Você está na página 1de 19

ATOS ADMINISTRATIVOS

- O estudo dos atos concerne nas regras jurídicas que regem a constituição de
direitos e obrigações.

1) Atos privados (atos da administração).

- Atos privados são atos voltados ao atendimento de interesses privados. Esses


interesses privados são disponíveis, significando dizer que o titular do direito
envolvido precisa ser livre para renunciar, transigir ou omitir. Em função
disso, o papel da lei em relação a conduta privada é a de excluir aquilo que
não pode ser feito. Atos privados são regidos pelo Código Civil e os demais
dispositivos que sejam equiparados ou decorram do Código Civil. O CC deixa
claro que estamos vivendo em uma isonomia, ou seja, o ato do homem é igual
o da mulher, que é igual ao do jovem, que é igual ao do idoso etc., deixando
claro a horizontalidade de direitos e obrigações. Nesse sentido, os efeitos
jurídicos desses atos serão iguais. Quando falamos do CC, no campo da
validade, os atos serão válidos desde que respeitados os pressupostos
genéricos das regras civis.

- O que determina que o ato é público ou privado não é o sujeito que o prática,
mas sim a natureza do interesse envolvido. Desta forma, pergunta-se: a
administração pública de direito público pratica atos privados (no mesmo
plano de direitos e deveres dos particulares)? Pode, pois ela precisa
existir/funcionar. E esses atos serão chamados de atos da administração, pois
atendem interesses privados da administração, chamados pela doutrina de
interesses públicos secundários ou derivados.

- Celso Antônio Bandeira de Mello diz que a administração pública de direito


público precisa existir e funcionar para então atender a população
(coletividade). E para existir e funcionar, a administração precisa atender
interesses dela (contratar internet, alugar prédio, comprar materiais de
escritório etc.), logo, tais interesses são privados. Porém, esses interesses
privados precedem os interesses da coletividade. Assim, os interesses da
coletividade são os propriamente públicos a serem atendidos, mas não tem
como a administração atender os interesses públicos se ela não atender
primeiro os seus próprios interesses privados. Nesse sentido, Celso Bandeira
chama os interesses privados da administração pública de direito público de
interesses públicos secundários ou derivados ao passo que os interesses da
coletividade mesmo, são chamados de interesses públicos primários.

- Atos da administração: A diferença de um ato público e um ato privado não


é determinada pelo sujeito que pratica que o ato, mas sim pela natureza do
interesse que estará sendo atendido. Dessa forma, atos praticados para o
atendimento de interesses privados serão atos privados comuns regidos pelo
Código Civil e demais normas comuns. O Código Civil irá colocar todos em um
mesmo plano de direitos e obrigações (princípio da isonomia) e os atos
privados irão repercutir os mesmos efeitos jurídicos independente de quem
seja o agente que esteja praticando o ato. Logo, por ser um ato privado
comum, regido pelo Código Civil, colocará a administração no mesmo plano de
direitos e obrigações que qualquer particular (nesses atos, a administração
não irá gozar de suas prerrogativas e sujeições). Os principais exemplos são: a
aquisição de bens de consumo pela administração, a contratação de serviços
comuns que a administração irá consumir, a locação de imóveis pela
administração etc.

- Celso Antônio Bandeira de Mello classifica esses atos privados da


administração de “atos públicos secundários” pois atenderão “interesses
públicos secundários”, que apesar de serem interesses privados da
administração são essenciais para a administração possa existir e funcionar
regularmente e então poderá atender aos interesses propriamente públicos da
coletividade em geral.

- A administração pública de direito público pode renunciar, transigir e se


omitir desde que seja interesses privados dela, que são chamados de
interesses públicos secundários ou derivados.

2) Atos públicos administrativos (atos administrativos)

- Na estrutura do Estado nós temos a administração direta (órgãos),


administração indireta (autarquias, fundações, empresas públicas, sociedades
de economia mista). A CF é que determina os interesses públicos propriamente
públicos (primários) e ela vincula para a prática desses atos os órgãos, as
autarquias e excepcionalmente as fundações públicas.
- Os atos públicos administrativos são atos praticados para o atendimento dos
interesses públicos primários e esses atos são constitucionalmente são
vinculados apenas para os órgãos, autarquias e fundações públicos. Isso
significa dizer que empresas públicas e sociedades de economia mista e os
demais particulares em geral, como regra não irão praticar atos públicos
administrativos.

- Atos públicos administrativos: Como visto, a natureza do ato não decorre do


sujeito que o pratica, mas sim da natureza do interesse que deverá ser
atendido. A Constituição disciplina os interesses propriamente públicos
também chamados de interesses públicos primários – que serão voltados para
as necessidades gerais da coletividade. A CF determina que esses interesses
devam ser atendidos pelos órgãos da administração direta e autarquias e
fundações da administração indireta – portanto, apenas esses irão praticar
atos públicos administrativos, também chamados de “atos administrativos”.

- Esses atos públicos são regidos pelo regime público pois são voltados
finalisticamente para os interesses públicos primários. Esses interesses são
regidos pelo principio da supremacia, da indisponibilidade e da legalidade.

- Os interesses públicos são indisponíveis, não havendo que se falar em


liberdade para renunciar, transigir ou omitir, mas sim obrigatoriedade do
cumprimento da lei, que faz com que não seja permitida a omissão, a renuncia
e a transação, salvo se a lei permitir. Aqui o papel da lei vai ser expressamente
determinar o que pode ser feito, e o Código Civil é aplicado de forma
subsidiária, pois os atos serão submetidos ao regime público. Desta forma, a
administração estará em um plano superior, verticalizando a relação jurídica.
Os atos gozarão de prerrogativas e sujeições inerentes ao regime público.

- Como esses atos públicos são voltados para o atendimento dos interesses
públicos primários, incidirão obrigatoriamente os princípios da supremacia e
da indisponibilidade desse interesse público primário e também o principio da
legalidade pública. Com isso, a liberdade de agir, do regime privado será
substituída pela obrigatoriedade do cumprimento da lei e, portanto, não será
permitido em regra ao administrador se omitir, renunciar ou transigir sobre
esses interesses, salvo quando a lei expressamente permitir. Ao contrário do
ato privado que é de exercício livre, e a lei virá apenas apontar aquilo que
esteja proibido, nesses atos públicos a lei deverá dizer expressamente aquilo
que poderá ser feito e quais os limites, finalidades e objetivos que deverão ser
alcançados. O Código Civil será aplicável apenas de forma residual ou
subsidiária naquilo que não conflitar com o regime público. Na edição desses
atos públicos, a administração ocupará sempre um plano superior de direitos
e obrigações, tornando a relação jurídica sempre verticalizada. Esses são,
portanto, os atos públicos administrativos que serão praticados apenas por
órgãos da administração direta, todas as autarquias e eventualmente
fundações públicas – e são atos verticalizados nos quais a administração
pública estará investida em suas prerrogativas e sujeições especiais.

- Como visto, esses atos serão voltados para os interesses públicos primários e
esses interesses são sempre regidos pelo princípio da supremacia sobre
interesses privados. Como a constituição impõe a administração pública de
direito público a atribuição de cumprimento desses atos, haverá por força de
lei efeitos jurídicos mais fortes a serem conferidos a esses atos e a
administração para que seja possível garantir que esses interesses prevaleçam
sobre interesses privados colidentes.

- Esses efeitos jurídicos especiais gerados pelo regime público são chamados
de atributos dos atos administrativos. São os atributos:

1. Autoexecutoriedade

- A administração não depende do Poder Judiciário para


decretar, impor, exigir e executar concretamente seus atos
administrativos, podendo até mesmo interferir de forma concreta
na esfera dos direitos privados.
- A administração não precisa de decisão ou autorização judicial
para desapropriar bens, retomar bens públicos que haviam sido
invadidos, para interditar estabelecimentos, apreender
mercadorias e etc.

- Exceção: Ato administrativo não executável é o ato


administrativo de satisfação de valores e créditos públicos, ou
seja, certidão da dívida ativa. Quando alguém for declarado
devedor do Estado, e esse alguém não efetuar o pagamento,
levará a administração a inscrever esse devedor na dívida ativa,
extraindo assim uma certidão de dívida ativa. Essa certidão da
dívida ativa não é executável diretamente pela administração e só
poderá ser executada judicialmente através de ação de execução
fiscal.

2. Imperatividade

- Também é chamada de relação extroversa.

- Unilateralidade dos atos administrativos.

- A administração pode decretar, impor, exigir e executar seus


atos administrativos independente da concordância dos
particulares.

- Exceção: Uma permissão, uma autorização e uma licença são


atos administrativos que são concedidos após requerimento, com
a observância de requisitos, para então receber os seus alvarás.
Por conta disso, esses atos são chamados de bilaterais negociais.

3. Presunção de veracidade

- Tudo que a administração publica, atesta, edita ou certifica será


sempre considerado como verdadeiro.

- Essa presunção é juris tantum (relativa), e cabe inversão do


ônus da prova. Quais são os meios de prova que se pode
empregar para provar que o ato administrativo é
mentiroso/falso? É necessário mover uma ação declaratória de
falsidade documental.

- O atributo é absoluto mas a presunção é relativa.


4. Presunção de legitimidade

- Tudo que a administração publica, atesta, edita ou certifica é


considerado sempre conforme lei (legal).

- Essa presunção é juris tantum (relativa), e cabe inversão do


ônus da prova. Quais são os meios de prova que se pode
empregar para provar que o ato administrativo é ilegal? Qualquer
meio de prova admitido pela lei.

- O atributo é absoluto mas a presunção é relativa.

5. Tipicidade

- Todos os atos administrativos vão depender sempre de expressa


autorização em lei.

- Sempre teremos uma lei que diz o que o administrador poderá


fazer. Essa lei possui exigências, requisitos, pressupostos.

- Como visto, nem todos os atos gozam dos atributos da autoexecutoriedade e


da imperatividade, e, por isso, a doutrina chamam tais atributos relativos.

- Como visto, todos os atos gozam dos atributos de legitimidade, veracidade e


tipicidade e, por isso, a doutrina chamam tais atributos de absolutos.

- Pressupostos dos atos administrativos (são derivados do princípio da


indisponibilidade, legalidade e tipicidade):

1. Competência

2. Finalidade
3. Forma

4. Motivo

5. Objeto

- Método mnemônico: COMFIFOMOOB.

- Perfeição do ato jurídico: Depende do integral preenchimento dos 5


pressupostos.

- Validade do ato jurídico: Preenchimento dos pressupostos deverá respeitar


limites/parâmetros da Lei.

- Eficácia do ato jurídico: Apto a gerar seus efeitos próprios, que são os efeitos
previstos e pretendidos pela própria lei.

- Publicidade não é pressuposto de validade e sim de eficácia.

- Ato perfeito e válido é eficaz? Se o ato é perfeito, significa que os 5


pressupostos estão preenchidos. Se o ato é válido significa dizer que o
preenchimento, respeitou rigorosamente a lei. Como o ato é perfeito e válido, é
correto concluir que, em regra, será eficaz para os efeitos próprios. SIM.

- Ato perfeito e válido pode ser ineficaz? Como a publicidade não é


pressuposto de validade do ato, quando se tratar de ato administrativo de
efeitos internos, bastará perfeição e validade para que o ato seja, em regra,
eficaz. Porém, quando se tratar de ato externo, que deva gerar efeitos
concretos perante os particulares, será necessário que o ato venha a ser
publicado – e, portanto, publicidade passa a ser considerada como um
pressuposto de eficácia para os atos externos de efeitos concretos sobre os
particulares. SIM.

- Ato perfeito e inválido pode ser ineficaz? O ato perfeito, porém, inválido, é
aquele que a administração editou, porém, sem respeitar os parâmetros ou
limites da lei e, como regra geral, a administração não pode querer gerar
efeitos concretos através da prática de ilegalidade. SIM.

- Ato perfeito e inválido pode ser eficaz? Atos perfeitos, porém, inválidos,
devem ser, em regra, considerados ineficazes. Porém, a jurisprudência
majoritária desenvolveu a “teoria do fato consumado”, para preservar a
segurança jurídica Dessa forma, ainda que, o ato administrativo seja inválido,
seus efeitos serão preservados quando relevantes para a segurança jurídica –
porém, para aplicar essa teoria a jurisprudência exige
que o particular a ser beneficiado não tenha
participado/colaborado com a edição do ato ilegal e nem
tenha agido com dolo ou má-fé na intenção de obter
vantagens, mediante ilegalidades públicas. Dessa forma,
essa teoria prevê que o ato ilegal venha ser anulado,
preservando os efeitos relevantes para a segurança
jurídica, conforme as regras da jurisprudência e em
circunstancias extremas essa teoria permite até mesmo,
deixar de anular o ato declaradamente ilegal também em
função da preservação da jurídica. SIM.

- Ato imperfeito e inválido pode ser eficaz? NÃO.

- Ato imperfeito e válido, pode ser ineficaz? NÃO.

- Ato imperfeito e válido, pode ser eficaz? NÃO.

- Ato imperfeito e inválido é ineficaz? SIM.

- Eficácia:

- Como visto, a publicidade é condição para eficácia para os “efeitos


próprios”. O que são efeitos próprios?

- Efeitos próprios são os efeitos previstos e pretendidos pela lei ao


prever e autorizar a prática de atos administrativos. São esses efeitos
que dependerão da publicidade do ato.

- Para a professora Odete Medauar, diante de emergências e


calamidades o ato administrativo poderá ser editado com natureza de
fato do príncipe – fato do príncipe é o ato decretado pela administração
para ser um ato: a) geral – recaindo sobre todos indistintamente (pessoa
física ou jurídica, pública ou privada); b) unilateral – a administração
decretando o ato através do seu “poder de império” que não dependerá
nem da concordância e nem dá participação dos particulares; c)
coercitivo – quando o ato decretado não admitir nem recusa, nem
resistência e nem exceções. Exemplo: limitações/restrições que foram
decretadas em virtude da pandemia.

- Efeitos impróprios: Atos administrativos também poderão gerar efeitos


impróprios – que são efeitos que não estão previstos ou pretendidos pela
lei, porém, poderão ocorrer dependendo das circunstâncias. Os efeitos
impróprios mais relevantes são: a) Efeito reflexo – quando o ato
interferir em outras relações jurídicas indiretamente – podendo ser uma
interferência positiva como também, uma interferência negativa
impedindo e/ou desconstituindo direitos. Exemplo: a inclusão de novas
substâncias no rol das substâncias ilícitas, poderá repercutir efeitos
reflexos perante licenças, alvarás e até autorizações de atividades
privadas que envolvam o uso dessas substâncias; b) Efeito prodrômico –
é um efeito instrumental ou procedimental que decorre de exigências da
lei e essas exigências deverão ser cumpridas para que o ato
administrativo possa se aperfeiçoar, ou em outras palavras, enquanto
não for cumprido isso que estará sendo exigido pela lei, o ato
administrativo não irá se aperfeiçoar.

- Onde há efeito prodrômico no ato administrativo:

- Estrutura do ato administrativo:

a) Simples: Um agente realiza uma atribuição descrita em


lei, permitindo assim que o ato possa gerar seus efeitos
próprios. Não tem efeito prodrômico.

b) Complexo: É o ato que exige dois agentes de órgãos ou


estruturas distintas que deverão reunir seus esforços para
com isso aperfeiçoarem o ato, permitindo então gerar seus
efeitos próprios. Exemplo: nomeação de ministro do STF –
para a nomeação de ministro (a atribuição é uma só –
nomear) a lei exigirá que o Presidente da República indique
o nome e o Senado aprove mediante a sabatina do
indicado. Tem efeito prodrômico.

c) Composto: Quando a lei exigir que dois agentes distintos


de órgãos ou entidades distintas exerçam cada qual a
execução de uma atribuição própria e a reunião dessas
duas atribuições permitirá a perfeição do ato para que
então seja possível gerar seus efeitos próprios. Exemplo:
Para que seja decretada a dispensa licitatória é necessário
que o chefe da comissão de licitações promova uma
motivação que deverá ser encaminhada ao chefe daquela
entidade ou poder para que então ao homologar essa
manifestação, venha a ser possível considerar o
aperfeiçoamento do ato de dispensa, permitindo então a
contratação direta desejada por lei. Tem efeito
prodrômico.

- Nos atos compostos, assim como nos atos complexos,


haverá efeito prodrômico, pois com a manifestação e
cumprimento de atribuição pela primeira autoridade
prevista em Lei, passará a ser necessário para que a
segunda autoridade também precise cumprir a sua
atribuição, fazendo com que o ato se aperfeiçoe,
permitindo então gerar os efeitos próprios. Exemplo:
Quando o chefe da comissão de licitações se manifesta
pela dispensa licitatória começa a fluir a necessidade do
chefe daquela entidade ou poder homologar o parecer pela
dispensa para que então, havendo parecer e homologação,
venha a ser possível decretar a dispensa permitindo então
a contratação direta.

- Controle sobre atos administrativos:

- Controle efetuado pelo poder legislativo: em função do princípio da


legalidade do art. 5º, inciso II da CF todos os direitos e obrigações que
recairão sobre a coletividade dependerão sempre de prévia e expressa lei
(somente lei pode ser fonte originária de direitos e obrigações). Havendo
prévia lei o administrador poderá expedir um ato administrativo de teor
normativo ou para explicitar a forma de se executar essa prévia lei ou
para complementar elementos em branco ou indefinidos dessa prévia
lei. Logo, o ato administrativo normativo só poderá tratar daquilo que
conste previamente de lei. Caso o ato administrativo normativo
exceda/ultrapasse os limites da matéria que foi tratada em lei
significará dizer que esse ato administrativo normativo inovou
indevidamente no campo dos direitos e das obrigações e com isso, terá
invadido matéria que ainda está em reserva de lei, violando a separação
e a harmonia dos 3 poderes (pois terá invadido função típica do
legislativo). Nesse caso, o poder legislativo poderá exercer de ofício
controle sobre esse ato administrativo normativo para sustar a eficácia
daquilo que tenha ultrapassado os limites do teor da lei que esteja
regulamentando. O legislativo ele vai expedir uma resolução para
suspender a vigência da parte do ato administrativo normativo que
excedeu os limites regulados na lei.

- Controle efetuado pelo poder judiciário e pela própria administração:


O Brasil adotou o modelo inglês de jurisdição uma que confere ao poder
judiciário a primazia do controle de legalidade – ou seja, o poder
judiciário poderá sempre se manifestar sobre a legalidade dos atos e
decisões proferidos por todos os demais entes e poderes do estado. O
Brasil não adotou o modelo francês que reconhece a dupla jurisdição –
jurisdição judicial e jurisdição administrativa conferindo a ambas as
jurisdições o poder de constituir coisa julgada material e, portanto,
definitividade da decisão fazendo com que uma jurisdição não reveja
atos ou decisões da outra.

- Formas de controle:

a) tutela judicial: Quando houver provocação por algum


interessado. Será exclusivo controle de legalidade. Em regra, sem
prazo nem limite. Na análise de legalidade dos atos e decisões.
Levando a decretação da nulidade do ato ou decisão sob controle.
E a decretação da nulidade do ato ou decisão implicará na
revisão dos efeitos que foram gerados desde a decretação desse
ato ou decisão (é o efeito retroativo desconstitutivo ex tunc).

b) autotutela administrativa: A administração é dotada do poder


de autotutela que permitirá rever e controlar os próprios atos e
decisões. Esse controle não depende da provocação por qualquer
interessado – é exercido de ofício ou seja, espontaneamente pelo
agente público. A LINDB condiciona essa forma de controle a
existência de prejuízo à administração ou a terceiros e devendo
respeitar a segurança jurídica das relações. Será um controle de
legalidade e também controle de oportunidade e conveniência.
Quando o ato ou decisão que está sendo revisto pelo
administrador gerar direitos a terceiros ou for relevante para a
segurança jurídica será necessário conferir aos interessados
oportunidade de manifestação de defesa e quando esse ato ou
decisão sob revisão constituir direitos ou efeitos
positivos/favoráveis aos particulares o administrador terá o prazo
decadencial de 5 anos para rever ou controlar seu ato. Quando o
administrador controlar a legalidade poderá decretar a nulidade
da mesma forma que o poder judiciário, implicando em efeitos
retroativos ex tunc. Quando controlar oportunidade e
conveniência que estão presentes apenas em atos discricionários
a administração decretará em autotutela a revogação do ato ou
decisão, gerando efeitos daquela data em diante (ex nunc).

- OBS: independência das instâncias – em função do modelo


inglês de jurisdição a instância judicial não sofre interferência da
instância administrativa e nem vice-versa quando o ato ou
decisão já estiver sob controle ou revisão (logo, haver uma
demanda judicial contra o ato ou decisão, não interfere, não
prejudica a possibilidade do administrador exercer a autotutela).

- Controle sobre atos vinculados:

- Atos vinculados são aqueles que possuem todos os elementos e


pressupostos previamente determinados de forma expressa pela
lei e, portanto, qualquer forma de vício implicará sempre em
ilegalidade. Essa ilegalidade poderá ser controlada por tutela
judicial e/ou autotutela administrativa e, quando qualquer uma
das formas de controle reconhecer a ilegalidade do ato irá
decretar a nulidade, gerando os efeitos retroativos
desconstitutivos ex tunc.

- Controle sobre atos discricionários:

- Nos atos discricionários, parte de seus elementos, decorrerão


expressamente de lei – tal como competência, finalidade e forma –
pois esses sempre decorrem de lei. Quando esses elementos
previstos em lei forem descumpridos ou violados implicarão na
ilegalidade do ato e essa ilegalidade poderá ser decretada tanto
pelo poder judiciário em tutela jurisdicional como também pela
própria administração em autotutela administrativa, permitindo
a decretação da nulidade do ato com efeitos retroativos,
desconstitutivos ex tunc.

- Vícios no mérito: A outra parte dos elementos e pressupostos


dos atos discricionários estará ou em branco na lei ou indefinidos
na lei – e, esses elementos deverão ser preenchidos de forma
motivada pelo administrador através da decretação do mérito.
Quando o administrador preencher os elementos em branco ou
indefinidos da lei de forma razoável e proporcional, estará
demonstrando que naquele cenário praticar aquele ato
discricionário será oportuno e conveniente para o interesse
público.

- Invalidação do mérito: Como visto, a motivação do


mérito, precisa manter, razoabilidade e proporcionalidade,
em relação a lei. Quando a motivação não for razoável ou
proporcional a lei, implicará em uma motivação ilegal,
permitindo assim, controles tanto pelo judiciário quanto
pela administração levando a decretação de nulidade do
ato com efeito retroativo ex tunc. Essa forma de controle
também é chamada de “devido processo legal substantivo”.

- Perda do mérito: Atos e decisões discricionários são


aqueles que possuem elementos em branco ou indefinidos
na lei para permitir que o administrador possa preenche-
los conforme o cenário daquele momento. Exemplo: a lei
da responsabilidade fiscal, suspende suas proibições e
limites quando houver a decretação de um estado de
calamidade. Mas a lei não determina o que seja
calamidade, pois diversos fatores podem levar a essa
condição, tal como uma seca muito severa levando a total
falta de água em uma cidade por diversos dias. Nesse
cenário, aquele prefeito poderá decretar de forma oportuna
e conveniente o estado de calamidade. Caso ocorra um fato
superveniente relevante que altere o cenário jurídico é
possível que aquele ato antes oportuno e conveniente
passe a ser agora inoportuno e inconveniente, levando a
conclusão que aquele ato perdeu o seu mérito. No exemplo
dado, o fato superveniente poderia ser uma forte chuva
que preencheu os reservatórios da cidade, regularizando o
abastecimento de água. Regularizando o abastecimento de
água não será mais oportuno e conveniente manter o
estado de calamidade. Como somente o administrador
pode decretar oportunidade e conveniência, somente ele
poderá decretar a perda da oportunidade e da
conveniência (o judiciário não pode se manifestar, sobre
oportunidade ou conveniência e nem sobre a sua perda).
Do momento da correta decretação do ato discricionário
até a ocorrência do fato superveniente, aquele ato era
legal, oportuno e conveniente, sendo, portanto, um ato
juridicamente perfeito constituindo direitos adquiridos. A
ocorrência do fato superveniente não torna o ato ilegal,
mas apenas inoportuno ou inconveniente – desta forma, o
administrador deverá revogar, daquela data em diante,
devendo respeitar/preservar o ato jurídico perfeito e os
direitos adquiridos ocorridos até a data do fato
superveniente – é o efeito futuro ex nunc.

- Teoria dos motivos determinantes: Como regra geral, todos os


atos devem ser motivados, incluindo, portanto os vinculados e os
discricionários. A motivação irá possuir na fundamentação
diversos motivos e entre esses estarão aqueles apontados pela lei
como determinantes para a prática do ato. Quando esses motivos
determinantes forem inverídicos ou inexistentes significará que
aquela motivação não possui autorização válida da lei. Quando
os motivos determinantes da motivação forem inverídicos ou
inexistentes, implicará na ilegalidade daquela motivação e
consequentemente na ilegalidade do próprio ato, permitindo
assim, tanto ao poder judiciário quanto a próprio administração
declararem a nulidade do ato com o efeito retroativo
desconstitutivo ex tunc.

Você também pode gostar