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FACULDADE ALPHAVILLE

CURSO DE PÓS GRADUAÇÃO EM DIREITO CIVIL E


PROCESSUAL CIVIL

RIVANDO JOSÉ CONCEIÇÃO DOS SANTOS

VÍCIOS DE CONSENTIMENTO EM NEGÓCIOS


JURÍDICOS: UMA ANÁLISE SOB A PERSPECTIVA DO NOVO
CÓDIGO CIVIL

Alagoinhas – Bahia
2022
FACULDADE ALPHAVILLE
CURSO DE PÓS GRADUAÇÃO EM DIREITO CIVIL E
PROCESSUAL CIVIL

VÍCIOS DE CONSENTIMENTO EM NEGÓCIOS


JURÍDICOS: UMA ANÁLISE SOB A PERSPECTIVA DO NOVO
CÓDIGO CIVIL

Trabalho de conclusão de curso


apresentado à Faculdade Alphaville como
requisito para obtenção do diploma do
Curso de Pós-graduação em Direito Civil
e Processual Civil, sob orientação do
professor Sandro Silva.

Alagoinhas - Bahia
2022
DEDICATÓRIA

Dedico esse trabalho a minha esposa,


Evany Santos e a minha filha Rayane
Santos, pelo incentivo, carinho e apoio
irrestrito, propiciando mais uma vitória
nesta minha caminhada.
AGRADECIMENTOS

À Deus, pela minha vida e por me ajudar a ultrapassar todos os obstáculos


encontrados ao longo do curso, além de todas as conquistas que possibilitou na minha
vida!

Aos meus pais, que me permitiram a vida.

Aos irmãos, pelo processo interativo.

Aos colegas, pelas trocas de experiências, pelo convívio, pelas alegrias e incertezas,
por todos esses momentos vividos juntos e partilhados.

Aos professores, pela disponibilidade de passar os conteúdos, subsidiando na


minha formação profissional.

Por fim, a todos que de alguma forma me ajudaram a vencer mais uma etapa da
minha vida.
“Eu não troco a justiça pela soberba.
Eu não deixo o direito pela força.
Eu não esqueço a fraternidade
pela tolerância.
Eu não substituo a fé pela
superstição,
a realidade pelo ídolo.”
[ Rui Barbosa ]
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 7
1. BREVE REFLEXÃO SOBRE DEFEITOS DO NEGÓCIO JURIDICO ................... 11
1.1 A incidência do erro como um vicio de consentimento . Error! Bookmark not
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2. DESMONTANDO O CONCEITO DOS DEFEITOS JURIDICOS
INTENCIONAIS .................................................... Error! Bookmark not defined.
2.1 Dolo como vicio de consentimento .................. Error! Bookmark not defined.
2.2 Coação como defeito juridico .......................................................................... 21
3. PROTEÇÃO JURIDICA PERPETRADA PELO NOVO CÓDIGO CIVIL ......... Error!
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3.1 Estado de Perigo: uma obrigação demasiadamente onerosa ...................... 27
3.2 Lesão como fator preponderante de nulidade................................................30
3.3 Invalidade do negócio juridico ......................................................................... 33
CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................... 35
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 36
RESUMO

A presente monografia trata de um trabalho de conclusão do Curso da Pós-Graduação


em Direito Civil e Processual Civil, para isso, se debruça sobre o tema: “Vícios de
Consentimento em Negócios Jurídicos: Uma Análise sob a Perspectiva do Novo
Código Civil”, para tanto, perpassa pelos vícios de consentimento ressaltando os
defeitos jurídicos como: erro ou ignorância, dolo, coação, estado de perigo e lesão,
apontando-os como elementos capazes de causar um desequilíbrio na consumação
dos negócios jurídicos, haja vista o entendimento da possibilidade de interferência na
manifestação da vontade real do agente por meio de fatores adversos da livre vontade.
Nessa esteira pontua-se que o negócio jurídico válido é aquele que tem sua origem
na dinâmica da vontade pratica do agente com fulcro no objetivo de produção de
efeitos de acordo com a vontade das partes. Sendo assim, para a construção desse
trabalho ressalta-se que foram tomados como referência a Legislação do Direito Civil
hodierno brasileiro através de livros, artigos científicos, monografias e decisões
proferidas nos tribunais superiores para o enfrentamento das demandas sociais
contemporânea.

Palavras-chave: Vícios de Consentimento. Defeitos Jurídicos. Novo Código Civil.


Livre vontade.
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INTRODUÇÃO

O presente trabalho visa discorrer sobre os vícios de consentimento em


negócios jurídicos através de um olhar sob a perspectiva do Novo Código Civil,
tendo em vista a percepção da existência da vontade espontânea para a real
consolidação das atividades jurídicas, atentando para isso, o fato de que a
vontade é tida como elemento indispensável para a consolidação dos atos e
negócios jurídicos, além da necessidade de se observar os critérios da
espontaneidade e da liberdade do sujeito.
Nesse sentido pode-se perceber que o Novo Código Civil pontua de forma
taxativa os vícios de consentimento exemplificando-os como: erro ou ignorância,
dolo, coação, estado de perigo e lesão. Portanto, apontando-os como defeitos
jurídicos capazes de causar desequilíbrios na consumação dos negócios lícitos,
tendo em vista o poder de interferência na manifestação volitiva do agente
negociador divergindo assim da vontade real do sujeito.
Nesse aspecto, cabe ressaltar a existência de um fato jurídico, haja vista
a percepção de uma ocorrência, seja de forma natural ou humana capaz de
modificar ou extinguir direitos e obrigações, haja sabido que este:

Abrange não apenas os acontecimentos naturais (fatos jurídicos em


sentido estrito), mas também as ações humanas lícitas e ilícitas (ato
jurídico em sentido amplo e ato ilícito), bem como aqueles fatos que,
embora haja a atuação humana, esta é desprovida de manifestação de
vontade, mas mesmo assim produz efeitos jurídicos (ato-fato jurídico).
(NETO, 2016, p.01)

Desse modo, pode-se afirmar que esse trabalho busca perpassar pela
configuração dos vícios de consentimento nos negócios jurídicos, tendo em vista
a questão das mudanças ocorridas no novo Código Civil que fora celebrado no
ano de 2002, para tanto busca-se analisar os possíveis defeitos jurídicos que
pode existir em um contrato celebrado.
Ainda cabe ressaltar a existência dos vícios sociais como defeito jurídico,
entretanto aqui por questões didáticas será reportado apenas aos vícios de
consentimentos que podem ser percebidos através da simples constatação da
análise de negócios jurídicos celebrados que não respeita a livre vontade do
agente. Tendo em vista que:
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A ilicitude ocorre quando in concreto a pessoa se comporta fora desses


padrões. Em sentido lato, sempre que alguém se afasta do programa
de comportamento idealizado pelo direito positivo, seus atos
voluntários correspondem, genericamente, a atos ilícitos (fatos do
homem atritantes com a lei). Há, porém, uma idéia mais restrita de ato
ilícito, que se prende, de um lado ao comportamento in jurídico do
agente, e de outro ao resultado danoso que dessa atitude decorre para
outrem. Fala-se, então, em ato ilícito em sentido estrito, ou
simplesmente ato ilícito, como se faz no art. 186 do atual Código Civil.
(JUNIOR, 2003, p.18)

Por conseguinte, cabe ressaltar que o presente trabalho está dividido em


três capítulos. O primeiro capítulo intitulado Uma Breve Reflexão sobre
Defeitos do Negócio Jurídico com o objetivo de apresentar, de forma breve,
sob o olhar do Código Civil de 2002, os possíveis defeitos existentes no
ordenamento jurídico vigente, possuindo como subdivisão o seguinte tópico: a
incidência do erro como um vício de consentimento.
Pois esse vício de consentimento incide sobre a falsa percepção da
realidade produzida por tal defeito jurídico, além de perpassar pela questão da
“ignorância” em que o agente não tem conhecimento algum da realidade, para
tanto se debruça sobre o artigo 138 do Código Civil.
Já o segundo capítulo tem como título, Desmontando o conceito dos
Defeitos Jurídicos Intencionais com os seguintes desdobramentos: dolo como
vicio de consentimento e coação como defeito jurídico.
Contudo, acerca do dolo, por tratar-se também de uma falsa percepção
da realidade, entretanto, tendo sua diferença pautada na percepção de ser
desviada por outra pessoa. Sendo assim, sobre esse instituto, esse capitulo
discorre sobre o fato de que o agente é assessorado por outra pessoa, assim
levado a ter uma falsa percepção da realidade.
Todavia, no caso do defeito jurídico “coação” tem-se sua característica
pautada sobre, em um caso concreto, tem sua aplicabilidade recheada de
pressão psicológica, além de possibilitar a probabilidade de progressão para
ameaças físicas e com isso forçando o agente a celebrar negócios jurídicos
contra a vontade, assim anulando a espontaneidade do sujeito, para tanto far-
se-á menção ao artigo 151 do código civil de 2002.
Enquanto no terceiro capítulo será apresentado ao leitor uma discursão
sólida com o título de Proteção Jurídica perpetrada pelo Novo Código Civil,
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tendo como subdivisão: Estado de Perigo: Uma Obrigação Demasiadamente


Onerosa, Lesão como fator preponderante de nulidade em negócios jurídico e
invalidade do negócio jurídico.
De tal modo, que será arrazoado sobre a questão do defeito jurídico
“estado de perigo” através de uma análise sobre o fato do agente ser impelido a
realizar um negócio jurídico com fito em salvar ou resguardar sua vida ou de
alguém da sua família, nesse caso, será voltado o olhar para artigo 156 do código
civil.
Além disso, o capitulo também discorre sobre a “lesão” que também se
pauta na questão da realização de negócio jurídico, no entanto, nesse caso,
verifica-se que tal ato se dá por inexperiência ou por necessidade, tornando-se
extremamente dispendioso em conferição com a contraprestação que receberá,
como discorre o artigo 57 do código civil.
Diante do exposto, percebe-se que o Novo Código Civil traz em seu bojo
institutos singulares com o objetivo de proteger as partes envolvidas em um
negócio jurídico de possíveis abusos que possam advir na celebração de um
contrato, portanto trazendo a possibilidade de nulidades a negócios jurídicos que
porventura contenha vícios de consentimento.
Destarte, pode-se afirmar que essa monografia tem como objetivos fazer
uma reflexão da grande importância dos defeitos que podem afetar os negócios
jurídicos, tendo em vista que o tema aqui discutido alcança as relações jurídicas
patrimoniais que permeia o cotidiano da sociedade.
Desse modo, ficando perceptível a relevância de se conhecer as normas
legais que gerem tais institutos através do Código Civil 2002, para que assim,
haja maior segurança jurídica. Portanto:

Nesse sentido, a criação de deveres jurídicos anexos e recíprocos que


perpassam as obrigações principais fixadas pelas partes é
consentânea com a imposição de condutas pautadas pela ética,
lealdade, informação e cooperação, exigido que as partes adotem
práticas que cumpram o escopo do contrato e evitando aspirações não
legítimas por quaisquer dos contratantes. (Konder; Oliveira, 2020,
p.17)

Sendo assim, será trabalhado a problemática do pensamento pós-


moderno no que se reporta a licitude no negócio jurídico pela superação dos
defeitos positivados no Código Civil, fator que ainda desafia tanto a
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jurisprudência como também os doutrinadores, tendo em vista a grande


capacidade desses vícios comprometerem as relações negociais.
Desse modo, essa pesquisa se justifica pela necessidade cogente de
conhecer a legislação que rege o país e suas atualizações para que se possa ter
maior segurança nas relações jurídicas sociais, tendo em vista as constantes
transformações da humanidade, de tal modo que para buscar responder a essa
inquietação foi-se lançado mão da pesquisa exploratória, através de
levantamento bibliográfico e cientifico.
Para tanto, buscou-se investigar a legislação brasileira do Direito Civil
hodierno através de livros, artigos científicos, monografias e decisões proferidas
nos tribunais superiores para o enfrentamento das demandas sociais hodierna.
Por fim, tem-se as considerações finais, onde busca-se deixar em
evidência o fato de que se pode ainda ampliar a discussão sobre o tema em
questão e que as conclusões aqui chegadas são, também, inconclusivas visto
que a sociedade contemporânea sofre constantes mutações e o entendimento
do direito busca-se molda-se a realidade da sociedade em transformação.
Ainda cabe informar ao amigo (a) leitor (a), que essa monografia, diante
da complexidade do contexto pesquisado, não tem a pretensão de esgotar o
assunto, portanto, ressalta-se que por questões metodológicas de delimitação,
para que fosse possível dá conta desse trabalho, buscou se ater aos principais
episódios dos defeitos em negócios jurídicos, através dos principais teóricos
encontrados sobre o assunto.
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1. BREVE REFLEXÃO SOBRE DEFEITOS DO NEGÓCIO JURÍDICO

A partir de uma análise sobre a eficácia do negócio jurídico observa-se


de início a necessidade da real existência da declaração da vontade,
posteriormente busca-se saber se essa declaração seguiu o rito legal do
ordenamento jurídico, portanto verifica-se se para isso não sofreu interferências
no sentido de examinar possíveis coercibilidades ou ambiguidades no contrato,
tendo em vista a percepção de que a manifestação da vontade de forma
espontânea e livre em um negócio jurídico representam elementos essenciais
para a efetivar a legalidade de uma relação negocial.
Portanto, cabe dizer que:

O conceito de negócio jurídico é, na interessante observação de um


autor, “o momento final de uma sequência que parte da mais ampla
categoria do fato jurídico e, procedendo por classificações sucessivas,
chega primeiramente à subcategoria do ato jurídico e, em seguida,
àquela do negócio jurídico”. (GOMES,1983, p. 79)

Sendo assim, percebe-se a necessidade de clareza nas relações


negociais para que possa ter validade incontestável e livre de vícios, haja vista
que os defeitos no negócio jurídico podem causar invalidade na transação
comercial, já que é sabido que um negócio jurídico viciado pode alterar os efeitos
desejados afastando, dessa forma, as partes do princípio da legalidade que
aprecia a autonomia do agente.
Pois:

A garantia constitucional da autonomia privada dirige-se àqueles atos


de iniciativa particular que implicam relações com outros sujeitos na
esfera patrimonial e se praticam através de negócios jurídicos,
designadamente de contratos, tal como disciplinados nos Códigos e
em algumas leis especiais. (GOMES, 1983, p. 83)

Nesse sentido, pode-se afirmar que os defeitos jurídicos também podem


ser chamados de vícios jurídicos por trata-se de imperfeições que podem ocorrer
devido às aberrações na construção da vontade do agente ou até mesmo na
declaração da vontade de uma das partes, fator esse, que tem capacidade de
tornar-se um negócio jurídico relativamente ou absolutamente nulo.
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Nessa perspectiva, podem-se apontar dois tipos ou espécies de vícios ou


defeitos jurídicos, assim podendo ser nomeados como: vícios de consentimento
e vícios sociais, em que os vícios de consentimento são tidos como aqueles
voltados a questão da vontade das partes, portanto quando a manifestação da
vontade não é vista de forma plenamente livre e espontânea, nesse caso, são
tidas como sendo: erro ou ignorância, dolo, coação, estado de perigo e lesão.
Enquanto, os vícios sociais são vistos como aqueles relacionados com a
questão da boa-fé, portanto existe nesse caso a manifestação da vontade,
embora esta se encontre diversa dos princípios legais preestabelecidos no nosso
ordenamento jurídico, logo pode-se afirmar que os vícios sociais estão
permeados de intenções ruins, por conseguinte podendo ser classificados como:
fraude contra credores e simulação.
Sendo a assim, pode-se afirmar que para o direito positivado, retificado e
ratificado pelo Novo Código Civil (NCC) o que de fato interessa sobre o negócio
jurídico é a questão de ser considerado válido ou invalido, para isso, devendo
ser observado as condições em que aconteceu tal ato, para então poder produzir
seus efeitos em obediência ao que se espera como efeito jurídico.
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1.1 A INCIDÊNCIA DO ERRO COMO UM VÍCIO DE CONSENTIMENTO

No que se refere a questão do erro como vicio de consentimento pode-se


afirmar que no direito civil tal instituto é tido como uma falsa percepção da
realidade, assim sendo, nesse caso, não há uma terceira pessoa, já que o agente
não é levado a falsa percepção da realidade por ninguém ou seja engana-se.
No entanto, embora seja esse instituto um vício com previsão legal nos
artigos 138 a 144 do Código Civil, verifica-se que não existem muitas demandas
de ação em juízo anulatórias, tendo em vista a questão da dificuldade de
construção de provas que demonstre tal ato, tendo em conta trata-se de algo
muito íntimo do agente, portanto não sendo assim externado o que se passou
na mente do agente quando da celebração negocial, tendo em vista a sua
capacidade de participar em um negócio jurídico.
No entanto, é sabido que:

A capacidade de ser parte, permitida a toda pessoa natural, foi


diferenciada da capacidade processual (ou capacidade de estar em
juízo) e da legitimação ad causam. O pedido, considerado pelos
italianos como l’oggetto dell’azione, assume, também, um papel de
grande relevância como um dos elementos identificadores da ação, já
que é nos seus exatos limites que o julgador deverá decidir a causa.
(CHEKER, 2014, p. 10)

Assim sendo, pode-se afirmar que não existe diferença entre erro e
ignorância, pois a distinção acontece simplesmente de forma doutrinária
pautando o erro como o desconhecimento de forma parcial enquanto a
ignorância é tida como o desconhecimento total, porém os efeitos na prática não
diferem.
Desse modo:

O erro difere-se de alguns institutos como a ignorância, (por mais que


sejam equiparados seus efeitos) vício redibitório, falso motivo e
interesse negativo. Para a nova teoria do erro, não se avalia mais o
critério da escusabilidade mas sim o da cognoscibilidade. O grande
equívoco da nova teoria é que o erro é confundido com o dolo, que são
institutos diferentes por mais que ambos tornem o negócio anulável.
Portanto, o critério que o nosso código civil de 2002 adotou foi da
escusabilidade e não da cognoscibilidade, no qual é consagrado em
seu artigo 138. (OLIVEIRA; TEBAR, 2015, p. 14)
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Nesse sentido, pode-se até afirmar que para se ter um negócio jurídico
em uma situação anulatória é preciso ser substancial, escusável e real, assim
nesse caso verifica-se a necessidade de se ponderar nos citados quesitos,
portanto no instituto substancial recai sobre o fato da incidência da causa do
negócio jurídico que se pratica, visto que sem a qual o negócio jurídico não teria
sido realizado, ou seja, o fato da existência de uma compra de um objeto com a
crença de ser outro ou ser de outra constituição, mas ainda:

Assim, a possibilidade de o autor ter a sua demanda acolhida, como


bem destaca Leonardo Greco, “é aferida a partir dos fatos afirmados
pelo autor, in statu assertionis, porque se desses fatos
categoricamente não puder vir a resultar o acolhimento do pedido, o
autor deverá ser julgado carecedor da ação”. (CHEKER, 2014, p. 29)

Já no quesito escusável pode-se afirmar que se trata de uma comparação


a respeito da atitude do agente em relação a conduta do padrão do homem
médio, logo se busca analisar a percepção da maioria das pessoas em relação
ao fato concreto. “Este “homem médio”, portanto, representa uma abstração
criada pelo Direito, para que sirva de parâmetro quanto à
realização/concretização ou não do dever objetivo de cuidado e quanto à
ocorrência ou não da culpa imputável. “ (GRANT, (2010?) p. 1615). Enquanto no
quesito real refere-se ao fato do erro ter, de certo modo, produzido um prejuízo
de forma concreta ao sujeito.
Entretanto, percebe-se que o vício no negócio jurídico pode ter
convalescimento, ou seja, se o erro não produzir prejuízo no negócio jurídico que
fora acertado, tal vicio não causará anulabilidade a situação concreta, fato que
pode ser visto no artigo 144 do Código Civil que diz: “O erro não prejudica a
validade do negócio jurídico quando a pessoa, a quem a manifestação de
vontade se dirige, se oferecer para executá-la na conformidade da vontade real
do manifestante. ”
No entanto, cabe pontuar que o código civil de 1916 rezava a possibilidade
de invalidar uma declaração de vontades destinadas a um efeito jurídico, pois no
caso de anulabilidade de um negócio jurídico o erro precisava ser escusável,
embora o texto positivado não possuísse tal exigência expressamente, contudo
a doutrina recaia sobre essa compreensão, entretanto o erro esdrúxulo não
causava anulabilidade.
Portanto, se tem o entendimento que:
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O Código Civil de 1916 era omisso quanto ao erro de direito, gerando


controvérsia na doutrina. CLÓVIS BEVILÁQUA, dentre outros, refutava
essa espécie de erro, com base no art. 3º da Lei de Introdução às
Normas do Direito Brasileiro – LINDB (Decreto-Lei nº 4.657/42):
ninguém pode se escusar de descumprir a lei alegando seu
desconhecimento. (FERREIRA, (2010?), p.06)

Nesse sentido o código civil de 2002 reforça esse entendimento quando


traz no artigo 138 a declaração de escusabilidade desse defeito jurídico, dizendo
que “ São anuláveis os negócios jurídicos, quando as declarações de vontade
emanarem de erro substancial que poderia ser percebido por pessoa de
diligência normal, em face das circunstâncias do negócio. ”
Ainda sobre esse assunto o artigo 140 do código civil esclarece que
quando expresso como razão determinante o falso motivo vicia a declaração da
vontade no negócio jurídico, tendo em vista a seguinte redação do artigo,
preceituando que “O falso motivo só vicia a declaração de vontade quando
expresso como razão determinante. ”
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2. DESMONTANDO O CONCEITO DOS DEFEITOS JURÍDICOS


INTENCIONAIS

No que concerne a questão dos defeitos jurídicos intencionais, nesse


capitulo, referir-se, tão somente, ao dolo e a coação, tendo em vista, que o
Código Civil conduz o agente ao entendimento conceitual de que tais institutos
são tidos como vícios de consentimentos, portanto capazes de contaminar um
negócio jurídico válido, podendo advir de uma relação negocial formada por duas
ou mais pessoas com intuito de adquirir, alterar ou até mesmo abolir direitos e
obrigações.
Portanto, cabe dizer que, embora na elaboração de um negócio jurídico
haja a necessidade do respeito a manifestação da vontade das partes
envolvidas, sendo desse modo, tidas em via de regra, como bilaterais ou
plurilaterais, entretanto, pode-se afirmar que esses defeitos jurídicos induzem,
de certo modo, a formação negocial através da manifestação unilateral de
vontade, por meio de anulação da espontaneidade da outra parte por fatores
reprováveis juridicamente.
Nesse sentido percebe-se que há anulabilidade da vontade de uma das
partes, embora se saiba que a vontade plena e espontânea das partes sejam
elementos indispensáveis na efetividade legal do negócio jurídico, haja vista o
apontamento da necessidade da manifestação idônea da vontade na atividade
jurídica, logo qualquer contaminação é tida como verdadeiras anomalias.
Destarte, tem-se a divisão desses defeitos jurídicos, porquanto o dolo é
tido como um artificio malicioso usado para induzir o agente a concluir um
negócio jurídico desvantajoso, por isso pode ser classificado como: dolo principal
e dolo acidental.
De tal modo, que pode-se afirmar que o dolo principal (dolus causans dans
contratui) trata-se do instituto que é a causa peremptória da ratificação do
negócio jurídico, enquanto o dolo acidental refere-se a situação em que o
negócio jurídico seria realizado independente desse vicio, embora o
comportamento do outro tenha influenciado na concretização negocial.
Portanto, cabe afirmar que:
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A boa fé é princípio que, mesmo em relações desequilibradas como as


de consumo, se aplica a ambas as partes, e assim seria abusivo, por
sua vez, impugnar um negócio pela ausência de uma informação que
não estivesse diretamente vinculada ao negócio ou que já devesse ser
de conhecimento da outra parte.
Neste sentido, já a doutrina tradicional indicava uma distinção entre
dois tipos de dolo: o dolus bônus e o dolus malus. Enquanto este seria
idôneo, de fato, a permitir a anulação do negócio, aquele não importaria
perturbação no negócio jurídico. O dolus bônus seria um dolo
admissível, a simples solércia, a astucia usual que, na vida real, faz
parte dos negócios jurídicos. (OLIVEIRA et al, 2011, p. 622)

Enquanto a coação é tida como um certo tipo de pressão, seja física, seja
psicológica, portanto, “Cabe recuperar aqui a distinção tradicional entre vis
absoluta e vis compulsiva. A primeira é a violência física, em que o agente é
literalmente forçado a assina, falar ou sinalizar, de qualquer forma, a sua
declaração. ” (OLIVEIRA et al, 2011, p. 625)
Assim sendo, “A vis compulsiva é que caracteriza a coação defeito do
negócio jurídico, diante da pressão exercida para que concorde, a declaração é
perturbada, mas sem que haja a total aniquilação da vontade. ” (OLIVEIRA et
al, 2011, p.625)
Desse modo, fica evidente que a coação tem por finalidade obrigar a
vítima a praticar atos jurídicos indesejáveis, ou seja, forçada a realização de
negócio jurídico, cuja classificação pode-se também receber o nome de: coação
absoluta e de coação relativa ou moral.
Sendo assim, “Exige-se ainda, para caracterizar a coação que vicio do negócio
jurídico, que o dano ameaçado seja iminente e considerável. Iminente seria o
dano prestes a acontecer e que, portanto, não haveria como evitá-lo, a não ser
celebrando o negócio indesejado. (OLIVEIRA et al, 2011, p. 627)
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2.1 DOLO COMO VICIO DE CONSENTIMENTO

Acerca desse defeito do negócio jurídico percebe-se que o Código Civil


não traz em seu bojo um conceito taxativo no rol dos seus artigos, posto isso,
fica perceptível que nesse documento positivado, tão somente, indica as
pressuposições de negócios jurídicos que podem ser anulados. No entanto é
sabido que o dolo no direito civil se trata de estratagemas com o objetivo de
induzir o sujeito ao erro, visando obter vantagem pessoal ou para terceiro na
realização do negócio jurídico.
Dessa forma, percebe-se que o dolo se diferencia de o erro pelo fato
desse defeito ser motivado por um terceiro com o objetivo de obtenção
vantajosa, enquanto o erro se pauta, tão somente, em um equívoco do agente
através de uma interpretação errônea, portanto sem motivação de uma terceira
pessoa. Assim, cabe pontuar que “O dolo também pode ser dividido em dolus
malus e dolus bonus. O dolus malus é a regra, é o dolo que gera anulabilidade.”
(FERRREIRA, (2010?), p. 12)
Além dessa diferenciação pode-se pontuar também como um outro fator
preponderante para o aparecimento do dolo através do erro é a questão do
silêncio propositado, ou seja, a percepção do erro por uma das partes de um
negócio jurídico sem, contudo, alertar a outra parte envolvida sobre o percebido
equívoco, tendo em conta a necessidade da livre vontade, de forma consciente,
está presente na realização do negócio jurídico.
Tendo em vista que:

A vontade é a mola propulsora dos atos e dos negócios jurídicos. Essa


vontade deve ser manifesta ou declarada de forma idônea para que o
ato tenha vida normal na atividade jurídica e no universo negocial. Se
essa vontade não corresponder ao desejo do agente, o negócio jurídico
torna-se susceptível de nulidade ou anulabilidade. (AQUINO, 1013, p.
01)

Portanto, cabe dizer que o dolo é tido como um tipo de conduta eivada de
malicias por uma das partes ou até mesmo de uma terceira pessoa com
finalidade diversa dos basilares legais, portanto capaz de conduzir o outro a erro
fazendo despontar na parte uma vontade desfavorável, ou seja enganando-o.
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No entanto, a doutrina tende a atentar para a análise do caso concreto.


É preciso que o dolo induza o consumidor em erro. Se o vendedor
afirma que o produto é o melhor do mundo, tal afirmação não deve ser
apta a induzir o consumidor em erro, configurando-se o dolus bonus.
Por outro lado, se o vendedor afirma que o produto tem 92% de
aceitação popular, quando ele possui apenas 20%, o consumidor pode
ser induzido em erro, configurando-se dolus malus. (FERRREIRA,
(2010?), p. 12)

Nesse aspecto tem-se o Novo Código Civil com a previsão desse defeito
jurídico e suas possíveis consequências como pode ser visto no artigo 186 que
preceitua dizendo assim, “Aquele que, por ação ou omissão voluntária,
negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que
exclusivamente moral, comete ato ilícito. ”
Assessorado pelo artigo 171 que preceitua:

Art. 171. Além dos casos expressamente declarados na lei, é anulável


o negócio jurídico:
I - por incapacidade relativa do agente;
II - por vício resultante de erro, dolo, coação, estado de perigo, lesão
ou fraude contra credores.

Além de regular a obrigatoriedade de reparação do dano no caso do dolo,


como se vê:

Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a
outrem, fica obrigado a repará-lo.
Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano,
independentemente de culpa, nos casos especificados em lei, ou
quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano
implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem.

Desse modo, verifica-se nitidamente a diferença entre o erro e o dolo,


tendo em vista que esse último é resultante de um comportamento maldoso de
um indivíduo, portanto, o Código Civil vigente buscou pautar seus preceitos na
ética e na lealdade, assim trazendo em seus artigos a possibilidade do
reconhecimento do negócio válido, tão somente, pela manifestação real da livre
vontade do sujeito.
Assim sendo, tornando anuláveis os negócios jurídicos que não
satisfazerem esses requisitos, como pode ser visto nos artigos 145 aa 150:

Art. 145. São os negócios jurídicos anuláveis por dolo, quando este for
a sua causa.
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Art. 146. O dolo acidental só obriga à satisfação das perdas e danos,


e é acidental quando, a seu despeito, o negócio seria realizado,
embora por outro modo.
Art. 147. Nos negócios jurídicos bilaterais, o silêncio intencional de uma
das partes a respeito de fato ou qualidade que a outra parte haja
ignorado, constitui omissão dolosa, provando-se que sem ela o negócio
não se teria celebrado.
Art. 148. Pode também ser anulado o negócio jurídico por dolo de
terceiro, se a parte a quem aproveite dele tivesse ou devesse ter
conhecimento; em caso contrário, ainda que subsista o negócio
jurídico, o terceiro responderá por todas as perdas e danos da parte a
quem ludibriou.
Art. 149. O dolo do representante legal de uma das partes só obriga o
representado a responder civilmente até a importância do proveito que
teve; se, porém, o dolo for do representante convencional, o
representado responderá solidariamente com ele por perdas e danos.
Art. 150. Se ambas as partes procederem com dolo, nenhuma pode
alegá-lo para anular o negócio, ou reclamar indenização.

Ficando perceptível a possibilidade de invalidação do negócio jurídico até


mesmo por dolo diminuto, tendo em vista o prejuízo da liberdade de escolha de
forma consciente, devido a distorção da realidade intencionalmente, assim
fazendo com que a vontade seja manifestada de forma inconsciente.
No entanto, diante do exposto fica perceptível que:

Nem sempre é o beneficiário que pratica o dolo, mas sim um terceiro.


No caso de dolo de terceiro, a determinação se o negócio jurídico será
anulável ou não dependerá do conhecimento do beneficiário:
 Beneficiário conhecia – Negócio Jurídico Anulável
 Beneficiário não conhecia – Negócio Válido, mas o terceiro que
praticou o dolo responderá pelas perdas e danos. (MENDONÇA, 2014,
p. 05)

Além disso, percebe-se que em um negócio jurídico há uma exigência da


atuação da boa-fé objetiva, ou seja, há existência da intolerância ao
comportamento ilícito em um negócio jurídico como pode se ver no artigo 423 do
Código Civil que prescreve dizendo: “Quando houver no contrato de adesão
cláusulas ambíguas ou contraditórias, dever-se-á adotar a interpretação mais
favorável ao aderente. ”.
21

2.2 COAÇÃO COMO DEFEITO JURÍDICO

No caso da coação pode-se afirmar que esse vício jurídico é caracterizado


por pressão, seja ela de ordem psicológica ou de ordem moral, nessa
perspectiva a coação pode ainda ser vista como ameaças ao sujeito ou a um
membro familiar visando forçar o agente a praticar determinado negócio jurídico.
Diante dessa análise pode-se classificar a coação como absoluta ou
relativa em que a absoluta debruça seu olhar sobre a coação física, assim
retirando do sujeito toda e qualquer possibilidade de escolha de forma
espontânea, portanto contaminando o negócio jurídico, logo dando origem a
nulidade absoluta.
Já a coação relativa trata-se da coação moral que é praticada de forma
psicológica, portanto, nesse caso causando grande influência sobre o indivíduo,
entretanto, a vontade do sujeito não é totalmente eliminada, consequentemente
cabendo ao agente decidir praticar o ato jurídico ou enfrentar a possibilidade de
torna-se vítima de ameaças intimidatórias.
Vejamos o entendimento jurisprudencial sobre a existência da coação
moral na hipótese de superendividamento do agente, diante da sua
hipossuficiência, tomando por base o acórdão do Tribunal de Justiça do Rio
grande do Sul:

APELAÇÃO CÍVEL. NEGÓCIOS JURÍDICOS BANCÁRIOS. AÇÃO DE


NULIDADE DE DÉBITO CUMULADA COM PEDIDO DE DANOS
MORAIS E MATERIAIS. QUANTUM. SUPERENDIVIDAMENTO.
HIPOSSUFICIÊNCIA. CONCESSÃO DE CRÉDITO
IRRESPONSÁVEL. DEVER DO CREDOR DE MITIGAR OS
PRÓPRIOS PREJUÍZOS. - SENTENÇA ULTRA PETITA - questão de
ordem pública reconhecida, desconstituindo-se parcialmente a decisão
de ofício. Reconhece-se que a sentença é ultra petita ao extinguir os
contratos objeto da presente demanda, pois tal pedido não foi
formulado na inicial. Sendo vedado ao julgador o reconhecimento de
abusividade ou legalidade de cláusulas, de ofício, em contratos
bancários, sendo necessária a especificação das cláusulas tidas por
abusivas. Exegese da Súmula n. 381 do STJ. Redução aos limites em
que a ação foi proposta, ficando prejudicada a análise quanto à
extinção do contrato. Inteligência dos arts. 128 e 460 do CPC. -
SUPERENDIVIDAMENTO: Superendividamento caracterizado no
caso concreto. Situação de hipossuficiência da autora devidamente
comprovada e da concessão, por parte da ré, de crédito de forma
irresponsável. Nulidade de contratações sucessivas para cobrir saldo
devedor, realizadas sob o manto da coação moral. Instituição bancária
que concede crédito sem averiguação da capacidade econômica do
consumidor, contrata sob a égide da temeridade ou alto risco, devendo
arcar com os prejuízos daí resultantes. Culpa in iligendo e in vigilando
22

que de forma flagrante e incontroversa qualifica a relação contratual


das partes litigantes. Concessão de crédito a quem não tem condições
de realizar sua prestação obrigacional, importa em contratação viciada
principalmente em razão de simular e induzir em erro o cliente fazendo
parecer que terá ele condições de pagamento. Situação de lesão
irreversível ao consumidor. Conduta contratual das instituições
bancárias que estabelecem extrema facilidade na concessão de
crédito de consumo, sem quaisquer exigências de garantia. O Estado-
Juiz tem a responsabilidade de dar os parâmetros para as
contratações, no sentido de apresentar limitações ao direito de
contratar das instituições bancárias, que devem ser responsabilizadas
na medida de sua conduta imprudente de propor crédito com tantas
facilidades, colocando em risco a própria perfectibilização do contrato,
diante da incapacidade flagrante de pagamento do contratante. Dever
de mitigar os próprios danos não observado. Enunciado n. 169 da III
Jornada de Direito Civil, promovida pelo Conselho da Justiça Federal.
- DO QUANTUM INDENIZATÓRIO: o montante fixado pelo juízo
singular está de acordo com os parâmetros estabelecidos por este
Tribunal em casos semelhantes, devendo ser mantida a indenização
ali arbitrada. - DANOS MATERIAIS E DEVOLUÇÃO DE VALORES: a
cobrança indevida enseja repetição do valor pago em dobro quando
não há prova de erro justificável. Aplicação do parágrafo único do art.
42 do CDC. - SUCUMBÊNCIA: mantidos os ônus sucumbenciais.
DESCONSTITUÍDA EM PARTE A SENTENÇA, FOI PROVIDO
PARCIALMENTE O RECURSO DA AUTORA E, POR MAIORIA,
PROVIDO EM PARTE O RECURSO DO RÉU.(Apelação Cível, Nº
70060010568, Vigésima Terceira Câmara Cível, Tribunal de Justiça do
RS, Relator: Ana Paula Dalbosco, Julgado em: 25-11-2014) (grifo
nosso).

No entanto, há possibilidade de exige-se para o reconhecimento da


existência da coação relativa e assim poder, de certo modo, anular o negócio
jurídico algumas características como, por exemplo: deve ser causa
determinante do negócio; ser grave; ser injusta; dizer respeito ao dano atual e
iminente; e/ou ameaça de prejuízo à pessoa ou a bens da vítima ou a pessoa de
sua família.

Contudo, pela teoria tradicional, que persiste ao lado da tese


kelseniana, a coação é nódoa que pode macular até irremediavelmente
o ato jurídico em qualquer dos ramos do Direito, nacional e
internacional, seja público ou privado, tanto substantivo como
processual. (VASCONCELOS, 2010, p. 396)

Nesse aspecto, tem-se a coação como um dos defeitos jurídico mais


gravoso, haja vista a possiblidade de, em alguns casos, existir agressão física,
pois prevalece o entendimento que uma vontade manifestada devido a algum
tipo de coação não corresponde a livre vontade.
Portanto, pode-se afirmar que:
23

Em relação à causa determinante do ato, deve haver uma relação de


causalidade entre a coação e o ato extorquido, ou seja, o negócio deve
ter sido realizado somente por ter havido grave ameaça ou violência,
que provocou na vítima fundado receio de dano à sua pessoa, à sua
família ou aos seus bens. Sem ela, o negócio não se teria concretizado.
(SOUZA; JOBIM, 2020, p. 10)

Ainda cabe pontuar que além dos possíveis efeitos jurídicos que pode
advir desse tipo de vicio de consentimento há também de se mencionar a
questão das consequências nocivas ao psicológico da vítima, já que se trata de
um tipo de ameaça aos direitos individuais do sujeito.
Nessa esteira, em análise a um caso concreto, pode-se aqui fazer menção
ao acórdão também do Tribunal de justiça do Rio Grande do Sul, que acabou
por entender a existência de coação moral exercida por uma certa igreja
evangélica sobre uma determinada fiel para que esta dizimasse, ou seja, fizesse
doações em prejuízo ao patrimônio, portanto, considerado como um vício de
consentimento.
Assim, apontando a inaceitabilidade da prestação do dizimo em
decorrência de sanções religiosas através de discursos subliminares
ameaçador, portanto para melhor compreensão vejamos o acordão:

“Responsabilidade civil. Doação. Coação moral exercida por discurso


religioso. Ameaça de mal injusto. Promessa de graças divinas.
Condição psiquiátrica preexistente. Cooptação da vontade. Dano moral
configurado. Indenização arbitrada. 1. Análise do artigo 152 do Código
Civil. Critérios para avaliar a coação. A prova dos autos revelou que a
autora estava passando por grandes dificuldades em sua vida afetiva
(separação litigiosa), profissional (divisão da empresa que construiu
junto com seu ex-marido), e psicológica (foi internada por surto
maníaco, e diagnosticada com transtorno afetivo bipolar). Por conta
disso, foi buscar orientação religiosa e espiritual junto à Igreja Universal
do Reino de Deus. Apegou-se à vivência religiosa com fervor,
comparecia diariamente aos cultos e participava de forma ativa da vida
da igreja. Ou seja, à vista dos critérios valorativos da coação, nos
termos do art. 152 do Código Civil, ficou claramente demonstrada sua
vulnerabilidade psicológica e emocional, criando um contexto de
fragilidade que favoreceu a cooptação da vontade pelo discurso
religioso. 2. Análise dos arts. 151 e 153 do Código Civil. Prova da
coação moral. Segundo consta da prova testemunhal e digital, a autora
sofreu coação moral da igreja que, mediante atuação de seus
prepostos, desafiava os fiéis a fazerem doações, fazia promessa de
graças divinas, e ameaçava-lhes de sofrer mal injusto caso não o
fizessem. No caso dos autos, o ato ilícito praticado pela igreja
materializou-se no abuso de direito de obter doações, mediante coação
moral. Assim agindo, violou os direitos da dignidade da autora e lhe
casou danos morais. Compensação arbitrada em R$ 20.000,00 (vinte
mil reais), à vista das circunstâncias do caso concreto. 3. Multa por
24

litigância de má-fé afastada. 4. Redefinida a sucumbência. Recurso da


autora conhecido em parte, e nessa parte, provido parcialmente.
Prejudicado o recurso da ré. Unânime” (TJRS, Apelação Cível 583443-
30.2010.8.21.7000, Esteio, Nona Câmara Cível, Rel.ª Des.ª Iris Helena
Medeiros Nogueira, j. 26.01.2011, DJERS 11.03.2011) (grifo nosso).

Entretanto cabe ressaltar que não é considerada coação pelo


ordenamento jurídico brasileiro quando se trata do exercício regular do direito,
portanto pode-se afirmar que uma ameaça pode ser considerada dentro do
princípio da legalidade, sendo possível exemplificar nesse caso quando alguém
ameaça acionar a justiça para dirimir uma lide, pois esse tipo de ameaça é
considerada justa.
Isso pode ser percebido na leitura do artigo 153 do código civil que diz
“Não se considera coação a ameaça do exercício normal de um direito, nem o
simples temor reverencial. ”. Dessa forma verifica-se que a coação é tida como
um vício de manifestação diversa da natureza do vício do erro e do dolo.
Sendo assim, na questão da coação verifica-se que esse defeito afeta a
autonomia do sujeito através do medo e do temor em que evidencia algum tipo
de violência como instrumento norteador de maculação da declaração da
vontade.
Vejamos o artigo 51 do Código Civil:

Art. 151. A coação, para viciar a declaração da vontade, há de ser tal


que incuta ao paciente fundado temor de dano iminente e considerável
à sua pessoa, à sua família, ou aos seus bens.
Parágrafo único. Se disser respeito a pessoa não pertencente à
família do paciente, o juiz, com base nas circunstâncias, decidirá se
houve coação.

Ainda cabe mencionar o dispositivo na lei 10.406 de 10 de janeiro de 2002


com a instituição do Código Civil prescrevido pelo artigo 171, ll, para melhor
compreender essa questão da anulabilidade que diz:

Art. 171. Além dos casos expressamente declarados na lei, é anulável


o negócio jurídico:
II - por vício resultante de erro, dolo, coação, estado de perigo, lesão
ou fraude contra credores.

Nesse sentido, pode-se ser percebido que a coação moral na atual


legislação é também chamada de vis compulsiva cuja característica é tida como
qualquer tipo de amaças contra um sujeito, seja contra a honra ou contra os bem
25

materiais, portanto pode-se até afirmar a existência de uma certa dubiedade


quanto a questão de tê-la como um simples vício de consentimento por ser
resultando em um negócio jurídico sobre pressões físicas ou morais, assim
anulando a vontade do sujeito.
Diante do exposto, pode-se destacar que a coação como defeito jurídico
implica na possibilidade de anulação de um negócio jurídico que pode ser
combatida pela parte molestada em um prazo decadencial de quatro anos, haja
vista a percepção do vicio por meio de ameaças coercitivas.
26

3. PROTEÇÃO JURÍDICA PERPETRADA PELO NOVO CÓDIGO CIVIL

É certo afirmar que diante da busca preponderante por segurança jurídica,


tendo ciência do surgimento de possíveis defeitos jurídicos numa celebração
negocial, em que se tem várias facetas apresentadas em um negócio jurídico
que podem se formar através de divergências da livre manifestação da vontade
real, afastando-os as partes da essência do efeito desejado, deu-se origem ao
novo Código Civil através da Lei 10.406/2002.
Portanto, pode-se pontuar, no que se refere a questão da limitação
contratual no novo Código Civil, que embora essa nova norma admita um certo
tipo de liberdade aos contraentes, no entanto impõe-vos a observação dos
princípios como: da probidade e da boa-fé e assim se adequando a nova
dinâmica do direito positivado.
Assim, a antiga norma norteada pelo princípio “pacta sunt servanda”
expressão em latim significa “os contratos devem ser cumpridos” disciplinando a
obrigatoriedade dos pactos dos negócios jurídicos considerando-os lei para as
partes foi aprimorado na hodiernidade, assim podendo-se afirmar que
atualmente os contratos são disciplinados pelo princípio “rebus sic standibus”,
expressão em latim pode ser traduzido como “estando assim as coisas”.
Portanto, pode-se afirmar sobre essa cláusula que disciplina os negócios
jurídicos atuais que trata tal questão pelo entendimento de que as obrigações,
somente terão validade, enquanto a coisa ou situação estiverem nas mesmas
condições que deram origem ao ato jurídico.
Entretanto, cabe ressaltar que essa teoria norteadora está intimamente
ligada a teoria da imprevisão, já que é sabido que tal proposição visa a proteção
dos contratantes em situações inesperadas, tendo em vista a existência de
contrato longos em que fica susceptível a mudanças durante a validade de um
contrato.
Assim sendo, pode-se afirmar que a cláusula rebus sic stantibus comporta
a resolução de situações que foram, pelo passar do tempo alteradas, e, portanto,
não eram previstas quando o negócio jurídico fora formalizado, podendo então
ser revisados pelas partes para que desse modo seja possível garantir o
acordado. “Consequentemente, a imprevisão tende a alterar ou a excluir a força
obrigatória dos contratos. ” (LYNCH, 2009, p. 14)
27

3.1 ESTADO DE PERIGO: UMA OBRIGAÇÃO DEMASIADAMENTE


ONEROSA

O defeito jurídico “estado de perigo” é percebido quando o agente realiza


negócio jurídico visando livrar-se de um dano muito grave por estar em
condições excessivamente onerosas. Pois, nesse caso, o agente está
influenciado por tamanha circunstância antagônica capaz de induzir o sujeito a
praticar negócio jurídico por grande pressão psicológica.
Destarte:

Não se pode esquecer, entretanto, que, atualmente, o negócio jurídico


deixa de ser instrumento exclusivo da liberdade individual e passa a
ser encarado como importante fator de equilíbrio social, no sentido de
que só os atos de iniciativa privada, considerados idôneos, podem
compor o suporte fático da espécie negocial que tem validade na tutela
da ordem jurídica e de que os vícios de consentimento foram ampliados
para a proteção dos contratantes hipossuficientes por meio do estado
de perigo (art. 156) e da lesão (art. 157). (FARIAS, 2004, p. 241)

Nesse sentido, pode-se pontuar como elementos característicos do


estado de perigo o surgimento das seguintes características: perigo de dano
grave e atual; obrigação excessivamente onerosa; perigo deve ter sido a causa
do negócio e que a parte contrária tenha ciência da situação de perigo e dela se
aproveita.
Portanto, “Torna-se importante esta análise, pois o disposto no art. 156 da
Lei 10.406/ 2002 constrói-se pela prática do Direito, por tratar-se de cláusula
geral. Mostra-se fundamental a apreciação de outras fontes além da legislativa.
” (FARIAS, 2004, p. 239)
Diante disso, pode-se afirmar que a diferença principal entre o estado de
perigo e a coerção é o fato de, no caso de estado de perigo, não haver
constrangimento, conquanto nesse último ser evidente tal característica,
portanto confirmado a situação de estado de perigo o negócio jurídico pode ser
considerado nulo ou ser anulado de forma relativa.
Entretanto, cabe ressaltar que esse instituto era discutido juntamente com
o instituto de coação, porém com o advento no novo código civil de 2002 ocorreu
a separação, tendo para isso uma definição própria no artigo 156:
28

Art. 156. Configura-se o estado de perigo quando alguém, premido da


necessidade de salvar-se, ou a pessoa de sua família, de grave dano
conhecido pela outra parte, assume obrigação excessivamente
onerosa.
Parágrafo único. Tratando-se de pessoa não pertencente à família do
declarante, o juiz decidirá segundo as circunstâncias.

Sendo assim, pode-se perceber que a aplicabilidade desse instituto se


apresenta carregado de compromisso extravagante, cuja situação não comporta
uma atitude diferente do agente, embora tal comprometimento com a respectiva
situação possa acarreta-lhe a consolidação de um determinado dano, ou seja, a
situação compele o sujeito a praticar o negócio jurídico exorbitante.
Destarte, conclui-se que o agente, diante das condições apresentadas,
viu-se obrigado a contratar prestação de obrigação demasiadamente
desfavorável, portanto capaz de viciar a exposição da sua livre vontade de forma
consciente que em situação comum não teria sido praticada.
No entanto, cabe ressaltar que “o estado de perigo é duplo, exigindo a
combinação de elementos objetivos e subjetivos, porquanto somente a situação
de periclitância não pode atrair sua força anulatória sobre os negócios
entabulados entre as partes. ” (HSIAO et al, 2021, p. 903)
Assim sendo, pode-se afirmar que se trata de um vício de consentimento
em que a parte não deseja de fato praticar o negócio jurídico de forma errada e
onerosa, contudo diante da situação apresentada, não teve outra alternativa,
diante disso, a legislação concorre para invalidar tal atitude negocial, tendo em
vista o entendimento que não houve a livre manifestação da vontade.
Assim sendo:

Com efeito, não se pode admitir que se tire proveito do desespero


alheio das pessoas em busca do lucro excessivo, sob pena de
incidência dos vícios do consentimento acima mencionados, capazes
de gerar a anulação posterior do contrato, sua revisão e a condenação
por ressarcimento pelos danos materiais e morais causados às
verdadeiras vítimas do oportunismo e dos abusos cometidos. (HSIAO
et al, 2021, p. 905, 906)

Nesse contexto há o entendimento que esse defeito do negócio jurídico é


formado diante de situações em que o agente avoca obrigações
demasiadamente onerosa com vista a salvar-se ou até mesmo visando salvar
um integrante da sua família de possíveis danos gravosos, nesse caso, se tem
29

o entendimento que esse negócio jurídico está com anomalias na expressão de


vontade do agente.
30

3.2 LESÃO COMO FATOR PREPONDERANTE DE


NULIDADE

No que tange a questão do defeito jurídico “lesão” pode-se afirmar


que se trata de um vício que possui como característica a aquisição de
um ganho excessivo de um dos lados em um negócio jurídico, seja devido
a questão da inexperiência ou seja pela questão da necessidade
econômica.
Diante da questão relativa a necessidade econômica pode-se
afirmar que:

A lesão vai se passara no negócio puramente patrimonial. É ainda um


estado de necessidade, mas um estado de necessidade econômico. A
vítima da lesão é aquele que precisa de dinheiro e, para isso, se
submete a uma venda, por exemplo, de uma bem a baixíssimo custo
ou a aquisição de um bem com excesso de ônus para se sair de uma
situação de carência econômica. (JUNIOR, 2002, p. 138)

Portanto, pode-se afirmar que esse vício jurídico tem seu florescimento
pautado na questão da existência de uma grande necessidade, como também
pode ser decorrente de inexperiência do agente que é seduzido a realizar uma
relação negocial inteiramente desproporcional, assim causando-lhe real
prejuízos financeiros a uma das partes.
Nesse aspecto pode-se pontuar dois tipos de requisitos que gera a lesão,
o subjetivo e o objetivo, assim como requisito subjetivo tem-se a questão da
possibilidade de existência de uma deficiência ou um certo desequilíbrio
psicológico por parte de um dos agentes que compõem a constituição do negócio
jurídico ou até mesmo impulsionado por uma pressagia necessidade econômica,
enquanto o requisito objetivo desponta na desproporção entre as prestações.
Desse modo, percebe-se que o novo Código Civil admite a lesão como
um vício de consentimento no intuito de gerar anulabilidade quando enxerga a
existência desse instituto e para tanto, analisa-se se está pautado na extrema
necessidade ou na inexperiência de uma das partes envolvidas em um negócio
jurídico acrescido por uma evidente desproporcionalidade.
Nesse sentido o Novo Código Civil no seu artigo 156 conceitua esse
instituto da seguinte forma, dizendo que “ Configura-se o estado de perigo
quando alguém, premido da necessidade de salvar-se, ou a pessoa de sua
31

família, de grave dano conhecido pela outra parte, assume obrigação


excessivamente onerosa. ”.
No entanto, cabe ressaltar a existência de juristas que tem uma visão
diferente sobre o instituto lesão como vicio de consentimento:

Portanto, mesmo que o Código Civil de 2002 tenha positivado a lesão


como “defeito do negócio jurídico”, uma leitura atenta da obra de
Fernando Noronha possibilita inferir que, na sua visão, trata-se mais
de uma questão de justiça substancial que de vício de consentimento.
(VEIGA, 2016, p. 56)

Todavia pode-se destacar que o Código Civil de 2002 institui sobre a


ocorrência da lesão dizendo que:

Art. 157. Ocorre a lesão quando uma pessoa, sob premente


necessidade, ou por inexperiência, se obriga a prestação
manifestamente desproporcional ao valor da prestação oposta.
§ 1º Aprecia-se a desproporção das prestações segundo os valores
vigentes ao tempo em que foi celebrado o negócio jurídico.
§ 2º Não se decretará a anulação do negócio, se for oferecido
suplemento suficiente, ou se a parte favorecida concordar com a
redução do proveito.

Diante do exposto pode-se afirmar que a aplicabilidade desse instituto


recai sobre o contrato de um negócio jurídico entre duas ou mais pessoas,
entretanto cabe pontuar que não se aplica a contratos gratuitos e nem tão pouco
a contratos unilaterais, dessa forma fica perceptível que os pressupostos para o
devido reconhecimento da aplicação desse instituto recai sobre os contratos
bilaterais, onerosos e comutativo.
Nesse sentido, no que se refere ao instituto da lesão, convém afirmar que:

Pode situar-se na fase pré-contratual (como quando a empresa


entrevistadora de um candidato lesa a honra deste ao divulgar que o
mesmo não foi admitido, por algum defeito específico físico ou de
personalidade ou de criação ou orgânico; na fase contratual, quando a
empresa descumpre normas referentes à higiene e segurança no
trabalho e na fase pós-contratual, quando o empregado foi despedido
por fato extremamente grave e tal fato não foi provado. (HUSEK, 2009,
p. 85)

Portanto, cabendo ressaltar que o elemento objetivo, nesse caso, é a


desproporcionalidade exorbitante capaz de afetar aos princípios éticos e morais,
no entanto cabe dizer que para seja possível a percepção desse elemento é
32

necessária que essa desproporcionalidade tenha ocorrido na época em que o


contrato fora celebrado, tendo em vista que possíveis surgimento de
desproporção exorbitante após ao contrato celebrado estaria conectado a
fatores externos.
Logo, é importante destacar que para haver o reconhecimento desse
instituto entre a prestação e contraprestação em um contrato celebrado é
necessário a percepção da existência da necessidade contratual, bem como a
inexperiência da parte lesionada.
Portanto, entende-se que o agente que age na celebração de um negócio
jurídico eivado pelo instituto da lesão como vicio de consentimento atua impelido
por iminente necessidade ou por inexperiência, portanto é decerto que, nesse
caso, a vontade que fora declarada está desvirtuada do seu verdadeiro intento.
Logo:

Assim, a desproporção deve ser – consoante previsão legal –


manifesta, sob pena de ser entendida como o justo lucro advindo da
negociação, sendo certo que não é este que a lei visa coibir, não
viciando o negócio. Em verdade o elemento objetivo da lesão não
reside na desigualdade das prestações, mas sim na manifesta, aguda,
demasiada desproporção entre elas, que, presente, torna anulável o
negócio jurídico. (SOUZA, 2012, p. 295)

Enfim, embora anulável, não se pode afirmar que o negócio jurídico


celebrado, nesse caso, é inexistente, haja vista que, ainda que não preencha os
requisitos necessários para que se tenha o princípio da legalidade atendido
devido a percepção da presença da inexperiência ou da necessidade, ainda
assim, verifica-se a existência do consentimento, portanto vê-se a existência de
um negócio jurídico.
33

3.3 INVALIDADE DO NEGOCIO JURIDICO

No que concerne a validade de um negócio jurídico cabe pontuar que


comumente se utiliza o termo nulo ou anulável para descrever a validade do ato.
Nesse sentido, o termo nulo geralmente é usado quando a relação negocial é
integralmente inválida, enquanto o termo anulável é usado quando o negócio
jurídico é visto como parcialmente inválido.
Portanto, é sabido que a validade ou invalidade de um negócio jurídico
está pautado sobre a observância do atendimento aos requisitos previsto em lei.
Desse modo, pode-se afirmar que a ausência de elementos que são expressos
em lei e que não perpasse pela vontade humana, nem pela idoneidade do objeto
e tão pouco pela finalidade negocial torna o negócio jurídico inexistente.
Nesse aspecto a manifestação da vontade é imprescindível para a
construção do negócio jurídico e para isso é necessário que não esteja eivada
de erro, dolo ou até mesmo coação. Outra situação que pode ser tida como um
negócio jurídico nulo é a questão da relação negocial em que uma das partes
seja um agente absolutamente incapaz.
Logo, embora exista a relação negocial e que haja manifestação da
vontade sem erro, dolo ou coação, ainda assim o negócio jurídico não pode ser
concretizado devido a questão de o agente ser absolutamente incapaz.
Assim, percebe-se que o negócio jurídico é nulo por contrariar os preceitos
considerados de ordem pública, nesse sentido a sociedade rechaça os atos que
de certo modo é capaz de lesar o interesse público, portanto impedindo de tal
ato produzir o efeito esperado pelo sujeito.

Por fim, a nulidade pode ser reconhecida a qualquer tempo (art. 169,
2ª parte, do Código Civil). Esta é a chamada “imprescritibilidade do ato
nulo”. O Código Civil de 1916, omisso, gerava controvérsia. Havia o
entendimento predominante na época no sentido de que a nulidade
prescrevia em vinte anos (prazo residual de prescrição), já que a
prescrição (assim como a nulidade) também é tema de ordem pública.
O Código Civil de 2002 adotou a corrente minoritária à época do código
anterior, prevendo a sua imprescritibilidade. Por conta disso, há
entendimento doutrinário no sentido de que o reconhecimento da
nulidade é imprescritível, mas os reflexos patrimoniais decorrentes da
nulidade prescrevem. Assim, se o sujeito pleiteia a nulidade de contrato
cumulado com perdas e danos, as perdas e danos prescrevem. Esse
entendimento tende a ser dominante na jurisprudência, de forma a
preservar a mínima segurança jurídica nas relações privadas.
(FERREIRA, (2014?), p. 03)
34

Nesse sentido o Código Civil possui artigos que falam sobre a questão da
nulidade, como pode ser visto no artigo 166 e no artigo 167. Assim no artigo 166
está positivado que:

É nulo o negócio jurídico quando:


I – celebrado por pessoa absolutamente incapaz;
II – for ilícito, impossível ou indeterminável o seu objeto;
III – o motivo determinante, comum a ambas as partes, for ilícito;
IV – não revestir a forma prevista em lei;
V – for preterida alguma solenidade que a lei considere essencial para
a sua validade;
VI – tiver por objetivo fraudar a lei imperativa;
VII – a lei taxativamente o declarar nulo, ou proibir-lhe a prática, sem
cominar sanção.

Enquanto, no artigo 167 institui que “É nulo o negócio jurídico simulado,


mas subsistirá o que se dissimulou, se válido for na substância e na forma”.
Sendo assim, pode-se perceber que o dispositivo nulidade trata-se de, certo
modo, sobre um tipo de sanção que está positivado no ordenamento jurídico
visando a proteção da lisura dos atos jurídicos, para isso não se admite
prescrição por tratar de uma agressão a ordem pública.
Nesse sentido, pode-se mencionar a nulidade de forma absoluta quando
o negócio jurídico é atingido no todo e consequentemente falar de nulidade
relativa quando atinge parte da transação negocial, ou seja, somente aquela que
estão contaminados de vícios, além disso que pudesse ser textual em que a lei
traz positivado e virtual em que embora não esteja de forma expressa na lei
pode-se facilmente ser deduzida.
Portanto, é sabido que a anulabilidade pode atingir atos jurídicos
efetivados por pessoas relativamente incapaz ou aqueles atos eivados de algum
tipo de vicio de consentimento ou até mesmo de vicio social. Para tanto, o Código
Civil traz em seu bojo especificamente no artigo 171 hipóteses de anulabilidades
de um negócio jurídico dizendo que “é anulável o negócio jurídico, além dos
casos expressamente declarados na lei, por incapacidade relativa do agente e
por vício resultante de erro, dolo, coação, estado de perigo, lesão ou fraude
contra credores. ”
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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante do exposto nesse trabalho percebe-se que a discursão ocorreu


perpassando pelos vícios de consentimentos pontuando como verdadeiros
defeitos jurídicos, para tanto debruçou-se nos vícios da vontade classificados no
Novo Código Civil como: erro ou ignorância, dolo, coação, estado de
necessidade e lesão, que por serem detentores de peculiaridades teve atenção
singular nesta monografia.
No entanto ficou notório que embora tais assuntos não seja novo no
instituto civilista, exigem do operador do direito uma atenção diferenciada devido
a sua constante incidência no cotidiano da sociedade hodierna que por ser
volúvel evidencia verdadeiros desafios, provocando até entre os doutrinadores
divergências de opiniões, assim dando origem a correntes diversas a respeito do
tema.
Portanto, viu-se que o negócio jurídico perpassa pela imperatividade da
livre declaração da vontade humana que é tida como resultado da pretensão de
um sujeito capaz, levando em consideração que o objeto seja licito e que tenha
previsão em lei, podendo assim ser percebida pela exteriorização dos anseios
individuais.
Nesse sentido, viu-se que estando presente os pressupostos dos vícios
de consentimento o negócio jurídico poderá ser anulado devido a contaminação
da manifestação da livre vontade, portanto viciando o negócio jurídico, fator que
viola os preceitos legais.
Por fim, podemos concluir que os vícios do consentimento no negócio
jurídico são de extrema importância para a validade e eficácia do negócio, já que
sendo realizado de forma viciada poderá ser anulado e os efeitos produzidos
poderão ser inviabilizados mediante a provocação daquele que se viu
prejudicado. Dessa forma, percebe-se que a responsabilidade civil está baseada
no princípio da boa-fé para aplicabilidade das relações obrigacionais visando
proteção do agente.
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