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INSTITUTO SUPERIOR DE CIÊNCIAS E EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA 1

DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS HUMANAS

LICENCIATURA EM DIREITO

INSTITUTO SUPERIOR DE CIÊNCIAS E EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA


DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS HUMANAS
LICENCIATURA EM DIREITO

PRINCIPIOS BASILARES QUE NORTEIAM A ADMINISTRAÇÃO EM MOCAMBIQUE

O SISTEMA ELEITORAL MOÇAMBICANO

GILBERTO SEBASTIÃO JOSÉ

GILBERTO SEBASTIÃO JO

MAXIXE, 8 de Abril de 2021


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Instituto Superior de Ciências e Educação à Distância

CENTRO DE RECURSO MAXIXE

1º Ano 2020
1. O estudante:

Nome: Gilberto Sebastião José

Código do Estudante:
Curso: Direito
41200624

Ano de Frequência: 2˚ano /2021

2. O trabalho

Trabalho de: Código:

Direito Administrativo ISCED12-CJURCFE002

Tutor: Nº de Páginas: 20

Registo de Data da Entrega:

Recepção por:

3. A correcção:

Corrigido por:

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4. Feedback do Tutor:
3

Indice
INTRODUÇÃO ............................................................................................................................................ 4
2. PRINCIPIOS BASILARES QUE NORTEIAM A ADMINISTRAÇÃO EM MOCAMBIQUE ............. 5
2.1 Breves Conceitos sobre Administração, Direito e Estado. ..................................................................... 5
2.1.1 O Direito ....................................................................................................................................... 5
2.1.2 O Estado .............................................................................................................................................. 6
3. DIREITO E ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA ....................................................................................... 7
3.1 A Administração Publica ........................................................................................................................ 7
3.2 A Admiração Publica em Moçambique ................................................................................................. 7
3.3 Administração Pública Em Moçambique Após Independência .............................................................. 8
3.3.1 A Primeira Republica ........................................................................................................................... 8
3.3.2 A Segunda República ........................................................................................................................... 9
3.3.3 A Terceira Republica .......................................................................................................................... 9
4. O ESTADO E A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA EM MOÇAMBIQUE ........................................... 9
4.1 Modelo de administração pública em Moçambique ............................................................................. 10
4.1.1 Modelo Burocrático da Gestão Administrativa ................................................................................. 11
4.1. 2 Principais Problemas enfrentados pelo modelo Burocrático da Gestão Administrativa ................... 12
5. PRINCÍPIOS ESTRUTURANTE DO REGIME ADMINISTRATIVO MOÇAMBICANO ............ 15
5.1 Os poderes............................................................................................................................................. 15
5.1.2 Poder Regulamentar ........................................................................................................................... 15
5.1.3 O poder de decisão Unilateral ............................................................................................................ 16
5.1.4 O Poder de Execução Coerciva .......................................................................................................... 16
5.2 O Princípio da Separação dos Poderes ................................................................................................. 16
5.3 Justiça Administrativa Moçambicana .................................................................................................. 17
6. CONCLUSÃO. ................................................................................................................................... 18
7. BIBLIOGAFIA ................................................................................................................................... 19
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INTRODUÇÃO
A Administração é um importante ramo do saber a considerar pelos estudiosos da área de Direito,
pelo facto de ser a área da ciência responsável por gerir as relações humanas entre grupos ou indivíduos
com interesses comuns entre si, a gestão do dia-a-dia dos estado e as relações entre o estado e os
particulares.

O presente trabalho tem como objetivo analisar os princípios basilares que norteiam a
Administração em Moçambique, no que se refere a um amplo conjunto de princípios, práticas e
técnicas empregadas com o objetivo de conduzir a ação de um grupo de indivíduos, com a finalidade de
se chegar a um determinado resultado a parir dos princípios e dos conceitos existentes, consolidados
pelo mundo, centrando dentro da perspetiva da o Ciência do Direito.
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2. PRINCIPIOS BASILARES QUE NORTEIAM A ADMINISTRAÇÃO EM MOCAMBIQUE

2.1 Breves Conceitos sobre Administração, Direito e Estado.

Quando se pretende abordar com profundidade os princípios que norteiam a administração em


Moçambique, tal não se pode efetivar sem que se faça uma abordagem aos conceitos
Administração, Direito e Estado, pois estes três estão intricadamente ligados um ao outro.

No conceito geral, a administração é definida como a arte ou ciência de alocar os recursos da


melhor maneira possível, maximizando da melhor forma possível o que está disponível, evitando
o desperdício e obtendo os melhores resultados para a organização. Para isso é indispensável o uso
de quatro funções principais da administração tais como a Planeamento, Organização Direção e
Controlo.

Segundo Chiavenato (2003), a palavra administração vem latim, ad que significa direção e mister
que significa subordinação ou obediência, ou seja quem realiza uma função sob comando de outa
ou presta serviço a outra.

Por outro lado, de acordo com Maximiano (2007), a administração refere-se a um trabalho em que
as pessoas buscam realizar seus objetivos próprios ou de terceiros (organizações) com a finalidade
de alcançar as metas e objetivos traçados.

2.1.1 O Direito

O direito é o conjunto de normas de conduta impostas pelo Estado, os quais se traduzem em princípios
de conduta social com finalidade de realizar Justiça, assegurando a sua existência e a coexistência
pacífica dos indivíduos em sociedade. O Direito para fins didáticos é dividido inicialmente em dois
principais ramos os quais denominam-se Direto Privado e o Direito Publico. Consoante a sua
destinação.

Segundo Reale (2002), o direito é um sistema ordenação heterónoma, coercível e bilateral


atributiva das relações de convivência, segundo uma integração normativa de fatos segundo
valores.
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Os procedimentos, os padrões de conduta não nascem na consciência de cada indivíduo. A


sociedade cria essas regras de forma espontânea, natural e por considerá-las úteis ao bem-estar,
passa a impor o seu cumprimento.

O caráter heterónomo dessas regras é resultado do facto de que obrigam os indivíduos


independentemente de suas vontades.

O Direito possui heteronomia, que quer dizer que mesmo independente de vontade, o indivíduo é
obrigado a se adaptar e aceitar regras instituídas pela sociedade de acordo com preceito.

2.1.2 O Estado
O Estado detém o poder absoluto, dentro de seu território físico e legal, e a política atua nessa
esfera como força motriz, capaz de fazer o Estado funcionar dentro de seus parâmetros, dando
certa conotação.

Algumas confusões se estabelecem quando se fala do Estado e da administração pública. Em


primeiro lugar, há que esclarecer que o Estado é uma entidade jurídica ou seja é uma pessoa
colectiva e administração pública no sentido material é a actividade que o Estado desenvolve.

Em Moçambique o Estado sofreu uma grande transição desde o tempo Colonial até os dias atuais,
passando do Socialismo para liberalismo e por último para a democracia atual.

Nesse meio tempo, a sociedade civil foi ganhando mais espaço e poder político sobre o próprio
governo, os políticos e funcionários públicos, influenciando assim nas decisões do Estado.

Algumas correntes de pensamento afirmam que, o Direito como regra de conduta coercitiva, nasce
da ideologia da classe dominante, que é precisamente a classe burguesa. Assim, a dominação
econômica de uns poucos sobre tantos outros se legitima por intermédio de um Estado de Direito,
cujo princípio capital é a lei.

Por outro lado, a concepção de Estado surge a partir da propriedade privada e da divisão social do
trabalho. Para esses, o Estado criaria as condições necessárias para o desenvolvimento das relações
capitalistas. O Estado moderno funcionaria como um comitê executivo das classes dominantes, a
chamada burguesia.
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3. DIREITO E ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

3.1 A Administração Publica

Administração pública é o conjunto de órgãos, serviços e agentes do Estado que procuram


satisfazer as necessidades da sociedade, tais como educação, cultura, segurança, saúde, etc.

Por outo lado a Administração Pública pode ser definida como sendo o conjunto das atividades
diretamente destinadas à execução concreta das tarefas ou incumbências consideradas de interesse
público, numa coletividade ou organização estatal.

O estudo da Administração Pública em geral deve partir do conceito de Estado e Governo, sobre
os quais baseia-se toda a concepção moderna de organização e funcionamento dos serviços
públicos a serem prestados aos administrados.

3.2 A Admiração Publica em Moçambique

O Estado Moçambicano encontra na Administração Pública o instrumento indispensável à


execução das tarefas a que foi criado, ou seja, a gestão dos interesses e bem-estar da coletividade,
com vistas ao progresso económico e social.

A Administração Pública no intuito de concretização de seu fim essencial que é o bem-estar da


coletividade deve guiar-se em suas atividades pelos denominados Princípios da Administração
Pública. Para tal, ela submete-se aos princípios administrativos, os quais vêm disciplinar
sua atividade, estabelecendo, destarte, limites ao seu poder e dever, evitando excessos ou abusos,
sejam eles decorrentes de ilegalidades ou de actos discricionários.

O surgimento e a evolução histórica do Direito Administrativo em Moçambique cinge-se, de uma


forma geral, a história geral do país, isto é, num período colonial e um período pós-colonial. Mas,
a coincidência não é total e perfeita em termos de duração porque, depois da independência do De
Moçambique em 1975, a influência do direito colonial esteve sempre presente até a grande reforma
do ano 2001.
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A administração pública em Moçambique passou por um longo processo de evolução e foi


dominada desde o período colonial até ao Moçambique independente pelo ciclo de centralização
e descentralização da mesma. Foi também caracterizada sobretudo no período colonial por um
volume de decretos que muitas vezes ficavam nos papéis ou em teoria devido a debilidade
financeira e consequente dependência do capital internacional.

Da independência até a chamada terceira Republica a administração foi introduzindo reformas em


virtude do alinhamento, em primeiro lugar com relação a vontade dos parceiros de cooperação e
em segundo lugar em função da satisfação dos utentes, a influência do direito colonial esteve
sempre presente até a grande reforma do ano 2001.

3.3 Administração Pública Em Moçambique Após Independência


Para melhor compreender a evolução histórica da administração pública em moçambique, o
presente trabalho foi estruturado em três fases que são designados Primeira, Segunda e Terceira
Republica.

3.3.1 A Primeira Republica


A Primeira Republica, inaugura-se com a proclamação da independência em 1975 e é anunciada
como Republica Popular de Moçambique pela Constituição de 1975 e vai até 1986 com a morte
do Presidente Samora Machel.

Segundo Rocha (2001), a Constituição de 75 definia em princípios gerais a subordinação da


política do Estado à FRELIMO e impunha o sistema de partido único. O terceiro Congresso da
FRELIMO realizado em Fevereiro de 1977 definiu a linha Marxista – Leninista do Governo
moçambicano e determinava que Moçambique seria um país Socialista.

Na base disso cria-se um Aparelho de Estado centralmente planificado que sobrevivia a múltiplas
adversidades desde os recursos materiais aos humanos. O que levou ao chamamento dos jovens
ainda a frequentar a escola a integrar no aparelho de Estado, os chamados Jovens de 8 de Março,
como também, a precipitação na formação de moçambicanos no exterior sobretudo nos países
socialistas.
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Na hierarquia governativa estava no topo o Presidente da Republica; ao nível central: os Ministros;


ao nível da base: os Governadores Provinciais, os Administradores Distritais, os Chefes dos Postos
Administrativos e Chefes das Localidades.

3.3.2 A Segunda República


A Segunda República é inaugurada pelo Presidente Joaquim Alberto Chissano, vai até 1992, ano
da assinatura dos Acordos de Paz de Roma. A Republica foi marcada pela alteração da
Constituição em 1990 que, operou profundas mundanas na administração pública. A passagem do
sistema socialista para o capitalista arrastava consigo a saída do mono partidarismo para
multipartidarismo. Nascia assim, um Estado de Direito assente na divisão tripartida de poderes
(Executivo, Legislativo e Judicial), cria condições para a transformação, em 1995, da Assembleia
Popular para Assembleia da Republica como também o princípio da descentralização que através
de Leis avulsas, que manifestou-se em 1998 com a criação das Autarquias Locais conhecidas como
Municípios.

3.3.3 A Terceira Republica


A Terceira Republica começa em 1994 com a realização das primeiras Eleições Geraisatravés de
voto directo e secreto. Destacaram-se como avanços na administração a existência de três Poderes:
Executivo, Legislativo e Judiciário com os seus respectivos presidentes; a nova Constituição de
2004 que aprofundou a descentralização e desconcentração do poder tendo ditado por via de Leis
avulso a alteração dos Conselhos Executivos para Governos Distritais em tabela as secretarias
Distritais e a figura do Secretario Permanente; criação de novos Distritos e reconhecimento das
Autoridades Tradicionais; actualização do Regulamento do Estatuto do Funcionário e Agente do
Estado; informatização do património do Estado, implementação do E-Sistaf e E-folio, de entre
outras reformas no sector público.

4. O ESTADO E A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA EM MOÇAMBIQUE

As relações entre o Estado e a administração pública estão cada vez mais revigoradas, por meio
da intrínseca complementaridade entre seus órgãos, o que contribui para intensificar a confusão
entre os dois aparatos.
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Como foi referido anteriormente, no contexto do Estado racional moderno, a administração pública
e a burocracia racional-legal caminham juntas com o intuito de responder às demandas emanadas
do ambiente social, por meio de suas estruturas institucionais. Por conseguinte, o exercício das
funções básicas e, ou sociais do Estado, com vista à ecfetivação de políticas públicas, é garantido
através de órgãos de administração pública que corporizam o aparelho burocrático

Segundo Prates (2007), A administração pública constitui um fenômeno do Estado, passou a ser
a estrutura predominante de administração. Assim, pode-se afirmar que o marco definitivo do
surgimento da administração de natureza pública seja o advento do Estado burocrático moderno.

No âmbito de seu funcionamento, a dimensão política da ação do Estado é desempenhada pelo


governo, enquanto que, a dimensão técnico-legal é competência da administração pública,
representada por um corpo de burocratas e ou tecnocratas.

De acordo com Heady (1970), a administração pública como um aspecto da atividade


governamental existe desde que os sistemas políticos funcionam e tentam alcançar os objetivos
programados e estabelecidos pelos que tomam decisões políticas.

Neste contexto, em Moçambique a administração pública é vista como o desempenho sistemático,


legal e técnico, dos serviços próprios do Estado ou por ele assumidos em prol da coletividade;
cujos órgãos e servidores, são suportados através de recursos públicos, em que as atividades são
realizadas com base em regras impessoais e legais, responsáveis pela tomada de decisões e
implementação das políticas, assim como as normas e ações necessárias na gestão da coisa pública
para o alcance do bem- estar social.

4.1 Modelo de administração pública em Moçambique


O que tem sido denominado de administração pública sofreu ao longo da evolução das
organizações sociais, profundas e importantes mudanças no que concerne ao modelo que
estabelece as diretrizes do seu funcionamento.

De acordo com Caetano (1997), revela que existe uma relação intrínseca entre os momentos
políticos paradigmáticos e os modelos de gestão pública. Neste sentido, as reformas, operadas no
seio do aparato estatal, pressupõem a reestruturação administrativa com base num determinado
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paradigma estatal, visto que a administração pública é responsável pelo funcionamento das
instituições do Estado na sua globalidade.

Assim, em estreita ligação com a modernização das instituições estatais, a administração do Estado
a nível global evoluiu baseando-se em três modelos: administração pública patrimonial,
burocrática e gerência.

No presente trabalho será abordado apenas o modelo da Administração Publica Burocrática é o


adotado atualmente na República de Moçambique, adaptado as dinâmicas próprias que ao longo
do tempo foram surgindo, principalmente em matérias de Descentralização Administrativa.

4.1.1 Modelo Burocrático da Gestão Administrativa


O surgimento da burocracia moderna, no século XIX, está ligado, também, à necessidade que o
poder estatal teve de se afirmar, em oposição a poderes feudais ou regionais. Neste contexto,
processou-se a substituição das formas patrimonialistas de administrar o Estado, por meio de uma
reorganização do Estado sob perspectiva burocrática.

Essa organização administrativa se destaca por possuir um sistema formal de regras e objetivos, é
reconhecida como um instrumento técnico que serve para mobilizar energias humanas com vista
a alcançar finalidades pré-estabelecidas.

Segundo Matias-Pereira (1999), foi em decorrência do crescimento das instituições públicas e das
organizações privadas, que atingiu dimensões gigantescas, que a burocracia se tornou uma
presença dominante nas sociedades modernas passando a ser destacados os aspetos regulativos
institucionais que definem as bases do comportamento considerado socialmente adequado,
regulado por meio de processos formais. Tais elementos regulativos são maioritariamente
provenientes do Estado.

Este padrão organizacional e funcional, cujos alicerces são a hierarquia rígida e normas
impessoais, onde prevalece o controlo dos procedimentos em detrimento dos resultados, constitui
o modelo burocrático, comumente designado de Administração Burocrática. Com o advento da
modernização, a configuração e as relações de poder passaram a ser largamente influenciadas por
princípios burocráticos.
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Segundo Motta e Bresser- Pereira (1986), a organização burocrática é o tipo de sistema social
dominante nas sociedades modernas; é uma estratégia de administração e de dominação; é fruto e
berço da burocracia, com a qual pode inclusive ser identificada. A burocracia pode constituir-se
em um grupo ou uma classe social, mas é também uma forma de poder que se estrutura através das
organizações burocráticas.

De acordo com Selznick (1972), a administração burocrática deriva do tipo ideal weberiano,
sustentado por princípios como regras contidas em documentos, impessoalidade, sistema
hierárquico, meritocracia, padronização e alta divisão de responsabilidade. É um sistema
impessoal, formal e racional, para além de ser um mecanismo utilizado para a satisfação dos
objetivos governamentais, necessita de conhecimento técnico e de princípios orientadores de suas
ações.

Segundo Matias-Pereira (1999), numa administração pública burocrática, a máquina estatal é


regulada por regras rígidas, criadas para a prossecução dos fins superiores do Estado, para estancar
os abusos intrinsecamente ligados ao modelo patrimonialista. Por isso, o controle administrativo
é exacerbado para impedir a prática do nepotismo e da corrupção, dentre outras práticas ilícitas,
que são peculiares ao patrimonialismo.

É importante destacar que nenhum Estado moderno prescinde de uma burocracia competente pois
a burocracia é uma forma de divisão do poder e do trabalho que os indivíduos socialmente
organizados se submetem. As componentes estruturais das formas de divisão social do trabalho
estão impregnadas de princípios burocráticos.

Assim, a burocracia é um fenômeno que ocorre tanto nos países socialistas como nos países
capitalistas. No entanto, é intensa nos Estados socialistas porque a burocracia é fortemente usada
como instrumento de dominação e a lógica administrativa desses Estados é eminentemente
burocrática. Talvez por esse facto, Moçambique tenha envergado por este modelo, logo nos
primórdios da independência, muito pela suas opção de governação socialista,

4.1. 2 Principais Problemas enfrentados pelo modelo Burocrático da Gestão Administrativa


Apesar da sua solidez, incorpora mecanismos de funcionamento responsáveis pela emergência de
várias disfunções, ao nível do aparato burocrático. Constitui entrave para o alcance de muitas
aspirações sociais que acompanham o progresso das sociedades.
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Constatou- se que, a burocracia é a principal responsável pela incapacidade institucionais em


adaptar-se ao ritmo das transformações sociais, políticas e econômicas, ela apresenta disfunções
como excesso de formalidade, autoritarismo, inflexibilidade, rigidez, lentidão, baixo desempenho
e ineficiência. Esse modelo foi posto em causa porque não consegue responder, cabalmente, as
necessidades que as transformações sociais propiciaram.

Os problemas da burocracia motivaram a proliferação de posicionamentos contra a permanência


desse sistema administrativo da forma como se apresenta. Entre, os anos 70 e 80, o contexto
internacional caracterizava-se pela difusão de teorias e reflexões críticas desfavoráveis ao poder
das tecnocracias estatais e que eram motivadas pela crise do socialismo e pela consequente
ascensão do neoliberalismo. Novas ideias surgiram na esfera da ciência administrativa que
despoletaram críticas às organizações tradicionais, tendo acirrado o debate sobre os méritos e
deméritos da burocracia.

Segundo Souza (2003), as críticas ao modelo weberiano de burocracia foram, recentemente,


reforçadas e generalizadas pelo movimento de reestruturação da administração pública, cujas
teorias receberam a designação de Nova Administração Pública (NAP) ou Nova Gestão Pública.
A partir da visão trazida neste contexto, procura-se “desenvolver programas de estímulo e apoio
à reorganização dos aparatos burocráticos e à reconstrução dos Estados.

De acordo com Souza (2003), a discussão referente à gestão pública debruçou-se sobre os arranjos
institucionais alternativos ao modelo burocrático. Dentro dessa esfera, esforços têm sido
desencadeados com o intuito de substituir o modelo autoritário e burocrático, ainda presente, por
um outro alicerçado no novo conceito de gestão pública. Constatou-se que, o já desgastado modelo
burocrático de administrar o Estado necessita ser substituído,

Deste modo, para além desses problemas, foram apontados outros durante o diagnóstico que
conduziu às reformas institucionais. Já no decurso da década de 1980, boa parte dos
reformuladores considerava que a necessidade da eficiência governamental implicava uma
modificação profunda do modelo weberiano, classificado como lento e excessivamente apegado
a normas.

Segundo Bresser-Pereira (1998), o grande drama dos governos modernos está no enorme obstáculo
para um gerenciamento eficiente que as leis e práticas burocráticas representam. A administração
burocrática, ao concentra-se no controle legalístico de processos administrativos para lhes dar uma
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inalcançável segurança total contra a corrupção e o nepotismo inviabiliza decisões com


criatividade necessária para fazer frente às mudanças que estão sempre ocorrendo e torna
impossível cobrar trabalho e estimular bom desempenho dos funcionários.

É neste contexto que nasce a burocratização racional-legal surgiu com a concepção de um sistema
jurídico-legal para articular as relações entre os cidadãos baseando se na igualdade conferida pela
lei, garantindo o exercício do sistema democrático liberal de governo. Esse conjunto de traços
estruturais burocráticos, cujas características dominantes são apresentadas a seguir (quadro 1),
contribuem para a manutenção e fortalecimento da ordem estabelecida para garantir o
funcionamento da máquina estatal.

Tipo de modelo Características predominantes

 Hierarquia funcional - exercício de um cargo ou função explicitamente


definida;

 Rotina inflexível

 Morosidade no desempenho do serviço administrativo

 Baixo desempenho devido a inflexibilidade e lentidão

 Prioriza a hierarquia, a especialização, a obediência a regras e


procedimentos, a formalização, a impessoalidade, neutralidade e
competência técnica
Burocrático
 Separação entre o público e o privado

 Administração preocupada em cumprir com regras e regulamentos


concebidos para a máquina administrativa

 Hierarquia rígida, autoritarismo; dominação racional- legal

 Excesso de formalidade; regras rígidas

 Padronização e alta divisão do trabalho

 Especialização e meritocracia

Quadro 1. Características da Burocracia racional-legal na Administração Pública


Fonte: Bresser-Pereira (1998).
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5. PRINCÍPIOS ESTRUTURANTE DO REGIME ADMINISTRATIVO MOÇAMBICANO

No Regime Administrativo Moçambicano, o agente da Administração Pública só pode fazer


aquilo que está previsto em lei. O Administrador pode fazer tudo àquilo que estiver contemplado
pelo direito, entendendo-se por “direito” a Constituição, Lei infraconstitucional, princípios,
doutrina, jurisprudência, eventualmente usos e costumes (legalidade extensiva).

Um dos princípios estruturante do regime administrativo é de que a Administração deve ter


privilégios e poderes para cumprir eficazmente as suas missões e tarefas de interesse público, que
lhes são atribuídas. As prerrogativas da Administração Moçambicana podem ser classificadas em
duas grandes categorias. Primeiro, a Administração Pública dispõe de poderes em relação aos
particulares; segundo, a Administração Pública beneficia de protecções especiais que lhes são
concedidas, pela ordem jurídica, contra a acção dos particulares.

5.1 Os poderes
A Administração Pública Moçambicana tem poderes de Regulamentação, Decisão e de Execução.
Por outras palavras, o que caracteriza o Direito Administrativo Moçambicano na ordem das
prerrogativas, como, regra geral, em qualquer outro sistema de administração executiva, é a
faculdade que lhe é conferida de tomar decisões juridicamente executórias e de garantir a sua
execução material.

5.1.2 Poder Regulamentar


A Administração Pública, tem o poder de elaborar regulamentos, que são designados de poder
regulamentar, também conhecidos como de faculdade regulamentaria.

Os regulamentos e as demais disposições normativas que a Administração Pública tem o Direito


de elaborar são considerados como uma fonte de Direito (autónoma).

Neste contexto, é legítimo afirmar que a Administração Pública Moçambicana goza de um poder
regulamentar, porque ela por si só é poder, e desta forma ela tem o direito de definir em que como
vai aplicar a lei.
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De acordo com Amaral (2001), os órgãos administrativos competentes são frequentemente


confrontados com a necessidade de desenvolver os comandos genéricos contidos na lei, com vista
a possibilitar a sua aplicação às situações concretas que ocorrem diariamente. Por vezes é o próprio
legislador que pretende que sejam os órgãos administrativos competentes a disciplinar certos tipos
de situações. Assim, a Administração Pública tem vias para editar regras de conduta gerais e
abstratas com fundamento na lei.

5.1.3 O poder de decisão Unilateral


Nesta situação, a Administração tem o poder de definir unilateralmente (isto é, por exclusiva
autoridade sua e sem necessidade de autorização ou acordo com o interessado) o direito aplicável
a um caso concreto, sendo essa definição unilateral obrigatória para os particulares.

O poder de decisão unilateral pode-se definir como sendo o poder de modificar unilateralmente o
ordenamento jurídico por exclusiva autoridade, e sem necessidade de obter o acordo do
interessado.

5.1.4 O Poder de Execução Coerciva


Originalmente designado privilégio de execução prévia por, Execução Coerciva consiste
no "poder conferido à Administração Pública de, uma vez definido o direito aplicável ao caso,
impor as consequências de tal definição aos seus destinatários, mesmo contra a oposição destes e
sem a prévia intervenção de um tribunal (execução coerciva por via administrativa).

A Administração Pública decide unilateralmente o direito aplicável a um caso concreto e, a partir


desse momento, pode exigir do particular que cumpra o dever ou encargo que lhe foi eficazmente
definido, tendo o direito de executar coativamente (sem recurso prévio aos tribunais) a decisão
que ela própria efectuou em caso de incumprimento da parte do particular. Não obstante, a
Administração só pode exercer este poder "segundo as formas e termos expressamente previstos
na lei.

5.2 O Princípio da Separação dos Poderes


Este princípio consiste numa dupla distinção: a distinção intelectual das funções do Estado, e a
política dos órgãos que devem desempenhar tais funções entendendo-se que para cada função deve
existir um órgão próprio, diferente dos demais, ou um conjunto de órgãos próprios. No campo do
17

Direito Administrativo Moçambicano, o princípio da separação de poderes visa retirar aos


Tribunais a função administrativa, uma vez que até aí, haveria confusão entre as duas funções e os
respetivos órgãos. Foi a separação entre a Administração e a Justiça e Poder Legislativo que
permitiu a consolidação do atual modelo Administrativo.

5.3 Justiça Administrativa Moçambicana

A existência de uma justiça administrativa especializada em Moçambique é fruto da história que


tem uma influência decisiva sobre a estruturação do seu modelo organizativo.
Segundo Sistac (2009). o estudo da história da Justiça Administrativa em Moçambique data da
metade do século XIX até o ano 2000 e caracteriza-se por dois períodos distintos se se tomar em
conta o critério da estabilidade das regras aplicáveis a sua organização e funcionamento.

A primeira fase histórica inicia de 1856 até 1933 data da aprovação da Reforma Administrativa
Ultramarina . Este período caracteriza-se por uma instabilidade crónica em termos organizativo e
de regras processuais regulando o contencioso administrativo.
A segunda fase vai iniciar a partir de 1933 com a aprovação da referida Reforma Administrativa
Ultramarina até a grande reforma de 2001. Este período é marcado pela estabilidade das regras
processuais regulando o contencioso administrativo em Moçambique.

O Tribunal Administrativo é o órgão superior da hierarquia dos tribunais administrativos, fiscais


e aduaneiros, conforme dispõe o n.º 1 do artigo 227 da Constituição da República de Moçambique
(CRM). Compete ao Tribunal Administrativo (n.ºs 1 e 2 do artigo 229 da CRM) julgar as acções
que tenham por objecto litígios emergentes das relações jurídicas administrativas; julgar os
recursos contenciosos interpostos das decisões dos órgãos do Estado, dos respectivos titulares e
agentes; conhecer dos recursos interpostos das decisões proferidas pelos tribunais administrativos,
fiscais e aduaneiros; emitir o Relatório e Parecer sobre a Conta Geral do Estado; fiscalizar,
previamente, a legalidade e a cobertura orçamental dos actos e contratos sujeitos à jurisdição do
Tribunal Administrativo, havendo também na anorgânica do Tribunal Admirativo, os tribunais
Administrativos Províncias e o Tribunal Administrativo da Cidade de Maputo.
18

6. CONCLUSÃO.

No final do presente trabalho, podemos concluir que, no geral os princípios basilares que norteiam
a Administração em Moçambique estão alicerçados no princípio da separação de poderes com
enfoque para o modelo Modelo Burocrático da Gestão Administrativa. Essa organização
administrativa destaca-se por possuir um sistema formal de regras e objetivos, é reconhecida como
um instrumento técnico que serve para mobilizar energias humanas com vista a alcançar
finalidades pré-estabelecidas.

É possivel concluir que um dos princípios estruturante do regime administrativo é de que a


Administração deve ter privilégios e poderes para cumprir eficazmente as suas missões e tarefas
de interesse público.

Não menos importante é o Poder de Execução coerciva que Administração em Moçambique


também possui, segundo as formas e termos expressamente previstos na lei.
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7. BIBLIOGAFIA

1. AMARAL, Diogo Freitas do, (2011). Curso de Direito Administrativo, Volume II,
2ªedição, Almedina, (PDF) Recuperado de: https://www.almedina.net/curso-de-direito-
administrativo-volii
2. CAETANO, M. Manual de direito administrativo, vol. 1 Coimbra: Livraria Almedina,
1997, (PDF) Recuperado de: https://www.almedina.net/manual-de-direito-administrativo
3. CISTAC, Gilles.(2009). O Direito Administrativo em Moçambique: workshop on
administrative law, Hotel Cardoso, Mozambique, 1st – 4th April, (PDF) Recuperado de:
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4. CHIAVENATO, Idalberto (2003). Introdução a teoria geral da Administração, Rio de
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