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Universidade Licungo

Faculdade de Letras e Humanidade

Curso de Direito

RECORRIBILIDADE DO ACTO DEFINITIVO NÃO EXECUTÓRIO

Beira

2022
RECORRIBILIDADE DO ACTO DEFINITIVO NÃO
EXECUTÓRIO

Trabalho a ser apresentado ao Curso de Direito da


Faculdade de Letras e Humanidade, como
requisito para fins de avaliação.

Beira

2022
INTRODUÇÃO.................................................................................................................4

DA NOÇÃO DO ACTO ADMINISTRATIVO................................................................5

ACTOS ADMINISTRATIVOS DEFINITIVOS E EXECUTÓRIOS..............................6

O Princípio da Tripla Definitividade. Noção de Acto Definitivo..................................6

ACTOS EXECUTÓRIOS E NÃO EXECUTÓRIOS.......................................................8

Actos que Não são Executórios.....................................................................................8

RECORRIBILIDADE DO ACTO DEFINITIVO NÃO EXECUTÓRIO........................9

Os Meios Contenciosos de impugnação dos actos administrativos...............................9

Da inconstitucionalidade do nº 1 do artigo 33 da Lei nº 7/2014, de 28 de Fevereiro..10

CONCLUSÃO.................................................................................................................12

REFERENCIA BIBLIOGRÁFICA.................................................................................13
4

INTRODUÇÃO

A actuação da Administração Pública é vertida maior parte das vezes por meio do acto
administrativo, assim sendo, com o presente trabalho de Direito Administrativo
pretende-se aflorar em torno da problemática da impugnação dos actos dos actos
definitivos não executórios.

Para a realização do trabalho foi utilizado o método indutivo, que como base a ideia de
Lakatos & Marconi1, consistiu num processo mental por intermédio do qual, partiu-se
de dados particulares, suficientemente constatados, chegando em verdade geral ou
universal. A implementação desse método no presente trabalho consistiu na recolha de
informações particulares disponíveis, e a partir destas, chegou-se a conclusões de
carácter genérico.

Quanto ao procedimento, para o presente trabalho foi adoptado o método da pesquisa


bibliográfica, que com base na ideia de Gil 2, no presente trabalho consistiu na recolha
de diverso material já elaborado, constituindo principalmente em livros disponíveis nas
bibliotecas, artigos científicos, legislação nacional.

O trabalho em apreço encontra-se divido em três principais partes; a primeira parte, o


trabalho abordar em torno da noção geral do acto administrativo e dos seus elementos;
já na segunda parte, o trabalho aborda em torno do acto administrativo executório; a
terceira parte do trabalho é reservada a abordagem do acto executório e não executório;
o último capítulo do trabalho é reservado a abordagem da recorribilidade do acto
definitivo não executório.

1
Marconi, M. D. A. & Lakatos, E. M. 2013, Fundamentos da metodologia científica,
Editora Atlas
2
Gil, A. C. 2008 Métodos e técnicas de pesquisa social, 6a ed, São Paulo, Atlas Editora
5

DA NOÇÃO DO ACTO ADMINISTRATIVO

O acto administrativo é o acto jurídico unilateral praticado por um órgão de


Administração no exercício do poder administrativo e que visa a produção de efeitos
jurídicos sobre uma situação individual num caso concreto, como é do entendimento do
professor Diogo Freita do Amaral3. Sendo assim, percebe-se que o conceito acima dado
de acto administrativo abarca os seguintes elementos do conceito do acto administrativo
são: um acto jurídico; Trata-se de um acto unilateral; Trata-se de um acto
organicamente administrativo; Trata-se de um acto materialmente administrativo; Trata-
se de um acto que versa sobre uma situação individual num caso concreto.

Acto administrativo é um acto jurídico, ou seja, uma conduta voluntária. Dentro dos
factos jurídicos em sentido amplo figuram várias realidades e, nomeadamente, os actos
jurídicos. O acto administrativo é um acto jurídico. Sendo ele um acto jurídico, são em
regra aplicáveis ao acto administrativo os Princípios Gerais de Direito referentes aos
actos jurídicos em geral.

Por outro lado, e uma vez que o acto administrativo é um acto jurídico em sentido
próprio, isso significa que ficam de fora do conceito, sob este aspecto: Os factos
jurídicos involuntários; As operações materiais; As actividades juridicamente
irrelevantes.

Ao dizer que o acto administrativo é unilateral, pretende-se referir que ele é um acto
jurídico que provém de um autor cuja declaração é perfeita independentemente do
concurso das vontades de outros sujeitos. Nele se manifesta uma vontade da
Administração Pública, a qual não necessita da vontade de mais ninguém, e
nomeadamente não necessita da vontade do particular, para ser perfeita, como é do
entendimento do professor Diogo Freita do Amaral4..

Por vezes, a eficácia do acto administrativo depende da aceitação do particular


interessado, mas essa aceitação funciona apenas como condição de eficácia do acto –
não íntegra o conceito do próprio acto. Por exemplo o acto de nomeação de um
funcionário público – é um acto unilateral.

3
Amaral, D. F. D. (2015) Curso de Direito Administrativo, Almeida
4
Idem
6

É pois, um acto organicamente administrativo, um acto que provém da Administração


Pública em sentido orgânico ou subjectivo. Isto significa que só os órgãos da
Administração Pública praticam actos administrativos: não há actos administrativos que
não sejam provenientes de órgãos da Administração Pública.

Os indivíduos que por lei ou delegação de poderes têm aptidão para praticar actos
administrativos são órgãos da administração; as nossas leis denominam-nos também
autoridade administrativa.

Também não são actos administrativos por não provirem de um órgão da Administração
Pública, os actos praticados por indivíduos estranhos à Administração Pública, ainda
que se pretendam fazer passar por órgãos desta. É o caso dos usurpadores de funções
públicas.

ACTOS ADMINISTRATIVOS DEFINITIVOS E EXECUTÓRIOS

O conceito de acto definitivo e executório é um conceito da maior importância no


Direito Administrativo, sobretudo porque é nele que assenta a garantia do recurso
contencioso – ou seja, o Direito que os particulares têm de recorrer para os Tribunais
Administrativos contra os actos ilegais da Administração Pública5.

Trata-se do acto administrativo completo, do acto administrativo total, do acto


administrativo apetrechado com todas as suas possíveis “armas e munições” – numa
palavra, o paradigma dos actos administrativos praticados pela Administração Pública.

Com efeito, o acto administrativo definitivo e executório é o acto de autoridade típico: é


o acto em que a Administração Pública se manifesta plenamente como autoridade, como
poder. É designadamente o acto jurídico em que se traduz no caso concreto o pode
administrativo, sob a forma característica de poder unilateral de decisão dotado do
privilégio de execução prévia.

O Princípio da Tripla Definitividade. Noção de Acto Definitivo

É um acto que só poderá ser considerado definitivo, para efeitos de recurso contencioso,
quando haja simultaneamente um acto definitivo em sentido material, horizontal e
vertical.

5
Macie, A. (2014) lições de direito administrativo moçambicano, vol III, Escolar
Escolar
7

O recurso contencioso pressupõe e exige a ocorrência simultânea das três formas de


definitividade.

Noção de “acto definitivo”, é o acto administrativo que tem por conteúdo uma resolução
final que defina a situação jurídica da Administração ou de um particular.

Se um acto de significado polivalente ou ambíguo, verticalmente definitivo, for


notificado ao interessado no termo do procedimento administrativo, sem satisfazer a
pretensão apresentada por aquele, tem necessariamente o sentido de um indeferimento,
uma decisão negativa. A não se entender assim, a Administração Pública teria um meio
prático de cercear as garantias dos cidadãos – não diria que sim nem que não – diria
talvez (seria mesmo melhor para ela do que não dizer coisa nenhuma, considerado o
mecanismo do “acto tácito”).

Há diversas espécies de actos administrativos, cuja a característica comum é a falta – ou


a insuficiente – definitividade. Entre estes actos, podem apontar-se:

a) A Promessa: acto através do qual um órgão da Administração anuncia para um


momento determinado, posterior, a adopção de um certo comportamento,
autovinculando-se perante um particular;
b) A decisão prévia: acto pelo qual um órgão da Administração aprecia a exigência
de certos pressupostos de facto e a observância de certas exigências legais,
sendo que de uns e de outras depende a prática de uma decisão final permissiva;
c) A decisão parcial: acto por via do qual um órgão da Administração antecipa uma
parte da decisão final relativa ao objecto de um acto permissivo, possibilitando
desde logo a adopção pelo particular de um determinado comportamento.
d) A decisão provisória: acto através do qual um órgão da Administração,
recorrendo a uma averiguação sumária dos pressupostos de um tipo legal de
acto, define uma situação jurídica até à prática de uma decisão final, tomada
então com base na averiguação completa de tais pressupostos;
e) A decisão precária: acto por meio do qual um órgão da Administração define
uma situação jurídica com base na ponderação de um interesse público
especialmente instável ou volátil, sujeitando a respectiva consolidação à
concordância do interessado na sua revogação ou apondo-lhe uma condição
suspensiva, que se concretizará na eventual prática de um acto secundário
desintegrativo ou modificativo.
8

ACTOS EXECUTÓRIOS E NÃO EXECUTÓRIOS

O “acto executório”, é o acto administrativo que obriga por si e cuja execução coerciva
imediata a lei permite independentemente de sentença judicia 6l. O acto executório
apresenta duas características:

a) A obrigatoriedade;
b) A possibilidade de execução coerciva por via administrativa.

Não se deve confundir executoriedade (potencialidade ou susceptibilidade de


execução); com execução (efectivação dos imperativos contidos no acto).

O acto pode ser (de direito) executório e não estar (de facto) a ser executado; o acto
pode ser (de facto) executado sem ser (de direito) executório.

Actos que Não são Executórios

a) O acto administrativo pode não ser obrigatório porque ainda não o é, ou porque
já não o é.
i) Actos que ainda não são executórios:

Actos sujeitos a condição suspensiva ou termo inicial;

Actos sujeitos a confirmação;

Actos sujeitos a aprovação;

Actos sujeitos a visto;

Actos que ainda não revistam a forma legal.

ii) Actos que não são executórios:

Actos administrativos suspensivos;

Acto administrativo dos quais se tenha interposto recurso hierárquico com efeitos
suspensivo.

iii) Actos administrativos que não são susceptíveis de execução coerciva por via
administrativa.

Um acto administrativo pode ser insusceptível de execução forçada administrativa por


duas razões muito diferentes: ou porque não é susceptível de execução forçada, pura e
6
Amaral, D. F. D. (2015), op cit
9

simplesmente, ou porque só é susceptível de execução forçada por via judicial. A regra


geral no nosso Direito é, a de que todos os actos da Administração Pública beneficiam
do privilégio da execução prévia; por isso os casos de actos administrativos que não são
susceptíveis de execução coerciva por via administrativa constituem excepção

Finalmente, também não são actos administrativos, por não provirem de órgãos da
Administração Pública, os actos jurídicos praticados por órgãos do Estado integrados no
poder moderador, no poder Legislativo ou no poder judicial.

Ele deve ser praticado no exercício do poder administrativo. Só os actos praticados no


exercício de um poder público para o desempenho de uma actividade administrativa de
gestão pública – só esses é que são actos administrativos.

RECORRIBILIDADE DO ACTO DEFINITIVO NÃO EXECUTÓRIO

Os Meios Contenciosos de impugnação dos actos administrativos

A estas duas modalidades de contencioso administrativo – contencioso por natureza e


contencioso por Atribuição – correspondem dois meios contencioso típicos: o recurso e
a acção. Ao contencioso administrativo por natureza corresponde a figura do recurso; ao
contencioso Administrativo por atribuição corresponde a figura da acção7.

A “acção”, é o meio de garantia que consiste no pedido, feito ao Tribunal


Administrativo competente, de uma primeira definição do Direito aplicável a um litígio
entre um particular e a Administração Pública. Visa resolver um litígio sobre o qual a
Administração Pública não se pronunciou mediante um acto administrativo definitivo. E
não se pronunciou, ou porque não o pode legalmente fazer naquele tipo de assuntos, ou
porque se pronunciou através de um simples acto opinativo, o qual, não é um acto
definitivo e executório, não constitui acto de autoridade.

O “recurso contencioso”, é o meio de garantia que consiste na impugnação, feita perante


o Tribunal Administrativo competente, de um acto administrativo ou de um
regulamento ilegal, a fim de obter a respectiva anulação. Visa resolver um litígio sobre
qual a Administração Pública já tomou posição. E fê-lo através de um acto de
autoridade – justamente, através de acto administrativo ou de regulamento – de tal

7
Idem
10

forma que, mediante esse acto de autoridade, já existe uma primeira definição do
Direito aplicável.

Foi a Administração Pública, actuando como poder, que definiu unilateralmente o


Direito aplicável. O particular vai, apenas, é impugnar, ou seja, atacar, contestar, a
definição que foi feita pela Administração Pública.

Não são recorríveis: Os actos que não sejam actos administrativos; Os actos
administrativos internos; Os actos administrativos não definitivos; Os actos
administrativos não executórios, como vinha consagrado no nº 1 do artigo 33 da Lei nº
7/2014, de 28 de Fevereiro, que tem como epígrafe actos recorríveis, estabelece que só é
admissível recurso dos actos definitivos e executórios.

Da inconstitucionalidade do nº 1 do artigo 33 da Lei nº 7/2014, de 28 de Fevereiro

O Digníssimo Provedor da Justiça, ao abrigo do disposto nos artigos 245, nº 2, alínea f),
da Constituição da República de Moçambique de 2004 e 15, nº 1, alínea d), da Lei nº
7/2006, de 16 de Agosto, veio requerer ao Conselho Constitucional a declaração de
inconstitucionalidade da norma do nº 1 do artigo 33 da Lei nº 7/2014, de 28 de
Fevereiro, lei que regula os procedimentos atinentes ao Processo administrativo
contencioso, alegando que o cidadão tem o direito de recorrer aos tribunais para
impugnar todos os actos que violem os seus direitos estabelecidos na Constituição e nas
demais leis, sem limitação que não seja prevista na Constituição, nos termos do disposto
nos artigos 56 e 69 do mesmo diploma legal; o requerente alegou ainda que nos termos
dos artigos 70 e 253, nº 3 da mesma Constituição, é assegurado ao cidadão o direito ao
recurso contencioso fundado em ilegalidade dos actos administrativos, que prejudiquem
os seus direitos.

O Conselho Constitucional por meio do acórdão nº 6/CC/2016 de 23 de Novembro


declarou a inconstitucionalidade material do nº 1 do artigo 33 da Lei nº 7/2014, de 28 de
Fevereiro, por violar o artigo 70, conjugado com a primeira parte do nº 1 do artigo 62,
os nºs 2 e 3 do artigo 56, os nºs 1 e 2 do artigo 212, e ainda o nº 3 do artigo 253, todos
da Constituição da República de Moçambique de 2004.

Entende o CC que legislador constituinte no nº 2 do artigo 253 da CRM, determinou


que os actos administrativos que afectem direitos ou interesses dos cidadãos legalmente
tutelados sejam fundamentados, para possibilitar que os mesmos possam ser
11

impugnados contenciosamente, em qualquer fase do seu procedimento, desde que sejam


ilegais e prejudiquem os direitos dos administrados, de acordo com o nº 3 deste mesmo
artigo da Constituição da República de Moçambique de 2004.
12

CONCLUSÃO

Finalizado o trabalho conclui-se que o acto administrativo é o acto jurídico unilateral


praticado por um órgão de Administração no exercício do poder administrativo e que
visa a produção de efeitos jurídicos sobre uma situação individual num caso concreto.

O acto definitivo e executório é o acto administrativo completo, do acto administrativo


total, do acto administrativo apetrechado com todas as suas possíveis armas e munições.
Com efeito, o acto administrativo definitivo e executório é o acto de autoridade típico: é
o acto em que a Administração Pública se manifesta plenamente como autoridade, como
poder.

O conceito de acto definitivo e executório é um conceito da maior importância no


Direito Administrativo, sobretudo porque é nele que assenta a garantia do recurso
contencioso. É um acto que só poderá ser considerado definitivo, para efeitos de recurso
contencioso, quando haja simultaneamente um acto definitivo em sentido material,
horizontal e vertical.

Sendo assim, percebe-se que nem todos os actos administrativo são passiveis de recurso,
o que significas que não são recorríveis os actos que não sejam actos administrativos;
Os actos administrativos internos; Os actos administrativos não definitivos; Os actos
administrativos não executórios, como vinha consagrado no nº 1 do artigo 33 da Lei nº
7/2014, de 28 de Fevereiro, que tem como epígrafe actos recorríveis, estabelece que só é
admissível recurso dos actos definitivos e executórios.

O Conselho Constitucional por meio do acórdão nº 6/CC/2016 de 23 de Novembro


declarou a inconstitucionalidade material do nº 1 do artigo 33 da Lei nº 7/2014, de 28 de
Fevereiro, por violar o artigo 70, conjugado com a primeira parte do nº 1 do artigo 62,
os nºs 2 e 3 do artigo 56, os nºs 1 e 2 do artigo 212, e ainda o nº 3 do artigo 253, todos
da Constituição da República de Moçambique de 2004.
13

REFERENCIA BIBLIOGRÁFICA

Constituição da República de Moçambique de 2014;


Lei nº 7/2014, de 28 de Fevereiro, Lei que regula os procedimentos atinentes ao
Processo administrativo contencioso;
Acórdão nº 6/CC/2016 de 23 de Novembro;
Marconi, M. D. A. & Lakatos, E. M. 2013, Fundamentos da metodologia científica,
Editora Atlas
Gil, A. C. 2008 Métodos e técnicas de pesquisa social, 6a ed, São Paulo, Atlas Editora
Amaral, D. F. D. (2015) Curso de Direito Administrativo, Almeida
Macie, A. (2014) lições de direito administrativo moçambicano, vol III, Escolar Escolar

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