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afrodescendente na hodiernidade
Resumo
Este artigo é um fruto de conhecimentos adquiridos através de reflexões do semestre
2022.1 da disciplina Laboratório de Crítica Cultural V: Educação e Políticas Culturais,
portanto o presente trabalho se propõe a analisar questões sobre a cosmovisão dos
povos indígenas e afrodescendentes em relação as políticas públicas existentes,
assim, buscando repensar sobre a efetiva promoção dos direitos constitucionais em
prol dos diversos seguimentos étnicos raciais historicamente vulneráveis. Por
conseguinte busca verificar os motivos que impulsionam a propagação do preconceito
étnico racial diante de uma política deficiente de direitos humanos positivados na
Constituição Federal de 1988, perpetuando, desse modo, o aumento progressivo de
forma avassaladora, da discriminação de forma genérica. Não obstante é verdade
que, devido a tal fracasso das existentes leis positivadas com fulcro na igualdade
independentemente de sexo, cor, raça e religião, já se busque um olhar diferenciado
sobre o assunto que pode ser visto com a implementação de novas políticas públicas
a respeito do tópico. Assim, são vislumbradas possibilidades de alternativas diversas
do tradicional conservadorismo através de novos entendimentos e mudanças na
legislação brasileira.
2. Racismo estrutural
Nesse contexto é sabido que tanto os índios e posteriormente os negros foram
usados como coisas necessárias para o enriquecimento de Portugal e assim sendo
desviados da apropriação das riquezas produzidas no Brasil, portanto, pode-se
afirmar que esses povos foram coisificados e com isso, aflorando uma grande
desigualdade racial e social que se eternizou-se até a hodiernidade. Pois:
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*PÓS GRADUANDO EM CRÍTICA CULTURAL – UNEB – CAMPUS II. E-mail: rivanjsantos@hotmail.com
DOCENTE: LÍCIA MARIA DE LIMA BARBOSA
TRABALHO DE CONCLUSÃO DO COMPONENTE: CCULT183 LABORATÓRIO DE CRÍTICA CULTURAL V:
EDUCAÇÃO E POLÍTICAS CULTURAIS 2022.1.
Diante disso, percebe-se a fala, no cotidiano, da visibilidade sobre a existência
de exclusão na sociedade contemporânea pela questão racial por meio de atitudes
preconceituosas, no entanto é preciso um olhar crítico para enxergar tais atitudes
discriminatórias, tendo em vista, sua aparição de forma ressignificadas na
hodiernidade legitimando, desse modo, a perpetuação da latente miserabilidade das
comunidades indígenas e das comunidades negras pela ocupação de posições
subalternas na sociedade.
Tudo isso lastreia a ideia moderna de cultura, que ganha força com o
progresso do capitalismo e em nome do qual a Europa inflige à África, durante
três séculos e meio, o genocídio de dezenas de milhões de pessoas. O
capitalismo, o progresso, a civilização, a cultura ocidental se tornam possíveis
a partir do tráfico de escravos, da grande diáspora negra. (SODRÉ, 2005, p.
07)
Em vista disso, por exemplo, tem sido visto os variados conflitos que a
população indígena tem enfrentado para defender sua forma de sobrevivência, além
da busca da perpetuação da sua cultura devido as constantes disputas de terras, fator
esse, que tem se mostrado como impeditivo ao acesso de bens e serviços sociais
fornecidos pelo Estado como: educação, saúde, emprego e segurança.
Por esse ângulo, pode-se afirmar que tanto indígenas como negros, no
contexto social hodierno, em sua maioria, vivem em extrema pobreza, assim, ficando
manifesto, de certo modo, a negativa de acessibilidade ao exercício da cidadania à
essa parcela da sociedade, embora na contemporaneidade tenha-se positivado no
ordenamento jurídico brasileiro os direitos de igualdades entre todos os cidadãos sem
nenhuma distinção.
Entretanto, no que se refere a questão da mobilidade social, percebe-se que o
índio e o negro tem sido excluído desse processo, logo partindo dessa análise pode-
se citar de forma prioritária o quesito educação, tendo em vista a percepção, na
prática, da não promoção da igualdade e do respeito as diferenças pautadas nas
desigualdades que estas pessoas se encontram.
Todavia é inegável que no Brasil com a influência do beneplácito mundial dos
direitos humanos tem-se crescido novas forças sociais com base nos princípios
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fundamentais de uma sociedade soberana, justa, livre e a harmônica pela supressão
das desigualdades sociais visando a proteção da dignidade humana.
Enfim cabe pontuar que há diferenças culturais entre as diversas comunidades
negras e entre as várias comunidades indígenas, assim para melhor compreensão
quando se refere a esse último pode-se dizer que o fato de um indivíduo de uma
dessas comunidades usar tecnologias do homem dito civilizado, como por exemplo, o
celular não o faz um negacionista da sua cultura. Assim:
De início, as perspectivas dos índios urbanos não são e não podem ser as
mesmas dos índios aldeados. O simples fato de os índios urbanizados
viverem em condições que não dependem de território para sobreviverem já
é suficiente para se ter certeza de que não podem ser tratados de forma
homogênea, o que não significa exclusão. Os índios aldeados vivem dos
recursos oferecidos pela natureza, enquanto os índios que moram em centros
urbanos vivem geralmente de prestações de serviços e como mão-de-obra
do mercado de trabalho. (LUCIANO,2006, p. 24)
Diante do que foi dito percebe-se que já houve um grande avanço sentido de
constituição de direitos dos povos indígenas e afrodescendentes com o advento da
Constituição Federal de 1988, no ordenamento jurídico brasileiro, que fora nominada
como uma constituição cidadã, devido sua percepção jurídica em abarcar tanto os
indígenas como os afro-brasileiros que historicamente foram excluídos das benécias
estatais. Entretanto, ainda há muito o que se fazer em relação a implementação de
projetos que municie ações de efetivas eficácias protetivas e garantidoras de reais
direitos a esses povos.
3. A cosmovisão indígena
Entende-se como cosmovisão indígena os apanágios que despontam na
configuração de percepção de mundo e como interatuam com os seus aspectos que
rodeiam através da comunicação, seja pelas suas vestimentas ou pela sua tradição
culinária, além dos seus valores sobre os aspectos religiosos, embora possa-se
diferenciar seus valores se for levado em consideração os índios aldeados e os não
aldeados. Porquanto:
Disso resulta que a perspectiva dos índios aldeados estará mais focada para
a valorização dos seus conhecimentos tradicionais de produção, consumo e
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distribuição de bens, enquanto os índios de centros urbanos estarão
propensos a apostar na qualificação profissional e na capacidade de inserção
no mercado local e global. (LUCIANO,2006, p. 24)
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contrapondo com a cosmovisão dos europeus que valorizam, significativamente, os
bens materiais, enquanto os indígenas valorizam a natureza.
Nesse aspecto, ainda que o colonizador tenha um olhar diferente sobre esses
povos, tendo em vista que:
Para eles, o índio representa um ser sem civilização, sem cultura, incapaz,
selvagem, preguiçoso, traiçoeiro etc. Para outros ainda, o índio é um ser
romântico, protetor das florestas, símbolo da pureza, quase um ser como o
das lendas e dos romances. (LUCIAANO, 2006, p. 30)
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diversidade de povos, habitantes originários das terras conhecidas na atualidade
como continente americano. ” (LUCIANO, 2006, p. 27)
Portanto:
4. Cosmovisão negra
Na questão de a cosmovisão afro ver-se debruçar sob a perspectiva da reflexão
sobre o sistema capitalista com suas nuanças, diante do seu poder de provocar a
exclusão social, principalmente, pelo viés da questão econômica e com isso
alimentando a questão da injustiça social que por vezes é legitimada por discursos
racistas.
Por outro lado, pode-se afirmar que as culturas negras foram rotuladas como
demoníacas e atrasadas, no entanto, percebe-se que a cosmovisão afro foi construída
pela coragem de seus precursores que com muita sabedoria e preservação das suas
tradições mantiveram vivas suas tradições. Assim, “A Modernidade começa a aparecer
não somente como moderna frente a uma Antiguidade ou a uma Idade Média, mas
como branca frente a uma zona que se identifica como não branca e parcialmente
negra. ” (MALDONADO-TORRES, 2016, p.93)
Nesse sentido, os afrodescendentes foram arrancados de suas tradições e
consequentemente despreciados quanto a sua cultura, principalmente, na questão da
extração da sua territoriedade, pela perda das suas terras evidenciando com isso o
racismo pela imposição da teoria do branqueamento.
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Nas Américas os africanos eram proibidos de pensar, rezar ou de praticar
suas cosmologias, conhecimentos e visão de mundo. Estavam submetidos e
um regime de racismo epistêmico que proibia a produção autônoma de
conhecimento. A inferioridade epistêmica foi um argumento crucial, utilizado
para proclamar uma inferioridade social biológica, abaixo da linha da
humanidade. (GROSFOGUEL, 2016, p. 40)
Hoje, essa população está reduzida a pouco mais de 700.000 índios em todo
Brasil, segundo dados de 2001 do IBGE. A Fundação Nacional do Índio
(FUNAI) e a Fundação Nacional de Saúde (FUNASA) trabalham com dados
ainda muito inferiores: pouco mais de 300.000 índios. Essa diferença ocorre
em função de diferentes métodos utilizados para a obtenção de dados.
(LUCIANO,2006, p.27)
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atende basicamente aos interesses dos grupos dirigentes. (...) (SODRÉ,
2005, p. 93)
De modo semelhante isso ocorreu com relação a questões étnica raciais, tendo
em vista, que a Lei de diretrizes e Bases da Educação Nacional também abarcou a
obrigatoriedade do ensino de história e cultura afro-brasileira e africana na Educação
Básica, assim podendo ser perceptível pelo advento da lei 11.645/08.
Enfim, diante das conquistas desses povos através das lutas contra as
desigualdades sociais percebe-se que é um desafio a mutação visível, sólida e total
de paradigmas, tendo em vista que essa superação está além das legislações
existentes, já que é percebido sua ineficácia em ultrapassar as práticas
discriminatórias e excludentes, embora tais leis criminalizem categoricamente o
preconceito e a discriminação.
6. Considerações Finais
Diante das reflexões feitas nesse presente trabalho, verifica-se que foi
ressaltado a existência de culturas diversa das apresentadas pelo europeu
colonizador pela percepção da existência de diferentes cosmovisões, assim
ressaltando a constituição do país através da formação dos povos pela mestiçagem
cultural.
Portanto, no primeiro momento foi visto que os saberes indígenas têm como
fator precípuo a visão de enxergar o universo por uma perspectiva total, com a
inserção do sujeito a existência da natureza pela integralidade de toda a vida
existente. Logo, nesse tipo de olhar não há a existência da ideia materialista e
mercadológica que persiste na sociedade ocidental.
Entretanto, o que se percebeu foi que a visão europeia, focada no princípio da
racionalidade, chega a concluir que a cultura indígena é primitiva e empírica, desse
modo, não atendendo aos requisitos científicos, portanto por esse olhar converge a
cultura indígena a ocupar uma posição desvalorizada e obsoleta.
No entanto, este artigo traz a percepção de que os saberes tantos dos índios
quanto dos negros não podem ser tidos ou rotulados como apenas algo folclórico e
exótico sobre o perigo de cair no preconceito de racismo, assim enfatizando que para
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podermos pensar em uma civilização de fato é preciso repensar os conceitos tidos até
hoje.
Nesse aspecto, ficou perceptível que o país tem como maior riqueza a questão
da diversidade cultural, pela existência de diferentes modos de viver e de pensar,
portanto nesse sentido é que se tem dito que foi visando o reparo social e histórico do
índio e do negro, além da mitigação da violação de direitos, que fora criada a
constituição cidadã.
Entretanto, há muito que se fazer para que haja a efetiva manifestação prática
dos direitos constitucionais, tendo em vista, a inegáveis violações dos direitos
indígenas e afro pelo evidente preconceito social e estrutural, portanto fica perceptível
a necessidade da inserção de novas políticas públicas nesse sentido.
7. Referências
Luciano, Gersem dos Santos. O Índio Brasileiro: o que você precisa saber
sobre os povos indígenas no Brasil de hoje. Brasília: Ministério da
Educação, Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade;
LACED/Museu Nacional, 2006.
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EDUCAÇÃO E POLÍTICAS CULTURAIS 2022.1.
NETO, Agripino Souza Coelho. Componentes definidores do conceito de
território: a multiescalaridade, a multidimensionalidade e a relação
espaço-poder. GEOgraphia, v. 15, n. 29, p. 23-52, 4 out. 2013.
SCOTT, Joan. Gender and the Politics of History. ed. 1961, vol.4. New York:
Columbia University Press, 1989.
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