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Políticas públicas: uma cosmovisão sobre o aspecto indígena e

afrodescendente na hodiernidade

Rivando José Conceição dos Santos*

Resumo
Este artigo é um fruto de conhecimentos adquiridos através de reflexões do semestre
2022.1 da disciplina Laboratório de Crítica Cultural V: Educação e Políticas Culturais,
portanto o presente trabalho se propõe a analisar questões sobre a cosmovisão dos
povos indígenas e afrodescendentes em relação as políticas públicas existentes,
assim, buscando repensar sobre a efetiva promoção dos direitos constitucionais em
prol dos diversos seguimentos étnicos raciais historicamente vulneráveis. Por
conseguinte busca verificar os motivos que impulsionam a propagação do preconceito
étnico racial diante de uma política deficiente de direitos humanos positivados na
Constituição Federal de 1988, perpetuando, desse modo, o aumento progressivo de
forma avassaladora, da discriminação de forma genérica. Não obstante é verdade
que, devido a tal fracasso das existentes leis positivadas com fulcro na igualdade
independentemente de sexo, cor, raça e religião, já se busque um olhar diferenciado
sobre o assunto que pode ser visto com a implementação de novas políticas públicas
a respeito do tópico. Assim, são vislumbradas possibilidades de alternativas diversas
do tradicional conservadorismo através de novos entendimentos e mudanças na
legislação brasileira.

Palavras-chave: Políticas públicas. Indígenas. Afrodescendente. Preconceitos.

*PÓS GRADUANDO EM CRÍTICA CULTURAL – UNEB – CAMPUS II. E-mail: rivanjsantos@hotmail.com


DOCENTE: LÍCIA MARIA DE LIMA BARBOSA
TRABALHO DE CONCLUSÃO DO COMPONENTE: CCULT183 LABORATÓRIO DE CRÍTICA CULTURAL V:
EDUCAÇÃO E POLÍTICAS CULTURAIS 2022.1.
1. Introdução
No que se refere a políticas públicas pode-se afirmar que se trata de um
movimento de deliberações públicas com o pressuposto de conservar o equilíbrio
social ou infiltrar elementos que visam desequilibrar o estado original, com o objetivo
de mudar a realidade.
Assim, pode-se afirmar que políticas públicas são um conjunto de ações que
versam sobre questões estratégicas com perspectivas diversas, visando, no caso do
Brasil, a consolidação da democracia, pela implementação da justiça social, com a
manutenção do poder, isso com fulcro, na pseudo felicidade social.
Portanto, tende a asseverar que políticas públicas trabalha questões de
intervenções sociais, seja elas preventivas ou corretivas, sendo assim não se tem uma
racionalidade revelada.
Nessa perspectiva verifica-se que o século XIX teve como característica,
intensas transformações sociais, políticas e econômicas. No que se reporta a questão
social racial e discriminação do sujeito, ver-se sua justificativa pelo fato do Brasil ter
sido um instituto de colonialismo e escravismo por séculos, através da manipulação
da mão de obra indígena e negra, com fulcro no sustento de uma metrópole.

2. Racismo estrutural
Nesse contexto é sabido que tanto os índios e posteriormente os negros foram
usados como coisas necessárias para o enriquecimento de Portugal e assim sendo
desviados da apropriação das riquezas produzidas no Brasil, portanto, pode-se
afirmar que esses povos foram coisificados e com isso, aflorando uma grande
desigualdade racial e social que se eternizou-se até a hodiernidade. Pois:

Estimativas apontam que no atual território brasileiro habitavam pelo menos


5 milhões de pessoas, por ocasião da chegada de Pedro Álvares Cabral, no
ano de 1500. Se hoje esse contingente populacional está reduzido a pouco
mais de 700.000 pessoas, muitas coisas ruins as atingiram. (LUCIANO, 2006,
p.16)

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Diante disso, percebe-se a fala, no cotidiano, da visibilidade sobre a existência
de exclusão na sociedade contemporânea pela questão racial por meio de atitudes
preconceituosas, no entanto é preciso um olhar crítico para enxergar tais atitudes
discriminatórias, tendo em vista, sua aparição de forma ressignificadas na
hodiernidade legitimando, desse modo, a perpetuação da latente miserabilidade das
comunidades indígenas e das comunidades negras pela ocupação de posições
subalternas na sociedade.

Tudo isso lastreia a ideia moderna de cultura, que ganha força com o
progresso do capitalismo e em nome do qual a Europa inflige à África, durante
três séculos e meio, o genocídio de dezenas de milhões de pessoas. O
capitalismo, o progresso, a civilização, a cultura ocidental se tornam possíveis
a partir do tráfico de escravos, da grande diáspora negra. (SODRÉ, 2005, p.
07)

Em vista disso, por exemplo, tem sido visto os variados conflitos que a
população indígena tem enfrentado para defender sua forma de sobrevivência, além
da busca da perpetuação da sua cultura devido as constantes disputas de terras, fator
esse, que tem se mostrado como impeditivo ao acesso de bens e serviços sociais
fornecidos pelo Estado como: educação, saúde, emprego e segurança.
Por esse ângulo, pode-se afirmar que tanto indígenas como negros, no
contexto social hodierno, em sua maioria, vivem em extrema pobreza, assim, ficando
manifesto, de certo modo, a negativa de acessibilidade ao exercício da cidadania à
essa parcela da sociedade, embora na contemporaneidade tenha-se positivado no
ordenamento jurídico brasileiro os direitos de igualdades entre todos os cidadãos sem
nenhuma distinção.
Entretanto, no que se refere a questão da mobilidade social, percebe-se que o
índio e o negro tem sido excluído desse processo, logo partindo dessa análise pode-
se citar de forma prioritária o quesito educação, tendo em vista a percepção, na
prática, da não promoção da igualdade e do respeito as diferenças pautadas nas
desigualdades que estas pessoas se encontram.
Todavia é inegável que no Brasil com a influência do beneplácito mundial dos
direitos humanos tem-se crescido novas forças sociais com base nos princípios

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fundamentais de uma sociedade soberana, justa, livre e a harmônica pela supressão
das desigualdades sociais visando a proteção da dignidade humana.
Enfim cabe pontuar que há diferenças culturais entre as diversas comunidades
negras e entre as várias comunidades indígenas, assim para melhor compreensão
quando se refere a esse último pode-se dizer que o fato de um indivíduo de uma
dessas comunidades usar tecnologias do homem dito civilizado, como por exemplo, o
celular não o faz um negacionista da sua cultura. Assim:

De início, as perspectivas dos índios urbanos não são e não podem ser as
mesmas dos índios aldeados. O simples fato de os índios urbanizados
viverem em condições que não dependem de território para sobreviverem já
é suficiente para se ter certeza de que não podem ser tratados de forma
homogênea, o que não significa exclusão. Os índios aldeados vivem dos
recursos oferecidos pela natureza, enquanto os índios que moram em centros
urbanos vivem geralmente de prestações de serviços e como mão-de-obra
do mercado de trabalho. (LUCIANO,2006, p. 24)

Diante do que foi dito percebe-se que já houve um grande avanço sentido de
constituição de direitos dos povos indígenas e afrodescendentes com o advento da
Constituição Federal de 1988, no ordenamento jurídico brasileiro, que fora nominada
como uma constituição cidadã, devido sua percepção jurídica em abarcar tanto os
indígenas como os afro-brasileiros que historicamente foram excluídos das benécias
estatais. Entretanto, ainda há muito o que se fazer em relação a implementação de
projetos que municie ações de efetivas eficácias protetivas e garantidoras de reais
direitos a esses povos.

3. A cosmovisão indígena
Entende-se como cosmovisão indígena os apanágios que despontam na
configuração de percepção de mundo e como interatuam com os seus aspectos que
rodeiam através da comunicação, seja pelas suas vestimentas ou pela sua tradição
culinária, além dos seus valores sobre os aspectos religiosos, embora possa-se
diferenciar seus valores se for levado em consideração os índios aldeados e os não
aldeados. Porquanto:

Disso resulta que a perspectiva dos índios aldeados estará mais focada para
a valorização dos seus conhecimentos tradicionais de produção, consumo e
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distribuição de bens, enquanto os índios de centros urbanos estarão
propensos a apostar na qualificação profissional e na capacidade de inserção
no mercado local e global. (LUCIANO,2006, p. 24)

Destarte, aponta-se que a questão da vida em uma aldeia indígena é


abarrotada das tradições que são repassadas de gerações para gerações,
ultrapassando o marco temporal pela oralidade, para tanto, pode-se afirmar que os
ensinamentos repassados fazem parte da sobrevivência desse povo.
Nesse sentido, é de se pontuar que a colonização aconteceu de forma material
e imaterial sobre esses povos, pois, isso pode ser visto pela sutil imposição da
mudança do olhar desses povos sobre as suas culturas em relação a do colonizador,
tendo em vista, que são induzidos a pensar com o olhar do conquistador e com isso
provocando o florescimento da inferiorizacão da sua cultura em relação a cultura
europeia.

Para as modernas sociedades ocidentais, a cultura implica, portanto, uma


prática diferenciada regida por um sistema, que se entende como o conceito
das relações internas típicas da realidade da produção, pelos indivíduos, do
sentido eu organiza suas condições de coexistência com a natureza, com os
próprios membros de seu grupo e com outros grupos humanos. (SODRÉ,
20005, p. 11,12)

Nesse aspecto, pode-se afirmar que os indígenas hodiernos são fruto de


imposições culturais que em muitos casos suprimiram até mesmo sua linguagem e
seu modo de viver. No entanto, é perceptível que esse fator de transformação cultural
não ocorre de forma passiva, tendo em vista, a existência de movimentos de
descolonização de tribos indígenas visando reestabelecimentos culturais.
Sobre isso, percebe-se a existência de uma grande contaminação cultural
implementada pelos europeus nas comunidades indígenas, que para isso, buscou
inserir seus costumes, sua língua e sua religião como um fator de dominação sobre
essas aldeias com foco no surgimento de uma nova cosmovisão desse povo.
No entanto, embora tenha havido esse esforço do dominador para a fixação da
sua cultura, apesar disso, se percebe que a cosmovisão indígena se debruça sobre o
princípio da harmonia com a natureza, pela valorização das histórias dos seus
ancestrais, buscando, desse modo, preservar a sua cultura e seu idioma, com isso,

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contrapondo com a cosmovisão dos europeus que valorizam, significativamente, os
bens materiais, enquanto os indígenas valorizam a natureza.
Nesse aspecto, ainda que o colonizador tenha um olhar diferente sobre esses
povos, tendo em vista que:

Para eles, o índio representa um ser sem civilização, sem cultura, incapaz,
selvagem, preguiçoso, traiçoeiro etc. Para outros ainda, o índio é um ser
romântico, protetor das florestas, símbolo da pureza, quase um ser como o
das lendas e dos romances. (LUCIAANO, 2006, p. 30)

No entanto, é sabido a existência de influências da cultura indígenas em vários


aspectos na sociedade contemporânea como, por exemplo, na culinária em que se
tem a utilização da mandioca implementada na alimentação e os peixes dentre outros
componentes alimentícios.
Entretanto, pode-se afirmar a existência de um distanciamento entre a visão do
europeu e a do indígena, haja vista a discrepância da visão de mundo, pois nesse
sentido temos o olhar capitalista e a visão naturalista, em que o primeiro olhar se
debruça sobre a individualidade e o outro modo de enxergar o mundo volta-se para a
harmonia da vida em sociedade, priorizando com isso a questão humanitária.

Neste sentido, os povos indígenas brasileiros de hoje são sobreviventes e


resistentes da história de colonização europeia, estão em franca recuperação
do orgulho e da autoestima indenitária e, como desafio, buscam consolidar
um espaço digno na história e na vida multicultural do país. (LUCIANO, 2006,
p.29)

Assim, fica perceptível que as sociedades indígenas se pautam sobre o


princípio da igualdade, esquivando-se da divisão de classes e da exploração do outro
com o pressuposto de mãos de obras necessárias para o desenvolvimento do país,
desse modo, fica evidente que a sobrevivência desse povo tem como princípio a posse
coletiva da terra com seus recursos naturais, contrariando assim, a forma capitalista.
Além da questão da socialização das informações existente entre os
indígenas, fator indispensáveis para sua sobrevivência, comprova-se facilmente a
ausência do monopólio do processo produtivo por um simples olhar na tradição
desses povos. Desse modo, “Falar hoje de índios no Brasil significa falar de uma

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diversidade de povos, habitantes originários das terras conhecidas na atualidade
como continente americano. ” (LUCIANO, 2006, p. 27)
Portanto:

O processo de reafirmação das identidades étnicas, articulado no plano


estratégico pan-indígena por meio da aceitação da denominação genérica de
índios ou indígenas, resultou na recuperação da auto-estima dos povos
indígenas perdida ao longo dos séculos de dominação e escravidão colonial.
(LUCIANO, 2006, p. 33)

Diante dessa análise, verifica-se que o paradigma indígena possui princípios


socialistas que se debruça sobre o aspecto do respeito as diferenças pela valorização
da tolerância e o diálogo, portanto conclui-se que entre eles há a predominância do
pluralismo de ideias, pelas trocas de saberes, destoando de qualquer tipo de relação
de dominação.

4. Cosmovisão negra
Na questão de a cosmovisão afro ver-se debruçar sob a perspectiva da reflexão
sobre o sistema capitalista com suas nuanças, diante do seu poder de provocar a
exclusão social, principalmente, pelo viés da questão econômica e com isso
alimentando a questão da injustiça social que por vezes é legitimada por discursos
racistas.

É certo que o preconceito étnico já existia no antigo Egito, que o tráfico de


escravos negros chegou a ser justificado por filósofos muçulmanos e pelo
clero europeu do século XVI, com argumentos de “inferioridade racial” ou com
especulações sobre a inexistência de alma nos negros. (SODRÉ, 2005, p.
27)

Nesse sentido como o colonizador implantou aqui no ocidente uma cultura


judaico-cristã, esse povo foi conduzido a pensar de forma escatológica com a
esperança voltada apenas para o povir, e nessa perspectiva cultural imposta, percebe-
se existência de uma busca de aniquilação sobre a mobilidade social.
Fator esse, que pode ser tido como uma armadilha cultural pela privação do
reconhecimento valorizado da história afro fazendo-os reféns da desvalorização dos
modelos sociais, políticos e culturais da complexa tradição africana. Já que:
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Na cultura negra, a troca não é dominada pela acumulação linear de um resto
(o resto de uma diferença), porque é sempre simbólico e, portanto, reversível:
a obrigação (de dar) e a reciprocidade (receber e restituir) são regras básicas.
É o grupo (concreto) e não o valor (abstrato) que detêm as regras das trocas.
(SODRÉ, 2005, p. 95)

Nesse aspecto, a cosmovisão africana e os arquétipos decorrente dela, na


hodiernidade, se organizam de forma a promover manifestações que retrata o respeito
as diferenças, além de gerar alteridade. Já que a dominação do poder do capitalismo
possui uma cosmovisão de aniquilação do outro, isso pode ser visto facilmente,
através da declaração de guerras de países opulentos contra países menos
favorecidos, como pode ser visto na questão dos Estados Unidos e Iraque e da
recente guerra da Rússia contra Ucrânia, renegando com essas atitudes o dialogo a
último plano.
Pois nesse sentido percebe-se que:

A legitimação da guerra - sacrificar vidas de jovens para proteger o Estado -


tomou formas diversificadas, desde o apelo explicito à virilidade (a
necessidade de defender as mulheres e as crianças, que de outra forma
seriam vulneráveis) até a crença no dever que teriam os filhos de servir aos
seus dirigentes ou rei (seu pai), e até associações entre masculinidade e
potência nacional. (SCOTT, 1961, p.36)

Por outro lado, pode-se afirmar que as culturas negras foram rotuladas como
demoníacas e atrasadas, no entanto, percebe-se que a cosmovisão afro foi construída
pela coragem de seus precursores que com muita sabedoria e preservação das suas
tradições mantiveram vivas suas tradições. Assim, “A Modernidade começa a aparecer
não somente como moderna frente a uma Antiguidade ou a uma Idade Média, mas
como branca frente a uma zona que se identifica como não branca e parcialmente
negra. ” (MALDONADO-TORRES, 2016, p.93)
Nesse sentido, os afrodescendentes foram arrancados de suas tradições e
consequentemente despreciados quanto a sua cultura, principalmente, na questão da
extração da sua territoriedade, pela perda das suas terras evidenciando com isso o
racismo pela imposição da teoria do branqueamento.

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Nas Américas os africanos eram proibidos de pensar, rezar ou de praticar
suas cosmologias, conhecimentos e visão de mundo. Estavam submetidos e
um regime de racismo epistêmico que proibia a produção autônoma de
conhecimento. A inferioridade epistêmica foi um argumento crucial, utilizado
para proclamar uma inferioridade social biológica, abaixo da linha da
humanidade. (GROSFOGUEL, 2016, p. 40)

E assim causando um desfavorecimento na população afro pela ausência de


propiciar oportunidades a essa parcela da sociedade brasileira, portanto pode-se dizer
que os discursos na hodiernidade incide de forma incisiva mais em falácia de que uma
real convivência harmoniosa entre as diversidades do país.

Na Bahia, os descendentes de escravos, estres de terreiro, ainda hoje


comentam: “O branco faz letra, o negro faz treta”. Treta significa estratagema,
astúcia ou habilidade na luta. Significa, para o negro brasileiro, atuar nos
interstícios das relações sociais de um modo próprio (ritualista) e oposto não
à técnica da escrita, mas à ordem humana por ela representada até agora.
(SODRÉ, 2005, p. 127)

Entretanto há de se pontuar que a africanidade exerceu grande influência na


construção do país, pois embora não poucas as vezes essa parcela da sociedade
tenha sido forçada a abandonar suas crenças, ainda assim sua extensão cultural pode
ser percebida em várias áreas sociais como: nas danças, nas músicas, nas culinárias,
nas vestimentas entre outros, assim, é inegável a tamanha importância social do povo
afro na construção da identidade brasileira.
Portanto, “Desse modo, as relações entre os grupos humanos pela apropriação
da superfície terrestre, ou seja, pela conformação de seus territórios, sustenta-se em
processos conflituosos de conquista territorial e dominação. ” (NETO, 2013, p. 34)
Diante disso, percebe-se que a inserção dos afrodescendentes na sociedade
brasileira não ocorre de forma pacifica, tendo em vista que, até no presente contexto
cultural ainda é possível ser percebido um grande racismo estrutural que restringe
esse povo a ascensão à alguns espaços sociais devido a existência de um olhar
discriminatório.

5. Construção de Políticas Publicas


É sabido que o Brasil é detentor de uma multiplicidade cultural que é decorrente
de múltiplas etnias e raças, assim apresentando-se sob uma forma muito complexa,
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tendo em vista, que a identidade do país possui raízes europeia, indígena e africana.
Portanto é perceptível que esse povo possui como característica dominante a
mestiçagem, entretanto, tal fator não indica necessariamente a existência de uma
democracia efetiva, haja vista que as oportunidades são possibilitadas pela
observância do fenótipo.
Como no caso do afrodescendente em que “As possibilidades de ascensão a
determinados setores da classe média têm sido praticamente nulas para a maioria da
população negra. ” (GONZALEZ, 2018, p.44)
Assim sendo, tanto índios quanto negros foram desprezados no quesito de
acessibilidade aos bens e serviços estatais, desse modo não tendo reconhecido e
respeitado sua diversidade étnica e cultural, inclusive negando-lhe oportunidades
educativas com a justificativa de serem seres inferiores. “É importante lembrar que
todas essas hierarquias forma justificadas, e algumas ainda o são, por uma teoria
“científica” da natureza (eugenia, biologia e genética) ” (GUIMARÂES, 2009, p.32)
Por conseguinte, no tocante a população indígena pode-se afirmar que:

Hoje, essa população está reduzida a pouco mais de 700.000 índios em todo
Brasil, segundo dados de 2001 do IBGE. A Fundação Nacional do Índio
(FUNAI) e a Fundação Nacional de Saúde (FUNASA) trabalham com dados
ainda muito inferiores: pouco mais de 300.000 índios. Essa diferença ocorre
em função de diferentes métodos utilizados para a obtenção de dados.
(LUCIANO,2006, p.27)

Já no que se reporta a questão de políticas públicas, pode ser percebido a


positivação de algumas leis, ainda que não tenha plena efetividade pratica, no entanto,
a existência de legislações vigentes tendem a buscar a promoção de garantias e
direitos para a manutenção das diversas culturas. Pois:

Na Constituição de 1988, isso fica mais explícito, com a garantia da educação


escolar indígena diferenciada, intercultural, bilingue e de qualidade que
respeite as diferenças, sem reprimir a cidadania indígena. Nesse sentido, a
língua passa a ser valorizada na escola e os professores também se sentem
encorajados para lutar pelas existência de suas línguas, sabendo que agora
terão mais forças para enfrentar os preconceitos, e também outros
instrumentos como a escrita, os meios midiáticos como forma de fortalecer
suas culturas. A escola, ainda que não possa resolver todos os desafios
enfrentados pelas comunidades, passa a ser uma aliada no sentido de
contribuir para o fortalecimento da cidadania indígena. (BOMFIM, 2012, p. 87,
88)
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Nessa perspectiva, pode-se pontuar como temas de conquistas relacionados a
políticas públicas a implementação de leis como: o Estatuto do Índio pela Lei 6.001,
de 19 de dezembro de 1973, o Estatuto dos Povos Indígenas, de 05 de junho de 2009.
Ainda nessa perspectiva, pode-se afirmar que o maior avanço do país nesse sentido
foi a redemocratização com o advento da Carta Magna de 1988 que positivou
garantias e amparo aos grupos considerados excluídos pelas suas diferenças.

Nestes casos os povos indígenas, apesar de terem assegurado o seu direito


à oitiva, à indenização e à participação nos resultados de exploração das
lavras, não têm o direito de deliberar sobre a questão, sendo essa uma
prerrogativa do Congresso Nacional. (SANTOS, 2015, p. 50)

Além disso, tem-se a Legislação Educacional Escolar Indígena que foi


implementada com a Lei 9.394, de 20 de dezembro de 1996, inserida na Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) em seu artigo 78 e 79. Como também
a Lei 10.558/2002, que ficou conhecida como a Lei de Cotas, entre outros avanços na
questão do respeito as diferenças. Pois “O reconhecimento da cidadania indígena
brasileira e, consequentemente, a valorização das culturas indígenas possibilitaram
uma nova consciência étnica dos povos indígenas do Brasil. ” (LUCIANO, 2006, p.38)
Cabe ressaltar que foi a partir dessa Constituição Federal de 1988 que pôde
ser vista diversas políticas sociais com ações afirmativas e assim por meio das
políticas públicas de caráter educacional é que foi possível a busca da modificação de
paradigmas pela desmistificação de certos conceitos preconceituosos, em como a
corrida pela superação do racismo.

No século XIX, as práticas culturais dos negros abandonavam


progressivamente a clandestinidade na Bahia. Fatores de ordem histórica
merecem ser assinalados:
a) A abolição do tráfico negreiro (1830) contribui para que a comunidade
negra se debruce sobre sua presente situação e suas perspectivas no
Brasil. (...)
b) A dimensão política da revelia ultrapassa a da fuga, individual ou
coletiva. A sedição civil é o índice da existência de uma comunidade
estabelecida, com interesse definidos, mas conflitantes com os dos
grupos dirigentes.
c) As revoltas ocorrem numa ordem política em transformação, isto é, na
passagem da fase colonial do país para a de independência – fato que

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atende basicamente aos interesses dos grupos dirigentes. (...) (SODRÉ,
2005, p. 93)

De modo semelhante isso ocorreu com relação a questões étnica raciais, tendo
em vista, que a Lei de diretrizes e Bases da Educação Nacional também abarcou a
obrigatoriedade do ensino de história e cultura afro-brasileira e africana na Educação
Básica, assim podendo ser perceptível pelo advento da lei 11.645/08.
Enfim, diante das conquistas desses povos através das lutas contra as
desigualdades sociais percebe-se que é um desafio a mutação visível, sólida e total
de paradigmas, tendo em vista que essa superação está além das legislações
existentes, já que é percebido sua ineficácia em ultrapassar as práticas
discriminatórias e excludentes, embora tais leis criminalizem categoricamente o
preconceito e a discriminação.

6. Considerações Finais
Diante das reflexões feitas nesse presente trabalho, verifica-se que foi
ressaltado a existência de culturas diversa das apresentadas pelo europeu
colonizador pela percepção da existência de diferentes cosmovisões, assim
ressaltando a constituição do país através da formação dos povos pela mestiçagem
cultural.
Portanto, no primeiro momento foi visto que os saberes indígenas têm como
fator precípuo a visão de enxergar o universo por uma perspectiva total, com a
inserção do sujeito a existência da natureza pela integralidade de toda a vida
existente. Logo, nesse tipo de olhar não há a existência da ideia materialista e
mercadológica que persiste na sociedade ocidental.
Entretanto, o que se percebeu foi que a visão europeia, focada no princípio da
racionalidade, chega a concluir que a cultura indígena é primitiva e empírica, desse
modo, não atendendo aos requisitos científicos, portanto por esse olhar converge a
cultura indígena a ocupar uma posição desvalorizada e obsoleta.
No entanto, este artigo traz a percepção de que os saberes tantos dos índios
quanto dos negros não podem ser tidos ou rotulados como apenas algo folclórico e
exótico sobre o perigo de cair no preconceito de racismo, assim enfatizando que para

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podermos pensar em uma civilização de fato é preciso repensar os conceitos tidos até
hoje.
Nesse aspecto, ficou perceptível que o país tem como maior riqueza a questão
da diversidade cultural, pela existência de diferentes modos de viver e de pensar,
portanto nesse sentido é que se tem dito que foi visando o reparo social e histórico do
índio e do negro, além da mitigação da violação de direitos, que fora criada a
constituição cidadã.
Entretanto, há muito que se fazer para que haja a efetiva manifestação prática
dos direitos constitucionais, tendo em vista, a inegáveis violações dos direitos
indígenas e afro pelo evidente preconceito social e estrutural, portanto fica perceptível
a necessidade da inserção de novas políticas públicas nesse sentido.

7. Referências

 BOMFIM, Anari Braz. Patxohã, “Língua de Guerreiro”: um estudo sobre o


processo de retomada da língua Pataxó. Dissertação (Mestrado em Estudos
Étnicos e Africanos) – Universidade Federal da Bahia, Salvador, BA, 2012.

 GONZALEZ, Lélia. Lélia Gonzalez: primavera para as rosas negras. São


Paulo: UCPA Editora, 2018.

 GROSFOGUEL, Ramón. A estrutura do conhecimento nas universidades


ocidentalizadas: racismo/sexismo epistêmico e os quatro
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*PÓS GRADUANDO EM CRÍTICA CULTURAL – UNEB – CAMPUS II. E-mail: rivanjsantos@hotmail.com
DOCENTE: LÍCIA MARIA DE LIMA BARBOSA
TRABALHO DE CONCLUSÃO DO COMPONENTE: CCULT183 LABORATÓRIO DE CRÍTICA CULTURAL V:
EDUCAÇÃO E POLÍTICAS CULTURAIS 2022.1.
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*PÓS GRADUANDO EM CRÍTICA CULTURAL – UNEB – CAMPUS II. E-mail: rivanjsantos@hotmail.com
DOCENTE: LÍCIA MARIA DE LIMA BARBOSA
TRABALHO DE CONCLUSÃO DO COMPONENTE: CCULT183 LABORATÓRIO DE CRÍTICA CULTURAL V:
EDUCAÇÃO E POLÍTICAS CULTURAIS 2022.1.

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