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Antologia Poética

Timbirense
Joseh Carlos Araújo & Robson Alvim
França

Antologia Poética
Timbirense

Cocais Maranhenses - 2ª
Edição São Luís, 2022
Copyragh@2016 by Joseh Carlos Araújo & Robson Alvin França
Todos os direitos reservados aos autores

Uma obra de
VANGUARDA LITERÁRIA TIMBIRENSE
Homenagem à
Timbira 96 anos, através da sua Prefeitura
Municipal

Homenagem à
Timbira 96 anos, através da sua Prefeitura
Municipal

Equipe de articulação
Maria Albertina Dias
Lauro Pereira da Silva
Júnior Luís Alberto
Coelho Pereira
Nonato Gilberto Costa
Pereira
Revisão de texto e
linguística Lucimar
Ribeiro Soares
Ilustração e Capa:
Joseh Carlos Araújo
Raimundo N. B. de
Macêdo
Diagramação
Eletrônica: Raimundo
N. B. de Macêdo
Editoração e
Impressão: Gráfica
Coringa
Contatos:
(98) 98199-0011 / <jcara@elo.com.br>
(99) 98432-2423 / <robson.alvim@bol.com.br>
Dados de catalogação da publicação

A658a Araújo, Joseh Carlos.


Antologia Poética Timbirense 96 anos / Joseh Carlos Araújo:
Robson Alvim França (organizadores). São Luís: Coringra,
2016
160 p. v. 5.
1. Antologia Poética. 2. Literatura Maranhense. 3. Timbiras

CDU 869.0(81)-1

Poemas e Poetas timbirenses 5

Raiz Maranhense
No meio das tabas de amenos verdores,
Cercadas de troncos - cobertos de flores,
Alteiam-se os tetos d’àltiva nação;
São muitos seus filhos, nos ânimos fortes,
Temíveis na guerra, que em densas coortes
Assombram das matas a imensa extensão.

São rudos, severos, sedentos de glória,


Jdprélios incitam, já cantam vitória,
Já meigos atendem à voz do cantor:
São todos Timbiras, guerreiros valentes!
Seu nome lá voa na boca das gentes,
Condão de prodígios, de glória e terror!
(...)

Antônio Gonçalves Dias (1823-1864)


(Juca-Pirama1. Poema épico, 1857)
0 título deste poema [do maranhense poeta romântico e indianista, exímio
(1)

estadista e dicionarista], traduzido literalmente da língua tupi, vale tanto como se


em português disséssemos “o que há de ser morto”, ou ainda, “o que é digno de
ser morto”. Referência: MORAES, Jomar. Gonçalves Dias: vida e obra. São Luís:
Alumar/Litograf (Coleção Documentos Maranhenses, v. 16), 1998. O épico é parte
da epopéia indianista do poeta caxiense, Os Timbiras; narração dividida em uma
introdução e quatro cantos, publicada pela Editora Brockhaus, em Leipzig
(Alemanha). E considerada a mais acabada realização do indianismo na poesia
brasileira.
Palavras
memoráveis
Canto Terceiro
[...]
Imagens do ar, suaves, flutuantes,
Ou deliradas, do alcantil sonoro,
Cria nossa alma; imagens
arrogantes, Ou qual aquela, que
há de riso e choro:
Uma imagem fatal (para o ocidente,
Para os campos formosos daureas
gemas, O sol, cingida a fronte de
diademas, Índio e belo atravessa
lentamente):
[...]

Sousândrade (1833-1902)
(Joaquim de Sousa Andrade, O Guesa. Edição londrina, 1888)

Soror Teresa
[..]
E um dia as monjas foram dar com
ela morta, da cor de um sonho de
noivado, no silêncio cristão da
estreita cela, lábios nos lábios de
um Crucificado.
[..]
Maranhão Sobrinho (1879-1915)
(José Américo A. Olímpio Cavalcante dos Albuquerque
Maranhão Sobrinho. Papéis Velhos... Roídos pela
Traça do Símbolo, 1908)2.

Os poemas mencionados nas páginas 9 e 10 constam da obra de BRASIL, Assis.


(2)

A Poesia Maranhense do Século XX. (Antologia./Organizaçáo). Rio de Janeiro:


Imago / São Luís: Sioge, 1994.

(...)
Consinto em ser o império da amargura, a
lepra santa de igual criatura postada
sobre mim, no meu assédio. Sou ett
mesmo o estrume canto, o meu remédio.
Mate-me logo o delirium tremens de todo
álcool, de todos os semens.
t
Nauro Machado (1935-2015)
(Nauro Diniz Machado, Os Órgãos Apocalípticos, 1976).

Êxtase
(...)
Amor, bem sabes tu como te
quis... No afeto que minha alma
te ofertou, dei-te tudo... Ilusão...
Dei-te carinho... uma alma
vibrante,
- essa taça de vinho que sorveste
feliz, o vinho delirante que tua
vida embriagou.
(...)
Dagmar Desterro (1925-2004)
(Dagmar Desterro e Silva, Segredos Dispersos, 1957).

Crômos das horas Manhãs III


Manhã cálida e clara
nuvens postas como
toalha cor de anil no ar:
Deus passando o mundo
em tábua de engomar.
Tardes IV Quem foi
ao enterro hoje à
tarde? Um sol morreu
inteiro na retina de
meus olhos.

Noites V
– Se todo mês temos uma lua
nova o que faz Deus das luas
velhas? – Recorta-as em
pedacinhos e prepara as
estrelas.

Sebastião Moreira Duarte (*1944)


(Calendário Lúdico. Sáo Luís: Sotaque Norte, 1998).
Trovas Notáveis
(...)
Quanta saudade da vila
Onde vivi tão criança
Minha mãe... vida tranquila
Cromos da minha infância
(...)

Raimunda Soares Pereira de Almeida (1915-2004)


(Primeira professora diplomada deTimbiras, em 1931)

(...)
Para a defesa da paz,
O remédio não é a guerra
Desculpa boba demais
Dos homens ricos da terra
(...)

Luiz Carlos da Cunha (1933-1990)


(In: Minha Terra Tem Palmeiras / Clóvis Ramos, 1970)

(...)
Nos seus vários
afazeres O carteiro é
enganador:
As vezes conduz prazeres,
Outras mais nos traz a dor
(...)
José Ribamar Bogéa (1921-1996)
(Jornalista e poeta, fundador do Jornal Pequeno)3
Os autores citados nesta página pertenceram à Academia Maranhense de
(3)

Trovas. Em O Imparcial, de 07/02/1971, seção O Cantinho doTrovador.


Os Sertões em
Cordel
Antônio Beato, 0 líder
Dos sertanejos rendidos
Era quem vinha na frente,
Chorando os sonhos
perdidos.
Ao lado dele, crianças,
Gente sem
esperanças, As
mulheres e os feridos.

Pois bem. Na frente dos quais


Rugiam raivosamente
Mais de cinco mil soldados
Que desejavam somente
Cicatrizar a ferida
E eliminar a atrevida
Malta desconveniente.

Moreira de Acopiara
(Adaptação de O Arraial de Canudos, da obra Os Sertões)4

CUNHA, Euclides da. Os Sertões (Campanha de Canudos). Rio de Janeiro: Laem-


(4)

mert, 1902. O cordelista de Acopiara (serráo cearense), Manoel Moreira Jr., é um


dos expoentes nacionais da literatura de cordel, com intensa atividade a partir dos
anos 1980, já sediado no interior paulista. Sáo famosas algumas de suas
adaptações de clássicos, inclusive estrangeiros, como A Divina Comédia, do
italiano Dante Alighlieri no século XIV. O cordelismo, erudismo popular cantado e
contado nos idos da Idade Média. Sua origem brasileira surgiu com os africanos
vindo nos porões dos navios negreiros de Portugal, a partir do século 18.
Popularizou-se por serem editados em folhas de papel, penduradas em cordas nos
pontos de venda.

Guerra do Facão (Gerô)


Meu facão foi usado por Zumbi
Na luta contra a escravidão
Pra fazer de verdade uma nação
Livre e solta como um colibri
Foi na África do Sul para impedir
Que os negros tivessem na favela
Jogou o Apartheid pela janela
Fez do aço a libertação
Libertando os escravos da
prisão E subindo o pódio com
Mandela.

Por ocasião da semana de 22 de março último,


rendiase grande homenagem ao cordelista e poeta
maranhense Gerô – Geremias Pereira da Silva, através da
Sociedade Maranhense de Direitos Humanos, SMDH;
completando 43 anos de lutas contra injustiças do
escravismo brasileiro. O ativismo opressivo levou Gerô à
prisão, torturamento e morte, pelo Complexo
Penitenciário de Pedrinhas em São Luís (MA). Como eles
dizem: a luta continua.

Sumário
Palavras iniciais 17
Gratidão 23
Poetas e poemas 25
Raimunda Soares Pereira de Almeida 27
Maria de Lourdes Machado 33
Joseh Carlos Araújo 37
Robson Alvim França 53
Maria da Graça Gomes Fernandes 63
Raimundo Nonato Pereira da Silva 73
Nonato Gilberto Costa Prazeres 81
Edézio Machado Coelho Filho 93
José Aldimar Ferreira do Nascimento 99
Meirydianne Chrystina de A. S. Silva 109
Antônio Carlos Alves da Silva 117
Francisco Soares da Silva 121
Alércio Bispo da Silva 125
Antônio Carlos Bispo da Silva 129
Manoel de Jesus Batista Oliveira 131
Diógenes Antônio da Silva Machado 133
Josélia Fernanda Bento da Silva 135
Antônio Carlos Barbosa Marinho 137
Osmael Monteiro Araújo 145
Maria Ilzamar da Silva Araújo 149

16 Joseh Carlos Araújo & Robson Alvim


18 Joseh Carlos Araújo & Robson Alvim

Palavras iniciais
U ma recente descoberta, publicada na prestigiada
Revista de História da Biblioteca Nacional, revela
que é de 1663 a obra poética mais antiga da
literatura brasileira.
D. Lope e D. Diego são amigos e amam a mesma
mulher D. Leonor. Mas não sabem disso. D.
Diego é correspondido, mas quando descobre que
D. Lope também está apaixonado por ela, decide
acabar com a relação em nome da amizade. Diz a
D. Leonor que não a ama mais. Vingativa, a
jovem passa a amar D. Lope. Contudo, este vem a
saber do sacrifício que o seu amigo fez e então
pede a D. Leonor para voltar a amar D. Diego. Ela
não acata o pedido. No fim da história, D. Lope
acaba casando com D. Leonor, enquanto D. Diego
se casa com D. Isabel, irmã de seu amigo .

Este é o enredo de Hay amigo para amigo, comédia


de erra e espada publicada naquele ano (1663), pelo
baiano Manoel Botelho de Oliveira. Não é uma peça
qualquer. Trata-se da mais antiga obra literária
publicada por um autor nascido no Brasil, segundo
pesquisas atribuídas ao professor e pesquisador
Henrique Rodrigues-Moura.
Inicialmente, pensou-se que o feito coubera ao
poeta Bento Teixeira, autor da Prosopopeia, editada em
Lisboa. Mas quando Capistrano de Abreu publicou, em
1925, a Primeira Visitação do
Santo Oficio às partes do Brasil (Denunciações da Bahia
1591-1593), primeira vizitação o sociólogo Gilberto Freyre
reparou em um detalhe: um dos interrogados era o
Poemas e Poetas timbirenses 19

mesmo Bento Teixeira, um cristão-novo nascido... no


Porto (a principal cidade portuguesa, depois da capital).
A literatura brasileira fica mais velha com essa
importante descoberta feita pelo professor da
Universidade de Gõttingen (Alemanha)5. A pesquisa de
Rodrigues-Moura é densa e criteriosa.. E encerra com
uma ressalva: “Como aprendemos ao longo dos spculos,
o conhecimento bibliográfico está sempre sujeito a
revisões. Qualquer dia uma nova descoberta pode revelar
um ‘primeiro livro’ ainda mais antigo”.
Nas epígrafes da Antologia organizada por Assis
Brasil, A Poesia Maranhense no Século XX, de 1994,
encontram-se referências a um ilustre maranhense que,
em pleno século dezenove, tinha um sonho, o de se
tornar escritor profissional. Mas se desiludiu e lamentou:
“Criar a profissão de homem de letras no Brasil. Mas
nada mais consegui do que descriar-me a mim próprio, e
até conseguiría desalmar-me de todo se tão depressa não
arrepio carreira”. Mas a resposta e justificativa viriam,
segundo o organizador da obra, de um romancista inglês,
Graham Greene: “Escrever é uma forma de terapia; às
vezes me pergunto como se arranjam os que não
escrevem, os que não pintam, os que não compõem
música, para escapar da loucura, da melancolia, do
terror, pânico inerente à condição humana”.
Nosso ilustre conterrâneo dos Cocais, o imortal
poeta ca- xiense Antônio Gonçalves Dias, tinha perfeita
consciência do que estava fazendo em poesia, no
esplendor dos seus anos caros do século dezenove,
quando afirmou:
Casar o pensamento com o sentimento, a ideia com a
20 Joseh Carlos Araújo & Robson Alvim

ROGRIGUES-MOURA, Enrique. O primeiro dos primeiros. Revista de História da


(5)

Biblioteca Nacional. V. 4, n. 48, set. Rio de Janeiro: Sabin, 2009 (p. 68-71). Ele é
o autor da tese Relaciones literárias entre La Península Ibérica y Brasil: Estúdioy
edición crítica de la obra poética de Manoel Botelho de Oliveira (1636-1711)
(Universidade Complutense de Madrid, 2007).
paixão, colorir tudo isso com a imaginação, fundir

tudo isso com o sentimento da religião e da


divindade, eis a poesia - a Poesia grande e santa,
a Poesia como eu a compreendo sem a poder
definir, como a sinto sem a poder traduzir” (Em
Primeiros Cantos, de 1846).

Por sua vez, o sociólogo alemão naturalizado norte


americano Herbert Marcuse dizia, emocionado, que “Ao
mundo mergulhado em coisas prosaicas, é preciso dar
novamente uma Comissão estética. Qualquer movimento
revolucionário no futuro vai precisar da poesia para se
firmar”. Tomara, então, que os ventos temporais
resolvam atender a esse profundo filósofo mestre da
modernidade, com um ato revolucionário para nós,
regionais dos Cocais Maranhense, no Hemisfério Sul,
pouco abaixo da linha do Equador. Estamos nos
preparando para isso.
E por falar em poesia, Nelson Ascher, editor
cultural de Veja6 comenta uma coletânea de textos de
Augusto de Campos, de 84 anos, um dos maiores poetas
vivos da língua, que está lançando agora, 3 décadas e
meia após sua publicação original, uma edição
substancialmente revista e ampliada de seu
principal :.ume de ensaios literários, Poema Antipoesia
antropofagia & Cia. Na vasta e diversa obra surge, não só
a poesia propriamente dita, também a crítica (musical
inclusive) e a recuperação e reavaliação de poetas e
escritores esquecidos, como Sousândrade, O Wald de
Andrade e outros. Campos confessa que a sua paixão c a
poesia. “Quando os leitores se livrarem dos parasitas
Poemas e Poetas timbirenses 21

político-ideológicos e voltarem a falar sobre cultura, será


por meio da c russão de muitos tópicos deste livro que a
vida inteligente permanecerá entre nós”.
O apanhado de poemas timbirenses, foco deste
ensaio, dividia-se em, digamos, dois períodos. O primeiro
não poderia ter melhor começo. Pelas divinas
professoras, timoneiras de todos,

Senanário da Editora Abril, Sáo Paulo: v. 49, n. 2, jan/2016.


(6)

com as belíssimas trovas da saudosa mestra Raimunda


Soares

Pereira de Almeida (dona Dica) e contos fabulosos de


outra antiga professora Lourdes Machado.
A partir da década áurea de 1970 surgiram novos
van- guardistas. Um deles, um dos organizadores deste
ensaio, se diz movido por estranha leveza nalma sempre
que cruza o Riacho do Inferno, que separa a cidade
maranhense de sua infância, Timbiras, da sua umbilical
Codó, a pouco mais de trezentos quilômetros da capital
São Luís.
Joseh Carlos tentou peneirar com emoção cenários
da vida e da cultura dos seus longevos índios urubus,
timbiras - caldeados geneticamente com afros e ibéricos
moldando amorenados regionais, maravilhosos cidadãos
mundiais. Indagado acerca da arte das letras, ele
também se diz ser, antes de tudo um aplicado leitor; e
para tanto, aponta a dieta sugerida pelo russo Vladimir
Nabokov, autor de Lolita, clássico editado pela Abril
Cultural, de 1981: “Um bom leitor precisa contar com
quatro coisas: imaginação, memória, senso artístico e um
bom dicionário”.
22 Joseh Carlos Araújo & Robson Alvim

A vertente poética timbirense seguiu seu curso com


muito barulho gostoso de surdos, atabaques, pandeiros,
tamborins, cuícas, cavaquinhos, e afinado violão do
cancioneiro, compositor e poeta, o médico Robson Alvim
França. Obra reunida em um disco Vinil, lançado na
cidade litorânea de Primeira Cruz (1998). Em 2001 seu
brado veio mais equalizado no primeiro CD Sequelas, já
exercendo sua medicina, e ao mesmo tempo, como
prefeito (reeleito) da sua cidade, Timbiras - grande
incentivador das artes do povo, sua marca registrada. No
final da década, lançou o segundo disco Visionário, esse
mais profético; e vem aí o quarto disco, todos sempre
esperados.
Também retumbante, mas cadenciado com muito
civismo, surgiu o Hino de Timbiras, com todas as letras
da inspirada poetisa, professora Maria das Graças Gomes
Fernandes, em 1989. Daí, prosseguiu versando com
muita leveza d’alma.
Adiante, como um rio, diversificou seu curso; mais
provocante, alucinante, místico e sensual, seguiu errante
por uma nevasca solitária guiada pelas penas dos
talentosos poetas Antônio Flávio de Almeida e Raimundo
Nonato Maranhão.
Outro veio, filete, embalou-se na harmonia concreta
dos poemas tocantes da safra golden, assinadas pelo
empresário romântico Nonato Gilberto Costa Prazeres e
pelo inspirado professor Edézio Machado Coelho Filho.
Seguiu de perto o colorido cordel, poesia popular
nordestina “onde tudo que é pé de conversa tem dedo de
prosa”, do cordelista Aldimar Ferreira do Nascimento,
versando dias de angustia das suas chanecas incultas e
de glórias nacionais.
Poemas e Poetas timbirenses 23

Boa parte da juventude vanguardista, porém,


inspirou- -se nordestinamente no jeito ripongo -
expressão usada pelo crítico musical da revista Veja,
Sérgio Martins7, referindo-se àquela época psicodélica
das décadas 1970 e 1980, com anseios impetuosos e
ritos frenéticos. Encerrou-se o primeiro período com os
versos em cascata, docemente românticos, desvelados
pela verve da jovem Meirydianne Chrystina Santos,
revelação do ENEM (Exame Nacional do Ensino Médio),
em 2002.
A etapa seguinte seguiu também mesclada. Com
toques de sobriedade, elegantemente engravatada pelo
jovem Carlos Marinho, exalando fragrâncias poéticas nos
intervalos alegres em espaços oficiais e inferninhos
timhirenses, ao estilo de saraus românticos de época,
com luminosos maranhenses como Aluísio

No início de 2016, a Revista (Edição 2461, de 20 de janeiro) trás uma reportagem


(7)

do Sérgio Martins, junto com Marcelo Marthe, sobre a morte do roqueiro inglês, de
69 anos, David Bowie. Foi mais que um cantor e compositor. De espírito inovador
e múltiplas personas, ele foi o semeador dos sonhos de várias gerações e de idéias
caras à cultura contemporânea. No último lance, David Bowie (1947-2016) fez de
sua agonia uma obra de arte: “Senhor, eu me ajoelho e ofereço minha palavra
alada, e estou tentando muito me encaixar na sua ordem das coisas”.

Azevedo.
De outro lado, professores disciplinados, como
Osmael Monteiro Araújo, encantado com a maestria das
letras de ilu-

minados brasileiros, a exemplos de Drummond de


Andrade, Manuel Bandeira.
Finaliza-se a fase, com os tropeços vividos, e agora
versados, emotivamente, pela memória e pela alma leve e
madura de Maria Ilzamar da Silva Araújo.
24 Joseh Carlos Araújo & Robson Alvim

É, meu amigo co-autor e antigo guru. Repaginando


nossos papéis velhos, sente-se o aroma poético e gostoso
do imaginário, como que destilado da melhor cepa.
Joseh Carlos Araújo
Poemas e Poetas timbirenses 25

Gratidão
Q uando conduzimos, como prefeito em 1998, o I
Seminário de Consciência Jovem para o Futuro,
estava prevista, além da consciência sócio-política e
econômica, a redenção cultural de Timbiras através de
concursos de artes plásticas, poesias, festivais de música
popular. E foi no decorrer das versões seguintes desses
seminários que ficou patente a evidência da música e
mais ainda da poesia na alma timbirense.
Não obstante, nós já havíamos coletado valorosas
peças literárias, ainda desconhecidas, de uma geração
anterior. Citamos como exemplo as professoras, que
deram suas vidas ao ensino nesta terra, como Dica
Pereira, Lourdes Machado, Lourdes Coelho, Maria das
Graças Chuvas, além do renomado agrônomo ex-
professor universitário, poeta e amigo co-autor Joseh
Carlos Araújo, que contribuiu tão eficazmente, fazendo
com que esta obra se cristalizasse.
Portanto, de posse desse patrimônio, de riqueza
inegável, é que surgiu esta obra pioneira. E como tal,
omissões puramente involuntárias, de poetas que
porventura deixaram de constar nesta primeira versão,
serão devidamente reparadas na segunda, vindoura.
É um marco na história cultural de Timbiras, com
um único objetivo, o de registrar e ao mesmo tempo, o de
estimular a chama da veia poética timbirense. Porém, se
esta missão não for cumprida, comprida será a missão de
continuar.

Robson Alvim França


Poetas e Poemas
Poemas e Poetas timbirenses 29

1
Raimunda Soares Pereira de Almeida
(D. Dica Pereira)

C omeço de tarde de abril de 1940. Sorriso jovial na


travessia, de canoa, a nova e irrequieta
professorinha se encantava com o ócio azul do Rio
Itapecuru. Na bagagem, diploma de normalista do
Colégio Rosa Castro, em São Luís. E saudades da cidade
natal, Anajatuba, dos pais, seu Crescêncio e D. Joaquina
Soares Pereira e dos irmãos, um deles, Antônio Izaías
Pereira, que viria em seguida ajudá-la nos negócios;
chegando a ser prefeito da cidadezinha. Alí, ela começou
sua singular história.

Sagacidade no trato político, mesmo ainda caloura


no ofício, sempre driblando o fogo cruzado entre os
adversários, inimigos figadais da cidade, major Benedito
(Dito) Alvim e Joquer Ribeiro, este morador no bairro São
Sebastião, ou Trizidela, onde ela também decidiu morar;
chegando a ser vice-prefeita da cidade, por duas vezes.
Em suas frequentes aparições em público, com sua
postura firme, imponente, e rigidez nos gestos ao apontar
erros e delinear acertos, fez escola entre seus pares,
decanos e iniciantes.

Astuta proprietária de terras, comerciante de coco


babaçu, tecidos, miudezas, bacalhau de Semana Santa, e
de muitos remédios, uma madre farmacêutica. Já pagava
por mês a travessia e os peixes que o rio dava ao
passador Manoel Saiu, que residia com sua prole em um
eafofo, escanchado na barranca esquerda do dadívoso
rio. Os fins de semana eram dedicados à sua pequena
30 Joseh Carlos Araújo & Robson Alvim

chácara, Melancia (atual topônimo de um bairro da


cidade), distante pouco mais de 3 km rio acima, na
margem esquerda do Itapecuru. Local aconchegante,
onde ela exercitava, com suavidade, sua verve acerca das
tratativas da terra e da sua gente amada.
No entanto, sua criatividade se dividia com o ato de
ensinar - mestra das mestras de Timbiras - sensibilidade
enaltecida no poema Minha professora, do seu
conterrâneo e ex-aluno Joseh Carlos Araújo, em seu
primeiro ensaio Vento Leste dos Cocais, de 2003.
Dois filhos do único casamento, nos anos iniciais
de educadora: Flávio (saudoso Babico) e João Batista,
com o comerciante, farmacêutico e político da cidade,
Rubens Bastos de Almeida (também póstumo saudoso).
Com mais de três décadas “dando de mim tudo, em
troca de um Maranhão mais feliz e mais alfabetizado”,
dizia ela, fazendo mais uma opção criativa: “Os anos
correram e eu que sentia nalma a poesia em floração,
gostei mais da trova, gênero simples, mais ameno, a
simbiose entre a magia e o verdadeiro, a beleza da
expressão formulada entre a alma e o pensamento”.
A propósito, o competente educador e poeta
trovador nas últimas décadas de 1900, Luiz Carlos da
Cunha, um dos fundadores da Academia Maranhense de
Trovas e grande amigo seu, já dizia que muitos têm a
trova como um desafio maior para o poeta. Através do
Cantinho do Trovador, caderno do jornal O Imparcial, em
São Luís, capital maranhense onde passou uma boa
temporada (1968 a 1972), a poetisa Dica Pereira
anunciou uma convocação:
Quero fazer chegar a todos os moços de
Timbiras, às professoras Jesus Freitas e Áurea
Poemas e Poetas timbirenses 31

Alvim, doutora Idalina, senhores Silvestre


Arruda, Manoel Campe- lo e Aarão Vaz, todos
amantes das letras e dos belos ideais, que a
trova é a mais aprazível expressão do
sentimentalismo simples e sadio do povo.
A heróica professora, de volta da capital ao seu
rincão, continuou desafiando e digladiando a poesia e
poemas com a juventude, que amou até seus últimos
dias. Vamos, então, continuar sonhando na folhagem
dessa gigantesca palmeira mágica8.

Lua nova
Novilúnio visão encantadora
Núncia sutil de noites liriais
O nubívaga deusa sonhadora
Envolta na brancura dos lendais.

Tu és deusa vivificadora
A Selene dos gregos sem rivais
Faze que a terra madre criadora
Brote os seios viçosos em rosais

E uma lenda de longínqua


Lua nova de agosto resplandecente
Taba Porangi viu sua filha fecundada

Naquele anseio que outra deusa inveja


Transformaste nesse amor ardente A jovem
indiana Vitória Régia.

Sono de nenê
(A João Batista)
32 Joseh Carlos Araújo & Robson Alvim

Docemente nenê acalentado


Em seu braço está adormecido

O livro biográfico da saudosa professora será um dos próximos a ser editado pelo
(8)

escritor Joseh Carlos Araújo, “com grata satisfação”, diz o autor decano.
Sorri feliz em sonhos embalados
Sob os olhos de mãe enternecidos

Nisto acorda de súbito espantado


Passeia o olhar incerto e agradecido
Contempla junto a si extasiado
O olhar de sua mãe embevecido
Deus, tu que foste um filho idolatrado
Dize, responde Cristo onipotente

Se há na vida mais ardente afeto


Amor tão casto assim sintetizado
Que baile noutros olhos meigos
Que os olhos maternais do filho
amado.

A chuva e o cismar
Sozinha, em doce calma debruçada
Sinto o torpor da plúmbea natureza
Ouço o piar das aves em revoada
Amedrontada à voz da realeza

E num changor (xangó?) de nítida beleza


Trovões longínquos a voz abençoada
Faíscas de fulgente ligeireza
A chuva grossa bagas na calçada
Poemas e Poetas timbirenses 33

E num cismar assim tão renitente


A vida é tão pequena tão vazia
Embrionária tal como a semente

Que importa essa corrida


permanente Se num desejo assim
consistiría Perdoar e amar a toda
gente.
Trovas
Lembro numa estrada... pertinho
A lagoinha e uma roça
E a quietude juntinho
Daquela velha palhoça

A tua longa jornada


Minha mãe é milagrosa
Quanto mais a cruz pesada
Mais tem perfume de rosa

Tomando a mão do destino


Rumei pra ignoto porto
Voltei cansada e sem tino
Sonhos, ideais... tudo morto

Minha tormenta vivida


E meu símbolo de paz
Sofro os acúleos da
vida E a vida conforta
mais

Minha vida de criança


Que passado tão feliz
34 Joseh Carlos Araújo & Robson Alvim

E um desfiar de lembranças
Das traquinagens que fiz

Quanta saudade da vila


Onde vivi tão criança
Minha mãe... vida tranquila
Cromos de minha lembrança

Amor é fraternidade
Assim o mundo comprova
Tudo que encerra bondade
Está na língua da trova
A trova nasce da gente
Como amor em vagabundo
E o desejo é mais crescente
Ver trovador todo mundo

Quando a vida não oferta


Aquilo que desejamos...
Eporque não está bem certa
A estrada que palmilhamos

Como é bom que te reveja


Minha vila hoje cidade
O campo a escola a igreja
Meus sonhos de mocidade

Meu berço, vila pequena


Alegre e doce missão
Onde passei vida amena
Sem sombra de solidão.

2
Poemas e Poetas timbirenses 35

Maria de Lourdes Machado

F ilha do funcionário público federal Celso Machado e


dona Maria Madalena, nasceu em 1929, na
emancipada Monte
Alegre que, treze anos depois, mudaria o topônimo
para Timbiras.
Em idade escolar, enfrentou, como de resto todas
as brasileirinhas, o pesadelo do desleixo nacional com a
educação do país, o qual castrou-lhe o tempo de concluir
o curso que lhe permitiría realizar o sonho de ser mestra.
Só conseguiu o primário em 1942, graças à chegada da
normalista Dica Pereira, dois anos antes, e de quem teve
todo o carinho e apoio - marca personalíssima da
educadora. Com uma escolinha particular começou a
“desarnar” a meninada; logo a seguir, foi nomeada
professora “leiga” na Escola Dr. Paulo Ramos, uma das
primeiras do lugarejo.
A persistência, 35 anos depois, se diplomava no
sonhado 2o grau (ensino fundamental), na segunda
turma do Ginásio Bandeirante, em 1977. No entanto, não
abandonou sua escolinha, no pé da ladeira do carcamano
Tufy Mohana e uma mangueira no pátio, como também
lembra Joseh Carlos Araújo, em outra obra sobre a
região, Crônicas dos Cocais, de 2013. Além do autor,
outros timbirenses, o médico e compositor Robson Alvim,
o oficial da Justiça Federal Guilherme Laranjeiras, o
engenheiro empresário Francisco Sérvulo Vaz (Ribinha do
Aarão), o biólogo Edézio Machado, o empresário Nonato
Gilberto Costa, privaram do alinhavado das primeiras
letras na singela escola. Hoje, com 87 anos, ela mantém
a escolinha em casa, ajudada pelos dois filhos, na
36 Joseh Carlos Araújo & Robson Alvim

ausência saudosa do esposo falecido João Teles de


Menezes.
Nos seus sonhos, ainda professorinha, no entanto,
já fluíam os encantos das letras, destilados em belos
contos. Uma mestra da mente e da alma de baixinhos e
também cidadãos timbirenses. Síntese de um deles.

Um coração generoso
Cidade nordestina, distante e erma, onde morava o
casal ébrio João e Maria. Não tinham casa nem o mínimo
necessário para a vida. Em meio a tamanha miséria, Maria
apareceu gestante. Aí tudo ficou ainda pior. Sem condições
e sem coragem, o melhor que eles achavam era a bebida
alcoólica. Aproximou-se a época do filho nascer e nem
sequer uma camisinha usada foi arranjada!
Numa dessas noites chuvosas ela sentiu as dores, e
num instante o menino nasceu. João, em desespero, foi à
casa da vizinha, uma velha bondosa veio e, imediatamente
cuidou de tudo. No dia seguinte, João foi à casa de um
casal muito rico, contou o que tinha acontecido, e foi logo
pedindo para que eles ficassem com o recém- -nascido.
Como não tinham filhos, o casal foi, correndo buscar o
menino, que a partir desse momento teve berço de ouro.
Cresceu forte e bonito. Foi educado em bons colégios,
tomando-se um médico famoso.
O casal de ébrios foi embora para muito longe, nunca
mais souberam notícias deles. Quando completou 28 anos
eles voltaram, mais nada foi revelado pelos pais adotivos
ao filho querido. João e Maria continuaram na vida de
farra. Como o destino tem seus laços trágicos, o médico
sempre via aquelas criaturas e tinha muita pena deles.
Poemas e Poetas timbirenses 37

Certo dia João faleceu. Ficou Maria sozinha, mais


sempre bebendo; numa dessas grandes farras ela caiu na
rua à noite e lá adormeceu. Alta madrugada um carro a
atropelou. Pela manhã chegou a notícia ao conhecimento
do médico; tendo ele um coração generoso, penalizado,
levou-a no seu carro para o melhor hospital da cidade e
operou-a; seguiu cuidando dela com todo carinho. As
vezes, ele fazia perguntas a si mesmo. Porque é que eu
sinto tanta afeição por Maria?
Restabelecida, pronta para sair do hospital, o médico
convidou-a para morar na casa dos seus pais; e ela,
comovida, pediu um tempo para pensar, dizendo que
primeiro precisava falar com os pais dele para certificar-se
da concordância de ambos. Após longa conversa, e sentir
que seria bem-vinda, também, ao novo lar, Maria aceitou o
convite. Ele tomou-a nos braços, deulhe um forte abraço e
muito feliz disse: Obrigado Maria, obrigado meus pais.
Daí em diante, Maria tornou-se outra pessoa; uma
grande transformação, um renascimento. Fazia de tudo
para não decepcionar aquele médico tão bom, tão amigo e
tão generoso, que o destino novamente pôs no seu
caminho, mas com uma condição: levar para o túmulo o
segredo do seu nascimento.
Poemas e Poetas timbirenses 39

3
Joseh Carlos Araújo

M aranhense da cidade de Codó (*06/09/1941),


com 6 anos mudou-se com os pais para a
vizinha e adotada cidade de
Timbiras, onde passou a infância, às margens Rio
Itapecuru e da antiga Estrada de Ferro São Luís-
Teresina, em 1947.
Concluiu os cursos fundamental e médio, entre
essas cidades, além de Pedreiras e a capital São Luís.
Formou-se, em seguida, em Agronomia no Pará (Belém,
1966). Na década seguinte, concluiu o mestrado em
Energia Nuclear na Agricultura na USP, em Piracicaba e
especialização no exterior (Áustria, 1979). Titular da
Universidade Estadual do Maranhão (UEMA), com três
décadas de ensino e pesquisa em irrigação e ambiente,
com vários trabalhos científicos publicados.
Na administração pública estadual, foi um dos
fundadores da Escola de Agronomia do Maranhão em
1969 (embrião da UEMA), do seu Núcleo de Engenharia e
Irrigação (atual ensino de mestrado na área) e principal
articulador do seu Campus avançado na Baixada
Maranhense, em Pinheiro; encerrando a década de 1980
como Adjunto da Secretaria de Meio Ambiente. No âmbito
federal, representou a Empresa Brasileira de Pesquisa
Agropecuária, EMBRAPA9 aqui no Estado, por quase três
anos, findando as articulações de parceria com a criação
da empresa estadual, similar à federal.
40 Joseh Carlos Araújo & Robson Alvim

Criada no início dos anos 1970, deu certo no país, tornando-se hoje referência
(9)

mundial em ciência e tecnologia no agronegócio. Vale lembrar: com a negativa


maranhense, ela passou a articular-se com o vizinho Piauí, criando o seu Centro
de Pesquisa Agropecuária do Meio-Norte, que tinha como destino o Maranhão.

Afastado dessas lides, ultimou os anos 1990 com


incursão nas artes plásticas, em São Paulo. Em 2003
lançou seu primeiro livro, Vento leste dos cocais
(poesias), iniciando sua Ia coleção Cocais Maranhense,
com mais 3 volumes, até agora: Timbiras
- uma pérola da ribeira do Itapecuru (documentário,
2006), Quilombo da Sardinha (romance, 2013) e Crônicas
dos cocais (contos/crônicas, 2013). Outros ensaios:
Amazônia 2006 - O alerta agora é pra valer
(documentário, 2007) e Buona Terra Nostra (romance da
Baixada, 2013). Sua 2a coleção, Crônicas de São Luís,
também teve início com Crônicas de São Luís 1612: A
fundação da cidade sob o olhar tupinambá (2012) e o 2o
volume, Crônicas de São Luís 1615: A expulsão francesa
do Maranhão sob olhar indígena (novembro de 2015). No
ano seguinte (2016) lançou o presente ensaio, como
coautor. Hoje (2022) saiu seu 10º livro: Dica Pereira e seu
Irmão Antônio; junto com a 2ª edição dos demais 9 livros.

A seguir, comentários de intelectuais poetas,


prefaciando o primeiro livro deste autor.

Chega Zé Carlos cantando pausadamente, penacho


de arara e maracá nas mãos, pisando ritmadamente
o jeito timbira de fazer a história. Ah! Vontade de
dançar! E a poesia dita diferente, sem as palmas da
anunciação, mas com a marca certa da palma real,
que aconteceu no hoje, agora, está pingando suor e
sangue no terreiro, cercado de babaçu. (Lauro Leite,
jornalista, poeta e ensaísta ludovicense);

Caminhando em cada verso teu, amigo Zé, foi muito


mais longa a minha viagem, e de poema em poema,
Poemas e Poetas timbirenses 41

veio como uma cachoeira o poema de Fernando


Pessoa: ‘Ó sino da minha aldeia/Dolente na tarde
calma/ Cada tua badalada/ Soa dentro da minha
alma.../A cada pancada tua/Vibraste no céu
aberto/Sinto mais longe o passado/Sinto a saudade
mais perto’. Viva mais um poeta do meu Sertão.
(José
Ribamar Sousa dos Reis, saudoso escritor codoense);

Comecei a ler, ler, e não quis mais parar, pela


linguagem fácil, corriqueira, cabocla, indígena,
inteligível, que chega a avultar nossos sentidos. Eu
disse, então, meu Deus! Timbiras tem um vulcão de
versos, um espírito indígena, um arquivo vivo, um
grande poeta adormecido. Acorda poeta, precisamos
de ti. (Robson Alvim França, compositor e poeta
timbirense).

Alguns poemas do livro comentado10:

Cenas de pacificação
Primeira cena
(tapiri de brindes)
no alto do ribeirão
encontrado, os
índios quebraram
o jirau e todos os
brindes

Exceto medalhão
esfinge de José
Bonifácio início de
maio de 1877 daí
sempre à noite
rumores de índios
imitando pássaros.
42 Joseh Carlos Araújo & Robson Alvim

Segunda cena na
mesma picada mais
perto da margem os
índios levaram tudo
sem qualquer
retribuição ainda
rumores na mata.

Em tempo: o vezo de usar apenas letras minúsculas nos poemas deste e de


(10)

outros autores da coletânea, além de outras ‘inovações’ que insinuam dissolver a


sintaxe da nossa língua, é antes, de criadores de novas formas verbais; mas que
sem dúvida soam como uma expressão de pedido (jurídico) de vênia. Repete-se: os
poemas aqui expostos sáo de inteira responsabilidade dos seus respectivos
autores.

Terceira cena
montada fins de maio
três quilômetros do
posto todos os
brindes também
levados sem um outro
sinal.

Quarta cena
quinze dias
depois ainda
mais próxima
picada foi
visitada mais
uma vez os
brindes levados.

Dias depois zoada


e muitos gritos na
margem do rio
Poemas e Poetas timbirenses 43

busto e rosto à
vista de encontro
batelão de
brindes.

Se aproximaram
presentes
distribuídos direto
mão a mão depois
mudos os urubus
sumiram na mata
tudo isso fins de
julho.

Daí visitas mais


frequentes mais um
tempo aparecem as
mulheres primeiro as
mais velhas primeiro
alimento um café.
Depois remédios
açúcar sal tabaco
machados terçados
panelas papeiros
miçangas espelhos
mil coisas mais.

Ano seguinte posto


novo e abrigo para
os índios estreia de
festa dois mil índios
gritando katu (bom
amigo).
44 Joseh Carlos Araújo & Robson Alvim

Assim cenas no rio só


de rotina remédio de
sarar peste e
roçado... afora
raríssimos ataques só
coexistência pacífica.

Gerações
Caros ancestrais
timbirenses mães
parideiras filhas de
avós rendeiras Pais
prélios guerreiros filhos
de avôs curandeiros
muito orgulho de vocês
tribos urubu e timbira.
Pais de muda de Codó
para Monte Alegre,
mirante eterno de ternas
esperanças e o tal
progresso? esperar não
é saber, diziam muita
poeira e briga mas como
éramos felizes!

Caros irmãos timbirenses


da gema saída agora é de
pai pra filho estudar se
formar e ensinar a se
formar o mundo em suas
mãos mouse e navegar
Poemas e Poetas timbirenses 45

adiante sempre o
enigmático

A encruzilhada
mágica clarão infinito
escuridão sem fim
mais infinito só o amor
e a imaginação mais
escuridão só erros por
não saber ler dê-me
sua mão irmão vamos
encarar a real

Auri, um jeito de ser

Matinal domingueira
burburinho ainda meio
preguiçoso rua acima
surgem primeiro ela lucidez
brejeira no rosto já suado
vestido de chita passos
firmes apesar do peso do
côfio e do tempo.

Ele mais atrás cor


e jeito de mulato
atolado à pobreza
ela andando e
resmungando
ranço da labuta
quase só pra si
mesma porque
46 Joseh Carlos Araújo & Robson Alvim

dele, coitado,
nada a
acrescentar só
passos.

Primeira
parada Zé
Salomão e já a
zanga com os
preços do vil
carcamano
venda do coco
arroz de pilão
peles tratadas
onça pintada
paca e veado
catingueiro.

Segunda zanga
carestia do sal do
querosene da
munição do fumo
pinga agulha botão
próxima rusga
besteira à toa mas
ela sem jeito não
segura sai o primeiro
trago.

Trago duplo pra


ambos só pra
reconciliar mas por
curto espaço novo
entreverá esse com
Poemas e Poetas timbirenses 47

razão descuido dele


no aceno para a
quenga é como se
proseia marvada
pinga jádomina o
casal.

Lucidez matinal se
rende ao delírio do
enigmático par
rusga com vendedor
que vergonha! e
entre eles nem pra
quê leveza no trato
com a cunhada
grávida até aprazer
agora cueiros e
chupeta.

Rua virou passarela


papo de mãe aqui
prosa com cigano ali
anedota de lá
resposta de cá risos
geral pra saudar um
novo casal teve até
vira-vira na quitanda
do Zé Lica, acima do
Tufi Mahana...

Tardinha
pachorrenta
burburinho de novo
meio preguiçoso rua
48 Joseh Carlos Araújo & Robson Alvim

abaixo surgem
primeiro ele cabeça
arriada camisa
esfarrapada ela
mais atrás lucidez
amarga no rosto já
demente.

Vestido esgarçado
passos lerdos
apesar do negrume
do mato mesmo
assim crueza
mordaz para
desconjurar do
sempre calado
porém safado
mulato lengalenga
de sempre.

...
Cinquenta anos passados
na quitanda do Juarez
espanto encanto de novo
ela, vestido e cabelos
alvos e compridos olhar
vago de catarata um
passado de ferro e muito
fogo agora voz e olhar até
pastoral.

Santa missão
mas sempre
Poemas e Poetas timbirenses 49

acorrentada à
solidão e
muita
miséria; sina
maldita da
lendária e
sofrida
Auri do Ivo11.

Aventureiro libanês

Turco Rachid
muito bom
homem cuja vida
diária no
conceito Willems
uma preciosa
história de casos
para estudos de
aculturação.

Premiada no III Concurso Literário do antigo CEFET (atual IFMA), São Luís,
(11)

2002.

Veio rapaz antes


Paris Londres
Portugal até
Espanha aqui
enterrou-se na
mata insalubre
vista só no ouro
ilusão ficou
50 Joseh Carlos Araújo & Robson Alvim

negociante remédio
coco tecido.

Belo dia fiscal de


selo pra vê
escrituração olhou
bem nos olhos do
velho e disse: -
mas seu Rachid
não pode ser só
isso com tanta
mercadoria vender
tão pouco...

- Ora home, eu jura


bra Deus tem dia
inteiro que não
vende nada meto a
mão no bolso tira
dinheiro bota na
gaveta só bra lança
na livro...

Suor e dureza teve


muita maleita
muito purgante
sal ejalapa viu
muita mas muita
gente morrer
também de intriga
de terra epor
mulher.
Todo aquele tempo
juntou muito
Poemas e Poetas timbirenses 51

dinheiro que ia
mandando para o
Líbano; lá
comprou as casas
e vinhedos dos
velhos e ricos que
ficaram na terra.

Mas o muçulmano não


podia viver sozinho
arranjou outra família e
foi fazendo filhos tem no
Líbano bens pro resto
da vida mas não
suportaria o frio conclui
feliz: - e tenho agora
todos esses netos aqui...

Pajelança
Ajuntado de casas do
lado de lá do rio negra
velha douta pajé do
lugar na sombra e
sempre cheia de medo
de ser descoberta e
presa faz suas
sessões.

Cigarros temperados
(fumo e diamba)
primeiro cantos
52 Joseh Carlos Araújo & Robson Alvim

compassados e
roucos sentada num
banco cabeça nos
joelhos numa mão
maracá noutra
penacho de arara.

Aos poucos vai


se animando
canta de pé e
por fim dança e
ginga como
louca em cantos
terríveis de
desespero.

Sala já cheia de curiosos


as mais velhas se
entreolham primeiro em
sussurros depois em
gritos - ela está atuada
- espírito de mãe
d’água - pra que traz
isso aqui -
atuadinhazinha...

Preconceituosos e
medrosos fora na
sala só fica gente
interessada
saracoteio sapateio e
cantos noturnos
cheios de ameaças de
feitiço de mãe d’água.
Poemas e Poetas timbirenses 53

Cantos cheios de referências


povoados cidades
barrancos sumidouros
matas e coisas
concretas
impressionante medir
o quanto pesam na
própria alma a África
Europa e Asia.

Em pausa sutil pede


água cauim e tabaco
no meio da sessão ela
por vezes é defumada
ajudante emboca
temperado aceso aí
sopra em nuvens
fumaça sobre a velha.

Por fim ajoelha-se


depois dá volta na
sala e sai correndo
sempre de quatro
silêncio inquebrável
aí ajudante grita
repetindo
- já foi s’imbora...

A Muda do Itapecuru
Pais pobres ágrafos
e incultos penca de
54 Joseh Carlos Araújo & Robson Alvim

filhos, pra Deus


criar só comiam o
que dava o Rio
Itapecuru
ela, do meio,
seminua e faceira.

De dia remadas e
alguns trocados
de noite
calambanjos prá
janta meninada
na enxada e no
sacho e ela,
calada,
principiava amar.

Dias
alternadamente
morosos dolosos
sorrisos na roça
na prosa na troça
chorosos no
martírio e na
morte e ela,
correspondida e
feliz.

Arraial na Sardinha
só forró e festejo
junino suados sapato
apertado e cachaça
remelexo e arrasta-
pé até o sol raiar e
Poemas e Poetas timbirenses 55

ela, no mato,
guturando aos
abraços.

Estiagem de caça
e muita pesca
espingarda e
tarrafa limpeza e
remendos
grandes
empreitadas às
vezes até
amargas e ela, ao
safado, gemendo
se entrega.

Daí se deita com


outros dois
pescadores com
meia dúzia de
mulatos estivadores
outro tanto com
pixotes e velhotes
todo de sinal porque
ela era a tal Muda.

4
Robson Alvim França

A partir dos anos 1970, a convicção que se tinha


era que ele bem poderia ser considerado um
desses fenômenos mutantes, cambiantes. Sua
presença inibia, espantava sua paciência de médico,
56 Joseh Carlos Araújo & Robson Alvim

assustava sua sensibilidade de artista. Um intelectual


genial. Seu signo taurino (*03/05/1961) atestava ser ele
considerado o conselheiro da sua turma.
Timbirense do clã dos Alvins, foi prefeito reeleito,
herdando o gosto da família pela política, repleta de
intendentes, depois prefeitos - bisavô major Dito, avô
Catulo, tio José Maria e o próprio pai Robson França. A
sua mãe D. Áurea, octogenária lúcida, como sua avó D.
Mundoca, continua, em passos já lentos, tutorando as
ações religiosas e beneficientes da cidade.
Pulsando versos e canções nas veias, formou-se
médico aos 23 anos, pela Universidade Federal do
Maranhão, em 1985, decidido de modo voluntário pelo
sacerdócio de aplacar a dor e alimentar a alma das
gentes da sua terra.
Primeira estação: Lençóis Maranhenses, no final da
década de 1980, onde lançou o primeiro disco, vinil,
Bumba- -meu-boi de Primeira Cruz, com toadas
encantadas dos lençóis (1992). Lá, amadureceu, por
outro lado, a sua medicina digamos apostolar.
Ultima estação: Timbiras, o seu aconchego. O seu
conterrâneo escritor Joseh Carlos Araújo, em suas
Crônicas dos Cocais, de 2013 (página 87) lembra a fase
fecunda do jovem gestor:
Hoje (anos 1980) poeta e compositor, (meu)
guru (e) de parte de sua geração; também
prefeito da cidade por um bom tempo. Assim,
o bastão da Fazenda Sapucaia trocou de
mãos.
Mudou seu visual e a rotina, ficando no lugar
sossegado apenas os caseiros, a bênção e
obediência bíblica a seus pais e a elas, as
Poemas e Poetas timbirenses 57

mangueiras seculares. Estra- : dão surrado


por carros, motos, bicicletas e animais
diversos; escolinhas, posto médico e bola à
vontade para o povo melhorar a qualidade de
vida e a molecada soltar a criatividade.

Na sua urbe, com a Escola de Samba Alcateia,


fundada em l979, destilou enredos lindíssimos por vários
carnavais, reinando absoluto. No final da década
seguinte, solta as letras e a voz no primeiro CD Sequelas,
com vibrantes protestos disfarçados em alegres ritmos -
baião, xote, rock, reagge e baladas - de puro lirismo.
Aquele cara algo silencioso, que se realizava sem
ruídos, com palavras ou assertivas sempre esperadas, e
cujas e inesperadas ausências causava certo vácuo nas
rodas e tocatas intimas. Singela faceta comportamental.
Ao encarar seus ofícios com disciplina férrea, o
compositor/médico/político ganhou o respeito do povo e
dos colegas. Ainda que fosse olhado com certa reserva
entre seus pares pelo jeito irrascível - coisa que nunca
negou. Como dizia a saudosa atriz nacional Marília Pêra,
que encarou a vida com esse jeito: “Eu sou caprichosa,
temperamental na minha delicadeza”.
Mais uma vez, o cronista Joseh Carlos confirma
sua admiração a esse conterrâneo compositor, com uma
nota de rodapé em seu novo livro (lançado em novembro
passado), acerca do canto do pássaro regional acauã:
[...]. A propósito do ilustre maranhense
(caxiensepoeta romântico e nativista, ainda
excelente dicionarista da língua tupi Antônio
Gonçalves Dias), seu livro registrava na época
a razoável presença desses nativos (nossos
prováveis ancestrais tupinambás) e seus
‘servos’ acauãs nas matas da Ribeira do
58 Joseh Carlos Araújo & Robson Alvim

Itapecuru, sua Região dos Cocais. Hoje, a


ave, que divide com outras a lista dos
pássaros em extinção, tem seu enigmático
canto, anunciando SOS ao Igarapé Santarém
da cidade Timbiras (MA), na I a faixa do CD
Sequelas, do poeta e compositor timbirense
Robson Alvim12.

O seu perfil artístico continua, agora com o viés


místico dos anos 2000, inspirado no calor e encanto do
seu povo. O segundo CD, Visionário, saiu 3 ou 4 anos
depois, com algumas letras legitimando os feitos dos
nossos antepassados lusitanos na rota da vitoriosa
Jornada Luso-Brasileira que expulsou os franceses do
Maranhão, quatro séculos atrás, e em seguida os
holandeses. Esse ótimo CD vem recheado de profetismo,
sobretudo na última faixa.
Em clima de verão colorido, o bardo / médico /
compositor cinquentão promete para sua ávida galera o
seu quarto disco. Aguarde

A Ilha e o Poeta
(Para São Luís - MA)]

Era uma vez um poeta apaixonado


Por uma ilha, muito mais do que
Atlântica.
Atracou-se à sua orla Com ciúme do
mar
Tudo aconteceu após um guarnicê
Vagou pelas noites da cidade
Catando poesias em retalhos de papel
Poemas e Poetas timbirenses 59

ARAUJO, Joseh Carlos, Crônicas de São Luís 615: A expulsão dos franceses do
(12)

Maranhão sob o olhar indígina. V. 2, São Luís: Halley, 2015.

Caminhou pelos telhados dos velhos


sobrados
E cheirou seus azulejos coloniais
Metáfora é o antigo e o novo
Poética, as praias e o povo
Folclórica é a Catirina imortal
Acariciou a bela arte
Embriagou-se ao ver os traços de quem te
fundou
Holandeses, portugueses e franceses,
Louco de ciúme já bem cedo
O poeta resolveu entrar
Abre a porta abre a porta
Abre a porta quem te ama sou eu
Pois quem te fundou não importa
Mas uma coisa é certa
Quem dorme em São Luís acorda poeta.

Povo
Arrebenta essa corrente que
oculta tuas armas somos
altroístas e isso incomoda
nosso óbvio é inerente ao
destino nossa volta inexorável
nossa força é nossa voz e ela
surgirá da luz iluminará as
trevas percorrerá as ruas
contaminará os povos as
bandeiras subirão as
crianças sorrirão e as forças
malignas deterioradas junto
60 Joseh Carlos Araújo & Robson Alvim

aos insensíveis poderosos


serão ruínas
o mal sucumbirá quando
perceber que a flor do bem
proliferará e se perpetuará a
cada instante novo vamos!
Soltem os cachorros!!!

Opus-40
Da aurora ao acaso zombando do
tempo e das translações do
planeta sem saber aonde ir mas
já a caminho driblando o mal
filtrando as pessoas eternizando
momentos mais ouvinte que
tagarela mais racional que
revolucionário dian te da
possibilidade do impossível sinto-
me abstrato creio em milagres
mas não dependo deles vejo que
o sol não nasce para todos posto
que a vida é feita de desculpas e
resultados faço de tudo pra não
fazer nada mas já que a noite
está posta não repare o meu
sono.

Mulher
Polido ser estranho de
sensibilidade aguçada
um coração sem
Poemas e Poetas timbirenses 61

tamanho amiga,
amante, alada
Na candura de teus gestos
oculta um bicho feroz que
remete o homem ao deserto
e nos despe ao ouvir sua
voz

Os olhos ocultam tuas


garras a boca sedenta de
um beijo os seios nutrem e
disfarçam o corpo ávido
de desejos

Mulher de mistérios e encantos


menina-moça de pureza e
fantasias nenhum mar vence teu
pranto nenhum ser desvenda tua
magia

Cortejo tua beleza em


face ao teu fascínio
entorpece-me tua
nobreza que me rendo ao
teu domínio

Abriga em teu ventre o


mistério a ti concebida
divina missão a ti pertence
oh! mãe de Deus, mãe da
vida

Mulher, de difícil perfeito


retrato espécie rara de
definir em suma, só
62 Joseh Carlos Araújo & Robson Alvim

sabemos de fato o que seria


de nós sem ti.

Eu e minha cidade
Dorme minha cidade!
A noite descansa teu dia
E tudo que eu queria
Era poder sempre te madrugar
Ouvir teu silêncio
Olhar teu escuro
Sozinho mas seguro
Em tuas noites caminhar
Tu que embalastes minha infância
Ainda hoje sou criança
Quando vejo a chuva te molhar
Tuas ruas tão caladas
A lua cheia na madrugada
E a candura do teu rio
Sinto o vento noturno da pororoca
Que balança as palhas das
palmeiras e se entoca
Na escuridão da mata adentro afio
Agora é uma forte neblina que cai
Que a madrugada do mês de julho
traz Me sento no banco da matriz em
pensamentos
As manhãs de domingo na prainha
Faz sentir que você não é mais só
minha Acho até que parei no tempo
Dorme minha cidade!
Ainda me resta algum tempo
Para cantar teu acalanto
Poemas e Poetas timbirenses 63

Antes da claridade
E eu, poeta queria ser
Para traduzir em versos teu amanhecer
E falar da tua
realidade Disfarçada e
sombria Você e eu!
Oh! Minha cidade tu és minha alegria
Acorde! Jã amanheceu!

Aurea das Áureas


Teu nome te
espelha o mundo te
precisa tua luta é
vida a dor é tua
sina teu sexo te
castra mas o mal te
respeita o erro te
repele e nada te
impede enquanto a
morte te teme tua
alma brilha e teu
coração encanta e
se tua idade não
fala tua bondade
não vê
e. teus filhos não ouvem
mulher Maria mulher mãe
mulher marido mulher
espada mulher cruz
mulher mulher o criador
perdeu tua fórmula!
64 Joseh Carlos Araújo & Robson Alvim

Profecias gregorianas do Velho


Bob
Tudo tem hora
menos a luta,
Tudo tem cor
menos a alma,
Tudo tem sabor
menos a fome,
Tudo tem valor
menos a miséria,
Tudo tem seu tempo
menos a morte,
Tudo tem regras
menos a sorte,
Tudo tem razão
Menos o erro,
Tudo tem perdão
menos a
falsidade,
Tudo tem castigo
menos a verdade,
Tudo tem sentido
menos a
violência, Tudo tem
discórdia
menos o amor,
Tudo tem idade
menos a
lição,
Tudo tem limite
menos a fé.
66 Joseh Carlos Araújo & Robson Alvim

5
Maria das Graças Gomes
Fernandes
Aprofessora Gracira como é carinhosamente conhecida,

natural de São Luís, filha de dona Nilza Diniz e Antenor w

Gomes, 3chegou a Timbiras com apenas dias de


nascida (*09/02/1948), nos braços da mãe adotiva Nilza
Burgos, filha do ilustre intelectual timbirense, saudoso
Manoel (Manoca) Burgos da Cruz.
Concluiu o extinto curso normal no Ateneu Teixeira
Mendes, também em São Luís e diplomou-se em educação
no Centro Educacional Cenecista Codoense.
Em 1972 foi contratada para lecionar no colégio
municipal Presidente Médici, e no ano seguinte, no
estadual Ginásio Bandeirantes. Exercitou-se também no
Mobral, em 1975, como pedagoga e supervisora na
alfabetização rural, além de creches na cidade, em 1977.
No ano seguinte, assumiu a direção e coordenação da LBA
e do Projeto Casulo, na gestão municipal José Maria Alvim,
abrigando cerca de 400 baixinhos, entre 3 e 6 anos. Cinco
anos depois (1982), a segunda nomeação estadual para
lecionar nos colégios Newton Neves e Maranhão Sobrinho,
como diretora.
Sua experiência em gestão do ensino, durante seu
período ativo, foi aperfeiçoada em diversos cursos,
ministrados nas cidades de Codó, Lima Campos,
Poemas e Poetas timbirenses 67

Itapecuru-Mirim e em São Luís. No retorno, juntamente com


os colegas conterrâneos Ita- ner J. R. Paiva Frazão e José
Ribamar Soares, criaram o jornalzinho local Veja Isto (do
Mobral). Encerrou a lida profissional dirigindo a escola
Professora Lourdes Coelho Silva, após algum tempo
afastada do Estado. Uma síntese do seu respeitável
currículo profissional.
Sua sensibilidade para a arte das letras, no entanto,
é igualmente intensa e longa. A paixão pelos cenários
timbirenses, descrita em muitos versos, lhe rendeu a
autoria da letra do Hino Oficial de Timbiras, no governo do
prefeito José Maria Alvim, “sendo o mesmo publicado
oficialmente no governo do prefeito Francisco das Chagas
Rodrigues (em 29 de dezembro de 1989)13 e divulgado no
governo do prefeito Robson Antônio de M. e Alvim França”,
registra a professora em seu currículo. Seguiu assim o
mágico tempo, espargindo cânticos da alma de mulher,
sempre apaixonada pela vida.

Hino oficial de Timbiras

I
Deslumbraram-se os nativos
Em um céu estrelado
Deram vida a Timbiras
Sob um manto azulado
Tuas matas são riquezas
Tuas palmeiras formosura
Os “timbiras” descobriram
Dos teus filhos és doçura.
68 Joseh Carlos Araújo & Robson Alvim

Data do Decreto-Lei de n° 03/89, de aprovação pela Câmara Municipal de


(13)

Timbiras. A letra do hino consta da obra da Prefeitura Municipal, Timbiras: a vida


e o progresso simbolizam um ideal. São Luís: CEEDUC, 1992.

(Refrão)

Timbiras, Timbiras,
Terra de palmeiras
Beleza sem fim
Jamais vista igual.

II

Babaçu é o teu produto


Progresso e tradição
A palmeira te enfeita
E embeleza o
Maranhão.
O Itapecuru te fertiliza
Abastece a população
Dá alimento para o
povo E é centro de
atração.

III

Timbiras nosso empenho


E ver-te respeitada
Ativa no progresso
Avante na caminhada.
Por ti lutaremos
Em qualquer emboscada
Por ti morreremos
Timbiras terra amada.
Poemas e Poetas timbirenses 69

(Refrão)

Timbiras, Timbiras,
Terra de palmeiras
Beleza sem fim
Jamais vista igual.
Se eu morresse amanhã
Se eu morresse amanhã, viría
ao menos fechar meus olhos
meu triste amor se eu
morresse amanhã! minha mãe
de saudades morrería, meus
filhos, morreríam de tristeza e
de dor.

Se eu morresse amanhã, que


sol, que céu azid seria, que
doce relva, por onde eu
passaria acordaria a
natureza mais alegre!
eu não sabería
não me batería
tanto amor no
peito.

Se eu morresse amanhã,
mas, essa dor da vida,
que me devora... a ânsia
de perder o meu amor que
foi embora a dor no peito
que emudecerá minha voz,
se eu morresse amanhã.
70 Joseh Carlos Araújo & Robson Alvim

Uma flor

Uma flor desabrochando


ilude a todos, nasce no
campo em completo
silêncio, paraliza pássaros
e animais, sua beleza
admirando, garanto que
uma flor nasceu.

Enfeita: aqueles que


morrem, aniversários e
batizados, casamentos,
jardins, praças crianças e
namorados, garanto que
uma flor nasceu, sua cor
é linda, suas pétalas
ainda se abrem seu
nome, ninguém sabe.

É bela, é realmente uma flor,


nasceu no campo e venceu
o calor, o frio, o sol, a chuva
enfeitou o morto, alegrou a
viúva o namorado, o casal,
as praças e a criança que
nasceu.

Anoitecer
Noite de minha vida onde
me queres levar? noite
escura sem estrelas que
se deita em meu corpo
Poemas e Poetas timbirenses 71

apossando-se da minha
alma lenta, lenta vai
passando...

Será tarde demais


não me acharás aqui
estarei junto às
estrelas voando,
voando... e não
pensarei mais em ti.
O sonho
Sonho que sou uma mulher
andante, por desertos, rios,
florestas, campos por noites
insanas. Andante por amor,
busco noites encantadas, noites
de aventuras que sem motivos,
me abandonou.

Eis que de súbito, meus


olhos... cruzam com o seu
olhar brilhante, pensei que
fosse meu, este amor por um
instante, me enganei!
que noite decepcionante,
este amor já é de outra
mulher andante.

6
Antônio Flávio Almeida Prado
72 Joseh Carlos Araújo & Robson Alvim

Nascido no Bairro São Sebastião, coleciona dois


cursos de nível superior: administrador de empresas,
pela Universidade Federal de Pernambuco e gestor
tecnológico pelo antigo CEFET, atual IFMA, (Instituto
Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Maranhão).
Filho de uma professora pioneira timbirense
Raimunda Bastos de Almeida e dr. Benedito Soares
Pereira, irmão de outra pioneiríssima do ensino local
Dica Pereira - daí o dom, herança familiar, de escrever e
ensinar. O que ele sempre fez como poucos, ambos com
escrava dedicação. Atualmente blogueiro muito intenso,
também executa serviços de digitalização e técnicas de
computação em seu atelier, na pequena cidade.
O ar solitário do professor municipal transcende e
impregna seus poemas inteligentes e sensíveis.
Provavelmente integra a geração de intelectuais
timbirenses com extrema ansiedade. Chega a ser radical,
esperando que algo maravilhoso possa vir a acontecer.

Fuga
Procuro um afago
ou coisa que o
valha tomo outro
trago beijo mais um
canalha esqueço e
me embriago que
me causa grande
estrago neste
cigarro de palha no
fio de uma navalha
libertam-se os
escravos no seco
Poemas e Poetas timbirenses 73

meu barco encalha


na boca um gosto
travo tragam minha
mortalha.


Estar só às vezes dói o
tempo não se dilui as
cores empalidecem os
ânimos arrefecem a
paciência corroe a
inspiração não flui o
corpo a alma enfraquece
como se doentes
estivessem presenças
que não estão viagens
que desacontecem voltas
que não se vão telefone
incomunicação imagens
de televisão deitado
acabo no chão escrevo
sem pretensão quero
acabar tudo inclusive a
solidão desejo o sorriso
ou o grito pra não perder
a razão já que não tenho
remédio viajo, viajo,
viajo,
de Olinda passo em Lençóis Arpoador,
Santa Teresa,
Sete Lagoas, São
Luís, Rio, rio e rio pra
74 Joseh Carlos Araújo & Robson Alvim

Salvador onde estou


invento continuo e
tento a vida, e rio rio
e desconfio.

Inveja
A poesia era o que
eu mais fazia
coração enlutece
chora a terra ri o
céu Drumont falece
ah! Se o dom dele
eu herdasse.

Insônia
Viro e reviro miro-te
no espelho nem
adianta contar mil
carneiros que
pesadelo Arranco
os cabelos coço os
pentelhos afogo o
travesseiro
molhado de
angustia sou como
coelho embora que
filhos não quero
mais tê-los.
Poemas e Poetas timbirenses 75

Nos céus do Brasil


Arvores de comunicações verde
e amarelo de ex-campeões
matracas aboios fogueiras e
rojões viagem sem volta de
outras regiões

A busca incessante de
outros corações chega-me e
se vai como gaviões em voo
rasante tal qual aviões

Estrela cadente chamando


atenções que o brilho na mente
desperta emoções com ajuda da
lua que apaga balões.

7
Raimundo Nonato Pereira da
Silva
(Nonato Maranhão)

T imbirense, de 20 de agosto de 1966. Pertence ao


clã dos Pereira da Silva, outra família fundadora
da cidade, que se estabeleceu ali no limiar de
1900, vinda do vizinho estado piauiense. Filho do
saudoso comerciante bem sucedido Juarez Pereira e D.
Isaura, que continua com o comércio, situado numa das
esquinas da antiga Rua Nova (atual José Francis),
vizinho da casa do escritor/poeta joseh Carlos Araújo.
76 Joseh Carlos Araújo & Robson Alvim

Concluiu o curso médio no Colégio MENG (1989),


em São Luís, onde foi funcionário do Banco do Estado do
Maranhão, na década seguinte. Em sua cidade natal,
além de comerciante, é compositor, violinista e ótimo
poeta.
Seus poemas mais tocantes, parte em destaque
aqui, foram lapidados nos riquíssimos anos da década
1990, quando de sua alma vertiam veementes protestos à
tortura do cotidiano, como em suas Veredas apáticas dos
esturricados cocais maranhenses. “Ares de um ser
enviado pela divina providência, ou mesmo de um deus
qualquer para salvar Timbiras”, diz o escritor Joseh
Carlos Araújo, referindo-se a certos traços biográficos
desse notável conterrâneo, um dos personagens do seu
livro, já citado, Crônicas dos Cocais (p. 37).
O tempo mágico, devagarinho decidiu-se por
moldar aquele barro, amaro das olarias, num formato
assim mais ameno, mais leve. Tudo o mais, no entanto,
ritmado na mais correta colocação das palavras. Pura
magia.

Veredas apáticas
Os sonhos tão grandes e
harmoniosos quanto parece
serem e estarem vem e vem
alguma doce paixão

E os sonhos queimam em arrebentação


viram nada, e o nada é pra ser.

Veredas apáticas cheias de


espanto e mantos é como
Poemas e Poetas timbirenses 77

correr comendo com fome


pólvora com fogo em brasas.

Famosas e corriqueiras paixões


cotidianos cheios de mortes de
entes queridos e os sonhos
queimam em arrebentação viram
nada, e o nada é pra ser.

E quando lá os bons momentos


chegam tão de repente, em espantos
a hera é serpente, o sangue fica
quente novamente, lá está, como
linda lá estrelar branco acalentado
da mente vermelha perfume do suor
de força feliz desejos da carne tão
dormentes vou ficar. E os sonhos
queimam em arrebentação viram
nada, e o nada é pra ser.

Minha alma feliz e em


desenganos sofrida e vermelha
como telha ao sol uma vez mais
era pra ser jamais cá estou
apaixonado embriagado vou
devorar o teu ar com um beijo
o néctar dos afagos, gritos e desejos
emanando dentro de tuas ondas
carnais.

E os sonhos queimam em arrebentação


viram nada, e o nada é pra ser.
78 Joseh Carlos Araújo & Robson Alvim

Verde é o seco é cheiro de amar


como cheiro forte de morte da
mata virgem a queimar gritar é o
teu mar cóm toda sorte o meu eu
onde posso te amar sem estrelas
só no teu colo esquecido quase
adormecido minha paz posso
ninar

E os sonhos queimam em arrebentação


viram nada, e o nada é pra ser.

Fênix
Há tanta esperança nesse
novo mundo ataco a real
cidade azul ataco a
realidade e sua posse se
tiver que sentir dor.
Vou caminhar pra guerra santa sem
me armar marchar sem direção só
para aprender sem obrigação de
chegar em lugar algum.

Vou sentir a brisa do velho mar


como um sopro teu oh! Deus
sei que vou beber o doce da
água sei que vou sentir o cheiro
verde

Eu que já plantei o novo


alimento que vive a sustentar o
meu coração que te agradece
Poemas e Poetas timbirenses 79

pela visão desse mágico céu


azul.

Na minha magia existem duendes


verdes e também azuis já ouvi
assobio do saci dentro da mata
virgem eu conheci fantasma do
amigo escuro e só me apavoro se
tiver que conversar com a solidão.

Entranhas espíritas

Dito as regras desse jogo dessa


tua vida absurda não preciso que
me tenhas com afeição tão
imperfeita e enganosa dizendo ser
bom elo de uma corrente amiga
amizade como a sua nesse chão
são causas tanto a ver com aflição
e amargura. Guarde os seus
absurdos conselhos mas ideias
marcadas pela falta de glória ao
senso da felicidade quem sabe
quem sou, sou eu que já temo e
conheço
a má falta de fé quando
quer falar com Deus
pede licença pro diabo.
80 Joseh Carlos Araújo & Robson Alvim

Demônios
As paredes do meu quarto de dormir
tornaram-se aposentos de alcatraz
sinais e datas feitas com o meu
próprio sangue estou tão só! parece
que Deus já me vendeu pro diabo.

Praguejo o nome
santo antes do
dormir tenho raiva
da bonita cortina
da parede tenho
raiva da comida
dada-me na rede.

Mais algumas doses do


veneno que faz sonhar que
me faz dormir corto os meus
dedos na hélice do
ventilador provo do meu
sangue misturado com o sal
da lágrima não quero mais
estar aqui. Cadê o teu
carinho tão doce cadê a tua
pele cadê a tua febre de
amor que me ama tanto
assim não me deixa sentir
dor
cadê a língua da tua boca o doce
me fazia viver o doce me fazia
querer um bem estar.
Poemas e Poetas timbirenses 81

Revelação do eterno
O tempo já não diz com a
antiga certeza se esse
deserto de incertezas
torna-se única oração que
só tem transmutação se o
tempo parar.

Quero a paixão dos


geradores de amor
da lua azul neon
quero te dizer boa
noite amor você
está linda às claras
da tua rua.

Bem reservado num


cantinho sagrado sob o
negro da noite bondosa as
velhas escritas do sol que
só terei amanhã. Eu
acredito em Deus aquela
força além estrelas aquela
nuvem que pinta o azul
nunca deixou de revelar o
eterno sonho do amor.
Renascimento
Se já nasceu pra
dizer desse encanto
que encanta essa
terra
82 Joseh Carlos Araújo & Robson Alvim

São rosas
brancas que
encantam prás
terras santas.

Se encanto é guia é
magia cantar é ver a
velha vidapoder
nascer.

Marcas de velhos ciclos que o


tempo e o vento não apagarão
escritas tão sábias religião de
todo irmão.

Plantam e
encantam sábios
sagrados anjos de
guardas conselhos
e histórias assim
nos plantam.

Já é injindável quando é
canção oração a passos
pequenos e opacos chego
mais perto da velha glória
histórias de um homem
canção.

Vendo a menina da tua


sina sentindo seus elos
com Deus amor se ama
tão bem aos
descendentes dos seus.
84 Joseh Carlos Araújo & Robson Alvim

8
Nonato Gilberto Costa Prazeres

T imbirense, nascido no bairro São Sebastião,


concluiu o ensino médio no Colégio João Pontes,
em Fortaleza (1977); e na terra cearense serviu a
Força Aérea, afastando-se da
carreira militar como cabo da Aeronáutica.
Em suas lides timbirenses, assessorou o
médico/prefeito Robson Alvim nas gestões municipais
das décadas 1990 e início da seguinte. Daí decidiu-se
pelo ramo empresarial dos combustíveis e de limpeza
pública, além de alimentar o gosto pelo aero- modelismo,
seu hobby.
Da mesma geração do seu ex-chefe poeta e
compositor, tem a sensibilidade aguçada para as artes
literárias. Com a mente e a alma inspiradas, desde cedo,
para lidar com maestria todas as artes e artimanhas
amorosas, destilou versos inteligentes, ritmados e muito
sensíveis. Um tipo de virtuose do jogo de palavras, e
também de erotismo. Seus versos daquela safra atestam
o fato.

Minha Menina
Es uma verdade! de
sonho a realidade de
tão desejada que foi
de repente... como
três realizas o sonho
de dois.
Poemas e Poetas timbirenses 85

Em conversas!
por uma, muito esperamos,
porém contigo não
contávamos hoje, há muito
que te amamos era no teu
nome que falavamos.

Bem vinda!
apesar de teres vinda tão
pequenina das veias azuis e sem
manta Deus te deu charme e
beleza feminina o teu sincero
sorriso nos encanta.

Fascinante!
adoro-te tanto e em tudo a
tua humildade mais ainda
quando estou longe fico
mudo se perto, ser criança
me ensinas.

A todos!
todos querem te apresentar o
tempo passando e você cresce
com mamãe ou papai vai se
tornando felicidades pra todos
você dá com alguém você parece.

Se Deus quiser!
tem alguém que vai chegar
cheia alegria e grande
felicidade pronta pra te
amar e com esse amor vais
86 Joseh Carlos Araújo & Robson Alvim

crescer entre irmãs viver e


sorrir sem medo da vida
aplaudir.
Existes
Há inalienável jactar a
postular este sofrido coração
que inere à luxúria dos teus
beijos degringola-se como o
anfitrião.

Há instantes instáveis
momentos insanos quando te
quis corações pérfidos almas
tristes olhos em orvalhos íris
irônica e ainda assim, quiçá!
faça-me feliz.

Desdenhastes de outros e entre


outros enamorada, enumerastes, e
a mim a que viestes! amar-me
burilar-me ou senão apenas
encantar-me com teus encantos e
tantos entre tantos!

Há muito te descobri mas


só te cobrindo perguntei
porque agora somente
agora adora-me na marra
e na tora atormenta-me e
me devoras!

Mas dou-te o meu sal pelo verso e


reverso te faço pecar, pecamos
Poemas e Poetas timbirenses 87

sem pensar ai de ti, ai de mim que


Jesus neste enlace não veja assim
mas endosse com doce a revolta
dos contra ti, dos contra mim.
Hora te vejo feliz hora
te faço ficar vivendo o
ipsano momento que
nos fez sonhar acolho
a tua fúria sem culpar
o teu ciúme que ofusca
o lume que te fez amar!

Lembro-me da tua chegada


explodindo saudades
saciando vontades fazendo-
me sonhar e no sonho,
sonhava o reboliço que à
cidade causavas, vendo-te
passar, no teu passear.

Açoito consciência instigo


a minha memória para no
teu silêncio entender e
linear a tua história e
assim tento te alcançar
acompanhar-te em tua
sina ontem viçosa moça
porque hoje menina? e
tenho que gritar e grito
para te fazer ouvir o som
do que a amar.

Mas o som é o detalhe no qual


atalho teu tom para com o
88 Joseh Carlos Araújo & Robson Alvim

meu detalhe detalhar-te e


detalhadamente vou
detalhando tu me ensinas e
eu vou te ensinando este
detalhe nosso que sempre que
posso emposso-te rainha do
mar. Contigo muito aprendi
mas pouco sei de ti em gestos
sinto tua alegria sem som
ouço a tua tristeza imposta
pela natureza mas que
compensa com teu olhar.

Há felina alcunha que


te dediquei
completarei teu dia
com a noite que faltei
saciar-te é um raro
prazer ainda assim
meu preferido dever...

Sem você
Decisa quando
quer indefinida ao
trair sensata no
amor sofro eu,
quando te vejo
sorrir.

Diz saber chorar mas


nunca vi tuas lágrimas
faz a gente amar mas
Poemas e Poetas timbirenses 89

não limitas teu coração


esconde-se pra esquecer
é raro te encontrar.
Porque não conheço tuas lágrimas?
sofrida és bem sei por isso
mentes pra enganar
sensibiliza-se sem amor e
sem dúvidas duvida do
gostar e na dúvida da tua
razão cedo pra não te
perder vejo-te escorregar
das mãos.

Acusa-me calunia-me tira-me o


pudor e despudorada entrega-te ao
gargalhar quem sabe também ao se
entregar, eu sei és pérfida és sincera
quando se esmera na minha singela
e desesperada paixão oh! não
mazela.

E aí maldita!
que um dia sejas bendita
se no teu ventre deixar a
gota que por bis hoje
rejeitas por mim aceita,
suplico-te!
aprende a amar, mesmo que não seja
eu mas a quem deves um dia
amamentar.

Não te vejo como antes via clareia-


te na noite some no dia findou o
caso, não sei? mas que vadia,
vadias! então já não me conheço,
90 Joseh Carlos Araújo & Robson Alvim

cadê o amor? e diante de tua face


aceito o disfarce de ser o grande
traidor...

E na dureza do teu coração


quando verso estes versos
ouço-te, que o meu sonho foi em
vão e como uma navalha no ar
tens o prazer em dizer que a
fecunda célula não vai
fertilizar.

Culpo-te investigo-te acuso-te e em


tuas confrarias vejo teu cúmplice
infeliz fico, que ao teu inverso
festejas! e submerso passo a
monologar com a tristeza de saber
o teu ventre a se ersvaziar.

Oh! selvagem mulher engana-


te, mas não a quem te quer
pois fértil é o meu sonho e o
teu útero também, provar-te-
ei que com as forças do além
um dia verei um rebento
saciando-se em teus seios.

Saia curta vestes agora quase


nua tentadora e discreta desce
à cidade finges inocência e
sob a decência prometes um
dia não ter a materna
virgindade que para a tua
felicidade remirás teus
Poemas e Poetas timbirenses 91

pecados mas jamais te


clamarei.

Meu Jesus Verdadeiro!


Olha meu Jesus eu estou aqui,
Olha meu Jesus não vim só te pedir Mas
agradecer o que já se tem,
O que já fez,
Olha meu Jesus, meus parabéns!

Hoje é o seu dia, veja que alegria,


Muito se passou, de tudo aconteceu!
Depois que nos salvou, ninguém te
esqueceu! Olha meu Jesus, meu amor é
teu!

Há paz no teu caminho, o amor é


principal!
Ser parte do seu ninho é muito natural
Falaram de te para mim, e assim te
procurei:] Foi fácil o caminho tão logo te
encontrei Olha meu Jesus, és Tu o
nosso Rei!

Abrir os meus braços


Contigo me encontrei
Ouvir os teus passos quando em mim
entrei E toda aflição, se foi cair ao chão.
E lá no teu abrigo
Me vi, feliz contigo
Olha meu Jesus, és tu o verdadeiro
amigo!
92 Joseh Carlos Araújo & Robson Alvim

Vivo tão feliz por te conhecer


Seguir o teu caminho teu amigo ser
Viver tuas memórias, contar tuas
histórias... Olha meu Jesus, é certa a
tua Glória!

Então falei de mim


De te quis mais saber
Pedir o teu perdão, pra em paz poder
viver...
Abrir meu coração
Aumentei o meu
amor Vi paz, vi
união!
Cantei em teu louvor
Olha meu Jesus, és tu nosso senhor!
Quero sempre ser feliz
Sem nunca te perder
Com paz e com amor
Deixando de sofrer
Afastando a dor,
Seguindo a tua luz
E todos os louvores
A Te nosso Jesus

Daqui te vejo do Céu a nos olhar


Firme na promessa do seu grande
perdão
Sempre a nos amar,
Amor no coração
Olha meu Jesus, Es Tu
o verdadeiro Irmão!
Poemas e Poetas timbirenses 93

Eu e tu utopia
Eu imagino teu desejo
Eu presumo o teu saber
Eu sonho com teu corpo
Eu sou a comida da tua fome
Eu sacio a tua secura
Eu imagino o teu sono
Eu vejo-me na tua cama

Eu me procuro no teu quarto


Eu te mato de saudades
Eu não vejo tua frescura
Eu te como na minha mão
Eu te acho uma ternura
Eu te encontro na cidade
Eu te tiro a liberdade
Eu te faço um filho
Eu te beijo nos seios
Eu te excito no meio
Eu te dou o meu tom
Eu te afino na minha boca

Eu apago o teu fogo


Eu sinto o teu calor
Eu sei tu aceita e grita
Eu não sei se vou te aturar
Eu tenho o teu corpo
Eu não perco por esperar

Eu tenho a ilusão
Eu sonho com o meu desejo
Eu vou te encontrar
94 Joseh Carlos Araújo & Robson Alvim

Eu sou no meu mundo, o teu homem


Eu tenho o teu prazer pra te dar
Eu sou capaz, eu sou o teu rapaz

Eu vivo no teu encalço


Eu e a tua sombra, somos uma só alma
Eu sonho o teu sonho
Eu jogo no teu palpite
Eu sorrio da tua graça
Eu acompanho o teu passar

Eu fico na tua praça


Eu sou o teu apetite
Eu multiplico contigo
Eu sou o teu sal
Eu como o teu doce
Eu concordo com o teu cheiro
Eu não acredito no teu mau
Eu danço contigo o forró, sei lá,...
Eu faço o teu tipo
Eu fosse o que eu
fosse Eu só sei te
amar!

Tu não és só bela
Tu és linda
Tu não és só mulher
Tu és femenina
Tu não só encantas
Tu me alucina

Tu não tens só formosura


Tu és beleza pura
Tu não és só alegria
Poemas e Poetas timbirenses 95

Tu extasias
Tu não és só sensualidade
Tu és sonho
Tu és verdade

Tu ofegas
Tu és extasiante
Tu não és só mulher
Tu és muito mais que amante

Tu tens sorriso cativo


Tu tens o olhar da intimidade
Tu conjugas com esse corpo o verbo
amar
Tu jogas com a felicidade

Tu és pura,
Tu és impura,
Tu não só me alucina
Tu és uma loucura
Tu és felina
Tu tens pele como uma qualquer
Tu tens sorriso que impele
Tu és fenômeno de mulher
Tu tens olhos que pedem
Tu reparas no meu colo

Tu me deixas uma esperança


Tu tens gestos que me arrefecem
Tu me negas e promete
Tu tens o corpo de
vedete Tu me tens na
lembrança

Tu queres o que eu quero


96 Joseh Carlos Araújo & Robson Alvim

Tu tens o medo da verdade


Tu deixas de me dar
Tu perdes o teu e o meu tempo
Tu vês o tempo passar
Tu tens que ser minha
Tu és uma noite de lua
Tu te arrependes por tanto demorar
Tu tens que ser minha
Tu será amada
Tu tens a vergonha ao teu lado

Tu cantará comigo o
amor Tu terás o apogeu
sonhado Tu e eu.

9
Edézio Machado Coelho Filho
(Edézio Bio)

T imbirense, nascido no bairro Forquilha


(*20/01/1962), O tem como pais Edézio Machado
e D. Maria de Jesus Monteiro Coelho. Concluiu o
segundo grau em São Luís. Entre 1983 e o ano seguinte
teve passagem na antiga Secretaria Estadual de Recursos
Naturais e Meio Ambiente (SERNAT) e na empresa
privada.

Voltou à capital, três anos depois, desta vez para


exercer a função de laboratorista em análise física de
solos, por mais dois anos, na UEMA. Para a função, e as
anteriores, teve o apoio do conterrâneo engenheiro
agrônomo e escritor Joseh Carlos Araújo, que exercia os
Poemas e Poetas timbirenses 97

cargos de secretário adjunto na SERNAT e também de


coordenador do Núcleo de Irrigação na universidade -
oportunidade para que o jovem Edézio se especializasse
em solos na EMBRAPA, Rio de Janeiro, em 1987.
No ano seguinte abandonou a ocupação
universitária, retornando ao ensino timbirense como
professor (‘leigo’) de ciências, já casado com D. Rita Félix.
Em 1999 concluiu biologia na UEMA/SESC em Caxias;
daí passou a lecionar a matéria nos colégios Newton
Neves e Alberto Abdalla.
Extravasando os sentimentos literários, esparge
uma poesia nova e fluente, retalhos coloridos do dia a dia
de sua cidade, e passa a ombrear-se a seus pares que
integram a vanguarda intelectual timbirense.

Avenuzar é preciso
Se o teu pensamento
viaja até Venus na
velocidade da voz não
hesite no momento
traga camisetas para
nós.

Mas se ele for até


Saturno que é mais
distante de lá inverta
os papéis não hesite
traga seus anéis.

Se pretendes ir até
Plutão leve as camisetas
para não desgastar as
mãos
98 Joseh Carlos Araújo & Robson Alvim

Se o teu pensamento é
rude e achar que é
heresia leia escreva e
mude mas não subestime
a poesia.

Ai de ti cidade morta
Cantaram-te em versos e prosa
também em poesia lançaram
sobre ti, pétalas de rosas e
pintaram a tua fantasia no
mais alto índice de tua glória
cantaram parabéns e amaram
tua história fizeram da tristeza
e solidão seus reféns
mas sem perdão andaram
na contramão a ganância e
a ambição tornaram
rebeldes teus filhos e fracos
de emoção caminhando por
incertos trilhos cruzam os
braços descansam o pão e
dos alegres abraços e do
aperto de mão resta... “A
cidade morta” de placa
torta indicando contramão.

Pernas pra que te quero


Onomatopéia é
o som
estranho da
Poemas e Poetas timbirenses 99

centopeia
tomando
banho

Pra que tanta


perna se não és
atleta e quando
te tocam você
hiberna por
completo

Muda de nome
para vulgar
como o homem
muda de lugar
mas te
conheces sem
endereço por
embuá
O poeta e a flor

O poeta é sensível
demais é um aprendiz
de sonhador como os
verticilos florais que
completam uma flor.

O poeta é a flor
incompleta tem o cálice
mas não tem pétalas.

O poeta endeusa sua


musa como a abelha a
100 Joseh Carlos Araújo & Robson Alvim

uma flor de tanto poetar


pra ela arrebenta o peito
de dor.

0 poeta tem delírio


na hora da solidão
escreve seu
martírio faz dele
sua canção.

O poeta tem tantos


adjetivos que é difícil de
explicar se usarmos os
cognitivos mais difícil vai
ficar.

Por isso como poeta só


me resta versos
compor sendo uma flor
incompleta se tem
cálice falta pétalas se
tem pétalas falta amor.
Quem precisa de inimigo?
Eu tinha um cigarro um cigarro
amigo era só eu e ele no momento
de solidão consumi o meu amigo só
tinha nós dois no momento de
solidão ou era eu ou era ele mas só
estava nós dois (ou estavam???)
passa o tempo e depois, depois,
depois a última fumaça subiu como
Poemas e Poetas timbirenses 101

se fosse uma despedida uma


despedida não concedida depois...
pensando comigo quem tem um
cigarro como amigo não precisa de
inimigo nem mesmo de solidão.

Só a ti mocidade figura

Quando meus olhos cruzam os


teus mesmo num rápido
momento o coração bate forte,
oh! Deus como doi este
momento

Por não poder abraçar-te te


por nos braços como criança
(?) e beijar teus lábios
docemente para encher o
peito de esperança.
Suportar dor que corrói meu
peito perdão por assim
pensar se é mau não tem
jeito se é bom porque não te
amar?

Perdão por não ser ousado a


dirigir a palavra amiga e o
transtorno que tenho
causado para conter esta
paixão antiga.

Tantos momentos que tive


toda ilusão me afagava de
102 Joseh Carlos Araújo & Robson Alvim

sonho o poeta vive mas


essa ilusão me acordava.

Só a ti a mocidade figura
que a vida sorri da
inocência que tem na sua
censura a luz da
existência.

10
Jose Aldimas Ferreira do
Nascimento

A
juventude timbirense dos anos 1970 foi

sem dúvida a mais iluminada pela

sinergia intelectual dos seus filhos,


umbílicos e adotivos. A família Nascimento, do patriarca
Domingos Luís, também mudou de hábitos com a vinda
para adezinha de pouco mais de 18.000 pessoas (90%
rurais) e alavancada pela produção de cachaça e carne
animal (em lugar mêndoas de babaçu), com a compra de
um dos decadentes izéns do compadre Lauro Pereira da
Silva, seu aliado polí- progressista, um dos principais
povoadores da cidade, no limiar do século passado.

Aldimar (*07/11/1955), um dos filhos da prole


Nascimento, com mais idade e o mais silencioso dos
vanguardistas, encantouse pelas rimas do cordel do
Poemas e Poetas timbirenses 103

famoso cearense de Acopiara para versar sobre os causos


antigos de suas palmeiras e nacionais.

O sonho de Tiradentes

Um fato bem histórico


gravado em nossas
mentes o ideal objetivo
do grupo de
inconfidentes causou
cruel sentença ao grande
mártir Tiradentes.
Foi um alferes, da cavalaria
hospitaleiro e gentil
proclamar nossa
independência foi um sonho
varonil para sempre, está
lembrado na história do
Brasil.

O patriota destemido de
naturalidade mineiro os
portugueses taxaram de
infâme prisioneiro
enforcaram e
esquartejaram la no Rio
de Janairo.

Todo plano programado


propagava com
clêmencia entre êles
repercutiam só segredos
da sequência sofreu
104 Joseh Carlos Araújo & Robson Alvim

pena de morte pelo


crime de inconfidência.

Joaquim Silvério dos Reis


inconfidente, por
dissimulação delatou o
movimento seus atos,
foram em vão ao Visconde
de Barbacena denunciou a
conspiração.

A Fazenda Real grande


soma êle devia,
condiçoes de quitar o
mesmo não possuia com
o delato da conspiração
recebeu a anistia.
D. Luís de Vasconcelos
mandou prender os
implicados D. Maria I
ordenou que fossem
executados Tiradentes
sofreu pena cruel por todos,
os culpados.

A forca, decepou-lhe a cabeça


diante da multidão os bens, foram
confiscados a Corôa não concedeu
o perdão os descendentes,
considerados infames até a quarta
geração.

Foi firme até o fim nunca


fugiu, a trajetória os
Poemas e Poetas timbirenses 105

planos eram objetivos e


enriquecidos de glória os
mártires republicanos
dificilmente contam, a
história.

A verdade eu afirmei
Leiam, composto o verso
Do sonho de Tiradentes
Igualmente lhe confesso
Memória atraente
Afirmei claramente
Realidade sem
excesso.

Alumar na Ilha
O bê a bá da operação
foi ensinamento
primeiro desenvolveu
a atenção elevando ao
alvissareiro,
despertando a todos
com um alerta
companheiro. Alertem-
se para o trabalho
com cuidado, e
disposição encarar
com seriedade de
todos é uma obrigação
obedencendo com
rigor as normas da
prevenção.
106 Joseh Carlos Araújo & Robson Alvim

A prevenção de
acidentes é evidente, e
eficaz desperta-nos, hoje
e sempre cuidados
primordiais sigamos com
otimismo que grande
proveito traz.

Está claro companheiros


como deve proceder
nossa rotina diária que
as normas vão dizer é
uma obrigação cumpri-
las ao mesmo tempo, um
dever.

São estes os primeiros


itens todos devemos
encarar foi um
compromisso nosso a
sério sempre levar o
sonho cotidiano de um
ingresso na Alumar.

Consórcio, Billiton e
Alcoa formam o
condomínio ao Estado
do Maranhão
trouxeram este
patrocínio destacando
o potencial na
produção de alumínio,
esta séria afirmação
que com clareza eu fiz
Poemas e Poetas timbirenses 107

deixo claro a todos


que a realidade nos
diz venham ver a
alumar na Ilha de São
Luís.

A Ilha dos Amores com


ideais bem previstos
demonstra a realidade
em todos seus
requesitos ligada ao
Continente pelo Estreito
dos Mosquitos.

Estrangeiros aqui vieram


conseguiram se instalar
na terra de Gonçalves
Dias do qual devemos
lembrar ídolo da Terra
das Palmeiras onde
canta o sabiá

No Parque Industrial
desperta sua atenção cada
setor visitado lhe causa
admiração é o maior
investimento privado já
feito no Maranhão.
Martírio do dr. Tancredo

Atentos, amigos leitores leiam


com atenção um capítulo, da
nossa história não podemos
108 Joseh Carlos Araújo & Robson Alvim

deixar em vão iniciou a 31 de


março de mil novecentos e
sessenta e quatro quando deu-se
a revolução.

A verdade dos fatos todo


mundo pode ver nossa
situção ficou crítica pouco
dava pra entender foi
quando as Forças
Armadas tomaram conta
do poder.

Durante vinte anos o


poder, nas mãos delas,
ficou com a abertura
política muita coisa
anistiou redemocratização
do Brasil a população toda
sonhou.

Ressuscitaram, os velhos
partidos uma ansiedade
preferida a realidade
brasileira ficou assim,
ressurgida pelo dr. Tancredo
Neves a bandeira foi erguida.
Governava Minas
Gerais donde era
natural na aliança
democrática sua
Poemas e Poetas timbirenses 109

escolha, foi legal


disputar o voto
indireto no colégio
eleitoral.

Obteve maioria foi


eleito, presidente
aplausos, e
cumprimentos recebeu
de muita gente dos
fatos e acontecidos
toda nação ficou
ciente.

São João Del Rei, a


cidade onde dr.
Tancredo nasceu porta
rédeas do Brasil seria
este filho seu a realeza
dos fatos tudo assim,
aconteceu.

Redemocratizar o Brasil
era seu lema principal
cortesia diplomática
brilhava em seu ideal
com brilhantismo
conquistou o território
nacional.

O sol da Nova
República no horizonte
raiava a população
anciosa do dr.
110 Joseh Carlos Araújo & Robson Alvim

Tancredo, esperava
aulas de democracia
pra ministrar se
preparava Os anos de
vida pública provavam
sua experiência aos
intentos nacionais
demonstrou sua
tendência popularidade
e dinamismo ensinava
com clemência.

Na missa, em ação de
graças retiniu muita gente
surpreendidos ficaram
com acontecido de
repente todo mundo
lamentava ver enfermo, o
presidente

Com a saúde
agravada ao hospital
foi levado os médicos,
de prontidão
assistiam com
cuidado dias depois
ele era num avião
transportado.

No Instituto do Coração
a junta médica
esperava ver chegar
opresidente que pra lá
se destinava num curto
Poemas e Poetas timbirenses 111

espaço de tempo o
aviao aterrisava.

Foi conduzido numa


maca comoveu a muita
gente ansiosos
queriam saber o
estado do presidente
na porta do Instituto
informavam
certamente.
Não chegou receber posse
bem por certo meditei com
ideal positivo otimista
declarei as rédeas,
nacionais ficariam nas
maos, do dr. José Sarney.

O dr. José Sarney foi um


nordestino presidente a
arquitetura do dr.
Tancredo lhe fôra
entregue certamente por
algum tempo comandou
os destinos da nossa
gente.

A causa do sofrimento parece até


um enrêdo quanto mais se
agravava encaravam firme, sem
medo, nos fundos, da Igreja de
São Francisco sediada em São
João Del Rei em paz repousa, dr.
Trancredo.
112 Joseh Carlos Araújo & Robson Alvim

No Dia de Tiradentes o
último suspiro ele deu
este bravo patriota que
a todo mundo comoveu
o ideal republicano
marcou um forte seu.

Foi firme até o fim nunca


fugiu a trajetória os
planos eram objetivos e
enriquecidos de glória os
mártires republicanos
dificilmente contam a
história.
A verdade, eu afirmei
leiam composto o verso
do Martírio do dr.
Tancredo igualmente
lhe confesso memória
atraente afirmei
claramente realidade
sem excesso.
(O acróstico forma o primeiro nome do autor)
Poemas e Poetas timbirenses 113

11
Meirydianne Chrystina de
Almeida Santos Silva

T imbirense (*04/11/1985), filha de Raimundo


Francisco Frazão Santos e da excelente professora,
hoje residente no alegre e festeiro Bairro de São
Sebastião, Francisca ivei-
ra de Almeida Filha. Passando pelos colégios Emílio
Garrastazu Médici e Newton Neves, concluiu o ensino
médio em 2003, no colégio Alberto Abdalla, pretendendo
cursar comunicação em São Luís. Para tanto, exibia uma
correspondência do Ministério da Educação elogiando os
heróis que se destacaram na média acima das nacionais
nas provas do ENEM 2002, para da conclusão do curso 14
Orgulho e exemplo para a juventude da terra.

Antes, romântica e determinada, aos 11 anos


(1996) já se apresentava cantando ao teclado. Daí,
trabalhou como radialista baixinha no antigo Sistema de
Comunicação da vizinha cidade de Codó, por 3 anos; ao
mesmo tempo fazia radialismo, com um programa
infantil na FM Na. Sa. dos Remédios sua cidade. Quatro
anos depois, integrou a equipe de telejornalismo
matutino

Recentemente, a revista Super Interessante da editora Abril, a convite da


(14)

Fundação Lemann, viajou 6.500 km em duas semanas, para visitar quatro


escolas públicas estão entre as melhores do Brasil (uma delas, num ‘’oásis’’
próximo daqui, no sertão cearense), com nível de aprendizagem superior à média
de países como Canadá. Com recursos e muito trabalho - compartilhado entre
114 Joseh Carlos Araújo & Robson Alvim

pais, mestres e autores esses recantos de excelência educacional colecionam


lições para semear pelo Mais informações na longa e excelente reportagem da
revista, edição 355, de nbro de 2015 (páginas 48-53).

Realidade Local, da TV codoense, por 2 anos, seguindo a


carreira com vários seminários culturais, sua cidade.
A jovem de passos gigantes é ainda um “vulcão em
mas”, expressão cunhada pelo compositor/médico
Robsor vim, anteriormente, que assusta e aguça a nossa
sensibilidade Versando um alerta à vida, ela própria
concluía na época: “a é a expressão mais correta do
sentimento usentimentoniversal: o a Não é preciso que
ela tenha sentido, mas que se tenha sentimento
suficiente para dar a ela o sentido correto”.

Pois bem, furtada da ânsia pelos ares da capital, já


casada e formada pela Faculdade de Educação São
Francisco Pedreiras (MA). Desde 2008 leciona literatura,
gramática dação, no Centro Educacional Despertou, além
da rede púl nos centros de ensino Luzenir Mata Roma e
Raimundo Muniz Bayma, em sua adotada Codó.

Feliz com a primogênita Camilly Victória, do casan


com seu encantado professor João Vieira da Silva Junior,
rydianne, abraçada a uma coletânea de Intertextos da
Poesia de Sete Faces (de Drummond de Andrade), da
própria lavra, dece:

Todos os meus sonhos, o Senhor tornou poss


além disso, ainda deu a mim e à minha farr
maior tesouro: a vida eterna, pois um dia este do
passará, mas aqueles que guardam as Palav
Senhor viverão eternamente.

Contudo, a verve da ainda jovem secundarista da d


de 2000, pulsa nos seus poemas. A seguir, a singeleza e o
li com muita magia da época.
Poemas e Poetas timbirenses 115

A descoberta de amar
Descobrir pétalas
De um sentimento fulminante
Que arrebata no auge do eclipse.
Cada detalhe é um ato efusivo,
Agravador da ânsia de gritar ao mundo
O surto do teu sentir, cálido e
abrasador,
Toma-te na promiscuidade do teu
pensar
E na égide da tua paixão
Inesperadamente, inexplicavelmente,

Beija-te a boca como um colibri


Resistirás à repressão de calar a tua
paixão
Teu viver torna-se um pesadelo
Porque tão grande é o amor
Que acolhes a todo o sofrer
Resignadamente

E esse sentimento afoga-te


Em águas turvas de solidão
E para toda a vida amarás
Porque para amar
Foi que nasceste

E bem no intimo do teu sentir


Bem no seio da tua alma,
Busca a tua paixão escondida
A luz do teu caminho
Pois quando se ama, ama-se uma vez

116 Joseh Carlos Araújo & Robson Alvim

E ainda que sofras


Faças o possível
Para sorrir e cantar
Ainda que com vontade de chorar

O amor só é um sentimento real


Quando quem amamos agora
E quem amamos desde a primeira vez
Não é que vivemos no passado
Mas o amor é um sentimento único
Universal e eterno
Porque é o amor
Do ontem, do hoje e do sempre.
Um llindo sonho de amor

Incrível como o coração muda


Quando vive uma ilusão
Que parece não ter fim
Tudo levita de repente
Tudo é fantasia emocionante

Conto de fadas,
Um anjo caiu do céu
Anjo em forma de homem
Flutuar pelo planeta
Do universo amor

Um lindo sonho
No espaço sideral
Viajando
Em algum cometa perdido
Na constelação da paixão

Viaja o verbo amar


Sei que a qualquer momento
Poemas e Poetas timbirenses 117

Este sonho como um meteoro


Abre uma cratera no meu coração
Provocando
Um grande bang-bang amoroso

Um sonho que deixa


Qualquer menina mulher
A imaginar um ser
Que parece existir
E ao despertar
Tudo foi em vão...

Força invisível
Por traz de um grande homem
Sempre há uma grande mulher
Sublime é o amor
Como se fosse do avesso,
inverso, E ainda assim na
poesia é um verso

Se torna música.
Sentimento avassalador
Que te toma de um jeito forte
E ilumina a escuridão

A vida é amor.
E para o amor nascemos
E por amor vivemos O amor
se alimenta de detalhes
Amais!

O ser humano é amor.


118 Joseh Carlos Araújo & Robson Alvim

E se ascende em outro amor


Alguém que está sempre disposto
A apoiar nossas decisões
Alguém que vai sempre entender

E você precisa dessa força


Pra continuar tentando viver
Acredite nessa pessoa
De candura singela
E não perca a sua fé
E é por esses e outros motivos
Que por trás de um grande homem
Sempre há Uma
grande mulher.

O Poeta
Ser que sofre
Que vai de encontro a
demagogia E busca caneta e
papel Para expressar-se.

E um fingidor
Que oculta sua própria dor
Ser imaginador, sonhador,
De um mundo em fantasia
De amor e paz.

E um amigo, pensa, age, acolhe


E sempre espera uma luz
No fim do túnel Sente no
coração e na alma.
Poemas e Poetas timbirenses 119

Usa a poesia como escudo


Não para proteger-se da
dor O sofrer
consequências Que o
amor causa.

Tenta resgatar em cada ser


A esperança de amar a
vida E alguém que pode
ser Eu ou você.
Alerta à vida
A comunidade mundial
Está diante de um dilema
O ambiente natural
Agora é um sério
problema.

O bicho homem atual


Vem agindo diariamente
Irresponsável e ilegal
Destrói seu próprio
ambiente.

Tem uma tal degradação


Que é feita ilegalmente
Sem falar na poluição
Essa, afeta tanta gente!

Poluição do ar e da água
Extinção de animais e vegetais
A destruição da camada de ozônio
Agressões completamente fatais.
120 Joseh Carlos Araújo & Robson Alvim

A exploração desordenada
Das riquezas naturais
E um que se alarma
Cada dia mais e mais.

Restam ainda alguns problemas


Bem mais difíceis de
resolver A questão do
desmatamento Que a toda
hora se vê.

Prejudica o regime das chuvas


Altera o equilíbrio da atmosfera Sem
falar na redução da diversidade Que
mexe nas funções vitais da biosfera.

De proteger e estabilizar os solos


De produzir que respiramos
O elemento essencial à vida
O elemento essencial aos seres
humanos.

E por isso precisamos


Preservar nosso ambiente
Pois proteger a nossa
vida E tarefa de toda
gente.

E pra que isso aconteça


Precisamos tomar consciência
De que a natureza é que
garante A nossa própria
sobrevivência.
Poemas e Poetas timbirenses 121

E só existe uma forma


Para o ambiente defender
E que cada ser humano
A sua parte possa fazer
De agir em
conscientização Para esse
quadro se reverter.

E procurar de toda forma


A natureza preservar
Porque se não vencermos essa
guerra, O que será do planeta
Terra?

12
Antônio Carlos Alves da Silva

N ascido no povoado timbirense Sete


(*10/04/1973), mudouse para a sede municipal
em 1983, onde terminou o ensino médio no
colégio Alberto Abdalla, dez anos depois. Daí,
concursado, ingressou no serviço público.
Em 2001, concluiu a licenciatura plena em ciências
na UEMA em São Luís. Desde então, passou a lecionar a
disciplina em colégios estaduais em Codó e na sua
cidade, onde emergiu sua verve na década anterior,
inspiradíssima.

Se me pedires
Pede-me tudo, tudo quanto desejares,
122 Joseh Carlos Araújo & Robson Alvim

Do mais simples ao alucinante desejo,


Do aperto de mão, à carícia, Do
abraço cortês ao expressivo
beijo.
Pede-me tudo, tudo quanto
desejares. Fugir, falar, calar,
chorar, sorrir,
e até para morrer... Peço-te meu
amor, pede-me tudo,
menos para te
esquecer... Pede-me para fugir.
Que eu desapareço;
Pede-me para calar,
Poemas e Poetas timbirenses 123
Que eu emudeço;
Pede-me para falar
E eu louvarei o seu antor;
Pede-me para chorar
Que as lágrimas cairão;
Pede-me para sorrir, Que meus
lábios desabrocharão. Mas, se
me pedires pra te esquecer, E
preferível arrancar-me o
coração.
E se me pedires pra
morrer, Morrerei com
prazer De amor por
você...

Sina nordestina
A paisagem nordestina
Se transforma
com a chegada do
verão Onde era verde
agora é sertão
Onde era vida
resta apenas
solidão Onde havia água
agora apenas o
chão

Rachado e sofrido
Como o povo desta terra
Que sem ter o que fazer
Apenas reza e reza

Cansado de sofrer
Sem água pra beber
Vai sair em retirada
Seguir qualquer caminho
Seguir qualquer estrada

Essa sina nordestina


De seca, fome e morte
Faz o povo desta terra
Sair à própria sorte
Cansado de sofrer

Sem comida pra comer


Vai sair em retirada
Iniciar uma jornada
Seguir qualquer
caminho Seguir
qualquer estrada...

A procura de amor
O amor...
Eu o procurei ontem
Procurei-o hoje
Hei de procura-lo amanhã
Pois, Não o
encontrei ontem
Não o encontrei
hoje.
Espero encontrá-lo amanhã...

Caso isso não aconteça,


Não desistirei.
Erguerei a cabeça
E continuarei a procurar
O amor verdadeiro é assim mesmo
Difícil de encontrar
Poemas e Poetas timbirenses 125
Mas isso não é razão
Para deixarmos de amar
120 Joseh Carlos Araújo & Robson Alvim

Amor.
Procurar-te-ei por toda vida
Se necessário for
Pois,
A vida
Não é vida
Sem você
Amor...
13
Francisco Sousa da Silva

C oroataense do povoado Boa Esperança


(*23/04/1978), mora em Timbiras há muito tempo
com seus pais, João
Lima e D. Domingas Sousa da Silva. Concluiu o
ensino médio no Alberto Abdalla, em 2000 com 22 anos.
Em seguida, engajou na função de agente comunitário de
saúde no município. Da leitura intensa, suas incursões
na poesia tornaram-se cativantes na época, versejando
imagens lúdicas de biomas deslumbrantes.

Borboleta

Lagarta faminta vivia tão só


Crisálida delicada num casulo
descansou
Borboleta pronta e ágil sobre a rosa
Voaste e pousastes e não a desbotou
Ès tão leve como a brisa e a luz
Dona da graça, amante das flores
O sol que ilumina, tuas asas reluzem
Lembras-me a primavera estação de
amores
Destes asas ao vento
Vens para inspirar o
poeta Que bela vida,
que curto tempo Se tu
algum dia sofreu
122 Joseh Carlos Araújo & Robson Alvim
Poemas e Poetas timbirenses 127
Por amar a flor e seu néctar
Doeu-te o coração
Ao dizer-lhes adeus

Aurora
Amada aurora
Alguém anuncia
Aqui, acolá ou no além
As aves animais e árvores
Almejam que venhas
Abrem-se bicos
Com tons agudos
Desabrocham botões
Alarme de avisos
Que a aurora é agora
E no ar de um céu
Tão alto e azul
Surge uma estrela amiga
O sol, almo sem atrasos
Iluminando a aurora
Aquarela que a vida namora.

As flores

Os insetos levam o pólen


O vento leva o perfume
Vem o sol e a derruba
E vai servir de estrume
A noite reluz vagalumes
O orvalho cai sobre a mata
O botão rebenta e nasce
Com pétalas, pólen e perfume
E a gota de orvalho entre pétalas
O beija-flor vem sugar
Bebe, beija e continua a voar
Vem a linda menina Com
as mãos delicadas e finas
Tirar a flor das campinas.
14
Alércio Bispo da Silva

N asceu em Timbiras (*22/10/1964), filho do casal


Raimundo Taurino e D. Raimunda Lopes da
Silva. Graduou-se em
Licenciatura (Letras) aos trinta e oito anos, pela
UEMA, em São Luís. A seguir, professor das redes
estadual, municipal e particular na terra natal.

Na época, com o romantismo pulsando nas veias, o


professor era tocado, ao mesmo tempo, pelo viés explicito
da ansiedade na sua intelectualidade. Parecia decorrer
da desilusão com o cotidiano moroso, próprio do seu
rincão ermo. Sua poética inteligente dá sinais dessa
velha trilha tediosa. Navega enfrentando a nevasca, e
surpreende.

Solução, aflição

Na amargura, na solidão
Se te acompanho, se te abandono
Ou se espero no meu desespero
O meu senhor aperto despertar o sono
E por esse aperto do coração
Traga-se luz como tempero
Com toda minha vida
Agarrada neste mar
De terra sua e meu sertão
Poemas e Poetas timbirenses 131

Dói o semblante só de olhar


Consolo minha querida
Diante de tanta aflição

As névoas de medo se apresentam


Ao sobrevoar o meu território
São rápidas, passando alto
E dando abraços espessam
Tornando muito nebulosas
As mentes em nosso planalto
As vezes me sinto senhor
Da minha terra excluído
Sem vida, sem aliança
De uma terra carente de amor
“A fome maldosa, infame”
Nos traga a frágil
esperança.

A mentira
A verdade mente, não diz tudo.
A verdade anda encobrindo a mentira
A mentira encobre a
verdade A verdade é
punidora, carrasca.
A verdade dói, a mentira acalanta,
conforma
A mentira esconde a revolta causada
pela verdade A mentira esconde e
protege a separação dos casais
A mentira livra o garoto da fúria dos
pais
A mentira pole e protege o chifre
A mentira camufla a verdade do jovem
A mentira esconde a verdade nua,
desesperadora,
A mentira se junta à mãe em ajuda à
filha
A mentira é grande, é pequena, tem
pernas... E corre... e dança... e pula... e
nega...
E diz a verdade e novamente mente
A mentira conserva a virgindade por
anos
A mentira não deixa o garoto
drogado A mentira preserva o pai
santo honesto...
E a mãe sempre fiel...
E a garota a mais
estudiosa... E o garoto o mais
educado n a família a mais
sem problemas E se a
verdade entra em campo!?
Tudo então vira a grande mentira!
E a mentira vira uma grande verdade...
E protege... e desculpa... e perdoa...
15
Antõnio Carlos Bispo da Silva

T
2001.
imbirense (*08/08/1982), irmão mais novo do
casal anterior (do poeta Abércio), concluiu apenas
o ensino médio, na capital tocantina Palmas, em

Sua vocação literária foi, no entanto, pródiga: poeta


e compositor, também se distinguiu nas artes plásticas.
Seus poemas imaginativos trazem aquele sabor antigo, de
veementes protestos pela paz e agitações amorosas. E
deixa aos curiosos a ansiedade por mais viagens e
sabores mais intensos.

Injustiça
O amor...
Não foi justo comigo Veio-
me em forma de castigo
Judiou de mim...
Fez minha vida tão difícil assim

Permitiu que eu me apaixonasse


Por quem não iriam me corresponder
Permitiu-me esse sojrimento
Que me destrói por dentro
Concedeu-me uma
paixão Que está
magoando O meu
coração.
Poemas e Poetas timbirenses 135

Amor sem palavras


Procurei palavras pra
dizer Tudo o que sinto por
você Mas não deu...

Ao olhar nos olhos teus


Enchem-se de lágrimas os
meus E não consigo falar

Acalento este sentimento


Dentro do meu peito
Tento esquecer, mas não tem jeito
Você vive em meu pensamento

Vou vivendo
Sofrendo cada dia
mais Você me faz
tanto mal E eu te
quero tão bem!

16
Manuel de Jesus Batista
Oliveira

N ascido em 11/05/1970, em Maresia, povoado


timbirense, é filho de Manoel de Oliveira e D.
Maria S. Batista de Oliveira.
Formado em Geografia pela UEMA/CESC de Caxias,
com 33 anos passou a lecionar a disciplina nos colégios
Newton Neves e Alberto Abdalla, em sua cidade. Sua
poesia, suave e comportada da época, expressa bem sua
intelectualidade, cujo louros lhes garantiram atualmente
um lugar entre os vereadores da Câmara Municipal de
Timbiras. Contudo, anseia-se por mais tons e matizes de
sua alma sensível.

A migração
Migrar, sinônimo de mudar,
Unir ou separar,
Sempre busca o bem-
estar; Longe de seu
lugar.

Migrar, ação natural do ser;


Forçada ou espontânea;
Que fez povos até da
Germânia Cambiar para cá.

Ao entardecer
Quando canta o sabiá;
De quem ama deve lembrar
Após o introito na ação de migrar.
Poemas e Poetas timbirenses 137

Apodera-se
De quem dela tem liberdade,
Corações partidos de saudades
Buscam outro habitat.

Migrar!
Vai e vem sem parar;
Ação geográfica descrita por
Vesentini, de Migração Pendular.

Ida e volta sem parar;


Inquietude, incertezas,
desconfianças...
De quem não pode se afagar.
Como pode existir essa tal Pendular.

Imigrar pode agraciar o novo.


E tudo voltar o que era antes
Sem o perto estar
distante; E os seres
como amantes, O seu
desejo eternizar.

17
Diógenes Antônio da Silva
Machado

C oroataense, filho de Antônio Sidney (tiimbirense) e


D. Lucimar Pereira da Silva Machado, reside na
praçaGraccho de Melo e Alvim, Centro, Timbiras.
Em 1996 concluiu o ensino médio no Liceu Maranhense,
em São Luís. Pouco tempo depois, instalou uma
138 Joseh Carlos Araújo & Robson Alvim

prestadora de serviços informatizados em Timbiras, sua


cidade adotiva.
Muita criatividade, sensibilidade para as artes
(pintura) e poesia. Com o poema abaixo, idealizou muito
bem o seu jeito de ver a vida com mais luz. Espera-se,
ainda curiosos, suas tardes e noites adentro.

O dia
Estou nesse martírio
E procuro uma saída
Existe uma dor que é
forte E que pulsa dentro
de mim

É uma dor que me consome


A cada segundo
Como a falta de algo Inexplicável
solidão
O que me diria a regressão
Uma busca incansável de alguma coisa
O silêncio me faz pensar
Que se não me apressar
Não vou conseguir chegar

Dentro do meu eu
Soam como gritos
De recém-nascidos
Sufocados, angustiados,
Atormentados.
Poemas e Poetas timbirenses 139

Mas há sempre uma esperança


De que tudo vai dar
certo, Espero que esse
dia Esteja bem perto.
140 Joseh Carlos Araújo & Robson Alvim

18
Jozélia Fernanda Bento da
Silva

A
jovem timbirense Josélia de 21 anos, filha de

D. Rosália

Bento e João Bastos da Silva, reside no centro da cidade.


Concluiu o ensino médio no colégio Alberto Abdalla
em 2001, e em seguida, um cursinho para enfrentar o
vestibular e se tornar professora. Desistiu; abraçou a
profissão divina de chefia da casa, junto ao marido e
filhos. Romântica, nos mostra simpatia e receptividade. O
tema é bem-vindo.

Amizade
Existe um grande tesouro
Muito raro e valioso
De tão precioso
Vale mais que ouro

E como semente
Que cresce dentro da gente
De pouco a pouco
E queremos encontrá-la nos outros
Poemas e Poetas timbirenses 141

É um dom tê-la
E mais ainda não perdê-la
Nas horas difíceis traz alegria
Uma agradável companhia
Está no passado, presente e futuro
está no claro e no escuro
Ela surge de repente
De pai pra filho

De Deus pra gente


Pra falar a verdade
O nome desta felicidade
Que é uma raridade
Chama-se amizade.
142 Joseh Carlos Araújo & Robson Alvim

19
Antônio Carlos Barbosa
Marinho

E xiste um hiato, abissal, de gerações entre dois


xarás dos cocais maranhenses. Antônio Gonçalves
Dias, viveu entre 1823 e 1864. Antônio Carlos
Marinho, poderia ser seu octaneto — nasceu em 1987,
quando o outro completava 123 anos de falecido. O
descompasso não perdeu a identidade (genética? Darwin
e outros iluminados explicam): a verve, a aptidão da
mente e da alma para o romantismo poético.
O caxiense Antônio, mesmo na condição de filho
bastardo, sua genialidade lhe proporcionou educação
superior em Coimbra, e lá o desabrochar de gênio, com o
apoio financeiro do abastado pai português, além da
generosidade de condiscípulos. Bacharel em ciências
jurídicas, com 21 anos impõe-se na capital do Império,
Rio de Janeiro, com lutas e glórias em suas missões de
vulto, pelo país e na Europa.

O outro, timbirense Antônio, órfão do soberbo Q. I.


(índice meritório) e acalentado em um ambiente de
extrema pobreza, empacou nos primeiros anos escolares,
para ajudar na sobrevivência familiar. Aos 22 anos,
arriscou uma desventura, por 3 anos, no antigo estado
vizinho, Goiás. Muito depois, cursando o EJA (Ensino de
Jovens e Adultos) do MEC, em 2014, certamente
concluirá o ensino médio, na sua terra. E o retrato da
crueza de como a juventude nordestina (dos cocais
Poemas e Poetas timbirenses 143

maranhenses em especial) enfrenta a escolaridade do


país.
O gênio caxiense Antônio, poeta
romântico/nativista e outros brios, deixou um admirável
conjunto de obras literárias produzidas por um incrível
cérebro humano, apesar de tão pouco tempo de atividade
(faleceu com apenas 31 anos de idade). O nosso jovem
Antônio, que edita e vende, de forma caseira, seus
opúsculos “e com um grande sonho, Carlos não quer
ficar só por aí”, diz o seu ainda magro currículo.

Somos assim mesmo. O sopro divino que arejou o


in- telécto do nosso centenário ilustre caxiense, poderá
muito bem (quem sabe) continuar potencializando
prudentemente jovens, aos milhões, que agitam
atualmente o mundo virtual.

O céu se exibe
O céu se exibe porque nele hoje
reflete a luz dos olhos teus. Raios
mais intensos que a própria luz do
sol. A alma de uma mulher que
Deus fez perfeita. Quando te olho
vejo a beleza e a simplicidade de
uma flor. Tua doce beleza cria na
mente de admiradores imagens
que só o Senhor fez, mas só os
apaixonados conseguem ver. A
pureza constante e eterna de um
sorriso exuberante que trás em teu
rosto e que fascina como a lua
cheia no meio do céu
144 Joseh Carlos Araújo & Robson Alvim

numa bela noite estrelada.


Quando sorrir é como se o
mundo parasse nesse
instante. O céu se exibe, mas
quem se destaca é você!

Saudades de Timbiras
(à Luma)
Fui pra bem longe de ti,
deixando-te para trás. A
distância entre nós foi
aumentando e no meu
coração um aperto. Que
vontade de desistir de ir pra
frente e voltar pra ti.
Quando a noite chega e ainda
estou me distanciando mais de
você. Olho pra trás e vejo as
estrelas indicando a tua posição
e a saudade continua me
chamando. Quero voltar! Se
pudesse tocar uma
estrela e mandar por ela um
recado: estou te abraçando daqui.
Essa distância só aumenta a
saudade
e quando eu voltar você vai
estar mais linda do que
estava quando parti. Vou
suportar, te guardando no
meu coração, pois lá
dentro vou te encontrar
Poemas e Poetas timbirenses 145

quando a saudade
começar a falar de você.
Noite de glamour
A noite surge e já vem
a lua se exibindo,
desfilando em teu céu.
Ela entra na passarela
e as estrelas começam
a se agitar.
Elas aplaudem, assoviam,
gritam. E ela vai passando
com todo seu charme
encantando os admiradores
que não param de fotografar.
Noite de glamour. Um
espetáculo todas as noites
sempre quando a lua surge no
céu de um lugar onde a
simplicidade nos convida para
sentar nos bancos das praças,
deitar nas gramas dos jardins e
admirar a beleza que os astros
e estrelas fazem em teu céu, um
show, onde os convidados
somos nós. Uma noite de
glamour e o lugar não poderia
ser outro! e no teu céu Timbiras.
146 Joseh Carlos Araújo & Robson Alvim

Uma criança chora


Nas mãos uma vasilha
vazia e na outra, uma
colher.
Porque ela chorai O que essa
cena quer dizer? Sua mãe a
consola com uma tristeza na
face e sem saber o que fazer.
Uma criança desnutrida e sem
saber o que fazer. Uma criança
desnutrida e sem quase força
pra chorar. O pai está na roça
trabalhando e derramando seu
suor e quando chegar o fim do
dia ele levará o que colheu no
seu dia de trabalho. Uma vida
de sofrimento, lutas e quase
sem esperança. A única razão
de lutar é que um dia ele não
quer mais ver aquela cena — no
fim do dia quando vai chegando
do serviço ver seu filho
chorando coni uma vasilha
vazia e uma colher nas mãos.

Amor e saudade
O amor pergun tou pra saudade!
Saudade, por que te abrigas em mim?
Por que me fazes
sofrer? A saudade
respondeu! Porque
Poemas e Poetas timbirenses 147

na ausência da tua
outra metade eu
quero te completar!
Pois se tu és verdadeiro não
posso deixar de te acompanhar.
Quando tu estás quase
morrendo lembram de mim. Eu
saudade existo para que tu
creças e supere o tempo e a
distância. Compreenda não sou
teu inimigo
E nem te faço sofrer Só
dependemos um do
outro Para sobreviver.

A lua
A lua está no céu?
Não! Ela não está no céu! Ela
dorme nesse exato momento com
a cabeça sobre o seu travesseiro e
tendo lindos sonhos. Dorme lua e
sonhe com os anjos. Nos seus
sonhos eles cantam pra você
músicas que te fazem flutuar e
sentir a magia do amor. Enquanto
dorme em sua cama tem uma
falsa lua ocupando o seu lugar lá
no céu junto às estrelas.
Lua, ao amanhecer quando
acordar e sentir a luz do sol a
te envolver, é alguém te
abrançando e ao mesmo tempo
148 Joseh Carlos Araújo & Robson Alvim

te dizendo Lua... estive em


seus sonhos.
Minha vida é um livro
Minha vida é um livro e você é
um capítulo dela. Pois meu
coração escreveu a história do
nosso amor em páginas
eternas, onde o tempo não
apagará e não fará eu esquecer.
Um capítulo inteiro foi feito de
pequenos e inesquecíveis
momentos, com o passar do
tempo as páginas foram ficando
velhas, mas, já mais
esquecidas. Tudo o que eu
queria era pra sempre te amar e
todos os dias reviver cada
instante escrito nesse capítulo.
Minha vida é um livro que se
resume em um sentimento,
“amor”! E em uma pessoa,
“você”!
20
Osmael Monteiro Araújo

N asceu na Galiléia, zona rural timbirense, filho de


Vicente Pereira Araújo e D. Tereza Monteiro.
Cursou o fundamen- tal na sede Timbiras, nos
colégios José Sarney e Newton Neves, concluindo em
1993. Em seguida, o curso médio, no Complexo
Educacional Edson Lobão, na capital São Luís, três anos
depois. Daí, retornou aos cocais, lecionando o
fundamental no colégio Alberto Abdalla, em 1997, ao
mesmo tempo cursando Letras no PROCAD/UEMA, na
cidade vizinha Codó; graduando-se em 2001.
Concursado, no Município e no Estado, passou a lecionar
a disciplina nos colégios de sua cidade.

Mestre disciplinado com rigor, como poucos, o


nosso professor galileu Osmael (•14/11/1976) também
se encantou com a maestria das letras dos geniais
brasileiros, colecionando, a partir de 2001, uma centena
de poemas líricos, românticos e assistenciais, versando o
cotidiano regional.

Apenas
Como dois e dois é pouco
Sei que minha loucura vale a pena
Embora o sim seja outro
A solidão não me condena
Como dois e dois é louco
Poemas e Poetas timbirenses 151

Sei que o outro vale a pena


Embora o não seja torto
Voz levando meu dilema

Como dois e dois é torto


Sei que o louco sabe a pena
Embora o talvez seja pouco
E a liberdade pequena

Como dois e dois não batem


A solidão já me condena
Embora o amor seja caro
Vou amando sem
problema.

Como dois e dois não são


quatro Sei que essa luta vale
apena!

Calação
Com o coração calado
Vou vendo a vida passar
Com emoções congeladas
Que pararam de respirar.

Com o coração calado


Vou vendo a brisa ventar
Carregada de saudade
Que não para de brotar.

Com o coração calado


Vou vendo o rio pro mar
Levando lágrimas de amor
Que não param de chorar.
Com o coração calado
Vou vendo a Lua baixar
Refletindo um céu estrelado
Meus olhos começam fechar.

Com o coração calado


Vejo a vida acabar
Porque amor como o teu
Nunca mais vou
encontrar...

Lembranças
Dias da minha infância
Quanta alegria! Tanta esperança
Um olhar doce para o mundo
Pessoas indo e voltando
Sem pressa alguma de ser feliz

A vida ia acontecendo Certas


coisas não tinham sequer
importância
Dias de minha infância...
As ruas de pedra tinham coração
Pessoas é que não têm
Os rios tinham água
Pra gente beber e sonhar Hoje,
tristemente, chora lágrimas de sol

Minha infância...
Infância de mundos
Poemas e Poetas timbirenses 153

Infinitas da infância
Inocência era uma ponte de felicidade
Só restou a ponte quebrada da solidão
Felicidade quebrou o pacto e foi embora
154 Joseh Carlos Araújo & Robson Alvim

Pontão! Itapecuru! Meu rio!


Onde andas tu?
Que mal te fizeram?

Vai passando um relógio


parado No teu leito de morte!
E ninguém sabe que horas são!...

Cemitério das horas


Igreja Matriz
Cada segundo vai morrendo dentro de
mim!
Pardais no altar
E nos meus sonhos de criança

Ruas de minha infância


Santarém...
Santarém....

21
Maria Ilzamar da Silva Araújo

A s cicatrizes na alma da jovem Ilzamar durante a


longa edura jornada pela sobrevida, têm
equivalência com A luta de
Jovina, saga ocorrida na década de 1970, parte
final de Vento Leste dos Cocais, primeiro ensaio deste
autor, de 2003.
A presente coletânea tem por mérito iniciar a
retirada do véu do anonimato da juventude dos cocais,
estigmatizada em sua quase inteligível comunicabilidade
— sentida com leveza por Denis Diderot 15. Ranço provável
Poemas e Poetas timbirenses 155

da incultura imposta ao povo, reinante ainda hoje, entre


as dadivosas palmeiras.
A história da jovem timbirense é comovente,
convincente e bonita. Melhor ainda versada em poemas,
com poderes mágicos do reino encantado para
transformá-la, digamos, de desprezível gata borralheira
na princesa preferida do disputado príncipe. Pode ser
vista assim, como um conto de fadas.
Bem, atualmente a balzaquiana Ilzamar
(*19/12/1969) começou a receber os louros da incrível
resiliência por um lugar digno na sociedade brasileira -
sonha ser advogada. Concluiu o ensino fundamental no
EJA do colégio Alberto Abdalla, e em seguida obteve nota
acima da média (457,2 pontos) no ENEM

Filósofo e escritor do iluminismo francês e influente pensador do século dezoito.


(15)

Acerca dos sentidos, ele sentenciou: o mais superficial é a vista; o mais orgulhoso,
o ouvido; o mais voluptuoso, o olfato; o mais supersticioso e inconstante, o gosto;
e o tato, o mais profundo. (Referência: ARAÚJO, Joseh Carlos. Crônicas dos
Cocais. Imperatriz (MA): Ética, 2013, p.l 13).

2014. Com meia centena de inspirados poemas no seu


album de memórias, está feliz, leve e bela, e pronta para
a vida. Ela pode ser considerada um farol para os
guardiões das letras timbirenses.

Santarém
Um antigo riachinho
No centro de Timbiras
Uma velha pontezinha
Um pequeno matagal
156 Joseh Carlos Araújo & Robson Alvim

Atrás de casas e muros


Atravessando quintal!

Fazendo longo trajeto


Em meio à natureza
Abriga em sua margem
Pequenos animais
Que vivem ali felizes
Ouvindo o som dos
pardais!

Quando passo por lá


Bem à tardinha
Vejo você chorar
Uma vertente
fininha Sempre a
navegar!

Navega devagarzinho
Se despedindo de mim
Como se fosse um amigo
Se afastando assim!

Vejo suas ondinhas


Entre pedras e gravetos
Fazendo belas curvinhas
Vai fugindo ao longe
Dançando uma valsinha!
Dançando como princesa
Ingênua e pura inocência
Suporta toda sujeira De
quem não tem paciência!

Se toda a população
Amasse a natureza
Poemas e Poetas timbirenses 157

Uma só
conscientização Pra
não fazer de ti Um
grande lixão!

Lixo em quantidade
Jogado no teu leito
Se todos fossem mudar
Ainda teria jeito!

Queria um dia ver


Suas águas cristalinas
Como um amanhecer
Seria maravilhoso
Todos amarem você!

Um cartão postal
Uma bela homenagem
Foi com muito prazer
E alegria também
Que escrevi pra você
Riacho Santarém!

Timbiras
Quando olho pra você
Fico muito magoada
Tanta gente no
poder E você
abandonada!
Nossa cidade esquecida
Está muito mal cuidada
Governo não faz nada
População revoltada!
158 Joseh Carlos Araújo & Robson Alvim

Seria maravilhoso
A atenção do poder
O povo muito orgulhoso
Vivendo com prazer!

Cidade maravilhosa
De velha e do novo
Com muito carinho
Acolhe teu povo!

Teu lindo anoitecer


Deixa-me orgulhosa
Pelo teu amanhecer
Fico muito ansiosa!

Sua própria natureza


Na chegada da aurora
Com muita beleza
Vamos ver agora!

Uma grande orquestra


Que emociona mais
Que linda festa De
milhares de pardais!

Todos comemorando
Com muita alegria
A noite terminando
Chegando novo dia!
Uma grande cantoria
No despedir da aurora
Uma bela melodia Que
termina às sete horas!
Poemas e Poetas timbirenses 159

Tem riacho rio e prainha


Dos amores E dos
cocais Onde o povo
gosta mais!

No domingo à tardinha
Que lindo pôr-do-
sol Para você
rainha Uma flor de
girassol!

Quero te agradecer
Por esta inspiração
Escrevi pra você
Com muita
emoção!

Queria me descidpar
A ninguém quis ofender
Gosto muito de estudar
Meu lazer é escrever!

Sou Maria Ilzamar


Timbiras minha cidade
Um dia vou transformar
Meu sonho em
realidade!

Será Amor
Esse meu coração
Com esse seu sentimento, Está tirando
meu sossego E deixando sofrimento.
160 Joseh Carlos Araújo & Robson Alvim

Quando te conheci
Pra mim vinha trazendo
A lua no céu estrelado,
O coração me dizendo
Que era o meu amado!

Será amor,
Será paixão, Estou
sentindo uma dor
Dentro do meu
coração!

Esse meu coração


Quando lembra de você,
Esquece até de mim
No primeiro
amanhecer.

Mas me sinto feliz


E espero anoitecer,
Olhando o céu azulado,
Eu quero adormecer E
sonhar com meu
amado!

Será amor,
Será paixão, Estou
sentindo uma dor
Dentro do meu
coração!

Filho
Era minha alegria
Poemas e Poetas timbirenses 161

Minha razão de viver,


O que eu mais queria
Era te conhecer.

Fazer sorrir meu menino,


Cantar pra você dormir,
Segurar na sua mão
E não lhe deixar cair!

Filho que tanto amei


Diante do amor
materno, Maior que
todo universo E o amor
do pai eterno!

Filho quando veio aqui


Na hora que foi embora,
Para ver você partir

Foi triste àquela hora.


Foi o meu sonho de mãe
Que não se realizou,
E o Senhor Jesus
Cristo O meu anjinho
levou!

Filho que tanto amei


Diante do amor
materno, Maior que
todo universo E o amor
do Pai eterno!
162 Joseh Carlos Araújo & Robson Alvim

Meu Deus
A gente se acostuma
A viver dessa migalha,
Veja quanta Pobreza
Que pelo mundo se espalha!
Quanta fome
Nessa terra,
Quantas mortes
Quanta guerra!

Quantos bens
Quanta desigualdade,
Quantas não têm
Quanta maldade!

O pobre homem corcunda


Carregando seu bagulho,
Jogando a própria sorte
Sobrevive no entulho!

Até o mais inocente


Num pedacinho de
chão, Mas ainda
incomoda A quem não
tem coração!

Um ser muito sofrido


Vivendo nesse sertão
Foi bonito foi robusto
Hoje não vale um tostão!

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