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4. A prova deverá ser feita com caneta esferográfica de tinta azul ou preta. Não utilize caneta marca-texto.
6. A resposta de cada questão deverá ser escrita exclusivamente no quadro a ela destinado. O que estiver fora desse
quadro não será considerado na correção.
7. Os espaços em branco nas páginas dos enunciados podem ser utilizados para rascunho. O que estiver escrito
nesses espaços não será considerado na correção.
8. Transcreva o rascunho da redação para a folha avulsa definitiva. Não ultrapasse, de forma alguma, o espaço
de 30 linhas da folha de redação.
9. Duração da prova: quatro horas. O candidato deve controlar o marcador de tempo afixado na lousa e nos avisos do
fiscal. Não haverá tempo adicional para transcrição do rascunho da redação para a folha definitiva.
11. Durante a prova, são vedadas a comunicação entre os candidatos e a utilização de qualquer material de consulta,
eletrônico ou impresso, e de aparelhos de telecomunicação.
12. No final da prova não esqueça de entregar todas as folhas de resposta. Você pode levar o caderno de questões.
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01
Leia, a seguir, um poema de Cora Coralina, pseudônimo de Anna Lins dos Guimarães, no qual a autora faz uma reflexão sobre sua
própria arte poética.
– Cora Coralina, em “Meu livro de cordel”. 8ª ed., São Paulo: Global Editora, 1998, p. 13.
a) O texto explora construções metafóricas estabelecidas a partir da imagem das pedras. Explique como a enunciadora relaciona essa
imagem ao processo de criação de poemas.
b) O texto faz uso de uma transição pronominal entre a segunda e a primeira pessoa, respectivamente. Identifique o verso em que
esse procedimento é originado e, em seguida, analise tal processo a partir da ideia principal do poema.
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02
Texto 1
"Agora eu sou a morte, a destruidora de mundos." A frase foi escrita há 2.500 anos e vem do "Mahabharata", poema épico da Índia.
Mas ela é associada nos dias de hoje a um evento mais recente da história do mundo, tão destrutivo quanto o seu enunciado: a bomba
atômica. Em especial a seu criador, o físico J. Robert Oppenheimer, que recitou o trecho quando viu a arma em ação pela primeira vez,
em julho de 1945.
A frase volta a aparecer agora, dita pelo cientista no original em sânscrito, mas pelas caixas de som dos cinemas. "Oppenheimer", que
estreia nesta quinta-feira (20/7), reconta a vida do físico e de seu maior legado, com a megalomania de direito. Mas o épico de três
horas de duração é um dos filmes mais intimistas da carreira de seu diretor, Christopher Nolan.
A escala do projeto da bomba incentivou o cineasta a querer levar a história para as telonas. "Queria que o público tivesse noção do
tamanho da operação", diz Nolan. "Quase tudo é contado do ponto de vista de Oppenheimer e, a partir dessas sequências, vemos a
largura e a complexidade do que ele teve que lidar."
A vida do criador da bomba atômica é tão interessante quanto a de sua criatura. Nascido em uma família abastada e sempre afundado
nos livros, Oppenheimer foi da geração de cientistas que popularizou a física teórica nas universidades. Ele não venceu o Nobel, mas
Oppie, como era conhecido, ajudou em inúmeras descobertas que receberam o prêmio.
Mas seu brilhantismo foi apagado pelo horror da era atômica, iniciada na Segunda Guerra Mundial. Com os nazistas empenhados em
criar uma bomba mais poderosa, que ajudasse a vencer o conflito, Oppenheimer aceitou liderar mais de 600 mil americanos em ação
similar, no que ficou conhecido como o Projeto Manhattan.
A armamentização da pesquisa e o talento de gerenciamento do físico ajudaram os aliados a vencer a guerra. Mas a vida de
Oppenheimer ficou definida pelo paradoxo: ao tentar impedir o avanço da guerra, ele a alimentou com a arma definitiva.
https://www.em.com.br/app/noticia/cultura/2023/07/20/interna_cultura,1522235/oppenheimer-retrata-criador-da-bomba-atomica-como-um-enigma-
indecifravel.shtml#:~:text=%22Agora%20eu%20sou%20a%20morte,seu%20enunciado%3A%20a%20bomba%20at%C3%B4mica
Texto 2
a) Explique por que a resenha do filme “Oppenheimer” classifica como paradoxais a criação e a própria vida do físico.
b) Considerando o teor da tirinha de Mafalda e o trecho da resenha apresentada, explique por que a garota encerra o diálogo
afirmando que a vida das pessoas não depende apenas delas.
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03
O primeiro relatório sobre inteligência artificial (IA), produzido por um grupo de 16 cientistas de diferentes áreas e de várias instituições
a pedido da Academia Brasileira de Ciências (ABC), alerta sobre os principais riscos e benefícios que essa tecnologia avançada pode
trazer ao país. O relatório Recomendações para o avanço da inteligência artificial no Brasil está sendo lançado nesta quinta-feira (9), na
sede da ABC, no Rio de Janeiro, e será encaminhado ao governo federal.
“A tecnologia está avançando muito rápido e o que está ocorrendo no momento é uma tecnologia disruptiva, ou seja, você dá um passo
bastante grande no sentido de alguma coisa. Há uma mudança tecnológica”. A avaliação foi feita à Agência Brasil pelo professor titular
do Programa de Engenharia de Sistemas e Computação do Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia
(Coppe), da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Edmundo Albuquerque de Souza e Silva. Ele é também membro da ABC e
um dos porta-vozes do relatório.
Souza e Silva lembrou que durante a Revolução Industrial, iniciada na Inglaterra no século 18, houve também uma tecnologia disruptiva,
que mudou a forma de a sociedade sair da agricultura para as fábricas. “Agora, é outro tipo de mudança, mas vai causar impacto muito
grande. A diferença é que, a mudança atual se baseia em tecnologia sofisticada. Vai ter impacto muito grande em emprego, não só
naqueles repetitivos, mas também naqueles que tenham um patamar de conhecimento maior”.
https://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2023-11/cientistas-veem-riscos-e-benef%C3%ADcios-da-intelig%C3%AAncia-artificial
a) Explique por que, segundo o texto, a inteligência artificial deve ser considerada uma tecnologia disruptiva.
b) No primeiro parágrafo, há o emprego de um vocábulo com conotação negativa que cria uma aparente falta de coerência no período.
Identifique esse vocábulo e reescreva o trecho em que ele é usado, promovendo uma substituição capaz de eliminar a estrutura
inadequada.
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04
Leia, a seguir, um trecho de “Quarto de Despejo”, obra nacionalmente reconhecida por seu caráter reivindicativo e social, criada por
Maria Carolina de Jesus e traduzida em diversos idiomas.
2 de MAIO de 1958. Eu não sou indolente. Há tempos que eu pretendia fazer o meu diario. Mas eu pensava que não tinha valor e achei
que era perder tempo. ...Eu fiz uma reforma para mim. Quero tratar as pessoas que eu conheço com mais atenção. Quero enviar sorriso
amavel as crianças e aos operarios... Recebi intimação para comparecer as 8 horas da noite na Delegacia do 12. Passei o dia catando
papel. A noite os meus pés doiam tanto que eu não podia andar.
Começou chover. Eu ia na Delegacia, ia levar o José Carlos. A intimação era para ele. O José Carlos tem 9 anos.
3 de MAIO... Fui na feira da Rua Carlos de Campos, catar qualquer coisa. Ganhei bastante verdura. Mas ficou sem efeito, porque eu não
tenho gordura. Os meninos estão nervosos por não ter o que comer.
a) Na memória escrita no segundo dia, a autora aponta um contraste entre a forma como ela é tratada pela sociedade e a forma como
ela deseja se relacionar com as pessoas. Explique como esse contraste é criado.
b) Na memória escrita no terceiro dia, a autora alega que não possuía “gordura”. Analise o emprego desse vocábulo e explique o que
quis dizer a autora ao usá-lo.
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05
Uma noção comum na sociedade brasileira do momento atual, parece ser a de que somente ficam impunes cidadãos das classes mais
altas – alta, média alta, políticos, executivos públicos e privados, pessoas com posições de destaque em determinados segmentos sociais
– político, financeiro, profissional etc., ou grandes e explícitos criminosos como sequestradores, homicidas, traficantes de segundo
escalão, policiais corruptos, outros servidores públicos corruptos. Com estes pode ocorrer uma das duas seguintes alternativas:
primeira, os crimes são sigilosos, conhecidos de um muito restrito número de pessoas (se tanto, de parceiros, sócios, amigos, parentes,
funcionários de confiança); segunda, quando se trata de homicídio os casos logo se tornam do conhecimento geral e a mídia deles se
ocupa exaustivamente, o que torna o sigilo, e até certo ponto a interrupção do processo, praticamente impossível. Por outro lado,
homicídios são registrados com bem maior exatidão do que outros tipos de crime, porque existe o corpo e quando este não aparece
de imediato as buscas são bastante amplas e intensas. É a noção, correta apenas até certo ponto, de que quem tem poder, “manda”
fechar inquéritos; quem tem dinheiro, “compra” testemunhas, policiais, escrivãs, oficiais de justiça, e juízes; quem tem capital social
vale-se dele para influir no andamento do inquérito e até mesmo na atuação dos membros do Ministério Público e nas decisões do juiz.
Sabemos que esse tipo de coisas acontece.
Levy Cruz, Impunidade na Sociedade Brasileira: Algumas Ideias para seu Estudo. Adaptado.
a) Pode-se afirmar corretamente que o vocábulo “político” foi empregado, nas duas ocorrências, como adjetivo? Justifique sua
resposta.
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Leia o trecho abaixo, retirado do livro “A Ideia de Cultura”, do filósofo e crítico literário Terry Eagleton:
É importante perceber que essa capacidade para a cultura e a história não é só um acréscimo à nossa natureza, mas reside no seu
âmago. Se, como sustentam os culturalistas, nós fôssemos realmente apenas seres culturais, ou, como sustentam os naturalistas,
apenas seres naturais, então nossas vidas seriam muito menos carregadas.
O problema é que estamos imprensados entre a natureza e a cultura (...) Não é por ser a cultura a nossa natureza, mas por ser ‘de’
nossa natureza, que a nossa vida se torna difícil. A cultura não suplanta simplesmente a natureza; em vez disso ela a complementa de
uma maneira que é tanto necessária quanto supérflua. Nós não nascemos como seres culturais, mas como seres naturais
autossuficientes, mas como criaturas cuja natureza física indefesa é tal que a cultura é uma necessidade se for para que sobrevivamos.
A cultura é o “suplemento” que tampa um buraco no cerne de nossa natureza, e nossas necessidades materiais são então remodeladas
em seus termos.
a) Explique como o emprego do artigo indefinido e do artigo definido sublinhados contribui para a construção de sentido do primeiro
período do excerto.
b) Mantendo o sentido da frase, escreva duas palavras que podem substituir, respectivamente, os vocábulos sublinhados em “A cultura
não suplanta simplesmente a natureza; (...) é tanto necessária quanto supérflua. ”
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Leia as seguintes manchetes publicadas pelo jornal Gazeta do Povo e responda ao que se pede:
- Saidão de Natal: estado com maior população carcerária pode liberar número recorde de detentos (20/12/2021)
- Saidinha temporária: mais de 1,5 mil presos não retornam em São Paulo (08/01/2024)
https://www.gazetadopovo.com.br/sao-paulo/
a) Levando em consideração o contexto em que ocorrem, justifique o emprego do aumentativo e do diminutivo em cada manchete.
b) O emprego do substantivo “saída” nas duas manchetes garante que as expressões “Saidão de Natal” e “Saidinha temporária”
remetem ao mesmo referente? Explique.
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Dispus-me a servir-te;
Levava o teu gado
À fonte mais clara,
À vargem e ao prado
De relva melhor.
Marília, escuta
Um triste pastor.
O excerto acima exemplifica várias características da poesia lírica no final do século XVIII, mas também pode ser comparado a
modalidades mais antigas da poesia lírica em língua portuguesa, como as cantigas trovadorescas.
a) Identifique no poema uma característica da estrutura e uma característica do cenário que se aproximam das cantigas de amigo.
Justifique com expressões do texto.
b) Identifique no poema três características que se assemelham às cantigas de amor. Justifique com expressões do texto.
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Texto 1
Sofia acompanhou Rubião até à porta, estendeu-lhe a mão indiferente, respondeu sorrindo alguma coisa chocha, tornou à salinha em
que estivera, — ao mesmo ângulo, da mesma janela. Não continuou logo o trabalho, pôs uma perna sobre outra, fazendo descer, por
hábito, a saia do vestido, e lançou uma olhada ao jardim, onde as duas rosas tinham dado ao nosso amigo uma visão imperial. Sofia não
viu mais que duas flores mudas.
Assim, quando Sofia chegou à janela que dava para o jardim, ambas as rosas riram-se a pétalas despregadas. Uma delas disse que era
bem feito! bem feito! bem feito!
— Tens razão em te zangares, formosa criatura, acrescentou uma das rosas, mas há de ser contigo, não com ele. Ele que vale? Um triste
homem sem encantos, pode ser que bom amigo, e talvez generoso, mas repugnante, não? Não te basta fitá-lo, escutá-lo, para desprezá-
lo? Esse homem não diz coisa nenhuma, ó singular criatura, e tu...
— Não é tanto assim, interrompeu a outra rosa, com a voz irônica e descansada; ele diz alguma coisa, e di-la desde muito, sem
desaprendê-la, nem trocá-la; é firme, esquece a dor, crê na esperança. Se hás de amar a alguém, fora do matrimônio, ama-o a ele, que
te ama e é discreto.
Texto 2
Ai flores, ai flores do verde pinho,
se sabedes novas do meu amigo?
Ai Deus, e u é?
(...)
Vós me perguntardes polo voss’amigo,
e eu bem vos digo que é são e vivo.
Ai Deus, e u é?
A partir de uma leitura atenta dos dois excertos, e considerando que eles exemplificam o recurso da personificação ou prosopopeia,
que consiste em atribuir características humanas à natureza ou a objetos inanimados, responda:
a) Indique uma diferença entre a situação de Sofia (texto 1) e a do eu-lírico (texto 2) do ponto de vista emocional e uma diferença na
relação dessas personagens femininas com os elementos da Natureza.
b) Um tema frequente nas obras de Machado de Assis é o do desacordo dos sentimentos, opiniões e pontos de vista entre os
personagens. No texto 1, indique qual é a discordância entre Rubião e Sofia em relação às flores e qual é a discordância das duas
flores a respeito de Rubião.
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Texto 1
E estavam nisso quando o carro do Sr. Castro parou à frente da casa. O Papá foi para lá e a Mamã foi falar com a Sartina. Eu fui atrás do
Papá.
(Luís Bernardo Honwana, “Papá, cobra e eu” em Nós matamos o cão tinhoso)
Texto 2
Palavras do Anjo para o Fidalgo, que queria entrar na barca do Céu:
Não vindes vós de maneira
para entrar neste navio.
Ess’outro vai mais vazio:
a cadeira entrará
e o rabo caberá
e todo vosso senhorio.
Ireis lá mais espaçoso,
vós e vossa senhoria,
cuidando na tirania
do pobre povo queixoso.
Segundo o dicionário Houaiss, a palavra “prepotência” significa abuso de poder ou de autoridade; opressão, tirania, despotismo;
tendência para o mandonismo, especialmente se se possui alguma vantagem como riqueza, poder, força física etc. Considerando essa
informação, responda:
a) O texto 1 narra uma situação de passividade diante da prepotência, a partir de um ponto de vista crítico que busca superar essa
situação. Você concorda com essa afirmação? Justifique.
b) O texto 2 condena de maneira contundente a prepotência da aristocracia portuguesa, condenação reforçada pela glorificação dos
personagens populares nas peças de Gil Vicente. Você concorda com essa afirmação? Justifique.
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REDAÇÃO
Texto I
Fazemos parte dessa engrenagem que nunca cessa, que nos coloca em um ritmo constante de trabalho, sem fim, esmagando nosso
tempo, nossos sonhos e nosso direito ao descanso. Somos reféns da produtividade que transforma tudo em mercadoria (pessoas,
ideias, ideais, natureza), sugerindo que só temos valor quando estamos produzindo, de forma a continuarmos alimentando essa roda
opressora, construída sobre um pilar patriarcal, sexista, racista e classista. E se o nosso valor é determinado por nossa produtividade,
como é que fica quando a “produtividade” é invisível?
Eloisa Artuso. Como você será inútil para o capitalismo hoje? O papel do trabalho visível e invisível na nossa sociedade. Mídia Ninja, 10/05/2023.
Texto II
A questão principal não está na impossibilidade de escapar do estrangulamento do passado, ou no fato de que a história é uma sucessão
de derrotas ininterruptas, ou de que a virulência e tenacidade do racismo é inexorável, mas que as condições perigosas do presente
estabelecem a ligação entre o nosso tempo e o anterior, no qual liberdade também era algo a se realizar.
O passado não é inerte nem dado. As histórias que contamos sobre o que então aconteceu, as correspondências que discernimos entre
hoje e tempos passados, os desafios éticos e políticos dessas histórias recaem no presente. Se a escravidão parece próxima em vez de
remota e a liberdade parece cada vez mais esquiva, isso tem tudo a ver com nossos próprios tempos sombrios. Se o fantasma da
escravidão ainda assombra nosso presente, é porque ainda estamos buscando uma saída da prisão.
Saidiya Hartman. Perder a mãe: uma jornada pela rota atlântica da escravidão. Rio de Janeiro: Bazar do Tempo, 2021. p. 206
Texto III
C&C – Como foi para você, enquanto mulher negra, se estabelecer como uma pesquisadora renomada nesta área?
AB – Ser uma pesquisadora negra significa basicamente entender uma questão: a ciência condicionou o racismo. Essa “condição mítica”
de que negro não tem alma e por isso pode ser escravizado recebeu uma justificativa racional da ciência. A psicologia, a medicina, o
direito, a biologia, a química constroem esse arquétipo da justificativa racional. Ser uma cientista e pesquisadora negra significa
reconhecer a interdição de acesso a negros e negras nas esferas de poder. E reconhecer que isso acontece por uma configuração da
própria sociedade moderna. Essa interdição nas esferas de poder é bem recente. Ela que inaugura a dicotomia entre estado-nação e
subalternizado, entre colonizadores e colonos, entre ser racional e ser selvagem. Tudo isso é produto de uma estrutura social que se
repete nas diferentes configurações de sociedade, portanto as pesquisas e as sociedades científicas em si não estão alheias a isso.
Então, ser uma pesquisadora negra é um ato contra-hegemônico, é um ato de resistir, é um ato de produzir dentro dessa lógica
pensando em projetos coletivos de libertação para quem você de fato representa. Assim, ser uma cientista negra é travar uma batalha
que é ideológica e se afirmar enquanto produtora intelectual frente ao recrudescimento do racismo por sua própria manifestação
epistemicida curricular ao não se ver no currículo, não se ler nos artigos, não encontrar alguém que tenha produzido e que seja igual a
você. Pensando em um currículo intercultural, em um currículo que se comprometa com quem nós somos, que nos represente – e
tendo em mente que a pesquisa no Brasil é produzida dentro das instituições de ensino (96% do que produzimos de conhecimento
científico é feito dentro de instituições de ensino superior) – então nós estamos falando ainda de travar uma batalha que é também
curricular.
Texto IV
A máscara vedando a boca do sujeito negro impede-a/o de revelar tais verdades, das quais o senhor branco quer “se desviar”, “manter
distância” nas margens, invisíveis e “quietas”. Por assim dizer, esse método protege o sujeito branco de reconhecer o conhecimento
da/o Outra/o. Uma vez confrontado com verdades desconfortáveis dessa história muito suja, o sujeito branco comumente argumenta
“não saber...”, “não entender...”, “não se lembrar...”, “não acreditar...” ou “não estar convencido...”
Grada Kilomba. Memórias da Plantação: episódios de racismo cotidiano. Rio de Janeiro: Cobogó, 2019.
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Texto V
'Retomada', de Robinho Santana, na exposição Quilombo: Vida, Problemas e Aspirações do Negro', no Instituto Inhotim.
Texto VI
Permita que eu fale, não as minhas cicatrizes
Tanta dor rouba nossa voz, sabe o que resta de nós?
Alvos passeando por aí
Permita que eu fale, não as minhas cicatrizes
Se isso é sobre vivência, me resumir à sobrevivência
É roubar um pouco de bom que vivi
Por fim, permita que eu fale, não as minhas cicatrizes
Achar que essas mazelas me definem é o pior dos crimes
É dar o troféu pro nosso algoz e fazer nóiz sumir
O liberalismo e o combate ao racismo caminham lado a lado. Um estudo realizado pela consultoria McKinsey & Company em 2017
mostrou que há uma correlação entre diversidade racial e a produtividade das empresas, além de melhoras no ambiente de trabalho.
A partir da análise de 1000 empresas de 12 países diferentes, foram comparados os 25% de empresas que mais promoviam a inclusão
racial em seu quadro de funcionários com os 25% de empresas que menos promoviam. O resultado foi claro: a performance financeira
do primeiro grupo superou em 33% o segundo grupo.
Esta performance foi medida a partir não apenas da lucratividade (em termos de lucros antes de juros e impostos), mas também da
criação de valor das empresas no longo prazo.
https://www.eusoulivres.org/noticias/livresentrevista-debate-diversidade-racial-e-mercado-com-michael-franca/
Considerando as ideias apresentadas nos temas e também outras informações que julgar pertinentes, redija uma dissertação em prosa,
na qual você exponha o seu ponto de vista sobre o tema:
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