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Luís-Ma
INTRODUÇÃO
Este trabalho envolve estudos sobre os chamados Quilombos Urbanos e sua relação
com a cozinha africana, parte da identidade cultural dos residentes do bairro da Liberdade na
cidade de São Luís - MA.
METODOLOGIA
REFERENCIAL TEÓRICO
O quilombo foi uma forma de expressão de luta, liberdade e resistência, ou seja, uma
forma de organização social e reafirmação da cultura e valores africanos. Revelando-se um
fato original, um movimento contra as imposições e ações escravistas do homem branco ao
negro cativo.
Os Quilombos foram muito mais do que esconderijos de escravos, foram a maior
forma de protesto e resistência contra o sistema escravista e um espaço onde os (as)
negros (as) puderam desenvolver seus costumes e reafirmar sua identidade. Estes
espaços de resistência não ocorreram apenas nas áreas rurais, havendo citações de
sua existência também em áreas urbanas (HENGLER; SALVADOR, 2017).
Em Nunes (2011), fala-se das dificuldades enfrentadas por comunidades que tentam
“fazer valer os direitos assegurados pela Constituição aos quilombos. (...) obstáculos referidos
ao processo de identificação e reconhecimento já que não há consenso sobre os mecanismos
adequados de aplicação dos direitos”. Segundo a autora, na vigência da Constituição de 1988
até o momento, os “setores contrários ao direito constitucional têm buscado mecanismos para
limitar ou extinguir o art. 68 do ADCT (Ato das Disposições Constitucionais Transitórias)”,
trata-se o ART. 68. Aos remanescentes das comunidades dos quilombos que estejam
ocupando suas terras, é reconhecida a propriedade definitiva, devendo o Estado emitir títulos
respectivos. Ainda, conforme Nunes:
O BAIRRO DA LIBERDADE
Para o povo africano e os seus antecedentes, a comida sempre teve uma ligação
muito forte com a religião, no candomblé – palavra que significa união de nações - a comida
desempenha um papel fundamental, pois é considerada um forte elemento de ligação entre os
homens e os orixás e de acordo com Ernandes (2013, p. 18):
Para os povos africanos e seus descendentes, a comida sempre manteve uma estreita
ligação com o sagrado, ou seja, com a religião. Como se sabe, ao virem escravizados
para o Brasil os povos africanos foram cerceados de cultuar livremente seus deuses e
por isso suas manifestações religiosas sempre foram reprimidas e marginalizadas.
Mas a resistência destes sempre foi maior que a opressão do colonizador, de modo
que as religiões de matriz africana, em especial o candomblé e a umbanda, estão
presentes em muitas regiões do nosso país.
Não obstante disso, no bairro da Liberdade já existem várias ações e projetos que
envolve a comunidade em ações sociais de conscientização a respeitos dos perigos da
marginalização, como explica Nicinha Durans, em sua fala abaixo, sobre o movimento
Quilombo Urbano, destacando-o como um dos mais antigos dentre outras coisas.
Tem voltado o seu trabalho para dentro das escolas, porque o forte do nosso trabalho
é com o jovem da periferia e, aí, a gente percebe cada vez mais essa juventude
/entrando na marginalidade. Então é uma disputa que a gente vem travando com a
consciência desse jovem com a mídia, com o tráfico de drogas. Então, nós sentimos
a necessidade de rejuvenescer a nossa militância e, assim, começar um trabalho bem
mais cedo com esses jovens. Por isso temos escolhido e priorizado fazer um trabalho
nas escolas (DURANS apud ASSUNÇÃO, 2017).
Recentemente, a mobilização e militância pelo reconhecimento ganhou força por
meio de um trabalho junto às mulheres. O Movimento Quilombo Urbano mantém um Núcleo
de Mulheres Preta Anastácia. Trata-se de um grupo de mulheres ligadas ao Movimento hip
hop, que se reúne com certa frequência para discutir problemas e demandas da mulher negra.
Dentre as atividades realizadas por esse grupo de mulheres militantes, Nicinha destaca ainda a
realização de batalhas de rimas entre as mulheres do movimento.
Esses fatores são relevantes para este estudo, tendo em vista a busca por
conhecimentos a respeito dos seus hábitos alimentares, influências e os acontecimentos
históricos que a comunidade da liberdade continua passando.
RESULTADOS E DISCUSSÕES
13%
73% 40%
17%
20%
Feminino Masculino
Mé dio completo Superior completo
Superior incompleto Fundamental completo
Mé dio incompleto Fundamental incompleto
Pode-se observar, em relação ao nível de escolaridade dos pesquisados, que eles estão
em um nível médio. Segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Pesquisa), o
município de São Luís está crescendo o seu IDH (Índice de Desenvolvimento Humano), em
2000, o índice era de 0,658, e em 2010, último ano pesquisado, mostra que aumentou para
0,768, ou seja, reafirma os dados levantados pela pesquisa, em que mostra o bairro da
Liberdade em condições educacionais razoáveis.
Local de origem
4%4%
4%
4%
15% 52%
15%
Assim, surgiu o Quilombo Urbano da Liberdade por pessoas que vinham da Baixada e
Litoral Maranhense em busca de oportunidades, mas sem deixar para trás suas origens e
foram construindo uma identidade coletiva, como ressalta Assunção (2017, p. 36):
Com relação aos familiares (pais e outros membros familiares), identificou-se que
27% nasceram na cidade de Alcântara e 17% de Pinheiro, 10% das cidades de São Luís e
Vitória do Mearim e 3% para os residentes das cidades, tais como: Bequimão, Cajapió,
Cururupu, São Vicente de Ferrer, Viana, Piauí, Matinha, São Bento e 10% não souberam
responder.
Pode-se observar no gráfico anterior, a maioria dos seus ancestrais são oriundos de
Alcântara e da Baixada Litoral Maranhense, com o fim da exportação do algodão do
Maranhão para o mercado europeu, o fim da Companhia Geral de Comércio, com a abolição
da escravidão e com os ricos se deslocando para outros Estados para se restabelecerem, foram
deixados para trás os ex-escravos, em que estes tiveram que tirar seu sustento da terra e assim
ocasionou a necessidade de deslocamento em direção a outras cidades e municípios em busca
de sobrevivência.
As regiões do interior do Estado, bem como certos bairros da própria capital, passam
por um grande movimento migratório: de um lado, o abandono das fazendas pelos
senhores e suas famílias, rumo a São Luís; de outro, a chegada dos ex-escravos, que,
junto aos homens livres e pobres, ocupam as regiões abandonadas. Essas localidades
tornam-se o laboratório de formação de uma cultura particular, sincrética, que
mistura traços ibéricos, africanos e indígenas, em maior ou menor grau, em virtude
de sua localização específica (ARAÚJO 2010, p. 6).
Em relação a sua vinda para a capital São Luís, as pessoas se deslocam por vários
motivos, e durante a pesquisa pode-se observar que a maioria vem em busca de oportunidades
de emprego com 30%, seguido dos nascidos na capital e veio por causa da família com 23%
cada, 14% vieram para estudar e 10% não responderam como mostra o gráfico abaixo.
14% 30%
23%
23%
Oportunidades de emprego
Nasceram em Sã o Luís
Veio por causa da família
Veio para estudar
Nã o responderam
Para Fadigas (2015, p.12), “A situação dos povos sem território, e sem políticas
adequadas à sua realidade, conduz sempre à sua desestruturação social e à indignidade.” Em
busca de oportunidades de emprego e por uma qualidade de vida, as pessoas saem de seus
lugares de origem e buscam em seus novos ambientes uma oportunidade de mudar a sua
realidade que eram cheias de obstáculos e dificuldades. O bairro da Liberdade foi o meio pelo
qual a população encontrou escape para melhorar de vida na capital e ainda manter vivo seus
valores culturais.
Quanto à alimentação, no questionário investigamos quais alimentos eram mais
consumidos no lugar de origem dos seus ancestrais, e quais ingredientes e utensílios ainda
fazem parte da cozinha dos moradores do bairro da Liberdade nos dias atuais.
No gráfico abaixo, pode-se observar que 28% dos pesquisados relatam que os tipos de
alimentos que eram utilizados no lugar de origem eram peixes; e 1% ainda tinha o hábito de
consumir os produtos da lavoura.
13%
18%
17%
7% 9%
8% 8%
8%
7%
7%
17%
7%
8%
11%
10%
17%
36%
47%
Sim (Sarrabulho, Peixe seco com Verduras, Vinho de Buriti, Galinha Caipira no
Leite cô co e Conhaque).
Não
Não responderam
14%
86%
Sim Nã o
90%
Diante do exposto no gráfico anterior, pode-se dizer que por meio de políticas públicas
possa se preservar a memória cultural local. Dessa forma, no gráfico seguinte, observamos o
interesse em participar de uma oficina sobre a culinária quilombola, podendo assim ter o
reconhecimento de sua identidade pela gastronomia. Segundo Muller (2010, p.180):
11%
89%
Sim Nã o
REFERÊNCIAS
CARRIL, Lourdes. Quilombo Favela e Periferia: a longa busca da cidadania. São Paulo:
Annablume; Fapesp. 2006, p. 41.
COSTA, Valéria Gomes, GOMES, Flávio. Religiões negras no Brasil: da escravidão a pós-
emancipação. São Paulo: Selo Negro, 2016.
NUNES, Patrícia Portela. Canelatiua, Terra dos pobres, terra da pobreza: uma
territorialidade ameaçada, entre a recusa de virar Terra da Base e a titulação como Terra de
Quilombo. 2011. Tese (Doutorado em Antropologia) - Universidade Federal Fluminense,
Niterói, 2011.