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BACHARELADO EM TEOLOGIA

ROGÉRIO DIAS MONTEIRO

OS DESAFIOS DA IGREJA NO SÉCULO XXI

Muriaé/MG
2020
Rogério Dias Monteiro

OS DESAFIOS DA IGREJA NO SÉCULO XXI

Monografia apresentada como requisito parcial para


conclusão do Curso de Bacharelado em Teologia da
Universidade Estácio de Sá.
Orientador (a): Doutor Ernani José Antunes

Muriaé/MG
AGRADECIMENTO

Meu agradecimento é em especial a Deus por me permitir chegar até aqui, por
me fazer forte o suficiente para acreditar em um sonho e o torna-lo realidade apesar
de todas as dificuldades.
A Fé e a perseverança nunca faltaram ao longo do caminho.
A todos os professores que fizeram parte da minha graduação no curso de
Bacharelado em Teologia, por todo saber que me foi transmitido.
“Nós nos tornamos mesmos através
dos outros” (Lev Vygotsky)
OS DESAFIOS DA IGREJA NO SÉCULO XXI

THE CHALLENGES OF THE CHURCH IN THE 21ST CENTURY

[Rogério Dias Monteiro]1

[Ernani José Antunes]2

RESUMO

O presente artigo tem como objetivo central apresentar considerações relevantes à


cerca de alguns desafios enfrentados pela Igreja no século XXI. O método de pesquisa
empreendido segue natureza qualitativa, com pesquisa do tipo bibliográfica. O tema é
amplo e não tem a finalidade de esgotar o debate, mas trazer a análise de um dos
aspectos fundamentais para influenciar no resgate da ética, moral e comprometimento
com a palavra de Deus. No capítulo I será abordado o assunto sobre Igreja: Origem e
significado, onde o termo Igreja, é profundamente enraizado no cristianismo, que
exprime uma filosofia religiosa baseada na Bíblia, na crença em um Deus onipotente
e no expoente máximo da doutrina, o próprio Jesus Cristo. O capítulo II relata um breve
histórico da Igreja, o desenvolvimento da Igreja Imperial, Romana, Reforma Protestante
e Contra-Reforma. O capítulo III, discorre sobre a Igreja e as transformações ao longo
do século, as perspectivas da Igreja para o século XXI e a Igreja na atualidade. Foi
possível concluir a partir desta análise bibliográfica, que a Igreja nunca se viu envolta
em tantos desafios e questões cruciais, como atualmente. A sociedade pautada em
produtividade e vivendo no ritmo acelerado não se dedica à religião e à Igreja como
antes. Sendo assim, sob este enfoque, acredita-se que o maior desafio encontrado pela
Igreja no século XXI, seja justamente este, o de conseguir manter o foco de seus fiéis,
competindo com um mundo externo cada vez mais apelativo e sedutor nos mais
variados aspectos dos anseios humanos.

Palavras-chave: Igreja; Desafios; Atualidade.

1
Graduando em Bacharelado em Teologia – Universidade Estácio de Sá. E-mail:
rogemon75@gmail.com.
2
Professor orientador– Universidade Estácio de Sá.
ABSTRACT

The main objective of this article is to present considerations relevant to some of the
challenges faced by the Church in the 21st century. The research method undertaken
follows a qualitative nature, with bibliographic research. The theme is broad and is not
intended to exhaust the debate, but to bring the analysis of one of the fundamental
aspects to influence the rescue of ethics, morals and commitment to the word of God.
In chapter I, the subject about Church: Origin and meaning, where the term Church, is
deeply rooted in Christianity, which expresses a religious philosophy based on the
Bible, on the belief in an omnipotent God and the highest exponent of the doctrine,
Jesus himself, will be addressed. Christ. Chapter II gives a brief history of the Church,
the development of the Imperial, Roman Church, Protestant Reformation and Counter-
Reformation. Chapter III discusses the Church and the changes over the century, the
Church's perspectives for the 21st century and the Church today. It was possible to
conclude from this bibliographic analysis, that the Church has never been involved in
so many challenges and crucial questions, as it is today. The society based on
productivity and living at an accelerated pace does not dedicate itself to religion and
the Church as before. Thus, under this approach, it is believed that the greatest
challenge faced by the Church in the 21st century, precisely this, is to be able to
maintain the focus of its faithful, competing with an increasingly appealing and
seductive external world in the most varied aspects. of human desires.

Keywords: Church; Challenges; present


SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO.........................................................................................................8
2. DESENVOLVIMENTO............................................................................................10
2.1 CAPITULO I - IGREJA: ORIGEM E SIGNIFICADO.............................................10
2.2 CAPÍTULO II - BREVE HISTÓRICO DA IGREJA..................................................12
2.2.1 O Desenvolvimento da Igreja Imperial...................................................................13
2.2.2 O Desenvolvimento do poder na Igreja Romana..................................................14
2.2.3 A Reforma Protestante e Contra-Reforma............................................................16
2.3 CAPÍTULO III: A IGREJA E SUAS TRANSFORMAÇÕES AO LONGO DOS
SÉCULOS......................................................................................................................19
2.3.1 Perspectivas de uma Igreja para o Século XXI.....................................................21
2.3.2. A Igreja na Atualidade...........................................................................................22
3. CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................................... 26
4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS......................................................................28
8

1. INTRODUÇÃO

Sabemos que a religião se constitui como uma das expressões mais antigas e
universais da alma humana, e, de acordo com Jung (1978, p.7), “[...] além de um
fenômeno sociológico ou histórico, é também um assunto importante para grande
número de indivíduos”.
Os primeiros relatos que remetem a uma ideia conceitual de religião, são
originados na antiga Mesopotâmia, contudo, há que se considerar que os povos
daquela região foram os primeiros a promover narrativas escritas sobre seu modo de
vida, o que não quer necessariamente dizer que tenham sido os pioneiros em um
contexto religioso.
Os povos dispersos pelo globo terrestre, exibem culturas e organizações sociais
diversas, e em praticamente todas as culturas é comum vislumbrar um aspecto religioso
que seja influente no modo de vida das pessoas.
Muitas vezes o conceito de “religião” é associado quase que de forma exclusiva
a uma idéia de fé e crença sobre alguma entidade/divindade, que neste contexto
encontra-se num plano superior de evolução e/ou poder, de modo que o coletivo social
almeje estar em consonância com este ícone referencial.
Entretanto, a religião tem um caráter ainda mais amplo, sistematicamente
alicerçado sobre padrões sociológicos, afetuosos, hierárquicos, entre outros fatores,
que por fim, unem-se à questão da fé e da crença, para produzir um padrão que permita
expressar essa “religiosidade” de forma organizada, entendível e que possa ser
reproduzida individual ou coletivamente por todos aqueles que conhecerem seus
princípios e práticas e adotarem como parte de sua cultura.
O ponto comum sobre a importância da religião para o ser humano, desponta
sempre sob a perspectiva do sagrado, envolto em contextualizações carregadas de
misticismo e expressões dogmáticas de fé, percebendo os fenômenos como
manifestações do divino. Embora nem todas as religiões exibam uma organização
conceitual semelhante, dadas as peculiaridades de cada sociedade e o tempo em que
se organizaram neste contexto, este trabalho visa abordar e discutir alguns desafios
enfrentados pela Igreja no século XXI, tendo como base a filosofia do cristianismo, que
é maior representatividade religiosa global e predominante no hemisfério sul.
9

Dentro da temática, cabe ressaltar que tal qual o conceito de religião ainda cause
confusões quanto ao entendimento, o mesmo ocorre com o tocante à terminologia de
“Igreja”, que por muitos é visto como o templo físico, edificado para abrigar e reunir os
fiéis, porém, do ponto de vista sociológico, “Igreja” é o próprio conjunto de religiosos
que professam a mesma fé e seguem a mesma doutrina, ou seja, é o corpo de fiéis que
se apresenta de forma organizada e institucionalizada.
O presente trabalho tem como objetivo fazer uma reflexão sobre os desafios
enfrentados pela igreja nos dias atuais. Para isso, optou-se pela metodologia de revisão
bibliográfica no levantamento da situação do problema e para a discussão ampliada, a
partir da perspectiva do papel transformador e influenciador da igreja. O tema é amplo
e não tem a finalidade de esgotar o debate, mas trazer a análise de um dos aspectos
fundamentais para influenciar no resgate da ética, moral e comprometimento com a
palavra de Deus.
10

2. DESENVOLVIMENTO

2.1 CAPÍTULO I – IGREJA: ORIGEM E SIGNIFICADO

O vocábulo “Igreja”, foi amplamente difundido a partir do Novo Testamento da


Bíblia, o livro sagrado dos cristãos, que contém as narrativas históricas de gerações ao
longo de mais de 2.000 anos de manifestações de fé e religiosidade, na crença de um
Deus único, diferentemente de outras culturas que endossam a crença em mais de uma
divindade criadora e mantenedora. Sendo pioneiramente utilizado no livro de Mateus, o
termo Igreja, acaba fazendo alusão a outras terminologias que em suas traduções
idealizavam uma forma de assembléia ou reunião de pessoas dentro de um contexto
religioso.
A história da vida de Cristo reorganizou as escrituras sagradas, conferindo à
Bíblia dois tempos distintos, o Antigo Testamento (antes de Cristo) e o Novo
Testamento (após o nascimento e vida de Jesus Cristo). Essa divisão temporal, além
de ser ponto determinante na filosofia religiosa abarcada nas escrituras, também
produziu referenciais teóricos e nominativos que ainda estão em pleno uso, como é o
caso do termo Igreja.
Desta forma, pode-se dizer que o termo Igreja, é profundamente enraizado no
cristianismo, que exprime uma filosofia religiosa baseada na Bíblia, na crença em um
Deus onipotente e no expoente máximo da doutrina, o próprio Jesus Cristo, que encarna
a essência de Deus em uma forma humana. Vivendo entre pares humanos, Jesus
Cristo é retratado por sua forma de viver, onde exibe toda a plenitude do amor de Deus
pela sua criação, de modo a contextualizar por meios de exemplos fatídicos a fé, o
amor, a caridade, a misericórdia, a cura e tantas outras manifestações divinas, até então
improváveis de serem vivenciadas por pessoas comuns.
A jornada de vida de Cristo, promove uma releitura da religiosidade e crenças
expressas no Antigo Testamento e renova o modo de pensar e viver dos fiéis. Vivendo
entre os homens comuns, o filho amado de Deus, feito homem também, entra em cena
para abrir os horizontes da humanidade em suas perspectivas de amor, fé e modo de
viver. A releitura e os esclarecimentos propostos nas parábolas proferidas por Jesus e
as narrativas de seus atos de amor e compaixão pelo próximo, são fatores
determinantes para o surgimento de uma nova grande religião, o Cristianismo.
11

Os conceitos, reflexões e ideologias que foram alicerçados sobre a vida de


Jesus, após a sua morte foram reunidos de forma sistemática, organizando e
institucionalizando o surgimento da primeira Igreja por meio de Pedro, o apóstolo a
quem foi dada a missão de repassar e perpetuar as reflexões, ensinamentos e
exemplos dados pelo filho de Deus.
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2.2 CAPÍTULO II: BREVE HISTÓRICO DA IGREJA

A Igreja de Cristo iniciou sua história com um movimento de âmbito mundial, no


dia de Pentecostes, cinquenta dias após a ressurreição, e dez dias depois da ascensão
de Jesus Cristo. Na manhã do dia de Pentecostes, 120 seguidores de Jesus oravam
reunidos, assim, línguas de fogo desceram sobre eles que começaram a falar em outras
línguas. O tríplice efeito do Pentecostes Iluminou a mente dos discípulos fazendo-os
compreender que o Reino não era político e que eles deveriam estar totalmente na
dependência do Espírito Santo. A partir daí surgira a igreja de Cristo com a missão de
levar a palavra e os ensinamentos a toda a humanidade, foi um momento épico da
história da formação dos primeiros cristãos.
Desde a Ascensão de Cristo, 30 AD até o final do século (100 AD) de acordo
com Disciplinas Teológicas, 2011, “A arma usada pela igreja, através da qual a igreja
crescia demasiadamente, era o testemunho de seus membros. Enquanto aumentava o
número de membros aumenta o número de testemunhas, pois cada membro era um
mensageiro de Cristo”.
Os motivos desse crescimento surgiram pois eles perseveravam na doutrina dos
apóstolos; perseveravam na comunhão e partir do pão; perseveravam na oração;
possuíam temor; muitos sinais e maravilhas se faziam; muita alegria e sinceridade.
A Igreja era poderosa na fé e no testemunho, pura em seu caráter, e abundante
no amor. Entretanto, o seu defeito era a falta de zelo missionário. Foi necessário o
surgimento de severa perseguição, para que se decidisse a ir a outras regiões (Atos 2:
41 – 47).
Assim a Igreja começou a se expandir, e nesse período iniciaram-se muitas
perseguições principalmente com a morte de pessoas influentes como ocorreu na morte
de Estevão, que foi primeiro individuo a romper com as tradições judaicas, questionando
parte de suas doutrinas e enaltecendo as práticas cristãs ainda dentro do seio da
comunidade de Jerusalém, assim, a Igreja de Cristo dispersou-se por toda a terra,
partindo da principal capital judia.
A organização e a disciplina foram fatores determinantes para o crescimento e
a expansão da Igreja, conferindo-lhe um caráter institucional divino. A perseguição
aproximou as Igrejas e exerceu influência para que elas se unissem e se organizassem.
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O aparecimento das heresias impôs, também, a necessidade de se estabelecerem


alguns artigos de fé, e, com eles, algumas autoridades para executá-las. Outra
característica que distingue esse período é sem dúvida, o desenvolvimento da doutrina.
Nos primeiros momentos da era apostólica, a fé era como uma condição de
confiança, estabelecida pelos homens que se dispuseram a ouvir as palavras e
ensinamentos de um novo profeta, que trazia consigo pensamentos e atitudes
inovadoras para a época, rompendo paradigmas tradicionais, causando alvoroço e
desconfiança entre os que não o estavam seguindo.
Se antes a fé era exclusivamente emocional, com as pregações de Cristo ela
passa a exibir seu lado intelectual, o raciocínio exigido para a interpretação das
parábolas e o entendimento dos atos praticados, concederam aos homens de fé uma
nova perspectiva de viver a sua religiosidade, humanizando a relação entre as
escrituras e as práticas que vivenciavam. O perdão, o amor e a misericórdia pelas outras
pessoas, passa a ter novo sentido, sendo impossível vivenciar a religião e a devoção a
Deus, sem estar amparado sobre estes pilares fundamentais.
O pensamento cristão desta época, promoveu o surgimento de escolas
teológicas, impulsionadas por três personagens de destaque: Cipriano, Tertuliano e
Origines. Logo, suas manifestações filosóficas acerca da nova doutrina ganharam
repercussão em pontos distantes de Jerusalém, chegando a Alexandria, ao continente
africano e também ao continente asiático, sendo então intitulada de “credo apostólico”,
devido à forma que surgiu (sendo criada a doutrina dentro de pregações direcionadas
aos apóstolos).

2.2.1 O Desenvolvimento da Igreja Imperial

O Cristianismo foi veementemente rejeitado pelas sociedades aonde começou a


ser difundido em seus primórdios, sendo as suas práticas proibidas e punidas até com
a pena de morte, como no caso da Roma antiga, antes da assunção de Constantino ao
trono.
No início de sua jornada, ainda aspirando ao posto de imperador, Constantino,
sempre envolto em batalhas e guerras, teve uma visão inspiradora, a partir da qual ele
abriu o primeiro espaço para que o Cristianismo fosse difundido dentro daquele que
14

posteriormente viria a ser o seu império. A visão consistia numa cruz luminosa, que lhe
declarava a vitória a partir da sustentação daquele símbolo. Depositando sua fé neste
momento de inspiração, passou a defender e fazer da cruz a sua principal bandeira,
revolucionando a prática religiosa com esta conversão iniciada a partir da coroa.
Em 323 AD, Constantino tornou-se de fato o Imperador, e o Cristianismo foi então
favorecido, uma vez que um dos homens mais poderosos do mundo da época, estava
inspirado pela nova doutrina e sua simbologia. Templos antigos foram reformados e
outros novos construídos, dedicados aos cultos e doutrinas cristãs, e igrejas surgiam
por toda a extensão do império e a direção destes ficava a cargo do novo Clero que se
formava, deixando para trás os templos que antes eram administrados e mantidos pelo
Estado.
O modo de viver da sociedade foi drasticamente revolucionado, punições como
a crucificação deixaram de existir, atrocidades como o infanticídio e os torneios de
gladiadores foram combatidos e extintos. Foi instituído o descanso dominical, para que
as pessoas pudessem dedicar este dia aos cultos religiosos. Houve uma reorganização
social e uma evolução da civilidade, baseada na humanização das relações
interpessoais, adotada pela filosofia e ensinamentos de Cristo.
Embora a abertura do império ao Cristianismo tenha sido determinante em sua
expansão e reconhecimento público ao redor do mundo, também houveram percalços
durante sua implementação, pois a política do Estado se entrelaçava com os interesses
do clero em promover a nova religião e acordos e alianças eram feitos e refeitos a todo
tempo, contudo, nem sempre eram bons para a Igreja.

2.2.2 O Desenvolvimento do poder na Igreja Romana

Roma assumiu a liderança apostólica cristã, passando a exercer autoridade


organizacional e institucional sobre a Igreja, inclusive proclamando Pedro e Paulo como
fundadores desta.
Neste ponto há um contraste notável entre Roma e Constantinopla fundada
recente para aderir uma nova forma de pregação e fé. Roma havia feito os imperadores,
ao passo que os imperadores fizeram Constantinopla.
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Roma apressou-se em exibir um Cristianismo prático, marcado pelos traços de


cuidados para com os pobres, fossem eles declaradamente cristãos ou não. Esta
atitude concedeu um aspecto carismático ao Cristianismo e alavancou o
reconhecimento do bispo de Roma, como autoridade principal de toda a Igreja.
Segundo Ferraz foi dessa forma que o Concílio Calcedônia, na Ásia Menor, no ano 451
AD, Roma ocupou o primeiro lugar e Constantinopla o segundo lugar.
Como capital política, Roma era agora também a capital religiosa, agregando
poder e status, assumindo total posição de destaque dentro do Império. Quando os
bárbaros invadiram o Império, a Igreja de Roma começou a assumir um papel de
guardiã e conservadora das velhas tradições da civilização, concedendo ao Papa, um
grande prestígio e autoridade no cargo de dirigente máximo da instituição, inferindo-lhe
um poder de articulação, aconselhamento e até decisório, que por muitas vezes foi
colocado em prática por toda a Europa nos momentos de crises políticas e sociais.
O período de crescimento do poder papal começou com o pontificado de
Gregório I, o Grande, e teve o apogeu no tempo de Gregório VII, mais conhecido por
Hildebrando. Neste período houve uma reformulação sobre o clero que se encontrava
corrompido; novos modelos disciplinares e compromissos eclesiais foram
implementados e houve a total dissociação entre Igreja e Estado. A partir de então a
Igreja não sofria mais ingerências das cortes, pondo fim à nomeação de papas pelas
escolhas dos chefes de Estado. A autoridade monárquica do papa, é fruto de um longo
processo. De um bispo igual aos outros, o de Roma passa a ser o primeiro entre os
demais e finalmente cabeça incontestável da Igreja.
Importante mencionar neste trabalho que nesse período da igreja fatos
importantes e crucias na construção da igreja devem ser mencionados o concílio de
Roma em 1059 que entaleceu algumas normas como: A nomeação do papa pelos
bispos cardeais, sancionada pelo alto clero cardeal e depois aprovada pelo clero inferior
e os leigos. Nenhum integrante do clero, sob pretexto algum, pode aceitar benefício
algum de qualquer leigo ou ser chamado a contar ou dar conta a jurisdição; nenhum
cristão poderia assistir à missa rezada por padre que tivesse relacionamento conjugal
ou amoroso. Hildebrando executou à risca esses decretos, no entanto sua vitória nunca
foi completa e permanente.
A Igreja, embora independente do Estado ainda fazia alianças e acordos com
este, e nos casos onde era necessário algum tipo de enfrentamento, seja para coibir
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perseguições ou promover a liberdade em favor do culto cristão, enviava sua própria


tropa militar; um exército de cavaleiros templários compunha em conjunto as
expedições de conquista, retomada e libertação de territórios, chamadas Cruzadas.
De acordo com Disciplinas Teológicas 2011,

A primeira cruzada foi anunciada pelo papa Urbano II, era composta de 275000
dos melhores guerreiros, para combater os Sarracenos que tinham invadido
Jerusalém. Após grande batalha Jerusalém foi reconquistada. A Segunda
Cruzada foi convocada em virtude das invasões dos Sarracenos às províncias
adjacentes ao reino de Jerusalém. Sob a influência de Luiz VII da França e
Conrado III da Alemanha, um grande exército foi conduzido em socorro dos
lugares reconhecido como santos. Enfrentara grandes dificuldades, mas
obtiveram vitória. A terceira Cruzada foi dirigida por Ricardo I “Coração de
Leão", da Inglaterra e outros como; Frederico Barbarroxa, Filipe Augusto.
Barbarroxa morrera afogado e Filipe desentendeu-se com Ricardo I e voltou
para França. A coragem de Ricardo I, sozinho, não foi suficiente para conduzir
seu exército para Jerusalém. Contudo fez um acordo para que os cristãos
tivessem direito a visitar o santo sepulcro (DISCIPLINAS TEOLÓGICAS, 2011).

A Quarta Cruzada foi um completo fracasso, porque causou grande prejuízo a


igreja cristã. Os cruzados se afastaram do propósito de conquistar a Terra
Santa e fizeram guerra a Constantinopla, conquistando e saqueando a cidade,
deixando-a abandonada a mercê dos inimigos. Na Quinta Cruzada, Frederico
II, conduziu um exército até a Palestina e conseguiu um tratado no qual as
cidades de Jerusalém, Haifa, Belém e Nazaré, eram cedidas aos cristãos.
Porém 16 anos depois a cidade de Jerusalém foi tomada pelos maometanos,
até os dias atuais o território sagrado é alvo de conflitos entre cristãos e
islâmicos. A Sexta Cruzada foi empreendida por São Luiz, mas os cruzados
perderam a luta em terras Palestinas. A sétima Cruzada teve também a direção
de São Luiz juntamente com Eduardo I. A rota escolhida foi novamente a África,
porém São Luiz morreu e Eduardo I voltou para ocupar o trono na Inglaterra e
a cruzada teve um fracasso total. Esta foi considerada a última Cruzada, porém
houve outras de menor vulto (DISCIPLINAS TEOLÓGICAS. 2011).

2.2.3 A Reforma Protestante e Contra-Reforma

De acordo com História Lusitana, 2011,

O processo de reformas religiosas teve início no século XVI. Suas principais


causas foram o combate aos abusos cometidos pela Igreja Católica e a
necessidade de rever a postura da Igreja diante das mudanças temporais e
sociais que estavam em andamento, ou seja, a Igreja precisava acompanhar
as evoluções do mundo e isso fazia parto do pensamento renascentista, que
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era a mais forte corrente de pensadores e filósofos da época (HISTÓRIA


LUSITANA, 2011).

A Igreja Católica vinha, desde o final da Idade Média, perdendo sua identidade.
Os pensamentos e interpretações individualistas do alto clero pendiam para
gastos com luxo e posses materiais, deixando a verdadeira missão cristã de
lado, especialmente do ponto de vista do catolicismo, que até então era a
própria expressão do cristianismo. Muitos personagens do clero estavam em
busca de satisfação pessoal, burlando as normas e votos religiosos e
agarrando-se a uma vida mundana, deixando de lado a missão de conduzir os
fiéis pelos caminhos de Deus (HISTÓRIA LUSITANA, 2011).

As práticas do capitalismo emergente e sua ganância pelo lucro exacerbado no


século XVI, eram vistas como abusivas e moralmente condenáveis pela Igreja,
causando instabilidades e conflitos perante a classe burguesa burguesia comercial,
contudo, por outro lado o papa arrecadava generosas doações de capitais para a
construção da basílica de São Pedro em Roma.
Conflitos políticos e de influência social também eram bastante comuns, pois o
papado constantemente acabava por interferir em assuntos tipicamente da realeza.

Segundo História Lusitana, 2011,

O novo pensamento renascentista apresentava traços de elevado senso crítico


e questionador e com isso fazia oposição aos preceitos da Igreja. A sociedade
agora tinha mais apelo urbano, o acesso a livros e aos estudos deixava de ser
uma das exclusividades das classes mais abastadas e logo as pessoas
começaram a discutir e a pensar sobre as coisas do mundo. Os pensamentos
ganhavam alicerces científicos na busca da verdade através de experiências e
da razão. O monge alemão Martinho Lutero foi um dos primeiros a contestar
fortemente os dogmas da Igreja Católica. Ele escreveu 95 teses que criticavam
vários pontos da doutrina católica e partir de tais críticas ele propôs uma
reforma na doutrina, historicamente conhecida como a Reforma Protestante ou
Luterana (HISTÓRIA LUSITANA, 2011).

Na França, de acordo com História Lusitana, 2011,

João Calvino começou a Reforma Luterana no ano de 1534. De acordo com


Calvino a salvação da alma ocorria pelo trabalho justo e honesto. Essa ideia
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calvinista atraiu muitos burgueses e banqueiros para o calvinismo. Muitos


trabalhadores também viram nesta nova religião uma forma de ficar em paz
com sua religiosidade. Calvino também defendeu a ideia da predestinação (a
pessoa nasce com sua vida definida).
Na Inglaterra, o rei Henrique VIII rompeu com o catolicismo, após o papa negar-
se a cancelar o seu casamento. Em retaliação, o monarca funda o anglicanismo
e aumenta seu poder e suas posses, já que retirou da Igreja Católica uma
grande quantidade de terras (HISTÓRIA LUSITANA, 2011).

Assim, a cúpula católica, composta por bispos, cardeais e o papa reúnem-se na


cidade italiana de Trento com o objetivo de traçar um plano de reação para recuperar
seus fiéis e sua credibilidade, a reunião ficou conhecida como Concílio de Trento.
Após o início das reformas e a fundação de novas instituições arraigadas no
cristianismo, várias minorias religiosas foram perseguidas e muitos conflitos e embates
ocorreram, frutos do radicalismo e da defesa irracional das crenças e doutrinas. A
Guerra dos Trinta Anos (1618-1648), por exemplo, colocou católicos e protestantes em
guerra por motivos puramente religiosos. Na França, o rei mandou assassinar milhares
de calvinistas na chamada Noite de São Bartolomeu.
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2.3 CAPÍTULO III: A IGREJA E SUAS TRANSFORMAÇÕES AO LONGO DOS


SÉCULOS

A Igreja Católica surgiu em um contexto de renovação da fé e das atitudes,


baseadas no ensinamentos, reflexões e exemplos deixados por Jesus Cristo, os quais
foram anunciados e proclamados por seus discípulos em meio a intensas oposições e
perseguições, mas ela se espalhou pelos quatros cantos da Terra; desde a
mesopotâmia, passando pelo Egito, atravessando os grandes impérios babilônicos,
Persa, Medo Persa, gregos e romanos chegando a Palestina, perfazendo uma volta no
globo terrestre, inclusive passando pela Ásia e África.
Já na idade média, a Igreja é marcada pelo obscurantismo em torno da palavra
de Deus, que é vedada a leitura apenas por parte dos clérigos, de modo que o culto se
transforma em ritos mecânicos e a população sequer entende a língua em que são
celebradas as missas. Introduzem-se doutrinas humanas que não tem fundamento nas
escrituras. Promove-se o sincretismo com as religiosidades e espiritualidades populares
pagãs.
Neste período a Igreja já estava muito longe dos ensinamentos do cristianismo
apostólico. A igreja Católica Romana por todo período medieval manteve o controle
religioso do ocidente europeu. Qualquer pessoa que nascesse já pertencia a igreja,
independente da sua vontade, pois sua dominação espiritual se estendia por toda
Europa. A igreja torna-se uma força influente e de poder paralelo ao do Império.
A reforma protestante surgiu a partir do enfraquecimento da religiosidade do
Papa e sua autoridade para avançar contra os ditames estabelecidos pelo catolicismo.
Antes de explodir a reforma protestante, existiu a pré-reforma, através de homens
pensadores, ávidos pelo conhecimento e em busca das verdades críveis e prováveis,
que não aceitavam a imposição das doutrinas do catolicismo e do papa.
Com o surgimento do Renascentismo e o concomitante enfraquecimento
ocasionado pelas crises e conflitos instaurados dentro e fora do catolicismo, uma
chance é dada para a instauração de pensamentos reformistas, ganhando como aliada
a nova tecnologia da época, a imprensa; que permitiu a tradução e impressão de Bíblias
em todos os idiomas da Europa, tornando acessível a palavra de Deus a quase qualquer
pessoa que soubesse ler. Com isso a Reforma Protestante conseguiu dar seus
primeiros e importantes passos.
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Quando falamos em reforma protestante é de ser falar em um movimento


religioso que procurou interpretar e Bíblia do Novo Testamento redescobrindo as
verdades deixadas pelo cristianismo primitivo. A Reforma é inspirada pelo Padre
Martinho Lutero, que propôs uma releitura e novas interpretações das verdades
bíblicas, disseminando aos poucos a palavra de Deus aos povos da idade medieval.
Além de Martinho Lutero, outros nomes foram expoentes da Reforma
Protestante, entre eles: Huldreich Zwinglio (1484-1531), João Calvino (1509-1564) e
John Konx (1514-1572); homens que lutaram para reacender as verdades bíblicas
apagadas pelo catolicismo na idade medieval. O grande desafio da igreja era a
intolerância soberana deixada pelo catolicismo, que só admitia os próprios preceitos
como verdades absolutas e incontestáveis.
Com a Reforma Protestante, as novas denominações de Igreja se espalham aos
países europeus e a Inglaterra se lança ao protestantismo (1689), afirmando que não
aceitava voltar aos dogmas católicos e que preferiria continuar protestante, concedendo
liberdade ao povo de cultuar a Deus.
Com a formação dos pais dos Estados Unidos da América, surgiram grandes
pregadores, boa parte deles adeptos das novas doutrinas protestantes e que faziam
grandes reuniões por todos os EUA. Diversas igrejas protestantes surgem em solo
americano, revelando uma nova era ao cristianismo moderno.
A oposição era muito grande, mas o cristianismo avançava muito mais ainda e
na metade do século XX a expansão do movimento religioso denominado
pentecostalismo, num movimento baseado na experiência do batismo com Espírito
santo. O pastor William Joseph Seymor foi o grande percursor do movimento
pentecostal. Através dos seus ensinos aumentou a número de seguidores ao
pentecostalismo e também através desse homem, a sua igreja mandava missionários
para 25 países.
No Brasil o movimento pentecostal deu início em 1910 em Belém, PA, através
dos missionários suecos, Daniel Berg e Gunnar Vingren, que resultou na Assembleia
de Deus que passou a ser até o presente momento a maior denominação pentecostal
brasileira.
Depois foram aparecendo outras denominações e o movimento protestante foi
crescendo e avançando ainda mais nos horizontes do cristianismo.
21

2.3.1 Perspectivas de uma Igreja para o Século XXI

De acordo com a Revista Impacto, Ed.2, 2011,

Desde o seu início no dia de Pentecostes, durante o seu declínio na Idade


Média e progressiva restauração a partir dos dias da Reforma até hoje, a
Igreja Católica do nosso Senhor Jesus Cristo tem passado por mudanças
constantes em sua maneira de crer, de agir e de se expressar no mundo. Tão
grandes foram estas mudanças que é provável que se os fiéis de qualquer
época determinada da história da igreja fossem transportados de repente
para outra, teriam dificuldade não apenas para se encaixarem na igreja
daquela época, mas até para a reconhecerem como sendo uma legítima
expressão do Cristianismo (REVISTA IMPACTO, ED. 2, 2011).

No entanto, a Igreja que hoje existe e perdura ao longo de tantos séculos, é


resultante de todas as transformações que ocorreram durante a história. Por
mais que repudiemos determinadas fases e expressões do catolicismo, não
podemos negar que todas tiveram participação em nossa formação
(REVISTA IMPACTO, ED. 2, 2011).

Às vésperas da virada de século e do milênio, grandes reflexões surgiram, em


busca de discernimento para entender quais seriam as próximas mudanças
necessárias na forma de pensar e agir da Igreja.
Devemos levar em consideração as evoluções sociais e compreender que as
coisas que antes levavam séculos para mudar, atualmente levam apenas décadas. O
mundo globalizado e conectado (científico, tecnológico, econômico, político, social)
está num ritmo vertiginoso de constante transformação. Assim como os profissionais
em qualquer área, que não se atualizarem, de um momento para outro podem tornar-
se obsoletos e serem descartados da máquina mundial; tal qual ocorre na maneira
que a Igreja se apresenta ao seu público. Ela deve entender o ritmo de vida atual e
procurar a melhor maneira de levar a doutrina, os ensinamentos e buscar mecanismos
para manter viva a fé, os valores e os princípios sobre os quais foi fundamentada.
22

2.3.2 A Igreja na Atualidade

Segundo JM Notícia, 2011,

A Igreja dos dias atuais, está inserida num contexto em que houve uma
ruptura com a cultura de valores éticos, moral e espirituais. Isso revela a face
perversa do mal que afeta a sociedade como um todo, e que acaba tentando
afetar também a cultura da igreja do Senhor (Romanos 12:2). Ainda é
possível verificar que o atual contexto histórico de sociedade é evidenciado
por uma geração sem referência, sem reverência e sem limites, relativista,
narcisista, hedonista, céticos e ao mesmo tempo moralistas (JM NOTÍCIA,
2011).

Assim, o Apostolo Paulo escreveu em (2 Timóteo 3: 1-5) ressaltando,

Que nos últimos dias sobrevirão tempos trabalhosos. Porque haverá homens
amantes de si mesmos, avarentos, presunçosos, soberbos, blasfemos,
desobedientes a pais e mães, ingratos, profanos, Sem afeto natural,
irreconciliáveis, caluniadores, incontinentes, cruéis, sem amor para com os
bons, traidores, obstinados, orgulhosos, mais amigos dos deleites do que
amigos de Deus, tendo aparência de piedade, mas negando a eficácia dela.
Destes afasta-te (2 TIMÓTEO 3: 1-5).

Castro 2008, afirma que,

A sociedade pós-moderna é corrupta, imoral, voltada à relativização da ética


cristã e a contemporização dos fatos, sempre buscando minimizar o pecado
e maximizar a misericórdia em detrimento da justiça de Deus”. “A geração
Pós-Moderna é uma geração sem conteúdo, sem profundidade, que preza
pelo hedonismo, niilismo e o narcisismo (CASTRO 2008. Pag.28).

A nova sociedade é fruto da era da informação de alta velocidade, da


proposição de pontos e contrapontos que viajam por continentes em segundos e vão
reproduzir ou instigar pensamentos críticos e questionamentos dos mais diversos
tipos e temas, dentre eles os de caráter espiritual e religioso.
Novas teses e interpretações surgem a cada instante e qualquer dogma ou
crença pode ser questionado a qualquer momento. Muitas vezes, os questionamentos
23

são apenas articulações filosóficas oriundas de visões individualistas, que


dependendo da habilidade do proponente em organizar suas ideias de contestação,
podem ganhar novos adeptos e formar correntes de pensamento e atingir um espectro
doutrinador.
A sociedade atual é marcada pelo recorde em quebra de vínculos com as
tradições e padrões convencionais de religiosidade. Os pensamentos e valores
doutrinários estão sofrendo recortes de acordo com a conveniência de cada indivíduo
e sendo exibidos por estes como uma nova e flexível religiosidade. Até nas disputas
de territórios do tráfico entre organizações criminosas, é comum vermos a associação
do nome de Deus em meio à fala dos bandidos, como se Deus estivesse a proteger
uma das facções que irá dominar o comércio de entorpecentes e promover a ditadura
do terror e do crime em meio às comunidades.
É evidente a busca pelo caminho mais fácil, onde a sociedade busca o método
mais rápido de “exibir e professar” a sua condição religiosa, contudo, nem sempre
estes mecanismos estão amparados em uma maturidade de fé e numa vivencia
alicerçada em preceitos cristãos. A sociedade nunca fez tanto uso do livre arbítrio
como faz atualmente. A liberdade do indivíduo é certamente a sua bandeira mais
importante e os valores religiosos que ele irá declarar são secundários em relação ao
seu estado de liberdade, pois ele pode a qualquer momento se despir dos conceitos
e formações e “trocar” de religião ou abster-se dela em favor do seu bem-estar
individual.
Por outro lado, não são poucos os teóricos que discutem esse pensamento e
distanciamento da moral da filosofia cristã, fundamentada no plano histórico da
teologia bíblica, advindos da Igreja Primitiva, ou seja, a falta de um padrão
conservador da ética medieval judaico-cristão, causa preocupações e ponderações
sobre o engajamento religioso desta geração.

Segundo Castro 2008,

Não pode, de forma alguma, o cristão evangélico trair seu princípio


doutrinário, pois se fosse assentida a traição ao princípio doutrinário, estar-
se-ia à beira da ruína de toda filosofia cristã, o que resultaria a inutilidade de
persistir em busca do ideal cristão (transformação – santificação) (CASTRO
2008, p.33).
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Para Lopes apud Antônio Tadeu Ayres 1998,

O momento que a Igreja de Cristo está inserida é marcado pelo rompimento


das fronteiras sociais, desmantelamento dos sistemas, quebra de tabus, nova
moralidade, novos critérios éticos e a destruição dos sistemas de valores
presentes nas gerações passadas. Essa ruptura dos modelos de referências
revela uma face perversa do mundanismo em que se idealiza um
comportamento social liberalizante, a relativização atua como película de
suavização do erro, ademais o que importa é ser feliz (LOPES APUD
ANTÔNIO TADEU AYRES 1998, p. 6).

Percebe-se então, que aqueles indivíduos que são provenientes de famílias


tradicionalmente cristãs, exibem maior apreço e apego às tradições seculares e ainda
demonstram traços doutrinários em suas condutas, pois suas filosofias de vida são
baseadas em valores e princípios sociais com fortes e incisivas influências da Igreja.
Assim, de acordo com o Blog Jesus Cristo Eterno Mestre, os teólogos, Tim
Keller, Don Carson, Kevin De Young e Ben Peays afirmam: “Vemos uma profunda
secularização, bem como ameaças à liberdade religiosa e uma crescente hostilidade
cultural ao cristianismo bíblico”. Pois dentre as famílias e lares onde o tradicionalismo
cristão sucumbiu em algum tempo, a liberdade de tomar outros caminhos religiosos
ou abstrair-se deles, torna-se uma realidade recorrente e comum.
Segundo O Blog Jesus Cristo Eterno Mestre, Don Carson, Kevin DeYoung e
Ben Peays e Tim Keller, o “pecado oculto” é o principal desafio, com Carson
observando que seus efeitos são “abrangentes”. Esses renomados teólogos ressaltam
que, na igreja ocidental, há uma verdadeira “obsessão pela autonomia pessoal”. Pois,
via de regra, “fazemos com que seja ‘sagrado’ a nossa escolha sobre identidade,
moralidade e verdade. Nossa responsabilidade parece sermos fiéis a nós mesmos”,
ou seja, recaímos sobre os ditos “recortes doutrinários”; um contexto em que as
pessoas se apegam apenas a partes da doutrina, aplicando-as em seu cotidiano de
acordo com a sua vivência, adequando o sagrado ao seu etilo de vida, invertendo a
lógica da filosofia que nos leva ao caminho da santidade, onde nós, enquanto
humanos imperfeitos, deveríamos buscar nos aproximar do sagrado para nos
aprimorarmos.
Os resultados disso são conhecidos: “ganância, imoralidade, confusão moral e
um trágico materialismo filosófico”.
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Em outro espectro, os líderes cristãos apontam como “desafio” as divergências


de opinião e compreensão, e os individualismos presentes em cada corpo de Igreja,
que vão desde questões doutrinárias e perpassam os campos de partidarismos
políticos, debates sobre homossexualidade, segregações étnicas e etc.
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3. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Conclui-se a partir desta análise bibliográfica, que a Igreja nunca se viu envolta
em tantos desafios e questões cruciais, como atualmente.
A era da informação trouxe consigo dilemas sobre a liberdade individual e o livre
arbítrio. O que impede o indivíduo de experimentar outra religião, caso a atual não
satisfaça seus anseios?
Esta simples pergunta, coloca duas proposições em tela: A de que a crença em
Deus continua a mesma, porém a doutrina que norteia a interação entre o humano e o
sagrado pode ser diferenciada, mais compreensível, mais afetuosa, mais ou menos
rígida em seus preceitos e etc. e a segunda premissa é de que o ser humano atual,
tende primordialmente a atender à sua demanda pessoal, ou seja, não se sentindo bem
em uma Igreja, migra-se para outra, e assim por diante, até que encontre a que mais se
adequa ao seu modo de vida.
Essa vasta gama de denominações e pequenos “ajustes doutrinários” acabam
por promover uma grande confusão filosófica entre cristãos, que por muitas vezes
passam a tratar conceitos filosóficos como verdades universais e imutáveis ou
inflexíveis, causando discordâncias fundamentalistas que acabam convergindo em
segregação religiosa.
Em contraponto, ainda pior que essa confusões doutrinárias e migrações
institucionais, é a onda de evasão ou independência religiosa que se deslancha na
atualidade. É cada vez mais comum ver pessoas que preferem viver sua religiosidade
e crenças de forma individualizada e privada, não proferindo ou associando uma
religião.
No Brasil, a Igreja pioneira no protestantismo foi a Assembléia de Deus,
constituindo o maior contingente de cristãos, depois da Igreja católica. A Assembléia de
Deus é amplamente difundida em todas as regiões do país e dentre o conglomerado de
Igrejas adeptas da reforma protestante, ela continua a ser a maior em número de fiéis
no Brasil.
Notoriamente conhecida por manter uma doutrina de moral bastante
conservadora e infundir em seus fiéis um nível de engajamento bastante elevado, a
Igreja enfrenta problemas com o moderno estilo de vida da sociedade. A era da
27

informação expõe para a sociedade uma infinidade de informações e opções de


entretenimento, que muitas vezes acabam retirando o foco do campo religioso,
relegando-o a segundo plano.
A sociedade pautada em produtividade e vivendo no ritmo acelerado
(principalmente nos grandes centros urbanos), não se dedica à religião e à Igreja como
antes, fazendo com que o número de fiéis diminua gradualmente. Em outras palavras,
as seduções mundanas (muitas vezes contrárias aos preceitos e doutrinas religiosas)
tem ganhado espaço no cotidiano social, estando cada vez mais acessíveis às pessoas,
independente de gênero, raça, idade ou classe social, e a acabam por implicar me um
distanciamento entre as pessoas e a fé e a religiosidade.
Sob este enfoque, acredita-se que o maior desafio encontrado pela Igreja no
século XXI, seja justamente este, o de conseguir manter o foco de seus fiéis,
competindo com um mundo externo cada vez mais apelativo e sedutor nos mais
variados aspectos dos anseios humanos.
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4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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da-igreja/. Acesso em 12 de maio de 2020.

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https://www.revistaimpacto.com.br/biblioteca/como-sera-a-igreja-do-seculo-xxi/
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29

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