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Atos administrativos

1. Atos privados VS. atos públicos:

1.1. Atos privados: são atos de exercício livre, pois não decorrem e nem dependem
de prévia lei. Isso porque são atos voltados para o atendimento de interesses
privados que, por serem disponíveis, admitem tanto a renúncia quanto a transação.

 São atos regidos por regime privado, principalmente conforme regras do


Código Civil e, por serem atos de regime privado, repercutem efeitos comuns (o ato
de um é igual ao ato do outro), e a validade destes atos dependerá do atendimento
aos pressupostos comuns exigidos pelo Código Civil.

*atenção: a Administração pratica atos privados de regime privado quando


estiver atendendo interesses públicos secundários, que são, na verdade, interesses
privados da Administração, porém, necessários para que a Administração possa
atender interesses primários – são os “atos DA Administração”, tais como locação
de imóveis, contratação de serviços que a Administração consome, tal como
energia, telefone, etc., quando contrata empréstimos, financiamentos e seguro,
entre outros.

1.2. Atos públicos (atos administrativos): são os atos de exercício sempre


condicionado a prévia lei, pois são atos de atendimento aos interesses públicos de
natureza primária, que são indisponíveis.

 São exercidos através do regime público, conferindo à Administração


suas especiais prerrogativas e sujeições. A Administração ocupará, então, um plano
superior de direitos e obrigações, repercutindo efeitos especiais que irão constituir
os atributos dos atos administrativos.

*atributos: conforme visto, atributos dos atos administrativos são os efeitos


jurídicos especiais que estes atos geram a partir do regime público, constituindo a
principal diferença para os atos privados.

 Ao contrário dos atos privados, que serão válidos desde que preenchidos
os pressupostos comuns do Código Civil, os atos administrativos estão “sujeitos e
condicionados” a cinco pressupostos especiais exigidos em lei.

1.3. Atributos:

a) Presunção de legitimidade: todo ato administrativo presume-se legítimo,


isto é, verdadeiro e conforme o direito; é presunção relativa (juris tantum), por
exemplo, a execução de dívida ativa, cabendo ao particular o ônus de provar que
não deve ou que o valor está errado.
b) Imperatividade: é a qualidade pela qual os atos dispõem de força
executória e se impõem aos particulares, independentemente de sua concordância,
por exemplo, o Secretário de Saúde quando dita normas de higiene, sendo que
decorre do exercício do Poder de Polícia. Pode impor obrigação para o
administrado. É o denominado poder extroverso (de império) da Administração.

c) Auto-executoriedade: é o atributo do ato administrativo pelo qual o


Poder Público pode obrigar o administrado a cumpri-lo, independentemente de
ordem judicial.

1.4. Quadro comparativo:

Atos privados Atos públicos


Livre. Condicionado à lei.
Interesse privado (disponíveis). Interesse público primário
(indisponíveis).
Regime privado (Código Civil). Regime público (especiais
prerrogativas e sujeições).
Efeitos comuns. Efeitos especiais (atributos).
Pressupostos comuns exigidos pelo CC. Pressupostos especiais.

2. Atos públicos administrativos (atos administrativos): o ato administrativo é


sempre condicionado e regido por uma prévia lei autorizadora, e, por atenderem o
interesse público primário, são indisponíveis e não admitem renúncia e nem
transação. Não são praticados conforme a autonomia da vontade, mas em
decorrência da obrigatoriedade do cumprimento da lei. Logo, são atos
caracterizados pela Administração gozando de suas prerrogativas e sujeições,
produzindo efeitos especiais (atributos), exigindo pressupostos especiais.

2.1. Perfeição, validade e eficácia: para tanto, a lei exige alguns pressupostos
especiais: I) competência; II) finalidade; III) forma; IV) motivo; V) objetivo.

*dica: somando as iniciais tem-se a palavra ComFiFoMOB ou CoFoFiMOB.

a) Perfeito: o ato somente é perfeito quando os cinco pressupostos


estiverem integralmente preenchidos.

b) Validade: é válido quando o preenchimento dos pressupostos estiverem


respeitados os parâmetros e os limites da lei.

c) Eficaz: o ato é eficaz quando estiver apto a gerar seus efeitos próprios.

2.1.1. Frases comuns em concursos:

a) O ato perfeito e válido é eficaz? O ato perfeito, que é aquele integralmente


preenchido em todos os seus pressupostos, em que seja válido, com o
preenchimento, respeitando os limites da lei, será eficaz, podendo gerar seus
efeitos próprios – portanto, esta frase é verdadeira.

b) O ato perfeito e válido pode ser ineficaz? O ato perfeito e válido, que
deverá repercutir seus efeitos para fora da Administração ou sobre terceiros,
dependerá de PUBLICIDADE – publicidade NÃO é pressuposto de validade, mas
pressuposto de EFICÁCIA – logo, o ato perfeito válido pode ser ineficaz, quando,
por exemplo, não tiver sido ainda publicado. Portanto, a frase está verdadeira.

c) O ato perfeito e inválido é ineficaz? O ato perfeito, porém inválido, é


aquele que ao ser preenchido violou a lei. Como regra, o ato perfeito, porém
inválido, será ineficaz – portanto, esta frase é verdadeira.

d) O ato perfeito e inválido pode ser eficaz? Excepcionalmente, um ato


perfeito, porém inválido, poderá repercutir seus efeitos próprios conforme a
Teoria do Fato Consumado*, preservando os efeitos, ainda que o ato venha a ser
anulado – portanto, esta frase é verdadeira.

*teoria do fato consumado: as situações jurídicas consolidadas pelo decurso


do tempo, amparadas por decisão judicial, não devem ser desconstituídas, em
razão do princípio da segurança jurídica e da estabilidade das relações sociais (STJ
REsp 709.934/RJ). Assim, se uma decisão judicial autorizou determinada situação
jurídica e, após muitos anos, constatou-se que tal solução não era acertada, ainda
assim não deve ser desconstituída essa situação para que não haja insegurança
jurídica – a jurisprudência tem utilizado tal teoria em casos excepcionais, como é o
caso de aluno que cursa ensino superior por pelo menos 3 anos por decisão
precária (AgRg no REsp 1.267.594/RS de 2012). Todavia, quanto ao concurso
público, situação em que o indivíduo exerce o cargo em razão de liminar, caso a
sentença final seja de improcedência, perderá o cargo público (AgRg no REsp
1.248.007/RS de 2011 e RE 405.964 AgR de 2012).

e) O ato imperfeito pode ser válido e eficaz? O ato imperfeito não pode ser
considerado nem válido e nem eficaz para seus efeitos próprios. O ato imperfeito é
aquele que não está completamente preenchido em todos os seus pressupostos e
elementos exigidos por lei. Para parte da doutrina (Celso Antônio Bandeira de
Mello), dependendo do elemento não preenchido, o ato será INEXISTENTE –
portanto, esta frase é falsa.

f) O ato imperfeito pode ser inválido e eficaz? É falsa, pela mesma razão da
pergunta da letra e).

g) O ato imperfeito pode ser válido e ineficaz? É falsa, pela mesma razão da
pergunta da letra e).

h) O ato imperfeito e inválido é ineficaz? Atos imperfeitos são inválidos e


ineficazes para seus efeitos próprios.
2.2. Teoria do Ato Inexistente: para parte da doutrina (Celso Antônio Bandeira de
Mello) o ato administrativo é reputado inexistente para a Administração quando
for praticado por pessoa sem investidura pública, pois o exercício da competência
pública dependente sempre e obrigatoriamente de prévia investidura.

 Para essa teoria, também é ato inexistente aquele praticado sem ser
voltado a qualquer natureza de interesse público (se o ato não é voltado a
interesses públicos, não pode existir no regime público como ato dotado de
prerrogativas e sujeições – para esse regime público, esse ato é inexistente).

 Atos inexistentes não precisam nem ser revogados e nem anulados – pois
bastam ser ignorados pela Administração, uma vez que não constituem nem
extinguem direitos ou obrigações perante a Administração Pública.

2.3. Efeitos próprios ou impróprios – eficácia do ato administrativo:

2.3.1. Próprios: apesar de administrativos, são os atos voltados para os seus


efeitos próprios, que são os efeitos ou resultados previstos ou pretendidos pela lei.

2.3.2. Impróprios: atos administrativos também repercutem efeitos que não estão
previstos na lei. São efeitos “impróprios” que podem ocorrer independente de
previsão em lei, e os mais importantes são:

a) Efeito impróprio reflexo (indireto): dá-se este efeito quando um ato


administrativo repercutir efeitos jurídicos em outras relações jurídicas,
independente de expressa previsão, por exemplo, na caducidade de um ato
administrativo.

 Estes são os atos que impactam em terceiras pessoas que não estão no
campo de incidência do ato principal, por exemplo, na desapropriação de um
imóvel, que impactará, diretamente, no proprietário desapropriado, mas imprópria
e reflexamente no locatário deste imóvel.

b) Efeito impróprio prodrômico (preliminar): é um efeito instrumental ou


meramente procedimental necessário para a perfeição do ato. Sem o cumprimento
destas etapas ou providências, o ato não se aperfeiçoa. São os produzidos antes
que o ato gere seu efeito própria, ou seja, entre a prática do ato e a geração de seu
efeito, por isso, preliminar (por exemplo, quando determinado ato estiver sujeito à
homologação, aprovação, etc.).

 Quanto à estrutura do ato administrativo, ele pode ser:

I) Ato simples: é a regra geral, e se dá quando um agente executa


uma atribuição para gerar um efeito próprio.

II) Ato complexo: dois agentes distintos reúnem seus esforços, e


juntos praticam uma mesma atribuição para gerar, ao final, o efeito
próprio esperado (um efeito) – exemplo: o ato de nomeação de
Ministro do STF, sendo que o Presidente da República indica um
nome, e o Senado sabatina e aprova (pela teoria da porta, é uma
porta com duas fechaduras e duas chaves).

III) Ato composto: dois agentes distintos exercem, cada qual, a


própria atribuição (duas atribuições), e a reunião das atribuições
exercidas repercutirá o efeito próprio (um efeito) – exemplo: para
gerar uma dispensa licitatória, o presidente da comissão elabora o
parecer pela dispensa, cabendo, em seguida, ao chefe da entidade ou
poder homologar e, somente com o parecer homologado, é possível
decretar a dispensa (pela teoria da porta, é uma porta com uma só
fechadura, mas com duas chaves).

*nos atos complexos e nos atos compostos, haverá efeito prodrômico


quando o primeiro agente ou autoridade executar sua parcela de
atribuição ou sua atribuição, gerando a necessidade de manifestação
da segunda autoridade ou agente, sem a qual o ato não irá se
aperfeiçoar – por exemplo, na nomeação do Ministro do STF, depois
da indicação do nome pelo Presidente da República, haverá a
necessidade instrumental, procedimental, do Senado se manifestar,
sem o qual a nomeação não irá se aperfeiçoar. Portanto, o efeito
prodrômico é aquele que obriga o outro agente a analisar o ato
administrativo, a fim de que este seja aperfeiçoado.

 O ato imperfeito que dependa de um efeito prodrômico, apesar de


imperfeito, será eficaz – pode não gerar seus efeitos próprios, mas poderá gerar
efeitos impróprios, reflexos e prodrômicos.

*atenção: o efeito prodrômico do ato é distinto do efeito prodrômico


processual. O efeito prodrômico processual penal significa que a sentença anulada
pelo Tribunal em função de um recurso privativo de defesa, levará o juiz de
primeira instância a proferir nova sentença, que não pode ser mais grave do que
a anterior (é a vedação da reformatio in pejus indireta, também chamada de efeito
prodrômico processual) – no processo administrativo não há a figura da acusação
distinta (é apenas a Administração VS. o acusado), logo, quando houver recurso,
será para o exercício de defesa (a Administração não recorre para ela mesma
contra as suas próprias decisões). Havendo recurso para a defesa, a instância
superior não poderá agravar, de ofício, penas efetivamente aplicadas, mas
PODERÁ ACRESCENTAR PENAS OBRIGATÓRIAS POR LEI, mas que não foram
aplicadas pela instância julgadora. Neste sentido, é possível reformatio in pejus
no processo administrativo, sendo também possível a reformatio in pejus indireta
(em processo administrativo não há efeito prodrômico processual).

2.4. Atributos e tipos de atos:


- “Ato A” “Ato B”
Competência: Lei. Lei.
Finalidade: Lei. Lei.
Forma: Lei. Lei.
Motivo: Lei. Em branco ou indefinido
em lei.
Objeto: Lei. Em branco ou indefinido
em lei.
*segundo a tipicidade, os atributos devem estar sempre preenchidos, e conforme a
legalidade, sempre haverá uma lei autorizadora.

2.4.1. Explicação do quadro:

a) Ato vinculado: é o ato administrativo que possui todos os elementos e


pressupostos prévia e expressamente preenchidos pela própria lei que autoriza
aquele ato – são, portanto, atos de exercício rigorosamente vinculado à tudo aquilo
que a lei prevê ou determina, tornando o administrador um mero cumpridor de
leis.

b) Ato discricionário: trata-se daquele que possui parte dos elementos e


pressupostos determinados expressamente pela lei. A competência, finalidade e
forma sempre decorrem de lei e são chamados pela doutrina de pressupostos
vinculantes. Os demais elementos ou pressupostos estarão ou em branco, ou
indefinidos na lei (pode ser só o motivo, ou só o objeto, ou ambos poderão estar
em branco ou indefinidos, constituindo os elementos discricionários do ato
discricionário), que deverão ser preenchidos pelo administrador através do
mérito discricionário.

c) Mérito discricionário (conceito mais importante): é a motivação privativa


do administrador, que irá preencher os elementos em branco ou indefinidos da lei
através de fatos e circunstâncias que somente o administrador pode escolher, que
deverão ser razoáveis e proporcionais aos limites da lei, demonstrando que a
prática daquele ato é oportuna e conveniente ao interesse público.

*portanto, não se pode falar que mérito discricionário seja somente a


conveniência ou oportunidade.

d) Discricionariedade: a discricionariedade se trata do preenchimento, pelo


administrador, daquilo que está em branco ou indefinido na lei dentro dos limites
implícitos da lei. Quando o legislador deixa elementos em branco ou indefinidos,
permite que o administrador preencha, porém, devendo respeitar a intenção e os
limites da lei.

 Os fatos e circunstâncias que o administrador escolherá deverão ser


adequados e de valor jurídico correspondente àquilo que a lei prevê – a adequação
se configura na razoabilidade da discricionariedade, e a valoração jurídica é a
proporcionalidade. Escolher fatos e circunstâncias fora destes limites não será
discricionariedade, mas sim arbitrariedade que é uma ILEGALIDADE*.

*logo, se é uma ilegalidade, está sujeita ao controle judicial. Portanto, o


Judiciário pode sim controlar tais atos, quando arbitrários.

2.5. Pressupostos:

a) Competência: é sempre a lei que determina quem é o agente competente


para a prática de cada ato – por não ser um pressuposto rígido, a competência pode
ser deslocada, principalmente através de três formas:

I) Delegação vertical hierárquica: o superior pode ordenar que o


subordinado execute um ato de competência do superior;

II) Delegação horizontal: quando dois agentes de mesmo nível ou


atribuição dividirem entre si suas competências e atribuições.

*logo, nem toda delegação decorre de hierarquia.

III) Avocação administrativa: o superior puxa para si a execução de


ato de competência de seu subordinado.

 Extraordinária duplicação da competência: na delegação hierárquica e na


avocação administrativa o que é deslocado é apenas a atribuição de execução, pois
é a lei que fixa a competência e é apenas um ato que a desloca (e ato não revoga
lei), promovendo uma extraordinária duplicação da competência (aquele que
era competente por lei, não deixa de ser, e aquele que não era passou a ser).

 Quais competências são delegáveis? Em regra, todas, exceto três: a)


competências decisórias; b) competências normativas; c) competências exclusivas.

*dica: para guardar as competências que não são delegáveis se utiliza a


palavra “DENOREX” (era uma marca de xampu).

b) Finalidade: é um pressuposto rígido, ou seja, que não admite qualquer


forma de desvio ou descumprimento, sob pena nulidade absoluta insanável.

 A doutrina moderna (CABM) reconhece dois níveis de finalidades:

I) Finalidade principal ou primária: que é sempre o atendimento a


interesses públicos genericamente;

II) Finalidade específica ou concreta: é a qual está expressamente


descrita em lei, definindo para que o ato serve.

 É possível que um ato esteja atendendo interesses públicos legítimos, mas


seja nulo por desvio de finalidade? Por exemplo, uma portaria “demissionária” de
um servidor público para reduzir o total de despesas, atendendo aos limites da
responsabilidade fiscal. Apesar desta portaria estar atendendo legítimos interesses
públicos, estará nula por desvio de finalidade, pois na lei demissão tem como
finalidade específica punir aquele que foi condenado em processo disciplinar pelo
cometimento de infração grave – no caso, o correto seria uma portaria de
“exoneração compulsória”, que tem por finalidade específica atender interesses da
Administração que não configurem punição.

c) Forma: é sempre a lei que determina a forma que está autorizada para a
prática de cada ato e, em certos atos, a escolha da forma pode ser discricionária.
Em certos casos, a lei autoriza apenas uma única forma para o ato, por exemplo,
decretos são sempre na forma escrita.

 Em outros casos, a lei regula duas ou mais formas determinando quando


será adotada uma ou outra, por exemplo, para o fluxo nos cruzamentos, a forma
principal do ato são sinais luminosos coloridos (semáforo) e, quando o semáforo
estiver quebrado, a lei regula, como forma alternativa, gestos com sinais sonoros.

 Ainda, em outros casos, a lei prevê duas ou mais formas, permitindo ao


administrador escolher entre uma ou outra, conforme critérios de oportunidade e
conveniência, por exemplo, o comando do policial rodoviário será ou por gestos, ou
por sinais luminosos, conforme as condições de luminosidade.

d) Motivo: trata-se da obrigatória exposição da circunstância legal e da


circunstância fática que autoriza a edição ou a prática daquele ato. Todos os atos
exigem exposição de motivos.

*motivação: para parte da doutrina, motivo e motivação são a mesma coisa.


No entanto, para a corrente amplamente majoritária, são elementos distintos. A
motivação é a demonstração fundamentada de que o interesse público está sendo
atendido.

 Em regra, todos os atos exigem motivação, ou seja, discricionários e


vinculados, ainda que seja uma mera motivação sucinta, tal como a motivação
aliunde.

*motivação aliunde: é uma forma de motivação sucinta, através da qual o


administrador adota como motivação do seu ato a motivação de um outro ato ou
decisão ao qual faz expressa referência – exemplo: em uma decisão administrativa,
o superior poderá motivar que “adota o relatório da Comissão em todos os seus
fundamentos para decidir que...”. Esta é uma decisão aliunde.

 Para a doutrina, nem todos os atos exigem motivação, e os principais


exemplos são: I) atos de mero expediente; II) despachos e ordens simples; III) atos
de impossível motivação, por exemplo, sinais de trânsito; IV) atos ad nutum, que
são atos que, em regra, deveriam ser motivados, mas a lei expressamente autoriza
a sua prática independente de motivação (caso o administrador queira, poderá
espontaneamente motivar estes atos).

e) Objeto: esse indica aquilo que a Administração quer ao praticar o ato


administrativo. O objeto é, portanto, a projeção da intenção da Administração.

 O objeto não se confunde com o resultado do cumprimento do ato –


quando o ato que foi executado alterar fisicamente o mundo das coisas terá
promovido um fato administrativo, por exemplo, uma ponte construída, um poste
removido, etc.

 Todo ato administrativo vai gerar um fato administrativo? Não, ou seja,


nem todos. Atos normativos, atos negociais, atos enunciativos (quando anuncia
algo), etc., não alteram fisicamente o mundo natural das coisas e, portanto, não
provocam um fato administrativo.

2.6. Controle sobre atos administrativos:

a) Qual é o modelo de jurisdição que o Brasil adotou? O modelo francês de


jurisdição reconhece a jurisdição administrativa e a jurisdição judicial, e uma não
revê as decisões da outra (ambas fazem coisa julgada – dualidade de jurisdição ou
sistema do contencioso administrativo).

- O modelo inglês define que a jurisdição é una e privativa do Judiciário


(unicidade de jurisdição), permitindo que o Judiciário reveja a legalidade dos atos
e decisões, inclusive da Administração – quando o modelo inglês é adotado, em
regra, haverá o princípio da inafastabilidade, que prevê que o Judiciário sempre
poderá se manifestar sobre ilegalidade.

- Logo, dentre os dois sistemas administrativos, tem-se que o Brasil adotou o


modelo inglês, ou seja, o sistema de controle judicial (art. 5º, XXXV da CF). Isso,
todavia, não retira o poder da administração pública de controlar seus próprios
atos, o que se conforma em verdadeiro dever-poder da Administração, traduzida
na chamada autotutela administrativa.

b) Formas de controle sobre os atos administrativos:

I) Tutela jurisdicional: é controle exclusivo de legalidade, sendo que


em regra não conhece limites ou restrições. Depende de provocação
do órgão jurisdicional. Por fim, a decisão terá definitividade.

II) Autotutela administrativa: é um controle de legalidade e também


de oportunidade e conveniência (logo, em tese, é mais ampla que a
tutela jurisdicional). Quando o ato ou decisão repercutir efeitos
favoráveis aos particulares, a autotutela só poderá ser exercida no
prazo decadencial de 5 anos. Esta não depende de provocação, ou
seja, pode ser exercida de ofício. Por fim, como regra, não possuirá
definitividade, pois as decisões administrativas em geral estão
sujeitas a revisão pelo Judiciário.

2.6.1. Controle específico:

a) Controle sobre os atos vinculados: sempre que houver irregularidade ou


vício em atos vinculados, estará ocorrendo uma ilegalidade. Isso porque todos os
seus elementos e pressupostos decorrem expressamente de lei.

 Logo, tanto o Judiciário quanto a Administração poderão se manifestar


decretando, em regra, a nulidade do ato.

 Efeito retroativo ex tunc: como a lei é constante no tempo, uma eventual


ilegalidade também será constante no tempo, desde a origem do ato – decretando a
nulidade do ato, será necessário, então, retroagir no tempo, desde a decretação do
ato para anular também os efeitos e relações jurídicas decorrentes deste ato – é o
“efeito retroativo desconstitutivo ex tunc”.

*eventualmente, o ato ilegal poderá ser relevante para a segurança jurídica,


e neste caso, a teoria do fato consumado permitirá preservar os efeitos de um ato
ilegal, ainda que o ato venha a ser anulado.

b) Controle sobre atos discricionários: quando os elementos decorrentes de


lei estiverem viciados, implicará em ilegalidade, permitindo o controle tanto da
Administração, quanto do Judiciário, implicando na decretação de nulidade com
efeito retroativo ex tunc.

 Vícios sobre o mérito e seus elementos:

I) Perda do mérito: ato discricionário tem o mérito baseado em fatos


e circunstâncias que, naquele cenário fático-jurídico, demonstrava
que aquele ato era oportuno e conveniente para o interesse público.
Os fatos e circunstâncias não são constantes na lei e ocorrendo um
fato superveniente, é possível que o ato passe a ser inoportuno ou
inconveniente ao interesse público. O ato era legal antes do fato
superveniente, e continuou legal depois e, portanto, somente atos
legais podem ser analisados quanto à perda da oportunidade ou
da conveniência. Quando o ato passa a ser inoportuno ou
inconveniente, o administrador e somente ele, poderá extinguir o
ato, decretando a sua revogação, preservando todos os efeitos e
relações jurídicas geradas até então – revogação só repercute efeitos
futuros ex nunc, pois até a data da revogação o ato era perfeito,
constituindo para terceiros direitos adquiridos.

*quando o ato discricionário for inoportuno e inconveniente, bem


como ilegal, não poderá ser revogado. Isso porque convalidaria
tacitamente os efeitos ilegais gerados até então – neste caso, o ato
deverá ser anulado e não revogado.

II) Invalidação do mérito: quando o administrador não sustentar o


mérito por fatos ou circunstâncias razoáveis e proporcionais, estará
violando os limites da lei, implicando assim na ilegalidade da
motivação que sustenta o mérito e, em consequência, na ilegalidade
do próprio ato discricionário, que será reconhecida pelo Judiciário,
que poderá anular o ato com efeitos retroativos ex tunc.

III) Teoria dos motivos determinantes dos atos: segundo esta teoria,
quando os motivos determinantes usados forem inverídicos ou
inexistentes, a motivação será ilegal, implicando na ilegalidade do
ato, permitindo ao Poder Judiciário decretar sua nulidade com efeito
retroativo ex tunc – quando motivos meramente acessórios forem
inverídicos ou inexistentes, estes não implicará na ilegalidade da
motivação e nem na ilegalidade do ato (ou seja, só anula quando os
motivos determinantes forem inverídicos ou inexistentes**).

*todos os atos motivados estão sujeitos a essa teoria, incluindo os


atos vinculados, os atos discricionários e os atos ad nutum que
tenham sido espontaneamente motivados.

**portanto, de se observar que nem sempre que houver um motivo


inverídico ou inexistente que será nulo. Isso porque somente os
motivos determinantes que a geram.

2.7. Extinção dos atos administrativos: os atos administrativos podem ser


normalmente extintos quando esgotado ou cumprido o seu objeto. Os atos também
estão sujeitos a extinções extraordinárias e as mais importantes são:

a) Revogação: quando um fato superveniente tornar o ato discricionário


inoportuno ou inconveniente.

b) Invalidação: quando o ato possuir o vício de ilegalidade poderá ser:

 Meramente anulável: quando for possível por lei convalidar o vício – as


convalidações mais importantes são:

I) Ratificação: é a mera confirmação do ato.

II) Retificação: é o refazimento ou correção do ato.

III) Saneamento: configura-se do cumprimento de uma obrigação


alternativa prevista em lei, por exemplo, quando da falta de uma
prévia autorização, que pode ser saneada através do pagamento de
uma multa.
 Nulo: quando o ato for ilegal e não for possível ou não houver interesse
público em convalidar, ao invés de meramente anulável, o ato será nulo.

c) Caducidade: quando um ato ou norma posterior alterar o cenário jurídico


e neste novo cenário um ato anteriormente editado perderá a sua eficácia e não
poderá mais ser exercido por conflitar com esse novo cenário jurídico – exemplo:
uma portaria do Ministério da Saúde passa a considerar a babosa substância ilícita
em todo o território nacional e, com isso, um importador com alvará para importar
xampu de babosa não poderá mais exercer este seu alvará que está “extinto” por
caducidade – ora, de se observar que neste caso a extinção se dá de forma indireta
ou reflexa (é um dos efeitos impróprios).

d) Contraposição: quando determinado ato ou norma posterior for editado


especificamente para extinguir um ato anterior, ainda que não altere o cenário
jurídico – exemplo: medida provisória do Presidente da República vem cassar as
licenças de pesca de baleia concedidas. Portanto, quem possuía estas licenças não
poderá mais exercê-las, pois foram extintas por contraposição (isso porque a
medida provisória não tornou ilícito pescar baleia, mas apenas cassou as licenças
anteriormente concedidas).

*dica: contraposição tem a expressão “contra”, que dá um sentido de ir em


sentido de, de encontro de. Portanto, se é “contra”, significa que é específico para o
ato que está sendo extinto.

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