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Nota Prévia:
Estes são os apontamentos de DIREITO ADMINISTRATIVO, disponibilizados pela
Comissão de Curso dos alunos do 2º ano da licenciatura em Direito da Faculdade de
Direito da Universidade do Porto, para o mandato de 2022/2023.
Foram elaborados pela aluna Luísa Ferreira e revistos pelo aluno Caio Mello, tendo por
base as aulas e documentos disponibilizados pelo docente João Pacheco de Amorim.
Salienta-se que estes apontamentos são apenas complementos de estudo, não sendo
dispensada, por isso, a leitura das obras obrigatórias e a presença nas aulas.
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Índice
Regulamento administrativo..............................................................................................9
Ato administrativo...........................................................................................................20
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AS PRINCIPAIS FORMAS DE ATIVIDADE ADMINISTRATIVA:
REGULAMENTO, ATO E CONTRATO ADMINISTRATIVO
OS FACTOS JURÍDICOS NO DIREITO ADMINISTRATIVO
Factos jurídicos, em sentido amplo, são todos os factos que o direito faz depender a
produção de um efeito jurídico.
A partir deste conceito, podemos distinguir entre meros factos jurídicos e atos jurídicos,
sendo que o essencial desta distinção é a vontade humana. Assim, no caso dos meros
factos jurídicos será irrelevante a vontade humana ou psicológica da pessoa na
produção de efeitos jurídicos. Já nos atos jurídicos há sempre relevo dessa vontade.
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da assembleia municipal à por exemplo: a câmara decide
contratar, mas sujeita a sua eficácia à aprovação do projeto à
Assembleia Municipal, a qual emite uma declaração de aprovação
ou não (ato de vontade). No entanto, a Assembleia não ganhou
uma competência, aquela declaração apenas é um requisito de
eficácia, não é causa direta da produção de efeitos e por isso a
declaração é um mero comportamento – mero facto jurídico.
Neste sentido, podemos considerar ainda, quanto aos factos jurídicos naturais, dois
elementos importantes:
o tempo: produz ou extingue efeitos jurídicos. Neste sentido, podemos referir que
o usucapião tem um carácter produtivo e a caducidade (extinção devido ao facto
de o direito ou posição/poder jurídico não ser exercido durante um determinado
período de tempo) e prescrição (extinção do direito ou poder jurídico pelo não
uso, por exemplo) têm carácter extintivo.
o espaço: o espaço, a forma territorial, determina a atribuição de competências.
Os atos jurídicos são declarações de ciência ou de vontade a qual a lei liga a produção
de efeitos jurídicos. Por regra, não temos um ato que seja puramente de vontade e não
tenha uma componente de ciência.
O ato jurídico distingue-se das ações materiais que podem ter consequências jurídicas
tal como o ato, mas não são instrumentos que a ordem jurídica coloca à disposição de
operadores jurídicos com vista ao alcance de determinados resultados, abrangendo os atos
dos particulares, os atos de autoridade e todo e qualquer ato administrativo é abrangido
por esta noção.
Na Lei das Autarquias Locais (LAL) há uma espécie de última competência residual
que é pronunciarem-se sobre qualquer tema sem qualquer limite, são declarações políticas
e não jurídicas. Mas, por exemplo: a câmara tem uma competência sua (matéria de
contratação pública), como a construção de um parque da cidade. Sendo que só a câmara
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detém competência, terá na mesma de ter uma aprovação da Assembleia municipal, ou
seja, a câmara faz depender a produção de efeitos jurídicos, a eficácia da sua decisão, de
uma aprovação da assembleia municipal ao abrigo dessa competência. à Temos, então,
uma cláusula acessória, uma condição (suspensiva, neste caso), aposta pelo próprio autor
do ato administrativo. Quando a assembleia municipal aprova, este ato não é
verdadeiramente um ato jurídico, ele é um facto jurídico. A assembleia quis no seu ato
naturalístico, em si a vontade da câmara é irrelevante. Em tudo, é semelhante a um ato
jurídico, mas não o é.
Em suma, os atos jurídicos relevam e tem um papel central a vontade do agente. Estes
podem ser divididos em:
1. Meros atos jurídicos: a vontade não tem relevância quanto ao conteúdo do ato,
serve apenas como impulso de produção de atos jurídicos.
2. Decisões: a vontade tem papel relevante, nomeadamente nos efeitos jurídicos
produzidos, determinando o conteúdo do ato.
Neste contexto, é de referir que a vontade administrativa se encontra sujeita aos princípios
administrativos, nomeadamente da prossecução do interesse público e da juridicidade,
sendo objetiva e funcionalizada. Esta vontade não se confunde com a liberdade e
autonomia dos negócios jurídicos celebrados por particulares. Assim, os atos jurídicos da
administração estão pré-determinados à prossecução de um interesse público, tendo um
modo de operar próprio que implica obediência à forma jurídica, não tendo em conta a
vontade psicológica.
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Menor relevo têm, em termos de relevo público, as entidades privadas de interesse
público.
Para além da iniciativa temos a participação, onde os particulares têm direito de participar
nos atos em que estão interessados. Esta pode assumir inúmeras modalidades, como
colaborações no fornecimento de provas, depoimentos, resposta a inquéritos, etc.
Estamos perante factos ilícitos dos particulares quando estes adotem comportamentos
violadores de normas administrativas, caso estes não cumpram deveres impostos pelas
normas que visam proteger interesses públicos. Esses comportamentos, porque violam
normas imperativas, são comportamentos ilícitos e, portanto, a lei pode prever a aplicação
de sanções.
Podemos ter sanções que se relacionem com factos ilícitos civis, que apenas relevam
quando seja a administração a praticar tais factos; factos ilícitos disciplinares, por
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exemplo quando praticado por um trabalhador da função pública, que dá origem a
responsabilidade disciplinar.
E são cada vez mais frequentes – por razões de flexibilidade, previsibilidade, participação,
consensualização, designadamente nos procedimentos de concertação e parceria, nas
áreas da economia, saúde, ambiente, urbanismo e ordenamento do território, apesar dos
riscos de ilegalidade e para os direitos de terceiros as atuações informais que não visam
produzir efeitos jurídicos, nem são juridicamente reguladas, mas que ainda assim têm
relevância prática, de cooperação, de aviso, de incentivo, sendo apenas sujeitas a regras
técnicas e aos princípios administrativos. Por exemplo: informações e avisos;
monitorizações; incentivos e promessas informais; protocolos e acordos de cavalheiros.
Estes exemplos têm relevo jurídico indireto no âmbito dos procedimentos administrativos
dos regulamentos, atos ou contratos, enquanto momentos de formação ou de execução
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dessas atividades formais. Mas, podem adquirir relevo próprio e justificar uma
consideração autónoma por parte da doutrina administrativa, como atuações que geram
expetativas dignas de proteção jurídica ou como comportamentos ilícitos geradores de
responsabilidade civil.
REGULAMENTO ADMINISTRATIVO
Esta matéria pode ser estudada no âmbito das fontes de direito administrativo, assim como
no âmbito na atividade administrativa, pois ao mesmo tempo que é fonte (a fonte mais
modesta) é atividade administrativa.
Tal como as leis, os regulamentos são normas jurídicas, assistidas pelo aparelho coercivo
do Estado, diferenciando-se desta tendo em conta a diferença ao nível da hierarquia, tendo
um nível menor.
Nos termos do art.135 CPA é nos dito que se consideram regulamentos administrativos:
“as normas jurídicas gerais e abstratas que, no exercício de poderes jurídico-
administrativos, visem produzir efeitos jurídicos externos”. à é geral porque os
destinatários são indeterminados e abstrato porque também se aplica a situações da vida
indeterminadas.
Assim, como refere Professor Doutor Vieira de Andrade: “Os regulamentos são
quaisquer normas emanadas pelos órgãos ou autoridades competentes no exercício da
função administrativa, com valor infralegal («regulamentar») e destinadas, em regra, à
aplicação das leis ou de normas equiparadas (designadamente, das disposições
normativas diretamente aplicáveis da União Europeia).”
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atribuições confiadas à administração pública e não visam a realização de
interesses privados).
1. Elemento subjetivo: este elemento envolve mais do que aquilo que se insere no
conceito legal, visto que é emanado por um órgão que faça atividade
administrativa.
Porque é que o conceito legal não incorpora este elemento? De acordo com o art.2º CPA
pode a norma não atribuir poderes, mas impor apenas determinadas subjeções ao ónus.
Por razão da natureza do caráter administrativo da entidade, temos uma certa ampliação
da aplicação do código que não se esgota nos poderes públicos, tendo o legislador, face à
expansão do que se chama “fuga para o direito privado” e aos atos materialmente
administrativos, “desistido” do elemento orgânico/subjetivo. Mas, isto não significa que
no plano dogmático este elemento não faça parte do conceito de direito administrativo.
Por exemplo: no domínio da contratação pública temos entidades puramente privadas
que, de alguma forma, preenchem os requisitos do artigo, mas que essencialmente obtêm
financiamento maioritário dos fins públicos, ficando onerados para a realização de
determinados dos contratos, tendo que se submeter ao código dos contratos
administrativos.
1. Estatutos que certos entes públicos tem poder de aprovar, como as instituições
de ensino superior publico, que aprovam os seus estatutos os quais apenas
precisam de aprovação tutelar. Estes estatutos tem uma posição hierárquica
superior aos dos regulamentos da própria universidade, sendo uma exceção à regra
de que os regulamentos tem todos o mesmo valor. – estatutos auto-aprovados
de entes corporativos ou institucionais.
2. Regimentos dos órgãos colegiais que, à partida, são regulamentos internos, sem
prejuízo de terem disposições com eficácia externa, nomeadamente quando
regulam a pessoa dos tutelares do órgão colegial.
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característica. A lei qualifica-os como regulamentos para efeitos do regime
procedimental e contencioso.
A administração pública tem de respeitar a reserva de lei, sendo que no nosso sistema
não existe um sistema de reserva de administração. Por isso, o legislador pode regular
até aos mais ínfimos pormenores, invadindo o espaço de regulamentação que, em
termos lógicos, estaria reservado aos regulamentos.
O regulamento tem de ser uma lei geral e abstrata e isso é o que se distingue de ato
administrativo. A lei tem o procedimento de feitura consagrado na Constituição,
reconhece-se pelo procedimento e pela forma, tendo um controlo importante, já que é
um requisito de existência.
Os regulamentos se não são gerais e abstratos, não são regulamentos, são atos
administrativos individuais e concretos. E os atos que só tem uma destas características?
Estamos numa relação continuada, ou seja, o chamado ato não deixa de ser concreto
nestas relações. O ato geral em que se esgota fica a meio do ato administrativo, tendo uma
lacuna negativa, aplicando-se analogicamente aos atos gerais o regime do ato
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administrativo, o regime do CPA.
No contencioso administrativo esta situação será mais difícil de resolver devido ao seu
conhecimento pelos afetados e, por isso, aplica-se o art.52/3 CPTA.
Ø TIPOS DE REGULAMENTOS
Quanto à eficácia:
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Quanto ao regime, os internos não são judicialmente impugnáveis, fundando-se num
poder hierárquico ou similar, inerente à natureza dos órgãos administrativos. Estes nem
sequer estão sujeitos a uma inderrogabilidade singular (admitem-se decisões
concretas divergentes da regulação interna anterior, desde que devidamente justificado),
podendo a administração afastar um regulamento interno, não o aplicando (tendo,
claramente de justificar a sua decisão), o que já não pode acontecer com os regulamentos
externos, cujo regime se estabelece no CPA.
Ou seja, de acordo com Professor Doutor Vieira de Andrade: “As diferenças entre
regulamentos externos e internos revelam-se, desde logo, quanto ao seu fundamento: a
competência regulamentar externa funda- -se em previsão legal expressa; a competência
regulamentar interna funda-se num poder implícito de auto-organização administrativa
(que, por isso, não necessita de previsão expressa da lei).”
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matérias objeto de avaliação. Este decreto tem a particularidade de estar sujeito a
promulgação do Presidente da República, o que dá origem a uma garantia
institucional.
2. A resolução do Conselho de Ministros é um regulamento aprovado em Conselho
de Ministros.
3. A portaria é um regulamento emanado em nome do Governo, mas da autoria de
um ministro (ou se se tratar de uma portaria conjunta, da autoria de dois ou mais
ministros).
4. O despacho pode ser emanado por qualquer membro do Governo, podendo até
ser um despacho conjunto se for da autoria de dois ou mais ministros.
Nota: Há portarias, despachos ou resoluções que podem ser atos administrativos, não têm
sempre, necessariamente, de ser um regulamento.
Estes encontram-se no art.199/c CRP, que nos diz que compete ao governo, no exercício
das suas funções administrativas, fazer os regulamentos necessários à boa execução das
leis. Mas o que será isto da boa execução das leis? É de ter em conta o mérito da decisão
do governo? Tendo em conta o art.112/5 da CRP, estes regulamentos executivos não são
lá abrangidos, o que significa que se proíbe o fenómeno da deslegalização, pois o
problema que surge é a impossibilidade de um regulamento poder interpretar ou integrar.
Neste sentido, a Administração Pública quando emana um regulamento, parte de
determinada interpretação da lei, colocando-se em causa interpretações ou integrações
que não possam ser revistas pelo juiz, ou seja, o próprio regulamento integrar alguma
dimensão interpretativa ou integrativa. à É preciso temperar esta aparente proibição
absoluta com o adjetivo da boa execução, podendo acontecer que o regulamento seja
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necessário, em aspetos que sejam de pormenor e interpretar a lei nesses mesmos aspetos,
de forma a harmonizar estes dois artigos.
Ainda, é nos dito no art.154/2 CPA que os regulamentos de execução caducam com a
revogação das leis que regulamentam, salvo se forem compatíveis com a lei nova e
enquanto não houver regulamentação desta.
Quanto aos integrativos, aparentemente também são proibidos pelo art.112/5 CRP, sendo
que estes apenas se admitem se forem expressamente autorizados por lei, de acordo com
a doutrina de Doutor Afonso Queirós, e quando se limitem a adaptar o quadro legal a
situações especiais (como no caso de regulamentos municipais que complementem um
regulamento geral das edificações urbanas em relação a pessoas com deficiência motora).
Ainda, podem ser admitidos quando produzidos no quadro de uma autonomia normativa
legalmente reconhecida, como é o caso das Universidades Públicas. Esta integração tem
sempre de ser feita de acordo com o princípio da legalidade, dentro do espírito da lei.
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Dentro destes regulamentos independentes podemos ter ainda regulamentos autónomos,
que dizem respeito ao exercício dos poder de produção normativa primária pelas
comunidades autoadministradas. Mas, no entanto, isto é a conceção do Professor Doutor
Vieira de Andrade, visto que Professor Doutor João Pacheco de Amorim refere que todos
são apenas regulamentos independentes, não diferenciando face aos autónomos.
Esta competência subjetiva atribuída pelo art.112 é feita de forma indireta e, quanto à
competência objetiva, há quem entenda que a alínea 9 do art.199 CRP passa um “cheque
em branco ao Governo”, referindo Professor Doutor Vieira de Andrade que ao governo é
lhe atribuída uma competência universal em termos de objeto.
De acordo com o art.241 CRP: “As autarquias locais dispõem de poder regulamentar
próprio nos limites da Constituição, das leis e dos regulamentos emanados das
autarquias de grau superior ou das autoridades com poder tutelar.”
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No que toca à competência subjetiva para emanação de regulamentos independentes, esta
prevê-se no art.237 CRP (resulta diretamente da Constituição), tal como a competência
objetiva que remete para a Lei das autarquias locais, aquela que define o objeto dos
regulamentos autárquicos, ao definir as suas atribuições e competências.
Estes regulamentos independentes, quanto às autarquias locais, faz todo o sentido devido
à descentralização, sendo estas consideradas como “mini Estados”, com legitimidade
democrática própria, próxima à legitimidade legislativa do Parlamento.
Ø PROCEDIMENTO REGULAMENTAR
Este procedimento enquadra-se nos arts.97 a 101 do CPA, onde se prevê a possibilidade
de petição dos interessados e os requisitos da iniciativa pública, disciplinando a audiência
dos interessados e a consulta pública. Então, é de ter em conta os seguintes aspetos:
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Ø RELAÇÃO ENTRE REGULAMENTO E OS PRINCÍPIOS GERAIS DE
DA:
Temos dois tipos de relações entre regulamentos, com diferentes consequências: uma
consagra-se no art.138 e outra que se consagra na invalidade do regulamento
administrativo, prevista no art.143 CPA. Normalmente, os regulamentos têm um campo
de aplicação específico, com atribuições próprias, ao abrigo do princípio da atribuição
ou competência, sendo que na maior parte dos casos não há, então, conflitos normativos
reais.
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regulamentos emanados pelos superiores ou superintendentes sobre matéria que seja de
atribuição e competência comum. Por sua vez, os regulamentos da autoria dos delegados
têm de respeitar os regulamentos emanados pelo delegante, salvo se a delegação incluir
a competência regulamentar. Nestes casos, a contrariedade implica a respetiva
invalidade (artigo 143º, n.º 2, alíneas a) e b)”
Quanto à invalidade dos regulamentos, nos termos do art.143 CPA: São inválidos os
regulamentos que sejam desconformes com a Constituição, a lei e os princípios gerais de
direito administrativo ou que infrinjam normas de direito internacional ou de direito da
União Europeia.
Mas, é de ter em conta o art.241 CRP, face aos regulamentos das autarquias locais. Deve
ter-se em atenção que este artigo não estabelece uma subordinação automática dos
regulamentos que não respeitem este artigo a uma invalidade das normas subordinadas.
Por exemplo: Os regulamentos municipais prevalecem sobre os regulamentos das
freguesias, salvo exceções. Quando esta prevalência é desrespeitada existe uma
ineficácia, não sendo expurgado do ordenamento jurídico, mas é ineficaz para o futuro.
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ATOS ADMINISTRATIVOS
O “ato administrativo” em sentido próprio é um ato regulado por disposições de
direito público, um ato jurídico decisório (manifestação de vontade ou de ciência),
praticado no exercício de poderes de autoridade, relativo a uma situação individual
e concreta – e, em princípio, com eficácia externa. à Quando se diz que este é
decisório significa que há um elemento de modificação ou transformação, sendo forte
porque cria, modifica ou extingue relações jurídico-administrativas ou a situação jurídica
de uma coisa (atos intransitivos). Ou seja, o ato administrativo altera a esfera jurídica de
terceiros, não sendo qualquer ato da administração.
Existe uma evolução histórica quanto ao ato administrativo, sendo que este começou a
ser construído no Estado Liberal, num Estado com funções mínimas que se socorria da
atividade autoritária, em regra, desfavorável. No séc. XX, com a ampliação das funções
do Estado, ampliam-se os atos concessórios e toda a atividade prestativa e ainda os atos
certificativos/declarativos por parte da administração e os atos de fomento. à tudo isto
altera o paradigma do ato administrativo, exigindo novas exigências de forma a acomodar
as subespécies dos atos administrativos.
Então, este ato é jurídico, unilateral, individual e concreto, subordinado ao direito público,
distinguindo-se das ações materiais, dos contratos, regulamentos e atos praticados
subordinados ao direito privado. Hoje em dia, o ato já não ocupa em exclusivo a teoria
geral do ato administrativo, ocupando também o regulamento e o contrato uma função
importante.
Atos internos que se esgotam no interior da AP e os atos externos que não se esgotam
no interior desta. Temos ainda os atos instrumentais, sejam preparatórios, de execução
ou comunicação.
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No art. 148 do CPA temos a noção daquilo que é um ato administrativo – consideram-se
atos administrativos as decisões que, no exercício de poderes jurídico-administrativos,
visem produzir efeitos jurídicos externos numa situação individual e concreta.
É nos dito, neste artigo, que se tem em conta o exercício de poderes jurídico-
administrativos e, por isso, se não for praticado por um órgão da administração pública,
poderá ser também criado através de uma entidade privada investida de poderes públicos,
que crie o ato em substituição da administração. Pode ainda ser outro poder do Estado a
praticar esta decisão em matéria administrativa, numa qualificação que opera por
analogia, como os tribunais ou a Assembleia da República.
Quanto ao art.51/1/b CPTA, é nos dito que um órgão de uma pessoa coletiva pode
impugnar outro ato de um órgão da mesma pessoa coletiva, dentro das suas competências.
Ou seja, permite-se que um órgão para salvaguardar as suas competências possa impugnar
o ato de outro órgão que coloque isso em causa. Mas, aqui já não falamos então de um
ato administrativo porque, por exemplo, falta a eficácia externa, mas estende-se à
competência dos tribunais administrativos para resolver este conflito.
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Nos demais casos, designadamente de atos que não sejam horizontalmente definitivos,
que não se configurem como ato final, normalmente este não é o ato principal do
procedimento. à Ainda assim, Professor Doutor Vieira de Andrade refere que estes
devem ainda ser defendidos através de exigências procedimentais, apesar de não serem
os atos principais do procedimento.
Mas, muitas vezes, temos o ato de um órgão da administração que é precedido por um
parecer vinculativo. Por isso, o ato horizontalmente definido é o ato que lá está
identificado como decisão final. Mas, esta decisão final tem de seguir esse parecer, logo,
o desrespeito pelo parecer torna, por definição, inválido o ato final. Neste caso, o
professor defende que o parecer vinculativo é como um ato administrativo, permitindo-
se uma defesa antecipada, sem ter de se esperar pelo surgimento do ato administrativo
que decorre do procedimento e que dita a decisão final. à Por isso, estamos perante uma
exceção à impugnação unitária, pois abre-se ao particular a possibilidade de impugnar
o parecer, mas tendo sempre a possibilidade de aguardar pela decisão final sem poder
impugnar o parecer, mas sim esta decisão.
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Funções do ato administrativo:
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1. Art.268/4 CRP: “É garantido aos administrados tutela jurisdicional efetiva dos
seus direitos ou interesses legalmente protegidos, incluindo, nomeadamente, o
reconhecimento desses direitos ou interesses, a impugnação de quaisquer atos
administrativos que os lesem, independentemente da sua forma, a determinação
da prática de atos administrativos legalmente devidos e a adoção de medidas
cautelares adequadas.” à consubstancia a garantia de sindicabilidade judicial
efetiva.
No entanto, é de ter em conta que estas leis medida apresentam algumas restrições,
nomeadamente quanto aos Direitos, Liberdades e Garantias, já que a lei que os restringe
tem de ser geral e abstrata, nos termos do art.18 CRP.
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que faz parte de uma dimensão substancial, pois a aptidão ou capacidade lesiva reporta-
se a uma situação substantiva.
Não obstante estar num diploma de direito adjetivo, contencioso, este conceito contribui
para serem retirados contributos para a elaboração do conceito dogmático.
Na alínea nº2/b, já não estamos perante um ato administrativo, porque o carácter externo
dos efeitos jurídicos é obrigatório quanto a estes atos. Há, então, uma extensão da
competência dos tribunais administrativos relativamente aos atos internos.
Nos termos do nº3 podemos questionar como se compatibiliza esta impugnabilidade com
a impugnação unitária: “não ponham termo a um procedimento só podem ser impugnados
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durante a pendência do mesmo, sem prejuízo da faculdade de impugnação do ato final
com fundamento em ilegalidades cometidas durante o procedimento, salvo quando essas
ilegalidades digam respeito a ato que tenha determinado a exclusão do interessado do
procedimento ou a ato que lei especial submeta a um ónus de impugnação autónoma.”.
Assim, até ao ato final (ou ato horizontalmente definitivo) é possível a impugnação do
ato intercalar. Mas, quando é praticado o ato final, deixa de ser possível impugnar o ato
anterior, mas podem-se atacar as ilegalidades do ato intercalar através do ato final.
O ato administrativo tem de ser aptos para construir, modificar ou extinguir direitos ou
deveres da relação jurídica, ou seja, têm de ser materialmente constitutivos.
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pergunta de “o que é que posso fazer neste terreno?”, apresentando os parâmetros
essenciais à câmara municipal – a câmara ou aceita aquilo que o particular
apresenta e o permite a este avançar com segurança, visto que se compromete a
licenciar aquela construção e a aprovar o programa de construção, constituindo o
ato prévio; ou não aceita que possa construir.
O CPTA estabelece, então, uma proteção antecipada quanto a atos ainda ineficazes.
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para defesa dos direitos dos particulares em todos os casos de omissão administrativa,
designadamente silêncio relativamente a requerimentos dirigidos pelos interessados às
autoridades competentes. Esta será a regra, sendo que o indeferimento tácito passa a
ser exceção. Este indeferimento tácito continua a subsistir nos termos do art.130 CPA,
nos casos em que se verifiquem os três pressupostos anteriormente referidos e a lei
determine expressamente que a ausência de decisão sobre uma pretensão dirigida à
autoridade competente dentro do prazo legal tem o valor de deferimento quando a decisão
não seja referida nesse prazo, gerando-se um ato fictício ou presumido, aplicando-se a
estes atos os efeitos previstos do regime dos atos administrativos.
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para proteger posições subjetivas dos particulares. Assim, de acordo com Doutor
Vieira de Andrade, aceita-se a impugnabilidade de atos organizativos dos serviços
ou de decisões relativas ao funcionamento de órgãos colegiais (em princípio, atos
internos), quando adquiram relevância externa (por exemplo, para os utentes) ou
intersubjetiva (para os membros do órgão colegial).
o Quanto aos atos destacáveis, são considerados verdadeiros atos e, por isso, não
são suscetíveis de alargamento. São, por exemplo, aqueles atos que excluem um
concorrente, sendo que para este o ato é verticalmente e horizontalmente
definitivo e lesivo, terminando o procedimento para este concorrente.
o Proteção extensiva: admite-se impugnação de “decisões materialmente
administrativas” de outros poderes públicos ou de entidades privadas (artigo 51.º,
n.º 1 CPTA, parte final).
o Proteção condicionada: podemos ter casos de impugnação judicial
condicionada, pois esta fica dependente de uma previa impugnação administrativa
necessária, através de uma reclamação ou recurso (impugnação graciosa). Então,
trata-se de impugnar atos que, no fundo, não são verdadeiramente definitivos. Por
isso, há a ideia de obrigar o particular a suscitar a última palavra da Administração
Pública para se evitarem processos desnecessários.
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a) «Uma estatuição de autoridade...» à este primeiro elemento “estatuição” do ato
é indissociável do carácter autoritário.
Pressupondo que existe uma estatuição autoritária ou decisão (que é uma componente
diferente consoante os países e a lei), há uma relação com o carácter constitutivo do ato
administrativo, que cria, modifica ou extingue relações jurídicas.
Um ato administrativo não tem necessariamente, quando dizemos que ele cria,
modifica ou extingue relações ou situações jurídicas, que investir o seu destinatário
num agir jurídico, pode criar apenas uma qualidade que irá ser pressuposto de
futuros atos e esses sim é que investem o sujeito num agir jurídico. Por exemplo: a
carta de condução, é uma habilitação que atribui uma qualidade ao sujeito, mas
normalmente não o investe num agir jurídico, é apenas pressuposto de futuras alterações
jurídicas.
O CPA refere-se ao ato jurídico da administração como “decisão”, que é uma declaração
de ciência ou de vontade, apesar de normalmente estas duas componentes se verificaram
simultaneamente. Por isso, o ato administrativo é um ato voluntário.
Mesmo os atos estritamente vinculados são, à partida, atos administrativos, mas como se
pode a estes chamar decisão se não há escolha, visto que a administração é forçada a
praticar um ato com este conteúdo? Aqui, a decisão é causa da transformação, porque
aquele ato quando praticado, cria, extingue ou elimina situações jurídicas.
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Doutor Vieira de Andrade fala em atos de verificação ou avaliações constitutivas, que
se distinguem dos atos estritamente vinculados porque aqui estamos perante
discricionariedade técnica, consistindo em determinada avaliação a que a lei liga
determinados efeitos. Por exemplo: de verificação constitutiva quanto aos imóveis
abandonados, há uma legislação que obriga o Estado a procurar o dono. Se esta procura
se mostrar infrutífera, então, declara-se o imóvel como sem dono conhecido e, após essa
verificação, ele passa a ser domínio do Estado. Esta avaliação é constitutiva porque tem
efeitos expropriativos, ao contrário do ato expropriativo que é totalmente discricionário.
Nota: não confundir leis medida com atos materialmente administrativos. Aqui, terá de
se aplicar a matéria da separação de poderes, porque a lei medida diz sempre respeito a
matéria fundamental para a comunidade e os atos materiais administrativos contidos num
diploma legal dizem respeito à gestão do dia a dia.
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ou dogmático de ato administrativo, os atos gerais, que são relativos a uma
situação concreta (não há abstração), mas aplicáveis a uma pluralidade de
destinatários não determinada (generalidade), ainda que determinável,
identificada por uma categoria, classe ou grupo de indivíduos.
Importa aqui falar também dos atos plurais, que não se dirigem a um número
determinado de pessoas, mas sim a um conjunto de pessoas, a vários destinatários. Por
isso, aqui não há verdadeiramente um ato, mas sim um feixe de atos. Aqui, destacam-se
os atos contextuais, que são atos autónomos, mas têm uma forma comum: Por exemplo:
lista de divulgação dos funcionários promovidos.
Estes atos plurais distinguem-se dos atos coletivos, que se destinam a uma coletividade
de pessoas. Por exemplo: ato de dissolução do órgão colegial.
Podem haver atos administrativos reais, cujo objeto é uma coisa e não uma pessoa,
sem prejuízo de que a alteração jurídica da coisa se possa repercutir de forma mediata na
esfera jurídica da pessoa que se relaciona com a coisa.
Por definição, os atos administrativos são atos que se projetam na esfera externa. No
entanto, também existem atos internos que podem ser impugnados (por exemplo: um ato
de um órgão da administração ser impugnado por outro órgão – art.24/1 CPA).
A produção de efeitos jurídicos externos verifica-se também nos atos negativos, que
operam efeitos de consolidação jurídica, proibindo a efetivação da pretensão denegada –
as decisões de recusa de produção dos efeitos jurídicos requeridos são, por isso, como
vimos, atos administrativos.
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Figuras especiais de atos administrativos:
a) Atos pré-contratuais: alguns deles podem ser impugnáveis apesar de serem atos
preparatórios ou instrutórios, sem serem verdadeiros atos administrativos.
Nos termos do nº2 deste artigo à Para os efeitos do disposto na presente secção, são
considerados atos administrativos os atos praticados por quaisquer entidades
adjudicantes ao abrigo de regras de contratação pública. Aqui, suscitam-se dúvidas
quanto ao carácter alargado das entidades adjudicantes à equiparam-se os atos
contratuais destas entidades privadas, que podem ser entidades adjudicantes, a atos da
administração, sendo que estas entidades se submetem a regime de Direito Administrativo
e, submetendo-se a este regime, todos os atos praticados têm de ser equiparados a atos
administrativos praticados pelas pessoas públicas. Professor João Pacheco de Amorim
tem dúvidas de que se possam considerar atos de autoridade estes atos que advêm de
entidades privadas.
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ü atos que exprimem as ordens, os poderes de fiscalização, os atos de aplicação
de sanções, de restrição de contratos, de modificação unilateral do contrato,
estes já são verdadeiros e próprios atos administrativos, que não têm de seguir a
tramitação do CPA, tendo um regime bastante simplificado.
Ainda, estes atos sendo atos administrativos não são atos executórios. Os únicos
que o são, são a rescisão de contrato de forma unilateral e o ato de sequestro,
que diz respeito à exploração de concessão (por incumprimento do
concessionário, permite-se ao concedente afastar o concessionário).
c) Atos administrativos europeus e transnacionais: têm validade em todo o
território da União, ultrapassando os seus efeitos as fronteiras.
d) Atos administrativos informáticos.
Existem outros atos jurídicos de Direito Administrativo que não se enquadram nos atos
administrativos em sentido forte, que não se enquadram no art.148 CPA e, na opinião
do Professor, no art.50 CPTA.
A par das operações materiais e dos comportamentos, que não são declarações de
ciência ou de vontade a que a lei liga a produção de efeitos do direito, temos outros atos
jurídicos de Direito Administrativo praticados por entidades da Administração
Pública ou entes equiparados que não são atos administrativos em sentido forte, seja
porque lhe faltam efeitos externos, seja porque tendo eficácia externa não são
constitutivos (como comunicações ou publicações), assim como os atos que são
praticados posteriormente à pratica do ato, como atos de comunicação.
Podemos ainda falar dos atos preparatórios, que podem ser atos de iniciativa, atos
instrutórios praticados na subfase da instrução.
Assim, por um lado, a maior parte dos atos são internos e só se repercutem na esfera
jurídica dos destinatários do ato ou outros interessados através do ato administrativo que
é o ato central.
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Classificação dos atos administrativos e demais atos jurídicos da Administração:
Nota: temos quatro tipos de cláusulas acessórias: condição, termo, modo, reserva de
revogação. É compatível o carácter favorável com a possibilidade da sua revogação.
g) Pré-decisões: são atos que precedem o ato horizontalmente definitivo, o ato final
do procedimento. Aqui, a doutrina diverge sobre o facto de serem ou não atos
administrativos.
h) Atos parciais: decisões constitutivas de efeitos externos antecipados no que
respeita a uma parte ou a um aspeto da decisão final global. Por exemplo: licença
de caboucos (que se relaciona com a escavação de alicerces).
i) Promessas administrativas: são um ato através do qual o órgão administrativo
seu autor se obriga a praticar determinado ato ou se obriga a não praticá-lo. Por
exemplo: quando uma entidade adjudicante no âmbito da contratação pública
publica o anúncio do concurso, faz uma promessa de se comprometer no futuro a
adjudicar o contrato que pretende celebrar com o operador que apresentar as
características mais favoráveis.
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Classificação dos atos administrativos quanto ao conteúdo
Assim, estas concessões caracterizam-se pela precariedade, porque pode haver lugar à
rescisão em qualquer altura e pela temporalidade, porque é sempre um direto com limites
temporais. Estas podem ser:
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i. Translativas: são direitos ou poderes que estão na titularidade da
administração, que transfere esta titularidade para o
concessionário.
Os casos típicos de concessão translativa são concessões de
serviço público e as concessões de poderes públicos (por exemplo,
de acreditação e certificação).
Aqui, não há possibilidade de se operarem concessões por ato administrativo, sendo feitas
(por regra) por contrato administrativo.
Cria -se na esfera do particular um direito novo, que não existia anteriormente, a que
corresponde uma diminuição na esfera jurídica da administração. Por exemplo:
concessões de uso privativo do domínio público (esplanadas, exploração de cais
portuários, gestão de parques de estacionamento, utilização do subsolo para instalação
de redes).
Isto poderá ser feito tanto por contrato administrativo, como por ato administrativo.
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Tratam-se de atividades que, por qualquer razão de interesse público, (como saúde,
ambiente, paisagem) há criação de uma proibição de desenvolvimento dessas
atividades, que pode ser afastada através de um ato permissivo ou autorizativo,
através destas autorizações que visam remover um limite imposto pela lei ao
exercício de uma atividade fora do domínio administrativo da entidade autorizante.
Professor Vieira de Andrade começa por dividir entre autorizações que têm destinatários
particulares e aquelas que são interadministrativas.
Deve ter-se em conta que nem sempre a lei utiliza os conceitos doutrinais adequados
ao regime que estabelece, bem como a existência de zonas de fronteira entre estas
categorias de atos – por exemplo, as licenças de uso e porte de arma situam-se na
fronteira entre as dispensas e as licenças. Todavia, este dever de andar desarmado, pode
pressupor dispensa desse dever para pessoas que corram determinados riscos à se há
proibição de uso e porte de arma poderá ser dada uma licença para que se afaste a
proibição.
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Podemos ainda falar do facto de que, a partir da meia noite normalmente é proibido fazer
barulho, mas, excecionalmente, poderá ser permitida a abertura de locais noturnos, de
estabelecimentos. Estas autorizações dispensas partilham com as concessões o carácter
precário.
Fora o caso das licenças de construção, professor diria que todas as demais atividades da
sociedade se reconduzem a direitos fundamentais, pelo que não é admitida a figura da
autorização constitutiva.
Por isso, o normal nas autorizações é ser permissiva, sendo excecional a dispensa e as
autorizações constitutivas. Esta construção é ainda reforçada pela CRP, nomeadamente
no que toca a atividades económicas.
ü Habilitações.
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Quanto às interadministrativas:
Estes atos são condições de validade para os atos praticados pelo órgão infraordenado.
De acordo com o ensino tradicional, estes atos são autorizações em sentido amplo, mas
no âmbito de relações interadministrativas. Para Professor Doutor João Pacheco de
Amorim, quando estes se projetam dentro da mesma pessoa coletiva, não estamos perante
verdadeiros atos porque não têm efeitos externos, esgotando-se dentro da pessoa coletiva.
Mas será o ato impugnável nos tribunais? Sim, porque há alargamento do contencioso a
atos que não são verdadeiramente administrativos, sendo que é o órgão infraordenado que
tem legitimidade para requerer esta impugnação.
Professor refere que é possível agrupar estes atos interadministrativos num conjunto à
parte das autorizações.
Doutor Vieira de Andrade fala dos atos relativos a status como autónomos, mas Doutor
Professor João Pacheco de Amorim inclui-os no regime dos atos favoráveis e
desfavoráveis.
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status de pessoa presa que tem direito a cama, roupa lavada, mas no seu centro está um
dever e não um direito.
Por isso, são colocados como favoráveis se criam ou modificam estatutos de forma
favorável e desfavoráveis se reduzem ou extinguem um status favorável.
Estes status podem ser alterados a nível legislativo e não podem ser invocados como
direitos adquiridos pela legislação anterior.
São atos que visam produzir efeitos sobre um outro ato administrativo anterior, que
constitui o respetivo objeto. Ou seja, visam produzir efeitos sobre um ato administrativo
anterior. De alguma maneira, nas palavras de Professor Doutor João Pacheco de Amorim,
é um “voltar atrás” em que o autor do ato prossegue a uma revisão do ato praticado,
nomeadamente dos seus pressupostos de facto e de direito.
É importante distinguir estes atos secundários dos atos contrários, que não tem por
objeto os atos administrativos, mas a relação jurídico-administrativa constituída
por um ato anterior. Por exemplo: um ato de demissão relativamente à nomeação de
um funcionário público é um ato que extingue o status de funcionário público, extingue
a relação constituída. Isto acontece também com o ato de resgate de uma concessão ou
de reversão de uma expropriação (dentro dos 20 anos de prazo, a administração está
obrigada a respeitar a finalidade que presidiu a essa declaração de utilidade pública
expropriativa).
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A ratificação, no seu sentido clássico, é o ato através do qual um órgão da
Administração competente para a prática do ato convalida um ato praticado. Por
exemplo: o Presidente da Câmara é um órgão individual de acordo com o regime legal,
presidindo à Câmara Municipal, tendo ainda competências próprias. Mas, por vezes,
toma decisões que seriam de decisão da Câmara e depois pede a esta para ratificar a sua
decisão para a qual era incompetente.
Será necessário ter em conta que só são suscetíveis de ratificação os atos anuláveis, os
atos nulos já não o serão.
Diferente seria, ao abrigo do regime da anulação (art.163/5 CPA), que nos diz que não se
produz o efeito anulatório quando o fim visado pela exigência procedimental ou formal
preterida tenha sido alcançado por outra via – o que dá origem á degradação de uma
formalidade essencial em formalidade não essencial. Por exemplo: no procedimento
de primeiro grau não há audiência mas o particular vem expressar a sua reclamação ou
recuso à decisão tomada e o órgão, na decisão final, rebate e confirma a decisão
anterior. Com este mecanismo da impugnação graciosa, alcançou-se o fim visado pela
participação na audiência, apesar de a decisão não ser aquela que o particular pretendia.
à A diferença deste mecanismo face à convalidação é que quando existe convalidação
torna-se válido o ato que seria inválido, com efeitos retroativos.
Quanto à reforma e conversão, já será possível face aos atos anuláveis e aos atos nulos
– art.164 CPA.
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A reforma é uma modificação do ato administrativo para um novo ato de 2º grau,
que se funde e se dirige, se relaciona com uma modalidade substancial do ato. A
reforma modifica de forma cirúrgica os segmentos do ato que são inválidos, sendo uma
modificação com fundamento na invalidade. Então, esta modificação é dirigida a
convalidar o ato, removendo o conteúdo inválido e substituindo-o por outro.
Os efeitos de revogação são efeitos prospetivos, que se produzem daí em diante, sendo
que os efeitos produzidos até então se mantêm.
Porque é que o termo revogação não conta com o termo “administrativo”? Porque
estamos perante um ato de 2º grau que só pode ser praticado por órgãos administrativos
e por isso os tribunais não controlam. Já quanto à anulação, esta designa-se por “anulação
administrativa” porque poderá haver anulações administrativas.
Nos termos do art.167 CPA: Os atos administrativos não podem ser revogados quando
a sua irrevogabilidade resulte de vinculação legal ou quando deles resultem, para a
Administração, obrigações legais ou direitos irrenunciáveis.
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b) Quando todos os beneficiários manifestem a sua concordância e não estejam em
causa direitos indisponíveis – ou seja, quando o próprio beneficiário do ato der o
seu consentimento;
c) Com fundamento na superveniência de conhecimentos técnicos e científicos ou
em alteração objetiva das circunstâncias de facto, em face das quais, num ou
noutro caso, não poderiam ter sido praticados.
Exemplo da alteração das circunstâncias de facto: construção num terreno que à época
da licença tinha condições para suportar a habitação, mas depois de dois invernos o
terreno torna-se inviável, há também justificação para se revogar a licença de
construção.
No nº4 deste artigo, é nos dito que a revogação prevista na alínea c) do n.º 2 deve ser
proferida no prazo de um ano, a contar da data do conhecimento da superveniência ou
da alteração das circunstâncias, podendo esse prazo ser prorrogado, por mais dois anos,
por razões fundamentadas.
No nº5, há uma remissão para a alínea c) do nº2, alínea essa que tem um cariz de tipo
expropriativo. Assim, os beneficiários de boa-fé do ato revogado têm direito a ser
indemnizados, nos termos do regime geral aplicável às situações de indemnização pelo
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sacrifício, mas quando a afetação do direito, pela sua gravidade ou intensidade, elimine
ou restrinja o conteúdo essencial desse direito, o beneficiário de boa-fé do ato revogado
tem direito a uma indemnização correspondente ao valor económico do direito eliminado
ou da parte do direito que tiver sido restringida. à isto estabelece-se no art.16 da Lei
67/2007, que se relaciona com esta indemnização pelo sacrifício. Já na parte final do nº5
(mas quando…que tiver sido restringida) aplica-se o regime da justa indemnização.
Nos termos do nº6 consideram-se de boa-fé os beneficiários que, à data da prática do ato
revogado, desconheciam sem culpa a existência de fundamentos passíveis de determinar
a revogação do ato.
Os atos nulos não podem ser revogados nem anulados, porque não há efeitos que possam
cessar ou ser destruídos.
Já no art.168/2 estamos perante atos constitutivos de direitos, sendo que estes podem
ser objeto de anulação administrativa dentro do prazo de um ano a contar da data da
respetiva emissão. No entanto, estabelecem-se exceções a esta regra nos termos do
art.168/4 CPA - Salvo se a lei ou o direito da União Europeia prescreverem prazo
diferente, os atos constitutivos de direitos podem ser objeto de anulação administrativa
no prazo de cinco anos, a contar da data da respetiva emissão. Poderá a União Europeia
revogar atos relativos a fundos europeus caso tenha existido alguma ilegalidade na
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realização da despesa relativa a esses fundos e relativamente às regras que disciplinam a
sua regulação. Isto permite harmonizar o regime comunitário com o português.
Análise das alíneas do art.168/2 que estabelece a exceção dos cinco anos:
No nº5 deste artigo 168 estabelece-se uma ressalva, que nos diz que quando o ato se tenha
tornado impugnável por via jurisdicional, o mesmo só pode ser objeto de anulação
administrativa oficiosa.
De acordo com o art.171, por regra, a revogação apenas produz efeitos para o futuro,
mas o autor da revogação pode, no próprio ato, atribuir-lhe eficácia retroativa quando
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esta seja favorável aos interessados ou quando estes concordem expressamente com a
retroatividade e não estejam em causa direitos ou interesses indisponíveis.
Estes atos limitam-se a isso mesmo, a fazer uma verificação simples e básica, primária,
como através de exames periciais ou certidões.
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O ato declarativo pode ser impugnado, como aqueles que derivam do notário, das
conservatórias, sendo isto da competência dos tribunais comuns e não dos administrativos
e fiscais. Estes atos, enfim, não têm efeito de consolidação que têm os atos
administrativos e, por isso, são insuscetíveis de ser anulados, o único vício de que
padecem é a nulidade e, por isso, não há prazo para a impugnação destes atos.
São chamados pela doutrina de atos instrumentais, mas Professor Doutor João Pacheco
de Amorim não concorda, pois pode haver lugar a estes atos fora de um procedimento e
não apenas dentro deste.
As avaliações constitutivas criam algo mais que uma certeza jurídica, pois pressupõem
uma atividade que, de alguma medida, já é reserva de administração porque se faz uma
operação complexa, com uma tendência permanente. Existe discricionariedade
técnica, mas sem ser propriamente uma discricionariedade administrativa à há uma
pequena margem de escolha e, por isso, já não estamos perante atos estritamente
vinculados. Dentro destas avaliações podemos encontrar os pareceres.
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– os pareceres previstos em normas jurídicas são, salvo disposição expressa em
contrário, obrigatórios e não vinculantes (cfr. artigo 91.º do CPA).
A tal tendência para a celeridade do procedimento leva a que um parecer obrigatório, seja
vinculativo ou não, são emitidos no prazo de 15 dias e se não o for então o
procedimento tem de prosseguir e ser decidido sem parecer. Se o parecer vier depois
destes 15 dias perde, então, a vinculatividade se assim o fosse. O órgão decisor tem então
limites temporais que tem de respeitar, sendo que então a sua competência se encontra
limitada. – art.128/6.
PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO
§ Em primeiro lugar, porque se entendia não ter relevância jurídica externa, pois
apenas correspondia a uma fase de formação do ato administrativo.
§ Ainda, a este motivo aliava-se a uma certa tradição de segredo ou sigilo quanto
à vontade e decisões da administração, que se considerava não ser do
entendimento dos particulares, que apenas seriam notificados dessas decisões.
Portanto, desenvolvia-se uma cultura de arcana praxis, pois já que essa fase era
juridicamente irrelevante e os particulares não tinham de participar nela, então isso
formava efetivamente a prática do sigilo administrativo.
Por isso, hoje o procedimento tem relevância externa, produzindo efeitos externos –
muitos dos atos, mesmo que não sejam constitutivos (atos administrativos) não deixam
de ter efeitos externos. Por exemplo: ato que solicite uma diligência provatória.
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Ainda, por força do princípio da transparência, que se desdobra numa série de
subprincípios, como comunicação, obriga a Administração a prestar toda a
informação sobre o decorrer do procedimento.
Este paradigma faz todo o sentido num certo tipo de procedimento, aquele a que
se designa procedimento sancionatório ou disciplinar. De facto, a atividade
administrativa sancionatória é de cariz jurisdicional. Mas, por norma, o
procedimento administrativo corresponde à lógica do direito administrativo
geral, que tem em conta o interesse público. A própria instrução do procedimento
não é levada a cabo de forma imparcial, pois a administração é parte no
procedimento, é lhe confiada um interesse que tem de ser defendido como se
fosse seu, sendo parcial. Há apenas imparcialidade face aos vários interesses
particulares que se podem confrontar nos procedimentos.
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Assim, a AP tem uma obrigação positiva e uma obrigação negativa: quanto à positiva,
é nos dito que esta tem de considerar todos os interesses relevantes para o procedimento
e quanto à obrigação negativa é de ter em conta que a Administração Pública não deve
tomar em consideração aqueles interesses irrelevantes.
Princípio da procedimentalização
Nota: há uma alteração no art.1/1 CPA, sendo que se passa a incluir a “execução” na
noção de procedimento administrativo.
51
administração. Por isso, o procedimento é o eixo que permite essa coordenação e
articulação.
Portanto, o ritmo do procedimento propicia uma maior ponderação dos interesses e uma
tomada de decisão mais ponderada e menos precipitada.
Por isso, o procedimento não é um ato complexo. à As declarações que integram o ato
complexo colocam-se em pé de igualde, pois todas elas se constituem como causa
imediata da produção de efeitos. Portanto, quando há mais de uma declaração que se
situe como causa imediata de efeitos então temos um ato complexo. Quando falamos
noutras declarações que só de forma mediata se projetam na esfera dos afetados pelo ato,
então a declaração insere-se no procedimento sendo um mero ato preparatório ou
instrutório.
O procedimento, nos termos do art.1/1 CPA, quando se fala em sucessão ordenada, leva
a uma tramitação lógica e cronológica, constituindo uma sequência ordenada. Por
exemplo: tem de haver lugar a audiência antes da prática de um ato.
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Tipos de procedimentos
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Novas tendências procedimentais: mecanismos de simplificação administrativa
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Procedimento no CPA
Também tudo o que que diz respeito ao regulamento, ato e contrato, se consagra na parte
IV.
Neste âmbito, Professor Doutor João Pacheco de Amorim tem um entendimento diferente
de muitos autores. Deste modo, é aqui de considerar o artigo do Professor que servirá de
orientação.
§ Nos termos do art.155 CPA: O ato administrativo produz os seus efeitos desde a
data em que é praticado, salvo nos casos em que a lei ou o próprio ato lhe
atribuam eficácia retroativa, diferida ou condicionada. – assim, estamos perante
a fase integrativa de eficácia.
§ Na fase de execução, temos de a considerar como integrada no próprio
procedimento administrativo – art.1/1 CPA. É uma fase eventual, visto que nem
todos os atos são exequíveis, nem todos carecem de execução, alcançando os
objetivos a que se destinam através apenas da produção de efeitos. Os atos
inexequíveis são, por exemplo: os atos de autorização que afastam uma proibição
relativa, sendo que por imperativo lógico, ele alcança as suas finalidades últimas
apenas a partir da produção de efeitos.
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1. Fase preparatória compõe-se de 3 subfases: iniciativa, instrução e audiência
dos interessados - A subfase da audiência dos interessados autonomiza-se da fase
de instrução face à sua relevância.
Integram-se aqui os atos preparatórios típicos, isto é, os atos jurídicos que estão
diretamente conexionados com o ato principal, visando a sua consumação e que não
produzem efeitos externos senão através dele. Não se consideram, assim, integrados no
procedimento: as operações materiais e comportamentos (por não serem atos
jurídicos), os «pressupostos» longínquos (por não terem uma conexão direta com o
procedimento, como, por exemplo, a delegação de poderes) e os atos com autonomia
funcional (por visarem produzir efeitos externos próprios, como acontece tipicamente
com a autorização para a prática de ato administrativo ou com a decisão de exclusão de
candidato de procedimento concursal, que é um ato destacável).
Verdadeiramente, o procedimento e a sua tramitação está regulada nos arts.96 e ss. CPA.
à Quanto a este momento de iniciativa, é de notar os arts. 97 e 98 CPA que se relacionam
com o regulamento administrativo e os normativos referentes aos atos administrativos
dizem respeito aos art.102 a 109 CPA.
Então, a iniciativa (artigo 102.º), pode ser desencadeada pelo interessado (sendo como
tal qualificado quem tenha legitimidade para iniciar o procedimento, nos termos do artigo
68.º), por meio de um requerimento (artigos 102.º e ss.), ou por um órgão
administrativo através de um ato público de iniciativa, devendo distinguir-se, neste
caso, os procedimentos oficiosos (desencadeiam-se com um pedido por parte da
autoridade pública) dos procedimentos públicos não oficiosos (desencadeados por
propostas, requisições, pedidos).
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Nota: a lista do art.109 não é taxativa, mas exemplificativa.
§ Audiência dos interessados: arts. 121 e ss., tendo de se ter em conta as alterações
introduzidas pelo DL11/2023 de 11 de fevereiro.
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Os interessados têm direito a ser ouvidos no procedimento antes da decisão final, tendo
estes ainda de ser informados acerca de um projeto de decisão, nos termos do art.121.
No exercício do direito de audiência, os interessados podem pronunciar-se sobre todas
as questões com interesse para a decisão, em matéria de facto e de direito, bem como
requerer diligências complementares e juntar documentos.
O órgão só pode realizar uma audiência prévia, na qual deve incluir toda a matéria de
facto e de direito que sustenta o sentido provável da decisão,
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pelas quais no caso das alegações não serem entendidas, não forem suficientes de
demover a administração, explicar porque é que os argumentos adiantados pelos
interessados não levaram a alterar a decisão, sob pena de padecer a decisão final de um
vício de fundamentação insuficiente.
Produz-se o ato principal ou típico, que é, em regra, um ato simples (singular ou colegial,
conforme o órgão que o pratica), mas pode ser um ato compósito, com diferentes
pronúncias – ato complexo (com pronúncias iguais de diversos órgãos, como acontece
com despachos conjuntos de mais de um ministro), ato continuado (várias pronúncias,
do mesmo ou de órgãos diferentes, diversificadas no tempo, mas que só na sua conjunção
constituem os efeitos jurídicos, como o exame constante de prova escrita e oral), ato
composto em sentido estrito ou ato complexo desigual (com pronúncias desiguais, em
que um órgão decide e outro aprova, homologa ou certifica).
Por regra, requer-se uma decisão final expressa, embora o silêncio ainda hoje possa ter
relevância decisória na hipótese do deferimento tácito, nas condições e nos casos em
que tal esteja legalmente previsto (artigo 130.º do CPA).
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São exemplos de controlo preventivo a aprovação da ata de um órgão colegial – esta é
condição de eficácia, sendo um simples documento provatório da reunião,
nomeadamente da discussão e deliberação. A discussão e deliberação têm, por definição,
forma oral, mas a ata em si pressupõe uma forma física e escrita.
Atos integrativos de eficácia são aqueles atos (que podem ser atos administrativos ou atos
instrumentais) que, não contribuindo para a definição do conteúdo do ato
administrativo, nem operando no plano da validade, visam apenas remover os
obstáculos à sua operatividade efetiva, no que respeita aos seus efeitos típicos.
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investigação criminal, ao sigilo fiscal e à privacidade das pessoas. à A lei de acesso a
estes arquivos e registos é LADA – Lei de Acesso aos Documentos Administrativos.
Distinção entre validade vs eficácia: Em regra, a eficácia de um ato está associada à sua
validade: os atos que são praticados com respeito pela lei (pelas normas jurídicas
aplicáveis) devem produzir os efeitos jurídicos correspondentes; os atos que não
respeitam as normas jurídicas não devem produzir os efeitos pretendidos. No entanto, os
dois conceitos são diferentes e não têm uma correspondência biunívoca:
Quanto ao elemento do fim, aqui temos de dividir entre fim abstrato e concreto – quando
o ato administrativo é vinculado não se distingue os pressupostos do fim; mas quando o
ato é discricionário, uma coisa é o fim para o qual se concretiza na situação concreta e o
fim que é previsto na lei, que é abstrato.
Portanto, um ato anulável devido a invalidade pode ser executado, porque sendo anulável
produz os seus efeitos. à se o ato vier a ser anulado há um fenómeno de retroação
(destroem-se os efeitos até ao momento da prática do ato) e terá de existir uma
indemnização pela administração aos lesados. Este ato inválido é, então, eficaz. Já o ato
nulo, por definição não produz efeitos, sendo que então estes já se consideram como
ineficazes.
Nota: por outro lado, embora só excecionalmente, podem ser reconhecidos efeitos
putativos aos atos nulos, dando relevo jurídico a situações de facto por eles criadas,
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perante o decurso do tempo, com fundamento em princípios jurídicos fundamentais,
como os princípios da boa fé, da proteção da confiança legítima e da proporcionalidade.
Início da eficácia
Ainda, temos situações de retrodatação, que se verificam nos casos em que o ato é
praticado em momento constitutivo deslocado no tempo, concretamente, quando os
efeitos de um ato são reportados a uma data passada, porque esses efeitos deviam ter sido
produzidos, por imposição legal, em momento anterior ao da sua prática efetiva. O que
importa é que os efeitos do ato se comecem a produzir na data legalmente prevista.
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A eficácia dos atos constitutivos de deveres ou encargos é sempre diferida, porque
depende da sua notificação aos destinatários – dado que os efeitos desfavoráveis só lhes
serão oponíveis após a notificação (artigo 160.º).
O ato pode ser administrativo e imperativo, mas não ser de tipo executivo, não estando
dotado de executividade.
Os atos inexequíveis, por natureza, são todas as autorizações administrativas. Então, atos
não-exequíveis, pelo contrário, são capazes de produzir por si próprios os efeitos
visados, sem necessidade ou admissibilidade de execução – como acontece, por
exemplo, com os atos negativos, com os atos relativos a status e com grande parte dos
atos favoráveis.
63
do ato e corresponde à capacidade de basear uma execução sem pronúncia de
outro poder.
Por isso, pode (é suscetível) de fundar uma execução coerciva – caso o particular resista
ou desobedeça às determinações do ato administrativo, aquele ato funda uma execução
coerciva e os órgãos competentes da administração podem usar a força para suprir a
desobediência.
O nº2 deste artigo ressalva a adoção de medidas policiais de coação direta. Quais são
estas medidas? De um modo geral, toda a atuação policial, sendo obrigações que
decorrem diretamente da lei. Assim, a administração policial não pratica atos
administrativos, mas apenas atuações materiais, executando diretamente a lei. São
medidas que se assemelham a atos administrativos, mas desprocedimentalizadas. Tudo
isto se relaciona com um ramo do direito administrativo – direito de polícia.
No art.176 temos a legalidade de execução, que nos diz qual a regra: a regra é a
executoriedade dos atos administrativos (regra da execução prévia) ou então é regra
os atos não serem executórios, tendo a administração de recorrer aos tribunais se os
quiser executar coercivamente?
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No entanto, este artigo refere que só pode haver execução prévia nos termos
previstos na lei ou em situações de urgente necessidade pública. à
Aparentemente, então acabou este privilégio da execução prévia.
Nos termos do art.177 CPA - Os órgãos da Administração Pública não podem praticar
qualquer ato jurídico ou operação material de execução sem terem praticado
previamente o ato administrativo exequendo. No nº2 há um reforço de garantias dos
particulares com esta decisão prévia ao procedimento executivo. O nº3 obriga a
administração a conferir um prazo adicional para ser feita a obrigação exequenda.
De acordo com o nº4: A notificação da decisão de proceder à execução pode ser feita
conjuntamente com a notificação do ato administrativo exequendo.
No art.179: Quando, por força de um ato administrativo, devam ser pagas prestações
pecuniárias a uma pessoa coletiva pública, ou por ordem desta, segue-se, na falta de
pagamento voluntário no prazo fixado, o processo de execução fiscal, tal como regulado
na legislação do processo tributário. Entende-se que o processo tributário é um processo
jurisdicionalizado. à órgão competente emite, nos termos legais, uma certidão com valor
de título executivo, que remete ao competente serviço da Administração tributária,
juntamente com o processo administrativo.
65
Só a prestação de facto infungível é que coloca problemas certos no que toca à
executoriedade, o resto considera-se resolvido nos termos do art.179/3.
Esta função é ditada pela segurança jurídica, sendo este ato dotado de força próxima da
sentença. Neste sentido, aqui falamos do “caso decidido administrativo”.
• O caso julgado, aquela sentença que após o prazo de recurso jurisdicional adquire
esta designação, não pode mais ser modificado depois desse prazo, havendo
apenas excecionalmente um regime especial de revisão de sentenças.
• O caso resolvido ou decidido, passado o prazo de possibilidade de impugnação
judicial admite uma possibilidade de “revisão” pelos órgãos competentes, mas não
há possibilidade de ser objeto de controlo sucessivo pelos tribunais
administrativos. Este prazo poderá ser de um ano, quando os particulares tenham
sentido dificuldades em identificar o ato administrativo impugnável dada a
dificuldade inerente quando aos procedimentos complexos onde a administração
não é clara, etc.
Nota: o Ministério Público não pode impugnar qualquer ato administrativo, nem
substituir-se aos particulares quando estes tenham sido negligentes. Mas, apesar dos
requisitos relativamente apertados em termos de legitimidade, o Ministério Público pode
sim impugnar os atos administrativos que lesem o interesse público.
66
É de ter em conta que este fenómeno de consolidação dos efeitos, que se tornam
definitivos, mesmo de atos inválidos por caducidade do direito de impugnação judicial,
não significa que haja uma sanação dos respetivos vícios, apenas que os seus efeitos
se tornam definitivos. O ato mantem-se portanto, inválido, mesmo o ato anulável, o que
acontece é que não pode ser contenciosamente nem graciosamente impugnado (torna-se
judicialmente inimpugnável).
A força jurídica do «caso decidido» vale para a generalidade dos atos administrativos,
enquanto decisões de autoridade que definem o direito do caso concreto de forma
estável, em nome da segurança jurídica. à Hoje, esta estabilidade é afirmada, em
especial, relativamente aos «atos constitutivos de direitos» e aos “atos devidos” (de
conteúdo estritamente vinculado), de modo que a estabilidade do ato confere segurança
aos particulares contra pronúncias ablatórias provenientes da própria Administração –
os órgãos administrativos não podem revogar nem anular livremente os atos
constitutivos de direitos ou os atos que sejam legalmente (ou contratualmente) devidos
(artigo 167.º, n.º 2, e 168.º, n.º s 2 e ss, do CPA).
Quando é referido “não poderiam ser praticados”, temos de ter em conta que a revogação
aqui se dá por razões de mérito, não por razões de interesse público, mas sim de devido
à superveniência de conhecimentos técnicos e científicos ou face a uma alteração
objetiva das circunstâncias de facto. Esta revogação, nos termos do nº4, deve ser
proferida no prazo de um ano a contar da data do conhecimento da superveniência
67
ou da alteração das circunstâncias, podendo esse prazer ser prorrogado por mais dois
anos se o assunto for complexo.
Trata-se de uma revogação à luz do interesse público atual, não de interesse público no
sentido de uma apreciação subjetiva do órgão, mas sim do interesse público à luz de
circunstâncias objetivas, como caso haja um circunstancialismo concreto.
Nos termos desta alínea d) há então no ato uma cláusula acessória de reserva que prevê a
reserva de revogação, importando que a lei consinta na precarização do ato e esta cláusula
não poderá ser genérica, mas apenas específica.
Nos termos do art.149 é de ter em conta todas as cláusulas acessórias, não apenas as
de reserva. A aposição de cláusulas acessórias a atos administrativos de conteúdo
vinculado só é admissível quando a lei o preveja ou quando vise assegurar a
verificação futura de pressupostos legais ainda não preenchidos no momento da prática
do ato. Já se o ato for discricionário, poderá ter uma cláusula de reserva de revogação,
mas tem de se verificar os pressupostos da alínea d) do art.167 – circunstancialismo
específico e precarização do ato.
Nos termos do art.167/5 - os beneficiários de boa-fé do ato revogado têm direito a ser
indemnizados, nos termos do regime geral aplicável às situações de indemnização pelo
sacrifício, mas quando a afetação do direito, pela sua gravidade ou intensidade, elimine
ou restrinja o conteúdo essencial desse direito, o beneficiário de boa-fé do ato revogado
tem direito a uma indemnização correspondente ao valor económico do direito
eliminado ou da parte do direito que tiver sido restringida. – remete para o art.15 da lei
da responsabilidade civil extracontratual do Estado e das demais pessoas coletivas de
direito público. Esta indemnização pelo sacrifício obedece a critérios de equidade que não
cobrem a totalidade do sacrifício, mas prevê-se a possibilidade de a afetação do direito
ser total.
68
invalidade, ou, nos casos de invalidade resultante de erro do agente, desde o momento
da cessação do erro, em qualquer dos casos desde que não tenham decorrido cinco anos,
a contar da respetiva emissão.
Por isso, prevê-se um prazo absoluto de cinco anos para anulação de atos administrativos.
Dentro desses cinco anos, estabelece-se o prazo de seis meses, sendo esse um prazo móvel
porque depende destas verificações (momento da cessação do erro ou conhecimento da
causa de invalidade) e porque tem de se dar dentro do prazo de cinco anos.
Porquê o prazo dos cinco anos para atos que não sejam constitutivos de direitos? Por
razões de segurança jurídica.
Por isso, este nº4 introduz exceções europeias ditadas pela boa-fé.
69
Discutia-se a admissibilidade da figura da revogação-sanção (ou da invalidade
sucessiva), eventualmente com efeitos retroativos, designadamente quanto a atos cujo
conteúdo consista numa prestação pecuniária dependente da realização de um fim ou do
cumprimento de um modo (exemplo: subsídios concedidos para fins determinados ou que
impliquem encargos específicos relevantes). Mas, hoje, devemos falar em anulação-
sanção.
Nesta perspetiva que contrapõe a forma ao conteúdo, o procedimento diz respeito à forma,
que se relaciona com os aspetos organizativos, sendo estes princípios como princípios
de organização. à O problema que aqui se coloca é que nas disposições do CPA, temos
princípios substantivos e organizativos que se encontram reunidos. Na opinião do
professor, os princípios do procedimento deveriam estar todos na parte III do CPA, que é
onde se encontra a maior parte deles. Por isso, qual terá sido o guia do legislador? Não
seguiu a natureza dos princípios, mas guiou-se sim pela importância dos princípios.
Por isso, tenha-se presente que nem sempre a inserção sistemática de uns e outros
(designadamente dos princípios do procedimento e dos princípios da atividade)
corresponde à respetiva natureza.
70
Por isso, em toda a sua atividade, inclusive na procedimental, e designadamente no
exercício dos seus poderes discricionários, está a Administração obrigada a observar
os princípios gerais que a regem, a saber o princípio da prossecução do interesse
público e da proteção dos direitos e interesses dos particulares (art.º 4.º), o princípio da
boa administração (art.º 5.º), o princípio da igualdade (art.º 6.º), o princípio da
proporcionalidade (art.º 7.º), os princípios da justiça e da razoabilidade (art.º 8.º), o
princípio da racionalidade (não expressamente consagrado na lei, mas que subjaz a todo
o direito), o princípio da imparcialidade (art.º 9.º) e os princípios da boa-fé e da tutela
da confiança (art.º 10.º).
71
§ função integrativa em sentido estrito, que se relaciona com a integração de
lacunas.
72
4) Princípio da proporcionalidade procedimental, o disposto nos art.ºs 178.º, n.º 1
(utilização de meios coercivos na execução dos atos administrativos) e 180.º
(adoção das diligências dirigidas à posse administrativa no âmbito da execução
para entrega de coisa certa – por exemplo: se for um imóvel, a posse
administrativa poderá relacionar-se com o arrombamento de uma porta, tendo
as pessoas de ser retiradas daquele local, reclamando então que todas as medidas
tomadas sejam o mínimo-indispensável, havendo uso parcimonioso da força).
Este princípio é inerente a todo o direito, não estando consagrado em nenhum local, mas
sim referido pela jurisprudência.
Ainda, o art.102, faz uma série de exigências, onde entre as quais se expressam os
requisitos formais que são absolutamente necessários para que o pedido seja claro,
fundamentado de forma correta e não contraditório.
A razoabilidade não é um imperativo lógico, mas sim uma exigência de equilíbrio e bom
senso.
73
Por isso, há obrigação de atuação da boa-fé para que a instrução corra bem e rapidamente.
à Pode ter a administração o “interesse” num procedimento, podendo ser tentada a
atrasar o procedimento, havendo um desleixo intencional. Por isso, aqui viola-se a boa-fé
procedimental. O mesmo se diz dos particulares, quando apresentam requerimentos
impertinentes ou dilatórios.
Não se confunde com o princípio do procedimento justo, no sentido em que este apenas
atenta à dimensão de defesa do particular no procedimento administrativo. Ainda,
todo o procedimento administrativo se pensa em termos iguais e paritários, quer para a
tutela do interesse público, quer para a tutela dos interesses particulares, sendo que uns e
outros conformam, então, o procedimento, nomeadamente a sua estrutura e lógica.
Mas há também procedimentos que não são de cariz sancionatório, mas podem também
ser gravosos para os particulares, como no caso do despejo administrativo.
74
Tal relevância justifica importantes diferenças de regime, como o da consequência da
nulidade da decisão sancionatória que não tenha sido precedida pela audiência do
interessado (cf. art.º 32.º, n.º 10 da CRP), vício gerador neste caso da nulidade da
decisão final pela dupla via das alíneas d) e l) do n.º 2 do art.º 161.º do CPA
(respetivamente, por consubstanciar tal omissão uma ofensa ao conteúdo essencial do
direito fundamental que estiver em causa, e uma preterição total do procedimento
legalmente devido, na medida em que nestes procedimentos a audiência do arguido é
trâmite absolutamente essencial). Isto, de acordo com a doutrina maioritária, apenas se
aplica aos procedimentos de cariz sancionatório.
Não está consagrado na CRP nem no CPA, mas é invocado em imensa legislação setorial.
Este, no fundo, desdobra-se e está na base dos direitos fundamentais dos
administrados, como o direito de participação no procedimento, direito à informação
procedimental, o direito à notificação dos atos administrativos; o direito à
fundamentação dos atos quando afetem direitos e interesses legalmente protegidos.
Princípios procedimentais
Dos dez princípios gerais procedimentais que descortinamos no CPA, nem todos estão
expressamente mencionados no Código.
Comece por se referir que são objeto de explícita referência o princípio do inquisitório
(art.º 58.º), o princípio da cooperação e boa-fé procedimental (art.º 60.º e 77.º a 81.º), o
princípio da participação dos interessados no procedimento (art.ºs 12.º e 57.º, n.º 1), o
princípio da boa administração procedimental, nas vertentes da adequação e da
celeridade (art.ºs 56.º e 59.º), o princípio da gratuitidade do procedimento (art.º 15.º), o
princípio da utilização da língua portuguesa (art.º 11.º, n.º 3 CRP e 54.º CPA) e o
75
princípio da decisão (art.º 13.º), aqui se incluindo a decisão de 2.º grau, ou seja, a vertente
da obrigatoriedade do reexame ou revisão administrativa das decisões finais a
requerimento dos interessados (art.ºs 184.º a 199.º).
o Princípio do inquisitório:
76
responsável pelo procedimento agir oficiosamente no sentido de determinar o
modo como o procedimento vai ser tramitado e instituído.
77
nele, como hoje, de forma mais completa e explícita, relativamente ao que estipulava o
art.º 60.º do CPA de 1991, dispõe o novel princípio da cooperação e boa-fé procedimental
consagrado também no atual art.º 60.º.
Já o nº2 especifica esse ónus ou dever que recai sobre os particulares, no sentido de recair
uma especial obrigação de ajudar a administração, “não empatando” a ação da
administração, devendo o particular ser económico e parco nas suas intervenções para
não prejudicar e obstar o desenvolvimento do procedimento.
78
está, o dever de colaboração das Administrações nacionais com a Administração
Pública da União Europeia, especificamente consagrado no art.º 19.º
Porque é que este princípio do art.19 está na parte geral do Código e apenas
estabelece consagração com a União Europeia e nada diz sobre a colaboração com
as administrações nacionais? É uma crítica por parte do Professor. Por isso, no
que toca às administrações nacionais inferimos indiretamente deste artigo, ao
contrário do que acontece na Alemanha e França.
b) A boa-fé procedimental
Podem existir consequência pela má-fé, tanto a nível dos particulares, como da
Administração.
79
parcialmente coincide com este – duo process of law, que todo ele é garantístico,
acentuando na dimensão de contraditório.
§ Dimensão de participação coadjuvatória com a administração, no sentido do
cumprimento do princípio da legalidade, da prossecução do interesse público
e do dever de boa administração. Mesmo quanto ao mérito, pode haver
coincidência do interesse público e do particular, ajudando isto à prossecução do
interesse público.
§ Dimensão legitimadora da função executiva do Estado através da participação
dos administrados ou governados na atividade administrativa, ainda que tão-
só a título consultivo. Por isso, podemos falar em democracia participativa e
representativa. Quando há audiência, de modo geral, reforça-se a legitimação do
poder executivo.
80
dilatório, quer ordenando e promovendo tudo o que seja necessário a um seguimento
diligente e à tomada de uma decisão dentro de prazo razoável”, sendo esta a vertente de
celeridade.
Tal como o n.º 1 do art.º 5.º, só que agora especificamente no que respeita à condução do
procedimento (numa dimensão apenas adjetiva, por conseguinte, e já não substantiva)
atribuem os art.ºs 56.º e 59.º ao responsável do procedimento um poder discricionário na
respetiva condução, estabelecendo em simultâneo, enquanto acervo de verdadeiros e
imediatos padrões de conduta – isto sem prejuízo dos padrões decorrentes do princípio
do procedimento justo («no respeito pelos princípios gerais da atividade administrativa»)
–, os critérios de eficiência, economicidade e celeridade.
Quanto mais eficazes sejam os meios escolhidos maior o grau de realização dos
objetivos pretendidos pela administração, relacionando-se isto com o art.56.
Note-se que a violação do dever de celeridade pode ter consequências jurídicas: com
efeito, uma excessiva demora do procedimento é passível de consubstanciar uma
negligência originadora de responsabilidade disciplinar (por violação de um dever
disciplinar específico) e civil do responsável pela direção do procedimento e/ou outros –
art.128 CPA.
o Princípio da gratuitidade
81
de taxas em leis especiais deve ser entendida no sentido de que não se deve recorrer
quando não haja justificação para isso.
No art.130 prevê-se o deferimento tácito – quando a entidade não respeita o prazo previsto
na lei, considera-se tacitamente deferida a decisão final. É de notar que a falta de
pagamento de taxas ou despesas não impede o deferimento tácito – art.130/6.
Prescreve este princípio consagrado no art.º 54.º, quanto à forma das declarações quer da
Administração, quer dos demais intervenientes no procedimento (designadamente dos
interessados), sejam elas escritas, sejam orais, a obrigatoriedade do uso da língua
portuguesa – obrigatoriedade essa já decorrente do art.º 11.º, n.º 3 da Constituição
(«Símbolos nacionais e língua oficial»), onde se dispõe que “[a] língua oficial é o
Português”.
82
justificadas circunstâncias, haja sido formulado, na origem, numa língua estrangeira, ser
objeto de uma tradução certificada ou notarial, antes da respetiva assinatura.
o Princípio da decisão
Este dever estabelece-se sobre todas as entidades públicas, reproduzindo o art.52 da CRP,
sendo que toda a entidade pública tem então este dever de resposta, que não se confunde
com o dever de decidir.
O dever de resposta pode ser apenas de pronúncia ou de decisão, sendo que este último
só existe quando a pretensão é formulada em vista da defesa de interesses próprios do
peticionante e tem por objeto o exercício de uma competência jurídico-administrativa
concreta de aplicação da lei à situação jurídica do pretendente.
§ Dever de decisão.
83
Os órgãos administrativos devem-se pronunciar sobre todos os assuntos da sua
competência que lhes sejam apresentados pelos particulares, mas não têm o dever
(procedimental) de os decidir, o que seria de resto inexequível.
Note-se que esta obrigação genérica consagrada no n.º 1 do artigo 13.º do atual Código,
de pronúncia ou resposta, não implica que a autoridade instada tenha que se pronunciar,
por exemplo, sobre sucessivas e repetidas petições, de igual conteúdo, de um mesmo e
obcecado impetrante. Nem que, depois de receber centenas de reclamações de conteúdo
essencialmente idêntico sobre um determinado problema, tenha de responder
individualizadamente a cada um dos reclamantes: neste caso (pense-se numa Junta de
Freguesia populosa, de um grande centro urbano, mas com modestos recursos humanos
e materiais), à luz de critérios de razoabilidade e proporcionalidade, estará cumprido o
dever constitucional e legal da autoridade instada se esta se limitar a uma única
pronúncia – à elaboração de um só texto – e à respetiva publicitação num local de
estilo, como a sua página de Internet.
No CPA existiu uma alteração importante que permitiu o redireccionamento das matérias,
pois anteriormente falava-se em interesse geral e agora fala-se em interesse público,
o que permite perceber que só há, então, dever de resposta se a questão tiver relacionada
com a competência do âmbito executivo. Assim, torna-se agora claro que compete à
Administração tão só pronunciar-se sobre assuntos de interesse geral relativos ao poder
executivo ou administrativo, e não sobre os privativos dos demais poderes e funções do
Estado (cabendo neste caso o dever de pronúncia ao Presidente da República, à
Assembleia da República, às assembleias legislativas regionais e aos tribunais e
respetivos órgãos de autogoverno).
Com efeito, o (atual) art.º 13.º regula dois distintos deveres, a saber (1) o dever de
genérica pronúncia ou resposta das autoridades administrativas face a qualquer
petição (séria), que radica no n.º 1 do art.º 52.º da Constituição (direito fundamental de
petição); e (2) o dever de decisão procedimental, que apenas existirá se a pretensão
radicar na defesa de interesses próprios do requerente e suscitar o (obrigatório) exercício
de uma verdadeira competência do órgão requerido. à no entanto, o nº1 do art.13 é
ambíguo, no sentido em que não distingue os dois deveres de forma clara, embora eles
sejam distintos: quando fala em “assuntos da sua competência”, no sentido estrito,
estamos perante um dever jurídico de decisão. Já se falarmos em competências no sentido
mais lato, estamos perante o dever de resposta.
84
Assim, se a epígrafe se reporta mais ao dever de decisão (quando deveria fazer menção
de forma separada aos dois deveres compreendidos pelo normativo), a redação do n.º 1
(sobretudo a sua parte final) parece contemplar em primeiro lugar o dever geral de
resposta. Já o n.º 2 pretenderá regular especificamente o dever de decisão, dada a
utilização do termo (decisão) e a referência à prática de ato administrativo.
Quando se fala no artigo em “assuntos que digam respeito aos interessados”, temos de
relacionar com direitos subjetivos e interesses legalmente protegidos. à Mas é de
admitir que não só os particulares de interesses legalmente protegidos ou titulares
de direitos subjetivos, mas também os restantes particulares podem ter um interesse
direto e legítimo, sendo simples titulares de um interesse de facto.
Nos termos do art.55 CPTA, o particular funciona como uma espécie de auxiliar da lei,
sendo que tem legitimidade para impugnar o ato ou recorrer aos meios de tutela dos
particulares, como a reclamação e os recursos hierárquicos, aqueles particulares que
tenham um simples interesse de facto ou um interesse direto, pessoal e legítimo.
O nº2 do art.13 abre uma exceção ao dever de decisão – aqui, já não se tem em causa
o dever de resposta, mas apenas o de decisão. Isto leva a reconhecer a existência pela
banda da Administração de um dever de reapreciação do mérito da pretensão do
requerente passado o prazo dos dois anos, através de um novo e verdadeiro ato
administrativo.
Nota: tal como existe o princípio do aproveitamento do ato administrativo também existe
um dever de aproveitamento do procedimento administrativo.
Mas, é de ter em conta duas situações em que não chega a existir uma decisão sobre a
pretensão do interessado:
85
§ Nas situações em que é a Administração a decidir da oportunidade do exercício
daquela competência. Ou seja, nos casos em que há um poder discricionário de
que disponha o órgão competente relativo à oportunidade de agir.
Em suma, o princípio consagrado neste art.º 13.º não se esgota no dever de decidir
sobre o objeto da pretensão. Ele abrange ainda o prévio e instrumental dever em que
está também investido o órgão instado de (i) conhecer ex ante quaisquer questões que se
possam revelar prejudiciais ao normal desenvolvimento do procedimento (nomeadamente
da verificação ou não dos pressupostos procedimentais, como a competência do órgão
requerido, a caducidade do direito que se pretenda exercer, a ilegitimidade do requerente
ou a extemporaneidade do pedido – cf. n.º 1 do art.º 109.º), ou, existindo
discricionariedade relativamente ao quando, de apreciar a conveniência de decidir
naquele momento sobre tais questões. Esta prévia decisão poderá ser tomada no sentido
da aceitação ou, ao invés, da recusa em apreciar o objeto do pedido, seja por
impossibilidade, seja por inoportunidade de o procedimento se desenvolver e de,
consequentemente, sobre o mesmo pedido vir a tomar uma decisão final.
Para que, perante um requerimento que lhe seja apresentado, a Administração fique
constituída no dever de decidir, é necessária a verificação dos pressupostos
procedimentais a que a lei condiciona o desenvolvimento regular do procedimento
— permitindo, designadamente, e sendo caso disso, a formação do ato tácito positivo —
e que se desdobram nas seguintes espécies:
Não existindo tais pressupostos, também não existe o dever de decidir, embora possa ou
deva subsistir o dever genérico de pronúncia.
Note-se, no respeitante à competência do órgão que recebe o pedido, que se verifica este
pressuposto ainda que o requerimento seja apresentado a órgão incompetente, e
independentemente mesmo de a incompetência ser relativa ou absoluta (por pertencer o
órgão a outro ministério ou a outra pessoa coletiva) e do grau de culpa do requerente (de
86
ser o seu erro desculpável ou indesculpável): nos termos do atual art.º 41.º, o órgão que,
por equívoco do particular, tenha recebido indevidamente o requerimento terá sempre e
em todo o caso a obrigação de o reencaminhar para o órgão competente, valendo a data
da primeira apresentação para efeitos de tempestividade do pedido.
Para ambas as condutas da administração, uma por ação e outra por omissão, que se
traduzem numa recusa tácita ou expressa, e impedem de atender àquela pretensão do
particular, o CPTA enuncia uma única e mesma via processual para reagir às duas
modalidades:
87
Nota: O facto de a administração não atender à pretensão do particular não significa
uma violação do dever de decisão, porque a decisão foi transmitida pelo órgão, que
cumpre o seu dever, visto que apenas há um dever de decidir sobre o objeto da pretensão
e não de decidir de acordo com a pretensão. O que se coloca em causa, segundo a visão
tradicional é a legalidade e não o dever de decisão, pois podem existir atos ilegais de
recusa.
Assim sendo, uma vez propiciada tal oportunidade ao órgão administrativo competente, e não
a tendo este aproveitado (mantendo ilegalmente intocada a posição do particular, seja porque
nada decidiu, seja porque decidiu contra legem) em qualquer das várias hipóteses que se
prefiguram de vinculação do órgão administrativo ao deferimento da pretensão (pura
omissão ou inércia, decisão expressa de recusa de apreciação do objeto do pedido ou
decisão expressa de indeferimento propriamente dito), e passado o «período de nojo» dos
dois anos a que se refere o n.º 2 do art.º 13.º, fica aberto o caminho para o tribunal vir a
decidir em segunda mão (em sede revisiva) sobre o conteúdo da dita pretensão, na medida
dos seus poderes cognitivos.
Neste período de nojo de dois anos, então, a administração não tem o dever de decidir
e, por isso, toda a resposta ou pronúncia que ela dê nesse espaço de tempo não se
considerará um ato administrativo.
Mas, neste período ficará dispensada do dever de resposta ou pronúncia? Não, apenas não
tem o dever de decidir. Passados esses dois anos, o particular poderá apresentar um novo
requerimento.
88
VÍCIOS DO ATO ADMINISTRATIVO
Quanto aos elementos do ato administrativo, normalmente refere-se a competência, o
procedimento, os pressupostos, o conteúdo e o fim. Resumindo, insere-se aqui a
competência, a forma e o fim e em termos de substância temos os pressupostos e o
conteúdo.
Quanto aos vícios do ato existe uma classificação que deriva da jurisprudência:
usurpação de poderes, falta de atribuições, incompetência (simples), desvio de poder
e violação de lei. à Os três primeiros vícios são, no sentido lato, incompetências. Já o
desvio de poder é próprio do poder discricionário, visto que se prossegue um outro
interesse público ou um interesse privado.
o Sujeito
Mas esta regra comporta exceções, podendo ser também sujeitos administrativos as
entidades privadas que exerçam poderes públicos e órgãos de entidades públicas não
administrativas, como os conselhos superiores das magistraturas, os tribunais e os demais
órgãos do poder do Estado.
Assim, temos várias dimensões onde podemos localizar vícios quanto ao sujeito. Para que
o ato seja válido, é preciso que o órgão:
a) atue dentro das atribuições (finalidades) legais da pessoa coletiva (ou ministério)
a que pertence. É de ter em conta que os ministérios e as secretarias gerais das
regiões autónomas, diferentemente, as atribuições são atribuídas a complexos
orgânicos e não verdadeiras pessoas coletivas.
Dentro de cada pessoa coletiva pública ou ministério temos os diversos órgãos, a
quem são distribuídas competências:
89
b) exerça competências (poderes abstratos, considerados normalmente como
poderes de autoridade para a prática de atos administrativos) que lhe tenham sido
concedidas pela lei (ou tenham sido nele delegadas com base na lei), em razão da
matéria, da hierarquia e do território.
c) possua legitimação para exercer no caso concreto a competência, verificando-se
os requisitos e condições legais de exercício do poder.
Se o ato praticado não for da competência do órgão e nem sequer se integre nas atribuições
da pessoa coletiva ou do ministério, mas se enquadre, por exemplo, nas competências do
tribunal, temos presente uma usurpação de poder – 161/2/a, que o comina com a
nulidade.
Se o ato praticado não for da competência do órgão que o pratica e se situar fora das
atribuições da pessoa coletiva ou do ministério, mas não extravase os poderes do Estado,
existe uma incompetência absoluta ou falta de atribuições, que como a usurpação de
poderes, gera nulidade.
Se se tratar apenas de incompetência simples, praticado por uma pessoa coletiva pública
mas fora da sua competência, gera apenas anulabilidade. A incompetência pode ser em
razão:
§ Da matéria;
§ Hierarquia – por exemplo: uma delegação de poderes que caduca e o órgão
continua a exercer o seu poder quando na verdade já não o tem e, por isso, o ato
está ferido de incompetência;
§ Território: quando os órgãos tenham competência territorialmente limitada.
Há ainda uma terceira vertente onde se localiza o vício relativo ao sujeito que se relaciona
com os requisitos e condições:
O não preenchimento destes requisitos, ainda que o órgão em abstrato seja competente e
não sejam extravasadas as suas atribuições, a falta de um destes requisitos torna o ato
inválido por falta de legitimação constitutiva da capacidade de agir.
90
o Objeto
É o quid sobre o qual incidem os efeitos do ato, aqueles que o ato visa produzir.
O objeto poderá ser uma pessoa ou uma coisa, sendo que é regra que incida sobre uma
pessoa. Assim, um ato pode ser como objeto uma pessoa, tendo em conta a situação da
nomeação, autorização, imposição ou comportamento; uma coisa (expropriação;
classificação de bens – como quando é classificado como património mundial ou
qualificação de prédios, como no caso de prédio desconhecido, porque há alguém que
não está determinado não sofre diretamente os efeitos, sendo que os efeitos incidem
diretamente sobre a coisa) ou um outro ato administrativo (revogação, anulação,
ratificação).
Nota: os bens de domínio público não podem ser expropriados, mas apenas transferidos.
O “objeto”, em sentido estrito, distingue-se do “conteúdo” (os efeitos jurídicos que o ato
visa produzir) e do “fim” (a finalidade de interesse público visada) do ato, embora se
verifique o uso corrente dos conceitos de objeto mediato (objeto propriamente dito) e de
objeto imediato (conteúdo) como conceitos ligados entre si – por vezes, a lei ou a doutrina
utilizam até o conceito com o alcance de englobar simultaneamente o objeto e o conteúdo
(ou trata-os em conjunto, como, por exemplo, no artigo 161.º, n.º 2 c) do CPA).
Neste sentido, aqui falamos do objeto mediato e não do objeto imediato, que se
relaciona com o conteúdo.
91
habilitações literárias, por exemplo) ou expropriar um terreno incluído no
domínio público, sendo que este terreno existe em termos físicos, sendo que em
abstrato seria juridicamente possível a respetiva expropriação, mas de facto eles
apenas podem ser transferidos ;
c) a legitimação (qualificação específica para sofrer em concreto os efeitos do ato):
o objeto, para além de idóneo em abstrato, tem de preencher as condições
subjetivas legais para – no âmbito de um concurso, não se pode validamente
adjudicar um contrato a um candidato cuja proposta tenha sido excluída ou
nomear para um lugar alguém que não tenha sido candidato ou que tenha
desistido;
d) a determinação (determinabilidade identificadora, conforme o tipo de ato): o
objeto, seja pessoa, coisa ou ato, tem de ser perfeitamente individualizado ou
determinado – não é válida a decisão de promover “o funcionário mais
experiente” de um serviço ou de declaração de utilidade pública dos “terrenos
necessários” para a realização de uma certa obra pública.
o Estatuição:
A estatuição refere-se à decisão, em si, isto é, à declaração formal que visa produzir
transformações no mundo jurídico. Resumindo, a estatuição é o próprio ato jurídico.
§ Aspetos substanciais:
1) Fim:
O fim para que está preordenado o poder do órgão administrativo, normalmente, não está
expresso na norma, visto que se infere, seja da própria enunciação do poder, seja
sobretudo a partir da formulação dos pressupostos que se tenham de verificar em concreto
para que a Administração fique investida do poder. No fundo, os pressupostos são
indicadores do fim, como aquelas circunstâncias, não referentes ao sujeito ou ao objeto,
de cuja ocorrência a lei faz depender a validade da decisão.
92
fundamentação formal do ato pela comprovação concreta da existência real dos
pressupostos definidos em abstrato na norma habilitante. A justificação é uma importante
componente da fundamentação do ato administrativo, sendo uma exigência formal.
Quando existam conceitos imprecisos face a poderes vinculados, basta que o órgão
interprete corretamente as normas e que acerte na verificação dos pressupostos para que,
de forma automática, seja realizado ou prosseguido o fim público. Verificados na vida
real estes pressupostos e tomando o órgão a decisão que a lei o impende para tomar, o fim
público é automaticamente prosseguido, com base na norma.
93
atividade administrativa. [ato de licenciamento de loteamento no qual se
determina que “o pagamento de uma compensação pelo particular a ser criada e
aprovada pela Assembleia Municipal”].
b) a possibilidade: os efeitos visados não podem ser impossíveis fisicamente
[adjudicação de prestação de serviços a prestar no ano anterior – TCA-S
12/02/09] ou contrariar uma proibição legal absolutamente imperativa (não
podem ser legalmente impossíveis);
c) a licitude: os efeitos visados têm de ser conformes à ordem jurídica (não é
válida, por exemplo, a habilitação profissional para o exercício de uma atividade
criminosa);
d) a legitimidade: a decisão não pode ofender diretamente normas ou princípios que
regem a atividade administrativa.
Por norma, um ato que seja inválido, em princípio, se causou danos, além de inválido,
podendo ser anulado, pode também gerar a responsabilidade civil do seu autor,
apresentando uma característica de ilicitude. Quando o ato põe em causa ou não observa
os determinados requisitos pressupõe-se o âmbito da ilegalidade, quanto à ilegitimidade.
94
a) a condição – a eficácia do ato fica dependente de um acontecimento futuro e
incerto, mas possível, cuja verificação a desencadeia (condição suspensiva ou
inicial) ou a extingue (condição resolutiva ou final); estamos perante uma
condição potestativa (ou impura) quando o acontecimento depende da vontade de
alguém, designadamente do destinatário;
b) o termo – a eficácia do ato fica dependente de um acontecimento futuro e certo,
muitas vezes um prazo, cuja verificação a desencadeia (termo inicial) ou a
extingue (termo final);
c) o modo – consiste num encargo ou ónus (dever de fazer, não fazer ou suportar),
imposto num ato de conteúdo principal positivamente favorável (autorização,
concessão), encargo que, ao contrário da condição e do termo, não afeta a eficácia
do ato, e cujo incumprimento pelo destinatário pode levar a uma execução,
eventualmente coativa, ou a outras consequências sancionatórias, incluindo a
possibilidade de revogação do ato (favorável).
d) a reserva (reserva de revogação, reserva de modo ou outra) – através da qual o
autor do ato se reserva o exercício de um poder ou faculdade que, de outro modo,
não teria ou não poderia exercer (poder de revogação de ato favorável, poder de
imposição de novos encargos em atos de eficácia duradoura ou outros poderes
legítimos).
95
dependa desse conteúdo principal (obrigação de pavimentar o
passeio público em frente ao edifício, imposta na licença de
construção).
Há uma relação direta entre o fim e o conteúdo, que assume especial relevância na
metodologia da formação da «vontade administrativa» quando os atos envolvem
momentos discricionários de decisão: a avaliação integrada das considerações e
valorações em que se baseia o juízo de preenchimento no caso concreto dos pressupostos
legais (e, portanto, da verificação do fim de interesse público em causa) projeta-se nos
argumentos e ponderações que permitem a escolha administrativa da melhor solução para
o interesse público, tal como foi concretizado, funcionando como motivos da decisão – a
ponderação com vista à decisão implica um “vaivém” argumentativo entre a hipótese e
a estatuição normativa baseado nas circunstâncias do caso concreto.
Aqui, falamos dos vícios na discricionariedade, que não se esgotam no desvio de poder,
existindo mais possibilidades.
96
§ Aspetos formais
1) Procedimento:
Mas, pode acontecer também o facto de a lei regular procedimentos especiais, aplicando-
se o regime geral do procedimento do CPA apenas de forma subsidiária.
97
mais ordenadoras ou indicativas, como as que estabelecem os prazos para a
administração atuar, são não invalidantes, mas ilegais.
No art.163/5 CPA, o efeito que se prevê, não se confunde com o art.164, sendo que neste
possibilita-se a sanação do vício de determinado ato, que são diferentes consoante a
sanção seja anulabilidade ou nulidade, enquanto no art.163/5 permite-se que o ato
anulável não seja anulado, mas o vício mantém-se, sendo que a isto se chama princípio
do aproveitamento do ato administrativo. à Quando se anula um ato administrativo
este terá de ser novamente praticado, mas sem o vício. Mas se olharmos para as
circunstâncias do ato concreto de que repetido tudo novamente, o ato terá o mesmo
conteúdo e sentido, então não fará sentido anular.
Nota: o art.163 apenas se refere a atos anuláveis, enquanto o art.164 se refere a atos nulos
e anuláveis.
2) Forma
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atas apenas servem de documento provatório, sendo apenas considerada como
requisito de eficácia);
ü As documentações meramente comunicativas (as notificações ou as
publicações).
Vieira de Andrade refere que aqui vale o princípio da liberdade de forma. No entanto, o
professor considera que aqui não se deve isso subscrever, visto que os órgãos colegiais
não têm liberdade de forma porque as suas decisão são proferidas de forma oral e os
órgãos singulares têm como forma de exteriorizar a decisão a forma escrita.
Já os atos do governo podem ter quatro tipos de formas, dentro da forma escrita: podem
ser resoluções do Conselho de Ministros, decretos, portarias e despachos. Aqui, a não ser
que a lei exija, há já liberdade de forma.
De acordo com Professor, os atos praticados por via eletrónica são proferidos através
forma escrita, sendo esta uma forma específica, visto que aquilo que é escrito não é
considerado num papel. O suporte eletrónico é, de algum modo, o suporte físico.
99
motivos e verdadeiros fundamentos. Naturalmente que se presume que a fundamentação
corresponde aos fundamentos. Por isso, exige-se a fundamentação para se perceber se o
ato padece ou não de vícios, podendo existir aqui vícios formais e materiais. Pode existir
uma fundamentação impecável, mas não haver efetivamente um fundamento – caso do
indecisor indeciso – o ato que é praticado através do lançamento da moeda, põe em causa
o princípio da racionalidade e o fundamento não existe, sendo um vicio formal de falta
de fundamentação, com a consequência jurídica da anulabilidade – art.163 CPA.
c) Subsistem casos especiais em que o silêncio releva como mero facto jurídico, que serve
apenas para abrir a via contenciosa, funcionando como pressuposto processual de uma
ação judicial – é o que acontece, por exemplo, com o silêncio perante impugnação
100
administrativa (artigo 198.º, n.º 4, do CPA) ou perante o requerimento de reversão de
prédio expropriado (artigo 74.º, n.º 4, do Código das Expropriações).
Portanto, estas declarações anómalas têm muito pouca importância desde 2004.
A legitimidade do ato administrativo, entendida em sentido amplo, tem a ver com a sua
aptidão para prosseguir o interesse público de acordo com as normas e princípios jurídicos
(legalidade e juridicidade) e as normas de boa administração (conveniência e mérito).
No entanto, os vícios de mérito tornaram-se menos relevantes. Por isso, vamos estudar os
vícios de legalidade e juridicidade, isto é, o incumprimento de disposições normativas e
princípios jurídicos.
Às vezes, a lei fala em atos inexistentes, aparecendo este ato como figura legal. Mas hoje
em dia já não podemos falar deste como um ato em que faltam elementos essenciais, pelo
que quando se fala, atualmente, de ato inexistente, devemos entender que estamos perante
um ato nulo, sendo passível de impugnação.
Neste sentido, como refere Vieira de Andrade: “A inexistência não é hoje uma categoria
necessária enquanto tipo de invalidade, distinta da nulidade. No entanto, tendo em conta
que por vezes as próprias leis se referem a atos inexistentes, em contextos que não podem
101
significar a mera situação de facto de inexistência, pode admitir-se a figura para efeitos
de impugnação – já não se pode é falar de uma “nulidade-inexistência”, para
caracterizar um subconjunto de atos nulos, com vícios muito graves, aos quais se devesse
aplicar, por princípio, em termos radicais, o regime da nulidade, porque o CPA revisto
eliminou a categoria das nulidades por natureza (por “falta de elementos essenciais”).”
Já o ato nulo não é uma mera aparência, visto que é um ato acabado ou perfeito, sendo
um ato de autoridade, com todos os seus elementos, mas é um ato que padece de um
vício grave e evidente, sendo incompatível com o princípio da legalidade da
administração a subsistência de qualquer efeito daquele ato. à não pode produzir efeitos
um ato que atende de forma grave à ordem jurídica.
O ato nulo não produz quaisquer efeitos e face a este está legitimado o direito de
resistência. No entanto, a legitimidade de resistência há de depender de uma futura
qualificação que fará o tribunal, sendo que é um risco desobedecer a este ato nulo, pois o
tribunal pode não o classificar como tal.
Por isso, é necessário encarar o art.161 CPA cum grano salis, visto que há mais situações
de nulidade do que aquilo que é estabelecido neste nº1. Cada uma das situações aqui
descritas tem de ter sempre presente a ideia de gravidade e evidência.
Tipos de invalidade:
São tipos de invalidade a nulidade (que determina a improdutividade total do ato como
ato jurídico) e a anulabilidade (que confere ao ato uma produtividade provisória e
condicionada, visto que está sujeito a anulação pelos tribunais ou pela administração,
desde que verificados os determinados condicionamentos).
A anulabilidade tem sido vista como a consequência normal da ilegalidade ou, pelo
menos, como o regime típico da invalidade do ato administrativo. à Porque é que a
anulabilidade é o regime típico quando o princípio da legalidade poderia proclamar o
inverso? Devido a razões de segurança jurídica, proteção da confiança legitima,
praticabilidade e razões de interesse público, num universo em que se desenvolvem
exponencialmente as áreas de intervenção administrativa e aí ganham importância
decisiva as actividades autorizativa, concessória e prestadora, que visam a constituição
de direitos e a produção de efeitos favoráveis para os particulares.
102
Quanto ao regime da declaração dos atos nulos e da anulação dos atos anuláveis:
Os atos nulos são objeto de uma sentença ou ato meramente declarativo, ou seja, ato da
administração que declara erga omnes a nulidade é um ato declarativo e não
constitutivo, pois o ato vem apenas atestar ou certificar que aquele ato, por ser nulo,
nunca produziu qualquer efeito, independentemente da administração ter pretendido a
pretensão de efeitos.
O ato anulável, na prática, não é muito diferente. O ato produz os seus efeitos e a sentença
do tribunal tem efeitos retroativos, destruindo-se os seus efeitos jurídicos e reconstruindo-
se a situação hipotética legal se não fosse a prática do ato anulável, incorrendo num dever
de indemnizar pelos prejuízos causados.
Uma coisa é um ato administrativo de declaração de nulidade ou uma sentença que o faça,
por definição, com força erga omnes, e outra coisa é qualquer autoridade administrativa
ou tribunal conhecer incidentalmente a nulidade de um ato administrativo quando, por
exemplo, a questão da validade do ato for prejudicial face ao processo civil ou no
procedimento administrativo que corra junto dessa autoridade.
A ineficácia do ato nulo exprime uma incapacidade que resulta da lei como efeito
automático (ipso iure), que o tribunal ou o órgão administrativo competente se limitam
a declarar, enquanto a perturbação da eficácia do ato anulável só se produz mediante
uma pronúncia de anulação, seja administrativa ou judicial, que anule o ato – não
deve, aliás, por isso mesmo, confundir-se um ato nulo (originariamente) com um ato
anulado, já que este produziu validamente efeitos, ainda que provisórios, até à anulação.
103
Nota: Há regimes de nulidades atípicas, nomeadamente no âmbito do urbanismo, que
tem em conta um período de 10 anos, sendo que passado este tempo nada se pode fazer
quanto aos atos de gestão urbanística, tornando-se inimpugnável, tanto por particulares,
pelo ministério público, como qualquer outra entidade.
Neste sentido, o efeito anulatório não se produz, por força da lei, apesar de o ato não ser
válido, já que o vício formal ou substancial se mantém.
Nota: A competência, em abstrato, pode ser discricionária, mas poderá existir uma
redução desta a zero.
Por exemplo: o ato é sempre inválido caso falte a audiência dos interessados. Mas,
pressupondo que a competência é vinculada, por vezes, a audiência não serve de muito,
visto que a administração tem de decidir naquele sentido que lhe é permitido.
104
b) admite-se a irrelevância do vício de procedimento ou de forma quando o fim
visado pela exigência procedimental ou formal preterida tenha sido
alcançado por outra via, isto é, quando da violação não tenha resultado no caso
uma lesão efetiva dos valores e interesses protegidos pelo preceito formal ou
procedimental violado, por esses valores ou interesses terem sido suficientemente
protegidos por outra via (trâmite substituível por outro ou forma suprível por
outra) – corresponde à situação tradicionalmente formulada pela jurisprudência
como “degradação das formalidades essenciais em não essenciais”.
Por exemplo: não houve audiência, mas o interessado conseguiu apresentar um recurso
ou reclamação, tendo a administração conhecido a opinião do particular. Quando ela
nada decide, mesmo que conheça a opinião deste, há uma dupla desconsideração, porque
reiteradamente a administração ignora o particular – não produz a fase de audiência e
não lhe responde à reclamação ou recurso. Neste sentido, isto será relevante, visto que
existiu efetivamente uma lesão dos interesses do interessado.
Os casos de nulidade
O CPA prevê atualmente um único fundamento para a nulidade dos atos administrativos:
a determinação expressa da lei, seja nos casos previstos no artigo 161.º, n.º 2, seja nas
situações previstas em leis avulsas.
105
O nº2 estabelece um paradigma de gravidade e, portanto, temos de modelar situações
convocáveis a propósito destes casos, que se aproximam destes e tomam como referência
a mesma razão de ser. Ou seja, aqui há todo o elenco, mas há situações mais ou menos
próximas não elencadas, tendo de se aplicar a solução prevista nesta lista. Neste sentido,
o “designadamente” previsto no artigo estabelece que, então, podem ocorrer outras
situações, desde que se aproximem desta lista.
Deixou de prever, o CPA, por razões de segurança jurídica, as chamadas nulidades por
natureza, que se verificavam mediante a falta de qualquer elemento essencial do ato.
No que respeita à nulidade, devem ser considerados nulos por natureza aqueles atos que
sofram de um vício especialmente grave e, em princípio, evidente, avaliado em função
das características essenciais de cada tipo de ato.
106
Será de considerar que existem pessoas coletivas de fins específicos que também terão
como um outro limite o território.
Por exemplo: caso de uma câmara municipal que emite uma licença de construção face
a um proprietário do terreno, terreno esse que já está estabelecido nos termos de outro
território e, por isso, o ato emitido por esta é nulo.
107
§ Art.161/2/d - Os atos que ofendam o conteúdo essencial de um direito
fundamental à é uma formulação genérica, com conceitos que oferecem alguma
indeterminação. Aqui, fala-se em Direito Fundamental e não apenas em DLG,
havendo uma invalidade mais abrangente.
Por exemplo: ato de despejo ilegal viola um direito fundamental (direito à habitação) e,
por isso, é nulo. Ainda, será nulo um ato sancionatório em que não tenha sido dada
oportunidade de defesa ao destinatário.
108
obedecer ao quórum de constituição, mas não significa que o quórum deliberativo
esteja preenchido, o que causa a consequência de nulidade – art.29/2 e 3. Ainda,
o tumulto tem de ser algo que se relacione com a inoperatividade do órgão, tem
de ser de tal forma grave que condicione o órgão na sua liberdade e autónomia.
§ Art.161/2/i - Os atos que ofendam os casos julgados.
§ Art.161/2/j - Os atos certificativos de factos inverídicos ou inexistentes à no
fundo, é um vício que se relaciona com os atos declarativos. E, em princípio, esta
alínea abrange também os atos de verificação constitutiva, aqueles atos
administrativos que se esgotam numa verificação, enquanto a verificação dos seus
pressupostos de outros atos administrativos apenas valem para aquele ato e não se
esgotam apenas numa única verificação.
Neste sentido, numa verificação constitutiva, enquanto ato certificativo, deve ter-se por
elemento essencial a veracidade dos factos certificados, sendo a falsidade equiparável à
carência absoluta de objeto ou de conteúdo.
São nulos os atos praticados com usurpação de poder ou fora das atribuições (artigo
161.º, n.º 2, alíneas a) e b) do CPA) – qualificação que valerá também para os atos
praticados por órgão territorialmente incompetente na administração descentralizada, mas
na opinião do Professor também se deve referir a administração desconcentrada.
São nulos também os atos com faltas graves de legitimação (falta de convocatória do
órgão colegial ou falta de reunião, falta absoluta de investidura do titular) – devendo a
tumultuosidade ou a falta de quórum (artigo 161.º, n.º 2, alínea h) do CPA) ser
109
interpretadas, nos casos concretos, em função da sua gravidade (o tumulto terá de ser
violento e, quanto ao quórum, há-de ter-se em conta o disposto no artigo 29.º, n.ºs 2 e 3).
São ainda nulos os atos praticados sob coação absoluta (física) ou coação moral
(artigo 161.º, n.º 2, alínea f) do CPA), mas justifica-se uma “redução teleológica” da
coação moral, que deve ser grave e evidente para gerar a nulidade.
110
formais menores, que devam qualificar-se, em si, como formas «não-
essenciais».
§ Vícios substanciais
I. Os vícios de fim têm relevo autónomo apenas no domínio vinculado,
quando falte o pressuposto abstrato (falta de base legal) ou o pressuposto
de facto (a situação concreta invocada não existe - «erro de facto» - ou não
é subsumível na hipótese legal - «erro de qualificação dos factos» ou «erro
de direito quanto aos factos»).
Aqui, então opera uma distinção entre vícios no domínio discricionário e vícios no
domínio vinculado.
Em alguns casos, a falta de base legal gera nulidade, devido ao princípio da tipicidade
dos atos administrativos, sendo que faz parte da facti species esta base legal, como nos
procedimentos sancionatórios.
Exemplo: é invocado um terramoto e na verdade o que aconteceu foi apenas uma cheia
– falta de pressuposto de facto, havendo um erro de facto; quando a lei prevê
determinado regime quando aconteça um terramoto e esse regime é aplicado a uma cheia
então falta o pressuposto abstrato para a suposta cheia.
Note-se, porém, que a fundamentação errada é irrelevante, quando, apesar do erro, os
pressupostos legais se verifiquem na realidade. Por isso, quando há um engano na
qualificação de facto dada pelo órgão, mas por acaso na realidade ocorreram aqueles
pressupostos, o que importa é que objetivamente ocorram pressupostos concretos que se
subsumam aos pressupostos abstratos.
Os vícios da discricionariedade refletem-se sempre no conteúdo do ato. No domínio
discricionário, quer se trate de espaço de avaliação relativo à própria hipótese legal, quer
se trate de uma prerrogativa de decisão ou de um poder de escolha conferido na estatuição,
os vícios relativos aos pressupostos projetam-se sempre na escolha do conteúdo (por
exemplo, nos casos tradicionais de «desvio de poder»). Normalmente, os vícios relativos
aos pressupostos conduzem à anulabilidade, mas podem provocar nulidades em
circunstâncias que tornem a ilegalidade especialmente grave – quando a falta de base
legal se equipara à falta de atribuições (por exemplo, quando o fim prosseguido pelo ato
seja um interesse privado ilícito, ou em caso de falta de lei habilitante em matéria de
imposição tributária – artigo 161.º, n.º 2, alíneas e) e k)).
111
II. Os vícios de conteúdo incluem, quer os defeitos que afetam diretamente
o conteúdo, quer as incorreções relativas aos motivos que estiveram na
base da decisão discricionária (sendo então, em rigor, vícios na relação
fim-conteúdo).
Em geral, o conteúdo viciado conduz à anulabilidade do ato, mas também aqui se
verificam alguns casos de nulidade: a impossibilidade, a incompreensibilidade e a
ilicitude grave do conteúdo, designadamente nos casos em que constitua ou seja
determinado pela prática de um crime ou ofenda o conteúdo essencial de um direito
fundamental, bem como, nos casos de ato administrativo certificativo, a sua falsidade
(artigo 161.º, n.º 2, alíneas c), d) e j)).
Os vícios no uso de poderes discricionários – que se verificam quando os motivos
invocados pelo autor do ato para tomar a decisão se comprovam inexistentes, deficientes,
falsos, desviados, errados, irrelevantes (assenta a sua decisão em motivos que não são
relevantes para a decisão), contraditórios, incongruentes ou ilegítimos – são vícios na
relação fim-conteúdo (vícios funcionais da decisão), normalmente associados à violação
de princípios jurídicos (imparcialidade, justiça, igualdade, proporcionalidade,
racionalidade, veracidade, boa fé) que provocam, na generalidade dos casos, a
anulabilidade do ato.
112
RECLAMAÇÕES E RECURSOS ADMINISTRATIVOS
§ Reclamação
O particular pode expressar o seu ponto de vista sobre um projeto de ato da administração.
à Através da reclamação, os interessados (186.º) solicitam uma revisão da primeira
decisão ao órgão autor do ato, em princípio no prazo de 15 dias (artigo 191.º) ou, em
caso de omissão ilegal, no prazo de um ano (artigo 187.º).
A vantagem prática da reclamação é que suspende o prazo de impugnação judicial,
embora não impeça o reclamante de propor a ação respetiva e de requerer providências
cautelares (artigo 59.º, n.ºs 4 e 5 do CPTA, bem como os n.ºs 3 e 4 do artigo 190.º do
CPA). Neste sentido, a reclamação não suspende a eficácia do ato, a não ser quando
seja uma reclamação necessária ou então quando o autor do ato, oficiosamente ou a
pedido dos interessados, considere que a execução imediata causa ao destinatário
prejuízos irreparáveis ou de difícil reparação e a suspensão não cause prejuízo de maior
gravidade ao interesse público - artigo 189.º, n.º 2, do CPA.
A reclamação é, em regra, facultativa, mas pode ser necessária, quando, por
determinação legal expressa ou inequívoca, seja pressuposto da impugnação judicial ou
condenação à prática do ato (artigo 185.º, n.ºs 1 e 2). Assim, quando é necessária, será
obrigatório haver uma reclamação pelo interessado para que “se abram as portas do
tribunal”.
Na reclamação pode solicitar-se a declaração de nulidade, a anulação do ato ou a respetiva
convalidação, se o ato for considerado ilegal, ou a sua suspensão, revogação, modificação
ou substituição, por razões de oportunidade ou conveniência (artigo 185.º, n.º 3).
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§ Recursos hierárquicos
Salvo disposição legal em contrário, podem ser objeto de recurso hierárquico todos os
atos administrativos praticados por órgãos subalternos, isto é, sujeitos a poderes de
hierarquia de outros órgãos. Os interessados podem agora também por esse meio
reagir contra a omissão ilegal de atos administrativos por um órgão subalterno
(artigo 193.º do CPA).
O interessado solicita ao superior hierárquico do órgão autor a revisão do ato – que, como
no caso da reclamação, pode consistir na respetiva declaração de nulidade, anulação
ou convalidação, se o ato for considerado ilegal (ou mera confirmação, no caso
contrário). à O superior poderá suspender, revogar, modificar ou substituir o ato,
por razões de oportunidade ou conveniência, ainda que em sentido desfavorável ao
recorrente, mas só quando disponha de poderes dispositivos (e não de mera fiscalização),
por não se tratar de uma competência exclusiva do subalterno (artigo 197.º, n.º 1).
O recurso hierárquico é, em regra, facultativo, mas pode ser necessário, quando, por
determinação legal expressa, seja pressuposto da impugnação judicial ou da condenação
à prática do ato (artigo 185.º, n.ºs 1 e 2).
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um facto ou um ato jurídico que desencadeia a eficácia do ato recorrido, bem com o início
da contagem do prazo para a respetiva impugnação judicial, ou, em caso de omissão, para
o pedido de condenação à prática de ato devido (artigo 198.º, n.º 4 do CPA)
Nos recursos especiais delegatórios há recurso para outro órgão da mesma pessoa
coletiva, mas quando não haja hierarquia, incluindo o recurso de atos do órgão delegado
para o delegante ou de decisão de membro, comissão, secção ou de segmento de órgão
colegial para o plenário (mesmo que a lei refira a impugnação como “reclamação”.
Nos recursos tutelares recorre-se para o órgão de outra pessoa coletiva, com poderes de
superintendência ou de tutela.
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