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Paul E.

Louejoy

s c r a v i d á ºn a _ : -
Ae
> Africa:ia de suas
Uma histór
transformagóe5

TRADUCÁO DE
Regina A. R. F. Blaering e
Luiz Guilherme B. Chaves

CIVILIZAGÁO BRASILEIKA

Río de Janeiro
2002

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A ESCRAVIDÁO COMO MODO DE PRODUCAO

Ao analisar o papel da escravidao na economia política da_ África antes de 1900,


apliquei um número de conceitos (incluindo modo de produgao”, “forma_gáo
social” e “transformagáo”) de modo & examina: a expansáo dá_escravidád-pro—
dutiva. Essa énfase traz consigo as contribuigóes dos teóricos marxistas,1 princi— _ _
palmente aqueles que exploraram os diferentes modos-de produgáoi%_Enqúánto .
vários estudiosos reconheceram & importáncía da escravidáo para & ecoribmia
política, apenas alguns afirmaram que á escravidao assumiu _um papel cruelal '
Em primeiro lugar entre eles está E. Terray.3
De acordo com Terray,“ uma formagao social _náo pode ser compxeendid_a se ”'
náo comegamos com uma análise das relag6es de'produgáo que 550 a. sua base—”,4 º"
e para Gyaman, e na verdade para Axant_e como um todo, Terray estabelec_e“a
decisiva importáncia da exploragáo de cativos no funcionamento da formagao
social”.5

Nós tentamos trazer ¿¡ luz a existéncia de: uma formag_áo social abren:com um '
modo de produgáo baseado na escravidáo, que organiza uma parte considerável : --' '
do trabalho em trés setores esse_nciais da economia; agricultura, mineragáo_de _ _. … v
ouro e transporte [portage]. Mas deve—se imediatamente salienta__r que esse modo
de produgáo contém características específicas relativas vá reprodugáo das___rela- . …
góes sociais que a constituem. Nós já aludimos a essas peculiaridades, que podem
ser resumidas da seguinte forma: nao há reprodugao natural ou biologica da "
populaeao cativa.6

Esse último ponto é crucial para o modelo de Terray. A incapagidade_d_a for__r__na- '
950 social—de manter—se a si própria sem a aquisigáo de noves escravos ilustra .
uma das características ess'enciais do modo. de produgáo escrav_ista, a necessida-

2/12 .395- .
¡::A “E'-s'C'RAVIÚÁ'0 NA" ÁFR|CAE"UMA Hl$Tók|A-DE 'SUAS TRANSF'OR'MA(;055:

. ¡de da contínua escravizacáo e das razias em busca de escravos de modo a man-


" .lter'aordem social e a base económica do Estado.
0 conceito de fºmód0 de produgáo”, por conseguinte, envolve urna interagáo
_ Ícomple'xa entre economia, sociedade e estado de uma forma que reproduz essas
, relagóes.7 Os ingredientes essenciais incluem a predomináncia da máo—cle—obra
.“. , escrava em setores essenciais da economía, o desenvolvimento das relagóes de
_1' classe .baseadas em'serem os escravos relegados ao fundo da ordem social,. e a
“ consolidaqáo de uma2infra—estrutura política e comercial que possa manter essas
formas de exploragáo. Os escravos nio precisam predominar em todos os seto-
res da económia, mas precisam estar envolvidos na produgáo, independente de
Í…OUtrasfungóes que eles também*possam desémpenhar. Os" proprietáríos de 'escra- ¿
'. vos podem ter multas fontes de renda, mas uma parcela substancial deve derivar , _
das atividadés 'rela¿íonadas com a escravizat;áo, o trafico de escravos e a apro-i_ …'
— priagao do produto do trabalho escravo. Quando essas ativídades sao importan- '
tes para a eConomia política, entao outrás relacóes, como aquelas baseadas no; “
- parentesco, no tributo',_ na taxágao-¡: no saque, sao geralmente afetadas e podem-¡ '
se tornar dependentes de relagóes associadas a escravidáo. Por exemplo, as estru- Í,»
' turas de parentesco entre camponeses livres podiam ficar mais fortes como resul-
tado do perigo dos ataques em busca de escravos. Os pagamcntos de tributo e a
taxagáo. tornaram—s—emultas vezes alternativasa escravizagáo, e o poder.do
Estado podia ser usado para punir aqueles que fracassassem em manter tais_ rela—
' …—Ícoes de subofdinagao.
"' Este estudo adotou a fórmulagao de Terray da seguinte forma: ele conside-
" ¿“ fou onde e quando a escravidao era um aspecto fundamental da formagáo social
'» de diferentes sociedades africanas. Como uma construcáo teórica, um modo de
pr'odugáo escravista predominava sempre que a escravídáo era crucial para o
_ 1 processo prodútívo em geral ou para algum setor da economia, principalmente
" “se esse setor esrivesse ligado a exporta9ao. Muitas vezes essa condicao envolvía
' a eXploragao do trabalho escrav'o em larga esc'ala, em plantation's“, em minas e na
' 'pt'o'dugao Ou coleta£dé produtos silvestres. Cada __uma dessas situacoés envolvía
gdíferengas cónsideráveis na organizagáo da produgáo. Caracterizá-las sob um
. '— rótulo conceitúal comum é “enfatizar 3. baile da divisáo social do trabalho, e náo
' " “o'_"grau do desenvolvithento"do mercado na economia. 0 cultivo de produtos
_ agrícolas sob as condicóes da plantation algumas vezes refletia um grande" desen-
» ' Vólviménto de mercado e outras vezes náo. A produgáo podía ser utilizada para
“alimentar exércitos e palácios ou podia ser exportada. O baixo nivel tecnológico
significavá que havia relativamente pouco investimento em capital ou na melho-

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ria da terra, embora ambas as formas de investimento pudessem ocorrer, como


em Madagascar (obras hidráulicas) ou Zanzibar (árvores de cravo—da—índia). A
minera;áo do ouro, como em Axante ou Buré, podia envolver uma orientacáo de
mercado ainda mais forte do que as lavouras. Havia algum investimento em
perfuragáo de minas, e assim a producáó requería algum insumo além do traba—
lho dos escravos. Nao obstante, como a tecnologia era relativamente simples,
esse investimento era praticamente destruído pelas chuvas todos 05 anos, de
modo que a máo—de—obra ainda era a variável-chave. A coleta de produtos silves-
tres, como goma arábica, cera de abelhas_e borracha, era ainda mais trábalhosa.
A nao ser pelas ferramentas muito rudimentares, nio havia investimento para
manter ou aumentar a produgáo. Em todas as trés situagóes, portanto, o aspec—
to crucial da produgáo era a coordenaqio do trabalho de modo a explorar os
recursos económicos. A mio—de—obra era quase o único recurso que podia ser
mobilizado para determinar a produg50.
A escravidáo era uma alternativa eficaz a outras formas de trabalho organi—
zado, e dessa forma, quando a escravidáo era crucial para o processo produtivo,
podemos distinguir um modo de produ<;áo escravista de outros modos de produ—
cáo. A extragáo do tributo dos 'camponeses'livres, a coordenac'alo do trabalho
com base no parentesco, a produgáo de camponeses independentes em resposta
ao desenvolvimento limitado do mercado,¿odesenvolvimento de um grupo de
trabalho através de servidáo de divida e outros meios de produgáo existiam jun"
tamente com a escravidáo. A identificacádde'um modo de producéo escravista
nio diminui a importáncia desses métodóáfdé organizac;áo do trabalho, mas
estabelece corretamente a parcela dinámicada economia política no período de
1000 a 1900. ' Í
Uma ampla perspectiva histórica e geográfica permite uma identificagáo dos
dois pré—requisitos de um modo de producáo escravista. Em primeiro lugar, um
modo de producáo escravista requería instrumentos de escravizagáo, e esses
tinham que ser institucionalizados no nivel político. Ao mesmo tempo que guer-
ras específicas podem nio ter tido o único propósito de adquirir escravos, a
escravizagáo de prisioneiros tinha que se tornar um destino aceitável, na verda—
de provável, para os cativos. O resgate de prisioneiros e as justificativas elabora—
das para determinar quem podia e nao podia ser escravizado serviam apenas
para demonstrar que tais ajustes aconteciam relativamente cedo onde quer que a
exportagáo de escravos fosse possível, e na verdade também em outros lugares.
Os métodos legais, religiosos e económicos de escravizagáo, apesar de variados,
apenas acentuavam ainda mais a institucionalizacáo da escravizagáo. Em segun-

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do lugar, a distribuigáo dos escravos, principalmente pelo comércio, também


tinha que alcancar um nivel comparável de organizacáo. Os escravos podiam ser
dispersos como tributo ou presa de guerra, mas o mecanismo de mercado era
mais importante nesse aspecto da escravidáo. Aqueles que controlavam esses
mecanismos de oferta e distribuicáo invariaveimente eram os que se beneficia-
vam da escravidáo como uma instituicáo. A sua posicáo económica e política era
baseada no controle dos “meios de destruicáo”, para empregar a terminología
de Jack Goody, e dos mecanismos de intercámbio comercial.8
A escravizagáo e () tráfico de escravos eram essenciais porque as populacóes
escravas nio se reproduziam por si mesmas. Os dados a respeito dessa falha_
demográfica sáo mais claros a partir do século XIX, mas é provável que, onde
quer que a escravidáo fosse a base de um modo de producáo, um influxo contí-
nuo de novos escravos tinha que ser mantido. A obra de Morton sobre a costa
da África Oriental, por exemplo, demonstra que a mortalidade dos escravos che—
gava a 20 por cento em Perhba (1883), 10- 12 por cento em Zanzibar (1883) e 10 1
por cento em Meiinde (1873). Ele estima que a mórtalidade era provavelmente
mais alta na década de 1850.9 Apesar de outros fatores importantes, as familias
de escravos parecem ter relutado em ter .fi1ho$._ Harms tira conclusóes semelhan-
tes a réspeito dos bobangis do rio Zaire, as-pessóas nao queriam fiihos, em par—
te porque isso limitava a mobiiidade e em parte porque era mais barato e mais
fácil comprar criancas. A populacao bobangi, portante, era uma populagáo
demograficétmente instável.1º Padróes comparáveis sao evidentes em
Madagascar, no Sudao Ocidental e em outros lugares. A 'mcorporacao de mulhe-
res por-meio do casamento e do concubinato (cujos filhos eram considerados
iivres) é responsávei pela necessidade de adquirir novos escravos até certo pon-
to, mas, como afirmou Meillassoux, mesmo quando os filhos livres de mulheres
escravas eram levados em consideracáo, a taxa de natalidade era muito baixa.11
A escravidáo simplesmente nio era uma instituigáo auto-suficiente por intermé—
dio da reproducáo biológica.
O comércio exterior era um fator essencial dessa infra-estrutura. Nem todos
os escravos eram capturados com fins de exportacáo. No entanto, era necessário
que os escravos fossem deslocados para uma distáncia considerável do seu local
de escravizacáo. Aqui havia um fator de “empurráo” na economia que alimen—
tava o setor de exportacáo. Quer 0 mercado externo desse ou náo um “puxáo”
por escravos, havia uma forga nativa que movimentava os cativos. Quando a
demanda externa influenciava () prego, ent'aío era apenas lógico que os dois fato-
res pudessem ref0tgar o fluxo de escravos da África. Quando a ligagáo com o

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A ESCRAVIDÁO N A ECONOMIA POLÍTICA D A ÁFRICA

mercado externo ficou estabelecida, e na verdade enquanto ela continuou a se


expandir, a economia política invariavelmente tornou-se mais íntimamente liga—
da ao Cºmércio de exportagáo. A mesma lógica sugere que o colapso do merca—
do externo teria efeitos igualmente profundos sobre o sistema escravocrata inter-
no, como na verdade foi mostrado nos capítulos anteriores.
Em linhas gerais, esse comércio externo incluía tanto a exportacáo de escra—
vos para os países mugulmanosqq forajda'África negra quanto o embarque de
escravos através do Atlántico para as Américas. Na verdade, o desenvolvimento
do cométcio transatlántico produziu mudangas na economia política da costa da
Guiné, e a história da escravidao nas diferentes regi6es da costa só pode ser com—
preendi_da no contexto do comércio externo. As instituicoes nativas desen—
volveram-se ou se modificaram de modo a acomodar esse comércio, e o resulta—
do _foi a evolucáo de sistemas escravocratas característicos que variavam tanto
uns dos outros quanto diferiam do tipo de escravidao que predominava nas
regi6es muculmanas.
O'" reco_nhécimento da importáncia do mercado externo de escravos permite
uma Ianálise mais completa da escravidáodurante o período em que as forgas da
abolicáo comegaram a afetar a natureza da'instituicáo. O movimento abolicioms—
ta acentuou o impacto crucial do mercado externo as avessas. O colapso desse
mercado e _a extensáo das doutrinas abolicionistas representavam um sério desa—
fío ás _forina_cóes sociais nas quais a escravidáo era una instituigáo importante. 0
impacto variava, e a forma da mudanca diferia consideravelmente, como foi mos-
trado nos capítulos anteriores. No entanto, a transicáo de um modo de produgáo
escravi_sta para o capitalismo envolveu mudancas estruturais fimdamentais na
formaeao social. 0 reconhecimento de que a natureza dessa transicao envolveu a
transieao de uma economia política baseada na escravidao para uma na quala
escravidáo perdia a importáncía teve um significado teórico considerável, bem
- como precisáo empírica. A fuga em massa dos escravos, a conciliagao com os pro-
prietarios de escravos e a relutáncia do regime colonial a estimular a aboligáo até
que a economía capitalista pudesse absorver a mao—de obra liberta pela emanci-
pagao comprovam esse significado. ” '
A associacao da escravidáo com o comercio externo distingue claramente a
minha interpretacao daquela de muitos estudiosos que afirtnam que o set0t de
exporta<;ao teve um impacto marginal sobre a sociedáde e & economia africa—_
nas.12 A ameaca da venda para comerciantes associados ao comércio de expor—
taeáo era táo importante no controle dos escravos quanto o medo das chibatadas
nas plantations das Américas. A interagáo entre o comércio externo e & institui—

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;áo nativa era uma relacáo dialética. Ambos mudaram com o tempo, e as influen—
:ias dessas mudangas fluíam para os dois lados, constantemente produzindo uma
nova situagáo nas duas esferas. Os efeítos a longo prazo podiam ser realmente
significativos, como revela uma comparagáo entre a África Centro—Ocidental e a
;avana islámica. Onde as mulheres e criangas podiam ser absorvidas facilmente,
:omo nas sociedades da África Centro—Ocidental, a escravidáo continuou asso—
:iada a um modo de produgáo baseado no parentesco. Os homens eram exporta-
dos em quantidades desproporcionais, e as mulheres e criangas eram colocadas
em posigóes subordinadas dentro de uma linhagem. Os meios de producáo nao
estavam especificamente associados & escravidáo, pois de qualquer forma a
maior parte do trabalho agrícola era de responsabilidade de mulheres e criancas.
Na savana setentrional, ao contrário, 0 mercado externo era para mulheres e
criangas, apesar de uma preferéncia interna exatamente por esses mesmos escra-
vos. Diferentemente da África Centro—Ocidental, 0 mercado interno e 0 mercado
externo competiam pelos mesmos escravos, e o valor dos cativos do sexo mascu-
lino era, conseqííentemente, depreciado. Era possível, nesse contexto, empregar
os escravos do sexo masculino em atividades produtívas, mudando assim a orga-
nizacáo da produgáo. Outta importante diferenga diretamente relacionada com
o comércio externo era o volume das exportagóes, geralmente de um nivel regu—
lar e relativamente modesto na savana setentrional, mas de um volume mais
substancial na África Centro—Ocidental, principalmente no século XVIII e inicio
do século XIX. Essa variagao sugere que o padráo de escravidáo encontrado na
África Centro—Ocidental era reforgado e estendido mais para o interior, de modo
que a utilizacáo de escravos em funcóes produtivas que requeriam uma mudañca
fundamental na formagáo social nio ocorria. Durante esse mesmo período, a
savana setentrional estava relativamente estável; a forma<;áo social existente con—
tinuava a funcionar como vinha funcionando há séculos.
Essas generalizaeóes ajudam a confirmar o importante papel do comércio
exterior, incluindo o significado do volume de exportagóes, o vínculo com as ins-
tituigóes da escravizagáo e de tráfico e as associagóes positivas e negativas de
comércio com a fragmentagáo política da África. 0 volume ajuda a estabelecer a
escala da escravidáo no setor interno, bem como o número de pessoas efetiva-
mente levadas da África —— tanto a populacáo doméstica quanto a pópulacáo de
exportacáo resultavam dos mesmos mecanismos de oferta de escravos. Essa cor—
relacáo era característica do modo de producáo escravo ao longo da costa da
Guiné e de outras áreas que abasteciam () comércio transatlántico no século
XVIII e primeira metade do século XIX, mas a existéncia do mercado de expor—

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A ESCRAV1DÁO NA ECONOMíA POLíT¡CA DA ÁFRICA

tag50 náo era necessária para um funcionamento continuo de um modo cie pro—
dugáo escravista, mesmo que o aumento das exportagóes de escravos tenha con—
tribuido para a transforma;áo da escravidáo.

A TRANSFORMACÁO DA ESCRAV!DÁO

A escravidáo foi transformada na Áfric&_ com referencia & distincáo crucial de


Finley examinada no Capítulo 1,13 quando a escravidáo passou a ser um compo—
nente importante da producáo, principalmente da agricultura. A visáo de Finley
se'ajusta facilmente & tese de Terray sobre um modo de producáo escravista, pois
Terray“ também enfatiza o papel dos escravos no processo produtivo. Eu expandi
a noeáo de Finley, assim como trabalhei com o modelo de Terray. As transforma—
c6e's foram multas, e muitas vezes envolviam mudangas que afetavam a producáo
no sentido estrito que Finley pretendia. As origens e o desenvolvimento de vários
sistemas de plantati0n, a utilizacáo dos escravos na mineracáo e nos oficios
mañúais'e o emprego de escravos na criacáo de animais sáo, todas elas, manifes—_
tai;5es dessa transformacáo da“escravidáo em um instrumento de producéº.
Finley realmente identificou nm elemento crucial na reconstrucáo cla escravidáo
náhistória africana. A escfaizidáo foi transformada, e surgiram as sociedades
esc:ravocratas. En me referia essa transformacáo em termos do desenvolvimento
de uma formagáo social que incorpdrava um modo de producáo escravista.
As transformac6es na escravidáo foram mais complexas do que aquela
essencial identificada por Finley, e o significado teórico desse conceito e' particu—
larmente útil na distincio entre os vários tipos de mudancas que 0correram na
história da escravidáo na África. A énfase nas transformacóes ajuda a identificar
fatores importantes na evolucáo da escravidáo, incluindo mudancas no mercado
externo, reacóes diferentes ao mercado de e>iportagáo e determinados ajustes na
disponibilidade dos escravos para as tarefas domésticas. A escravidáo podia ser
transformada em uma instituigáo produtiva, mas & própria formacáo social
podia ser transformada de diferentes maneiras em conjuncáo com () desenvolvi—
mento da escravidáo.
Para refletir sobre essas transformacóes, é necessário distinguir mais uma
vez os trés setores do sistema escravocrata africano: () processo de escravizacáo,
o mecanismo de distribuicáo dos escravos e o papel dos escravos na formagáo
social. A história da escravidáo na África revela transformac6es em cada um des-

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A ESCRAV!DÁO NA ÁFR¡CA: UMA H!STÓRIA DE SUAS TRANSFORMACÓES

ses setores, algumas vezes individualmente e outras em combinar;áo. Essas dife—


rengas tornam—se mais claras quando várias regióes da África 5510 comparadas.
Na África Centro—Ocidental, as instituic6es da escravizacáo e do tráfico desen-
volveram o que resultou em mudangas fundamentais na estrutura da economia
política. A regiáo tornou—se uma fonte de abastecimento para o comércio transa—
tlántico, apesar do faro de a escravidáo náo ter sido transformada em uma insti—
tuicáo produtiva. Os escravos eram utilizados na produgáo, mas as suas tarefas
estavam mais relacionadas com a divisáo sexual do trabalho que caracterizaVa a
divisáo de trabalho entre membros da linhagem — isto é, as mulheres de qual—
quer maneira, faziam a maior parte do trabalho agrícola; assim ¿ aquieigñó de
mulheres permitia aos homens combinar os seus desejos de máo—de—obra, acesso
sexual e filhos. A escravidáo nio era essencial para a producáo, de moddquelo '
tipo de transformagáo que Finley identifica como crucial no desenvolvimento-“de '
' uma sociedade escravocrata náo acontecen. No entanto, a escravidáo era central…
para a formagao social. Os escravos eram um item de exportacao,e a escravíza—'
gao era um meio de controle social em um sistema político baseado em rela'c6es
tributarias entre uma elite militar e linhagens dependentes Dentro desse sistema,
a escravidao preenchia uma variedade de fung6es, iticluindo o alistamento mili—
tar compulsório, o carregamento no comércio a longa distáncia, o casamento e
os sacrificios em funerais. A ausencia de transforniagao no processo produtivo
nao esconde a transformagao na escravizacao e no tráfico. Aquí o modo de pro—
dueño dominante estava baseado na extragáo de tributos, muitas vezes na forma
de escravos. A cobranca de tributos envolvendo escravos era também predomi-
nante ao longo da costa da África Ocidental e na savana setentríonal, mas lá a
escravidáo assumia também uma dimensáo produtiva.
Ao longo cio rio Zaire e no delta do Níger, a transformacáo mais significati—
va ocorreu na relacáo entre a escravidáo e a infra-estrutura comercial. Os escra-
vos eram incorporados ás firmas de comerciantes, e as atividades relacionadas
com a escravizagáo e a producáo eram geralmente de importáncia secundáría. A
transformacáo incompleta da escravidáo estava também ligada a exportagáo de
escravos. Novamente houve uma mudamca estrutural na e'scravidáo, apesar da
relativa auséncia de escravos na producáo. Nessas situa96es comerciais, os escra-
vos eram novamente cruciais para a formacáo social, já que a incorporacáo de
cativos era essencial para o funcionamento dos negócios. O trabalho escravo
estava diretamente relacionado com a consolidagáo da infra-estrutura comercial
que era necessária para a exportacáo de escravos. Pode-se encontrar paralelos na
utilizacáo de escravos como carregadores e capatazes ao longo das rotas das

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A ESCRAVIDÁO N A ECONOMIA POLÍTICA D A ÁFR!CA

caravanas do interior. A utilizagao de escravos no comércio também estava


conectada com a distribuicao de outras mercadorias.
Para propósitos analíticos, e importante ¡solar a utilizagáo de escravos no
servico militar, portante como uma influencia no processo—de escravizagao, do
emprego de escravos na produgao. No ex_é_rcito, os escravos nao eram utilizados
com propósitos produtivos, exceto no Sentido de que os soldados produziam”
escravos por melo de guerras e ataques.14 A 1ncorporacao de escravos ao exérci—
to era, por conseguinte, essencial para a perpetua;áo da escravidáo como uma
_ institu_icáo, mas a transformacáo nio estava mais relacionada com atividades
. produtivas do que estavam as mudanca_s na organizagao comercial ou nas rela—
g6es de, parentesco.
A manutengao do comercio de escravos através do Saara, do mar Vermelho
e do. oceano Índico, o desenvolvimento do comércio transatlántico e a abolicao
de cada um desses tráf_icos erivolveram transformacóes nos mecanismos da oferta
de. esctavos, uma vez que a África primeiro se ligou ao sistema internacional de
escravid_áó _e_ depois foi cortada do seu mercado externo. 0 estabelecimento dessa
estrut_ur_á facilitou o surgimento de um modo de producáo escravista dentro da
África,. Claramente. essa transformacáo ocorreu com menor freqúencia do que as
transformacoes apenas,no mecanismo de oferta. Ambas podiam acontecer em con-
junto, mas a c_ónexao nio era inevitável, pelo menos nao no mesmo lugar.
Q sistema internacional de escravidao que se desenvolveu depois do século
' -_'_j':X_VI tinhá a_s suas partes africanas e nao--africanas; ¿le nao estava confinado ao
continente africano. Se a África Centro—Ocidental for examinada isoladamente
em rela9ao as Américas, .entáo apenas uma transforma;áo parcial aconteceu,
' '. mas se os mecanismos de oferta de escravos sao ligados a área de recebimento
¡'"-¡dos mesmos, entao uma transformacao completa pode ser percebida. Dessa
_m_aneira, a África Centro-Ocídental deve ser vista em conjuncao com o desen—
- - volvimento da escravidao de lavoum nas Americas, onde a escravidao era a
: base da producao más as iristitnigióes da escravizácáo estavam ausentes. Toma-
- do em conjunto“, esse sofisticado modo de produgao escravista estava separado
' em partes distintas — escravizacao ná África, 'escravidao produtiva nas
Américas — e um mecanismo de distribuicaó de escravos ligava os dois setores.
Uma vez que as forgas da abolicao comecaiam a romper a ligacao desse sistema
intercontinental, a escravidao foi confinada a um contexto africano. A separa—
cao continuou, com es escravos levados para Sao Tomé e Príncipe, locals dis—
persos ao longo_ da costa angolana e as lavouras árabe—suaíli de Zanzibar,
Pemba e da costa leste. Essa transformacáo antecipou o colapso do sistema,

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pois a emancipacáo dos escravos nessas localidades eliminou a necessidacle de


¡ma continuada escravizacáo. Aquelas áreas onde a escravidáo nao tinha sido
:ransformada 'em uma instituicáo produtiva perderam a fungao crucial de for-
1ecer escravos. Em outros lugares, a separa;áo entre a oferta de escravos e a uti—
ízagáo dos mesmos na produ<;áo era bem menor, e 6 possivel, por conseguinte,
:xaminar a interagáo entre os setores separados na mesma formagáo social.

'—X ART¡CU LAQÁO COM O CAPITALISMO

810 século XIX, a escravidáo foi atrelada ao capitalismo. A pressáo do comércio


exterior forgou o redirecionamento dos escravos dentro da África numa escala
;em precedentes. A expansáo comercial resultou no emprego de escravos no
:omércio e na produ<;áo; entao a África interiorizava a escravidáo como um
nodo de producáo, ao passo que anteriormente a escravidáo africana tinha sido
parte de uma rede maior, intercontinental. Essa intensificacáo da escravidáo,
:efletida na veeméncia da retórica européia contra ela, antecipava o colapso da
escravidáo como um modo de produgéio. O conflito era inevitável, porque os
.nteresses económicos da Europa, a pressáo dos abolicionistas nas missóes e na
.mprensa popular e as rivalidades dos governos europeus que se derramavam
;obre o mundo tropical acabaram por minar a escravidáo. Os comerciantes
:uropeus colaboravam com os seus colegas africanos — que eram os maiores
proprietários de escravos — quando a época era próspera, mas, durante a série
de crises económicas no final do século XIX, as firmas européias foram estimu—
adas a eliminar seus intermediários africanos de modo a cortar custos e aumen—
:ar os lucros. Quando os comerciantes e produtores africanos se viram duramen—
. 5e pressionados, exigiram mais dos seus
escravos. Os abolicionistas, mesmo
quando a favor da reforma e náo da emancipagéío imediata, espalhavam uma
propaganda perigosa entre os escravos. Ao mesmo tempo em que as suas missóes
eram pouco mais do que símbolos de liberdade —— o número real de fugitivos e
ex—escravos nas missóes era relativamente pequeno quando comparado com o
total da populagáo escrava —-—, os catequistas africanos espalhavam as doutrinas
subversivas de liberdade. Isso fez com que a expansáo colonial européia fome-
:esse aos escravos a oportunidade de escapar. Durante 0 caos da conquista, a lei
e a ordem sucumbiram temporariamente; os senhores de escravos que tinham se
oposto ¿ expansáo européia nao estavam em posicáo de fazer valer a sua autori-

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A ESCRAVIDÁO N A ECONOMIA POLÍTICA DA ÁFRICA

dade sobre os seus escravos, e os novos regimes coloniais náo podiam impedir
individuos e pequenos grupos de partir.
Esse processo de utilizacáo intensificada dos escravos e o colapso da escravi—
dáo revelam um fenómeno mais amplo —— a articulagáo do modo de produgáo
escravista com o capitalismo. Essa articulacáo comecou com a incorporacáo da
costa da Guiné ao sistema do Atlántico sul de fornecimento de escravos para as
Américas. A África estava invariavelmente ligada ás Américas até que essa fun-
gáo de abastecimento terminasse no”século XIX; dessa maneita, os desdobra—
mentos da escravidáo ao longo da costa :la Guiné estavam subordinados ao sur—
gimento da escravidáo produtiva nas Américas. Os vínculos comerciaís com a
Europa e ¿ Índia demonstram a extensáo desse envolvimento, mas a natureza da
troca/ em si servia como uma barreira a transferéncia do capitalismo para a Áfri—
ca: No auge do tráfico de escravos no século XVIII, a Europa, as Américas e a
África formavam tr€s setores distintos Ida economia mundial; o capitalismo sur—
gía triunfante somente na Etrto_pa, enquanto as Américas e a África continuavam
' —sendo sócios subordinados;
_ _Essa subordinacáo modelóu a escravidáo nas Américas … o que muitos eStu—
díosos reconheceram —-'— más também modelou a escravidáo na África, pelo
menos naquelas regióes que abasteciam o comércio exportador.15 Nesse caso; a
escravidáo se desenvolveu dentro do contexto da oferta de escravos: a retengá0
de grandes quantidades de mulheres e críangas, a utilizagao de escravos no exer-
cito e () emprego de escravos na produgáo se relacionavam com a manutengio de
uma classe de comerciantes e chefes militares que eran; essenciais para o funcio—
namento de um sistema internacional de escravidáo nos séculos XVII e XVÍH.
Essa interacáo continuou no século XIX, só que a cruzada abolicionista tolhia
cada vez mais a capacidade de fornecer escravos.
As forcas económicas mais poderosas do século XIX foram capitalistas —— a
expansáo dos mercados mundiais para mercaderias “legais”. O crescimento do
mercado de óleos, marfim, penas de avestruz e outras mercadorias —-» algumas
para o consumo de luxe associado & prosperidade européia e outras para a indús—
tria que caracterizava a ordem capitalista — proporcionava uma colocagáo ime—
diata para a máo—de—obra escrava. Os senhores transferiam seus escravos para a
' produgáo de mercaderias de exportagáo, embora a produgáo para consumo
doméstico e os mercados regionais continuassem como antes, assim como a con—
tínua utilizacáo de escravos em fungóes nao—económicas. Assim, a transformacáo
era mais relativa do que absoluta. Os escravos já eram utilizados em fung6es eco—
nómicas; agora mais escravos eram utilizados dessa forma. Amigas formas de

405

7/12
A E S C R A V ! D Á O N A Á F R I C A : U M A H I S T Ó R I A DE S U A S T R A N S F O R M A C Ó E S

escravidáo associadas a oferta de escravos —— posigáo militar, designagáo admi-


nistrativa, atividade comercial —— eram ainda importantes, porque ainda era
necessário fornecer escravos para 0 mercado africano, mas a importáncia relativa
dessas fungóes diminuía em comparagáo como emprego produtivo dos escravos.
O surgimento de um modo de producáo escravista na África foi muito dife—
rente do desenvolvimento dos sistemas escravocratas das Américas, apesar do
fato de que ambos estavam subordinados ao capitalismo e basicamente associa—
dos a sua consolidagáo. No contexto americano, a escravidáo foi introduzida de
fora e sempre dependen da importagáo de escravos e da contínua identificacáo
dos senhores com a Europa. Na África, a escravidáo evoluiu de instituigóes nati-
vas, e, exceto pelos enclaves de plantation, relativamente pequenos na África Cen-
tral, Oriental e Meridional, os proprietários de escravos eram também africanos.
Além dissoj & formagáo social africana sempre incluiu uma importante —-— e mui—
tas vezes dominante —- orientagao regional, enquanto as Américas estavam mais
íntimamente integradas com 0 mercado mundial de que a África e a economia A
- regional era comparativamente sem importancia._A_ confianga na raga como um
metodo de controle social também era peculiarmente americana, embora os pro-
,piietarios de escravos africanos estabelecessem os seus próprios métodos de domi—,
"na'gao Essas e outras diferengas sao cruciais na distirigao da forma de escravidao.
Também variagóes significativas na escravidao como um modo de produgao
em diferentes regióes da África. A escravidao de plantatíon foi mais difundida na
savana setentrional, onde a motivacáo religiosa tinha sido canalizada com suces—
so para justificar & exploragáo económica dos cativos. As economías regionais
eram muito mais importantes de que o setor de exportagáo, exceto pela área de
Senegámbia. Assim, a articulagáo entre escravidáo e capitalismo era mais fraca
ali, embora o número de escravos fosse maior. Ao longo da costa da África ocim
dental, & escravidáo eta um fator significativo da produgáo, embora na regiáo
ibo—ibibio de azeite de dendé —— a maior fonte de produtos da palmeira -—-— a
escravidáo náo fosse tio importante quanto em outros pontos da costa da África
Ocidental. Está claro a partir dessas variagóes que a predomináncia da escravi-
dao náo era uma exigéncia para a integracáo com a economia mundial. Fatores
locais tinham uma forte influéncia no papel que a escravidáo desempenhava.
Onde as estruturas estatais eram particularmente centralizadas, como na Costa
do Ouro e no interior do golfo de Benim,- os escravos eram mais numerosos de
—que no interior do território de Biafra, que náo tinha estados centralizados.
Finalmente, na África Meridional, Central e Oriental, os enclaves externos
dependiam da escravidáo para produzir mercadorias para 0 mercado, enquanto

406 8/12
A ESCRAVIDÁO N A ECONOMIA POLÍT!CA D A ÁFRICA

praticamente náo havia enclaves estrangeiros que dependessem da escravidáo em


outros lugares (no Sudáo turco-egipcio, os proprietários de escravos nativos
dominavam a producáo; 0 Estado colonial náo era um fator importante na pro-
ducáo) A articulacáo da escravidáo com o capitalismo era mais pronunciada
nesses enclaves do que em qualquer outro lugar, mas a expansao desses enclaves
era relativamente limitada. Exceto em algumas areas ao longo das rotas comer—
ciais, a escravidao continuava transformada de modo incompleto na maior par—
te do interior.
Outras formas de trabalho — o trabalho como meeiro, o trabalho migratório,
. o penhor —…- existiam juntamente com a eséravidao no século XIX, e essas formas
' de trabalho estavam multas vezes associadas & escravidáo. Essa associagáo pode ser
' demonstrada utilizando quatro exemplos. Os fazendeiros migrantes de Senegámbia
eram .algumas— vezes escravos, e, fossem escravos ou livres, eles — ou os seus senho—
res—.- tinham acesso & terra através do pagamento de 10 por cento das suas colhei-
tas de-amendoim para os seus senhorios, que geralmente eram os maiores proprie
tários-_de-escravos, empregando os seus próprios cativos.15 O arrendamento de
escravos-na- Costa do Ouro e em outros lugares solucionou o obstáculo ao movi—
mento” da forca de trabalho daqueles que tinham excesso de máo-cle—obra para os
que precisavam de trabalhadores temporários, assim como as firmas comercíais
-.eu'ropéias, mas os escravos nio tinham controle sobre os seus recebimentos.17 O
trabalho migratório tornou—se importante na África- do Sul na década de 1870;
alguns migrantes eram de origem escrava, mas muitos eram homens livres, capazes
de 'procurar emprego em fazendas européias e nas novas minas de Kimberley, por—
que os escravos eram empregados em tarefas domésticas.18 O penhor —- que já divi—
día o centro do palco com a escravidáo — tinha se tornado uma fonte de escravos
quando as leis consuetudinárias foram ignoradas, mas no final do século XIX, 6
continuando pelo século XX, 0 penhor assumiu uma nova importáncia como um
método de móbilízagáo do trabalho. A incidéncia do penhor realmente aumentou
quando a escravidáo comecou a morrer¿ pelo menos no Iorubo, no médio vale do
' Níger e talvez em Axante.19 A' erosáo da escravidáo como um modo de produgáo
liberou essas formas alternativas de trabalho; o que de uma forma ou de outra mar—
cou a transicáo para uma articulacao mais completa com o capitalismo. A transfor—
macao dessas formas ocorreu sob o colonialismo.20
A conquista da África e a extensao da dominacao económica européia pros—
seguiu juntamente com a bandeira abolucionísta. Como foi demonstraclo, no
entanto, a causa abolucionista era uma causa ingrata, raramente fornecendo a
motivagáo para a agio económica ou política européia. No entanto, como ideo-

8/12
407
" "'A-EECR'AVIDÁO NA ÁFR¡¿A':=UMA-i—il5'fómA D/E'SVVUAS TRÁNS'FORMACÓES

-" . “logia; a” retórica abolicíonistavdos'missionários e reformadores fornecia um funda-


; v mentológico para a expansáo'q'ue estava conectada com a progressáo do capita—
lismo edo imperialismo.21 Aliteratura dos missionáríos, exploradores, diploma-
tas e oficiaís de reconhecimento do século XIX sustentava a causa abolucionísta;
Autores como Buxton, Schoelcher, André, Berlioux e Lacour escreveram livros
específicamente sobre a questáo da escravidáo, enquanto o movimento abolucio—
' nista de ¡Lavigerie e das várias-sociedades pela supressáo da escravidáo desempe—'
' f — nhou um“:papel ativo na pro'mo<;áo -da expansáo, justificando a intervencáo em
' - nome-dá aboligáo.22 Embora os missionários e funcionários coloniais _na África
fosserii-geralmente mais cuidadosos, de*qualquer forma a conveniéncia política e
" aseguranga ditavam uma políticagradual. A escravidáo era uma questáo explo—
"fsiva-qiieºseria melhor deixardelado, apesar do seu valor como propaganda.
" Náó obstante, a ideologia abolicionista era um indicador preciso mudaneas
maiores e inevitáveis, e como tal, as observag6es e metas dos reformadores e rea-
cionários igualmente revelam mudancas que estavam acontecendo, muitas vezes: '
contra os desejos dos próprios observadores. A fugade escravos, o aluguel de '
_ escravos para assegurar urna forca de trabalho assalariada, as reformas' impostas
sobre :a'prática local para apa'%igfiar o movimento abolicionista e outros desenvol—
- _ viment05 eram passos importantes na-extincáo da escravídáo. A retórica influen-
5 ciaVa--afnamreza da mudanga social e .dessa forma contribuía 'para a transicáo de
' uma-formagáo social na qual avescravidáo era importante para o capitalismo peri—
' Í -férico gdafera colonial.
y A imposicáo do colonialismo extinguiu a escravidáo como um modo de pro— '
dueño e marcou 'a completa integragáo da África na órbita do capitalismo. ¿0
imperialismo usava a retórica aboluicionista, mas os desdobramentos cruciais
envolviam a expansáo militar e a supremacía comercial das firmas européiasna
' - África. Enquanto a África continuava…na periferia do capitalismo, a ditadura _ '
""colonial..facilitava a transforinagáo final da escravidáo — o modo de .produeáo :
' ' escraiiista foi desmantelado com a extingáo das principais formas de escravizacáo
e a redúgáo da maior parte do tráfico de escravos. O seqiiestro e o contrabando
”¡continuaram por várias décadas — e.ainda continuam em pequena escala em
alguns lugares — mas as razias em busca;de escravos, as guerras e a comerciali—
' ' 1 za<;áo pública de escravos cessaram praticámente em todos os lugares na primei—
' ra década do governo colonial. Como a escravizagáo e o cométcio eram func6es '
essenciais para a manutencáo da populacáo escrava, a reducáo dessas atividades'
resultou no rápido declínio _do número deescravos.A fuga dos escravos e os
“ .…novosj .pr0cedimentos de emáncipacáo também reduziram—a populacáo escrava, 71

408

9/12

A ESCRA'V(DÁO NA…ECONOMlA—POLÍTICA DA_ÁFRICA

de modo que o seqñestto, o contrabando de escravos e o nascimento de filhos de

_.
pais escravos cuja posigáo sei-Vil foi mantidañáo podiam$ústentar a estraVidáo
como um modo de ptodugáo. Os administradores europeus tinham condigóes de —

.
apaziguar os senhores de escravos no intere'sse da estabilidade social, porque &

. …
aboligáo da escravidao estava num curso irrever3'ívél.
A África permanecen perifériCa ao capitalismo, mesmóºquandoa esctavidáo
foi desmontada. As novas formas de organizagáo do ttabalho — migracio, pro-, —

:
dugáo camponesa, coer<;ao colonial através da taxagáo e dos projetos de corvéia,—* :

_'
e o alistamento militar Compulsóri0 —.estavam assóciadas a- dominagáo colo-

_
nial.23 Na época em que os antropólogos e' historiadores se ¿:oncentrarám nº“-"'

'
estudo da escravidáo, apel1as"o legado de um" fnodo de 'produgáo ainda existia.

_. A
__ _
__
o LEGADO DA ESCRAVIDÁO

; .

__ _
Considerando que a escrai/idao tfénha fsid6"úx_na inst' uiéáo central—na s“ociedadé“ "
ó".'seuº'legado ainda sobrévw com"ele'pf0blemasfcomºos qu'ais "a"-'Áffíca'_

_<
.
.défiórita.* Relat0s de ”críanc'as sequeºstfádásj¿meninas " sendo "levadaspara1Mec

_+ _
' Como “peregrinas” mas queterminam eºm'º'haréns, e ainsisténcia de alguns velhd

x
¿de que ainda sáo escravos pºr causa da pósigao e dos beneficios que tal afirma
i caó ainda acarteta, atest'am o seulegado.24 Agora, entretanto,- nao existe a msn—"

/
.
. ,_,
tuigao da eScravídaó,- apesar de evidencias deic'a'sos isolados: Na--décadaºdeil930,f

.
a aboligáo estava certamente a camínho de se tornar um'fato consumado pratícá= f—'—

.
l

_
mente em todos os lugares. Mesmo quando os escra"vos'—náo eram—fo'tmalmenteº'

x< ' _
emancipados ou náo eram localmente reconhecidoscómó livres, o cenário social“

. .
e político mudara definitivamente".
… Dentro da África, o legado e muitas vezes claro, embora problemas do pas—' '

_.
l
sado sejam disfargados sob noves rótulos. Diferengas entre mugulma'nos e cris- ' —


.,
táOs podem facilmente ter relagáo com quem estava atacando quem ein busca de
esCravos, uma divisáo que me foi .revelada—em'méados da*década de 1970, quan-
do estudantes univer5itári05'comegaram a disentir entre si a respeitodo signifi-
cado histórico dessa diferenqa religiosa.“ Multas qúestóes sobre esse legado per—
manecem para serem examinadas em pesquisas futuras, principalmente a relagáo
da ascendéncía escrava com o trabalho migratório, o deslocamento de pessoas
.

para"as cidades e municipios, a identificacioº'éthica, assim como a conversáo reli-


giosa. Esses e outros tópicos relacionados estío além do objetivo deste livro.

409

9/12
A E S C R A V I D Á O N A Á F R I C A : U M A H I S T Ó R I A DE S U A S T R A N S F O R M A C Ó E S

Um aspecto da história da escravidáo e da abolicáo devia ficar claro.


Aqueles que estudam a escravidáo nas Américas sem referencia ¿¡ escravidáo na
África negligenciam um importante problema na história dos africanos. Os afri-
canos passaram pela experiéncia da escravidáo nio apenas nas Américas, mas
também na África. Além disso, a emancipagáo veio muito mais tarde na África.
Concentrar—se na luta pela liberdade nos Estados Unidos, nas Índias Ocidentais
ou outras regióes das Américas sem reconhecer a situagáo dos escravos na Áfri—
ca introduz uma séria distorcáo na nossa compreensáo da história dos escravos.
O surgimento de um sistema internacional de escravidáo uniu as Américas e a
África, assim como a antiga história da escravidáo nos países muculmanos tinha
atraído algumas regi6es da África para a órbita islámica. 0 desmonte desse sis—
tema internacional exigiu mais do que a libertagáo, dos escravos nas Américas, e
olegado da opressáo e do racismo nas Américas é apenas um aspecto da trágica
heranca da escravidáo. .
No contexto africano, o legado da escravidao __oi- tao imenso que nem sem-
pre ficou claro. De modo a focalizar os problemas específicos, os estudiosos dei—
. ..2gararn de reconhecer ou ignoraram o problema maior, quer eles tenham tido ou
nao consciéncia dessa distorgáo. A dominagáo colonial, o papel da economia
internacional, a dimensáo racial envolvida nas relag6es entre europeus e africa—
nos, a luta pela independéncía política, a consolidacáo do papel da forca militar,
a luta revolucionária na África Meridional e outros tópicos sáo muitas vezes per-
cebidós.numa estrutura histórica relativamente superficial, apesar — alguns
diriam por causa — da popularidade da teoria da dependéncia, da análise mar—
xista e da interacáo interdisciplinar entre Antropologia, Economía, Ciencia Polí—
tica, Sociologia e História. Embora a obra de Cooper seja uma notável excecáo, '
a maioria dos estudiosos preocupados com o desenvolVimento de uma forga de … '
trabalho nos períodos colonial e pós—colonial nao examinaram a organizacáo do
trabalho na era pré—colonial imediata. Ainda assim, devia estar claro que a tran—
sicáo para o governo colonial e a independéncia política ocorreu no contexto do
colapso da escravidéio.26 O grau em que essa transicáo marcou um importante
ponto de partida na história nio foi analisado adequadamente. Onde as antigas
elites sobreviveram, apesar da agitagáo dos anos coloniais, a transicio foi menos
abrupta. Onde a antiga elite foi eliminada, os escravos algumas vezes puderam
defender os seus direitos mais cedo e mais integralmente. No entanto, a questio
¡1510 e se houve ou nio um rompimento drástico com o passado, mas as manei—
. ras pelas quais as pessoas foram capazes de formar a nova ordem, preservando a

_410'
10/12
A ESCRAVIDÁO NA ECONOMIA POLÍTICA DA ÁFRICA

antiga ou superando-a. Grande parte do que se escreve sobre o período colonial ]


e pós—colonial tem que ser reexaminado cóm o problema da abolicáo em-mente.— . ' '
No nivel político, sio necessários mais estudos biográficos para estabelecer
a ascendéncia dos líderes africanos dos últimos oitenta anos. Quantos sáo des-
cendentes de escravos? Como eles foram capazes de superar essa desvantagem? ' . '
Existe algum padráo nas políticas adotadas por individuos com antecedentes
diferentes? Com uma heranca militar envolvendo o recrutamento de escravos
fugitivos nos exércitos coloniais, seria facilmente revelada a importáncia de se '- .
examinar os antecedentes dos atuais militares, mais uma vez verificando uma
ligacáo com o passado escravo. Até que tal pesquisa esteja completa, é impossi— . _' …
vel concluir se os ex-escravos continuavam a dominar o exércíto, embora isso '.
seja possível, a nio ser que tenha havido um esforgo combinado por parte da
_!
¡l antiga elite ou dos regimes coloniais para mudar a composicáo das forcas arma—
;
das. Os resultados de tal pesquisa lancariam uma nova luz sobre 05 governos das .
últimas duas décadas, sejam eles militares ou civis.
A esfera económica está ainda mais aberta ¿¡ reinterpretacio do que um novo
estudo da história política. Mais uma vez Cooper avancou' na exploracáo de" ' ,.
alguns aspectos do ajuste económico. A sua análise da costa suaíli demonstra as -—'
maneiras pelas quais uma economia escrava de plantation foi transformada sob
o colonialismo; o seu estudo oferece a possibilidade de comparacáo da mudancaf _-
económica nas áreas onde os escravos eram importantes para a producáo com . : .-
outras áreas nas quals a escravidáo era marginal. Com excegáo da obra de
Cooper, a concentracáo na mudanca económica e na dependéncia tendía a foca—
lizar dois aspectos da história, o papel do empreendimento africano e o impacto
da economia mundial em um continente tecnologícamente atrasado. Essa orien-
tagáo resultou na acumulacáo de um conhecimento considerável sobre as firmas _
estrangeiras e seus meios de dominacáo.-O exame dos limites de resisténcia..e_º - ' -
adaptacáo dos comerciantes, fazendeiros e trabalhadores africanos a essa situa-
<;áo adversa levou a uma compreensáo considerável da formagáo de classe e da _
estratificagáo étnica. A correspondéncia entre esses desenvolvimentos e o_legado -
da escravidáo é quase totalmente desconhecida. No entanto, sendo a escravidáo"
uma dimensio téo crucial do passado, é praticamente certo que um exame mais __
detalhado dos vínculos entre a ordem económica pré-colonial e. a economía colo-I _
nial revelará novas questóes de grande significado.

10/12
'º" A ESCRAVIDÁO NA ÁFRICA: UMA HISTORIA DE SUAS TRANSFORMACOES

38 Miers 1975, p. 155; MacDonald 1882, vol. II, 9. 29; e Hanna 1956, pp. 4-10, 34—7,
56—9, 196—7.
39 MacDonald 1882, vol. II, p. 32.
40 MacDonald 1882, vol. II, pp. 198—9.
41 Renault 1971 a, vol. I, pp. 184—98. Ver também M." Wright 1975.
42 Miers 1975, p. 300.
43 Jewsiewicki e Mumbanza 1981, pp. 88—96.
44 Cooper 1980.
45 Duffy 1967; e Clarence-Smith 1979 b.
45 Zuccarelli 1962, e Fáuré 1920
47 Para um resumo da política francesa, ver Roberts e Klein 1981, pp. 382-4; Guéye
_1966; Pasqu_ier_ 1967; Renault-1971 [>, M. Klein 19815 e Oloruntimehin 1971- 2, p. 52.
" > 43 Hanson 1971, pp. 224
49 Bouche 1968, pp. 5 8 64, 79-89, 146-53. 05 ingleses fundaram mais tarde aldeias simi-
lares; ver Olusanya 1966.
Sº EKersaint-Gilly 1924; Kanya—Forstner 1969, pp. 10, 272-3.
51 Commandant Kira para _Commandant Supérieur, 19 de janeiro de 1891, como citado
_ em M. Klein 1983. Ver tambéni"Bouche 1968, p." 80.
52 C0m0 citado em R; Roberts 1978, p.' 321.
53 Warburg 1981. Pp. 257—66. Ver também Baer 1969. Para uma análise proveitosa cio
papel da abolicáo na história do Sudáo nilótico, ver “Ali 1972.
54 Memorando para Mudirs, incluso em correspondencia de Cramer para Salisbury, 17
- de mareo (le-1899, F. 0. 78/5022, como citado 'en; Warburg 19.81, p. 258.
¡ 55 Minuta, 5 de abril (ie-1900, em Moor para Chamberlain, nº? 1 conf., 28 de janeiro de
Í1900, C. O'. 520/1, como citado em Miers1975', p. 294. Com rela;áo'ás origens desse senti-
¡;mento pró—escravidáo como um aspecto do imperialismo británico, ver Grace 1975, pp. 22,
l 40. Grace afirma que Mary Kingsley, C. L. Temple, Lugard e outros combinavam uma polí—
i tica económica positiva com uma política social conservadora, na qual a escravidáo era uma
i das muitas instituic6es “nativas” que deviam ter a permissáo de funcionar numa forma modi—
1i ficada.
' 55 Lugard 1906, p. 136 Ver também Lugard 1896, eulia 1975, pp. 173- 5.
> 57 Lovejoy 1981 5, pp. 233 6.
58 Roberts e Klein 1981, pp 385— 92.
59 Lugard 1906, p. 136. '
60 Roberts e Klein 1981, p. 386
- 61 Roberts e Klein 1981, p. 393. Ver também O Sullivan (1981, p 646), que relata que
_…8. 000-9.000 escravos fugiram da area de Odienne em 1907
' 52 M Klein 1981
's
63 Abubakar 1977, p. 151.
“ Lovejoy 1981 5, pp. 229-32; e Mason 1973, p. 464.
65 Com relagáo a alguns. aspectos da transigáo da escravidáo para outras formas de tra-
balho, ver Asiegbu 1970; Renault 1976; M. Klein-1981; e Weiskel 1979.

440
11/12
NOTAS .

CAPÍTULO12I
1 Um exame útil da antiga literatura pode ser encontrado em Seddon 1978, que contém
excertos do trabalho de Maurice Godelier, Claude Meillassoux, Georges Dupr_é, Pierre,“
Philippe Rey e outros. Ver também Suret-Canalé 1969, Hindess e Hirst 1975, pp,- 109 -
Coquery 1975; Terray 1974 e 1975 (7, pp. 85r134, e Klein e Lovejoy 1979, pp. 207 _9
2 Marx 1965; e Hindess e Hirst 1975. '
3 Ver especialmente Terray 1974, e 1975 (7, pp 85—134. Meillassoux tem sido o mais
importante estudioso entre aqueles que reconheceram a importáncia da escravidáo mas que
náo chegaram a aceitar o seu papel crucial, ver 1978 a, a introducao a 1975 a (p
pp 18—21),e
1978 b Para um exame desse debate, ver Klein e Lovejoy 1979, pp. 207—12; Cooper 1979, M. ;'
Klein 1978; e Harms 1978 Entre outros estudiosos que utilizam o conceito de “modo._de pro—;
dueño” para a escravidáo, ver M. Klein 1977 _b, 1978 b, e 1983; Kilkei_m_y 1981, Bloch1980,
e R. L Roberts 1980 a e 1981, pp. 171- 8. " ' .
4 Terray 1974, p. 340.
5Terray 1974, p. 341. Ver também Terray 1975 b, pp 85-134.
5 Terray 1975 a, p. 437.
7 Terray explorou vários aspectos dessa interacáo em um bom número de artigos que sio
uma antecipacao de um estudo muito mais longo e detalhado que está atualmen_te emManda-'
mento. Ver, por exemplo, 1983. -
3 Goody 1971, pp. 39-56.
9 Morton 1976, p. 398.
¡º Harms 1978, 1983.
” Meíllassoux, 1991.
12 Para várias interpretacóes desse impacto, ver Dantzig 1975; Davidson 1971, M.
Johnson 1976 a; Kilson 1971; Ronon 1971; Uzogwe 1973, Page 1969, Wrigley 1971; e
Rodney 1966.
13 Finley 1968. '
14 Terray 1975 a, pp. 437—48; Bazin 1975; 6 R. L. Roberts 1980 a.
15 Padgug (1976) examinou a posicáo subordinada das Américas na ascensáo do capita-
lismo, fazendo uma distingáo da escravidáo em trés contextos; a antigiiidade clássica, as socie— …
dades asiáticas e as Américas. Para Padgug, a escravitláo nas Américas era diferente de outros.
sistemas escravocratas por causa da articula;áo com o capitalismo, "mas ele náo consegue ver
' que a escravidáo na África representava um quarto sistema que também estava associado á
ascensáo de capitalismo. Minha abordagem é devedora ao avanco conceitual de Curtin ao
analisar a correlacáo entre a oferta africana de escravos e a escravidáo produtiva nas'
Américas como um “sistema do Atlántico sul”, embora Curtin nao vá táo longe na sua análi—
se quanto eu. No entanto, considero a identificagáo de um modo de produgáo eseravista na .
África como a extensño lógica da estrutura de Curtin; ver Curtin 1971 c, e 1977. "
15 Swindell 1980, p. 99.
17 Mc5heffrey 1983, Dumett 1981, p 214 (nota de rodapé), e Kaplow 1978, pp. 29-30.
13 Harries 1981, p 317. No Sudao nilótico, o trabalho migratório estava disponível
como um subproduto do tráfico de peregrinos para Meca, e os produtores agrícolas foram*
rápidos em descobrir a utilidade do trabalho de peregrinos como um substituto para o traba-
lho escravo; ver Warburg 1981, pp. 265—6 e 1978; McLoughlin 1962, 1966 e 1970.
19 Oroge 1985 c; e Ortoli 1939.
lº Numa tese interessante, Hillard Warren Pouncy examina até que ponto o código tra-

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A ESCRAVIDÁO NA ÁFRICA: UMA HISTORIA DE SUA? TRANSFORMACÓES

balhista da Grá-Bretanha foi imposto na África 0cidental. As leis contra a vadiagem e outras
medidas muitas vezes refletíam lels metropolitanas obsoletas mas eram claramente concebidas
como a base legal para controlar o trabalho, embora as próprias leis raramente fossem exe-
qíííveis; ver Pouncy 1981.
21 Vários autores sugeriram uma estreita ligaqáo entre o abolicionlsmo e a ideologia do
imperialismo; eu discuti essa questáo em outro lugar; ver 1981 c, pp. 26-7. Ver também Van
Zwanenberg 1976,'pp. 108—28; Temperley 1981; e Warburg 1981, pp. 257-66. Olorunti-
mehin (1971-2) aflrmou anteriormente que a retórica antiescravidáo era multas vezes simples
¡propaganda, enquanto “Ali (1972, pp. 3-129) analisou as afirmaeóes de diferentes observado—
res no Sudáo nilótico de modo a demonstrar a ambigúidade subjacente & política británica
__ 22 Para exemplos da vasta literatura sobre a aboliqáo, ver Buxton 1 839, Schoelcher 1880;1
”André 1899; Berlioux 1872 e 1870; e Lacour 1889. Ver também a discussáo em Miers 1975;
' S'_e Renault 1971 a
“ºjº .. —'__l3 Ver, por…exemplo, Echenberg 1975 e 1980. Gosraria de agradecer ao professor
'Eél1enb'eg pelas informag6es sobre a importáncia das origens escravas entre os conscritos.
24 Derrick 1975. _ _
_ 25 Com base na minha experiéncia'ha' Ahamadu Bello University, Zaria.
. .“ 16 Cooper 1980.
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