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FACULESTE - FACULDADE DO LESTE MINEIRO

CURSO DE PÓS GRADUAÇÃO EM DOCÊNCIA DO ENSINO


SUPERIOR E TEOLOGIA

RIVANDO JOSÉ CONCEIÇÃO DOS SANTOS

A IGREJA CRISTÃ FRENTE AOS DESAFIOS


DOS TRÊS PRINCIPAIS PERÍODOS HISTÓRICOS
DA HUMANIDADE

Alagoinhas – Bahia
2022
FACULESTE - FACULDADE DO LESTE MINEIRO
CURSO DE PÓS GRADUAÇÃO EM DOCÊNCIA DO ENSINO
SUPERIOR E TEOLOGIA

A IGREJA CRISTÃ FRENTE AOS DESAFIOS


DOS TRÊS PRINCIPAIS PERÍODOS HISTÓRICOS
DA HUMANIDADE

Trabalho de conclusão de curso


apresentado à Faculeste de Coronel
Fabriciano – MG como requisito para
obtenção do diploma do Curso de Pós-
graduação em Docência do Ensino
Superior e Teologia, sob orientação das
professoras: Lucélia Silva Ribeiro e
Bianca Yureidine Santos.

Alagoinhas - Bahia
2022
DEDICATÓRIA

Dedico esse trabalho a minha esposa,


Evany Santos e a minha filha Rayane
Santos, pelo incentivo, carinho e apoio
irrestrito, propiciando mais uma vitória
nesta minha caminhada.
AGRADECIMENTOS

À Deus, pela minha vida e por me ajudar a ultrapassar todos os obstáculos


encontrados ao longo do curso, além de todas as conquistas que possibilitou na minha
vida!

Aos meus pais, que me permitiram a vida.

Aos irmãos, pelo processo interativo.

Aos colegas, pelas trocas de experiências, pelo convívio, pelas alegrias e incertezas,
por todos esses momentos vividos juntos e partilhados.

Aos professores, pela disponibilidade de passar os conteúdos, subsidiando na


minha formação profissional.

Por fim, a todos que de alguma forma me ajudaram a vencer mais uma etapa da
minha vida.
“A tarefa não é tanto ver aquilo
que ninguém viu, mas pensar
o que ninguém ainda pensou
sobre aquilo que todo
mundo vê.”
(Arthur Schopenhauer)
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ................................................................................................................7
1. A IGREJA NA ERA MEDIEVAL ................................................................................9
1.1 Patrística ................................................................................................................10
1.2 Escolástica ............................................................................................................11
1.3 Filósofos da idade média .....................................................................................12
1.4 A igreja e a política ...............................................................................................15
2. A IGREJA NA ERA MODERNA ..............................................................................19
2.1 Características.......................................................................................................21
2.2 Iluminismo..............................................................................................................24
2.3 Principais pensadores ..........................................................................................25
03. A IGREJA NA ERA PÓS MODERNA ...................................................................28
3.1 Pensadores pós modernos ..................................................................................30
3.2 Modernidade Sólida versus Modernidade Liquida (Zygmunt Bauman) ........33
CONSIDERAÇÕES FINAIS .........................................................................................36
REFERÊNCIAS .............................................................................................................38
RESUMO

A presente monografia trata de um trabalho de conclusão do Curso da Pós Graduação


em Docência do Ensino Superior e Teologia, para isso, se debruça sobre o tema “A
Igreja Cristã Frente aos Desafios dos Três Principais Períodos Históricos da
Humanidade” buscando trabalhar as questões das relações de poder no decorrer dos
anos dentro da religião cristã. Assim, essa pesquisa foca na delineação da trajetória
da igreja, transcursando os seguintes períodos históricos: o período medieval, o
período da modernidade até chegar ao período da pós modernidade. Portanto,
perpassando pela complexidade dessas eras transcorridas pela igreja, desse modo,
faz-se imprescindível caracterizar os dois períodos que serviram, de certo modo, como
força motriz para o atual contexto histórico, observando as relações e diferenças entre
eles. Sendo assim, para a construção desse trabalho foram tomados como referência
os filósofos de cada período com suas diferentes visões de mundo, tanto no período
medieval, como no período moderno, além desses autores, esse trabalho dedica-se
com maior abordagem no período pós moderno, frente aos grandes desafios
enfrentados pela igreja cristã hodierna.

Palavras-chave: Idade Média. Modernidade. Pós-modernidade. Desafios.


Pluralidade.
7

INTRODUÇÃO

Nesse trabalho será abordado o tema “A Igreja Cristã Frente aos Desafios dos
Três Principais Períodos Históricos da Humanidade”, para tanto, busca-se fazer uma
análise sobre a trajetória da igreja cristã no decorrer dos três períodos mais
importantes da história, sendo eles: o período medieval, o período moderno e o
período pós moderno, ressaltando os diversos desafios enfrentados por esta
instituição religiosa, além de pontuar os percalços singulares da atualidade.
Assim, em primeiro lugar buscaremos examinar os pensamentos da época
medieval, ressaltando o contexto religioso, com os desafios a serem enfrentados pela
igreja cristã, logo depois faremos uma análise do pensamento moderno e os desafios
enfrentados pela instituição religiosa naquele período e, posteriormente, faremos uma
análise do período pós moderno com seus principais pensadores e seus reflexos na
igreja contemporânea.
O primeiro capítulo retratará a igreja frente os desafios da era medieval, tendo
em vista sua fusão com o estado, bem como seus reflexos. Já o segundo capítulo
tratará do posicionamento sólido da igreja como representante de Deus na terra, com
sua verdade absoluta e sua legitimação no mundo. Enquanto no terceiro capítulo será
apresentado ao leitor a relativação da verdade e a liquidez das coisas.
Destarte, pode-se afirmar que essa monografia tem como objetivos fazer uma
reflexão dos desafios da igreja cristã em sobreviver durante as três transições culturais
mais evidente, principalmente, na pós modernidade, tendo em vista, que tem como
manual de fé a Bíblia como livro imutável, ou seja, um livro milenar, com seus dogmas
positivados de forma sagrada, visto que no período hodierno se vivencia uma
pluralidade de ideias em que a verdade se tornou relativizada.
Desse modo, essa pesquisa se justifica pela necessidade cogente de saber
como a igreja cristã, uma instituição milenar, com um manual fixo, consegue se manter
viva diante das constantes transformações sociais, haja vista, que tal instituição
continua no gráfico crescente. Para se buscar responder essa inquietação foi-se
lançado mão da pesquisa exploratória, através de levantamento bibliográfico e
cientifico.
8

Desse modo, através desse método de pesquisa é que se buscará verificar


tanto os aspectos norteadores da idade média com seus principais filósofos, como
também os aspectos norteadores da idade moderna com os principais pensamentos
desse período e assim, culminando com o enfrentamento dos desafios da igreja cristã
na pós modernidade.
Por fim, será trabalhado a problemática do pensamento pós moderno frente os
dogmas religiosos da igreja cristã, em virtude da razão secularizante invadir o pensar
dos membros dessa instituição religiosa, fator esse, capaz de comprometer a crença
de legitimação dessa igreja na terra.
Ainda cabe informar ao amigo(a) leitor(a), que essa monografia, diante da
complexidade do contexto pesquisado, não tem a pretensão de esgotar o assunto,
portanto, por questões metodológicas de delimitação, para que fosse possível dá
conta desse trabalho, buscou se ater aos principais episódios das eras: medievais,
moderna e pós moderna em analogia a igreja cristã.
Sendo assim, nessa tarefa acadêmica se pretende fazer uma confrontação
entre o que a bíblia sagrada, manual dos cristãos, ensina e que se perpetuou durante
as referidas épocas, para isso, se busca conhecer os principais teóricos de cada
período, buscando conhecer os possíveis impactos dos diversos pensamentos nessa
religião.
9

1. A IGREJA NA ERA MEDIEVAL

É sabido que o momento conhecido como período medieval tem sua


característica fundamentada na valorização do sagrado, assim, nesse período se
buscava a lógica através de uma verdade que não fosse oposto a fé. De tal modo, que
nos séculos V ao século XV, principalmente, na Europa percebeu-se o florescimento
das ideias, tão somente, pautadas no temor a Deus, fator esse que fundamentava a
homilia nas argumentações da vida cotidiana, além de perpassar pelo viés de provar
a existência de Deus como o centro do mundo. Assim, tais:

As práticas sociais delas decorrentes eram percebidas não como uma


imposição, mas como atos voluntários ou como deveres morais e religiosos.
Como a ordem natural e a ordem social eram consideradas equivalentes e
garantidas pela ordem divina (sobrenatural), as relações sociais eram
simultaneamente naturalizadas e sobrenaturalizadas. É a religião na sua
função integradora, de coesão social pela qual os homens encontram
compensação para a sua situação presente, na esperança de uma salvação
futura. (GOMES, 2002, p.222)

Portanto, fica perceptível, nesse período, a intrínseca relação entre a razão e a


religiosidade, fator esse que, posteriormente, buscou-se desvincular. Colocando a
religião separada da filosofia racional, época essa, que ficou conhecida como a era
moderna, assim esse período causou grandes desconforto a igreja da época, tendo
em vista, que por séculos tinha se perpetuado a filosofia como instrumento de busca
afirmativa racional da fé cristã.
Diante disso, há quem afirme que a era medieval foi marcada pela envoltura da
igreja com a política, época essa, que foi apelidada por filósofos iluministas como
Idade ou Era das Trevas. Entretanto, sabe-se que os pilares da idade média é a
conexão da fé e da razão, além disso, cabe pontuar como característica fundamental
desse período o fideísmo.
Diante desse contexto, pode-se mencionar, nesse espaço de tempo, dois tipos
de pensamentos filosóficos que se destacou nesse período: a Patrística que faz
referência a filosofia cristã que recebeu influência de Platão e a Escolástica que
recebeu influência de Aristóteles. De tal modo que:

A Patrística e a Escolástica, portanto, moldaram um colossal sistema


filosófico teológico que ainda hoje persiste incólume e imortal como a
10

verdade. De um lado, o talento de Agostinho de Hipona cuja doutrina


preconiza o triunfo da cidade de Deus; do outro, o gênio de Tomás de Aquino
que sintetiza magistralmente: ''a única contemplação que pode exaurir todas
as exigências do pensamento, e que por isso pode tornar repleta a alma de
felicidade, é a contemplação de Deus. '' Assim ambas as fases se integram e
se completam pela magnitude da doutrina. (SILVA, 1988, p. 2002)

Cabe lembrar que a igreja sofreu nesse período ferrenha perseguição pelo
império Romano, embora tal império fosse politeísta, entretanto, como os cristãos
resistia ao sincretismo, acreditando que sua religião era a única certa, portanto. devia
adorar a Jesus Cristo como único e suficiente senhor das suas vidas. Sendo assim
não aceitavam nenhum outro deus.
Diante disso, por cerca dos três primeiros séculos a perseguição chegou a ser
sangrenta, tendo em vista, a existência de vários assassinatos comandados por
imperadores romanos como por exemplo: Nero, Domiciano, Trajano, Marco Aurélio,
Severo, Décio, Valeriano e Diocleciano. Entretanto como apesar dos homicídios em
massa dos cristãos o número só crescia o imperador Constantino proclamou liberdade
de culto aos cristãos, portanto tivemos o Edito de Milão também conhecido como Edito
da tolerância no ocidente pelo imperador Constantino e no ocidente pelo imperador
Licínio.
Sendo assim, posteriormente a perseguição inverteu, isso, devido ao imperador
Teodósio impor através de decreto que todos os cidadãos devias, a partir de então,
observar a religião cristã, logo os considerados pagãos passaram, agora, a serem
perseguidos.

1.1 Patrística
É notório que sobre a corrente filosófica denominada patrística, trata-se de uma
vertente de pensamento que pontuou o período da transição entre o era da
antiguidade e a era da idade média, ainda é possível afirmar que tal corrente filosófica
fora desenvolvida pelos primeiros padres da igreja católica, tendo em vista, que nessa
época não existia a igreja protestante.
Desse modo, fica evidenciado que estamos falando do espaço de tempo
compreendido entre os séculos V e lX, assim, diante desse contexto entende-se a
existência da efervescência das bases teóricas baseadas na bíblia sagrada, tendo em
vista a busca por acostar a filosofia ao conhecimento religioso. Portanto;
11

A Patrística, gênese da literatura cristã, representa a expressão da fé dos


denominados Santos Padres da Igreja, teólogos de excepcional saber e de
reconhecida santidade. Construtores da teologia católica e mestres da
doutrina cristã, floresceram entre os séculos ll e VIII. (SILVA, 1988, p. 202)

Diante disso, percebe-se em que foi firmado um sustentáculo forte da igreja


nesse período, fator esse, que proporcionou um grande alargamento do cristianismo,
tendo como um dos principais filósofos o pensador Agostinho de Hipona, que ficou
conhecido como Santo Agostinho.

Houve, de certa forma, uma aliança entre a religião cristã e a filosofia. Como
isto foi possível? Foi, porque o cristianismo, mesmo sem se confundir com
uma filosofia, procurou, desde seus primeiros tempos, ser uma religião que
não se furtava ao diálogo com a razão. (VASCONCELOS,2014, p.14)

Por isso que é possível através de um olhar criterioso nos discursos desse
filosófico percebe-se que tal padre bebeu do espirito de Platão para construção da sua
filosofia cristã, haja vista, que nas suas filosofias é possível encontrar o dualismo
platônico, principalmente, no quesito da representatividade da alma como um instituto
superior hierarquicamente ao corpo, sendo assim, o corpo passa a ocupar um lugar
de inferiorização, tendo em vista, sua conexão com o pecado.

1.2 Escolástica
Já a filosofia escolástica perpassou pelo princípio da junção entre a filosofia
aristotélica, a fé e a razão para explanar os rudimentos teológicos, portanto, sabe-se
que tal corrente filosófica ocorreu no período entre os séculos lX e XVll. Desse modo,
percebe-se o florescimento de uma progressão social, tendo em vista, que se passa
a percebe que o conhecimento pode ser transmitido.
Diante desse novo contexto social, surgem as universidades, com isso
percebe-se o incremento do uso da razão no cristianismo, assim buscando aderi a fé
a razão, de tal modo, que teve como principal filosofo São Tomás de Aquino, que usou
como base em seus discursos o pensamento de Aristóteles, alinhando a racionalidade
com a fé. Portanto fica perceptível que:

Ao nos referirmos à escolástica, estamos nos referindo ao método de ensino


teológico e filosófico desenvolvido nos primórdios da universidade durante a
Idade Média, entre os séculos IX e XVII. No método escolástico debatiam-se
12

questões e opiniões, fundamentando-as com a razão. (CULLETON, 2010,


p.05)

Sendo assim, é possível mencionar alguns filósofos do período medieval como,


por exemplo, Santo Agostinho com sua teoria da iluminação divina que afirmava da
necessidade da participação de Deus na vida humana, São Tomás de Aquino com
seus pensamentos baseados nas ideias de Aristóteles, motivo pelo qual tal
pensamento ficou conhecido como ‘Tomismo”, influenciando grandemente a filosofia
moderna.
Outro pensador dessa época foi João Duns Escoto que desenvolveu a teoria
da Univocidade do Ser, conjectura essa, que separava a distinção entre essência e
existência que fora afirmada por Tomás de Aquino, além desses pensadores, pode-
se falar também de Guilherme de Ockham que foi considerado o precursor do
nominalismo, teoria que negava a existência de objetos abstratos e dos objetos
universais.
Enfim, nesse período já não se aceita mais o entranhamento da igreja com o
poder estatal, tendo em vista que nos primeiros séculos desse período, houve uma
grande conversão dos reinos germanos ao catolicismo, fator esse que levou a igreja
a fazer alianças políticas e consequentemente alargando seu poderio. Entretanto, tal
episódio passou a ser questionado.

1.3 Filósofos da idade média


Nesse contexto, percebe-se que os pensadores, no que tange, a questão da
filosofia e da teologia se diferenciam, porém não se separa, assim verifica-se um certo
conflito entre os próprios filósofos da igreja ainda que sejam separados por um grande
espaço de tempo como no caso de Agostinho e Tomás de Aquino, que atuaram em
seus contextos sociais separadamente por um espaço de tempo de quase mil anos.
No entanto, sabe-se que a filosofia medieval é composta de quatro períodos
podendo ser divididos em: padres apostólicos, padres apologistas, patrística e
escolástica, embora essas duas últimas sejam consideradas fundamentais em sua
perspectiva filosófica.
Portanto, temos como importante filosofo desse período Agostinho de Hipona,
filosofo esse, que perpassa pelo final da antiguidade em direção a idade média, cuja
característica transcorre pelo pensamento sobre a questão de Deus.
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Posterior a agostinho pode-se afirmar que o segundo nome mais importante


desse período é o Pseudo-Dionísio, o Areopagita, com sua forte influência na mística
cristã, pois nesse período um anexo de escritos, corpus dionysiacum, fora atribuído a
este pensador, embora na atualidade já não haja tanta convicção a esse respeito.
Outro pensador dessa época é o Boécio (480 - 524) esse filosofo foi um
elemento fundamental na transição do pensamento grego para a nova fase cultural a
qual ficou conhecida como era medieval chegando a fazer parte do governo de
Teodorico rei dos ostrogodos, ocupando o mais alto cargo da administração.
João Escoto Eriúgena também entrou para a história do pensamento medieval
embora saiba que ele não foi muito tido como um teólogo, entretanto deu entrada no
mundo latino na tradição grega e apresentou uma concepção do todo da realidade na
sua obra sobre a divisão da natureza, assim seus feitos se dá na França em paris no
governo de Carlos o Calvo.
Outro pensador dessa época é Pedro Abelardo que fora aprendiz de Roscelino
de Compiêgne que fora um grande representante do nominalismo do século Xll como
também de Champeaux, que nesse caso já representava um posicionamento de
extremo realismo na querela dos universais, portanto já floresce uma nova perspectiva
com foco na então modernidade fugindo dos somente princípios da antiguidade.
Agora nesse período então período já começa a se perceber o renascimento
urbano com o surgimento dos municípios, tendo início as traduções dos árabes e dos
manuscritos gregos que perpassa pela renovação do pensamento do século Xlll,
portanto, sendo redescoberto os escritos de Aristóteles.
Entretanto, sabe-se que existiram nessa época pensadores de diversa regiões
como o filosofo do Islã Ibn Ruchd ou Averróis que nasceu e viveu em Córdoba, com
grande influência exerceu sua atividade no ano (1126-1198) embora tenha sido o mais
contestado, no entanto foi estudante de direito, medicina e de teologia, exerceu
atividade de juiz e de médico.
Já quando se menciona a questão do maior nome da filosofia judaica medieval,
afirma – se que foi Maimônides que também nasceu Córdoba, entretanto com a
perseguição aos judeus foi preciso se esconder passando em outras várias cidades
até chegar em Cairo. Esse filosofo que teve como sua obra prima “Moreh Nebukhim”
cuja tradução é “O Guia dos Perplexos”.
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Quanto a Tomás de Aquino filosofo que atuou no século Xlll, período que foi
marcado com o florescimento das universidades pela implementação do método
escolástico e pelo advento de Aristóteles, afirmava a independência da filosofia com
a teologia, afirmação essa que de certo modo contrariava a teoria de Agostinho. Ainda
assim:
Uma tal compreensão mais científica e menos ideológica da Idade Média
parece ainda encontrar algumas resistências entre nós. Mesmo em ambiente
acadêmico, não é incomum a identificação daquilo que é designado como
medieval com algo retrógrado, ultrapassado ou, de alguma forma, pejorativo.
(VASCONCELOS, 2014, p. 101)

No entanto, o filosofo Franciscano Boa ventura de Bagnoreggio afirmava que o


conhecimento da filosofia não admite ser cultivado em si mesmo, sendo assim, o
indivíduo não poderia ser guiado, tão somente pela razão, tendo em vista, que nesse
caso o erro é certo. Portanto a natureza humana é tida nesse aspecto como um
estágio de imperfeição, haja vista, a corrupção feita pelo pecado.
Entretanto, no século XlV surge o Mestre Eckhart em um momento que a
corrente filosófica escolástica começa a sentir o peso depreciativo, tendo em vista,
sua insuficiência em atender as demandas sociais, contudo a mística cristã é mantida,
haja visto, que esse filosofo tenha se tornado o maior místico especulativa desse
período.
Ainda na era medieval percebe-se o surgimento de Guilherme de Ockham
(1285 – 1347) com a teoria de que o conhecimento metafisico sobre Deus é inútil,
fazendo-se como um tipo de precursor da modernidade, tendo em vista, a percepção
de um novo olhar.
Enquanto que no século Xlll, Tomás de Aquino acreditava na possiblidade de
perceber a existência de Deus pelo uso da razão. Enquanto, Guilherme de Ockham
invalida essa possibilidade, afirmando que a existência de Deus se reporta a questão
da fé e não da razão, separando desse modo a teologia da filosofia.

De modo a simplificar, podemos dizer que a filosofia medieval é aquela


reflexão filosófica, produzida na Idade Média, marcada por uma íntima
relação entre a filosofia grega e o pensamento cristão, judeu ou árabe e que
estende-se por um vasto período que, grosso modo, poderíamos demarcar
como sendo mais ou menos do ano 100 até 1500. (VASCONCELOS, 2014,
p.11)
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Enfim, fica perceptível que o florescimento do conhecimento durante o período


medieval, embora se perceba o predomínio dos dogmas religiosos pelo monopólio do
conhecimento por esta instituição, ainda assim, não parece muito apropriado o termo
“idade das trevas” a esse período que fora apelidado pelos iluministas.

1.4 A igreja e a política


É sabido que a igreja cristã que nesse período existia era denominada igreja
católica, instituição que fora muito perseguida pelas autoridades romanas, no entanto,
com a o fim da perseguição aos cristãos, fato que aconteceu com transformação do
cristianismo em uma religião oficial do Império Romano no século lV.

Em que pese que o Império Romano tenha sempre se confrontado, no plano


político, com outras realidades políticas que também se postulavam como
imperiais, a verdade é que a aliança com o Cristianismo, nos últimos séculos
da Antiguidade Romana, reforçava a ideia de um império universal, que
almeja estender, sobre todos, o seu domínio, e sobre os seus eleitos, uma
proteção igualmente universal. (BARROS, 2009, p. 56)

Devido a esse novo contexto a igreja tornou-se uma instituição rica, organizada
e detentora de poder político. Com isso deixando evidenciado seu grande acumulo de
riquezas, além de se tornar proprietária de grandes extensões de terras.
Diante disso, essa instituição religiosa na idade média já possuía sua
organização hierárquica estabelecida com padres e sacerdotes, bispos e tendo o papa
como chefe maior da igreja. Assim, essa instituição tinha como uma das suas linhas
missionária converter as pessoas que as denominava bárbaros e integrá-los ao
império romano subjugando ao poder do império.
Portanto, diante desse importante papel para Roma a igreja passou a assumir
funções administrativas dos novos territórios avalizando sua existência como uma
unidade religiosa além de se posicionar politicamente e culturalmente em uma
sociedade desassociada e desinformada.

Nesse contexto, os bispos estavam inteiramente sujeitos ao imperador ou a


outros governantes temporais, que lhes concediam a investidura através de
dois instrumentos simbólicos importantes, o báculo e o anel, imagens em
torno das quais, em breve, iria se desenvolver uma verdadeira guerra de
representações entre o papado e o império. O “báculo” era o símbolo da
jurisdição; o “anel” o símbolo da união mística com a Igreja. (BARROS, 2009,
p. 59)
16

Portanto, percebe-se que o poder dessa instituição estava associado ao


sistema social do feudalismo, tendo em vista, ser esse o sistema socia que
predominava na Europa, assim a igreja buscava justificar a situação socia
relacionando com a vontade de Deus.
Deste modo, não havia motivo para a sociedade se rebelar contra o sistema
político, tendo em vista que era da vontade de Deus tal divisão social, portanto, fora o
próprio Deus que tinha separado uns para o trabalho eclesiástico, outros para a guerra
e para o trabalho bração, além dos que foram chamados para governar. Enfim se
posicionar contra o poder do Império e o poder da igreja era se posicionar contra o
próprio Deus.
No entanto, cabe pontuar que no primeiro século não existia, tão somente, a
religião cristã, portanto é sabido a existência de variadas interpretações tanto da
religião cristã como de outras religiões consideradas pagãs na Europa.
Para se ter uma linha de raciocínio sobre a doutrina cristã foram estabelecidas
algumas reuniões como por exemplo o Concilio de Niceia no ano 325, cujo desígnio
foi a discussão sobre as questões da fé cristã. No entanto, cabe pontuar que a
convocação não partiu da liderança religiosa, pois foi o próprio imperador romano,
Constantino l que se intitulava cristão que fizera tal convocação.
Nesse sentido fica perceptível a influência política nas questões religiosas, no
entanto essa assembleia visou uma consonância entre os representantes da igreja
sobre a questão da divindade de Cristo, tendo em vista, que havia divergências a esse
respeito dentro da instituição.
Dessa forma, percebe-se que o pensamento religioso cristão era decidido pelos
representantes Igreja Católica Apostólica Romana em harmonia c om o imperador. Por
isso que a igreja pregava a preservação das camadas sociais: Clero, Nobreza e
Servos, pela analogia a Santíssima Trindade: Pai, Filho e Espírito Santo. No entanto
acreditava-se categoricamente na santidade do papa. Portanto:

O Papa não pode ser julgado por ninguém; a Igreja Romana nunca errou e
nunca errará até o final dos tempos; A Igreja Romana foi fundada apenas por
Cristo; só o Papa pode depor e empossar bispos; só ele pode convocar
assembleias eclesiásticas e autorizar a Lei Canônica; só ele pode revisar
seus julgamentos; só ele pode usar a insígnia imperial; pode depor
imperadores, pode absolver vassalos de seus deveres de obediência; todos
17

os príncipes devem beijar seus pés. (SOUTHERN, 1970, p. 102, Apud


BARRO, 2009, p. 63)

Como a igreja acumulou fortunas, controlando inclusive boa parte dos territórios
feudais, embora pregasse a efemeridade dos bens materiais, assim diante desse
contexto, outorgou o princípio do celibato diante do crescente acumulo de bens,
visando manter a preservação do patrimônio da instituição, motivo esse que provocou
sérios descontentamentos internos.
Diante disso, houve o florescimento de diversas ordens religiosas, afetando,
inclusive, de forma significativa o clero, ainda que se saiba trata-se de pessoas que
foram treinadas para servir aos trabalhos eclesiásticos, ainda assim foi percebido uma
divisão em dois seguimentos distintos entre esse grupo especifico de religiosos, dando
com isso origem ao clero secular e ao clero regular.
Desse modo, o clero secular passou a administrar os bens da igreja, além de
representar a igreja nas questões políticas e o clero regular passou a se preocupar,
tão somente, com as ordens religiosas, direcionando sua pretensão para as questões
espirituais e os valores cristãos.
Além disso, a igreja também dominava o público letrado da época, tendo em
vista, a predominância do analfabetismo populacional na época, portanto, essa
instituição possuía grandes bibliotecas em mosteiros com grandes obras do mundo
clássico e oriental, como os tratados filosóficos de São Tomás de Aquino e de Santo
Agostinho que bebiam do espirito de pensadores da antiguidade.
Entretanto, cabe também pontuar que embora a igreja fosse detentora de
grande poder econômico e de influência, ainda assim, pode-se se ver nesse período
a presença de seitas e heresias, além de ritos pagãos, organizações que não
reconhecia a soberania da igreja institucionalizada interpretando os textos bíblicos de
forma autônoma.
Sendo assim verifica-se desde então o florescimento de rupturas na igreja
como, por exemplo, “O Cisma do Oriente” em 1054 que ocasionou enorme protrusão
interna na igreja cristã, fator esse, que dera origem a igreja bizantina, fator que
separou de forma clara a igreja dirigida pelo papa, e Roma e a igreja dirigida pelo
patriarca, em Constantinopla.
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Enfim pode-se afirmar que tal divisão se deu por causa de divergências
perpetradas por cristãos, embora se saiba da existência de duas linhas de
pensamentos nessa ocasião, mas também vale salientar que tal acontecimento se
deve a questões de disputa política e econômica visíveis na região do mediterrâneo.
Diante desse contexto, no que se reporta a questão religiosa, pode-se pontuar
algumas práticas da igreja de Constantinopla que foram abominadas pela igreja de
Roma como, por exemplo, o monofisismo e a iconoclastia.
Assim se sabe que o monofisismo teve sua origem na escola teológica de
Alexandria que tinha como olhar único sobre a natureza de Cristo, ou seja, acreditava
que ele tinha tão somente a natureza divina, contrariando a visão da igreja ocidental
que acreditava na existência da natureza humana e divina de Cristo, além disso não
aderia a questão da trindade. Já o movimento iconoclasta se hostilidade a questão da
adoração a imagens, afirmando a necessidade de se destruir os ídolos religiosos.
Em suma, entende-se que a igreja atravessou o período medieva de modo
satisfatório, ainda que tenha tido alguns dissabores, tendo em vista, que o gráfico de
membros continuava em aclive, além do aumento significativo do poder econômico e
da importância política.
19

2. A IGREJA NA ERA MODERNA

Como foi visto na idade média a igreja controlava o acesso do conhecimento,


assim guiando toda a cultura dessa época para a ciência religiosa, fundamentando
todos os acontecimentos nos dogmas religiosos com fulcro no reconhecimento do
poder papal e dos demais líderes como sendo enviados por Deus.
Dessa forma pautava suas pregações na salvação do indivíduo pela fé e pela
obediência aos sete sacramentos, além disso, afirmava a necessidade de práticas de
obras religiosas como requisito de salvação, no entanto, tais práticas religiosas
pairava sobre pagamentos de impostos ao imperador romano, ajuda financeira para
construções de templos religiosos, além de doações de terras.
Entretanto, em semelhante proporção enquanto a igreja crescia em poder
também crescia a corrupção dos clérigos, tendo em vista que os cargos religiosos
passaram a ser comercializados por nobres sem nenhum compromisso com a causa
religiosa, pessoas que na maioria não conhecia nem mesmo a língua oficial dos ritos
da igreja, o latim.
Diante disso, começou a surgir na sociedade um forte sentimento nacionalista
que foi aflorado em vários países pelo descredito a igreja institucionalizada, tendo em
vista sua ineficiência em responder satisfatoriamente as demandas sociais, marcando
assim o fim da idade média.
“Desse modo, as velhas concepções e estruturas sociais, políticas, econômicas
e filosóficas da Idade Média vão sendo rompidas. Esse rompimento se deve
inicialmente por dois movimentos o Renascimento e a Reforma Religiosa.” (SILVA,
2017, p. 02)
Pois acredita-se que no século XVl floresceu uma mudança na forma de pensar
da sociedade de forma geral, tendo em vista a percepção de uma nova visão de
mundo aflorada nas sociedades europeia com reflexos significativa na religião, com o
surgimento de críticas a igreja por não acompanhar as novas demandas sociais, logo
deixava de atender os anseios da sociedade.
Nesse período de afloramento do espirito nacionalista, foi despertado nos
monarcas o olhar ambicioso sobre os bens da igreja, tendo em vista, o sentimento de
incorporar as ricas propriedades dessa instituição ao império.
20

Assim, nesse novo contexto social emerge uma nova classe social chamada
de burguesia formada por comerciantes e banqueiros, além disso, houveram também
outros surgimentos sociais como o aperfeiçoamento da imprensa, fator que foi
decisivo na confecção de obras escritas possibilitando inclusive a tradução da bíblia
para outras línguas possibilitando tanto a religiosos como a ateus a interpretar esse
livro sem mediação dos líderes religiosos.
Foi nesse período que aconteceu a reforma religiosa da igreja católica, tendo
como ápice o ataque do monge da ordem agostiniana Martinho Lutero, religioso
graduado em artes e professor de teologia da Universidade de Wittenberg, fato esse
ocorrido no ano de 1517 com a crítica principal voltada as questões das vendas de
indulgências pela igreja. Fator esse que deu origem ao protestantismo, portanto, pode-
se afirmar que:
Entende-se por “protestante” ou “protestantismo” todo o conjunto de
instituições religiosas surgidas em conseqüência da Reforma Religiosa do
século XVI nas suas principais vertentes que são a luterana e a calvinista e
que procuram manter os princípios básicos que formam o princípio
protestante da liberdade: a justificação pela fé, a “sola scriptura”, o livre
exame da Bíblia e o sacerdócio universal de todos os crentes. (JÚNIOR,
1998, p.01)

Portanto, com diante de um pensamento voltado a liberdade cristã, com a


perspectiva de reconduzir a igreja a simplicidade dos apóstolos esse religioso
elaborou noventa e cinco teses que censurava arduamente as questões de compra e
venda de indulgencias.
Diante do comportamento desse religioso percebe-se que o período da era
moderna é marcado pela racionalidade do sujeito, tendo em vista, a nova percepção
de que o universo era um organismo organizado através de leis preestabelecidas, no
qual a razão seria indispensável para uma real compreensão de mundo.
Desse modo, desenvolveu-se uma percepção de otimismo na sociedade, haja
vista, a confiabilidade social na ciência para melhorar a qualidade de vida das
pessoas, pois se acreditava que o avanço social era inevitável, tendo em vista, os
possíveis benefícios sociais projetados pela ciência alinhada à educação, assim
sendo, não havendo necessidade de apelar para religião como instituto capaz de
explicar o universo.
21

Entretanto, devido as guerras que houveram nesse período, terminou por


aflorar um grande descredito nos ideais da modernidade, por ter sido percebido a
possibilidade do homem poder destruir a humanidade através de uma simples bomba
radioativa, despertando com isso, um novo pensar cultural.
Faz-se necessário afirmar que nesse contexto a verdade era tida como exata e
genuinamente racional, além do conhecimento ser visto de forma objetiva, na qual a
racionalidade era a maneira mais segura para a manutenção e progresso da
sociedade organizada.
Assim, verifica-se a necessidade dessa instituição religiosa desenvolver a
capacidade em dialogar com o novo panorama que lhe é imposto com suas
tendencias, contudo mantendo seus principais princípios intactos.
Ainda cabe dizer que o conceito de modernidade prosperou no final do século
XVll, para tanto, fez-se necessário haver mudanças de paradigmas que a Renascença
atribuiu a antiguidade clássica. Assim, sendo movido por modificações econômicas o
renascimento buscou estabelecer novos arquétipos racionais que terminaram por usar
contra toda sorte de autoridade começando pela igreja.
Portanto, dando início a idade moderna como o pensamento abalizado na teoria
de que o progresso estava intimamente ligado a ciência através da razão, pondo fim
no conceito de fim de mundo através de uma visão apocalíptica bíblica.
Diante desse contexto percebe-se que a idade moderna foi desencadeada por
uma ruptura em todo contexto social da época, desse modo, afetando as estruturas
econômicas, religiosas, políticas e culturais da idade média. Portanto pode-se afirmar
que nesse espaço de tempo ocorre a subtração da influência religiosa na área política
e econômica da Europa.

2.1 Características
Nesse contexto verifica-se como principais características dessa ruptura com a
era medieval na área econômica como a decadência do sistema feudal e o
florescimento do sistema capitalista de produção, já na área política observou-se o
nascimento do Estado Moderno, na área social com o surgimento da burguesia e a
racionalização do homem moderno, contrariando o predomínio religioso.
22

Em suma, o que vemos na passagem da idade média para a idade moderna


não é nada mais do que a transição de uma sociedade pautada pela
sacralidade para uma sociedade onde o sagrado é deixado em segundo
plano, uma sociedade laicizada que, evidentemente, vai se constituindo tendo
na igreja seu oposto. (CONTIERO, 2017, p. 27)

Assim percebe-se o surgimento do renascimento e da Reforma religiosa como


dois grandes movimentos sociais nesse período, portanto pode-se afirmar que o
renascimento teve seu início na Itália no século XlV alastrando-se por toda Europa
assim, perpassando pelos séculos XV e XVl.
Já a reforma religiosa teve sua origem no interior da igreja cristã com seu início
nos séculos XlV e XV colocando em dúvida a autoridade papal e desse modo
causando a cisma na igreja, fator esse que fizera surgir um novo público que foram
apelidados de protestante.
Outras características como os grandes descobrimentos também permearam
esse período histórico contribuindo para uma mudança de paradigmas, fator esse que
provocou a decadência da sociedade medieval que de certo modo valorizava as
grandes estruturas coletivas como a igreja e o império.
Portanto, agora nesse período o homem começa e se valorizar como individuo,
apreciando sua humanidade e sua condição de poder interferir na natureza. Assim a
visão teocêntrica do período anterior é substituída pelo antropocentrismo com a
valorização da racionalidade.
Verifica-se que nesse período a igreja cristã que se denominava católica
enfrentava uma grande crise moral tendo em vista a questão da venda de indulgencias
e os grandes impostos papais, portanto abrindo espaço para o monge agostiniano
alemão chamado Martinho Lutero em elaborar suas noventa e cinco teses que
exortava a igreja a observância dos preceitos bíblicos.
No entanto diante desse ato, o impetrante das teses foi excomungado da igreja,
entretanto, tal ato religioso se transformou em questão política, tendo em vista que os
governantes alemães tomaram partido na causa se posicionando contra o poder de
interferência papal nas questões sociais. Entretanto:

Em 1521, Lutero produziu um novo testamento em linguagem popular,


ajudando a difundir a palavra do Evangelho, tornando evidente a discrepância
entre os ensinamentos bíblicos e a ordem social existente. Surge então o
termo protestante, designação dada aos defensores da religião reformada.
(SILVA 2017, p. 05)
23

Esse movimento absolveu o termo protestante, sendo também foi difundido


pelos países baixos, ou seja, França e Suíça, para isso, se percebe o aparecimento
de outros reformadores como Joao Calvino (1509 -1566). Entretanto com esse
reformador percebe-se um certo afastamento da doutrina de Lutero, tendo em vista a
elaboração da teoria da predestinação elaborada por esse pensador.
Calvino se instala em Genebra, na Suíça e dali passa a enviar missionários para
diversas partes da Europa fator que origina o presbiterianismo com Jonhn Knox (1505
– 1572) na Escócia e de várias seitas puritanas na Inglaterra, assim passando a
interferir significativamente nas questões políticas e civis da cidade de Genebra tendo
como base as doutrinas religiosas.
Entretanto percebe-se que tal ato contraria os propósitos dos reformadores
tendo em vista a pregação da separação entre igreja e estado, além disso, esse
pregava uma clara intolerância religiosa, portanto pode-se afirmar que Calvino foi o
fundador do protestantismo ascético.
Assim através dessa doutrina o indivíduo fazendo uso de sua predestinação,
logo deveria procurar obter bens materiais por meio do trabalho e de uma vida
ascética, fator que possibilitaria a manutenção de uma fortuna. Diante disso, pode-se
afirmar que tais tendências foram observadas em grande escala na nova Inglaterra,
na Holanda e na Inglaterra do século XVll, dessa forma, pode-se afirmar que tais
procedimentos, de certo modo, possibilitou o desenvolvimento econômico dessas
sociedades.
Logo a sociedade humana nesse período passa a trilhar por novos percursos
tendo como base novos valores fundamentados na razão humana, além da
valorização da ciência como forma de conhecimento.
Outro evento importante na idade moderna para o sistema religioso cristão foi
o Concilio de Trento que fora concretizado entre os anos de 1540 e 1560, na cidade
Italiana de Trento como resposta a reforma provocada por Lutero, logo se percebe
que não algo simples.
Portanto verifica-se que tal concilio foi o decima terceira reunião da igreja
católica e assim passou a ser chamado de concilio ecumênico evento que teve como
agente convocante o papa Paulo lll, entretanto tal evento também foi dirigido por outros
24

papas como Júlio lll, Paulo lV , Pio V e Sisto V , haja vista a realização nesse período
de vinte e cinco sessões.
No contexto fica perceptível que diante da renovação da igreja com a reforma
protestante acendeu a reação da igreja já institucionalizada com a convocação da
contrarreforma, promovendo com isso um tipo de apoio teológico, militar e político na
igreja católica confrontado veemente o protestantismo.
Sabe-se que esse litigio religioso culminou em com a cruel guerra dos trinta
anos que destroçou com metade da Europa, portanto afirma-se que tal guerra foi uma
das mais brutais e sangrentas da história europeia, tendo em vista, a adesão de várias
nações em tal ato desumano.
Assim nesse contexto de violência a peste alastrou-se pelo sacro Império tendo
em vista a grande dizimação de seres humanos, com isso houve redução significativa
da população. Tal conflito foi tão nefasto que não há estimativa precisa sobre a
quantidades de mortos nesse conflito religioso entre católicos e protestantes, apenas
sabe-se que varia de quatro milhões a quinze milhões de vítimas.
Sendo assim verifica-se que essa guerra de cunho religioso teve duração de
três décadas tendo tão somente seu final no ano de 1648 com o tratado Paz de
Vestfalia, portanto estabelecendo limites de territórios e fronteiras políticas e religiosas
entre católicos e protestantes.

2.2 Iluminismo
É sabido que a chamada idade moderna didaticamente faz-se referência a um
espaço de tempo de quatro séculos, ou seja, do século XV ao século XVlll, embora se
tenha esse último século como o período que houve o ápice do racionalismo, pelo
advento do renascimento cientifico e cultural no século XV e no século XVl.

Assim, derrubaria por completo o regime absolutista feudal, além de golpear


a feudalidade mortalmente, abrindo espaço para o progresso capitalista. Ao
mesmo tempo, a revolução destruiu as relações de produção medievais e
harmonizaria as novas formas de produção advindas da Revolução Industrial.
(MELO; DONATO,2011, p. 261)

Diante desse contexto acredita-se que o racionalismo e o cientificismo tiveram


sua prosperidade devido ao movimento de ideias que foi chamado de iluminismo,
assim apelidando o século em questão como séculos das luzes. Ainda cabe afirmar
25

que tal corrente teve seu início na França que se percebia como um país iluminado.
“Processo este, que levou à dissolução dos mitos e a substituição da imaginação pelo
saber racional e científico.” (MELO:DONATO, 2011, p. 247)
Entretanto tal corrente de pensamento iluminista não se resumiu, tão somente,
a França, mas avançou florescendo de forma significativa e com isso mais duas
correntes, a britânica e a americana ou estadunidense ganharam visibilidade, diante
disso, pode-se afirmar que o iluminismo é resultado de três correntes.
Embora saiba-se que o iluminismo francês foi a corrente que mais se
popularizou norteando de fato a era moderna pelo progresso e avanços científicos,
além do uso da racionalidade. Ainda que se perceba nesse período influencias do
racionalismo clássico como o pregado por Descartes.

Deste modo, o futuro desse progresso se caracteriza pela aceleração que se


poria à nossa frente e ao seu caráter desconhecido. A aceleração tornar-se-
ia uma tarefa de planejamento temporal, principalmente a partir do século
XVIII e pós-Revolução, onde o vetor fundamental da moderna filosofia da
história seria o cidadão emancipado do absolutismo e da Igreja. (MELO;
DONATO, 2011, p.252)

Sendo assim, percebe-se que o século XVlll é período voltado, na questão da


fé, com seu olhar fixo na unidade e na razão imutável, assim com o desenvolvimento
no pensar na singularidade da razão, ou seja, a crença de uma única verdade para
todos os integrantes da sociedade organizada independente de época e cultura e
religião. Desse modo, percebe-se no iluminismo francês a tendencia de substituição
de Deus pelo racionalismo e cientificismo.

2.3 Principais pensadores


Quando se refere aos filósofos iluministas pode-se afirmar que Montesquieu foi
um dos pensadores mais importantes do movimento francês, juntamente como
Voltaire e Rousseau, pois foram críticos tanto na questão política como na questão
religiosa. Haja vista suas crenças voltadas para a razão e o progresso, além da
liberdade de expressão.
Uma figura proeminente do iluminismo foi o filósofo francês Denis Diderot,
homem com princípios religiosos, porém se tornou ateu materialista, além disso, foi
um dos que levantou a bandeira da filosofia anarquista, acreditando na razão como o
princípio de todas as coisas. Assim sendo, acreditava que a política tinha como missão
26

precípua suprimir as diferenças sociais. Além disso não concordava na intromissão da


igreja nas questões sociais. Tendo em vista que:

A filosofia iluminista se prostrava otimisticamente, pois acreditava no


progresso por meio do uso crítico e construtivo da razão, sendo o homem o
detentor de seu próprio destino e formulador do racionalismo. Por esta
perspectiva, contrariavam as imposições de caráter religioso, ao absolutismo
e sua “razão” divina, além dos privilégios dados à nobreza e ao clero. (MELO;
DONATO, 2011, p. 256)

No que se refere ao filosofo iluminista matemático Jean Le Rond d’Alembert


pode-se afirmar que foi um dos principais cooperadores da Enciclopédia, tendo em
vista, seu grande envolvimento nas questões sociais, políticas e culturais,
Já Jean Jacques Rousseau, filósofo social e escritor suíço, foi tido como um
pensador popular, entretanto, observa-se que foi o mais radical desse movimento
intelectual que teve seu auge no século XVIII. Pois defendia os princípios da liberdade
igualdade e fraternidade. Além disso tinha a intenção de extinguir todos os códigos
vigentes da época, conseguindo, inclusive influenciar todo o ocidente.
Nesse contexto ainda temos o filosofo inglês John Locke, que se posicionou
como um dos mais admiráveis filósofos do empirismo. Para tanto, exerceu grande
influência sobre diversos filósofos de sua época, dentre os quais é possível destacar;
George Berkeley e David Hume. Além disso, teve como um dos seus discípulos o
francês Etienne Condilac, filosofo que fez uso da teoria de seu mestre para criticar a
metafisica no século posterior.
Esse filosofo era amante da liberdade intelectual e da tolerância, nessa
perspectiva desenvolveu muitas teorias liberais, criticando a questão do direito divino
dos reis estabelecida pelo filosofo Thomas Hobbes, assim nesse sentido ainda
afirmava que o poder não estava sobre o estado, mas sim sobre o povo.
E por fim, tem-se o filosofo social do iluminismo o escocês Adam Smith que foi
considerado o pai da economia moderna, tendo em vista, seus questionamentos
acerca do crescimento econômico, da divisão dos trabalhos, da livre concorrência
entre outros aspectos.
Diante de tudo que foi exposto sobre o período moderno pôde-se ver a inserção
do capitalismo na sociedade que fora fomentado, posteriormente, pelas grandes
navegações marítimas, fator que foi decisivo para movimentar a economia da época,
27

fortalecendo com isso o movimento mercantilista, haja vista, também o nascimento


das manufaturas, assim extirpando as raízes do feudalismo.
Diante desse contexto de mudança cultural, com o nascimento de outras
classes sociais a igreja além de precisar buscar se aperfeiçoar para atender as novas
demandas sociais, ainda enfrentou, nesse período, sérios problemas internos de
divisão e críticas severas, perpassando assim, por muitos desafios de sobrevivência
institucional culminando em uma desastrosa guerra de cunho religioso, entretanto
sobreviveu a essa problemática.
28

03. A IGREJA NA ERA PÓS MODERNA

É sabido que a sociedade contemporânea passa por grandes transformações,


assim chegando a nominar tal período hodierno como pós modernidade, portanto uma
contraposição em relação ao período anterior denominado como modernidade.

O pensamento Pós-Moderno esvaziou a religião formal. Na Pós-Modernidade,


a religião deixou a dimensão pública e restringiu-se à esfera privada. Na
tentativa de se libertar de uma cultura religiosa com padrões morais
absolutos, o indivíduo pós-moderno criou uma religiosidade interiorizada,
subjetiva e sem culpa.
As pessoas querem optar pela sua “preferência” religiosa sem ser
importunadas por opiniões contrárias. Os critérios que orientam essas
escolhas são todos íntimos e subjetivos. Semelhantemente, também não
tentarão impor sua nova opção de fé a ninguém. (JÚNIOR, 1998, p. 01)

Desse modo, percebe-se que esse período se trata de um rompimento com o


pensamento e organização da sociedade moderna, tendo em vista, abordar sobre um
momento histórico e conceitual diferente de todos os demais períodos que a
sociedade organizada já tenha passado.
Portanto tal contexto representa um grande desafio para a igreja cristã, tendo
em vista, sua cultura fundamentada no legado judaico cristão, principalmente, no que
se refere a questão da fé, cujo manual é conhecido como bíblia sagrada com seus
conceitos preestabelecidos há séculos.
Sendo assim, pode-se afirmar que a igreja estava moldada a uma cosmovisão
perpetrada pela modernidade sobre a existência de uma verdade absoluta, fator esse
que corroborava com a visão de mundo exposta pela bíblia. Entretanto, pode ser
percebido nos dias atuais um certo antagonismo ao período anterior através do
patente relativismo, da valorização do particular e a aversão ao universalismo.
O pensamento pós moderno é tido como uma preocupação para a igreja cristã,
tendo em vista, que o manual dos cristãos enfatiza a questão da verdade absoluta,
enquanto o pensamento hodierno relativiza essa tese, afirmando haver uma
pluralidade de verdades.
Portanto, o grande desafio que se questiona é a possibilidade de a igreja cristã
manter seus dogmas intactos frente ao desdobramento do período atual, com essa
patente mudança de mentalidade social, tendo em vista, sua contraposição ao
29

contexto anteriormente vivido por esta religião ao qual foi denominado de


modernidade.
Acredita-se que a pós modernidade surgiu devido a frustação das perspectivas
esperadas pela modernidade que culminou com diversos conflitos como: a segunda
guerra mundial, a conquista de Constantinopla pelos otomanos e a tomada de
Bastilha, que consagrou a Revolução Francesa em 1789. “Desta forma, uma vez que
a modernidade não cumpriu suas promessas, surge uma nova mentalidade
responsável por um grande deslocamento cultural, a substituição da modernidade pela
pós-modernidade.” (MENESES; PARLAGRECO,2021, p.198)
. Desse modo, essa mudança cultural se apresentou como ruptura de ideais
de uma sociedade desesperançada, tendo em vista, que a pós modernidade provocou
uma nova forma de perceber o mundo e a religião. Para isso, buscou-se estruturar na
pluralização, na privatização, na secularização e, com isso foi desenvolvida uma
ideologia anticristã.
Assim, nesse contexto, a verdade passa a ser relativizada, logo começa-se a
ser percebida uma mudança cultural significativa na sociedade pelo abandono de uma
única verdade e da objetividade cientifica, promovendo uma nova visão de mundo.
Esse período é marcado pela mutação de valores, assim, nesse atual contexto,
tudo passa a se tornar efêmero, logo nesse aspecto, fica evidenciado a celeridade da
transformação social pelo evento da imitação, assim, a originalidade passa a dá lugar
a imitação, firmando a questão da visibilidade do descartável.
Agora, já não é visto o sentimento de pertencimento, tendo em vista, o novo
olhar de fugacidade de todas as coisas, seja desde os objetos como, por exemplo
copos e pratos descartáveis, como também chegando até atingir um dos pilares
basilares do cristianismo, a família.
Nesse contexto, tendo em vista, que agora o casamento deixa de ser um
contrato entre, tão somente, duas pessoas do sexo oposto com o víeis para toda a
vida, mas passa a ter visibilidade também famílias a partir de duas ou mais pessoas
do mesmo sexo, além da percepção da transitoriedade do casamento, haja vista, que
o divórcio tenha se tornado uma regra e não uma exceção.
Assim, na hodiernidade a sociedade tornou-se plural com o pensamento
voltado para o quesito de que toda religião é válida, tendo em vista, que a bíblia deixou
30

de ser a única regra de fé. Assim não se admitindo mais a afirmação de uma única
verdade, pois aflorou a convicção de que o importante é não prejudicar o próximo,
independentemente da religião.
Portanto, a igreja no contexto atual, enfrenta o desafio em manter os seus
preceitos bíblicos pela necessidade de ampliar sua visão de mundo, sem, contudo,
perder o olhar no seu manual de fé para poder cumprir o propósito da sua existência.
Sendo assim, diante de uma reflexão mais apurada, verifica-se a formação de
uma sociedade que se autodenomina inteligente perpassando por uma situação de
adaptação, que de forma gradativa, pode provocar um encarceramento através da
linguagem, tendo em vista, que tudo deve passar pelo campo das ideias
manipuladoras, o que pode ser verificada através de uma janela do discurso que foi
denominada janela de overton. Tendo em vista que:

O conceito foi elaborado por Joseph P. Overton e chamado de Janela. Mais


tarde, assim como o Teorema de Pitágoras e as Leis de Newton, o termo
assumiu a alcunha do autor e passamos a chamá-lo de Janela de Overton.
Resumidamente, ele estabeleceu que as opiniões sobre todos os assuntos
podem ser enquadras num espectro alocado numa faixa que vai desde o
absolutamente contrário até o absolutamente favorável. Esse espectro
representa onde está alocada a opinião pública (ou da grande maioria dela) e
passou a ser chamado de janela. (FRANÇA, 2016, p 02)

Desse modo, percebe-se que o grande desafio da igreja no presente século é


a possibilidade de poder desenvolver um olhar, através de uma visão bíblica, que
possa ser adaptado ao período hodierno e ainda conseguir cumprir seu proposito
concernente ao reino de Deus, através do novo estilo de vida imposto pelo pós
modernismo, além disso, manter-se com a esperança voltada em um futuro promissor
de vida eterna.
Assim, verifica-se a necessidade da igreja ressignificar e se readequar
socialmente diante das demandas socioculturais, desse modo, modificando-se e
conservando os princípios fundamentais do cristianismo.

3.1 Pensadores pós modernos


É indubitavelmente sabido da informação de vários pensadores pós moderno
dentre os quais se pode citar: Foucault, Derrida, Deleuze, Lytarde, entre outros. No
entanto embora saiba-se que cada filosofo tenha seu modo peculiar de pensar,
31

todavia, verifica-se a comum desesperança entre eles pelas narrativas apresentadas


em seus discursos filosóficos. Pois:

O século XX é marcado pela transitoriedade e multiplicidade de aspectos na


estrutura da produção e reprodução da vida social, dotada de fragmentações,
dadas as novas configurações materiais da vida social resultantes da
mundialização do capital e o advento do neoliberalismo. E não por acaso, a
pós-modernidade é uma linha de pensamento que acompanha esse novo
movimento do modo de produção capitalista, a acumulação flexível, que se
constitui, entre outros aspectos, pela fragmentação do próprio processo
produtivo. (CONCEIÇÃO, 2017, p. 08,09)

Assim pode-se afirmar que suas filosofias perpassam pelas narrativas de


quebra de metanarrativas, portanto, desiludidos quanto a questão da obtenção da
felicidade humana pela racionalidade técnica científica, partem do pressuposto da
necessidade de libertar a sociedade dos entraves religiosos , haja vista, suas
percepções nas descrenças de tudo que se perpetuou como respostas acabadas,
inclusive, o desencantamento do maxíssimo e do estruturalismo.
Portanto, percebe-se nos discursos de Foucault a percepção quanto a relação
de poder existente que não se resumia ao estado, tendo em vista, o fato da
visualização de poder em todos os locais como por exemplo nas escolas, nos hospitais
e até mesmo nas prisões, neutralizado, desse modo, a meta narrativa de
universalidade.
Dessa forma, fica evidenciado a percepção que a pós modernidade é marcada
pela perda dos créditos em espectros totalizantes que norteavam as regras de
condutas sociais da população, sejam elas políticas ou éticas. Pois:

O pós-modernismo está presente também naquelas análises que buscam


afirmar as novas qualidades da política que, distinta daquela que prevaleceu
na modernidade, não teria mais atores ou sujeitos políticos universais - as
classes trabalhadoras e o partido proletário -, mas grupos particulares:
mulheres, homossexuais, minorias étnicas que, nos interstícios da vida
cotidiana, lutariam contra um poder não mais localizado no Estado, mas
disperso por toda a sociedade civil. (RODRIGUES, 2006, p.19)

Desse modo, vemos Foucault concentrar suas investigações em temas que


perpassam por todos os indivíduos, independentemente, de classes sociais ou gênero
como; instituições sociais, sexualidade e poder. Assim ele buscou discutir de forma
32

enfática a fragmentação do poder em micropoderes e a docilização dos copos pela


implantação da disciplina visando a sustentabilidade do capitalismo.
Já para o filosofo francês Deleuze que foi professor nas universidades e
Sorbonne, Lyon e Vincennes, influenciado pela filosofia de Nietzsche elaborou obras
sobre filosofias, artes, psicanalise, literaturas e cinematografia, tendo em vista sua
convicção de que a filosofia não deveria ter um único paramento, nem valores perenes
e absolutos, ou seja, pregava a relativização das coisas.
Ainda podemos citar como um importante filosofo desse período Rawls, menino
nascido em Baltimore, Estados Unidos, no ano de 1921, foi autor do conceito véu da
ignorância, além da teoria da justiça em que apontava o instituto equidade como a
ação de promover benefícios aos mais desfavorecidos, igualando desse modo as
oportunidades.
Entretanto cabe ainda pontuar alguns pensadores críticos desse novo momento
como Frederic Jameson que simplesmente afirma que o pós modernismo obedece a
lógica cultural da terceira fase do capitalismo, já o pensador Ken Wilber afirma que
esse período representa uma mistura estranha entre pessoas com percepções de
valores anteriormente tidos como absolutos, mas em situações de busca de
crescimento e pessoas como tendencias de regressão tendo em vista a questão da
negação total das antigas concepções.
Nesse contexto, há de se pontuar também o pensamento de:

Friedrich Wilhelm Nietzsche (1844-1900) foi crítico da doutrina platônica e do


cristianismo, que concebiam um mundo ideal apartado do mundo material e
imperfeito; ele questionou também a tarefa da filosofia, de remontar a uma
suposta essência das coisas. Segundo Nietzsche, valores como o bem e a
verdade não são absolutos, eternos, universais ou imutáveis; ao contrário,
são socialmente e historicamente construídos e, portanto, tão contingentes
quanto a vida humana. (SALATIEL, 2021, p.02)

No entanto ainda tem um filosofo que não poderia deixar de mencionar aqui,
tendo em vista que ele até mesmo designou um outro nome para se referir a esse
momento histórico, sendo assim, Zygmunt Bauman denominou o período pós
moderno como modernidade liquida, dando um novo viés para esse período.
33

3.2 Modernidade Sólida versus Modernidade Liquida (Zygmunt Bauman)


É sabido que o autor do conceito modernidade liquida é o filosofo polonês
Zygmunt Bauman, assim ele busca diferenciar modernidade de pós modernidade pelo
novo conceito de modernidade sólida para o período anterior e modernidade liquida
para o período atual.
Portanto, Bauman faz essa diferença fazendo algumas considerações
atribuindo ao período anterior, tendo como quesitos importantes a solidez das
estruturas e das regras, enquanto ao período hodierno é atribuído requisitos como a
incertezas das coisas, volatilidade e a imprevisibilidade dos fatos.
Desse modo, diante dessa percepção, percebe-se que a modernidade
contrasta com a pós modernidade pelas características da solidez presente nas
sociedades até o início do século XX e a e a liquidez do presente século. Haja vista
que “Na modernidade líquida os indivíduos não possuem mais padrões de referência,
nem códigos sociais e culturais que lhes possibilitassem, ao mesmo tempo, construir
sua vida e se inserir dentro das condições de classe e cidadão.” (FRAGOSO, 2011,
p.110)
Assim verifica-se que a modernidade, chamada por Bauman de modernidade
sólida foi caracterizada pela existência da ordem, estabilidade, regras e autoritarismo
que permearam as instituições públicas e privadas, além de fazer parte da vida social
dos indivíduos, fatores esses, que de certo modo favorecia os institutos religiosos da
igreja cristã, tendo em vista, sua predisposição em dispositivos já previamente
prefixados como eternos.
Nessa perspectiva verifica-se a rigidez e inflexibilidades dos comportamentos
sociais pela fixação das certezas preestabelecidas, sem possibilidades de avanços
pela mudança de ordem, tendo em vista, sua imutabilidade prefixada e aceita por toda
sociedade.
Enquanto a pós modernidade chamada de modernidade liquida por Bauman
debruça suas bases nas incertezas das coisas, através de garantias ambíguas, pela
ocorrência da volatilidade e imprevisibilidade das coisas, fatores esses que se acredita
fazer parte da sociedade a partir da segunda metade do século XX até o tempo
hodierno.
34

Diante dessa perspectiva o polonês afirma que esse novo desenho social
desenvolve o individualismo a fluidez e a volatilidade das relações sociais, portanto a
sociedade fica presa a rapidez das coisas bem como a instabilidade, relacionando a
impossibilidade da manutenção das estruturas do liquido que se amolda e adquire
forma a depender do recipiente. “A identidade não possui mais raízes, o seu
procedimento principal é agora a ancoragem. A âncora é mais versátil do que a raiz,
pois não existe nenhum comprometimento e lealdade. Basta apenas içá-la e partir
para outro porto.” (FRAGOSO, 2011, p. 115)
Destarte a única certeza que permanece é a convicção que tudo pode mudar a
qualquer momento, assim nada tem sentido definitivo. Portanto nesse novo contexto
há a pregação que a vida tem que ser levada com mais liberdade com menos dogmas
de amarrações sociais, pela permissividade de que tudo deve ser experimentado sem
julgamentos.
Entretanto, verifica-se que embora se tenha tanta liberdade, ainda assim não
representa garantia de felicidade, tendo em vista, que para cada atitude recai de forma
inquestionável uma consequência. Haja vista, a percepção que nesse contexto
também é aflorado a insegurança, o medo diante da ausência de empatia e
sensibilidade. Dessa forma há quem afirme que tal liberdade seja ilusória.

Por que ilusória? A tão sonhada liberdade, na modernidade líquida, assume


a forma de uma liberdade compulsiva e obrigatória. Aos indivíduos é dada a
tarefa de autoconstrução de sua vida sem qualquer apelação, visto que são
culpados pelo que se tornam, sem qualquer garantia social contra os
infortúnios que por vezes podem acontecer. Não existem mais parâmetros,
condições e códigos que pudessem regular essa autoconstrução. A
volatilidade identitária, a fluidez dos relacionamentos construídos no decorrer
da vida, a dificuldade de vislumbrar um futuro seguro e estável (seja no
trabalho ou em outros aspectos da vida), tornam a liberdade “líquida”, na
verdade, uma sutil e ardilosa prisão. (FRAGOSO, 2011, p. 122)

Sendo assim, pode-se afirmar que ocorreu uma ruptura no movimento anterior
denominada agora como modernidade sólida, tendo em vista o advento da
modernidade liquida que visou derreter os sólidos construídos no movimento anterior,
portanto, tal movimento representou a volatilidade das coisas, a pluralidade de
verdades, tendo em vista a fugacidade do sentimento de pertencimento, haja vista que
nada mais é feito para durar.
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Logo, percebe-se que tal pensamento social afetou significativamente todas as


sociedades, tendo em vista, que derreteu até mesmo as relações mais profundas
como as das famílias até então existentes, haja vista, que na contemporaneidade,
nem mesmo os casamentos são feitos para duração eternas.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante do exposto, pode-se afirmar que refletir sobre a trajetória da igreja cristã
representa uma corroboração com os estudos já realizados sobre as religiões em seus
processos históricos, ressaltando sua competência de ressignificação no
desenvolvimento de novas estratégias para se manter viva.
Assim, se observou as constantes adaptações da instituição cristã com seus
agentes durante as transformações sociais, sem, todavia, esquecer dos seus
princípios para poder se manter de forma ativa diante da sociedade que a compõe.
Sendo assim, ficou perceptível que a igreja cristã enfrentou grandes desafios
durante sua trajetória pelos três principais períodos históricos da humanidade, dessa
forma, verificou-se grandes problemas vivenciados por essa instituição religiosa no
período medieval, tendo inclusive que resolver problemas relacionados a questão da
fixação dos preceitos religiosos.
Como também no período moderno em que se verificou transformações
sociais, com o advento do racionalismo e separação entre igreja e estado, além de
enfrentar problemas internos como o grande cisma na igreja, episódio que dera origem
a uma nova religião chamada de protestantes, pela criticidade das liturgias católicas
existentes.
Mas enfim, pode-se afirmar que, na hodiernidade, a igreja está enfrentando uns
dos piores momentos em relação a perpetuação dos seus dogmas religiosos, tendo
em vista, a questão da relatividade das coisas e a pluralidade de verdades que
contrapõem com a doutrina positivada no manual cristão, denominado de bíblia
sagrada.
Assim, verifica-se que a igreja cristã está lutando para sobreviver frente aos
grandes desafios da pós modernidade pela inserção de uma nova teologia que atenda
aos anseios sociais., sem, contudo, enveredar pelo inevitável hedonismo e
secularismo. Tendo em vista que assim como é perceptível no contexto atual o desejo
pelo transcendente, ao mesmo tempo ver-se o desprendimento e oposição ao modelo
ortodoxo cristão.
Enfim, percebe-se uma busca incansável pelo homem pós moderno em
desenvolver um novo paradigma que consiga agregar, de forma satisfatória, os
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antigos dogmas religiosos, que estão positivados na bíblia sagrada com os novos
preceitos da modernidade liquida, promovendo assim, uma nova cosmovisão do
transcendente.
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REFERÊNCIAS

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