisfazer apenas um dos detentores dos interesses, mas sim
na necessidade de satisfação do coletivo.

2. EVOLUÇÃO HISTÓRICA

A ação popular iniciou-se em Roma, onde, segundo Silva (2013, p.465), a


origem das ações populares foi aperfeiçoada na história do direito romano. O nome
ação popular originasse do fato que era delegado ao povo a legalidade para
interceder, por qualquer de seus membros, a tutela jurisdicional de interesse que não
lhe pertence, mas sim à coletividade.

Segundo Almeida apud Fernandes, a ação popular tem uma origem remota
no direito romano e uma origem próxima nas Leis Comunais, na Bélgica, em 1937, na
França, em 1837. (2011, p. 327)

No Brasil, ocorreu o surgimento da ação popular no período imperial e início


da República, desejando a defesa de bens de uso comum de todos os cidadãos. Nas
subsequentes constituições brasileiras observa-se que a previsão da ação popular
nas cartas magnas de 1824,1934,1946,1967,1968 e 1988, conforme o que segue:

- Constituição de 1824:

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“Art. 157”. Por suborno, peita peculato, e concussão haverá contra eles ação Popular,
que poderá ser intentada dentro de ano, e dia pelo próprio queixoso, ou por Qualquer
do Povo, guardada a ordem do Processo estabelecida na Lei.”

-Constituição de 1934:

“Art. 113 - A Constituição assegura a brasileiros e a estrangeiros residentes no País a


Inviolabilidade dos direitos concernentes à liberdade, à subsistência, à segurança
Individual e à propriedade, nos termos seguintes:

(...)

(38) Qualquer cidadão será parte legítima para pleitear a declaração de nulidade ou
“Anulação dos atos lesivos do patrimônio da União, dos Estados ou dos Municípios.”

- Constituição de 1946:

“Art. 141 - A Constituição assegura aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no


País a inviolabilidade dos direitos concernentes à vida, à liberdade, a segurança
individual e à propriedade, nos termos seguintes:

(...)

§ 38 - Qualquer cidadão será parte legítima para pleitear a anulação ou a declaração


de nulidade de atos lesivos do patrimônio da União, dos Estados, dos Municípios
das entidades autárquicas e das sociedades de economia mista.”

- Constituição de 1967:

“Art. 150 - A Constituição assegura aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no

Pais a inviolabilidade dos direitos concernentes à vida, à liberdade, à segurança e à


propriedade, nos termos seguintes:

(...)

§ 31 - Qualquer cidadão será parte legítima para propor ação popular que vise a

anular atos lesivos ao patrimônio de entidades públicas.”

- Emenda Constitucional nº1, de 1969:

“Art. 153”. A Constituição assegura aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no

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País a inviolabilidade dos direitos concernentes à vida, à liberdade, à segurança e à
Propriedade, nos termos seguintes:

(...)

§ 31. Qualquer cidadão será parte legítima para propor ação popular que vise a

Anular atos lesivos ao patrimônio de entidades públicas.”

- Constituição de 1988:

“Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,

Garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade


do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos

Seguintes:

(...)

LXXIII - qualquer cidadão é parte legítima para propor ação popular que vise a Anular
ato lesivo ao patrimônio público ou de entidade de que o Estado participe, à
Moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao patrimônio histórico e cultural
Ficando o autor, salvo comprovada má-fé, isento de custas judiciais e do ônus da
“Sucumbência;”

Salienta-se que a ação popular é regulamentada pela lei n ° 4.417 de 1965,


modificada na vigência da Constituição de 1946, podendo registrar antecipadamente
não acarretou melhorias como na Constituição de 1988.

A lei supramencionada acima, visa resguardar o patrimônio e meio ambiente


público conforme artigo 1° da mesma que diz assim:

Art. 1º Qualquer cidadão será parte legítima para pleitear a anulação ou a


declaração de nulidade de atos lesivos ao patrimônio da União, do Distrito
Federal, dos Estados, dos Municípios, de entidades autárquicas, de sociedades
de economia mista, de sociedades mútuas de seguro nas quais a União
represente os segurados ausentes, de empresas públicas, de serviços sociais
autônomos, de instituições ou fundações para cuja criação ou custeio o tesouro
público haja concorrido ou concorra com mais de cinquenta por cento do
patrimônio ou da receita ânua, de empresas incorporadas ao patrimônio da
União, do Distrito Federal, dos Estados e dos Municípios, e de quaisquer
pessoas jurídicas ou entidades subvencionadas pelos cofres públicos.
Diferente da carta constitucional de 1988 que expandiu sua proteção, incluindo
também a moralidade administrativa e o meio ambiente. “Com a constituição de
1988, foi ampliado o rol de bens jurídicos cuja tutela processual passou a ser
possível por meio da ação popular, incluindo-se o meio ambiente. Verifica-se,
18
portanto, uma evolução no instituto, pois originalmente a ação popular aplicava-
se unicamente aos atos lesivos ao erário” (Maria Luiza Machado Granziera.2011,
p. 750)

3. CARACTERÍSTICAS

A Ação Popular é dividida em preventiva, ocorrera quando for ajuizada antes


da efetivação dos efeitos ofensivos e repressiva quando o objetivo da ação é anular
algum ato lesivo, conseguindo então a reparação aos danos e para reorganizar o que
é prejudicial ao patrimônio público.

É importante salientar que a Ação Popular pode ser acionada antes ou depois
de te ocorrido o dano, assegurando uma melhor eficiência para a proteção de todos
os direitos aqui estudados.

Temos duas formas básicas para iniciar a proposta da ação popular, sendo
elas:

a) Requisito subjetivo: A ação Popular só poderá ser proposta pelo cidadão

b) Requisito objetivo: deverá ter algum prejuízo ou uma ameaça de prejuízo ao


patrimônio público, por ilegalidade ou imoralidade.

Podemos observar que o ato além de nocivo ao patrimônio público, deverá ser
também ilegal. Entretanto a própria Constituição menciona que o ato praticado
necessitará de ofensa à moralidade administrativa para que seja utilizado a ação
popular. Como podemos ver a seguir:

Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da


União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos
princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e,
também, ao seguinte:

A Carta Magna correlata que a Moralidade é um dos princípios básicos da


Administração Pública, ou seja, mesmo que o ato seja legal, porém se ferir o princípio
da Moralidade, já fundamentaria a propositura da Ação Popular, independentemente
da demonstração da ilegalidade do ato ou do dano aos cofres ou patrimônio público.

A doutrinadora Maria Sylvia Zanella di Pietro, diz que:

Quanto a imoralidade, sempre houve os que a defendiam como fundamento


suficiente para a ação popular. Hoje, a ideia se reforça pela norma do artigo
37caput, da Constituição, que inclui a moralidade como um dos princípios a que
a Administração Pública está sujeita. Tornar-se-ia letra morta o dispositivo se a
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prática de ato imoral não gerasse nulidade do ato Administrativo. Além disso, o
próprio dispositivo concernente à ação popular permite concluir que a
imoralidade se constitui em fundamento autônomo para propositura da ação
popular, independentemente de demonstração de ilegalidade, ao permitir que
ela tenha por objeto anular ato lesivo à moralidade administrativa. (DI PIETRO,
2009).

É importante registrar que os princípios constitucionais terão como


incumbência, estar presentes nos atos administrativos, gerando ruptura da moralidade
administrativa em seu descumprimento.

A Ação Popular não depende da prova da ilegitimidade da prática ato


administrativo ou do dano real causado, tanto aos bens públicos quanto aos cofres
públicos, a simples quebra da moralidade administrativa, qualquer ato que cause dano
ao patrimônio histórico ou cultural e qualquer outra forma que fere o meio ambiente já
gera fundamento para o uso do referido remédio constitucional.

4. LEGITIMIDADE

A legitimidade ativa pertence ao cidadão, que é um indivíduo beneficiado de


capacidade eleitoral ativa e que não esteja em débito com as suas obrigações
eleitorais.

Ocorrera a comprovação do cidadão por intermédio do título de eleitor ou com


por meio de outro documento que comprova a realização das suas obrigações
eleitorais.

No Brasil, existe a conjectura que os portugueses equiparados serem


cidadãos, conforme o art. 12, § 1º da nossa Constituição, que demonstra por meio da
sua própria condição que os habilita a exercer esse direito político por intermédio do
certificado de equiparação do gozo do direito político e título de eleitor, temos:

Art. 12. São brasileiros: (...)


§ 1º Aos portugueses com residência permanente no País, se houver
reciprocidade em favor de brasileiros, serão atribuídos os direitos inerentes ao
brasileiro, salvo os casos previstos nesta Constituição.
Não poderão figurar no polo ativo da ação popular:
a) os estrangeiros, mesmo residentes no território nacional;
b) os apátridas;
c) STF, Súmula número 365: “Pessoa jurídica não tem legitimidade para
propor ação popular”;
d) brasileiros que estejam com seus direitos políticos suspensos ou
cancelado, nos termos do artigo 15 da CF/88, vejamos:
Art. 15. É vedada a cassação de direitos políticos, cuja perda ou suspensão só
se dará nos casos de:
I - Cancelamento da naturalização por sentença transitada em julgado;
II - Incapacidade civil absoluta;
20
III - Condenação criminal transitada em julgado, enquanto durarem seus efeitos;
IV - Recusa de cumprir obrigação a todos imposta ou prestação alternativa, nos
termos do art. 5º, VIII;
V - Improbidade administrativa, nos termos do art. 37, § 4º.
e) O Ministério Público

O Ministério Público atuará como parte pública autônoma, tendo como


atribuição, guarda pela regularidade do decorre do processo e pela correta
aplicabilidade da lei, podendo então opinar pela procedência ou improcedência da
ação.

Além disso, poderá operar como substituto e sucessor do autor, na


possibilidade deste omitir ou retirar a ação, caso considere de interesse público o seu
prosseguimento, até o julgamento. Ainda, será responsabilidade do Ministério Público
promover a responsabilização dos réus, na esfera civil ou criminal (se for o caso).

O Ministério Público, tem um papel importante na execução da ação, podendo


ter legitimidade ativa na execução quando ultrapassado 60 dias da publicação da
sentença de segunda instância, sem que o autor ou terceiros possibilite a respectiva
execução ou cumprimento de sentença, desta maneira o representante do Ministério
Público tomara a frente da ação e promoverá a execução nos trinta dias posteriores,
sob pena de falta grave, conforme o artigo 16, da lei 4717/65.

É importante salientar que, por ser uma ação constitucional, pode acorrer o
autor propor em qualquer localidade, tendo em vista que a condição de cidadão é
nacional.

Para concluir, os indivíduos maiores de dezesseis anos e menores que


dezoito anos já possuem capacidade eleitoral ativa, ou seja, logo poderão ajuizar a
ação popular.

Porém, ocorre uma grande divergência entre os doutrinadores acerca deste


posicionamento, como por exemplo, Rodolfo Camargo Mancuso, ele acredita que para
definir a legitimidade passiva, temos como base o artigo 1º e 6º da lei 4717/65, que
nos ensina que a ação será proposta contra:

a) Pessoas jurídicas de direito público, cujo patrimônio se procura proteger, bem como
suas entidades autárquicas e qualquer outra pessoa jurídica que utilizem do dinheiro
público;

21
b) Qualquer responsável pelos atos lesivos, podendo ser a autoridade diretamente
responsável pelo ato ou os administradores ou os demais funcionários;

A pessoa jurídica de direito privado ou pública, que é objeto de impugnação,


poderá abster de contestar ou será capaz de atuar ao lado do autor, desde que isso
seja de interesse público, conforme nos ensina o artigo 6º, parágrafo 3º da lei 4717/65

Art. 6º A ação será proposta contra as pessoas públicas ou privadas e as


entidades referidas no art. 1º, contra as autoridades, funcionários ou
administradores que houverem autorizado, aprovado, ratificado ou praticado o
ato impugnado, ou que, por omissas, tiverem dado oportunidade à lesão, e
contra os beneficiários diretos do mesmo.
§ 3º A pessoas jurídica de direito público ou de direito privado, cujo ato seja
objeto de impugnação, poderá abster-se de contestar o pedido, ou poderá atuar
ao lado do autor, desde que isso se afigure útil ao interesse público, a juízo do
respectivo representante legal ou dirigente.

Por fim, é importante salientar que os Tribunais e as jurisprudências mais


recentes entendem a necessidade de mostrar que o beneficiário do ato lesivo ou
ofensivo, contra a moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao patrimônio
histórico ou cultural, terá que aproveitar diretamente da lesão ou ofensa, sendo que,
aquele que for beneficiário de forma remota ou indiretamente não deverá figurar no
polo passivo da ação.

5. NAUREZA JURIDICA

Destaca-se na natureza jurídica dupla da ação popular, que se trata de um direito


constitucional político de participação e fiscalização direta da Administração Pública.

“Sob esse aspecto é uma garantia constitucional política. Revelando-se como


uma forma de participação do cidadão na vida pública, no exercício de uma
função que lhe pertence primariamente. Ela dá a oportunidade de cidadão
exercer diretamente a função fiscalizadora, que, por regra, é feita por meio de
seus representantes nas casas legislativas. ” (Silva. 2005, p466)

Consoante ao artigo 1º, § único da CF/88 a ação popular tem como foco o exercício
pleno da cidadania como forma de efetivação, através do poder judiciário, no estado
democrático de direito.

“Contudo ela se manifesta como uma garantia coletiva na medida em que o autor popular
invoca a atividade jurisdicional, por meio dela, na defesa da coisa pública, visando à tutela de
interesses coletivos, não de interesses pessoal. ” Silva (2005, p.466).

Com a ação popular sendo remédio constitucional e previsto na CF/88, onde


o cidadão se veste de autonomia:

22
“considerando-se o caráter marcadamente público dessa ação constitucional, o
autor está, em princípio, isento de custas judiciais e de ônus da sucumbência,
salvo comprovada má-fé (art. 5º, LXXIII, DA CF/88). A ação popular é um
instrumento típico da cidadania e somente pode ser proposta pelo cidadão, aqui
entendido como aquele que não apresente pendências no que concerne às
obrigações cívicas, militares e eleitorais que, por lei, sejam exigíveis”
(Mendes,2014, p. 497).

6. BEM JURÍDICO TUTELADO

Como já se encontra registrado, a ação popular é o meio constitucional posto


à disposição do cidadão brasileiro para promover a defesa dos interesses coletivos,
constituindo uma das formas de exercício da soberania popular em face do Estado.
Permitindo-se, por intermédio dela, a fiscalizar o Poder Público por parte da
população.
Sobre os direitos tutelados, vale relembrar a classificação dos direitos
constitucionais segundo a doutrina majoritária.
Em um primeiro momento, tivemos os direitos de primeira geração, aí
incluídos os direitos civis e políticos, considerando-se como tais os direitos individuais,
onde prevalece o interesse pessoal.
Numa segunda oportunidade apontam os direitos de segunda geração, os quais
reivindicam uma postura positiva do Estado, Uma vez que correspondem aos direitos
sociais, econômicos e culturais, tanto em sua forma individual quanto coletiva, sendo
premente a atividade do Estado no que diz respeito à eliminação das grandes
carências existentes na sociedade.
Para finalizarmos este tema, temos os direitos de terceira geração, que são
os frutos do mundo globalizado, que enfoca o homem na sua relação com seus pares,
interagindo com seus semelhantes, inclusive os de outros países e ultrapassando os
limites fronteiriços e geográficos para proteger a paz no mundo, o patrimônio comum
da humanidade, o meio ambiente, o desenvolvimento dos países pobres, etc.
São conhecidos como direitos de solidariedade ou de fraternidade.
Repise-se que a ação popular tem por fim proteger os interesses públicos (ou
coletivos), sendo que o que vai determinar se o interesse é público ou individual é a
predominância do elemento pessoal ou público. Tem-se, desse modo, que a ação
popular tutela, principalmente, os direitos de segunda e terceira geração, que abarcam
majoritariamente os interesses da coletividade.
Segundo se depreende do texto constitucional, o objeto da ação popular é o
ato lesivo ao patrimônio público e a sua finalidade é obter a invalidação deste nas
23
esferas federal, estadual e municipal, seja ele emanado da administração pública
direta ou de suas autarquias, entidades paraestatais e pessoas jurídicas patrocinadas
com a verba pública.
Além do mais, releva consignar que a ação popular poderá ter tanto fins
preventivos quanto repressivos da atividade, pelo que sempre será possível a
suspensão liminar do ato impugnado, visando à preservação dos superiores
interesses da coletividade.
Quanto ao caráter repressivo da ação, nota-se que ela poderá ser ajuizada
anteriormente à produção do efeito lesivo, ao passo que como meio repressivo,
poderá ser intentada após a consumação da lesão, como forma de reparação do dano
causado.
7. REQUISITOS

Como já foi citado anteriormente, poderá ser proposta somente por:

Cidadão brasileiro que estiver em débito com os seus direitos políticos. Porém
os inalistáveis, os partidos políticos, as entidades de classe e qualquer pessoa jurídica
não têm qualidade para propor ação popular.

Ilegalidade ou ilegitimidade do ato impugnado, que nada mais é que a


existência de uma manifestação ilegal da Administração, que, poderá ser de natureza
comissiva ou omissiva. O ato atacado precisa ser ilegal, contrário ao Direito,
infringente das normas legais específicas que regulam sua prática, ou destoante dos
princípios gerais que norteiam a atuação da Administração Pública (moralidade,
impessoalidade, publicidade etc.).

Por fim temos a lesividade do ato que é todo aquele que desfalca o erário da
Administração, que atinge a moralidade administrativa, o meio ambiente e o
patrimônio histórico e cultural. Observe-se que a ação popular também alcança
aqueles atos que ferem a moralidade administrativa. Assim, mesmo à míngua de lesão
patrimonial, comprovada a ofensa à moralidade administrativa, teremos motivo para a
propositura da ação.

8. HIPÓTESE DE CABIMENTO

24
O cabimento para darmos início a ação popular é o conjunto de condições
que, uma vez preenchidas, permitirão o ajuizamento da demanda. O termo refere-se
ao domínio de atuação desse requerimento especial, à sua aceitação pelo Poder
Judiciário, à sua justificativa.

A Lei nº 4.717/1965, que regula a ação popular, estabelece no art. 1º que:

‘’ Qualquer cidadão será parte legítima para pleitear a anulação ou a declaração


de nulidade de atos lesivos ao patrimônio da União, do Distrito Federal, dos
Estados, dos Municípios, de entidades autárquicas, de sociedades de economia
mista, de sociedades mútuas de seguro nas quais a União represente os
segurados ausentes, de empresas públicas, de serviços sociais autônomos, de
instituições ou fundações para cuja criação ou custeio o tesouro público haja
concorrido ou concorra com mais de 50% do patrimônio ou da receita ânua, de
empresas incorporadas ao patrimônio Revista da SJRJ, Rio de Janeiro, n. 27, p.
107-117, 2010 p. 111 Direito Constitucional, Administrativo e Propriedade
Industrial da União, do Distrito Federal, dos Estados e dos Municípios, e de
quaisquer pessoas jurídicas ou entidades subvencionadas pelos cofres
públicos.’’

A CF88, ao receber a ação popular, estabelece no inciso LXXIII do art. 5º os


termos essenciais para o cabimento do requerimento: “Qualquer cidadão é parte
legítima para propor ação popular que vise a anular ato lesivo ao patrimônio público
ou de entidade de que o Estado participe, à moralidade administrativa, ao meio
ambiente e ao patrimônio histórico e cultural, ficando o autor, salvo comprovada má-
fé, isento de custas judiciais e do ônus da sucumbência”.

Hely Lopes Meirelles (2007, p. 123-124) narra o cabimento do requerimento


ao defini-lo como “o meio constitucional posto à disposição de qualquer cidadão para
obter a invalidação de atos ou contratos administrativos – ou a estes equiparados –
ilegais e lesivos do patrimônio federal, estadual e municipal, ou de suas autarquias,
entidades paraestatais e pessoas jurídicas subvencionadas com dinheiros públicos”.

Para Humberto Theodoro Jr., (2008, p. 535) “Da previsão constitucional,


extraem-se três requisitos para a admissibilidade da ação popular: a) a condição de
cidadão brasileiro, por parte de quem se disponha a aforá-la; b) a ilegalidade do ato a
invalidar; e c) a lesividade do ato para o patrimônio público”.

Maria Sylvia Zanella Di Pietro (2009, p. 787), acerca do tema, assevera: “É a


ação civil pela qual qualquer cidadão pode pleitear a invalidação de atos praticados
pelo poder público ou entidades de que participe, lesivos ao patrimônio público, ao

25
meio ambiente, à moralidade administrativa ou ao patrimônio histórico e cultural, bem
como a condenação por perdas e danos dos responsáveis pela lesão”.

Trata-se de um “direito político de participação no poder, na vontade e nos


assuntos do Estado, por ser expressão de direito próprio dos cidadãos ao bem
coletivo”, nas palavras de Guilherme Amorim Couto da Silva (2007, p. 8-9).

Para Wesley Newcomb Hohfeld (1917, p. 710-770), “a ideia de direitos


corresponde com a de deveres”. Ou seja: em qualquer uma das suas manifestações,
apenas haverá o autêntico direito quando houver deveres a eles correlatos. Aplicando
esse entendimento, o direito político do cidadão ao eleger corresponde a um dever de
fiscalizar.

No entender de Rodolfo de Camargo Mancuso (2008, p. 84), a ação popular


deve ser tomada no seu sentido mais estrito, constitucional. Isto é, trata-se de um
“instrumento processual cujos contornos vêm marcados no art. 5º, LXIII, da CF, a que
corresponde o regime processual – procedimental da Lei nº 4.717/65, com as
alterações trazidas pela legislação superveniente”. Com base nos autores citados, no
texto constitucional e na lei especial, pode-se conceituar ação popular como a medida
excepcional judicial destinada ao exercício da democracia participativa, na qual o
cidadão brasileiro, no uso de seus direitos civis e políticos, tenciona a anulação de
atos ou contratos administrativos ilegais ou lesivos ao p. 112 Revista da SJRJ, Rio de
Janeiro, n. 27, p. 107-117, 2010 Direito Constitucional, Administrativo e Propriedade
Industrial patrimônio público, à moralidade3 administrativa, ao meio ambiente e ao
patrimônio histórico e cultural, contra a administração pública ou entidade na qual o
Estado participe.

Portanto, entende-se que, para o cabimento da ação popular, devem estar


presentes as condições exigidas para o manejo desse importante remédio
constitucional, como a qualidade de cidadania e a junção de ilegalidade e/ou
lesividade do ato administrativo perante o patrimônio público. Vamos, a seguir, definir
cada um desses requisitos.

9. POLO ATIVO E PASSIVO

A Ação Popular permite em seu polo ativo como regra a participação de


qualquer cidadão brasileiro e elenca no polo passivo a União, os Estados, o Distrito

26
Federal, os Municípios, as entidades autárquicas, as sociedades de economia mista,
as sociedades mútuas nas quais a União represente os segurados ausentes, as
empresas públicas, as de serviços sociais autônomos, as instituições ou fundações,
conforme o artigo 1º, caput, da Lei 4.717/65.

10. FUNÇÕES DOS LEGITIMADOS

O ART 5º, inciso LXXIII, da Constituição Federal estabelece que “qualquer cidadão é
parte legítima para propor ação popular e impugnar, ainda que separadamente, ato
lesivo ao patrimônio material, moral, cultural ou histórico do Estado ou de entidade de
que ele participe.”

11. COMPETÊNCIA

Pela origem do ato a ser anulado que é definida a competência para processar e julgar
a ação popular.

Partindo desse princípio temos:

a) Se o ato impugnado foi realizado, aprovado ou ratificado por autoridade,


funcionário ou administrador de órgão da União e de suas entidades ou por ela
subvencionado, a competência será do juiz federal da Seção Judiciária em que
se consumou o ato;
b) Se o ato impugnado foi produzido por órgão, repartição, serviço ou entidade
do Estado ou por ele subvencionado, a competência será do juiz estadual que
a organização judiciária do Estado indicar;
c) Se o ato impugnado foi produzido por órgão, repartição, serviço ou entidade
de Município ou por este subvencionado, a competência será do juiz estadual
da comarca a que o Município interessado pertencer, de acordo com a
organização judiciária do Estado;
d) Se a ação interessar simultaneamente à União e a qualquer outra pessoa ou
entidade, será competente o juiz das causas da União (Justiça Federal).

12. CUSTAS PROCESSUAIS

Na ação popular quando comprovado a má-fé o autor ficará inseto das custas
judiciarias e do ônus da sucumbência, como consta na nossa constituição art. 5°,
LXXIII.
27
LXXIII - qualquer cidadão é parte legítima para propor ação popular que vise a
anular ato lesivo ao patrimônio público ou de entidade de que o Estado participe,
à moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao patrimônio histórico e
cultural, ficando o autor, salvo comprovada má-fé, isento de custas judiciais
e do ônus da sucumbência;

A isenção constitucional em favor do autor quando a pretensão popular for julgada


improcedente, não pode ser confundida com a obrigação do arguido de remunerar se
a pretensão for procedente. Aparentemente, a indenização constitucional beneficia o
autor da ação coletiva se julgada improcedente e desde que não aja de má-fé na
propositura da ação coletiva. Foi um meio encontrado pelo legislador constituinte para
estimular o controle popular sobre a gestão dos bens públicos, instituindo a livre ação
(não há pagamento de taxas e custas nos julgamentos) e isenção do ônus de
sucumbir, no caso dessa ação popular.

Diante dos réus obviamente, não é necessário falar em isenção do ônus de sucumbir:
se a ação coletiva for considerada procedente, eles serão sentenciados a reembolsar
as despesas incorridas pelo autor bem como as despesas.

13. FUNDAMENTOS JURIDICOS

A ação popular está fundamentada na lei (Lei nº 4.717, de 1965) tendo como foco
regula a previsão constitucional de ações que podem ser iniciadas por pessoas do
povo, com objetivo de anular algum ato da administração pública que tenha causado
danos aos cofres do governo ou a patrimônio público, seja na esfera Federal, Estadual
ou Municipal.

14. PROCEDIMENTO

O procedimento da ação popular segue o rito ordinário, com algumas modificações,


como informaremos a seguir.

Ao despachar a inicial, o juiz:

- Ordenará a citação de todos os responsáveis pelo ato impugnado e a intimação do


Ministério Público.

- Em conseguinte requisitará os documentos necessários, marcando o prazo de


quinze a trinta dias para atendimento.

- Logo após, ordenará a citação pessoal dos que praticaram o ato e a citação edital r
nominal dos beneficiários, se o autor assim requerer.
28
- E por fim decidirá sobre a suspenção liminar do ato impugnado, se for pedida;

Uma vez citada, a pessoa jurídica interessada na demanda poderá contestar, abster-
se de contestar ou encampar expressamente o pedido da inicial.

Tendo como prazo para contestação de 20 (vinte) dias, prorrogável por mais vinte, a
requerimento dos interessados, se difícil a obtenção da prova documental.

14.1 Medida liminar em ação popular

A Lei admite expressamente a concessão de liminares em ação popular, tendo como


objetivo à imediata sustação do ato impugnado até que o mérito da causa seja
considerado.

14.2 Cassação da liminar em ação popular

A liminar concedida na ação popular proposta contra o Poder Público poderá ser
cassada (suspensa) pelo Presidente do Tribunal competente para o conhecimento do
respectivo recurso, mediante despacho fundamentado, a requerimento do Ministério
Público ou da pessoa jurídica de direito público interessada, em caso de manifesto
interesse público ou de flagrante ilegitimidade, e para evitar grave lesão à ordem, à
saúde, à segurança e à economia pública.

O Presidente do Tribunal, tem cinco dias para ouvir previamente o autor e o Ministério
Público quando da apreciação do pedido de cassação de liminar.

14.3 Sentença

A sentença na ação popular é de natureza preponderantemente negativa constitutiva


(ou desconstitutiva, pois visa a desconstituir o ato impugnado, ilegal e lesivo ao
patrimônio público).

Porém, a sentença pode ter, subsidiariamente, efeito condenatório, o que tem levado
parte da doutrina a denominá-la de desconstitutiva-condenatória (Alexandre de
Moraes).

Se for julgada procedente a ação, o juiz deve:

a) decretará a invalidade do ato impugnado;

29
b) determinará as restituições devidas, condenando ao pagamento de perdas e danos
os responsáveis pela prática do ato e os beneficiários de seus efeitos;

c) condenará os réus ao pagamento das custas e despesas com a ação, bem como
dos honorários do advogado do autor da ação; Como se vê, a sentença cuida de três
aspectos distintos, a saber:

1º) do ato impugnado, declarando sua invalidade;

2º) dos responsáveis pela prática do ato (réus), responsabilizando-os pela reparação
do dano;

3º) dos beneficiários do ato (co-réus), também solidariamente responsáveis pela


reparação do dano. Somente ficará para ser apurada em ação específica (ação
regressiva) a responsabilidade dos eventuais servidores envolvidos, que não tiverem
integrado a ação popular, pois a apuração dessa responsabilidade depende da
comprovação de culpa ou dolo, nos estritos termos do art. 37, § 6º, da Carta da
República.

Com a invalidação do ato impugnado, a condenação abrangerá as indenizações


devidas, as custas e despesas com a ação realizadas pelo autor, bem assim os
honorários de seu advogado (ônus de sucumbência.

14.4 Condenação de natureza criminal

A sentença em ação popular é de natureza tipicamente civil, não comportando


condenação de índole política, administrativa ou criminal. Significa dizer que, além da
decretação da invalidade do ato ou contrato impugnado e das reparações civis
devidas, a sentença em ação popular não poderá impor nenhuma outra sanção aos
réus.

Assim, se ao final da ação popular restar comprovada alguma violação de norma


penal ou disciplinar, a que a lei comine pena nessas esferas, o juiz determinará, de
ofício, a remessa de peças processuais ao Ministério Público, para a instauração da
persecução penal devida, e à autoridade a quem competir a aplicação da punição, se
for o caso de penalidade administrativa (pena de demissão de servidor, por exemplo).

14.5 Recursos

30
As sentenças proferidas em ação popular são passíveis de recurso de ofício e
apelação voluntária, com efeito suspensivo.

14.6 Duplo grau de jurisdição

O recurso de ofício só será interposto quando a sentença concluir pela improcedência


ou pela carência da ação. Como se vê, a hipótese é diametralmente contrária ao que
ocorre no mandado de segurança, em que o recurso de ofício só é interposto quando
a segurança é concedida.

Enfim no mandado de segurança, temos o duplo grau de jurisdição obrigatório


quando a ação é julgada procedente (sentenças concessivas da segurança);

Já na ação popular, temos o duplo de jurisdição obrigatório quando a sentença


reconhece a improcedência da ação (ou sua carência).

Conforme ensina o Prof. Hely Lopes Meirelles, “O recurso de ofício só será interposto
quando a sentença concluir pela improcedência ou pela carência da ação. Inverteu-
se, assim, a tradicional orientação desse recurso (que nas outras ações é interposto
quando julgadas procedentes), para a melhor preservação do interesse público, visto
que a rejeição da ação popular é que poderá prejudicar o patrimônio da coletividade,
lesado pelo ato impugnado”.

O recurso de ofício é manifestado por meio de simples declaração do juiz na


conclusão da sentença (geralmente com os seguintes dizeres: “sentença sujeita ao
duplo grau de jurisdição”).

Entretanto, caso o juiz prolator da sentença se omita, deverá o Tribunal avocar o


processo, considerando o recurso interposto, e reapreciar o mérito do julgamento
inferior que deu pela improcedência ou pela carência da ação popular.

14.7 Apelação

A apelação voluntária é cabível tanto da sentença que julgar procedente ou


improcedente a ação, quanto da que decidir pela sua carência. A apelação em ação
popular tem sempre efeito suspensivo e seguirá o trâmite comum, previsto no Código
de Processo Civil (CPC).

31
Nesse ponto, o processo da ação popular também se distingue do de mandado de
segurança pois neste a apelação possui efeito meramente devolutivo, na ação popular
a apelação é dotada de efeito suspensivo.

14.8 Outros recursos

As decisões interlocutórias são passíveis de agravo de instrumento.

No caso de concessão de medida liminar, cabe pedido de cassação dirigido ao


Presidente do Tribunal competente para a apreciação do recurso de mérito.

No mais, as decisões e despachos interlocutórios em ação popular ficam sujeitos a


todos os recursos do Código de Processo Civil, desde que presentes os pressupostos
para sua interposição.

14.9 Coisa julgada

Nem toda sentença definitiva proferida em ação popular produz coisa julgada. Há
necessidade de se averiguar se houve ou não exame do mérito da ação, conforme
expendido a seguir.

Na prolação da sentença definitiva na ação popular, poderemos ter o seguinte:

a) a sentença julga procedente a ação, com exame do mérito;

b) a sentença julga improcedente a ação, com exame de mérito;

c) a sentença julga improcedente a ação, por deficiência de provas (sem exame do


mérito).

Nos dois primeiros casos, em que a sentença decide sobre o mérito, há efeito da coisa
julgada, oponível erga omnes. Se há coisa julgada, significa dizer que não poder ser
admitido outro processo com o mesmo fundamento e assunto, mesmo que tenha sido
proposto por outro cidadão. Se proposto, poderá o réu alegar coisa julgada, para o
não conhecimento da nova ação popular.

No entanto, no terceiro caso, como a sentença não examinou o mérito da ação, não
há que se falar em coisa julgada e, podendo, portanto, ser proposta nova ação com
os mesmos fundamentos, caso sejam apresentadas novas provas.

32
15. JURISPRUDÊNCIA

AÇÃO POPULAR PROPOSTA POR PESSOA FÍSICA PARA ANULAR CLÁUSULAS


DE ACORDO COLETIVO DE TRABALHO. INADEQUAÇÃO DA VIA ELEITA.
EXTINÇÃO DO PROCESSO. Consoante inteligência dos arts. 5º, LXXII, da CF e 1º
da Lei 4.717/65, são hipóteses de cabimento da ação popular: 1) a anulação de ato
lesivo ao patrimônio público ou de entidade de que o Estado participe; 2) a anulação
de ato lesivo à moralidade administrativa; e 3) a anulação de ato lesivo ao meio
ambiente e ao patrimônio histórico e cultural. Observe-se que o art. 1º, caput, da Lei
4.717/65, exige como fundamento para a propositura da ação popular a ocorrência
de lesividade ao patrimônio público; e o parágrafo 1º do mesmo artigo define
patrimônio público como "os bens e direitos de valor econômico, artístico, estético,
histórico ou turístico". Denota-se, assim, que não cabe ação popular para questionar
cláusula de acordo coletivo ou para combater direito individual e social de natureza
trabalhista criado por instrumento normativo autônomo. A ação popular é cabível
apenas para combater atos lesivos ao patrimônio das entidades estatais
especificadas no art. 1º da Lei 4.717/65, nele encartados os bens e direitos de valor
econômico, artístico, estético, histórico ou turístico. Ou seja, o objeto mediato da
ação popular é sempre o patrimônio das entidades públicas, não se confundindo
com o patrimônio público genericamente considerado, no qual se incluem os
interesses coletivos e individuais homogêneos de caráter trabalhista. Portanto,
conclui-se que norma coletiva autônoma que estabelece condição laboral, ainda que
induza uma possível violação de direito individual e social trabalhista, não pode ser
combatida pela ação popular, que não é ferramenta hábil a tutelar qualquer espécie
de direito material coletivo, pois tem um objeto restrito e legalmente previsto. Os
interesses supostamente violados pelas cláusulas negociadas podem ser
questionados e eventualmente revertidos por outros instrumentos jurídicos; porém
não por meio de ação popular. Em face do exposto, e reconhecendo, de ofício, a
inadequação da via jurídica utilizada, extingue-se o processo, sem resolução do
mérito, com fulcro no art. 267, IV, combinado com o art. 295, V, do CPC .

(TST - AgR-Pet: XXXXX20135010038, Data de Julgamento: 08/06/2015, Data de


Publicação: DEJT 19/06/2015)

33
AÇÃO DE CUMPRIMENTO

1. CONCEITO

A ação de cumprimento é uma ação para conhecimento da condenação a partir


de causa movida por sindicato trabalhista ou pelo trabalhador. Quando não há o
cumprimento espontâneo da ação, que se faz necessária a ação de Cumprimento
para impor ao réu o acatamento de cláusulas determinadas no acórdão normativo,
podendo a condenação ensejar pagamento pecuniário ou obrigação de fazer ou não
fazer, tendo em vista que o latino não tem o costume de cumprir obrigações
voluntariamente. Não se discute nesse tipo de ação, às questões ou o direito que
foram tratados na sentença normativa, mesmo que transitada em julgado. A Ação de
cumprimento é ajuizada geralmente pelos sindicatos trabalhistas ou pelos
trabalhadores na vara do trabalho. Os artigos 651 e 872 da CLT mostram como deve
prosseguir:

Art. 651 – A competência das Juntas de Conciliação e Julgamento é determinada


pela localidade onde o empregado, reclamante ou reclamado, prestar serviços
ao empregador, ainda que tenha sido contratado noutro local ou no estrangeiro.
(Vide Constituição Federal de 1988)
Art. 872 – Celebrado o acordo, ou transitada em julgado a decisão, seguir-se-á
o seu cumprimento, sob as penas estabelecidas neste Título.
Parágrafo único – Quando os empregadores deixarem de satisfazer o
pagamento de salários, na conformidade da decisão proferida, poderão os
empregados ou seus sindicatos, independentes de outorga de poderes de seus
associados, juntando certidão de tal decisão, apresentar reclamação à Junta ou
Juízo competente, observado o processo previsto no Capítulo II deste Título,
sendo vedado, porém, questionar sobre a matéria de fato e de direito já
apreciada na decisão. (Redação dada pela Lei nº 2.275, de 30.7.1954)

2. EVOLUÇÃO HISTÓRICA
Apresento de forma breve, as alterações sofridas pela execução ao longo do tempo,
desde o processo romano até o Código de Processo Civil brasileiro de 1939,
passando pela legislação medieval e pela legislação portuguesa.

No direito romano existia tão somente o título executivo judicial, vindo da


sentença condenatória proferida no processo de conhecimento. Prevalecia o preceito
romano pelo qual “deviam conhecer-se as razões das partes antes de fazer-se a
execução” (THEODORO JÚNIOR, 1989, p. 02).
No direito romano, não havia um processo de execução estatal: sendo assim, o
próprio vencedor fazia valer a decisão proferida por seus próprios meios, podendo,
inclusive, fazer uso da força. Ficava o devedor à mercê do credor. “Ao tempo da Lei
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das XII Tábuas não se conhecia outra forma de execução que não fosse a
pessoal” (THEODORO JÚNIOR, 2006, p. 101).
Já no final do período da legis actiones, o credor adquiriu o direito de manter
como seu escravo o inadimplente, mas sem poder vendê-lo ou matá-lo, ficando o
inadimplente nessa condição até quitar sua dívida através do seu trabalho quitar o
valor correspondente ao total da dívida a ser quitada. A Lex Poetelia, por volta do ano
300 a.C., devido aos abusos cometidos pelo credor contra o inadimplente, proibiu o
acorrentamento do devedor, com exceção nas hipóteses de condenação criminal.
Tão somente no período cognitio extra ordinem (a partir do século III d.C.),
considerado pelos juristas o mais desenvolvido do Direito Romano, é que a jurisdição
foi definitivamente concentrada nas mãos Estatais, isto é, do Estado-Juiz, já que o
próprio magistrado (pretor) proferia a sentença e executava suas decisões.
Segundo Theodoro Júnior (2006), nesse período:
O procedimento executivo sofreria, naturalmente, profundas inovações,
dentre as quais merecem destaque a criação de um procedimento próprio
para as execuções de entrega de coisa e a extrema simplificação da actio
iudicati nas execuções por quantia certa.

Podendo-se concluir que nasceu aí a origem da execução patrimonial, que


também serviu de base para demais tipos de ações como a Ação de cumprimento no
direito trabalhista. “Teoricamente persistia a execução pessoal, mas o fato é que na
prática ela muito pouco ocorria” (BAUMÖHL, 2006. p. 90).
A execução por quantia certa do período, segundo CUQ (Apud THEODORO
JÚNIOR, 2006, p. 124), “marca grande progresso na história da execução de
sentença”, porque dava-se como execução singular e se limitava à parcela do
patrimônio do devedor suficiente a satisfação do crédito.
Já no princípio da Idade Média, em virtude da queda do Império Romano no ano
de 476 d.C. Por causa das intensas invasões bárbaras que dominaram o império
romano, houve um grande retrocesso no processo que se desenvolvia para uma forma
mais humanizada, com a volta da execução privada, tendo em vista que o direito
romano foi substituído pelo ordenamento jurídico do povo bárbaro que : “O povo
bárbaro era marcado por um individualismo exacerbado, razão pela qual suas
contendas eram resolvidas sempre na esfera privada” (BAUMÖHL, 2006, p. 90).
Com o decorrer de estudos romanísticos, a execução privada novamente foi
perdendo sua força, nascendo assim o chamado “direito comum” ou “intermédio” por
volta do século X, que foi a fusão entre o direito romano que era mais humanizado e
35
avançado, e o direito barbárico-germânico. Ressaltando no período, o trabalho dos
glosadores na formação do chamado sistema romano-germânico, que lançou as
bases do moderno direito europeu continental.
Devido a praticidade do povo medieval e, também em razão dos inconvenientes
da actio iudicati romana, que se realizava em novo processo e reabria a cognição,
nasceu a executio parata, que após a sentença condenatória, iniciava-se a execução
forçada (aparelhada). “Essa execução, tida como simples prosseguimento ou
complemento do ato de prolação da sentença recebia a denominação de execução
per officium iudicis” (THEODORO JÚNIOR .1989. p. 05).
A chamada execução per officium iudicis implicou em dispensa da
necessidade da instauração da actio iudicati para as execuções de sentença.
O requerimento que instaurava a execução não era tido como exercício do
direito de ação, mas, segundo ensina Liebman, como “simples ato de impulso
processual com o fim de provocar a realização concreta dos atos incumbentes
ao juiz” (BAUMÖHL. 2006. p. 98).

Com o avanço do comércio no fim da Idade Média, a necessidade de regular a


relação credor-devedor e, consequentemente, o aumento das demandas, o sistema
judicial começou a ficar lento na demora na ação de conhecimento, levando a criar os
primeiros títulos executivos extrajudiciais, que dispensavam a prévia sentença para a
execução. “Eram chamados instrumenta guarentigiata ou confessionata (espécie de
escritura pública de confissão de dívida) dos quais se dizia que tinham eficácia de
execução aparelhada” (THEODORO JÚNIOR. 1989. p. 05).
Com o passar do tempo, as duas execuções passaram a ser absolutamente
distintas em sua finalidade: a primeira tornou-se mera continuação da ação
condenatória; a segunda, uma verdadeira ação executiva.
O mesmo se deu no Brasil. A actio iudicati é lembrada apenas como
reminiscência histórica. O Regulamento n.º 737 de 1850 prevê distintamente
a execução de sentença, a assinação de dez dias e a ação executiva.
Finalmente com o Código de Processo Civil de 1939 desaparece a assinação
de dez dias e sobrevivem a via ordinária (execução de sentença) e a especial
(ação executiva) (LIEBMAN. 1968 p. 12/13).

O Código de Processo Civil de 1939 previu dois diferentes processos de


execução: um de títulos executivos extrajudiciais - a ação executiva, que se tratava
de “um procedimento misto, com penhora inicial e cognição enxertada, com defesa
ampla do réu mediante contestação” (LACERDA, 1982, p. 169); e outro para os títulos
executivos judiciais - que retornou ao modelo romano, pois era considerado exercício
do direito de ação e realizava-se através de novo processo autônomo, de sorte

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que “não mais conservava a sumariedade da execução per officium
iudicis” (BAUMÖHL, 2006, p. 99).
Isso ocorreu, de modo especial, por influência do direito francês, no qual o
padrão executivo passou a ser o dos títulos executivos extrajudiciais e não o das
sentenças.
Desaparecia, destarte, a executio per officium iudicis (execução de sentença)
e reinstalava-se o método romano de só se poder chegar a execução forçada
por meio de uma nova relação processual. E foi assim que o Código de
Napoleão acolheu o processo executivo nos princípios do século XIX
(THEODORO JÚNIOR, 2006, p. 161).

No Brasil, esse pensamento atingiu o clímax com a edição do Código de


Processo Civil de 1973, que embasou o Direito Comercial brasileiro, que também se
apoia no Código Civil de 2002, para a aplicação da Ação de cumprimento.

3. CARACTERÍSTICAS
Ação de conhecimento de cunho condenatório, isto é, não cabe recurso,
obedece a regra do artigo 651 da CLT, sua finalidade é o cumprimento das cláusulas
constantes dos instrumentos normativos coletivos (acordos coletivos, convenções
coletivas e sentenças normativas). Percebe-se que os instrumentos normativos da
ação de conhecimento não comportam execução, portanto, o não cumprimento
espontâneo voluntário ensejará a propositura de ação de cumprimento. Sendo esse
procedimento semelhante ao do dissídio individual, não sendo havendo possibilidades
das partes discutirem questões de fato ou de direito que já foram apreciadas na
sentença normativa expedida, mesmo que ela ainda não tenha transitado em julgado,
sua fundamentação está prevista no artigo 872 da CLT, com a principal característica
a de garantir que o direito dos trabalhadores não seja violado, forçando seu
cumprimento compulsoriamente, caso o executado não a cumpra voluntariamente.

4. NATUREZA JURÍDICA
Não há um consenso sobre a natureza jurídica da ação de cumprimento.
Predominando no plano doutrinário o entendimento de que a sua natureza é de ação
condenatória, pois seu objeto é efetivar determinada decisão contida em uma
sentença normativa. Essa é a argumentação de Francisco Ferreira Jorge Neto e
Jouberto de Quadros Pessoa Cavalcante.

37
Ressalta-se que as ações condenatórias, dão ao vencedor o poder de requerer
a seu favor a imposição da satisfação do direito nelas declarado pelo sujeito passivo
da obrigação. Perfilha esse entendimento Manuel Antônio Teixeira Filho, mediante os
seguintes argumentos:
Ação de cumprimento é, pois, de natureza condenatória, por visar a um
pronunciamento jurisdicional que imponha ao réu acatamento de cláusulas
constantes de acórdão normativo, podendo essa condenação implicar
obrigação de pagar quantia certa, de fazer ou de não fazer.
Consequentemente, a sentença emitida na causa converter-se-á em um título
judicial, assim que se submeter ao fenômeno da coisa julgada material (CLT,
artigo 876: CPC, artigo 467, nessa ordem). Com base nela, o autor formulará
uma nova pretensão, desta feita de índole executiva, cujo objetivo será o de
conduzir o réu a realizar, de maneira coacta, forçada, a prestação
correspondente à obrigação contida no título executivo, inclusive, mediante
equivalente expropriação patrimonial, se necessário.
TEIXEIRA FILHO. Curso de processo do trabalho em perguntas e respostas:
n. 27, p. 27.
Sendo sua natureza de ação condenatória, a pretensão é forçar o devedor a
satisfazer o que restou determinado na norma, seja obrigação de fazer ou não fazer
algo ou pagar quantia determinada. Essa norma coletiva é que dá fundamentação a
essa espécie de ação que tem força de lei.
Outros doutrinadores da corrente minoritária, assevera, que a sentença nela
proferida é que tem natureza executiva, pois, nesse momento o autor da ação
pleiteará novo pedido com o fito de submeter o réu ao cumprimento da obrigação
imposta no título.
Na esteira desse posicionamento, Ronaldo Lima dos Santos (SANTOS.
Sindicatos e ações coletivas, p. 385-386) sustenta que “a ação de cumprimento busca
a satisfação da disposição contida em norma coletiva judicial ou extrajudicial”.
Assegura também que, em razão da natureza constitutiva ou declaratória da sentença
normativa, relativamente às cláusulas normativas, se faz necessária a fase de
execução. Contudo, a ação a que ele se refere processa-se como qualquer outra ação
trabalhista, cuja finalidade é a condenação do devedor, está sim executável.

5. BEM JURÍDICO TUTELADO


Pode-se dizer que o bem jurídico que é protegido é tudo o que se descreve no art.
223, a, b, c. com atenção especial ao art. 223-CLT.
Artigo 223 – C, CLT prevê: “A honra, a imagem, a intimidade, a liberdade de ação, a
autoestima, a sexualidade, a saúde, o lazer e a integridade física são os bens
juridicamente tutelados inerentes à pessoa física.”

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Sendo assim, a dignidade da pessoa humana está em voga na proteção ao bem
jurídico tutelado.

6. REQUISITOS
Para que haja o ajuizamento da ação de cumprimento, além dos requisitos da
petição inicial (artigo 282 do CPC c/c 840 da CLT), também deverá estar instruída com
a cópia da sentença normativa ou da certidão de julgamento do dissídio coletivo, do
acordo homologado judicialmente ou do acordo coletivo de trabalho ou, ainda, da
convenção coletiva de trabalho.
Caso ocorra a ausência de documentos essenciais para a propositura da
demanda, trazendo dificuldades para o deslinde da controvérsia, o juiz concederá o
prazo de 10 (dez) dias para que o autor tome as providências cabíveis, sob pena de
extinção do processo sem resolução do mérito (artigos 267, I e IV e 284 do CPC).
A Lei nº 7.701/88 autoriza a propositura da ação com base no acórdão ou na
certidão de julgamento, a partir do 20º dia subsequente ao julgamento do dissídio
coletivo, (BRASIL. Lei 7.701, de 21 de dezembro de 1988) conforme preceitua o §6º
do artigo 7º, in verbis:“ A sentença normativa poderá ser objeto de ação de
cumprimento a partir do 20º dia subsequente ao julgamento, fundada no acórdão ou
na certidão de julgamento, salvo se concedido efeito suspensivo pelo presidente do
Tribunal Superior do Trabalho.

7. HIPÓTESE DE CABIMENTO
A ação de cumprimento caberá na hipótese de os empregadores deixarem de
satisfazer o pagamento de salários, na conformidade da decisão proferida.
No sentido amplo da ação de cumprimento é válida a quaisquer outras condições de
trabalho previstas na sentença normativa, inobservadas pelo empregador.
Sendo competente para conhecer, conciliar e julgar a ação de cumprimento a
instância da Justiça do Trabalho, ou seja, às Varas do Trabalho ou, se for o caso, ao
Juiz de Direito investido na jurisdição trabalhista, na conformidade do que preceitua o
parágrafo único do artigo 872 da CLT. No dizer de Mozart Victor Russomano, apud
Emílio Gonçalves "abre-se, aqui, exceção ao princípio de que o juízo que prolatou a
sentença o órgão competente para executá-la.

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8. LEGITIMIDADE
Os sindicatos profissionais podem legitimar uma ação de cumprimento
mediante a condição de substituto processual
Art 872 CLT
Parágrafo único – Quando os empregadores deixarem de satisfazer o
pagamento de salários, na conformidade da decisão proferida, poderão os
empregados ou seus sindicatos, independentes de outorga de poderes de seus
associados, juntando certidão de tal decisão, apresentar reclamação à Junta ou
Juízo competente, observado o processo previsto no Capítulo II deste Título,
sendo vedado, porém, questionar sobre a matéria de fato e de direito já
apreciada na decisão. (Redação dada pela Lei nº 2.275, de 30.7.1954).

9. FUNÇÕES DO LEGITIMADO
O Supremo Tribunal Federal já se manifestou no sentido de que o art. 80, III
da CF/88 conferiu às entidades sindicais substituição processual ampla e irrestrita o
Tribunal Superior do Trabalho expediu o Enunciado no 310, que exige em seu item V
a individualização dos substituídos, a Lei permite o sindicato figure como reclamados,
garantir o cumprimento dos acordos coletivos firmados.

10. COMPETÊNCIA
A respeito da competência conhecer, conciliar e julgar a ação de cumprimento
é atribuída a instância da Justiça do Trabalho, ou seja, às Varas do Trabalho ou, se
for o caso, ao Juiz de Direito investido na jurisdição trabalhista, na conformidade do
que preceitua o parágrafo único do artigo 872 da CLT.

Art. 872 - Celebrado o acordo, ou transitada em julgado a decisão, seguir-se-


á o seu cumprimento, sob as penas estabelecidas neste Título.

Parágrafo único - Quando os empregadores deixarem de satisfazer o pagamento


de salários, na conformidade da decisão proferida, poderão os empregados ou
seus sindicatos, independentes de outorga de poderes de seus associados,
juntando certidão de tal decisão, apresentar reclamação à Junta ou Juízo
competente, observado o processo previsto no Capítulo II deste Título, sendo
vedado, porém, questionar sobre a matéria de fato e de direito já apreciada na
decisão. (Redação dada pela Lei nº 2.275, de 30.7.1954)

Segundo Mozart Victor Russomano, apud Emílio Gonçalves "abre-se, aqui,


exceção ao princípio de que o juízo que prolatou a sentença o órgão competente para
executá-la. (RUSSOMANO. Comentários à CLT, p. 952)

11. POLO ATIVO E POLO PASSIVO

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O polo ativo de um processo é aquele que entra com a ação, no caso de ação
trabalhista fica a cargo do sindicato, denominado de reclamante e o empregar de
reclamado.
Art 872 da CLT: “Quando os empregadores deixarem de satisfazer o pagamento
de salários, na conformidade da decisão proferida, poderão os empregados ou
seus sindicatos, independentes de outorga de poderes de seus associados,
juntando certidão de tal decisão, apresentar reclamação à Junta ou Juízo
competente, observado o processo previsto no Capítulo II deste Título, sendo
vedado, porém, questionar sobre a matéria de fato e de direito já apreciada na
decisão. (Redação dada pela Lei nº 2.275, de 30.7.1954)”
Já o polo passivo é o réu contra quem a ação é movida sendo representados pelos
sindicatos que participaram dos acordos trabalhistas.

12. CUSTAS PROCESSUAIS


“Não é exigível o recolhimento de custas iniciais na fase de cumprimento de
sentença (art. 475-J, do CPC).
A Súmula 59 do TJPR, portanto, serve de norte para o caso de cumprimento
de sentença, quando da entrada em vigor do Novo CPC, a fim de evitar que se
cometam injustiças na cobrança das custas, que não deverão ser recolhidas a não ser
aquelas que digam respeito a novas diligências, sob pena de estar-se incorrendo
no bis in idem.

13. FUNDAMENTOS JURÍDICOS


A previsão legal da ação de cumprimento encontra-se fundamentada no Art.
872, parágrafo único da CLT.

14. PROCEDIMENTO

Conhecer o trâmite do processo trabalhista é de primordial importância para a


prestação de serviços a favor dos interesses do cliente que buscam soluções para
conflitos relacionados à Justiça do Trabalho de forma favorável ao interesse do cliente.

Não somente o conhecimento do direito material que traz o resultado que o


cliente busca, conhecer e ter habilidades para a utilização de procedimentos de forma
adequada e tempestiva, como por exemplo conhecer o trâmite do processo desde a
propositura até o trânsito em julgado.

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É um tipo de ação judicial para a resolução de conflitos referentes ao trabalho,
seja reclamatória trabalhista proposta por empregador, empregado ou Ministério
Público do Trabalho (MPT).

A partes não precisam ser representadas por advogado num processo


trabalhista, conforme prevê o artigo 791 da CLT. Porém, e bastante recomendável
utilizar-se desse profissional por causa de seus conhecimentos técnicos para proteger
os interesses do Reclamante, enfim o profissional qualificado possui conhecimento
técnico e poder argumentativo.

Boa parte das demandas na Justiça do Trabalho terminam com a


autocomposição e, assim, abrindo mão do grau recursal.

O processo trabalhista conta com cinco etapas: petição inicial, audiências,


sentença, recursos e execução. Nossa intenção não é explicar cada uma delas, mas
como elas foram alteradas pela reforma, motivo pelo qual apenas mencionaremos
seus pontos essenciais brevemente na sequência.

14.1 Petição inicial

Peça que se inicia a tutela jurisdicional. Pode ser verbal ou escrita, requer
endereçamento, a qualificação das partes, exposição dos fatos, pedido, valor da
causa, data, assinatura do reclamante ou de seu representante, conforme art. 840 da
CLT.

Necessário se faz que o pedido seja certo (explícito), determinado (claro e


preciso) e com valor indicado, sob pena de inépcia da exordial, conforme sustenta o
art. 840, §3º da Consolidação das Leis do Trabalho, não mais sendo necessária a
declaração de pobreza para que seja concedido o benefício da justiça gratuita no art.
790, §3º da CLT. Ele agora é concedido “àqueles que percebem salário igual ou
inferior a 40% (quarenta por cento) do limite máximo dos benefícios do Regime Geral
de Previdência Social”. Audiências

Momento das tentativas conciliatórias entre as partes envolvidas. São ouvidos


do reclamante e do reclamado, seus depoimentos, as testemunhas, peritos e técnicos.
No procedimento ordinário contempla a audiência contínua, o sumaríssimo prevê
42
apenas a una, com manifestação e sentenças orais para dar celeridade ao processo
trabalhista.

Após mudança no processo trabalhista pela Lei 13.467/17 o preposto, preposto


não precisa mais ser empregado da parte reclamada, segundo consta no art. 843, §3º
da Consolidação das Leis do Trabalho.

Outra alteração importante no artigo 844: antes, o não comparecimento do


reclamado em audiência importava sempre em revelia, mas agora sua ausência é
admitida caso aconteça alguma das hipóteses do §4º. Assim, “se havendo pluralidade
de reclamados, algum deles contestar a ação”, o inerte não é revel.

14.2 Sentença

Reconhecimento do pedido pela manifestação do magistrado, que pode ser


improcedente, total ou parcialmente procedente. Ressalta-se a necessidade de
fundamentação e menção aos elementos de convicção do juízo, sendo dispensado o
relatório no procedimento sumaríssimo.

A prescrição é claramente mencionada no art. 11-A da CLT, podendo ser


declarada de ofício em qualquer grau jurisdicional. Necessário também, atenção ao
direito material no momento sentenciar, a exemplo das mudanças sobre o intervalo
interjornada.

14.3 Recursos

Os recursos estão previstos a partir do art. 893 da CLT, em regra, têm prazo
de 8 dias úteis a partir da decisão publicada, sendo exceções o recurso extraordinário
(até 15 dias úteis) e os embargos de declaração (até 5 dias úteis).

Com previsão no art. 899, §4º da CLT, o depósito recursal é feito em conta
judicial e acompanha os índices de correção da poupança, além disso, mencionado
dispositivo legal agora tem em seus parágrafos 9º e 10º, respectivamente, os
contemplados com redução pela metade e isenção do depósito recursal. O advogado,
ciente de tal informação, pode gerar economia processual para PMEs, entidades sem
fins lucrativos e empregadores domésticos, por exemplo.
43
14.4 Execução

A contagem dos prazos são em dias úteis com teto às custas na fase de
conhecimento — até “quatro vezes o limite máximo dos benefícios do Regime Geral
de Previdência Social”, segundo art. 789 da CLT.

A nova redação do art. 876 da CLT agora contempla nota promissória e cheque
como títulos executivos extrajudiciais. Antes da reforma trabalhista, a execução podia
ser promovida de ofício ou por qualquer interessado; depois, somente pelos litigantes
e por iniciativa do juiz ou presidente do tribunal quando as partes não tiverem
advogado.

O prazo para impugnar a liquidação de sentença passou de 10 dias contínuos para 8


dias úteis. O processo ordinário, assim como já era exigido no sumaríssimo, passou
a requerer a liquidez dos pedidos.

No momento em que uma sentença de um processo transita em julgado, há


uma determinação da figura do juiz para que o executado realize as ações definidas
pelo processo. Depois de ser intimado, nas sentenças onde há o devedor de pagar
quantia certa, o devedor terá o prazo de 15 dias para realizar o pagamento do valor
cobrado pelo credor, conforme aponta o artigo 523 do Novo CPC:

“Art. 523. No caso de condenação em quantia certa, ou já fixada em liquidação, e no


caso de decisão sobre parcela incontroversa, o cumprimento definitivo da sentença
far-se-á a requerimento do exequente, sendo o executado intimado para pagar o
débito, no prazo de 15 (quinze) dias, acrescido de custas, se houver.”

15. JURISPRUDÊNCIA
AGRAVO. AGRAVO DE INSTRUMENTO. RECURSO DE REVISTA. PROCESSO
SOB A ÉGIDE DA LEI 13.467/2017. AÇÃO DE CUMPRIMENTO DE SENTENÇA
NORMATIVA. ARGUIÇÃO DE AUSÊNCIA DE COMUM ACORDO. MATÉRIA AFETA
AO DISSÍDIO COLETIVO. O "comum acordo" é pressuposto processual de
desenvolvimento regular do dissídio coletivo (art. 114, § 2º, da CF), e só pode
verificado nos autos daquele processo, não sendo matéria própria à ação de

44
cumprimento da sentença normativa. No caso concreto, o Tribunal Regional de origem
consignou que a questão foi resolvida no referido dissídio coletivo e se encontra
envolta pela coisa julgada. A Parte Recorrente, no recurso de revista, insiste na
alegação de que incide o óbice da ausência de comum acordo para a instauração do
dissídio coletivo, de modo que o presente processo também deveria ser extinto.
Contudo, suas razões não conseguem desconstituir os fundamentos da decisão
recorrida, em especial o fato de que a questão já foi discutida no dissídio coletivo e
sobre ela se operou a coisa julgada. A decisão agravada, portanto, foi proferida em
estrita observância às normas processuais (art. 557, caput, do CPC/1973; arts. 14 e
932, IV, a, do CPC/2015), razão pela qual é insuscetível de reforma ou
reconsideração. Agravo desprovido.

(TST - Ag: XXXXX20195080119, Relator: Mauricio Godinho Delgado, Data de


Julgamento: 27/10/2021, 3ª Turma, Data de Publicação: 05/11/2021)

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1. BRASIL. Lei n° 5452, de 01 de maio de 1943. Disponível em:<


https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Decreto-Lei/Del5452.htm> Acessado em: 20
out 2022;
2. BAUMÖHL, Débora Inês Kram. A Nova Execução Civil: a desestruturação do
processo de execução. Coleção Atlas de Processo Civil. São Paulo: Atlas, 2006.
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“Juízo”. Estudos de Direito Processual em Homenagem a José Frederico Marques
no seu 70º Aniversário. São Paulo: Saraiva, 1982.
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Edição Universitária de Direito, 1989.
6. _____. Cumprimento da Sentença e a Garantia do Devido Processo Legal:
antecedente histórico da reforma da execução de sentença ultimada pela lei 11.232
de 22.12.2005. 2. ed. Belo Horizonte: Melhoramentos, 2006.
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direito processual coletivo e direito processual público : vol. 2, tomo III / Cassio
Scarpinella Bueno. — São Paulo: Saraiva, 2010.
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Interesses difusos e coletivos: esquematizado. 7. ed. São Paulo: Método, 2017.
10. CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL DE 1988,
Disponível em:<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>
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11. BRASIL. Lei n° 10406, de 10 de janeiro de 2002. Disponível em:<
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406compilada.htm> Acessado em:
21 out 2022;

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