VISÍVEIS
2006
RESUMO
LISTA DE SIGLAS
INTRODUÇÃO
O presente estudo problematiza o tema da (in) visibilidade das
necessidades sociais em saúde da população quilombola da Vila Padre
Osmari do município de Colorado/RS, no ano de 2006, frente à Política
Municipal de Saúde a fim de contribuir para a efetivação de uma política
voltada aos princípios da integralidade e territorialidade.
O lixo é recolhido, desde 1998, três vezes por semana, apenas na rua
principal desta Vila. Porém, nem todas as famílias têm acesso e sendo assim,
dificulta o hábito de colocá-lo para a coleta, jogando-o no fundo de quintal o
que implica num processo que demanda educação em saúde, bem como a
ampliação da coleta do lixo em todas as ruas da vila. Todas as casas possuem
energia elétrica, de forma legal ou por ligações clandestinas, assim como o
abastecimento da água é feito pela rede da Companhia Rio Grandense de
Saneamento – CORSAN. Atualmente o que está acontecendo é que pela falta
de oportunidade e condições de geração de renda para estes moradores
(agravado pela estiagem que assolou quase todo o Rio Grande no ano de
2004 e pelos baixos preços dos produtos agrícolas), existe um grande número
de residências com a luz e água cortadas pela falta de pagamento (PMAS,
2006-2009).
Outro dado muito importante quanto à análise dos planos e que reforça
a tese da invisibilidade da população quilombola para a política de saúde
refere-se aos objetivos da gestão, expressos através do seguinte:
[...] por acreditar que “tudo começa por nossa gente, quem
são, o que pensam, como vivem e quais suas necessidades
reais”, construímos um Plano Municipal de Saúde que
contempla esta forma de viver e encarar os saberes e
fazeres de todos: comunidade, profissionais, governo
municipal, estadual e federal; [...] promovendo a
investigação pedagógica nas prioridades estabelecidas,
diagnosticando, prevenindo, controlando avaliando e
curando quando for necessário com vistas a atender toda a
população coloradense de diferentes faixas etárias (PMS,
2001- 2005, p. 8).
Por fim, estas evidências poderão contribuir para dar maior visibilidade
à problemática, para o subsídio da política de saúde dirigida a este segmento
populacional e para o desenvolvimento de processos sociais, como mais uma
forma de resistência. Há o compromisso de devolver os resultados, inferências
e sugestões produzidas às instituições que prestam atendimento na área da
saúde à população quilombola, através de uma exposição previamente
acordada com as mesmas. Mas, principalmente para a população quilombola,
pois a pesquisa deve ter como intencionalidade contribuir para a
transformação social e potencializar este segmento a lutar pela materialização
dos seus direitos.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
ANDRADE, Selma Maffei de. et. al. Bases da Saúde Coletiva. Londrina: Ed.
UEL, 2001.
COHN, Amélia et al. A Saúde como direito e como serviço. 2. ed. São
Paulo: Cortez, 1999.
FASSINI, Lauro. Colorado seu povo, sua história. Colorado: Gráfica Sanini,
1987.
SCHMIDT, Mário Furley. Nova história crítica do Brasil. São Paulo: Nova
Geração, 1997.
[1] Os dados mencionados sobre a existência de escravos no Rio Grande do Sul foram registrados
durante a participação na I Conferência Municipal da Comunidade Negra em Cruz Alta/RS em
10/11/2001 – IX Pré Conferência Estadual da Comunidade Negra – 2001 – Ano Internacional da
Mobilização contra o racismo, a discriminação racial, a xenofobia e as formas conexas de intolerância.
[2] Conceito considerado central na produção do Serviço Social definido, a partir da perspectiva
marxista, como: produto e expressão da contradição fundamental entre capital e trabalho historicamente
problematizada (PEREIRA, 2004). Esta concepção que articula a herança escravocrata brasileira ao
sistema capitalista estruturado no país será aprofundada no tópico a seguir, no sentido de contextualizar
as expressões da questão social vivenciada pela população negra num país que tem uma herança
histórica marcada pela exclusão.
[3] Esta exposição foi originalmente apresentada no Seminário Exclusão Social, realizado na PUC/PS,
em 23/04/1998.
[4] Cerca de 16 mil pessoas de 173 países participaram do debate político desta conferência, que teve
como slogan “Unidos para combater o racismo: igualdade, justiça e dignidade”. Do Brasil, estiveram
presentes 500pessoas, entre representantes do governo, dos movimentos sociais (em especial o negro e
o de mulheres negras), organizações não governamentais, partidos políticos e sindicatos (BRASIL SEM
RACISMO, 2002) .
[5] Este estatuto é de autoria do Deputado Federal Paulo Paim, hoje Senador, um negro militante em
defesa das questões afro-descendentes.
[6] O conceito de eqüidade é concebido como o reconhecimento e a efetivação, com igualdade, dos
direitos da população, sem restringir o acesso a eles nem estigmatizar as diferenças que conformam os
diversos segmentos que a compõem. Assim, eqüidade é entendida como possibilidade das diferenças
serem manifestadas e respeitadas, sem discriminação; condição que favoreça o combate das práticas de
subordinação ou de preconceito em relação às diferenças de gênero, políticas, étnicas, religiosas,
culturais, de minorias e outras. (POCHMANN ; AMORIN, 2003, p. 36).
[7] Expressão utilizada por Carvalho (2005) para designar os indivíduos que residem no quilombo.
[8] Este sistema baseava-se no atendimento focalizado às populações vulneráveis através do pacote
básico para a saúde, ampliação da privatização, estímulo ao seguro privado, descentralização dos
serviços em nível local, eliminação da vinculação de fonte com relação ao financiamento (COSTA, 1996).
[9] Para Testa, diagnóstico é a caracterização de uma situação e assim, o diagnóstico estratégico deve
nos indicar quais são as mudanças necessárias, quais são as mudanças possíveis e como está
conformado o poder no que diz respeito ao setor saúde (Testa in Rivera, 1989, p.67).
[10] As necessidades de saúde pode ser a busca de algum tipo de resposta para as más condições de
vida que a pessoa viveu ou está vivendo (do desemprego à violência no lar), a procura de um vínculo (a)
efetivo com algum profissional, a necessidade de ter maior autonomia no modo de andar a vida ou,
mesmo de ter acesso a alguma tecnologia de saúde disponível, capaz de melhorar e prolongar sua vida
(PINHEIRO ; MATTOS, 2001, p.116).
[11] A Atenção Primária a Saúde são os cuidados essenciais de saúde baseados em métodos e
tecnologias práticas, cientificamente bem fundamentadas e socialmente aceitáveis, colocadas as alcance
universal de indivíduos e famílias da comunidade. Os cuidados de saúde são levados o mais próximo
possível dos lugares onde as pessoas vivem e trabalham e constituem o primeiro elemento de um
continuado processo de assistência à saúde (DECLARAÇÃO DE ALMA-ATA, 1978).
[12] Em 1998, o Ministério da Saúde instituiu o “Projeto Promoção da Saúde” que procura reorientar o
enfoque das ações e serviços de saúde baseada nos princípios de solidariedade, eqüidade, ética e
cidadania, e advogar por uma dinâmica de atuação que esteja sintonizada com a defesa da qualidade de
vida do cidadão brasileiro, potencializando as ações desenvolvidas pelo setor de saúde e a busca pela
realização do homem como sujeito de sua própria história (FIGUEIREDO, 2005, p. 273).
[13] A rede social é entendida como um conjunto articulado e organizado de programas, projetos e
serviços, formando um sistema planejado de proteção social à população usuária das políticas sociais
(SILVA, 2004, p. 28).